Ataque e Contra ataque



Cap. 54
ATAQUE E CONTRA ATAQUE

Quando a manhã de domingo chegou, Harry continuava na enfermaria. Logo depois de sua conversa com Dumbledore, ele voltara para a companhia dos amigos que o esperavam na enfermaria. Hagrid, Lupin, Tonks, o Sr. Weasley e os outros membros da Ordem da Fênix foram ter uma reunião com Dumbledore, e o garoto ficou com Rony e Hermione. Luna tinha dormido, exausta, na cama onde estava.
Os elfos domésticos cuidavam de Rebecca, que depois de tomar um chá de ervas mandado pela prof. Sprout, com Carlinhos ao lado, segurando a mão dela. Harry queria também estar ao lado de Ayame, segurando sua mão, mas o Dr. McFrey cuidava dela, com o auxílio de Madame Promfey. Harry, Rony e Mione não conseguiam ouvir o que eles conversavam, e Harry tampouco achou que os dois deixariam eles escutar. De onde ele estava, o moreno podia ver Ayame, que estava pálida e parecia bem frágil.
O Dr. McFrey aplicou uma injeção no braço de Ayame e depois a fez tomar um remédio de um frasquinho azul que ele trazia. Deu algumas últimas instruções a Madame Promfey e então veio conversar com Harry.
__ Sr. Potter__ disse ele, solenemente__ Harry. Posso te chamar assim? Pois bem... Ayame está muito fraca. Ela perdeu muito sangue e sofreu um grande trauma físico. O que aconteceu com seu corpo foi resultado... de uma magia negra, sobre a qual prefiro não comentar. Mas não se preocupe, ela ficará bem; eu receitei alguns remédios e feitiços que Madame Promfey irá administrar até que ela melhore.
O médico suspirou, tirou os óculos e então olhou profundamente para Harry.
__ Eu sinto muito pela sua perda, muito mesmo, Harry__ ele parecia bem triste mesmo__ Mas não se esqueça de quem está viva bem ao seu lado, precisando de seu apoio.
__ Eu nunca deixaria Ayame de lado__ respondeu o garoto__ Por mais que... eu nunca pensaria em esquecê-la.
O doutor pôs os óculos novamente e deu um sorriso.
__ Que bom saber. Eu digo isso porque... já vi casos em que... __ ele balançou a cabeça__ Isso não importa. Eu volto depois de amanha para ver como ela está.
Harry assentiu e o Dr. McFrey foi embora. Madame Promfey acenou para ele, Hermione e Rony; os três se aproximaram da cama de Rebecca, que começara a acordar naquele momento. Ela ficou feliz em ver os amigos e o namorado ao lado de sua cama.
__ Está se sentindo bem?__ perguntou Carlinhos__ Você é louca, Rebecca.
__ Obrigada__ respondeu ela, sorrindo um pouco__ Como voltamos para Hogwarts? Eu não me lembro muito bem...
Harry suspirou e então contou a ela o que tinha acontecido, principalmente sobre Snape. Rebecca pareceu bem abalada.
__ Não pode ser__ sussurrou ela.
Rony, Hermione e Harry se afastaram, deixando Carlinhos com ela naquele momento difícil, já que a moça realmente gostava de Snape. Os três se aproximaram da cama de Ayame, apesar de ela ainda estar dormindo. Um pouco depois, lá pelas nove da manhã, Neville e Gina vieram correndo pela porta da enfermaria. O garoto deu um grito de felicidade ao ver Luna na cama, acordando-a, e correu para lá, começando a chorar.
Gina veio ao encontro de Harry e dos outros, abraçando-os. Cumprimentou Rebecca e Carlinhos também, e então perguntou o que acontecera na Sede. Harry foi salvo de ter que explicar tudo mais uma vez quando Neville veio e o agradeceu umas mil vezes por ter trazido Luna de volta, sã e salva. Ele então pareceu ter notado Ayame adormecida ao lado deles e fez a mesma pergunta de Gina.
__ Vamos lá para fora__ chamou Hermione, empurrando os dois e puxando Rony__ Nós contaremos para vocês o que aconteceu.
Ela deu uma piscadinha para Harry, que sorriu agradecido, e os quatro saíram. Luna deu um sorriso para Harry e fechou a cortina de sua cama. Ao seu lado, Rebecca conversava seriamente com Carlinhos. O garoto ajoelhou-se ao lado da cama de Ayame, e ficou lá, segurando sua mão.
