A viagem



Cap. 41


A VIAGEM


 


            __ Como assim, Brasil?


            __ Isso aí. Já está decidido, vamos para lá.


            Harry e Ayame tinham acabado de contar o resultado da reunião para os amigos.


            __ Mas por que? O que tem lá que vai nos ajudar com a varinha?__ perguntou Rony.


            Era essa a pergunta que Harry fizera à namorada quando ela fizera a proposta ao grupo.


            __ Há um homem lá__ respondeu ela__ Que sabe confeccionar varinhas. Ele é tão bom quanto Olivaras. O nome dele é Raoul. Ele pode nos ajudar.


            __ Mas isso é ótimo__ exclamou Hermione.


            __ Exceto pelo fato de que a viagem é muito perigosa na situação em que estamos__ Rebecca chegou ao lado deles, acompanhada de Carlinhos. Ela não gostara muito da idéia__ Sair do país agora é uma deixa para os Comensais virem atrás de vocês.


            __ Ora__ disse Ayame__ Você está chateada porque não pode vir, já que é professora aqui. Eu já disse pra não se preocupar, Reb, lá no Brasil estaríamos tão seguros como se estivéssemos em Hogwarts. Seguros de magia, pelo menos (indireta à violência descontrolada presente no país).


            __ Mas quando você diz nós__ perguntou Mione__ A quem você se refere? Quem vai nessa viagem?


            __ Bom, ainda está para decidir, mas eu e Harry vamos com certeza. Eu porque conheço o lugar e sou o contato com Raoul. Harry porque a varinha é dele, de certo modo.


            Harry sabia que Rony e Hermione queriam ir também.


            __ Será um tanto perigoso, mas gostaríamos que vocês viessem também__ disse ele__ E estaríamos perdendo aula... Sei que isso é importante pra você, Mione... De qualquer maneira, quem decidirá quem vai, eu acho que é Dumbledore.


            __ Nem sei porque você está pedido, Harry__ disse Rony__ Você sabe que não pode ia a nenhum lugar perigoso sem a gente. A gente ama perigo.


            Eles riram e Harry deu um soco no ombro do amigo. Ayame se afastou do grupo e foi conversar com Juliano, que cochilava em uma das poltronas da sala comunal.


            __ Ju?__ chamou ela__ Acorda!


            O garoto, que depois de cinco meses na Europa perdera seu bronzeado, levantou sobressaltado.


            __ Opa__ disse ele, em português__ O que é?


            A garota respondeu no mesmo idioma.


            __ Onde está Maria? Preciso falar com vocês dois.


            __ Acho que ela tá na biblioteca. Ela disse alguma coisa sobre estudar com amigas__ respondeu o brasileiro, coçando a cabeça.


            Ayame lhe lançou um olhar carinhoso de censura e os dois saíram da sala comunal.  Maria Eduarda realmente se encontrava na biblioteca, com Cho e mais algumas garotas de Corvinal.


            __ E aí?__ cumprimentou Juliano ao chegarem, focando as meninas.


            Ayame lhe deu um cutucão e chamou Maria para conversar, depois de ter dado oi para as garotas e conversado um pouco com Cho.


            __ O que você quer conversar?__ perguntou a menina loira quando saíram da biblioteca.


            __ Quer contar que terminou com o tal do cicatriz?__ indagou Juliano, erguendo um sobrancelha presuncosamente.


            __ Não__ respondeu Ayame com força__ Pare com essas brincadeirinhas, Juliano.


            E lançando um olhar à Maria que pedia desculpas, ela disse:


            __ Eu estou voltando para o Brasil. Mas é só por alguns dias. É uma coisa... __ ela abaixou a voz__ ... da Ordem, por isso não contem a ninguém. Só quis avisá-los, sabe, sei que vocês preferem que eu diga a verdade, mesmo que não toda.


            Ayame se espantou quando ambos os amigos abriram grandes sorrisos.


            __ Nós também estamos voltando!!


            __ An?


            __ Sim__ continuou Maria Eduarda__ Lembra que nossa bolsa escolar era somente por meio ano? Agora em fevereiro as aulas começam lá no Brasil, entao vamos fazer o ano lá também. Na verdade, íamos te contar amanha, depois do almoço. Estamos partindo semana que vem!


