Perigos de Identidade



Cap. 21


PERIGOS DE IDENTIDADE


 


            Quando Harry e Ayame entraram na sala comunal, encontraram Rony deitado no colo de Hermione, com a boca aberta babando, e a garota lendo um livro fino para seus padrões, sentada confortavelmente na poltrona perto da lareira, parecendo pouco se importar que sua calça estivesse sendo encharcada por baba.


            __ Ele se recusou a ir dormir no quarto, queria saber quem era a convidada do irmão__ explicou Mione. Ela deu uma sacudida de leve no namorado para acordá-lo. O ruivo resmungou algo sobre latas de suco de uva e aranhas roxas e, após mais uma sacudidela de Hermione, levantou-se, esfregando os olhos.


            __ Dormi?


            __ A menos que você tenha um sério problema para controlar suas glândulas salivares quando está deitado, sim, você dormiu.


            Rony fez uma careta para a namorada e então notou Harry e Ayame sentando nas poltronas ao lado.


            __ Ah, vocês! E aí? O que me dizem? Quem era?


            Harry lançou um olhar à Ayame, que retribuiu com um aceno de cabeça quase imperceptível, e, logo depois de Hermione resmungar algo sobre Rony parecer uma garota fofoqueira, disse:


            __ Carlinhos chamou uma professora.


            Rony arregalou os olhos. Hermione continuou olhando para seu livro, mas Ayame tinha uma certeira sensação de que ela não prestava atenção no que fingia ler. Harry continuou:


            __ Não é uma baranga. Ele convidou a prof. Raquel... a Rebecca.


            Hermione levantou os olhos do livro, as sobrancelhas levantadas. Rony abriu a boca. Eles ficaram em silencio por um momento, em que Harry e Ayame se entreolharam várias vezes, até a garota tocar o braço do amigo ruivo e chamar seu nome.


            __ An?__ fez ele__ Eu... Carlinhos... Ele... Rebecca!! Isso é estranho.


            Hermione se mexeu na poltrona.


            __ Ele deve ter um motivo, com certeza deve gostar dela, senão... acho que não iria faze-la passar por um episódio desses. Porque... nós sabemos que a família Weasley aceitou numa boa a troca de lado de Rebecca e a entrada dela na Ordem, mas... isso eu não sei... é difícil prever o que a Sra. Weasley vai pensar.


            __ É, eu também tirei essas mesmas conclusões__ disse Harry__ Rony? O que você acha?


            __ Eu... mamãe é estranha. Mas... acho que ela não vai ser muito problema... Eu só fiquei meio chocado... Nunca imaginei Rebecca assim, tão...


            __ Próxima?


            O ruivo abaixou a cabeça, envergonhado.


            __ É.


            Eles ficaram em silencio por um tempo, meio constrangidos. Só agora Harry notava que, mesmo todos estando na boa com Rebecca, eles ainda se sentiam estranhos em relação a ela. Ela ainda parecia muito distante da realidade deles... Um personagem fora de sua cena original.


            Ayame ficou fitando os rostos de seus amigos. Sabia o que passava na cabeça deles. Apesar de todos eles terem aceitado sua irmã, ainda não a viam como parte de suas realidades, realmente. Algum tempo atrás, culpá-los-ia por isso, e falaria algo, mas agora ela não sentia vontade de fazer nada disso. Enfim, falou:


            __ Vocês estão sendo um pouco precipitados. Hoje foi o primeiro dia que eles saíram juntos, não sabemos se vai rolar algo sério entre os dois ainda. Pode não dar em nada...


            __ E mesmo se der, acho que estamos preocupados demais... __ disse Hermione.


            Os outros assentiram.


            __ Essa história com Rebecca me fez lembrar de uma coisa que andávamos discutindo, eu, Rony e Hermione__ disse Harry, aproximando-se de Ayame.


            __ O que?


            __ Era sobre a Ordem, e Voldemort. Nós achamos que essa é a hora certa para ataca-los, já que eles estão enfraquecidos, mas não vejo a Ordem fazer nada. Você sabe de alguma coisa?