Ele deve ter cochilado um pouquinho, pois quando acordou, Carlinhos não estava mais ali e Rebecca aparentemente dormia. Harry piscou algumas vezes, e então sentiu uma movimentação na cama à sua frente. Ayame estava acordando. A garota abriu os olhos e piscou para o teto. Lentamente, virou o rosto para Harry.
Seus olhos se encontraram.
Harry abriu a boca para dizer algo, apesar de não saber o que falar. As palavras não saíram. Somente o olhar dos dois já dizia tudo.
Ayame apertou os dedos de Harry. Então ela suspirou e começou a chorar, abaixado a cabeça e levando a outra mão ao rosto. O moreno também tinha lágrimas nos olhos. A garota levantou os olhos e mordeu o lábio inferior, tentando segurar o choro. Harry então a puxou para si, abraçando forte, e enfim os dois se desmancharam em soluços.
Passaram-se alguns minutos, até que Harry ergueu a cabeça do ombro de Ayame e viu Madame Promfey na porta da enfermaria, esperando. Ela tinha lágrimas escorrendo pelas bochechas. Harry afastou Ayame delicadamente e acenou com o olhar para a porta. A garota fungou, parando de chorar e assentiu. Quando Madame Promfey se aproximou, não havia vestígios de que ele chorara também, mas ela piscava muito.
__ Que bom que acordou__ ela disse para Ayame__ Está tudo bem?
__ Sim__ respondeu ela__ Não estou sentindo nada.
O que era a mais pura verdade: Ayame sentia o nada, dentro de seu ventre que antes carregava seu filhinho. Agora, nele só havia o vazio, deixado pela vida que se fora. Onde antes ela sentia vida, agora ela sentia escuridão e morte. Ela sentiu vontade de gritar isso, mas se conteve, sem forças.
Enquanto a enfermeira informava Luna que ela já podia ir embora, Harry explicou a Ayame o que acontecera com Rebecca. Ela pareceu preocupada, mas o garoto a tranqüilizou. Também contou sobre Snape, e a garota fechou os olhos, deixando mais uma lágrima cair.
__ Muitas perdas nessa noite__ murmurou ela.
Então, Harry contou sobre Voldemort, o espírito e o que ele tinha conversado com Dumbledore. Ayame não pareceu com medo como ele sentira no inicio, enquanto pensava sobre o assunto. Ela endureceu a expressão quando o garoto terminou de relatar e disse:
__ Pelo menos isso vai acabar tudo de uma vez. Nós vamos vencê-lo, Harry. Tenha certeza disso.
Ela disse aquilo com grande convicção, os olhos com um brilho escuro. Harry foi contaminado pela determinação que emanava dela, e assentiu, sério. Ayame piscou, e então ele leu a verdadeira intenção por trás de suas palavras, e mais uma vez assentiu, deixando ela entender que ele também entendia.
Eles iriam derrotar o Lorde das Trevas.
E faria isso pelo seu filho.

Harry saiu da enfermaria e foi para a sala comunal. Os alunos ainda pareciam um pouco assustados com tudo o que acontecera, mas já voltavam às atividades normais daquele domingo, ou seja, não fazer nada. O moreno encontrou Rony e Neville no dormitório.
__ Luna já saiu da enfermaria__ ele disse ao amigo, dando um sorriso encorajador.
__ Eu sei__ respondeu Neville abrindo um sorriso ainda maior__ Ela, Gina e Hermione estão por aí, lá fora, eu acho. O dia está bem bom.
Harry olhou pela janela e viu que realmente fazia um dia bonito lá fora, o céu limpo e azul.
O garoto sentou-se em sua cama, sentindo –se desconfortável. Tudo parecia correr muito bem, mas ele não sentia isso. Tinha um pressentimento estranho para aquele dia.
De repente, talvez por coincidência ou não, sua testa começou a arder intensamente, e ele gritou. Uma imagem estranha passou em sua mente: o Lorde das Trevas, estranhamente mais pálido e aterrorizante, caminhando na frente de muitas pessoas encapuzadas de preto, com máscaras brancas.
__ Harry!__ Rony pulou de sua cama__ O que aconteceu?
A resposta não foi dada pelo moreno, mas sim por Hermione, que entrou de supetão no quarto, ofegante, com uma expressão aterrorizada.
