A volta de Lord Voldemort



Cap. 53


A VOLTA DE LORD VOLDEMORT


 


            Harry Potter, Rebecca Vermefire e Severo Snape tinham acabado de entrar em uma sala, dois corredores à frente da sala onde eles estavam. Junto com eles, os corpos inconscientes de dois Comensais da Morte.


            __ Se continuarmos abatendo todos os Comensais que encontrarmos até chegarmos às celas, vão suspeitar de algo__ resmungou Snape. Mesmo estando Harry com a Capa de Invisibilidade e os outros dois com Feitiços Desilusórios, eles tinham achado melhor estuporar aqueles dois que barravam a passagem no corredor.


            __ As celas estão somente a um corredor de distancia__ respondeu Rebecca__ Se...


            Mas Harry não conseguiu mais ouviu o que ela dizia. Sua cicatriz explodiu em chamas e tudo o que ele estava vendo foi tomado por escuridão e tudo o que ele estava ouvindo foi substituído por palavras sussurradas em língua de cobra.


            Tem alguém junto com ela. Um coração batendo junto. Uma respiração nova.


            E, de repente, ele não era mais ele mesmo; reconheceu-se na pele de Nagini, a cobra de Voldemort, olhando a cena pelos olhos distorcidos dela: o chão de pedra; os pés de um velho apoiado numa bengala; um caldeirão. O velho entrando dentro do caldeirão... ele ergueu a cabeça... uma mesa de pedra... uma mão imóvel caindo da borda...


            __ Harry!


            Harry abriu os olhos com força, voltando a ser ele mesmo, a cicatriz ardendo. Rebecca estava em cima dele, segurando sua cabeça. Ele olhou em volta; tinha caído no chão.


            __ O que você viu?__ sussurrou ela.


            __ Ayame__ respondeu ele__ Está numa sala... toda de pedra... e.... Voldemort... há um caldeirão... Eu já vi aquilo antes.


            Harry levantou-se rapidamente.


            __ Precisamos ir.


            Rebecca lançou um olhar a Snape.


            __ Eu sei onde é essa sala de pedra. Fica ao lado dos aposentos de Voldemort... a entrada é naquela sala das varinhas. Harry...


            A moça voltou novamente a atenção para o garoto, mas ele tinha desaparecido. A porta da sala onde eles estavam de repente se fechou com um estalo.


            __ Harry!__ chamou ela, o mais baixo que pôde__ Não acredito que ele....


            __ Ele ouviu você dizendo onde a garota estava e foi atrás!__ respondeu Snape__ Vá atrás dele; eu continuo daqui e resgato Luna. Encontro vocês depois.


            Rebecca hesitou por um instante; então lançou um feitiço Desilusório e saiu correndo.


 


            Harry andava o mais rápido que podia sem chamar a atenção de dois Comensais que andavam no corredor onde estava. A sala das varinhas era logo na frente. Quando o perigo passou, ele abriu a porta devagar e entrou.


            Não havia nada de diferente na sala. Ele andou entre as estantes de livros, passando pelo centro onde havia a caixa de vidro sem mais varinhas; até que encontrou, na parede do fundo, uma porta de madeira escura, fechada. Ele forçou a abertura, mas a porta era muito pesada.


            __ Bombardia!


            A porta estourou nas dobradiças e ficou metade pendurada, deixando passagem. Harry sabia que era meio loucura chegar daquele jeito no lugar onde seu maior inimigo provavelmente estava; mas sua prioridade agora era salvar sua amada, custe o que custasse.


            Ele entrou, passando pela porta quebrada. No momento em que fez isso, sentiu algo estranho; uma mudança na atmosfera do lugar. Ali dentro, tudo era mais frio e nebuloso. Lembrava um pouco a sensação dos dementadores; de forte magia negra.


            Não havia ninguém na sala.


            Nada além de uma pessoa deitada numa mesa de pedra, bem no centro, ao lado de um caldeirão preto e bem grande. Ayame.


Um líquido estranho e escuro formava uma poça no chão ao lado do caldeirão. Harry não ateve-se muito aos detalhes e correu para a garota deitada, aproximando-se pela frente da mesa, perto de sua cabeça.


A garota estava inconsciente. Harry colocou a mão em seu rosto, que parecia sofrido e cansado.


__ Ayame... acorda...


Foi entao que, erguendo o olhar, ele viu. Toda a parte baixa das roupas de Ayame, juntamente com a pedra da mesa abaixo dela, estavam encharcados de um líquido viscoso, cor de vinho.


            Sangue.


            Harry notou a mão caída de Ayame, ao lado do corpo, onde uma gotícula de sangue ainda escorria, caindo com um tilintar na poça que ele vira ao lado do caldeirão. Uma poça de sangue.