            __ Não mais que vocês...


            __ Hum... O que você acha de conversarmos com Dumbledore sobre isso?


            __ Boa idéia. Se você quiser, eu posso conversar com ele amanha.


            __ Tudo bem, se você não estiver muito ocupada.


            __ Acho que os perdidos nos corredores podem tentar se virar uma manhã sem sua fantasma como guia não é...


            Hermione deu uma risadinha por trás de seu livro. Eles ficaram um minuto em silencio, cada um absorto em seus próprios pensamentos, até que Ayame falou, meio que assustando a todos:


            __Sabe, eu estive pensando… Dumbledore sempre disse que a maior fraqueza de Voldemort é que ele desconhecia o amor... Mas... __ ela hesitou por um instante__ Eu acho que ele tem amor sim. Amor a si próprio e ao poder. É um tipo de amor doentio, ele não nutre amor pelos outros, mas nao deixa de ser amor, não é?


            Os outros não se manifestaram, e ela continuou:


            __ Sabe, e  a vida dele…. Ele foi criado num orfanato, vendo a escória do mundo, nao é de se espantar que tenha ódio de tudo…. Não sei...


Hermione, que fechara o livro de vez, se arrumou na cadeira e apontou para Harry.


 __Mas, Ayame, olha o Harry. Ele também passou por várias experiências ruins antes de descobrir que era bruxo, mas nem por isso saiu por aí matando todo mundo.


Rony deu uma risadinha. Ayame também se arrumou na poltrona, e disse:


__ É, eu sei, nao é isso que quis dizer, não estou concordando com as maldades dele. As experiências de vida de uma pessoa não necessariamente constroem o que ela é. O que eu quero dizer é... De onde vem toda essa maldade? Porque Voldemort insiste em ser desse jeito? Será que ele é assim mesmo? Eu nao entendo.


__ Você quer dizer...__ Rony ergueu as sobrancelhas__ ... que acha que Voldemort tá possuído por algum espírito maligno ou algo do tipo???


 Ayame ergueu uma sobrancelha.


__ Naaao, Rony... Bom, sei lá. Talvez a alma dele seja má. Não podemos escolher a alma que teremos, não é? Isso não é uma coisa consciente.


__ Não escolhemos a alma__ disse Harry__ Mas podemos mudar quem somos com o decorrer do tempo. E Voldemort nunca quis isso, não é? Ele vai continuar fazendo maldades e nutrindo o ódio e a discórdia, sempre em busca do amado poder dele. É assim que ele gosta de ser. É por isso que ele deve ser derrotado.


            Ao terminar de falar, Harry corou. Os amigos olhavam admirados para ele.


            __ Vamos, parem com isso... Eu não disse nada de mais...


            Rony, Hermione e Ayame se entreolharam por um momento. Então, avançaram todos pra cima de Harry, dando-lhe um abraço múltiplo, vários esfregões na cabeça e afundando-o na poltrona.


            Depois de se divertirem um pouco, Rony anunciou que iria dormir, Hermione pegou seu livro e disse algo sobre ler na cama ser mais confortável e também subiu para os dormitórios.


            Quando os amigos desapareceram pelas escadas, Ayame sentou-se no chão e encostou a cabeça no joelho de Harry.


            __ Voldemort não podia ter escolhido um inimigo melhor__ disse ela, sorrindo.


            Harry hesitou por um momento e depois disse:


            __ Não desejaria isso pra mais ninguém, mas... às vezes queria que ele não tivesse me escolhido.


            Ayame parou de sorrir.


            __ É engraçado como as escolhas dos outros mudam nossas vidas... Às vezes até mais do que as nossas próprias escolhas...


            Harry se curvou pra frente e lhe deu um beijo na testa.


            __ Hoje foi um dia cheio... o que acha de seguirmos Rony e Hermione e irmos dormir também?


            Ayame desenconstou-se da poltrona e se levantou, mas quando Harry ia se levantar, ela o empurrou para sentar novamente.


            __ Ah, hum, queria ficar mais um pouquinho aqui com você...__ disse ela.


            Harry levantou uma sobrancelha.


            __ Essa sua carinha de cachorrinho sem dono... Não dá pra resistir__ e puxou ela para sentar ao lado dele na poltrona (Ayame lançou um feitiço nela para ter mais espaço).


