O último sacrifício



Cap. 55


O ÚLTIMO SACRIFÍCIO


 


            __ As escolhas tem poder, o destino é meramente uma palavra. Este é o quarto e último desafio. A magia reside dentro de cada bruxo; uma varinha é somente um instrumento. Liberte a magia dentro de você.


            Harry ouvia aquilo boquiaberto, observando atentamente a Varinha flutuando e brilhando à sua frente. Franzia lentamente a testa enquanto escutava.


            __ Liberte a magia dentro de você.


            Então, a luz que envolvia a Varinha apagou-se e o objeto caiu no chão, suavemente.


            Harry ficou parado por um momento, olhando a varinha no chão.


            __ Liberte a magia dentro de você__ ele abaixou-se e pegou a varinha__ Se ao menos eu soubesse o que isso quer dizer!!


            Novamente frustrado, o garoto sentou-se no chão. O testrálio aproximou-se dele e o cutucou com o focinho. Harry lembrava-se que Raoul, o fabricante daquela varinha, e Dumbledore, naquela reunião que eles tiveram logo depois de voltarem do Brasil, tinham dito que era preciso uma quantidade de magia provida de algum lugar para que uma varinha funcionasse, e eles tinham chegado à conclusão de que essa magia era o quarto ingrediente.


            Mas... liberar a magia de dentro de uma pessoa? O que raios aquilo significava?


            Harry pulou quando ouviu um farfalhar na escuridão à sua direita. Levantou-se rapidamente, buscando a Capa aos seus pés, e apontando a varinha inútil para o local onde ouvira o barulho.


            __ Isso não vai ajudar muito__ disse uma voz, perigosamente próxima__ E nem é porque essa varinha não funciona.


            Harry rapidamente botou a Capa antes que o dono daquela voz chegasse mais perto, numa tentativa de despistá-lo.


            __ Vamos lá, Harry__ a voz riu, estranhamente cristalina e familiar__ Eu ainda posso te ver. Mas esqueci que você não me enxerga! Desculpa, já vou arrumar isso...


            Harry arregalou os olhos ao ver a forma de uma garota morena se materializar à sua frente, palidamente.


            __ A-a-ayame?__ gaguejou ele.


            A garota revirou os olhos, impaciente.


            __ Não, não sou a Ayame. Porque será que todo mundo confunde a gente, sempre?


            Harry piscou e engoliu em seco.


            __ Ayume?__ murmurou.


            A menina estendeu-lhe a mão.


            __ O prazer é meu, cunhadinho.


 


            Harry tirou a Capa de Invisibilidade, inseguro.


            __ Poxa, parece que você nunca viu um fantasma antes, Harry.


            O garoto piscou, observando as formas difusas da garota à sua frente. Pelo o que ele podia ver, ela era idêntica à Ayame, mas uma névoa azulada e pálida a envolvia, e assim ele não conseguia enxergá-la perfeitamente bem. Além disso, a forma da garota oscilava, como uma projeção com interferência.


            __ Você não é um fantasma...


            Ayume riu; e Harry notou que sua voz era mais fina do que a da irmã gêmea, mas igualmente cristalina.


            __ É,  não sou não. É muito difícil explicar o que eu sou.


            A garota deu de ombros e aproximou-se mais de Harry.


            __ Estou aqui para ajudar você.


            Harry sentiu-se imensamente agradecido, mas não entendia em que ela podia ajudar.


            __ É claro que eu posso ajudar, e muito!__ Ayume exclamou de repente, colocando as mãos na cintura como uma criança, e Harry franziu a testa.


            __ Você consegue ler meus pensamentos??


            A garota recuou um pouco e riu.


            __ Bem, um pouco. A maioria das vezes. Mas não é bem seus pensamentos... eu consigo decifrar sua expressão. É coisa de gente morta, não se preocupe.


            Harry imaginou Ayame ouvindo uma coisa daquelas.


            __ É, eu também fico imaginando coisas assim__ Ayume deu um sorrisinho um pouco triste__ Mas não posso aparecer para Ayame. Só você pode me ver, Harry.


            __ Eu ainda não entendi o que você veio fazer__ disse o garoto.


            Ayume suspirou.


            __ Olha, eu vim por conta própria. Não fui mandada por ninguém, o que diminui ainda mais o tempo que eu posso permanecer. Mas você demoraria muito para entender o que tem que entender sem alguém para ajudar. Não é uma coisa que vocês vivos compreendam ainda. Eu vim te ajudar a decifrar o que você acabou de ouvir, Harry.