            O garoto arregalou os olhos, aterrorizado. Aproximou rapidamente o rosto da face de Ayame e tentou sentir sua respiração.


            Nada.


            Ele pegou sua mão caída e suja de sangue e tentou sentir seu pulso. Mínimo, mas estava lá.


            Harry olhou mais uma vez em volta; desta vez, tentando entender o que podia ter acontecido.


            E então seus olhos fixaram-se ao caldeirão. Ele já tinha visto aquela imensa e negra caldeira antes. Num piscar de olhos, toda a cena se passou por sua mente. O cemitério. O túmulo de Tom Riddle. E Voldemort, ressurgindo das névoas que o caldeirão imanava.


            As palavras que Rabicho murmurara naquela noite tão distante e ao mesmo tempo tão perto ecoaram na mente de Harry.


            Osso do pai, dado sem saber, renove filho.


            Carne do servo, dada de bom grado, reanime o seu amo.


            Sangue do inimigo, tirado à força, ressuscite seu adversário.


            O garoto sentiu uma angústia subir-lhe à garganta. Voldemort com certeza conseguira os resquícios dos ossos de seu pai para o feitiço e a carne de um servo fiel.


            Mas o sangue do inimigo...


            Ayame. O Lorde das Trevas não conseguira capturar Harry, seu maior inimigo, entao usara a garota como parte do feitiço.


            Harry franziu a testa, desviando o olhar do caldeirão e fitando a situação do corpo imóvel da garota. Todo aquele sangue... Há três anos atrás, tudo o que fora preciso foi um corte no pulso de Harry. Um pouco de sangue.


            Então porque toda aquela carnificina com Ayame?


            Harry se aproximou novamente dela. Não podia deixá-la mais um pouco ali; a garota estava fraca e devia ser tratada. Depois ele se preocupava com o que quer que fosse o que Voldemort tinha tramado. O garoto passou a mão em seu rosto, querendo que ela acordasse, mas Ayame não soltou nem um gemido. Aflito, ele sacou a varinha para carregá-la dali.


            __ Mobil...__ a palavra estacou em sua boca.


            A sala ficou subitamente mais fria do que já era. Gradualmente, ele ouviu uma risada fria, aguda, encher o aposento, primeiro baixa, ficando mais alta a medida que Lorde Voldemort entrava na sala.


            Harry virou-se lentamente para a porta oposta à que entrara, sua cicatriz ardendo perigosamente.


            __ Ora, ora, se não é o garoto que sobreviveu__ sibilou Voldemort, sorrindo. Seu corpo estava perfeito, num manto preto e comprido, os dedos finos e longos, o rosto anguloso, branco, as narinas como duas fendas e os olhos vermelhos.


            __ O que você fez com Ayame?__ perguntou o garoto tentando ignorar a dor na testa.


            __ Eu estaria mais preocupado com sua própria pele no momento, Potter__ respondeu o Lorde__ Olhe para mim. Estou novo em folha, pronto para tomar as rédeas do meu império. É claro, como sempre, devido a você. E como agradecimento...  será meu prisioneiro.


            Harry deu um passo para trás e ergueu mais a varinha ao ouvir aquilo, mas num segundo, Voldemort estava à frente dele, estendendo suas mãos pálidas em sua direção. O garoto sentiu a cabeça explodir em dor no momento em que o Lorde segurou seu pescoço e ele sentiu os pés deixarem o chão e sua varinha cair de sua mão.


            Abrindo os olhos com dificuldade, Harry viu a expressão satisfeita no rosto de Voldemort, e sentia a varinha do Lorde apontada para seu peito.


            __ Você talvez não saiba disso, Harry__ sussurrou ele__ Mas antes eu não podia tocá-lo. Por isso, até nossas ligações mentais foram ficando mais fracas... tive que usar Rebecca para por meus planos em prática e saber o que estava acontecendo do seu lado. Ano passado, quando a Srta. Vermefire ali se jogou na sua frente, ela criou uma proteção em você, assim como sua mãe fez. Duas mulheres tolas. Eu me apoderei da proteção de Lilian três anos atrás... e agora também compartilho da proteção de Ayame com você.


            Voldemort soltou o pescoço de Harry, que ofegou livre para respirar, mas o garoto continuou flutuando no ar por causa do feitiço da varinha do Lorde, e com a mão livre, assim como fizera três anos antes no cemitério, pressionou o indicador fino e longo bem na cicatriz de Harry.


            Mais uma vez a cabeça do garoto pareceu explodir, rachar. O pensamento de que morrer era melhor do que sentir aquilo perpassou sua mente.