            __ Obrigado, Ayame.


            __ Pelo que?


            __ Não sei. Só deu vontade de agradecer. Talvez porque me sinto tranqüilo com você por perto.


            Os dois riram e a garota encostou a cabeça no ombro do namorado. Ficaram ali até adormecerem, abraçados, as faces serenas imersas em um sono repleto de sonhos.


           


 


            No dia seguinte, Ayame acordou na sua cama. Não se lembrava de ter subido até seu dormitório, mas... whatever. (aah, não consegui encontrar expressão melhor. Tomara que todo mundo aqui saiba inglês...). Olhou para a cama de Hermione, que estava vazia, mas ouvia ela no banheiro, o que queria dizer que ainda era cedo. Gina ainda estava na cama, de barriga para cima, a coberta toda enrolada nas pernas.


            A morena virou para o outro lado, fechando os olhos, e cobrindo a cabeça com o lençol. Dava pra dormir mais um pouco.


            Alguém bateu à porta.


            Ayame abriu um olho. Quem seria, a essa hora?


            __ Gina, vai atender!__ gritou Hermione, a voz abafada, de dentro do banheiro.


            __ Huummm...__ resmungou Gina.


            Ayame esfregou os olhos e sentou na cama, abriu a boca para chamar Gina mais uma vez quando a porta se escancarou e a prof. MacGonagall entrou.


            __ Prof....?


            MacGonagall olhou severamente para Gina, ainda na cama, e lançou um olhar à cabeça de Hermione, que olhava intrigada de dentro do banheiro. Pigarreou:


            __ Srta. Ayame, por favor, gostaria de falar com você.


            Ayame piscou umas duas vezes antes de compreender, levantou-se, puxou um roupão de Hermione que estava pendurado em sua cama e acompanhou a professora até as escadas.


            __ Sim?


            __ Ayame, o prof. Dumbledore me pediu que avisasse você que ele gostaria que você substituísse o prof. Snape nas aulas de Poções de hoje, se você puder, é claro.


            Ayame piscou.


            __ Posso, é claro... Mas onde está o Sna.. prof. Snape?


            __ Ele teve que se ausentar, à pedido do diretor.


            __ Mas o vo... Dumbledore, onde está? Eu gostaria de tratar um assunto com ele.


            __ Ele acompanhou Severo__ MacGonagall baixou a voz a um nível que Ayame teve que se debruçar sobre ela para ouvir__ Assuntos da Ordem.


            Ayame assentiu, cruzando as sobrancelhas. A professora foi embora e a garota entrou no quarto.


            __ Encrenca?__ indagou Gina, pulando da cama.


            __ Não__ respondeu Ayame, alto o suficiente para Hermione ouvir__ Eu só vou substituir Snape nas aulas hoje.


            Enquanto Hermione saía do banheiro totalmente pronta e empurrava Gina para se arrumar, Ayame deitou-se mais um minutinho em sua cama.


            __ Tinha que ser bem Poções... naquelas masmorras frias....


           


           


            Harry desceu pra tomar café com Rony, apertando os olhos de sono. Realmente, dormir metade da noite numa poltrona não era muito bom para as costas, mas em compensação ele tivera um sono muito tranqüilo, até acordar e resolver ir pra cama, levando antes Ayame para seu dormitório, é claro.


            Eles sentaram-se na mesa do café e logo depois Hermione chegou. Ela disse que Ayame daria aulas de Poções naquele dia, e que Dumbledore estava fora.


            __ Snape não tinha a primeira aula, então ela ficou enrolando no quarto mais um pouco.


            Nas aulas de DCAT, as duas primeiras, Rebecca sorriu convidativamente para eles. Quando todos os alunos tinham se acomodado, ela começou:


            __ Hoje teremos uma aula um tanto importante. Para vocês entenderem, os bruxos poderosos podem criar feitiços e seus contra-feitiços também. Alguns grupos de bruxos criaram uma série de feitiços perigosos há algum tempo atrás, os quais vocês poderão encarar lá fora. Por isso, estudaremos seus contra-feitiços aqui.


            Harry notou que a maioria dos alunos entendeu que os “grupos de bruxos” eram os Comensais da Morte, e sentiu a agitação crescer na sala. Rebecca também sentiu isso, mas não se manifestou.


            __ Para começar, foi difícil encontrar alguém para praticar os feitiços, para assim poder mostrar a vocês os contra feitiços. Mas, no fim, tivemos um voluntário: nosso querido Rúbeo Hagrid.