__ Os Comensais da Morte se reorganizaram!__ exclamou ela, sacudindo perigosamente a varinha no ar__ Nós temos que nos preparar....
__ Calma__ Rony falou__ Do que você está falando? Como é que você sabe disso?
Hermione respirou fundo e entao disse:
__ Eu sei porque vi. Da Torre Norte. Tem um exército de Comensais da Morte marchando em direção à Hogwarts nesse exato momento, Rony.
__ Com Voldemort na dianteira__ completou Harry.

__ Deixe-nos sair!
Quando Harry entrou na enfermaria correndo, carregando sua Capa de Invisibilidade e o Mapa do Maroto (que Rony devolvera), depois do que ele vira e do que Mione contara, ouviu uma discussão lá dentro.
__ Madame Promfey, com todo o respeito, você faz idéia do que está acontecendo?__ continuou Rebecca, que estava de pé ao lado da cama, com suas roupas, e a varinha a postos.
__ Temos que esperar a ordem de Dumbledore!__ respondeu a enfermeira__ Vocês duas não estão em condições de lutar. Não devem sair daqui.
A menção do plural fez com que Harry notasse Ayame, ainda sentada na cama, mas com suas roupas normais também, pronta para sair.
__ Harry!__ ela viu ele ali__ Nós estamos bem, Madame Promfey. Não se preocupe, nos responsabilizamos por sair daqui.
Ela levantou e Rebecca assentiu, e as duas vieram andando até a saída, deixando a enfermeira indignada para trás.
__ Vim para te buscar, mas acho que nem precisou__ disse Harry abraçando a garota__ Como vocês souberam?
Ayame se afastou de Harry de supetão. Seu rosto estava sombrio.
__ Eu vi__ respondeu ela__ Não é só o seu sangue que Voldemort compartilha agora.
__ Temos que nos encontrar com os outros__ chamou Rebecca, que já andava rapidamente alguns passos à frente, no saguão__ Podemos nos refugiar novament...
O que quer que ela estivesse dizendo foi interrompido por uma explosão intensa, que fez com que Rebecca caísse no chão e Harry e Ayame voltassem cambaleantes alguns passos para trás.
A porta de entrada do castelo para o saguão acabara de vir abaixo, e vários homens encapuzados começaram a entrar. Harry jogou a Capa por cima de si e Ayame o mais rápido que pôde antes que os Comensais os vissem ali.
Rebecca não teve tanta sorte. Ela caíra estatelada a alguns centímetros da porta, escapando por um triz de ser esmagada por ela. A primeira coisa que os Comensais viram quando a poeira causada pela explosão abaixou foi ela.
A moça ergueu a varinha, mas era tarde demais. Um Comensal já tinha segurado seus braços e impedia que ela mexesse as mãos. Ele arrancou a varinha de Rebecca com um puxão.
__ Ora ora __ disse__ Nossa primeira prisioneira. O Lorde vai ficar muito satisfeito em saber quem é.
Rebecca grunhiu, mas deixou-se levar. Harry sentiu Ayame se impelir pra frente ao seu lado, tentando ajudar a irmã, mas ele a segurou. Não podiam se arriscar a fazer nada.
Enquanto isso se desenrolava, outros Comensais entravam pelo castelo, e os dois tiveram que sair do corredor onde estavam. Comecaram a andar cautelosamente mas o mais rapidamente que podiam, numa direção indeterminada. Ouviam gritos vindos de algum lugar, e não demoraram para saber que vinham do Salao Principal.
Harry e Ayame se entreolharam e apressaram o passo até o local. Lá, uma batalha se desenrolava. Várias alunos tentavam correr, sair, mas os Comensais da Morte tinham feito uma barreira na entrada, o que também impedia os dois de entrar. Outros lutavam, como Gina e Neville, que Harry avistou lançando feitiços estuporantes a torto e a direito. Alguns professores também estavam lá, lutando contra os Comensais, como McGonagall, Flitwick e Trelawney.
Harry olhou para Ayame e na hora soube o que deviam fazer. A garota assentiu e entao, gritando, eles atacaram, saindo da proteção da Capa. Harry lançou feitiços nos quatro Comensais mais à direita, e Ayame de alguma forma explodiu o teto acima dos cinco Comensais à esquerda, fazendo com que os que não tinham sido atingidos pelos destroços pelo menos se dispersassem e deixassem os alunos passarem.