            Então, a dor foi diminuindo, até que Harry notou que Voldemort não mais o tocava, somente mantendo-o no ar com a varinha.


            __ Você é patético, Potter. Não entendo porque as pessoas se sacrificam tanto por você. Mas você servirá uma ultima vez aos meus planos.


            __ Como...__ Harry começou, ofegando__ Você está mentindo. Como conseguiu a proteção que está em meu sangue se não o usou? Você usou Ayame para retornar.


            Voldemort tombou a cabeça um pouco para o lado, intrigado, e deu um meio sorriso.


            __ Então você ainda não adivinhou__ sibilou ele.


            O Lorde abriu um sorriso maior e ergueu o tom de voz.


            __ Venha__ disse ele, e Harry entendeu a língua de cobra. Um momento depois, ouviu o som de algo pesado sendo arrastado pelo chão áspero daquela sala, e viu Nagini enrolar-se aos pés de Voldemort, sibilando na direção de Harry.


            __ Conte a ele__ mandou o Lorde.


            A serpente sibilou mais uma vez; então Harry ouviu ela dizer:


            __ O sangue que corre em suas veias... e nas veias da garota... é o mesmo que transita pelas veias do fruto por vocês gerado.


            __ E a mesma proteção que você possui__ completou Voldemort.


            No momento em que Harry ouviu aquilo, as palavras perderam o sentido. Ele sentia-se em outro lugar; tudo a sua volta estava mudo e nebuloso. Não sentia mais que seus pés não tocavam o chão. Não sentia absolutamente nada.


            A não ser um aperto enorme no peito.


            Sua cabeça virou-se lentamente de modo que ele pudesse observar Ayame, imóvel na mesa de pedra. Gotas vermelhas ainda pingavam de sua mão. Mas a fonte de todo aquele sangue estava em outra parte de seu corpo.


            No seu ventre. Onde antes ela carregava um bebê.


            Harry foi trazido de volta à realidade quando a risada fria de Voldemort encheu seus ouvidos. Ele nem conseguiu sentir raiva; ainda estava em estado de choque.


            __ Somos todos parte de uma única família agora, Harry__ disse o Lorde das Trevas__ Eu compartilho o seu sangue e o de Ayame. É uma pena que um teve que morrer para que eu pudesse entrar na família. Não é?


            Voldemort riu novamente, e Nagini sibilou. Harry sentiu uma pequena vontade de fazer alguma coisa, mas seus braços e pernas estavam dormentes. Sua cabeça parecia dormente. O Lorde parou de sorrir.


            __ Não devemos mais desperdiçar tempo__ falou ele__ É hora de apresentá-lo a sua nova casa, Potter.


            Voldemort aprumou a varinha, apontando-a mais diretamente para o pescoço de Harry.


            __ Impe...


            __ Eu não faria isso se fosse você, Voldemort.


            Harry piscou. Por um momento não acreditou no que estava vendo, mas então sua mente clareou.


            Rebecca Vermefire estava ali, em pé bem ao lado do Lorde das Trevas, com a varinha apontada para a cabeça lisa dele.


            __ Ora__ disse Voldemort, visualmente sem se abalar com a varinha apontada para ele__ Agora sim nossa reunião de família está completa.


            __ Solte Harry__ mandou Rebecca__ Senão eu...


            Antes que ela pudesse terminar a frase, entretanto, Nagini saltou, dando o bote na direção de Rebecca. Ela pulou para o lado na última hora, mas parou de ameaçar Voldemort com sua varinha.


            O Lorde riu, satisfeito; mas no momento seguinte, Rebecca gritou:


            __ Serpente exumai!


            Nagini foi atingida e lançada longe, para perto do caldeirão; o sorriso de Voldemort desapareceu. Isso deu uma chance a Harry; numa rajada de adrenalina, ele ergueu o pé e chutou a mão do Lorde que segurava a varinha apontada para ele.


            Não foi o suficiente para que Voldemort perdesse sua varinha, mas o feitiço sobre Harry se desfez, e ele caiu sentado com um estrondo no chão.


            Rebecca lançara um feitiço em Voldemort, mas ele o desviara com um movimento da varinha, e estava se virando para encarar Harry. O garoto tateou à sua volta freneticamente até que encontrou sua própria varinha.


            __ Expelliarmus!__ gritou ele bem na hora em que Voldemort lançava um feitiço em sua direção.


            Os dois feitiços se encontraram no ar e houve uma explosão. Uma rajada de vento empurrou Harry até ele bater na parede.


            O garoto levantou-se meio cambaleante e viu Voldemort na parede oposta. Ao mesmo tempo, Rebecca passou com um pulo entre os dois, com Nagini atacando seus pés. Num movimento brusco, a cobra bateu seu rabo na lateral da moça, e ela caiu com um baque. Sua varinha voou longe.