            Hagrid apareceu pela porta nos fundos da sala, sorrindo, mas um tanto nervoso. Os alunos da Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa o cumprimentaram, mas os sonserinos fizeram cara de nojinho.


            __ Hagrid, por ser forte desse jeito__ Rebecca lhe lançou um sorrisinho encorajador__ Sofre um pouco menos o efeito da maioria dos feitiços. E logo que lançar o feitiço nele, lançarei o contra feitiço, por isso não se preocupem. Logo depois de lançar o feitiço, quero que vocês o repitam bem alto. O mais importante é que eu não pronunciarei o primeiro feitiço em voz alta, devido a ordens do diretor, portanto vocês terão que identificar o efeito que eles geram no atingido, para saberem qual contra feitiço usarem, está bem?


            Harry ficou imaginando porque Rebecca não pronunciaria os feitiços em voz alta. Se fosse porque ali haviam alunos cujos pais eram Comensais, eles ficariam mais cedo ou mais tarde sabendo como lançar os feitiços pelos próprios familiares. Hermione respondeu sua pergunta, sussurrando para ele e Rony:


            __ Acho que se virem ela lançando esses feitiços, podem deduzir que ela é uma ex-comensal. Os contra feitiços são bem menos conhecidos até pelos próprios Comensais, então mesmo que levantarem hipóteses sobre isso, acho que assim não poderão provar que ela é Rebecca.


            Harry assentiu, e olhou para frente, onde a professora sorria para Hagrid, que respirava fundo.


            __ Olha o que você vai fazer comigo, einh, prof. Raquel....


            __ Calma, Hagrid, tudo bem. Pronto? Podemos começar? Pegaram suas penas para fazer anotações?? Vamos!


            Rebecca pegou sua varinha do bolso e apontou para Hagrid. Harry viu ela piscar uma vez antes do guardião subitamente começar a flutuar de ponta cabeça, a barba peluda tampando quase que por inteiro o rosto vermelho.


            __ Como vocês podem ver, esse feitiço deixa a pessoa levitando de ponta cabeça, como se uma corda puxasse os pés dela__ Rebecca sorriu__ Liberacorpus!


            E Hagrid desceu ao chão novamente, enquanto os alunos repetiam o contra feitiço.


            __Humpf...__ fez ele, arrumando o cabelo e a roupa.


            Rebecca perguntou se estava tudo bem com o gigante e se preparou para outro feitiço. Ela levantou a varinha, e sem se desconcentrar, disse à sala:


            __ A partir de agora, os feitiços ficaram um pouco mais assustadores, eu aviso. Mas não se preocupem...


            De repente, as mãos de Hagrid foram subitamente de encontro ao seu próprio pescoço, e começaram a aperta-lo. O gigante ofegou e começou a ficar vermelho no esforço de impedir suas mãos de enforca-lo.


            Rebecca disse rapidamente:


            __ Relaxhang!__ E as mãos de Hagrid afrouxaram.


            Os alunos entraram em silencio. Rebecca olhou severa para eles e disse:


            __ Eu avisei. Não olhem assim indignados para mim. Vocês esqueceram que há coisas muito piores por aí, e que deviam estar agradecidos por estarem aprendendo sua defesa.


            __ Eu estou bem__ avisou Hagrid, rouco, dando um sorrisinho à Hermione, Harry e Rony.


            __ Como é o contra feitiço? Não ouvi ninguém repeti-lo__ disse a professora.


            Os alunos repetiram com forca, e ela sorriu, satisfeita. Mais uma vez, a cena do inicio se repetiu, e então, após uns momentos, Hagrid arregalou os olhos e então começou a esfrega-los freneticamente.


            __ Não... consigo... enxergar!__ disse ele.


            __ Blindpare!__ disse Rebecca, e então o gigante parou e piscou várias vezes. Depois de ouvir os alunos repetirem, ela disse:


            __ Esse é o feitiço do Cego. Deixa você no escuro até o contra feitiço surtir efeito. Não é usado pelos inimigos para fuga deles ou algo assim, mas para te deixar no desespero da escuridão, e muitas vezes você acaba se machucando gravemente em conseqüência de seu próprio desespero. Então.... cuidado. Os dois próximos feitiços podem assustar vocês mais ainda, mas... vocês sabem que não tem nada a temer por enquanto.


