O fabricante de varinhas



Cap. 42


O FABRICANTE DE VARINHAS


            __ Ora, eu não mordo__ disse o vampiro, rindo e aproximando-se deles__ Não vocês, pelo menos.


            Ele estendeu a mão para Harry. O garoto hesitou muito antes de apertá-la, fria como uma pedra.


            Raoul fez o mesmo com Rony e beijou delicadamente a mão de Hermione.


            __ Jonas me disse que vocês viriam, mas não me informou o motivo. Infelizmente, vocês chegaram em uma hora pouco hospitaleira, já que tenho um compromisso agora. Conversaremos no jantar?


            __ Tudo bem__ respondeu Ayame__ Esperaremos você.


            O vampiro aproximou-se dela novamente e beijou sua mão também. Entao, fez um aceno para a empregada, que trouxe um chapéu para ele e abriu a porta.


            Logo depois que Raoul saiu, os três amigos desabaram no sofá da sala.


            __ Porque você não nos contou isso antes? Pelo amor de Merlin, Ayame!


            __ Eu quis fazer uma surpresa__ respondeu ela__ Vocês não estão bravos comigo, né? Desculpa se isso assustou vocês.


            __ É claro que assustou!__ disse Rony__ Aliás, não podemos ficar aqui! Na casa de um vampiro!! Não duvido de acordarmos daqui a uma hora com os pescoços mordidos!!


            Ayame sentou-se do lado deles.


            __ Isso não vai acontecer__ disse a garota firmemente__ Raoul não se alimenta de sangue humano. Ele teve séculos para aprender a se alimentar somente de animais. Ele gosta particularmente de peixe, apesar desses não terem muito sangue. Por isso que ele mora aqui, na praia.


            __ Você tem certeza de que estamos seguros?


            __ Claro que sim__ respondeu Ayame, franzindo a testa__ Eu passei meses aqui, junto de Raoul, e ele nunca me fez mal algum. Pode perguntar isso à moça que atendeu a porta para a gente, ela não parece com medo, não?


            Eles assentiram, meio relutantes.


            __ Raoul foi o melhor tutor que eu tive, exceto Dumbledore. Ele é um grande amigo. Nunca faria mal a mim, muito menos a vocês.


            __ Tudo bem. Só ficamos um pouco chocados com tudo isso__ disse Harry.


            Ayame abaixou a cabeça.


            __ Desculpem. Devia ter deixado bem claro a vocês o que estávamos fazendo antes de sairmos da Inglaterra.


            __ Está desculpada__ disse Mione, a abraçando.


            __ Eu ainda não entendo como você conseguiu ficar amiga de um vampiro__ disse Rony__ Eu simplesmente odeio o que mora lá em casa.


            __ Foi fácil, tínhamos coisas em comum__ respondeu Ayame, fazendo um sorriso misterioso.


            __ Como o que?


            __ O gosto por fogo__ disse ela__ e é claro, por sangue.


            Os três a encararam e entao desataram a rir.


            A empregada, que escutava tudo na entrada sem porta daquela sala, não fez nenhum comentário sobre a conversa, mas sorriu para eles e chamou-os para fazer um lanche da tarde na cozinha. Depois de comerem pão, vários tipos de queijo e suco de laranja, Ayame levou-os para um tour pela casa.


            A mansão parecia muito um castelo, mas era mais aconchegante. Tinha três andares, mais um andar subterrâneo onde havia um carro (conversível e prateado) e algumas passagens que eles resolveram não entrar. No térreo, ficava a cozinha, a sala de estar, a sala de jantar e a sala dos objetos, que era uma extensão da sala de estar, onde também havia um piano de cauda. No primeiro andar, havia um escritório anexado a uma biblioteca muito grande, onde eles encontraram livros da época Renascentista também; e mais três quartos, todos com banheiro. No ultimo andar, estava o quarto de Raoul, onde eles não entraram, e mais três suítes, maiores do que os do andar de baixo, que possuíam sacadas. Uma delas dava para a parte de frente da casa, e as outras duas para os jardins enormes que havia na parte de trás, com um bosque ao leste, separados por um gramado extenso. Em ambas as sacadas era possível ver o mar, não muito longe dali.