            Ayame ficou um tanto boquiaberta, depois sorriu.


            __ Isso é ótimo! Podemos viajar juntos. Mas eu tenho que conversar com Dumbledore e a Ordem...


            __ Tudo bem__ disse ela.


            __ Aliás, do que vocês vão? Estamos com um pequeno problema em relação à segurança da viagem...


            __ De avião, oras__ respondeu Juliano__ Aparatar até lá que não iríamos, e não há redes de Flu que liguem continentes separados por oceanos.


            Ayame assentiu, sorrindo.


           


            __ Já decidimos__ Ayame falou, entrando na casa de Hagrid, sorridente. Já era segunda à tarde, depois da aula.


            __ Decidiram o que? Onde você estava?


            Harry, Rony, Hermione e Hagrid estavam sentados na sala, o gigante tirando carrapatos de Canino e os outros olhando, enojados.


            __ Eu estava conversando com Dumbledore, com Lupin e com Rebecca__ respondeu ela, sentando-se__ Reunião sobre a viagem. Vamos partir quarta à noite. E adivinhem: nenhum adulto vai com a gente.


            __ O que?__ Hagrid fez.


            __ Quem é a gente?


            __ Eu, você Harry, Juliano e Maria, e... Rony e Mione!


            Os dois abriram um grande sorriso.


            __ Como assim nenhum adulto?__ repetiu Hagrid.


            __ E como assim aquele tal de Juliano?__ indagou Rony.


            Ayame franziu a testa.


            __ Ora__ fez ela__ Juliano e Maria iam voltar para casa de qualquer jeito, e não vejo nenhum problema em ir com eles. E quanto aos adultos... Resolvemos fazer isso para não chamar atenção, sabe, pois nessa época do ano, são muitos os grupos de jovens que viajam sozinhos por aí, principalmente para outros países.


            __ Sem contar que somos adultos__ disse Hermione__ Já temos dezessete anos, esqueceu Hagrid?


            __ Foi o que eu disse pra Rebecca, ela ficou enchendo o saco__ riu Ayame__ Sem esquecer que eu tenho dezoito.


            __ Mas como vamos?__ perguntou Harry.


            __ De avião.


            __ Avião?__ repetiu Rony__ Você quer dizer... avião trouxa?


            __ É__ enfatizou Ayame__ Avião, Rony. É o jeito mais seguro, em relação aos Comensais ou Voldemort. O Ministério controla a aparatação e a rede de Flu, e todos os outros transportes mágicos, mas não os trouxas. Iria ser muito mais difícil para eles encontrar nossas pistas no mundo trouxa. Sem contar que eu dei uma idéia que vai dificultar isso muito mais.


            Ela sorriu e continuou:


            __ Existem vôos que vão direto para o Brasil, fazendo escalas rápidas em Paris ou em Lisboa. Mas decidimos fazer várias escalas e paradas, além de comprar passagens que não usaremos, para lugares que não iremos. Assim, eles nunca saberiam onde paramos, onde estamos.


            __ Isso dificultaria até a CIA de nos achar__ brincou Harry.


            Rony e Hagrid não entenderam a piada, mas o ruivo continuava dizendo:


            __ Avião? Papai iria adorar isso.


            __ E, por acaso, quem vai arcar com as despesas?__ perguntou Mione.


            __ Ah__ Ayame deu de ombros__ Dumbledore disso algo parecido com... ‘Deixe tudo por conta de Hogwarts’.


            Na terça depois da aula, os quatro ficaram compenetrados em arrumar as coisas para a viagem. Ayame disse que eles viajariam como trouxas, turistas, entao eles deveriam assim parecer, mas não deviam levar coisas em excesso, pois seria uma longa ida até o Brasil. Quando as pessoas perguntavam o que eles iriam fazer, aonde iriam, Ayame respondia que iriam visitar uma tia distante dela, que recentemente descobrira estar viva, mas que já encontrava-se em seu leito de morte. É claro que para os amigos mais próximos essa historia não colava, entao eles somente diziam que era um assunto da Ordem, e isso resolvia.