            O garoto respirou fundo e assentiu. Ayume sorriu e sentou no ar, flutuando.


            __ Liberte a magia dentro de você. Você realmente não faz idéia do que isso quer dizer, né?


            Harry balançou a cabeça.


            __ Harry__ começou ela__ Você já se perguntou porque os trouxas não conseguem utilizar a magia? E porque ao mesmo tempo filhos de trouxas com bruxos às vezes saem bruxos, às vezes não? E porque existem abortos? É tudo uma questão biológica. É como se existisse um gene de magia dentro de cada bruxo. É isso que determina se a pessoa é bruxa ou não.


            __ O DNA?__ indagou Harry.


            __ Isso. Porém, não é somente isso. Se a magia fosse ligada somente ao corpo físico, nunca conseguiríamos utilizá-la. Porque, afinal, canalizamos ela para as varinhas, transformamos- as em palavras e em pensamentos e emoções. Isso nos faz acreditar que a magia não é tão palpável assim.


            __ Nunca foi__ retrucou o garoto__ Mas o que isso quer dizer?


            __ O corpo físico funciona somente como um recipiente para a magia. Esse negócio todo do DNA é que esse corpo tem que ser compatível com a magia, por isso a incapacidade dos trouxas de utilizá-la. Para liberar a magia, Harry... é necessário se desfazer de seu recipiente.


            Harry franziu as sobrancelhas e então engoliu em seco.


            __ Se desfazer do corpo?


            Ayume assentiu seriamente.


            __ Morrer.


            Harry arregalou os olhos para a assombração à sua frente e então começou a rir.


            __ Não entendo a graça.


            O garoto parou.


            __ Nem eu.


            E então, uma solidão e um medo muito grandes se apossaram de Harry. Ele abaixou a cabeça, sentindo-a rodar, e levou a mão ao peito apertado.


            Sentiu algo em seu ombro, e viu a mão pálida de Ayume ali.


            __ Desculpa__ murmurou ela__ Eu entendo que...


            O que quer que a garota fosse dizer foi interrompido pela Voz, que, vindo do nada e de todos os lugares, começou a falar novamente, causando uma sensação estranha em Harry.


            __ As escolhas tem poder, o destino é meramente uma palavra; o caminho mais fácil nem sempre é o correto. O sacrifício é a escolha mais nobre; através dele tudo se salva. E pelas mãos daquilo que ele mais condena ele se salvará. O universo não dá nada de graça, por isso não é pelas suas mãos que o sacrifício deve ser feito. Nada é o que parece: triunfo e derrota são meramente palavras. Liberte a magia dentro de você, e enfim o universo agirá.


            E então, a voz cessou. Harry olhou para Ayume, que fitava um local específico, como se houvesse algo ali. Mas quando ela notou que ele a observava, desviou o olhar e sorriu.


            __ Entendeu agora?


            Harry entendera; sabia o que devia fazer, mas demorou um pouco para colocar o que pensava em palavras.


            __ Triunfo e derrota são meramente palavras__ repetiu ele__ Não é pelas suas mãos que o sacrifício deve ser feito.


            Ayume assentiu.


            __ Você não pode deixar a morte chegar a você pelas suas próprias mãos, Harry.


            O garoto fechou os olhos por um instante, deixando o coração se acalmar. Então, buscou no chão os pedaços se sua varinha quebrada e os guardou no bolso. Pegou a Varinha na mão e a apertou.


            E então encarou Ayume, que o observava. Os dois ficaram em silencio um bom tempo, até que a imagem da garota deu uma forte oscilada.


            __ Meu tempo está acabando__ disse ela.


            A garota se aproximou mais do moreno e sorriu.


            __ Não é tão ruim, sabe, morrer. Não quando você faz isso por amor. É, pensando bem, não é nada ruim.


            O corpo de Ayume deu mais uma oscilada forte.


            __ Obrigada__ disse Harry, com a voz um pouco embargada.


            __ Eu que te agradeço, Harry, de verdade. Não fique com medo. Confie em mim. Há muitas surpresas esperando por você lá em cima.


            E, antes que Harry pudesse perguntar o que aquilo queria dizer, a imagem de Ayume deu uma última tremida e desapareceu.


           


            Harry suspirou uma última vez, e então o medo que ele sentia se dissipou. Ele não poderia morrer pelas suas próprias mãos. Não pediria para alguém que ele amava fazer isso por ele.


            Entregaria-se ao ser maior inimigo.


            Afinal, triunfo e derrota são meramente palavras.


           


            Ayame levou a mão à testa, que sangrava. Mas ela não estava se importando muito. Sabia que havia coisas muito piores com o que se preocupar.