            Enquanto admiravam o pôr-do-sol na parte de trás da casa, em uma das sacadas, Harry perguntou:


            __ Como que Raoul sai assim, normalmente, pelas ruas? Ele não derrete no sol ou algo assim?


            Ayame riu.


            __ Eu não sei, mas ele nunca tira uma corrente que usa no pescoço. Deve ser isso que o protege. Ele também é um bruxo, pode muito bem ter desenvolvido um feitiço e lançado na corrente para protegê-lo contra o sol.


            Harry ainda indagou:


            __ Mas é um pouco estranho, por que ele saiu da Europa e veio para o lugar mais quente da face da Terra? Pensei que vampiros gostassem de escuridão e tudo mais.


            __ Harry, o Brasil não é o lugar mais quente da face da terra.


            __ Eu sei, foi um exagero.


            __ Bom, eu não sei de muita coisa. Pelo o que ele me contou, a vida dele foi mais ou menos assim: Raoul vem de uma família tradicional de bruxos da época, que vivia numa cidade ao sul da Itália. Seu pai era ministro, e era muito rico, tanto em dinheiro bruxo como em dinheiro trouxa. Como uma fachada trouxa, o pai de Raoul era um mecena ,um patrocinador das artes. Raoul estudava em casa, com um professor particular, que secretamente ensinava-o a arte de fabricar varinhas. Nas horas vagas, ele era malabarista de fogo, usando magia para encantar a todos, e participava de uma comitiva de teatro. Ele conheceu Christine em um dos grandes bailes que o pai dele dava, ela era filha de um dos artistas patrocinados, de uma família trouxa.  Nessa noite, Raoul fez um dos seus números de malabarismo mais famosos e intrigantes, para quem não era bruxo, é claro. Christine, porém, reconheceu a magia, pois ela também conseguia fazer coisas como aquela às vezes. Foi assim que ela descobriu que também era bruxa, e a família de Raoul a acolheu como uma filha, ignorando sua descendência trouxa. A garota também sonhava em ser cantora, por isso ingressou na companhia de teatro com Raoul.


            __ Mas como ele foi virar um vampiro?


            __ Calma, Rony, vou chegar lá. Raoul e Christine passaram anos juntos, aprendendo juntos, até que um dia chegou à cidade um primo distante de Christine, chamado Erik, que vinha da França. Ele aproximou-se bastante dos dois, a ponto de descobrir que ambos eram bruxos, por mais que Raoul e Christine tentassem esconder isso dele. Mas foi uma grande surpresa para o casal quando Erik contou que ele também era um bruxo, mas não conseguia realizar magia. Era o que nós chamamos de aborto. Naquela época, os bruxos abortados eram realmente mal vistos pela sociedade bruxa, como doentes, por isso eles não contaram a ninguém. Raoul e Christine, porém, não sabiam que Erik escondia mais um segredo.


            ‘Passou-se mais ou menos seis meses, quando Erik inesperadamente pediu Christine em casamento. Ela não aceitou, pois estava apaixonada por Raoul. O pai dela, entretanto, tinha brigado com seu mecena, o pai de Raoul, e não gostava da idéia de sua filha se casar com ele, entao obrigou Christine a aceitar a proposta de Erik.’


            ‘Raoul não ia deixar sua amada casar-se contra a sua vontade, entao os dois fugiram e organizaram uma cerimônia clandestina em um dos bosques ao redor da cidade. Se Christine aparecesse casada com Raoul, ela não poderia ser obrigada a ficar com Erik. Qual foi a surpresa deles ao serem interrompidos por ninguém menos que o primo francês. E tamanha foi a surpresa quando ele apareceu com os olhos vermelhos, a boca escancarada, mostrando caninos afiados e pontiagudos. Na hora, eles souberam o que mais que ele era: um vampiro.’