            __ Accio varinha!__ gritou Harry, apontando para a varinha de Rebecca. Não podia deixá-la perder sua arma; em suas mãos, ele poderia devolvê-la.


            O único problema foi que, um instante antes, Voldemort sussurrara o mesmo feitiço, e a varinha deu um salto no ar em direção à ele.


            No chão, Rebecca tentava chutar Nagini para longe dela, enquanto a cobra tentava se aproximar para dar o bote final. Harry teve um impulso de ajudá-la e gritou, apontando para a cobra:


            __ Bombardia!


            O chão ao lado da serpente explodiu e ela foi lançada para perto da lareira. Rebecca levantou-se num pulo e tentou se afastar, mas alguns destroços a atingiram, sem machucar muito.


            __ Expelliarmus!


            Antes que Harry pudesse fazer algo, sua varinha foi arrancada de sua mão e foi parar uns cinco metros longe dele.


            Ele ofegou, e seu olhar encontrou-se com o de Rebecca, que tinha se levantado perto da parede do seu lado.


            __ Parece que estão encurralados__ riu Voldemort à frente deles, sorrindo__ Desarmados. Sem saída.


            __ Prefiro morrer a me render a você!__ gritou Rebecca. Harry fez uma careta; não queria que ela tivesse dito isso.


            Voldemort apertou os olhos e sorriu ainda mais.


            __ Não se preocupe__ sibilou ele para ela__ Seu desejo será atendido.


 


            Ayame sentiu alguma parte de sua consciência voltar a seu corpo. Abriu os olhos; tudo estava vermelho e escuro. Ouvia barulhos e estrondos à sua volta, sentia a movimentação, mas nada fazia sentido para ela.


            A única coisa que ela sabia era que estava sentindo dor. Dor nas pernas, nos braços, na cabeça, como se tivesse sido espancada. Dor no ventre, como se algo tivesse o rasgado e queimado. Dor no peito.


            Ela arfou, respirando com dificuldade.


            Por que aquilo acontecera? Por que o seu filho tivera que ser levado?


            A dor em seu peito começou a aumentar cada vez mais, e ela ficou sem ar por um momento. Então puxou com força e sua cabeça rodou. Não agüentava aquilo. Queria seu bebê de volta. Precisava dele de volta. Iria buscá-lo.


            Tentou mover as pernas, mas não sentia mais seu corpo. A dor física a deixara; ficara somente a terrível dor em seu coração. Revirou os olhos e tentou respirar mais uma vez, mas o ar entrava cortando seus pulmões. Lentamente, os sentidos foram despontando em suas mãos, e ela sentiu algo molhado todo à sua volta.


            Com dificuldade, de olhos fechados, ela levantou o braço que pendia para fora do lugar onde estava e o deixou cair em seu ventre. Depois, lentamente levantou a mão novamente, posicionando-a em frente à face, e abriu os olhos.


            Sangue. Estava banhada em sangue.


            Seu sangue. O sangue de seu filho.


            O ar lhe faltou novamente, mas apertou os olhos e ofegou, recuperando a respiração.


            Ayame então sentiu uma corrente de ar. Ouviu algo bater, longe, no chão ou na parede. Não saberia dizer. Abriu os olhos e, bem devagar, girou a cabeça.


            Olhava para o chão ao seu lado, onde algo se retorcia. A garota piscou, tentando fazer a imagem entrar em foco. Não estava longe, mas seus sentidos estavam confusos e muito fracos. Então viu uma imensa cobra, lustrosa e reluzente, negra.


            Com esforço, levantou o tronco e sentou-se na mesa. Notou então que estivera deitada em cima de um punhal, prateado com o cabo incrustado de safiras. Esticou o braço e o segurou com a mão trêmula.


            Ayame olhou em volta. Mais à frente, havia três pessoas, que ela conhecia- sentia isso- mas que não reconhecia no momento. E elas estavam tão compenetradas em algo que a garota não compreendia que não a notaram ali.


            Seu olhar voltou-se à cobra. Era estranhamente familiar. Ayame piscou novamente, e um nome veio à sua mente. Nagini.


            A cobra virou-se a cabeça para ela, notando sua presença, e sibilou.


 


Harry engoliu em seco. Estava realmente encurralado, sem varinha, bem à frente de seu maior inimigo, Lorde Voldemort. Ao seu lado, Rebecca não estava em melhor situação.


            __ Vou poupá-lo por hora, Potter__ disse o Lorde das Trevas__ Tenho planos para você. Mas você, minha querida Rebecca... já está mais do que na hora de pagar pela sua traição.