Isso realmente deu a deixa para que uma leva de alunos assustados corressem para fora do Salao. Harry e Ayame continuaram lutando com os Comensais sobressalentes, juntamente com os que já estavam batalhando antes.
De repente, Harry ouviu aquela voz infelizmente muito bem conhecida, ecoando em sua cabeça, fria, maléfica. Demorou um pouco para ele reconhecer que não era somente ele quem ouvia. À sua volta, a luta tinha se paralisado enquanto Lord Voldemort falava de modo que todo o castelo ouvisse:
__ Vocês não têm escapatória desta vez. Tomamos o castelo. Sua Hogwarts não é mais segura. Vocês sabem o que eu vim buscar. Tragam-me a Varinha e pouparei suas vidas. Juntem-se a mim, e poderão viver. Têm até o meio dia.
Quando o pronunciamento cessou, os Comensais começaram a rir e atacar com mais vigor.
__ Esse aqui é Potter!__ gritou o que lutava contra Harry__ Vamos capturá-lo!
Mais dois Comensais de aproximaram do garoto, mas de repente os três estavam caídos e detrás deles surgiram Carlinhos e o Sr. Weasley.
__ Obrigado!__ disse Harry. Olhando em volta, os Comensais de antes tinham sido derrotados pelas mais ou menos vinte pessoas que tinham permanecido ali, contando professores e alunos. Ayame se aproximou de Harry rapidamente e disse:
__ Temos que encontrar Dumbledore.
__ Nós estávamos com ele__ disse Carlinhos__ Mas depois do que Você-Sabe-Quem falou sobre a varinha... ele saiu. Desapareceu.
Os dois se entreolharam. Ayame abriu a boca, mas Harry a interrompeu:
__ Eu vou atrás dele. Com certeza, Dumbledore foi buscar a Varinha.
A garota continuou com ar de quem iria falar mais alguma coisa, mas então assentiu.
__ Busque o Mapa do Maroto__ aconselhou ela, estendendo-lhe a Capa, que tinha ficado enrolada em seus braços quando eles atacaram.
Harry a olhou nos olhos, e compartilharam confiança enquanto ele pegava a Capa e se cobria com ela. Enquanto saía do Salao Principal, ouviu o Sr. Weasley conversar com Ayame sobre o refúgio na Sala Precisa.
Eles nem faziam idéia de que aquilo era inútil no momento.

Harry correu o mais rápido que pôde debaixo da Capa até a sala comunal da Grifinória. Ficou apreensivo quando chegou, pois pensara que Rony e Hermione estariam lá, mas a sala estava estranhamente vazia e silenciosa. A Mulher Gorda estava tão nervosa que quase não o deixou entrar.
O garoto subiu as escadas para o seu dormitório e pegou o Mapa, que estava escondido debaixo de sua cama. Abriu-o e tentou observar o máximo que pôde, mas uma coisa chamou sua atenção primeiro:
Um pontinho preto acabara de aparecer na sala comunal da Grifinória, rotulado de Alvo Dumbledore.
Harry tropeçou pelas escadas enquanto corria. Realmente, o diretor estava lá; tinha acabado de entrar pelo buraco do retrato e se desfazia de seu feitiço Desilusorio. Dumbledore pareceu aliviado ao encontrar o garoto.
__ Que bom que está aqui, Harry__ disse ele__ Foi um chute muito bom ter procurado na sala comunal primeiro.
__ Eu também estava procurando o senhor__ respondeu Harry__ Vim pegar o Mapa...
Dumbledore assentiu e aproximou-se.
__ Escute...
O diretor colocou a mão no interior das vestes verdes e retirou uma varinha reluzente de lá. Harry a reconheceu imediatamente.
__ Não sabemos o que pode acontecer se a Varinha cair nas mãos de Voldemort__ disse Dumbledore__ Mesmo que ela não esteja funcionando ainda. Harry... essa varinha pertence a todos que se sacrificaram para consegui-la. E voce sabe que, dentre todas essas pessoas, você foi o escolhido para usá-la.
O diretor estendeu a Varinha para Harry. Ele hesitou por um momento e então a pegou.
Foi aí que aconteceu.
