Medo



         O silêncio mortal nem incomodava mais.


         Já passara horas desde que deixara de incomodar.   


         Acostumaram-se com ele.


         Antes o silêncio letal, a berrar ofensas.


         Entraram sem fazer barulho.


         Não era assim que imaginavam que seria esse momento.


         Não era assim que queriam que fosse.


 


 


         - Estava te procurando pra... O que houve? – Matt a olhou, espantado. Viu que algumas partes do vestido dela tinham manchas de sangue, o braço marcado, vermelho, a rosto inchado, com lágrimas que não paravam de cair.


         - Nada. – ela disse, fria.


         - Hermione. – ele a impediu de continuar. Segurou-a pela cintura, fazendo-a parar. – O que houve?


         - Nada. Me solte. – ela falou, sem encará-lo.


         - Hermione...


         Ela finalmente o fitou.


         - Eu o odeio. – ela murmurou. – Não quero vê-lo nunca mais.


         - Potter? – ele perguntou, estranhando o comportamento dela. Ela estava ressentida, magoada, mas ele jamais imaginou que chagaria ao ponto de ouvi-la dizer que o odiava.


         - Não diga o nome dele. Não quero ouvir. Quero que ele se exploda.


         - O que...?


         - Matthew. – ela jamais o chamara assim. – Não quero falar sobre isso.


         Ele assentiu.


         - Quer que eu a acompanhe até a Torre..,?


         - Não. – ela disse, ainda fria.


         Matt não compreendia, ela jamais era fria daquela forma, falava daquela forma, agia daquela forma.


         Ela estava muito, mas muito ressentida pra fazê-lo.


         Sua surpresa só aumentou, quando deu-se conta que já não mais a segurava.


         Ela se fora.


 


 


         A decoração harmoniosa era de extremo bom gosto.


         Os tons de branco e areia eram predominantes na sala espaçosa.


         Uma lareira grande no meio da sala, ladeada por sofás extremamente brancos e fofos, e um tapete alto e peludo, cor de areia.


         Havia colunas espalhadas por todo o aposento.


         Dos dois lados da grande lareira havia portas de vidro, largas, de correr, que davam pra uma varanda enorme, suspensa, de madeira, sobre o mar.


         Era possível ouvir as ondas quebrando a menos de dois metros de onde estavam.


         Do lado esquerdo havia um belo corredor que levava, provavelmente, para a cozinha e a área externa da casa.


         Enquanto, ao lado direito havia uma escada de mármore reluzente, com seu corrimão dourado e bem ornamentado.


         Tudo ali fora decorado com extrema delicadeza, via-se nos pequenos detalhes a dedicação dispensada à construção do lugar.


         Era aconchegante, e mesmo no inverno, era quente.


         Um lar.


 


 


         - O que houve com você? – Rony perguntou, no dia seguinte, enquanto via Harry socar as roupas na mala de viagem.


         - Nada.


         - Nada? – ele repetiu, rindo. – Você sumiu da festa do nada, largou Gina sozinha, aparece de volta com mão rasgada, parecendo que viu um fantasma. Um não, vários. Onde foi parar seu senso de humor?


         - No mesmo lugar onde foi parar minha vida e toda e qualquer alegria que havia nela. – ele respondeu, irritado, fechando o malão com uma batida retumbante.


         - Calma, cara, eu... – Harry o deixou falando sozinho, apanhou o malão e saiu do quarto.


 


 


         A casa de fato era enorme. Uma mansão.


         Depois de subir a escada de mármore, chegaram a uma sala ampla, sem muitos móveis, rodeada de portas que provavelmente dariam para os quartos da casa.


         Havia doze portas ali.


         Quatro em cada uma das três das quatro paredes do lugar, a ultima, era de vidro, de cima a baixo, dando uma vista privilegiada da praia.


         - Escolha o seu.


         Ela não ligou, virou à direita e escolheu a primeira porta.


         Abriu e não olhou pra trás ao fechar.


         O quarto era enorme.


         A cama de casal, de dossel dourado, ficava num degrau, mais alto que o resto do quarto, que ainda tinha uma lareira, poltronas e sofás confortáveis, e uma porta coberta por uma cortina.


         Hermione a abriu e viu que tinha uma sacada.


         Que dava para a praia.