            Harry viu a moça morder o lábio, mas não parecia que ela estava com muito medo.


            __ O que você fez com minha irmã?__ perguntou ela, com a voz trêmula de raiva.


            __ Nada__ respondeu Voldemort apertando os olhos__ Talvez devesse ficar mais preocupada com seu sobrinho.


            Rebecca abriu a boca e arfou, de repente entendendo o que Harry compreendera pouco antes dela chegar.


            Lorde Voldemort ergueu a varinha. Não havia nenhum resquício de piedade em seus olhos vermelhos.


            __ Está na hora__ sibilou ele__ Minha primeira façanha em meu novo corpo.


            Ele apontou a varinha para Rebecca.


            __ Avada...


            Harry puxou o ar com força e fechou os olhos. Não havia nada que pudesse fazer. Não queria ver.


            Ele esperou, mas nenhuma claridade esverdeada passou pelas suas pálpebras. Um grito de uma voz conhecida cortou o ar.


            __ Você! Você matou meu filho!!


            Abriu os olhos e então o que viu fez seu coração pular.


            À sua frente, Voldemort estava paralisado, a varinha ainda erguida, mas sua atenção estava toda voltada ao que acontecia perto da mesa de pedra.


            Uma garota de cabelos escuros com as vestes muito sujas de sangue se atracava com uma imensa cobra escura. Harry arfou, e ao seu lado Rebecca exclamou:


            __ Ayame!!


            Nagini, a cobra, estava enrolada nas pernas de Ayame, que estava ajoelhada no chão e segurava o corpo da cobra perto da cabeça da serpente, esticando os braços, impedindo-a de dar o bote.


            __ VOCÊ MATOU MEU FILHO!__ repetiu a garota.


            Harry nunca imaginara que ela pudesse ser tão forte. Ayame começou a apertar a cobra onde a segurava, enfiar-lhe as unhas na carne, até que gotas de sangue começaram a brotar da pele escorregadia da serpente. Nagini, ao mesmo tempo, fortalecia o aperto ao redor de Ayame. Harry viu ela fazer uma careta de dor.


            Voldemort voltou a varinha para aquela luta e sibilou:


            __ Solte Nagini!


            Como se o tivesse obedecido, Ayame soltou ambas as mãos da cobra, deixando-a livre. Nagini sibilou e rapidamente deu o bote, abrindo a boca e mostrando as presas.


            Harry gritou, mas foi inútil.


            A cobra parara a centímetros do rosto de Ayame. Em sua boca aberta, um punhal prateado sobressaía-se, enpunhalado ali com a mão ensangüentada da garota.


            Ayame puxou o punhal e mais uma vez apunhalou a serpente, desta vez mais abaixo, e puxou a lâmina até abrir um rasgo na pele do animal.


            Foi então que Harry, estupefado, ouviu o som mais horrível que ele já imaginara que pudesse ouvir.


            O grito de Voldemort.


            Um grito de dor.


            O Lorde das Trevas caiu de joelhos no chão, soltando a varinha, retorcendo-se, berrando, se enrolando como se estivesse sob o pior dos feitiços Cruciatus possível.


            Perto da mesa, algo acontecia também. Uma fumaça negra começou a sair de dentro da boca da cobra que Ayame acabara de matar. O restante do corpo da serpente ainda estava enrolado nas pernas da garota, mas ela conseguiu se desvencilhar o suficiente para se afastar da horrível coluna de gás negro. Harry engoliu em seco. Sabia o que era aquilo.


            Estupefados, Harry, Ayame e Rebecca assistiram a coluna de fumaça erguer-se totalmente de dentro de Nagini, serpentear pelo ar e então entrar dentro do corpo de Voldemort, que ainda se contorcia no chão.


            Harry deu um passo à frente. Pegaria a varinha do Lorde enquanto ele estava vulnerável.


            __ O que está fazendo?__ exclamou Rebecca__ Nós temos que sair daqui!!


            O garoto hesitou, não muito pelo aviso da moça, mas porque a cena que via era impressionantemente horripilante. A coluna negra entrava pela boca de Voldemort, consumindo e tomando conta de seu corpo.


            __ Harry!!__ chamou Rebecca__ Esse é o espírito de Nagini! Com a serpente morta, ele está entrando em outro hospedeiro! Quando a passagem estiver completa... não quero nem pensar. Temos que sair daqui AGORA!!


            Harry assentiu, ainda meio confuso. Ela correu, passando pelo garoto, e pegou a varinha dele que tinha caído uns cinco metros atrás.


            __ Accio varinha!__ e a varinha dela própria veio voando ao seu encontro. Harry caminhou rapidamente até Ayame, que estava sentada em meio aos restos de Nagini, que agora eram somente a pele da cobra, olhando para o chão, ainda segurando o punhal prateado de safiras.