            Na quarta, eles faltaram na aula de Trato das Criaturas Mágicas, a ultima do dia, a desgosto de Hagrid, que não poderia despedir-se deles.


__ Ayame__ Rebecca a chamou pouco antes de ir e estendeu-lhe um pacote de pano pesado. A garota ouviu o tilintar de moedas__ Isso é pra você, pra viagem. Sei que vão precisar.


__ Reb? Onde você conseguiu tudo isso?__ Ayame indagou, abrindo o saco e olhando os galeões dentro.


            __ Era de uma conta... que papai e mamãe tinham... eu fiquei com a chave.


            __Ah. Muito obrigado, mesmo.


            As duas se abraçaram.


            __ Vou sentir saudades. Vê se se cuida.


 O Sr. Weasley veio buscá-los de carro na Estação King’s Cross, como no dia do teste no Ministério, e levou-os até o aeroporto de Londres, falando o caminho inteiro sobre cuidados em viagens e andar sempre em grupo.


            No aeroporto, enquanto esperavam para embarcar no avião, Ayame puxou um mapa e mostrou-os o caminho que iriam fazer. Ela já tinha explicado à Maria e Juliano sobre as escalas e o enlongamento da viagem por questões de segurança.


            __ Olhem, nós estamos aqui, em Londres__ ela apontou para a Grã-Bretanha__ Pegaremos o avião agora para Nova York, com uma pequena parada em Dublin, na Irlanda. Ficaremos lá por uma noite. Entao, cruzaremos os EUA para... Rony, presta atenção!


            __Mas olha o tamanho daquilo! E voa!__ o ruivo olhava maravilhado pela janela da sala de embarque. Ayame balançou a cabeça e Mione deu um cutucão no namorado.


            __ Bom, vamos entao pra Las Vegas...


            __ Vegas!__ desta vez foi Juliano. Ayame lhe lançou um olhar frio e ele se calou.


            __ Continuando... de Vegas, há duas passagens; uma indo para a Cidade do Panamá e outra para Barbados. Nós vamos para Barbados. E entao, de lá pegaremos o ultimo avião direto para o Rio de Janeiro.


            O dedo dela parou na cidade mencionada.


            __ E é isso.


            __Uma viagem e tanto.


            __ Olha! Tá subindo! Voa mesmo!! Não acredito...


            __ Você conhece aquele ruivo, Harry? Eu não conheço...


 


            A viagem toda, contando com todas as paradas, as esperas nos aeroportos e as estadias nas cidades, durou três dias, ou seja, eles chegaram no Rio de Janeiro no sábado a tarde.


            Harry nunca esqueceria aquela viagem. Primeiro, nunca tinha andado de avião, e fora simplesmente maravilhoso. Por sorte (ou por magia) ele sempre ficava na janela, e não cansava de olhar as coisas lá embaixo: o mar que fundia-se com o céu azul, não dando pra saber onde terminava um e começava outro; as nuvens; os pontinhos claros lá embaixo à noite; as montanhas, parecendo pequenas; o amanhecer tingindo todo o céu de tons coloridos, rosados, amarelados, azulados... um verdadeiro espetáculo.


            É claro que havia as coisas ruins, como os pés inchados e o cansaço nas pernas de tanto ficar sentado, além do fato de Rony ter vomitado quase toda viagem no avião.


            Quanto às cidades, eles não desceram em Dublin; em Vegas passaram somente algumas horas, sem sair do aeroporto, mas tentando entrar no cassino que tinha lá; em Barbados, chegaram à noite, em meio a uma festa ao luar que estava tendo na praia, mas não ficaram muito, pois sairiam no outro dia cedo para o aeroporto.


            Mas a cidade que mais encantou, pelo menos Ayame, foi Nova York. Foi o local onde passaram mais tempo, e puderam visitar o Central Park e olhar de longe a Estátua da Liberdade. Passearam muito de táxi, principalmente em Manhattan, onde era seu hotel. Ayame andava pelas ruas maravilhada, com tudo, observando cada detalhe da cidade, e quase matou Harry para poder ficar no lugar dele na janela do avião quando saíram de lá, para olhar uma ultima vez para a ‘Big Apple’.