            Ela estava na arena, encostada na fachada que separava a arquibancada do campo. À sua frente, Hagrid tinha cansado o gigante o suficiente para que ele tropeçasse e caísse estatelado no chão. Porém, depois que ela entrara na arena para ajudar seus amigos, uma rebelião começara nas arquibancadas, mas que fora forte e rapidamente sufocada pelos Comensais, interrompendo todas as atrações que ocorriam no campo.


            Agora, lá estava ela, apoiada na fachada, ao lado de Rony, Hermione (que fora mandada para baixo), Rebecca e também Dumbledore. Eles não estavam presos, mas estavam desarmados, e totalmente cercados de inimigos. Além disso, os Comensais usavam como reféns vários alunos, mais novos e fracos, para que eles não tentassem nada.


            Faltavam somente cinco minutos para o meio dia. Ayame sabia o que estavam fazendo ali no meio.


            Se Harry não aparecesse, ou se ninguém aparecesse com a varinha, Voldemort iria iniciar sua vingança.


            Começando por aqueles quatro no meio da arena.


            A garota olhou para Dumbledore, ao seu lado, mas ele observava o céu com uma expressão que ela não sabia ler. Do seu outro lado, encontrava-se Rebecca, que estava de olhos fechados. Hermione estava abraçado com Rony, e lágrimas silenciosas caiam pelo rosto dos dois.


            __ Faltam dois minutos!__ Um grito veio de algum Comensal, e a multidão de inimigos ergueu-se num brado de satisfação. Voldemort sorriu, sentado em seu trono improvisado no meio do campo.


            Ayame fechou os olhos. Queria saber onde Harry estava. Tentou contato com ele através de Legimilencia ou algo assim, mas não conseguia encontrá-lo.


            Queria estar com ele naquele momento.


            A garota começou a ouvir murmúrios e então um uivo indefinido ergueu-se da platéia. Ayame abriu os olhos e viu Harry, entrando no campo.


            Ela só notou que aquilo não era uma alucinação causada pelos seus desejos quando o garoto começou a andar firmemente em direção à Voldemort, que parecia satisfeito mas inseguro ao mesmo tempo.


            Seu coração de repente congelou. Ela olhou para os amigos, e todos observavam a cena boquiabertos e confusos.


            O que ele estava fazendo???


            Ayame observou com os olhos arregalados enquanto Harry conversava em voz baixa com Voldemort. O Lorde das Trevas descera de seu trono. Harry então estendeu a mão e nela a garota viu a Varinha.


            O corpo de Ayame tremeu quando Voldemort estendeu a mão e pegou a Varinha. Harry se afastou um pouco. Então, o Lorde ergueu a Varinha no ar e gritou. A multidão acompanhou com um brado que fazia o chão tremer.


            Ayame olhava para Harry incrédula. Seus olhos se encontraram, mas ela não soube decifrar o que via neles. Seu coração se apertou mais ainda, e ela ficou com muito medo de algo que não sabia o que era.


            Harry começou a andar lentamente na direção deles, olhando para a frente, através dos amigos. Ayame precipitou-se para ele, já que os Comensais nem prestavam mais muita atenção nela, e estendeu os braços para abraçá-lo.


            O garoto, porém, não correspondeu o gesto, como se estivesse distraído. Ayame o empurrou para que ele olhasse para ela e sussurrou:


            __ Você não precisava ter feito isso.


            Harry, contudo, só fechou os olhos por um momento e então sorriu.


            __ Precisava sim.


            Quando ele se virou porém, o sorriso tinha desaparecido de seu rosto, deixando uma expressão dura em se lugar. Antes que Voldemort o chamasse, Harry já estava encarando-o.


            __ Potter__ disse o Lorde, deliciando-se na palavra__ Finalmente você descobriu o certo a fazer.


            __ Nosso combinado era que você deixasse meus amigos em paz__ retrucou o moreno__ Solte-os.


            Voldemort deu um sorriso malicioso e apontou a Varinha para ele.


            __ Somente se você duelar comigo. Uma última e gloriosa vez.


            Harry não hesitou em levar a mão ao bolso traseiro e retirar dois pedaços de madeira dele: sua varinha partida.


            __ Não tenho varinha__ falou.


            Voldemort abaixou a Varinha e pareceu pensar. Então, voltando-se para o trono onde antes estava sentado, pegou sua própria varinha, estendendo-a a Harry.


            __ Você disse que me entregou esta Varinha porque descobriu que ela funciona somente comigo. Nada mais justo do que fazer uma troca.