            ‘Erik ficou com muita raiva da fuga dos amantes, entao atacou Raoul, mordendo-o. Christine ficou desesperada e tentou fugir, mas Erik a capturou e a levou para casa. Ela entao suplicou-o que buscasse Raoul e cuidasse dele para que não morresse. Disse que, se ele fizesse isso, ela casaria-se com ele e faria tudo o que ele quisesse. Erik, que se mostrara agora ganancioso e vil, ao contrário do garoto inofensivo que parecia ser antes, aceitou a proposta, apesar de poder obrigar a garota a casar-se com ele sem isso. No bosque, Raoul agonizava, perdendo muito sangue, quando Erik apareceu e o levou de volta para casa.Três dias se passaram, e quando Raoul acordou novamente, sentiu muita fome e sede. Olhou-se no espelho e viu que sua pele ficara branca e seus olhos, antes castanhos, tinham se tornado verdes. E foi assim que ele se tornou o que é hoje, um vampiro.’


            __ E o que aconteceu com Christine?__ perguntou Hermione.


            __ Ela morreu__ As palavras não saíram da boca de Ayame, e sim de alguém que acabara de entrar no quarto atrás deles__ Erik a matou.


            Raoul estava parado na porta, fitando-os com o semblante sério.


            __ Quando acordei__ ele continuou__ Saí do quarto onde estava, procurando algo para saciar a estranha sede que sentia. Entao ouvi gritos no quarto ao lado. Entrei e lá estava Christine, na sacada, pronta para pular, e Erik à sua frente.


            ‘Você matou Raoul!__ dizia ela__ Você disse que ele ia ficar bem, mas ele morreu! Faz três dias! Morreu!! Eu prefiro estar com ele, morta, do que com você!’


            A garota entao virou-se para a ponta da sacada e fechou os olhos. A maior vontade de Raoul era gritar para ela, dizer que estava ali, que não estava morto, mas não conseguia encontrar forças para fazer sua voz sair. A sede era muito grande e cortava sua garganta seca.


            Foi entao que Erik disse:


            __ Que desperdício! Se você não pode ficar comigo, não ficará com ninguém mais!


            E entao ele a atacou, puxando seus cabelos e deixando exposto seu pescoço branco. Seus caninos afiados penetraram a carne, fazendo jorrar sangue. Lentamente, Erik virou o corpo de Christine de frente para a porta, onde Raoul observava tudo, parado e sem forças para reagir, e ergueu os olhos para ele, sorrindo por entre a mordida.


            Christine também o encarava. Raoul viu lágrimas brotarem em seus olhos, que antes arregalados de pavor ficaram cheios de ternura, e num último suspiro, ela mexeu os lábios lentamente, pronunciando o nome de seu amado.


            __ E entao ela morreu__ finalizou Raoul sombriamente__ Eu não tinha forças para encarar Erik, mas tateei na minha roupa e encontrei minha varinha. Ergui em sua direção e murmurei a Maldição da Morte, o máximo de voz que saía de mim. O feitiço o atingiu em cheio.


            __ Idiota__ disse ele__ Você não pode matar alguém que já está morto.


            __ Entao ele avançou para mim e quebrou minha varinha ao meio.__ continuou Raoul__ Eu fugi. Vaguei por três longos anos, aprendendo a controlar minha sede por sangue humano, muitas vezes não conseguindo. Não precisava de varinha nenhuma. Quando estava mais ou menos controlado, voltei para minha cidade. Visitei o túmulo de Christine. Uma pedra de mármore branco nos jardins de casa.


            ‘Meu antigo professor estava lá, e ele me reconheceu. Acabei contando à ele tudo o que acontecera. Ele me contou que logo depois do enterro de Christine, Erik tinha desaparecido. Ele não pareceu muito assustado por eu ser um vampiro. E quis continuar meus estudos clandestinos de fabricação de varinhas. Eu me tornei o maior fabricante de varinhas da região, mas vendia-as no nome dele. Nessa época, era até fácil controlar meu desejo por sangue humano, podia me conter com sangue de coelhos e outros animais. Passaram-se trinta anos, e eu não mudava nada fisicamente. Até que meu professor faleceu.’