            Hagrid franziu as sobrancelhas e assentiu para Rebecca. Esta se postou na frente dele e acenou com a varinha num gesto rápido e horizontal.


            O gigante caiu para trás com um baque, quando os alunos se levantaram para olhar levaram um susto: um corte enorme atravessava o peito de Hagrid, espalhando sangue para os lados.


            __ Curar!__ gritou Rebecca. O corte fechou-se instantaneamente.


            __ Hagrid...__ murmurou Hermione ao lado de Harry.


            __ Estou bem... estou bem__ disse o gigante levantando-se com o apoio de Rebecca. A professora então apontou a varinha para o chão e limpou o sangue.


            __ Como vocês viram, esse feitiço faz cortes na pessoa. O próximo é uma variação desse feitiço, não sei dizer se mais danosa ou não. O contra feitiço é quase o mesmo, vocês só devem juntar a palavra Interiur antes do Curar.


            Ela apontou de novo a varinha para o gigante e este foi novamente para trás, e gritou de dor, levando as mãos ao peito. Rebecca gritou o contra feitiço rapidamente, e então ele se levantou ofegante.


            __ Sente-se ai, Hagrid__ disse ela para ele, baixinho, conjurando um copo de suco__ Descanse. Obrigado por ter nos ajudado__ Virou-se para a sala.


            __ Esse último feitiço faz cortes internos na pessoa, causando hemorragia interna. Espero que tenham aprendido alguma coisa. Não queria assustar vocês, mas é preciso. Como vocês notaram, se vocês forem atingidos por um desses feitiços, provavelmente não conseguiram vocês mesmos conjurarem o contra feitiço. Por isso é importante que não saiam sozinhos se conseguirem evitar. Sempre andem com seus amigos e familiares, e sempre procurem apoio neles. Dispensados!


            Os alunos foram arrumando suas coisas e saindo. O sinal não havia tocado ainda, por isso Rony, Harry e Mione ficaram para conversar com Hagrid e Rebecca.


            __ Firme aí, Hagrid__ disse Rony__ Agüentou bem, einh? Que bom que está bem.


            __ Não foi grande coisa__ respondeu o gigante bebendo suco__ Reb... ops, Raquel me curou rapidinho. Mas eu einh... não quero encarar nenhum desses feitiços nenhuma vez mais na minha vida.


            __ Esse último feitiço__ disse Harry__ Dolohov usou em Hermione quando estávamos no Departamento de Mistério, há dois anos atrás.


            Hermione estremeceu ao seu lado.


            __ Sim__ Rebecca assentiu__ O Interiurs Sectusempra é uma especialidade de Antonio Dolohov.


            __ E aquele primeiro feitiço...__ Harry hesitou por um instante__ Eu vi... meu pai... usando ele... é o Levicorpus não é?


            Rebecca fez que sim com a cabeça, mas franziu as sobrancelhas, intrigada.


            __ Quando você viu isso?


            __ Foi em uma memória, quando estava no quinto ano. Eu acabei olhando na Penseira onde estavam as memórias de Snape...


            __ Ah__ fez Rebecca__ Então foi usado nele. É que... alguns feitiços da lista dos Comensais foi Snape quem os ensinou. Provavelmente foi ele quem colocou esse na lista. E o Sectusempra também é dele.


            Harry ergueu as sobrancelhas.


            __ Falando em Snape__ disse Hermione__ Ele não está aí. Você sabe onde ele foi, Rebecca?


            A garota piscou.


            __ Não sei, não. Será que...


            Harry viu seus lábios pronunciarem a palavra Ordem, e viu Hermione assentir.


O sinal bateu, e eles se despediram e rumaram para a aula de feitiços.


           


            No almoço, Ayame foi se juntar a eles.


            __ Estava meio enferrujada__ disse ela quando Harry perguntou como havia sido a aula__ Mas acho que me saí bem. Poções nunca foi minha matéria favorita, mas acho que os alunos ficaram mais felizes e mais colaborativos sem a cara ranzinza e oleosa de Snape encarando-os. Mas chega de falar disso, que horas que é o jogo do inter amanha?