De repente, tudo ficou escuro. As luzes que iluminavam a sala comunal apagaram-se num segundo. Harry sentiu uma corrente de ar vir de um lugar onde não existia saída, a parede logo ao seu lado, e então sentiu a movimentação ao seu redor.
Entendeu tudo num instante. Isso explicava porque a sala comunal estava vazia.
Os Comensais da Morte tinham conseguido entrar na Sala Precisa, e agora estavam usando a passagem para as salas comunais. Com certeza, tinham capturado a maioria dos estudantes dessa maneira.
Um feitiço passou raspando por Harry. Um Comensal se materializou à sua frente, mas ele o acertou com um feitiço de sua própria varinha por reflexo.
__ Fuja, Harry!__ ele ouviu Dumbledore gritar de algum lugar à frente naquela escuridão.
Harry não queria fugir, deixar a luta como um covarde, mas lembrou-se do que Dumbledore disse. A Varinha não deveria cair nas mãos de Voldemort. E ele estava com aquela arma agora.
O garoto se enrolou na Capa de Invisibilidade e abriu o Mapa do Maroto, usando-o para se guiar pela sala comunal até a saída, sem esbarrar em nenhum comensal, o que foi um pouco difícil. Ele ouvia os resmungos e os gritos dos Comensais, mas sabia que Dumbledore não conseguiria derrotá-los sozinho. Num impulso, se virou para a luta, que agora clareava um pouco, mas o diretor, que estava logo à sua frente, pareceu ter previsto seu movimento.
__ Vá!__ gritou ele, e empurrou Harry para fora do buraco do retrato.
O garoto caiu sentado no chão fora da sala comunal, a Capa se enrolando em volta dele. O retrato da Mulher Gorda fechou o buraco rapidamente, mas Harry ainda pôde ver Dumbledore lá dentro, voltando-se para os Comensais, os quais chegavam em maior número.
Seu coração se contorceu num aperto de apreensão pelo diretor, mas ele não podia ficar parado ali, correndo o risco de ser pego, principalmente depois de Dumbledore ter se sacrificado para que ele fugisse. Levantou-se e cambaleou rapidamente até outro corredor, encoberto pela Capa, onde parou ofegante e analisou o mapa que trazia nas mãos.
Uma estranha aglomeração de pontinhos pretos aparecia do lado de fora do castelo, bem onde ficava o campo de quadribol. Alguns nomes conhecidos, de seus amigos e colegas, saltavam em seus olhos naquela pequena multidão. Dentre eles, destacava-se um ponto maior, com a cor vermelha diferenciando-o dos outros, que tremeluzia estranhamente. Harry aproximou o Mapa do rosto e leu: Tom Riddle.
Voldemort.
Harry sentiu uma pontada na cicatriz, mas uma movimentação do lado direito do Mapa chamou sua atenção. No Saguão de entrada vários pontinhos andavam em direção à saída do castelo. Harry reconheceu o pontinho intitulado de Ayame lá no meio. Lupin e o Sr. Weasley também estavam lá.
Mas junto com eles, na dianteira e na retaguarda, estavam pontos indicando nomes de Comensais da Morte. O que só podia significar uma coisa: eles tinham sido capturados.
No mesmo instante, Harry saiu correndo, descendo as escadas até o Saguão. Chegou bem a tempo de ver o grupo deixando a porta de entrada. Derrapou um pouco nos degraus ao desacelerar, e notou Ayame olhar para trás, os olhos apertados e analíticos, andando entre os Comensais com as mãos amarradas nas costas. À frente do grupo, um Comensal segurava Gina com força, a varinha apontada para sua cabeça como uma arma de fogo, sendo ela um refém para que os outros não tentassem algo inesperado.
O grupo desapareceu pela grande porta, adentrando o céu nebuloso e estranhamente cinzento lá fora. Harry continuou parado, observando, sentindo o aperto em seu peito aumentar. Voldemort não tinha a Varinha nem Harry, mas tinha as pessoas mais importantes para ele em suas mãos.
Ele não sabia o que devia fazer, então fez a primeira coisa que lhe deu vontade e andou sorrateiramente atrás do grupo que acabara de sair. Quando este virou em direção ao campo de quadribol, Harry virou para o outro lado e foi em direção à cabana de Hagrid, na orla da Floresta Proibida.