            __ Vamos__ chamou ele.


            Ela não falou nada, não olhou para Harry, e ele ficou com medo de que ela estava do mesmo jeito que a encontrara há mais ou menos um ano antes, quando descobrira que ela não morrera, mas vivia num estado alheio.


            A garota levantou-se, com a ajuda de Harry, e os dois se juntaram à Rebecca perto da porta mais próxima, a que dava para uma sala com duas poltronas.


            __ Vamos encontrar Snape e Luna e sair daqui o mais rápido possível.


            Os três saíram por uma porta grande que dava para um corredor. Correram por ali, sem encontrar ninguém. De repente, ouviram passos, e viram duas sombras se aproximarem por um corredor lateral à frente.


            Rebecca ergueu a varinha e pulou com tudo na frente de quem quer que estivesse vindo.


            Quem quer que estivesse vindo, porém, eram Severo Snape e Luna Lovegood.


            __ Harry!__ exclamou a loira quando o viu. Ela estava péssima: magra, com vários arranhões e o rosto cansado__ Que bom vê-lo.


            __ Você não vai acreditar__ disse Snape__ A Ordem está aqui. Está atacando a Sede, fazendo uma distração para nós. Todos os Comensais estão lá fora, lutando.


            __ Você que não vai acreditar __ retrucou Rebecca__ Aconteceu uma coisa... muito... Voldemort...


            __ Acho que é melhor discutirmos isso depois!__ exclamou Harry no momento em que três Comensais da Morte apareceram no fim do corredor.


            O grupo começou a correr na direção oposta. Os Comensais lançavam feitiços a torto e a direito, por pouco não os acertando.


            De repente, depois de uma curva, o corredor acabou.


            __ Vamos ter que aparatar daqui mesmo__ disse Rebecca__ Harry, pegue Ayame e segure-se em mim.


            __ Daqui está muito longe__ disse Snape__ É muito perigoso para nós.


            __ Vai ser mais perigoso se ficarmos aqui__ retrucou a moça__ Acredite.


            Os três Comensais despontaram no começo do corredor.


            __ Aparatar, agora!__ gritou Rebecca. Harry sentiu o corpo da moça girar, e sentiu-se indo junto, segurando a mão de Ayame fortemente, bem na hora em que vários jatos verdes saíram das varinhas dos Comensais.


           


            Harry sentiu os pés baterem com força no chão, e caiu sentado, perdendo o equilíbrio. Sua mão separou-se da de Ayame, que caiu sentada ao seu lado. Ele ouviu um grito de dor. Do seu outro lado, Rebecca caíra de joelhos, segurando o braço esquerdo, tremendo.


            O garoto olhou em volta e notou que estavam em Hogsmeade, bem no meio da rua deserta. Estava tudo escuro. Ele perdera a noção do tempo, mas parecia ser de madrugada.


            Harry aproximou-se de Rebecca, que ofegava e parecia bem fraca. A Marca Negra em seu braço fumegava. Ele a tocou, tentando ajudá-la, e se assustou: a moça estava muito quente.


            __ Meu Merlin!__ exclamou uma voz. Harry virou-se e então lembrou-se de Luna e Snape, que tinham aparatado um pouco à frente deles. O seu olhar encontrou o de Rebecca, e ela assentiu levemente para que ele fosse ver o que estava acontecendo.


            __ Luna!__ chamou.


            A garota estava ajoelhada ao lado de Snape, que estava deitado no chão. Harry imaginou que fosse por causa da saída da Sede. De algum modo, fora pior para ele do que estava sendo para Rebecca.


            Harry se aproximou.


            __ É melhor sairmos daqui__ disse ele__ Temos que voltar para Hogwarts. Me ajude a acordá-lo, Luna... Vai ser mais fácil.


            A loira levantou os olhos para ele.


            __ Não podemos acordá-lo__ disse ela__ Harry... ele está morto.


            O garoto arregalou os olhos. Foi então que olhou efetivamente para o professor deitado a seus pés.


            Seus olhos estavam abertos, fitando o céu, mas não havia vida neles; a boca levemente entreaberta, os cabelos pretos oleosos caindo pelo rosto.


            __Ah não__ Harry ajoelhou-se ao lado de Luna.


            __ Acho que uma das Maldições da Morte dos Comensais acertou ele__ murmurou a garota.


            Harry engoliu em seco. Tinha suas desavenças com Severo Snape, mas o professor sempre o apoiara em sua luta contra Voldemort. Ajudara-o a salvar Ayame, e por isso acabara morto.