            __ Era totalmente diferente das outras cidades grandes que já fui__ contava ela algum tempo depois__ Havia os grandes prédios, as pessoas, os carros e tudo mais, mas... parecia tudo tão diferente! O ar era diferente, a verde das árvores, o céu... Vimos até um carro da NYPD!! Aqueles que aparecem nos filmes de investigação criminal! E eu nunca tinha visto tantos táxis amarelos na minha vida!!


            A animação da garota não diminui nem um pouco ao chegarem ao Brasil. Todos já tinham se livrado das blusas de frio ao saírem de Barbados, mas chegaram ao Rio ao meio dia, o sol rachando. A cidade não era nada parecida com o que Harry ouvira falar; era muito mais bela. As praias, o mar, o Cristo... Eles ficaram maravilhados.


            O engraçado era que as pessoas, na rua, no aeroporto, notavam que Harry, Rony e Hermione eram estrangeiros, e olhavam para eles com curiosidade e até um pouco de admiração. Mas isso não acontecia com Ayame; era como se ela tivesse pisado em solo brasileiro e tivesse virado nativa.


            __ A nossa escola__ disse Maria Eduarda ao saírem do aeroporto__ É a duas horas daqui de carro. Vocês vão com a gente até lá?


            __ Claro__ respondeu Ayame__ Seria legal esses londrinos aqui conhecerem a Escola Nacional de Magia e Bruxaria do Brasil. E eu ainda tenho que falar com o diretor.


            Eles almoçaram em uma lanchonete. Antes de saírem, Ayame foi até a agencia de correios do aeroporto e mandou uma carta, endereçada à casa dos pais de Tonks, contando como fora a viagem. Esta era a forma que a Ordem determinara para comunicação entre eles, da forma mais trouxa possível.


            Eles pegaram um táxi (este era branco) que levou-os para um pouco fora da cidade. O motorista não gostou muito da idéia de levar seis pessoas num carro, já que aquele não era magicamente ampliado por dentro, mas acabou aceitando depois de muita insistência.


            __ Mas se a polícia aparecer__ disse ele para Ayame, Maria e Juliano__ Vocês se escondam debaixo do banco. Nesses tempos eles tão sempre por aí, subindo as favelas...


 Depois de mais ou menos duas horas, nas quais Maria e Juliano ficavam cantando as músicas que tocavam no rádio (o motorista acompanhava de vez em quando); Ayame ficou debruçada na janela da frente olhando as coisas, e cantarolava a musica do radio algumas vezes; Harry ficou na janela direita de trás, com Rony debruçado em cima dele, quase morrendo de calor; e Hermione na outra janela, olhando boquiaberta a cidade e fazendo vários comentários intelectuais sobre o que via; finalmente eles chegaram a uma área rural com várias entradas de chácaras dos dois lados da estrada. Maria Eduarda pediu ao motorista que encostasse em uma entrada com uma placa, pendurada em um arco de madeira cheio de trepadeiras, dizendo ‘Rancho da Fantasia’.


Eles desceram do táxi. Enquanto pegava as malas, o motorista perguntou se não queriam que ele os levasse até a casa do rancho, ao invés de deixá-los ali na entrada, mas eles recusaram.


Após virem a poeira do carro indo embora desaparecer na estrada de chão, os seis pegaram as malas e caminharam até a entrada. Harry ficou boquiaberto logo que passaram pelo arco da entrada.


A paisagem mudara completamente. De outro lado do arco, se alguém olhasse para onde ele estava olhando agora, veria nada mais do que um carreador que levava até uma fazenda qualquer, cercado de árvores, com campos em volta. Mas ali, daquele lado da entrada, o que ele via era um grande prédio horizontal, uma construção de uma beleza rústica, cercada por árvores e gramado.


O garoto saiu de seu estado de observação admirada quando Ayame o puxou, e eles acompanharam Maria e Juliano, que já estavam quase na entrada do prédio, a uns cinqüenta metros a frente.