            __ Onze horas, como sempre. Mas eu acho que os jogadores vão chegar hoje a noite.


            __ Gatinhos de Drumstang...__ disse Ayame piscando para Hermione.


            __ E belas garotas de Beuxbatons__ respondeu Rony, dando um cutucão em Harry. Os quatro riram.


            Como Harry deduzira, realmente os alunos de Beuxbatons e Drumstang chegaram à noite, perto das oito horas. Porém, ao contrário de três anos atrás, quando essas escolas vieram todas pomposas com uma carruagem e um barco, respectivamente, no Torneio Tribruxo, desta vez os jogadores vieram de trem, não o Expresso Hogwarts, e pararam em Hogsmeade, de onde Hagrid os trouxe até a escola.


            Os primeiros a chegarem foram os alunos de Drumstang. Depois da saída de Karkaroff da diretoria da escola, um homem chamado Hugo Lombardion foi nomeado diretor. Carlinhos disse que ele era muito conhecido e poderoso nos países do norte europeu. Os jogadores eram todos carrancudos e fortes como Vitor Krum, mas nesses Hermione não achou nenhuma graça.


            As garotas de Beuxbatons espantaram o público. Eram todas belas, sem dúvida, mas via-se na cara delas que estavam ali para jogar e nada mais. Como se tivessem sido feitas para isso. Andavam altivas, sérias, e lançavam olhares que faziam as pessoas se encolher sem querer.


            __ Eu einh__ disse Rony__ Pensei que o jogo estava no papo para os garotos de Drumstang, mas... vendo essas meninas agora... Elas dão medo, pô!


            __ Bom, se jogarmos contra elas__ disse Gina, que observava os visitantes chegarem junto com os outros__ eu não vou hesitar em mostra-las que a melhor garota em time de quadribol não está no time delas.


            Os jogadores visitantes se alojaram na torre de astronomia e nas masmorras. Rebecca comentou algo sobre ser bom Snape não estar ali para zelar por sua preciosa sala de aula. No jantar, as quatro mesas das casas foram substituídas por várias mesas menores de seis pessoas, o que fez com que mais espaço houvesse no Salão. Isso não evitou que o pessoal da Sonserina ficasse todo em um canto, separados do resto, enquanto os alunos de Corvinal, Lufa-Lufa, Grifinória e até os jogadores se misturassem uns aos outros.


            Cada time visitante vinha acompanhado por seu treinador. O do time de Beuxbatons era uma mulher forte e nariguda, que refletia bem a cara de suas jogadoras. Se chamava Camélia Boomp. O de Drumstang era um homem baixinho e carrancudo, mas que possuía uma voz poderosa e alta, Kim Gordonies. Eles se sentaram na mesa dos professores, que continuava única e comprida, mas que tinha ao centro MacGonagall (na ausência de Dumbledore) e os outros diretores das casas (com exceção de Snape).


            __ Será que os treinadores não notaram a falta do diretor e de Snape?__ indagou Hermione, enquanto jantavam, observando a mesa dos professores.


            __ Reb... Raquel me disse__ respondeu Carlinhos, que sentara-se junto deles para comer__ que viu MacGonagall entregando uma carta de Dumbledore a eles, que explicava sua ausência e a de Snape.


            __ Quem dera nós tivéssemos essa carta também__ comentou Ayame, suspirando e fazendo bolhas no suco de abóbora.


            Ao final do jantar, MacGonagall fez um discurso de boas vindas, bonito, mas que não se comparava ao que Dumbledore provavelmente falaria. Harry e Rony subiram para a sala comunal para conversar com todos os integrantes do time, e Hermione ficou com Ayame conversando na mesa de Cho Chang.


            Carlinhos ficou à mesa sozinho, tomando cerveja amanteigada (cortesia de Hagrid, que passara furtivamente o copo à ele antes de ir embora) e observando a mesa dos professores. Quando ele viu Rebecca se levantar, sorrindo para o prof. Flitwick, com que estivera conversando, pôs-se de pé também e foi ao encontro dela.


            __ E aí?__ cumprimentou ele.


            __ Ah, oi!


            __ Quer um pouquinho?__ ele ofereceu o copo à ela.


            __ Já tomei o suficiente por hoje...__ Rebecca apontou na direção da mesa, onde havia duas garrafas vazias de cerveja amanteigada e outra de vinho pela metade.