            O garoto passou a mão pelos olhos de Snape, fechando as pálpebras. Levantou-se, e olhou para onde Rebecca e Ayame estavam.


            Levou um susto. Ambas não estavam mais sentadas, seus corpos estendidos no chão.


            Harry correu para lá, com Luna indo atrás. Seu coração desacelerou um tanto quando aproximou-se e notou que tanto Rebecca quanto Ayame respiravam, mas estavam desmaiadas.


            __ O que aconteceu... com ela?__ perguntou Luna, apontando para as roupas ensangüentadas da namorada de Harry.


            O rosto dele escureceu.


            __ Voldemort....__ foi a única palavra que ele conseguiu dizer.


            Luna tocou seu ombro num gesto de solidariedade.


            Harry pegou sua varinha e disse:


            __ Expecto Patronum!


            Um veado prateado começou a se materializar. Harry pediu que ele fosse até o pessoal da Ordem e avisasse que eles precisavam de ajuda em Hogsmeade.


            Luna o ajudou a carregar, com um feitiço, o corpo de Snape, para um banco na calçada em frente. Eles então fizeram o mesmo com Ayame e Rebecca. Mesmo com toda a movimentação, elas não acordaram, o que fazia Harry imaginar que ambas deviam estar em péssimo estado. A toda hora, ele conferia se as duas ainda respiravam.


            Não passaram nem dois minutos depois de terem feito isso, ouviram-se vários estalos, e logo Lupin, Tonks e o Sr. Weasley estavam ali.


            __ Graças!__ exclamou o Sr. Weasley__ Harry, estão todos bem? Nós... __ ele estacou ao ver as três pessoas deitadas.


            __ O que aconteceu?__ perguntou Tonks.


            Harry os tranqüilizou sobre Rebecca e Ayame, que estava vivas; mas contou sombriamente sobre Snape. Lupin pareceu bem abalado. O Sr. Weasley colocou a mão no ombro de Harry.


            __ Vamos levar vocês de volta à Hogwarts__ disse ele__ O mais rápido possível...


            __ Espera__ interrompeu Harry__ Snape disse que vocês estavam na Sede. Atacando.


            __ Sim__ respondeu Lupin__ Quando descobrimos que você, Rebecca e Severo tinham ido até a Sede, Dumbledore bolou esse plano. Usamos toda nossa força para atacar e servir de distração. Parece que funcionou. Mas aconteceu algo muito estranho... e perigoso. Uma onda de energia... maligna... foi solta enquanto estávamos em batalha. Ambos os lados paralisaram. De repente, Belatrix Lestrange correu de volta para a Sede, gritando algo sobre Voldemort ter retornado mais forte.


            __ Isso realmente aconteceu__ contou Harry__ Voldemort conseguiu seu próprio corpo de volta e depois... incorporou o espírito maligno com quem ele tinha feito o pacto de imortalidade. Eu não sei o que aconteceu lá, não ficamos para ver, mas... foi assustador.


            __ Mas__ disse Tonks__ Eu pensei que o espírito estivesse em Nagini. Ela teria que estar morta para isso acontecer, não?


            Harry olhou para Ayame, deitada inconsciente ao lado da irmã.


            __ Ela a matou.


            Lupin pareceu ter notado as vestes sujas de sangue da garota naquele momento.


            __ O que aconteceu com ela?


            Harry não respondeu.


            __ Harry__ disse Lupin__ Voldemort precisaria de sangue de um inimigo para retornar a seu corpo. Pelo o que eu vejo... ele usou Ayame?


            __ Não__ respondeu ele sombrio__ Ele... usou nosso filho.


            Tonks soltou uma exclamação muda, e Luna murmurou:


            __ Filho? Ayame está....


            __ Estava__ corrigiu Harry__ Nosso bebê está morto.


            As palavras saindo da boca de Harry pareciam tornar o fato muito mais verdadeiro. Ele notou que lágrimas tinham começado a sair pelos seus olhos. Entao não se segurou mais e começou a chorar.


            Tonks o abraçou, mas não conseguiu dizer nada. O grupo seguiu para Hogwarts, andando. O corpo de Severo Snape foi colocado nas masmorras, sua sala, até que tivesse um enterro adequado. Rebecca e Ayame foram levadas urgentemente para a enfermaria, e Harry e Luna também acabaram sendo levados para lá. Madame Promfey pediu que o Sr. Weasley chamasse o médico que estava cuidando da gravidez de Ayame, o Dr. McFrey, urgentemente, enquanto cuidava da febre de Rebecca com o semblante preocupado.