            ‘Entao, ele apareceu novamente na cidade. Erik. Eu tinha feito uma nova varinha para mim, e pelo fato de eu mesmo tê-la feito, ela ganhava poder pleno em minhas mãos. Nós nos encontramos. Eu o ataquei, tanto fisicamente quanto com feitiços.’


            Raoul hesitou um momento.


            __ Nada funcionou. Perdi do mesmo jeito.


Ele suspirou.


__ Erik é um ser vil e cruel. Ele planejara tudo o que aconteceu comigo e com Christine. Creio que ele não tinha a intenção de me transformar, mas acabou não me matando para ir atrás de Christine, e assim deu tempo do veneno agir em meu corpo. Mas quando ele soube que eu sobreviveria, como vampiro, não aceitou que Christine ficasse comigo. Privou-a de mim, em uma semivida, e também me privou dela ao matá-la. Pois eu só posso morrer de uma maneira, e me juntar a ela: se matar o vampiro que me transformou. Assim, virarei humano novamente e poderei morrer em paz. E me juntar a minha amada.


‘Depois disso, saí novamente da cidade e vaguei pelo mundo inteiro, durante esses séculos. Vi muitas mudanças no planeta. Em alguns lugares mais remotos, não me contia e atacava humanos. Mas essa fase já passou. Entao, me alojei aqui, no sul do Brasil. Pode ser o local mais quente do mundo, mas gosto daqui. Nada aqui me lembra o que ocorreu. A não ser...


            Ele apontou discretamente para Ayame. Ela sorriu constrangida.


            __ Desculpe por contar sua vida sem sua permissão__ disse ela, meio encabulada.


            Raoul sorriu, mostrando os dentes pontiagudos de um jeito muito sensual.


            __ Vamos jantar.


           


            A mesa estava farta das coisas mais deliciosas: carne com batatas e mandioca, arroz temperado, macarrão com sardinhas e várias saladas e frutas. Depois de sentarem, Raoul pegou uma garrafa de vidro escuro e botou um líquido vermelho em sua taça. Bebericou um pouquinho e ofereceu aos convidados.


            Harry, Rony, Hermione e Ayame o encararam meio assustados. Raoul riu.


            __ É vinho__ disse ele__ Feito de uva e tal. Português.


            Eles aceitaram um pouco. Era vinho mesmo, e dos bons.


            __ Você se alimenta de... comidas normais também?__ perguntou Hermione.


            __ Sim__ respondeu o vampiro__ Elas não me saciam, mas tenho gosto por elas. Gosto particularmente de chás, hábito que aprendi com vocês, londrinos. Mais especificamente, com Oliver Olivaras.


            __ Olivaras?


            __ Sim, ele foi meu aluno.


            __ Aluno?


            __ De fabricação de varinhas. Na verdade, foi meu último.


            Ayame também não sabia desse detalhe, e ficou espantada.


            __ Também não sinto frio ou calor__ continuou Raoul__ Na verdade, sinto, mas não me incomodo com eles. Foi assim que visitei, por assim dizer, os desertos mais quentes do mundo, e a Groelândia. Sem querer parecer muito vampiresco, mas pingüins são realmente apetitosos.


            No restante do jantar, eles contaram ao anfitrião sobre Hogwarts, sobre as aulas e os professores, sobre a viagem até o Brasil. Também começaram a preparar o terreno para a proposta de fazer a varinha, contando sobre a luta contra Voldemort e os problemas que ele causava. Nessa parte, porém, Raoul não parecera mais interessado do que nas outras. Harry olhou para Ayame e esta mantinha a testa franzida.


            __ Todos estão satisfeitos?__ perguntou Raoul entao__ Queiram me acompanhar à sala de estar. Já está na hora de conversarmos seriamente.


            Eles sentaram-se ao sofá, os quatro jovens em um, e Raoul numa poltrona do lado oposto, de frente a eles. Ayame começou, contado entao da profecia e enxugando a parte de cada ingrediente. Contou do seqüestro de Olivaras e os problemas que tinham tido por isso.