 A frente do prédio era maciça, sem janelas, com uma única grande porta de madeira escura. Juliano bateu três vezes nela com a varinha e esta se abriu para uma pequena sala, como uma recepção, onde uma mulher estava sentada numa mesa. Ela levantou-se e conversou em português com eles. Maria respondeu, deixou a mala ao lado de um dos sofás que tinha no aposento e saiu em direção à outra porta, menor, do outro lado.


__ Podem deixar as malas aqui__ Ayame disse aos amigos londrinos, colocando sua própria mochila no sofá__ Eles vão guardar para nós. As aulas começarão aqui somente semana que vem, por isso a escola estará meio vazia...


.           A outra porta dava para o interior da escola, que era completamente diferente de sua fachada maciça: eles saíram num corredor largo com a parede oposta aberta, dando para um imenso pátio, com uma árvore enorme, tanto em largura como em altura, no centro. O pátio era quadrado, rodeado pelos quatro corredores iguais. Eles viraram à direita e enquanto andavam Ayame dizia:


            __ Aqui deste lado ficam as salas de aula e dos professores, do outro ficam os dormitórios dos alunos. Olhando assim, parece que é pouco, mas a escola é bem maior do que parece ser. E aquela ali__ ela apontou para a árvore no centro do pátio__ é uma figueira centenária. Estava aqui quando a escola foi construída, na época da colônia ainda, e hoje é protegida por feitiços. Não é uma árvore mágica, mas é o símbolo daqui.


            Harry ficou observando os galhos da árvore balançarem ao sabor da brisa, suas folhas verdíssimas e grandes. Eles andaram até o final daquele corredor e do outro, e viraram mais uma vez, chegando ao centro do corredor oposto àquele de onde tinham partido. Lá, havia outra porta idêntica à da recepção, onde eles entraram. Aquela porta dava para uma biblioteca, que estendia-se horizontalmente e era razoavelmente grande. Eles atravessaram-na (desta vez, Harry que teve que puxar Ayame, e Hermione também, que paravam toda hora para ver algum livro) e entraram e bateram numa outra porta, esta de uma madeira clara e cheirosa.


            __ Eu einh__ disse Rony enquanto esperavam a porta se abrir__  Este lugar é pior que Hogwarts, é porta pra cá, porta pra lá...


            __ Que nada__ retrucou Juliano__ Aquelas escadas de Hogwarts são piores! As portas daqui pelos menos não mudam de lugar adoidado.


            __ Shh...


            A porta de madeira branca se abriu, e Harry sentiu na hora um cheiro doce que lhe lembrou Trewlaney de alguma maneira. Um homem alto, negro, de belas vestes verde musgo olhou para eles e deu um sorriso.


            __ Ora ora!__ disse ele, em inglês com um pouco de sotaque__ As visitas entao chegaram!


            __ Este é o diretor da Escola Nacional__ disse Ayame, sorrindo para o homem__ Professor Jonas de Castro Alves.


            __Fico muito feliz em ter vocês aqui comigo__ o diretor disse, e entao abraçou cada um deles, rindo e depois afastou-se da porta, acenando para dentro do escritório, uma grande sala em todas as dimensões, com duas ou três estantes de livros, uma mesa da mesma madeira da porta, um armário ao fundo e vários retratos de paisagens nas paredes. Em todo canto, estavam espalhados incensos, de onde vinha o cheiro doce.__ Entrem, entrem!


            __ O que acharam do intercâmbio, Sr. Flanco, Srta. Grant? __ disse o diretor Alves, sentando-se em sua cadeira. Os outros sentaram-se também.


            __ Foi realmente muito interessante__ respondeu Maria, sorrindo__ Aprendemos muitas coisas. Hogwarts é realmente maravilhosa.


            __ Mas sentimos falta daqui__ disse Juliano.


            __ O melhor foi reencontrar Ayame__ voltou a falar Maria, sorrindo para a amiga__ Aconteceram muitas coisas com ela desde que saiu daqui.


            __ Acredito que sim__ respondeu Alves, sorrindo para Ayame__ Na verdade, o Professor Dumbledore me deixou informado da maioria das coisas. Das mais importantes, pelo menos. Bom homem, Alvo Dumbledore, e bom diretor também. É muito bom rever você, Ayame, como sempre.