A casa estava vazia, a porta arrombada e a madeira do chão à frente desta escura e chamuscada, como se tivesse sido atingida com fogo. Harry estava imaginando onde Canino estaria, se ele tinha sido levado também ou coisa pior, quando ouviu um latido vindo da sua direita, de dentro da Floresta.
O garoto caminhou em direção as árvores e adentrou a floresta escura. Depois de alguns metros, uma clareira se abriu, e no meio desta estava Canino, rodeando freneticamente vários Testrálios grandes e negros que se amontoavam no centro, nervosos.
Harry estava com a Capa de Invisibilidade, mas sabia que eles sentiam sua presença ali. Não ousou ficar sem a proteção da capa, então chamou Canino para acalmá-lo. O cachorro farejou o ar até encontrar o garoto e veio em sua direção rapidamente, abanando o rabo. Harry fez um cafuné no grande cão e se aproximou dos Testrálios, que sapatearam até o garoto encostar em um deles.
__ Calma, garoto__ sussurrou ele__ Já nos encontramos antes.
O testrálio olhou bem na direção de Harry com as duas bolas negras que eram seus olhos, e soltou um relincho. O garoto ergueu o pescoço e fitou o céu cheio de nuvens, recortado pela copa das árvores, e teve uma idéia.
__ Me leve lá pra cima__ pediu ele ao testrálio, que relinchou mais uma vez e sapateou no lugar, abrindo as enormes e macilentas asas de morcego.
Se aproximar do campo de quadribol, agora o quartel general de Voldemort, seria muito perigoso, mas Harry precisava saber o que estava acontecendo. E nada melhor do que uma visão de cima.
Tentando não deixar a Capa sair de cima de seu corpo, Harry montou no lombo do cavalo negro alado, que no mesmo momento alçou vôo e subiu até a copa da árvore mais próxima, pousando em um dos galhos. Outros testrálios o acompanharam, e o garoto agradeceu por isso, pois era comum aqueles seres ficarem nas copas das arvores, e assim ele não chamaria a atenção.
De onde estava, Harry conseguia enxergar parte do campo de quadribol. Onde conseguia ver, a arquibancada estava quase repleta; a maioria eram partidários do Lorde das Trevas, mas havia vários aglomerados de alunos amedrontados, prisioneiros. Na borda de alguns desses havia pequenas manifestações, provavelmente tentativas de luta reprimidas pelos Comensais.
De repente, a voz de Voldemort soou. Harry sabia que ela estava alta para que todos no campo ouvissem, mas era volume suficiente para que ele conseguisse ouvir também.
__ Faltam vinte minutos para o meio dia__ anunciou ele friamente__ Poucos são os que restam que não estão aqui.
Harry sabia que ele próprio era um desses. Pelo canto do olho, podia ver que haviam Comensais ainda dentro do castelo e nos jardins, vasculhando tudo à procura dos remanescentes. Graças a Merlin eles não haviam chegado àquela parte da Floresta. Ainda.
Voldemort continuou:
__ Deixarei bem claro que se minhas exigências não forem atendidas até o prazo, graves serão as conseqüências para as pessoas que aqui estão, principalmente aquelas que mais importam.
Harry engoliu em seco.
__ Mas por enquanto__ ele podia sentir na voz do Lorde seu plano maléfico__ teremos um pouco de diversão.
Um brado de satisfação se ergueu da arquibancada, vindo dos partidários de Voldemort. De repente, uma figura alta e corpulenta, com barba desgrenhada, foi empurrada para dentro do campo. Harry reconheceu Hagrid imediatamente, mas são sabia o que estava acontecendo.
Ele entendeu quando outra figura apareceu em seu campo de visão: um gigante, um pouco pequeno para ser um adulto, mas definitivamente não era Grope. Esse gigante arreganhou os dentes para Hagrid, ameaçadoramente, e começou a dar socos na palma da enorme e calosa mão.
O campo de quadribol de transformara numa arena de gladiadores. A diversão sobre a qual Voldemort dissera era a luta entre seus seguidores e seus inimigos, da maneira mais injusta possível, é claro.
Harry assistiu paralisado ao desenrolar da luta entre Hagrid e o gigante. O último avançava em cima do guarda-caças, estendendo as mãos à frente do corpo para agarrá-lo, e Hagrid desviava, tentando fugir. Porém, mesmo com aquele tamanho, o gigante era bem ágil.