            __ E é isso que precisamos__ finalizou ela__ De alguém que fabrique a nossa varinha.


            Harry, que antes de começarem a conversar convocara sua bolsa de onde quer que ela estava (a empregada havia guardado as mochilas), abriu-a e mostrou os três ingredientes ao vampiro fabricante de varinhas, cada um em uma pequena redoma de vidro, do jeito que Dumbledore lhe entregara.


            __ Fascinante__ disse ele, observando cada um, com entusiasmo redobrado na pena__ Nunca ouvi falar de acontecimentos parecidos com essa profecia em meus quatrocentos e setenta e sete anos de existência.


            Ele ficou em silencio, e a sala permaneceu em um estado de espera, pelo menos por parte dos jovens ansiosos.


            Entao, Raoul depositou as três redomas de vidro na mesinha de centro, abriu a boca e disse:


            __ Não posso ajudá-los.


            Ayame, que estava com um sorriso no rosto, esperando a resposta, o sentiu desabar lentamente.


            __ O que?


            __ Eu não fabrico varinhas mais. Faz muito tempo que parei, por isso passei meu conhecimento adiante.


            __ Você esqueceu-se de como fazer uma varinha?


            __ Não, não esqueci. Mas não fabrico-as mais por motivos pessoais. O problema de vocês não é meu. Há muito tempo eu saí da Europa, e me desliguei do que acontece por lá. Vocês terão que encontrar outro fabricante de varinhas. Eu não retornarei a fabricá-las. Lamento.


            A sala ficou em silencio.


            __ Lamenta?__ repetiu Ayame baixinho, e entao aumentou o tom de voz__ Você lamenta?? Nós viemos da Inglaterra para cá, só para isso! Você não faz idéia de como essa varinha é importante para nós! Depositamos todas as nossas esperanças nela!


            Raoul levantou-se e aproximou-se de Ayame, o semblante sério.


            __ Eu lamento, sim, senhorita. E não permitirei que você use esse tom de voz comigo em minha própria casa. A Srta. Marina irá acompanhá-los até seus quartos, já que está tarde para irem embora. Essa discussão está encerrada. Boa noite.


            E desapareceu, subindo as escadas em uma velocidade impressionante, deixando Ayame parada ali no meio da sala, encarando os amigos igualmente incrédulos.


 


            Harry não conseguia dormir, por mais que tentasse. Rony roncava na cama ao seu lado, num dos quartos do primeiro andar. Pela janela, a luz da lua de verão entrava e iluminava o rosto do garoto.


            Ele levou a mão à cicatriz. Aquela varinha era realmente a sua esperança de derrotar Voldemort. Se não tinham conseguido um fabricante de varinhas ali, procurariam em outro lugar. Ou poderiam retomar a idéia de salvar Olivaras. Ambas as idéias não o animavam muito.


            Mas Harry não ia desistir. Depois de tudo o que Voldemort fizera, ele não podia desistir. Não só por ele, mas por todas as pessoas para as quais ele tinha feito algum mal: seus amigos, sua família, os trouxas, todos.


            Pensou em Ayame, no quarto ao lado com Hermione. Antes de se separarem, ele notara em seu olhar uma grande desolação e vontade de chorar. Não queria que ela perdesse as esperanças.


            E se não encontrassem nenhum fabricante, ele iria encontrar outro modo de derrotar o Lorde das Trevas.


            Harry suspirou. Quem dera aquilo fosse mais fácil.


 


            No dia seguinte, no domingo, quando o garoto acordou, o sol já estava alto, e estava muito calor. Ele tomou um banho e desceu as escadas para o térreo.


            Ayame estava na cozinha, parecendo pálida e com olheiras. Com certeza não tinha dormido direito.


            __ Toma café da manha, Harry__ disse ela__ Marina deixou arrumada as coisas para a gente. Rony e Mione estão lá fora__ ela respondeu a pergunta que o garoto fizera com o olhar__ Andando nos jardins. Nossas malas estão prontas, ali na sala de estar. O nosso anfitrião não está.