            __ Nossa, nem eu consigo tomar tudo isso e ainda ficar acordado!


            __ Que isso, Carlinhos, eu dividi com o Hagrid. E também não fico bêbada fácil, eu acho...


            __ Isso é bom__ ele virou o copo, acabando com o restinho de bebida, e coloco-o na mesa__ Você pensou?


            __ Pensei o que?


            __ De ontem... se ainda pode sair comigo.


            Rebecca ergueu as sobrancelhas e sentiu-se corar um pouquinho.


            __ Não muito bem... estava esperando você convidar pra ver no que dava.


            __ Ah__ fez Carlinhos. Ele deu uma arrumada nos cabelos ruivos e pigarreou__ Caham. Você quer sair comigo, srta. Bungee?... E então? Agora você já pensou?


            Rebecca riu.


            __ Tá, tudo bem...__ ela pegou o braço dele__ Pra onde vamos, sr. Weasley?


            __ A noite está belíssima__ respondeu ele, começando a caminhar__ Seria um desperdício não aproveitá-la, não?


            Rebecca deu mais uma risadinha e acompanhou o ruivo até os jardins. Eles foram caminhando e conversando sobre várias coisas. Carlinhos contava mais sobre sua família (coisas que Rebecca ainda não sabia, como o fato de terem ganhado uma viagem para o Egito alguns anos atrás) e sobre seu trabalho com os dragões. Contou até sobre quando Hagrid lhe mandara Norberto, e como cuidara dele, e como ganhara a maioria das cicatrizes de queimaduras que tinha no braço. Rebecca se mostrou interessada até na parte em que ele lhe contava como limpar os dejetos dos dragões.


            Ao chegarem aos jardins, sentaram-se perto do lago, em um local onde a lua iluminava. Como Carlinhos dissera, a noite estava, apesar de um pouco fria, realmente maravilhosa, estrelada e enluarada. Começaram a trocar experiências de quando estavam na escola, e comparam umas com as outras. Rebecca contou como era estudar em escola de trouxa, pois a mãe a colocara numa dessas antes dela entrar para Hogwarts. Carlinhos comparou isso com o que aprendera com a mãe e o pai antes de ir para a escola.


            Rebecca levantou a cabeça para o céu, num dado momento.


            __ As estrelas são tão lindas. Sempre fui fascinada por elas. Minha matéria favorita era Astronomia, mas eu desisti depois do quarto ano porque nunca aprendi a usar aqueles instrumentos complicados. Preferia ficar observando o céu assim, a olho nu.


            __ Parece que elas ficam mais mágicas desse jeito, não é, as estrelas__ disse Carlinhos, também observando o céu. Eles começaram a procurar constelações. Rebecca encontrava quase todas, mas quando estava procurando as três marias foi Carlinhos quem achou.


            __ Há, um ponto pra mim!


            __ Nossa, como é que eu fui esquecer onde elas ficam? Não valeu!


            __ Você já encontrou todas as outras primeiro, então valeu sim!


            Os dois riram. Rebecca continuou falando:


            __ As Três Marias era o único conjunto de estrelas que eu gostava de ver pelo telescópio. Eu ganhei um quando estava no sexto ano, mas...__ ela abaixou a cabeça e hesitou por alguns momentos__ ... Ayume o quebrou quando ela era pequena. Ela e Ayame estavam brincando de correr no meu quarto, e esbarraram nele. Ayame era a mais desastrada, e sempre quebrava as coisas, e quando ouvi o barulho já entrei acusando ela. E ela confessou, disse que tinha sido ela mesmo, mas que foi sem querer. Antes de dormir, porém, Ayume veio até mim e disse que na verdade tinha sido ela quem tinha quebrado, e que Ayame só estava querendo defender ela, mas que não queria que a irmã levasse a culpa. Ela até disse que se eu quisesse, eu poderia pegar a mesada dela pra pagar o estrago...


            Carlinhos ouvia em silencio enquanto os olhos de Rebecca se enchiam de água, mas ela piscou e as lágrimas desapareceram.