            __ Também estou animada por estar de volta__ respondeu Ayame__ Professor, queria que o senhor conhecesse meus amigos que vieram de Londres comigo, Hermione Granger, Ronald Weasley e Harry Potter.


            __ Claro, claro!__ o diretor parecia bastante animado__ Dumbledore também me falou da vinda de vocês, e os motivos também. É uma honra receber tão maravilhosos alunos de Hogwarts. Pelo que eu sei__ ele deu uma piscadela para os três__ a Srta. Granger é muito inteligente, o Sr. Weasley é muito corajoso e o Sr. Potter, nem se fala. É realmente uma honra conhecê-lo.


            __ Entao Dumbledore avisou que viríamos? Que bom. O senhor está a par do que viemos fazer, não?


            __ Sim.


            __ Bom, nós vamos dar uma volta pelo prédio, matar a saudade__ disse Maria levantando-se e puxando Juliano__ Nós nos encontramos depois.


            Ayame acenou para eles, e os dois saíram.


            __ Dumbledore me contou por cima que vocês vieram atrás de Raoul__ disse o diretor__ Precisam de um fabricante de varinhas. Se não se importassem, eu gostaria de saber a história toda.


            Ayame contou sobre a profecia, com ajuda dos outros, que aos poucos perdiam o acanhamento na frente do diretor. Contaram da conquista dos ingredientes e da captura de Olivaras, e também do Ministério da Magia. Ao final da história, Alves suspirou e ergueu as sobrancelhas.


            __ Isso tudo é muito mais complicado do que o que já chegou até aqui__ disse ele__ O Ministério da Magia da América Latina sentiu que havia algo de errado com o Ministério da Grã- Bretanha de uns tempos para cá, mas não tínhamos certeza do que tinha acontecido, só suspeitas. Mas parece que essa história com Voldemort é bem séria, principalmente desta vez. Graças a Merlin nunca tivemos nenhum bruxo das trevas com poder parecido por nossas bandas. Acho que é um mal de europeu.


            Ele deu um sorrisinho, mostrando os dentes brancos que contracenavam com sua pele escura.


            __ Mas fiquem sabendo que vocês tem nosso apoio total. O que precisarem, estaremos dispostos a ajudar. Não é porque Voldemort é um problema na Grã-Bretanha que o resto do mundo bruxo tem que ficar alheio. Ainda mais que vocês tem uma chance de derrotá-lo definitivamente com essa varinha poderosa da profecia. Vou apresentar uma proposta ao ministro latino, creio que ele compartilha da minha opinião também.


            __ Obrigada, Professor__ agradeceu Ayame, acompanhada por repetições dos amigos__ É realmente muito bom contar com a ajuda de vocês. Mudando de assunto um instante, o senhor sabe se Raoul está no mesmo lugar de sempre?


            __ Sim, ele não sairia de lá__ respondeu Alves, rindo estrondosamente__ Aquele velho ranzinza.


            Ayame riu, mas Harry não entendeu a piada.


            __ Eu mandei um aviso a ele de que você iria visitá-lo, mas não disse para quê. Achei melhor você convencê-lo do que tem que fazer. Ele gosta muito de você, sabia? Às vezes, quando vem aqui, ele pergunta se você vai voltar.


            __ É uma pena não poder ficar aqui por muito tempo__ respondeu Ayame__ Mas é até melhor irmos atrás de Raoul ainda hoje.


            __ Tudo bem__ disse o diretor levantando-se__ Providenciarei passagens para vocês quatro. Creio que querem continuar indo do modo trouxa, sim?


            Ayame acenou afirmativamente, e agradeceu.


            Os quatro saíram da biblioteca e Ayame levou-os até um pomar que existia ainda atrás da escola. Eles ficaram sentados na sombra de uma mangueira, e a garota colheu algumas frutas para eles comerem.