            Ayame piscou, confusa com o que ouvira. A Varinha funcionando somente com Voldemort e não com Harry? Pelo o que ela sabia, era justamente o contrário. Mas ela não sabia o que Harry fizera nesse tempo em que estavam separados. Talvez a Voz tenha dito algo para ele. Talvez ele só estivesse delirando mesmo. Inquieta, ela permaneceu no lugar, não tão longe de Harry, mas também não atrapalhando o duelo que acabaria acontecendo.


            O moreno assentiu e pegou a varinha que o Lorde das Trevas lhe entregava. Uma vaia veio da multidão de partidários do mal. Harry apertou a varinha na mão, mesmo sentindo a energia negra que emanava dela, e sabendo que Voldemort estava mais poderoso hoje do que nunca. Posicionou-se.


            Ayame deu uma olhada para trás, procurando Dumbledore, esperando que ele fizesse algo, mas o diretor somente observava tudo com a expressão muito séria. A garota lembrou-se que ele estava sem varinha também, mas isso nunca impedira Alvo Dumbledore de fazer algo. Dividida entre ir até o diretor e ficar ali o mais perto possível de Harry, Ayame estacou. Quando Voldemort começou a deslizar ao redor de Harry, na arena, sua atenção se voltou para o duelo.


            A garota observava atentamente, seus olhos vagando rapidamente de Voldemort para Harry. Seu coração parecia bater dentro em sua garganta. Da platéia, vinham gritos constantes, ora dos Comensais, ora dos alunos de Hogwarts. Ayame tentava ignorá-los, mas mesmo assim não conseguia ouvir o que os duelantes (nossa, acabei de inventar uma palavra aqui) diziam.


            Voldemort atacou, e Ayame ficou impressionada ao ver que a Varinha realmente funcionava com ele. Harry desviou o feitiço com sua varinha emprestada no ultimo momento. Eles trocaram palavras, mas a garota não conseguiu entender. O barulho à sua volta ficava cada vez mais alto e incessante; Atrás dela, Hagrid berrava algo, mas ela não queria ouvir: só desejava observar aquela luta que provavelmente decidiria o destino de todos.


            Então, o Lorde das Trevas atacou novamente, com extrema rapidez, e mesmo que Harry tenha conjurado um feitiço protetor, a varinha saiu voando de sua mão, caindo a alguns metros de distância.


            Ayame sentiu os pés formigarem de vontade de ir lá e pegar a varinha para ele, mas com certeza Harry faria isso por si só.


            Ou ela pensara que ele faria.


            A expressão de preocupação de Ayame foi dando lugar à confusão e incredulidade quando o moreno não fez nenhum movimento em menção de resgatar sua varinha. Harry então olhou por um momento, somente um momento, para a garota que torcia por ele a alguns metros de distância, observando tudo.


            Um único momento que bastou para que essa mesma garota encontrasse seu olhar e num segundo entendesse tudo e captasse todas as suas intenções. Bastou para que ela visse em seus olhos que aquela seria a última vez que os dois trocariam aqueles olhares.


            Ayame sentiu os pernas congelarem, presas ao chão. Todo o barulho que ela ouvira minutos antes cessou completamente e ela mergulhou num silencio profundo, onde somente existia Harry, à sua frente, e Voldemort, à frente dele, erguendo em câmara lenta a Varinha na direção do garoto.


            A garota nunca soube bem o que aconteceu depois. Só sabia que suas pernas de repente ganharam vida e força, e ela correu; mas não foi como da última vez, aquilo não era um déja vu ou uma lembrança; era real como as lágrimas que escorriam em suas bochechas enquanto o vento fustigava seu rosto.


            E sabendo que a história iria se repetir, quase da mesma maneira, pelo mesmo motivo, mas, por mais incoerente que fosse, de um jeito completamente diferente, ela não hesitou e correu mais.


            E exatamente quando as pontas de seus dedos tocaram Harry um jato de luz verde atingiu a ambos, saindo da Varinha que Voldemort segurava. O garoto olhou para Ayame, um pouco incrédulo; ela retribuiu o olhar da mesma maneira. E então dos dois sorriram.


            Tudo isso aconteceu em um segundo, antes do feitiço tomar forma e causar seu efeito, engolfando Harry e Ayame na escuridão mais profunda de todas.

oiiii
Háhá nao se desespereeem! esperem o próx. Cap, please!
Eu queria deixar ele mais longo, mas resolvi terminar ele por aqui p/ dar mais coerencia (e suspense, como sempre hehehehehehe)
Comenteeeeeeeem
bjooooos

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