Alguns minutos depois de começada a luta, a platéia começou a vaiar, pois nada de mais interessante acontecia além de um corre corre pelo campo (apesar de Harry estar com o coração à boca de tanta preocupação que percorria seu corpo). Provavelmente por isso, mais duas pessoas foram empurradas para o campo de luta, do lado dos Comensais, e mais duas do outro lado.
Harry engoliu em seco quando notou Greyback, o lobisomem, entrar na arena com um urro, e ao seu lado Belatrix Lestrange com o nariz empinado. Porém, seu coração saltou mais ao ver que quem iriam lutar com esses dois eram, respectivamente, Rony e Rebecca.
A moça tinha sido enviada com sua varinha à mão, para um duelo com Belatrix, mas ao mesmo tempo Harry viu um Comensal segurando Hermione na borda da arquibancada, apontando a varinha para ela. Isso asseguraria que Rebecca ficasse comportada. Rony, entretanto, entrava no campo sem a varinha, para lutar contra o lobisomem. Mesmo de longe, Harry podia ver que o amigo estava branco.
O duelo entre Rebecca e Belatrix começou, e os participantes das outras duas lutas tinham que desviar dos feitiços delas também. Hagrid ainda corria do gigante, provavelmente numa tentativa de cansá-lo, mas dava pra notar que ele próprio estava se desgastando demais. Greyback brincava com Rony, avançando para ele e parando o ataque no ultimo instante. Numa dessas brincadeiras, porém, o ruivo tropeçou ao tentar desviar e caiu no chão, rolando para o lado. Isso deu oportunidade para que Greyback pulasse em cima dele e o segurasse no chão, arreganhando os dentes.
Harry pôde ouvir o grito de angústia que Hermione soltara. De repente, porém, Greyback foi arremessado longe de Rony por um feitiço. Procurando de onde tinha vindo, Harry viu Ayame pular da arquibancada com a varinha na mão. Como ela conseguira fugir e ainda recuperar sua arma ele não fazia idéia, mas ela também trazia outra varinha na mão para Rony.
Houve uma movimentação na arquibancada, tanto no lado dos Comensais quanto no lado de Hogwarts, mas Harry não conseguiu captar o que estava acontecendo, pois os testrálios que estavam nas copas das arvores ao lado começaram a descer. Para não desfazer seu disfarce, ele foi obrigado a descer com sua montaria também.
Harry prendeu a respiração quando pousou no chão. O que tinha atraído os testrálios tinha sido a movimentação que quatro Comensais da Morte que passavam pela clareira naquele momento tinham causado. Os animais não se aproximaram deles, por receio, mas também não atacaram ou demonstraram desgosto. Harry tentou manter seu testrálio o mais afastado possível.
__ Não vai ter ninguém aqui__ disse um Comensal, reclamando.
__ Não seja idiota__ responde outro__ A Floresta é o melhor lugar para se esconder por aqui. Já revistamos quase todo o castelo. É claro que tem vários lugares secretos nele, mas se o Lorde não sabe onde são, então nem Potter sabe. Ele deve estar aqui na Floresta, com a maldita varinha dele.
__ Duvido que Potter tenha adentrado muito a mata__ o Comensal mais próximo de Harry começou a falar__ Ele deve ser um covarde que tem medo do escuro.
O último Comensal, que vinha atrás dos demais, parecia meio perdido. Quando ele falou, Harry reconheceu uma voz jovem, de alguém somente alguns poucos anos mais velho que ele.
__ Quando eu estudava aqui, no quinto ano__ disse ele__ Potter estava no segundo. E dizem que ele foi até o covil das aranhas da Floresta. Isso é mais do que a maioria já foi.
__ Você está defendendo Potter ou o quê?
__ Não__ respondeu o jovem rapidamente, que provavelmente Harry não conhecia__ Só estou falando. Aliás, o que estamos fazendo parados aqui? Não tem nada nessa clareira.
__ Eu não diria que esses animais são nada__ respondeu o primeiro Comensal__ Ou... não vai me dizer que você...
__ O que? Que animais?
O Comensal que estava mais próximo de Harry soltou uma risada.