            Ele podia sentir o desgosto na voz dela. Harry sentou-se ao seu lado e perguntou:


            __ Você está bem?


            __ Eu acho que sim. Você?


            __ Melhor que você.


            Ela sorriu um pouquinho.


            __ Eu só não esperava aquela resposta. Estava tão certa de que tudo ia dar certo. Não sei o que fazer agora.


            __ Não perca as esperanças__ disse Harry. Ele não tinha nada mais para dizer, já que ele mesmo não sabia realmente o que fazer também.


            O garoto deu uma beliscada nos pães e os dois saíram para o jardim. Eles ficaram caminhado, em silencio, até que ouviram vozes e voltaram para dentro. Raoul voltara. Ele lançou um olhar indiferente aos dois parados ali na porta e subiu as escadas.


            Rony e Hermione entraram na sala, e eles sentaram-se nos sofás da sala de estar, esperando para ir embora. A empregada, Marina, dissera que Raoul tinha chamado um táxi para levá-los até Curitiba e eles deviam esperar ali.


            Os quatro ficaram em silencio, às vezes fazendo algum comentário sem importância. Ayame levantou-se e começou a vagar pela sala, até entrar na sala dos objetos e ficar observando as coisas.


            Eles ouviram uma buzina e Marina veio chamá-los. Harry e Rony pegaram as malas (não poderiam levá-las por magia, já que o taxista era trouxa), e Hermione os ajudou. Depois de carregarem o carro, Harry foi atrás de Ayame. Encontrou-a na frente do quadro de Christine, encarando sua sósia com muita concentração.


            __ Temos que ir__ disse ele.


            __ Sim__ respondeu Ayame, sem tirar os olhos do quadro__ Vai indo... eu tenho que ir ao banheiro. Alcanço vocês daqui a pouco.


            Harry assentiu e começou a andar em direção à saída da mansão, mas ele tinha a nítida sensação de que o que ela dissera não era verdade.


           


            Ayame subiu as escadas decididamente. Virou no corredor e passou direto pela biblioteca, abrindo com tudo a porta do escritório do dono da casa.


            Raoul levantou os olhos, antes lendo um livro em cima de sua escrivaninha.


            __ Veio se despedir?__ perguntou ele.


            __ Não__ respondeu ela__ Vim para dizer que nunca me decepcionei tanto com alguém na minha vida. Você é a pessoa mais covarde que eu já conheci. Depois de quatro séculos, você não perdeu o medo. Você não superou sua perda, sua tristeza, sua solidão. E você nem tenta.


            Ela aproximou-se da mesa.


            __ Você é fraco.


            Raoul não se mexeu.


            __ O que te faz pensar isso?


            __ Eu sei porque você não quer fabricar a varinha para nós. Você tem medo.


            __ Eu não tenho medo da magia, se é o que quer dizer.


            __ Você não tem medo da magia, você tem medo do fracasso. Do fracasso que te assombra faz muito tempo.


            O vampiro se mexeu na cadeira, fechando o livro. Ayame não pode conter um pequeno sorriso, pois notou que sua conversa tinha chegado ao ponto que queria. Incomodá-lo.


            __ Eu sei, Raoul__ disse ela, séria novamente__ Eu sei que você decidiu não fabricar mais varinhas desde que a sua varinha foi derrotada por Erik.


            A expressão do vampiro não mudou, mas Ayame notou que isso exigia esforço.


            __ Desde que ele derrotou você, você se sente incapaz. Você nunca mais foi procurá-lo; se enfiou aqui, bem longe da Europa, porque tem medo de enfrentá-lo novamente. Você tem medo de perder! Você diz que quer tanto se vingar, matar Erik para depois morrer e se juntar a sua amada, mas você tem medo! Você é um imenso covarde!


            Raoul se levantou, mas não mudou a expressão.