            Harry ficou sentado em um banquinho ao lado da cama onde Luna estava deitada. A enfermeira não tinha deixado ele ficar perto da namorada. Tonks havia conjurado um pouco de suco e bolachas de mel antes de sair com o Sr. Weasley e Lupin, e os dois comiam calados. Pouco tempo depois, Rony, Hermione e Hagrid irromperam na enfermaria. Eles ficaram aliviados por saber que Harry e Ayame tinham voltado, e Luna também, mas ficaram chocados ao saber do estado de saúde das irmãs, e o que acontecera com Ayame.


            Harry acabou contando tudo em detalhes para os três. Luna também ouviu, por estar perto, mas não se intrometeu.


            __ Até Snape__ murmurou Rony.


            __ Eu não acredito nisso ainda__ Hagrid bateu o punho fechado no criado mudo, fazendo o prato de bolachinhas sacudir__ Como alguém pode ser tão... cruel?


            Hermione tinha levado as mãos à boca, e Harry sabia que ela estava tentando não chorar. Ele próprio estava tentando fazer isso.


            Madame Promfey saiu andando rápido de trás da cortina onde Rebecca estava, gritando algo sobre compressas de água fria e a professora Sprout. Um dos elfos domésticos que a estavam ajudando na enfermaria assentiu e aparatou com um estalo.


            __ E onde está aquele médico?__ perguntou ela, mas antes que alguém pudesse responder, a enfermeira foi para trás da cortina da cama de Ayame.


            Harry sentiu um impulso de levantar-se e ajudar a cuidar da namorada, estar ao lado dela, mas no momento em que isso aconteceu Dumbledore, a prof. MacGonagall e Lupin entraram na enfermaria. O diretor marchou direto para a cama de Ayame e trocou palavras rápidas e preocupadas com Madame Promfey. A enfermeira respondeu apontando para a garota e depois para Rebecca. Dumbledore assentiu e então caminhou até Harry.


            __ Você está bem?


            O garoto assentiu, mas ele sabia que o diretor estava ciente de que ele estava mentindo.


            __ Como elas estão?__ perguntou Lupin ao diretor.


            __ Ambas precisam de muitos cuidados__ respondeu ele__ A Marca Negra de Rebecca parece ter soltado um veneno em seu corpo, mas Madame Promfey acha que é tratável. Já Ayame... isso está além do que nossa enfermeira pode fazer. Traumas físicos não são o único problema dela.


            Dumbledore voltou-se novamente para Harry.


            __ Preciso que você me conte o que aconteceu em detalhes, Harry__ Dumbledore o fitou por debaixo dos oclinhos.


            O garoto abaixou a cabeça e assentiu mais uma vez. Dumbledore também balançou a cabeça e Harry levantou-se, acompanhando o diretor até uma sala vazia próxima, seguidos por Lupin, bem na hora em que o Carlinhos entrou correndo na enfermaria, perguntando por Rebecca, e o Sr. Weasley logo depois, seguido pelo Dr. McFrey, que não parecia de bom humor.


            __ Elas vão ficar bem__ Dumbledore pôs a mão no ombro de Harry quando ele parou na porta, observando a movimentação, e o conduziu para dentro da sala.


            Harry contou mais uma vez o que acontecera na Sede, como descobrira onde Ayame estava, o que encontrou quando entrou na sala de pedra; sua conversa com Voldemort, o que ele fizera para voltar; a entrada de Rebecca na luta; e então a morte de Nagini, pelas mãos de Ayame, e a possessão de Voldemort pela coluna de fumaça negra.


            Dumbledore permaneceu em silencio após a narrativa de Harry, refletindo.


            __ O que aconteceu com Voldemort?__ perguntou o garoto depois de um tempo__ Se ele...


            __ O espírito maligno com quem Voldemort fizera pacto__ Dumbledore o interrompeu__ usa agora o corpo do Lorde como moradia. Harry, o que aconteceu... não sei dizer se é bom ou ruim.


            __ Eu não entendo__ falou o moreno.


            __ Voldemort está muito, muito mais poderoso agora, depois dessa transformação__ continuou o diretor__ Será muito mais difícil derrotá-lo. Em contrapartida... em uma hora ou outra teríamos que dar um jeito de matar Nagini, pois nunca conseguiríamos derrotar o Lorde sem antes derrotar o espírito. Mas... o ideal seria que destruíssemos o espírito com a Varinha antes de atacar Voldemort efetivamente. Assim, ele não poderia voltar com seu espírito morto. Agora, nessa situação...


            __ Teremos que atacar Voldemort diretamente__ completou Harry.


            __ Exatamente__ Dumbledore assentiu. Ele ficou em silencio por um momento, e entao levantou os olhos, e Harry achou ter visto um fraco brilho neles__ Mas desta vez vamos derrotá-lo de uma vez só.


           

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