            __ Quando estava grávida, mamãe costumava dizer que nos três éramos as Três Marias dela. Ayume era a mais boazinha e meiga, sempre disposta a ajudar os outros. Era a mais parecida com a mamãe na personalidade, apesar de ter crescido na ausência dela. Ayame sempre foi a mais parecida comigo, teimosa e espivetada.


            Ela riu meio sem graça.


            __ Desculpa ficar enchendo você com esse papo. Você deve estar cansado, já tem um monte de irmãos para se preocupar não é?


            Carlinhos balançou a cabeça.


            __ Claro que não, eu gosto de ouvir você. Fico lembrando de como vivia com meus irmãos. Eu, Gui e Percy éramos meio que inseparáveis quando crianças, mas o Percy sempre foi o nerd e sempre dedurava eu e Gui, os mais travessos, antes de Fred e George, é claro. Mas também gosto de te ouvir porque parece que te entendo mais. Isso é bom, não é?


            Rebecca assentiu levemente.


            Eles ficaram olhando o céu mais um pouco, sentados na grama. Rebecca recostou a cabeça no ombro de ruivo, que a abraçou com um dos braços musculosos. Subitamente, porém, a moça se levantou, fazendo Carlinhos quase cair.


            __ O que foi?


            __ Minha poção!__ disse ela__ Eu esqueci no castelo e... ai... já passou uma hora...


            Na luz da lua, o ruivo conseguia distinguir as contorções no rosto e nas mãos da garota. Ela pegou a varinha para convocar a poção, mas Carlinhos estendeu a mão e a segurou.


            __ Espera...


            __ O que? Eu tenho que tomá-la...


            __ É que... eu queria te ver do jeito que você é, como Rebecca, e não como Raquel.


            Rebecca piscou.


            __ O... que? Mas Carlinhos... Ninguém pode saber que eu sou eu! E se descobrirem?


            __ Ora, não tem ninguém aqui, ninguém vai ver...


            Rebecca hesitou.


            __ Não sei... é um tanto perigoso... eu sou uma fugitiva, esqueceu?


            __ É sério, tenho certeza de que ninguém vai te enxergar aqui... só um pouquinho vai, ou você quer que eu continue sonhando com uma garota trouxa quem nem é quem ela é?


            A moça corou levemente.


            __ Ora... você não vai nem me enxergar com essa luz... e com certeza vai me achar mais feia do que essa Raquel...


            __ Ora, você não pode estar pior do que nas fotos do Profeta, pode? E mesmo lá, estava muito bonita.


            Rebecca fez uma careta desconfiada.


            __ Por favor.


            A moça hesitou mais um momento e então guardou a varinha.


            __ Tá... mas depois disso vamos voltar para o castelo, está bem?


            Carlinhos sorriu intensamente.


            __ Como quiser.


            Rebecca se afastou um pouco dele para voltar a ser quem era. Sentia seu corpo de contorcer, se esticar em alguns pontos e encolher em outros, coçar e doer, e depois de alguns minutos abriu os olhos. Olhou para as mãos e reconheceu-as como sendo as suas.


            Virou-se para Carlinhos.


            __ Uau__ fez ele.


            __ Não comece__ riu ela, encabulada.


            Raquel era um pouco mais baixa que Carlinhos, mas Rebecca era da mesma altura dele, até um pouquinho mais alta. Por causa da Poção Polissuco, os cabelos de Rebecca não tinham crescido, e continuavam enrolando no pescoço, lhe fazendo cócegas.


            __ E ai?


            __ Seus olhos são definitivamente mil vezes mais bonitos dessa cor__ disse ele, sorrindo, fazendo cara de bobão.


            __ Ora...__ Rebecca riu e apontou a varinha para o castelo__ Accio Poção Polissuco!.... Ai, pára...


            __ Naaao, fica assim mais um pouquinho... Não vá embora, ó deusa descida dos céus, anjo de madeixas encaracoladas, sereia do lago profundo....


            __ Socorro__ brincou a moça__ Mais um marinheiro que caiu nos meus encantos...


            Os dois ficaram ali mais um tempo, brincando, ao luz do luar, totalmente alheios do mundo.


            Totalmente alheios ao fato de que estavam sendo observados, de uma torre do castelo.


            Totalmente desinformados do fato de que o disfarce de Raquel Bungee acabara de ser descoberto.

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