            __ Você não tem o direito de dizer isso. Você não sabe nada da minha vida.


            __ Sei o suficiente, Raoul. É você que não tem idéia de nada sobre a minha vida. Você não sabe dos sacrifícios que eu já fiz, e todos os meus amigos que estão lá embaixo, para derrotar Voldemort. Você fica enfurnado aqui e nem sabe do que está realmente acontecendo. O Lorde das Trevas levou minha família. Tirou de mim as coisas mais importantes; algumas delas recuperei  a muito custo, outras eu nunca mais vou poder ter. E sabe aquele garoto lá embaixo, Harry Potter? Ele é o maior exemplo de tudo isso. Ele se sacrificou, desde que era criança, mas do que todos, para impedir Voldemort, e continua tentando. E eu sou capaz de qualquer coisa para ajudá-lo nisso, porque eu o amo.


            Ayame puxou a gola de sua blusa até a cicatriz de sua pedra ficar visível, já que as das mãos tinham desaparecido.


            __ Está vendo isso aqui? Era a minha pedra Elementar. Eu perdi meus poderes de fogo, Raoul. Eu sacrifiquei-os, duas vezes. A primeira, para salvar a pessoa que mais amo no mundo. E a segunda, para conseguir um dos ingredientes dessa maldita varinha que você não quer fabricar. Entao não me venha falar que você não pode fazer sacrifícios. Comparado ao que nós fizemos, você nunca fez nada, e isso te coloca ainda mais numa posição de covarde inútil.


            O vampiro encarava Ayame, com uma expressão que ela não podia identificar: uma mescla de espanto e angústia. A garota esperou, sustentando seu  olhar, até que Raoul abaixou a cabeça e a abanou negativamente.


            Ayame suspirou e fechou os punhos.


            __ Por favor__ disse ela, suplicando__ Raoul, por favor. Você sabe que tudo o que eu disse é verdade, e você sabe que tem que encarar isso algum dia.


            Ela deu um passo, aproximando-se dele, e disse baixinho:


            __ O que Christine pensaria disso? Ela iria querer que você nos ajudasse. Christine iria...


            De repente, Raoul soltou um grito e empurrou Ayame, segurando suas mãos e prendendo-a contra a parede. Seus olhos estavam em fúria e suas presas afiadas estavam a mostra. Ayame sentia o coração na boca, o medo remoendo seu estomago.


            __ Não__ disse ele__ Não ouse dizer algo sobre Christine.


            Os olhos de Ayame encheram-se de lágrimas, suas mãos e suas pernas tremiam, e ela não conseguia desviar os olhos do rosto em fúria do vampiro.


            Ela viu em seu olhar que ele aos poucos de arrependia do ataque, e entao Raoul a soltou. Ayame tropeçou a saiu correndo, em lágrimas.


            __ Vamos embora!__ Harry se assustou quando a voz de Ayame veio da escada, acompanhada pelos passos rápidos da garota__ Vamos, por favor!


            Harry se levantou e foi ao encontro dela, abraçando-a.


            __ Calma, calma, o que aconteceu?


            Ayame enxugou as lágrimas e deu um soluço.


            __ Eu não quero mais ficar aqui. Eu tentei de tudo, mas ele não quer nos ajudar. Vamos embora.


            Harry estava confuso, tentando entender o que tinha acontecido, mas acompanhou a garota até a porta. Ayame andava rápido em direção ao portão do jardim, onde o carro esperava com Rony e Hermione, e Harry teve que dobrar o passo para acompanhá-la.


            __ Espera... Vai me contar o que aconteceu?


            Ayame parou e quando Harry a alcançou, ela o abraçou.


            __ Nós vamos arrumar um jeito... de fabricar essa varinha.


            Harry lhe deu um beijo na testa e assentiu sem dizer nada. Os dois soltaram-se e viraram-se em direção ao portão novamente.


            Ouviu-se um estalo e de repente, ali na frente deles, estava Raoul.


            __ Vocês não vão embora__ disse ele.


            __ Não temos mais nada pra fazer aqui__ respondeu Ayame, segurando o braço de Harry.


            __ Tem sim. Você venceu, Srta. Vermefire. Eu vou fazer a varinha de vocês.


é isso ai pessoal, comentem.

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