            __ Para onde vamos agora?__ perguntou Hermione, experimentando uma pitanga.


            __ Curitiba. É uma cidade no Paraná, um estado do sul. Mas não é lá que Raoul mora realmente__ Ayame começou a desenhar na terra do chão com a varinha__ Curitiba fica aqui, perto da Serra do Mar. Vamos ter que descer a serra até essa cidade litorânea, Antonina. É aqui que ele mora.


            __ Como esse Raoul aprendeu a fabricar varinhas? E como você conhece ele?__ perguntou Harry, encarando uma jabuticaba com o olhar suspeito.


            __ Come, Harry, é bom__ Ayame respondeu__ Raoul nasceu na Itália. Ele aprendeu lá como fabricar varinhas, mas pelo o que eu saiba faz muito tempo que ele não faz nenhuma, por isso vamos ter que convencê-lo a fabricar a nossa. Acho que não será difícil. Ele veio para o Brasil faz uns vinte e cinco anos, e escolheu morar em Antonina porque era um lugar meio parecido com o que ele morava na Itália. Na verdade, ele é bem recluso, sai pouco, mas parece que todos os bruxos da América Latina o conhecem. Eu o conheci numa viagem que ele fez à escola, e ele se tornou um grande amigo.


            Ela parou de contar quando o diretor Alves veio chamá-los.


            __ Está tudo pronto__ disse ele__ O avião sai daqui a uma hora e meia. É melhor voltarem para o aeroporto.


           


            Depois de se despedirem de Maria Eduarda e Juliano, e do diretor Jonas Alves, eles embarcaram no avião, que levou-os à Curitiba. Harry gostou muito mais do clima de lá, que parecia menos quente, mas mesmo assim as temperaturas ainda eram muito mais altas do que estava acostumado.


            Do aeroporto, pegaram um ônibus para Antonina. A descida da Serra do Mar era linda, as montanhas verdes e a floresta densa eram paisagens diferentes para Harry, Rony e Mione, que ficaram maravilhados. O veículo parou na rodoviária da pequena cidade portuária, que ficava num braço de mar entre as montanhas. Ayame não cansava de olhá-las, deslumbrada, recortadas contra o céu azul e sem nuvens, durante a viagem toda, mas ao chegarem, ela não desgrudava os olhos do mar, azul e brilhante. Harry entendeu entao o que ela queria dizer quando falava que o mar daquele país era diferente. Harry também ficou maravilhado com aquela imensidão azul.


            Eles seguiram a pé, saindo da cidade e contornando um morro baixo. Atrás deste, havia uma praia curta, deserta, e entao, depois de uma trilha que entrava no meio da mata, saíram em uma encosta de montanha, onde havia uma casa mais acima.


            Na verdade, não era uma casa, parecia mais um castelo no meio da floresta. Era enorme, feito de pedra, alto e com torres. Quando chegaram mais perto, Harry pode ver animais entalhados em pedra rodeando a entrada, pássaros de vários tamanhos. Antes da porta do casarão, eles passaram por um jardim enorme, com várias bromélias e orquídeas em cima de árvores espaçadas. Ayame bateu a porta, e uma moça morena de avental atendeu.


            __ Boa tarde, vocês devem ser as visitas estrangeiras do Sr. Raoul. Entrem, eu vou avisar que chegaram.


            Ayame traduziu o que era dissera para os amigos e eles entraram. Eles ficaram numa sala repleta de objetos espalhados nas paredes de pedra e em estantes e criados, enquanto a moça subia as escadas.


            Eles ficaram observando as coisas da sala. Harry notou que eram relíquias, quadros de pintores famosos e objetos da Renascença. Ele ficou imaginando se eram réplicas ou não.


            __ Olha isso__ disse Rony, pegando um objeto de ferro de uma das estantes. Era um marcador de ferro, como aqueles de marcar gado, mas este era quadrado e estava escrito a palavra fire.