__ Ele não consegue enxergar! Que fraco. Você nunca viu a morte, garoto? Está mais do que na hora, não acha?
Ele sacou a varinha e o Comensal garoto deu um passo para trás. O outro deu mais uma risada e deu as costas ao garoto, aproximando-se mais do testrálio de Harry e colocando a mão no pescoço macilento dele.
__ Esses novatos idiotas.
Harry tentou não respirar e não se mexer. Ele sentia que o testrálio também estava nervoso com a aproximação.
__ Esses cavalos são mesmo feios.
Entao, o Comensal bateu com a varinha na traseira do testrálio. O animal abriu as asas e empinou, aterrorizado, e Harry soltou um gemido, segurando-se no pescoço dele.
Os quatro Comensais viraram a atenção para o som que ouviram, mas Harry rapidamente bateu com o calcanhar na barriga do testrálio e saiu em disparada para o meio da floresta, a galope, deixando os inimigos para trás.
Harry continuava agarrado ao pescoço dele, mas o testrálio corria muito rápido, para o meio da mata que se adensava cada vez mais e ficava mais escura. O garoto tentou gritar para ele parar, mas o animal não ouvia.
Harry sentia a Capa de Invisibilidade escorregando do seu corpo. Tirou uma das mãos do pescoço da sua montaria para tentar ajeitá-la, mas nesse momento o testrálio saltou um tronco de árvore caído, e o garoto perdeu o equilíbrio. Ele caiu com um baque no chão cheio de folhas, batendo as costas no chão. Na queda, a Capa esvoaçara para fora de seu corpo e caíra a alguns metros à frente.
O garoto se mexeu lentamente, fazendo uma careta de dor. Não tinha quebrado nada, mas seu corpo doía por inteiro, principalmente suas costas. O testrálio, que provavelmente notara que deixara sua montaria cair, veio trotando até Harry.
__ Valeu__ disse o garoto para o animal, apoiando-se com a mão no chão para levantar-se.
Ao fazer isso, Harry sentiu algo estranho em sei bolso de trás. Levantou-se e levou a mão ao bolso, tirando de lá a sua varinha.
Quebrada ao meio.
Harry arregalou os olhos para o pedaço de madeira partido em sua mão. Chacoalhou-o, e as partes acabaram de se separar, e caíram no chão silenciosamente. O garoto sufocou um grito de angústia; então lembrou-se da Varinha, que estava no bolso ao lado, e desesperadamente a procurou.
Lá estava ela. Inteira.
Harry a segurou nas mãos e rodou-a entre os dedos. Apontou-a para a Capa de Invisibilidade, caída a alguns metros, e disse:
__Accio Capa.
Nada aconteceu. O garoto olhou mais uma vez para a Varinha em sua mão.
__ Porque não funciona?__ perguntou ele__ PORQUE VOCÊ NÃO FAZ NADA?
O testrálio sapateou ao lado de Harry, nervoso com seu grito. O garoto nem notou.
__ As pessoas que eu mais amo estão dependendo de você, sua varinha idiota. Sacrificamos um monte de coisa pra produzir você, e nada de retribuição. Você não funciona. É só um pedaço de madeira! Um objeto inútil. DEPOSITAMOS TODAS AS NOSSAS ESPERANÇAS EM UM GRAVETO DE MEIA TIG...
O testrálio empurrou Harry com a asa, abrindo-a impetuosamente, e ele cambaleou, parando de gritar. Por um momento, o garoto olhou intrigado para o testrálio, e então abaixou a cabeça e deu um sorriso triste.
__ Olha só pra mim__ murmurou ele__ Dando bronca em objetos.
Harry se aproximou do testrálio e fez carinho em seu focinho de cavalo.
__ Devo estar ficando louco mesmo.
O garoto abriu a mão, olhando para a Varinha apoiada nela.
E então, num último gesto de revolta, a lançou longe com toda força. O ‘graveto’ rodopiou no ar e caiu sem fazer barulho no chão à frente.
__ Não posso mais ficar esperando por você__ disse Harry__ Vou tomar minha próprias providencias contra Voldemort, com ou sem Varinha.
Como em resposta ao que Harry dissera, uma luz surgiu envolvendo a varinha. Harry piscou, confuso, enquanto o pedaço de madeira subia no ar, envolto numa auréola branca, e pairava na altura da cabeça do garoto.
E então, uma voz profunda e inesquecível começou a falar.


Comenteeem e desculpem a demoraa
bjoos

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