            __ Eu viro do outro lado__ mostrou o ruivo__ e continua escrito a mesma coisa! É incrível!


            __ É um anagrama__ disse Ayame__ Isso aí é uma relíquia da época do Renascimento. Nunca ouviram falar em Iluminatti?


            Os garotos balançaram a cabeça, mas Hermione respondeu:


            __ Os iluminados, uma sociedade secreta de cientistas do século XVI. Pensei que fosse uma lenda.


            __ Eu também__ disse Ayame__ Mas Raoul tem uma das coisas deles, entao... sei lá.


            Eles continuaram observando os outros objetos. De repente, Hermione exclamou:


            __ Olha essa pintura! Ayame... é igualzinha a você!


            Eles amontoaram-se em volta de Hermione, que indicava um quadro pendurado bem no centro da parede da direita. Nele, havia o retrato de uma moça de cabelos longos, negros encaracolados, com a pele branca e um vestido vermelho. Era realmente  a cara de Ayame.   


            __ Tem uma assinatura aqui__ mostrou Harry__ Está escrito Christine.


            __ Christine!__ Ayame exclamou de repente__ Isso aí não é a assinatura, é o nome da moça. Não sou eu, por sinal. Christine Daée era a amante de Raoul na Itália. Eu não sabia que ele era tão parecida comigo.


            __ Isso é estranho__ disse Rony__ Por um momento achei que esse Raoul tinha um amor platônico por você, com esse quadro e o que o diretor Alves falou e tudo mais...


            __ Não__ Ayame cruzou os braços__ Mas esse quadro não estava aqui da ultima vez que vim. Acho que Raoul mandou pintá-lo depois que fui embora, porque faz dois anos que não venho aqui, e o quadro parece estranhamente atual, não?


            __ Realmente__ disse Hermione__ Mas não sabíamos que você tinha passado algum tempo aqui antes.


            __ Sim__ respondeu Ayame__ Não deu muito tempo de contar, mas naquela visita que Raoul fez à Escola Nacional, quando ele me conheceu, eu não controlava meus poderes realmente bem ainda. Foi logo depois de eu ter desembarcado no Brasil. Alves entao nos apresentou, e disse que Raoul poderia me ajudar. Ele fora um artista na Itália, e fazia malabarismo com fogo nas apresentações. Era o melhor tutor que eu poderia encontrar. Por isso que ele tem esse anagrama do fogo, é a maior paixão dele. Exceto por Christine, penso eu. De qualquer maneira, eu passava as férias aqui. Ele é uma pessoa realmente culta e muito inteligente. Sabe de muitas coisas, o que é de se esperar para alguém da idade dele__ ela riu, mas eles não entenderam__ Só tem um gênio um pouquinho difícil de lidar.


            __ E todas essas coisas?__ perguntou Harry__ Parecem verdadeiras.


            __ E são, Harry!__ disse Ayame__ Nada disso aqui é réplica. Os quadros, os cálices, as tapeçarias... todos os objetos vieram da Itália com ele, e são genuinamente da época do Renascimento, do século XV e XVI.


            __ Nossa__ disse Mione__ Isso aqui é um museu. Ele deve ter pagado muito caro por cada uma dessas peças.


            __ Na verdade, não__ respondeu Ayame__ Na época que ele os adquiriu, não eram valiosas.


            __ Mas isso seria, sei lá, no próprio século XVI__ riu Mione.


            __ Exatamente.
            A estranheza no olhar deles não teve tempo de se transformar em palavras, pois a moça de avental desceu apareceu e eles ouviram passos.


            Seus olhares voltaram-se para a escada, onde um homem apareceu.


            Harry, Rony e Hermione olharam para Ayame incrédulos, e depois voltaram o olhar novamente para o homem ao pé da escada.


            Ele aparentava uns vinte e três anos, o que seria impossível para alguém nascido quatro séculos antes. Vestia uma camisa azul turquesa e calças sociais. Sua pele era branca, pálida, e seus olhos eram brilhantes e esverdeados. Ele sorriu, mostrando dentes também muito brancos.


            __ Boa tarde__ disse Raoul, a voz macia__ É um prazer recebê-los em minha mansão.


            Ayame aproximou-se dele e o abraçou rapidamente.


            __ Seus amigos parecem um pouco assustados__ disse Raoul gentilmente.


            __ É, acho que sim__ disse Ayame. Ela olhou para eles e riu__ Acho que esqueci de mencionar a eles que você é um vampiro, Raoul.

o outro já está quase prontooo comentem!!

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