         O fim de tarde de inverno, melancólico, tornava o mar mais agitado, o frio que congelava...


         Ela acharia que não poderia haver paisagem mais agradável para ver de sua janela, mas perdera a noção de escolha, não tinha ânimo para mais nada.


         Jogou sua mala no chão e foi descobrir o banheiro.


 


 


        


         - Hei...


         - Oi. – ela respondeu, sem sequer se esforçar para sorrir.


         - Vim te desejar boa viagem. – Matt disse, com seu habitual sorriso.


         - Obrigada. Bom natal.


         - Obrigado.


         Ela o fitou e se virou.


         - Hermione?


         - Sim?


         - Trem certeza que quer ir?


         - Não tenho escolha.


         - Você sabe que tem.


         - Não vou ficar aqui sozinha.


         - Os Weasley...


         - Não vou estragar o Natal deles com a minha tristeza. A alegria dos outros tem me incomodado.


         - Você não devia...


         - Está tudo bem, Matt.


         - Feliz Natal, então.


         Ela riu, com melancolia.


         - Feliz Natal, Matt.


 


 


         Entrou no quarto, sem sequer olhá-lo.


         Nada importava.


         Se jogou na cama, olhando para o teto trabalhado em gesso.


         Não sabia definir o que estava sentindo.


         Tudo se tornara uma só tristeza.


         Tudo que vivera na noite passada, e tudo que sentira ao pisar naquela casa.


         Não queria que fosse assim, escolhera aquele lugar, para aquele Natal, para ser diferente.


         Entrar naquela casa com ela, sabendo que não importava o que lhe passasse pela cabeça, ou que sentisse, teria ela para lhe abraçar e dizer que ficaria tudo bem.


         Agora, tudo que ele tinha era aquele buraco no peito, uma mão cortada que latejava sob as bandagens, a sensação de vazio e a vontade de voltar no tempo e fazer tudo diferente.


         Levantou-se e saiu do quarto, não pôde evitar não olhar para a porta do quarto dela.


         Parou.


         Olhou mais um pouco.


         Avançou um passo na direção da porta, mas parou.


         Voltou às escadas e desceu.


         Na sala, rabiscou um pedaço de papel e deixou sobre uma das belas mesinhas que havia ali.


 


 


 


         - Harry?


         - Hei, Hagrid...


         - Boa viagem. – disse o gigante.


         - Obrigado, bom natal pra você.


         Hagrid foi o acompanhando de volta para o Saguão de Entrada, o rapaz tinha saído para uma volta antes de deixar o Castelo.


         - Escuta, Harry, eu não sei o que aconteceu para deixar você assim, tão triste, mas tudo vai ficar bem, não se preocupe.


         - Huhum... – ele murmurou.


         - Não importa o que aconteceu. Agora já passou. É hora de recomeçar Harry.


         O rapaz assentiu, seguindo seu caminho.


 


 


         Duas horas se passaram, desde que entrara ali, não agüentava mais olhar em volta, já decorara cada detalhe do quarto.


         Uma tempestade torrencial começara há muito tempo e não dera folga até aquele momento.


         O barulho era quase ensurdecedor, junto com as ondas agitadas que quebravam tão perto.


         Parecia que o mundo ia desabar naquela noite fria.


         Parecia que tudo ia acabar em água.


         E ela sequer se importava, contando que acabasse rápido.


         Estava entediada ali.


         Mas não queria sair e correr o risco de encontrá-lo.


         Encará-lo.


         Era se torturar demais.


         Ma não conseguia mais ficar parada.


         Saiu do quarto, olhando para os próprios pés.


         Desceu as escadas, sem sequer saber qual dos quartos ele escolhera como seu.


         Terminou os degraus e se deparou com um papel na mesa logo à frente.


 


         Fui caminhar na praia.


 


         Ela largou o papel, sem querer, um arrepio correu seu corpo.


         Não fazia idéia de quanto tempo fazia que ele deixara o bilhete ali.


         E estava caindo um mundo de água lá fora há muito tempo.


         Ela deu de ombros, tentando não se importar nenhum pouco.


         Procurou pela cozinha, e encontrou assim que atravessou o corredor que começava na sala, depois de passar por duas ou três outras portas.


         Assim como todo o resto da casa, a cozinha era enorme, e muito bem equipada.


         Era uma casa bem trouxa, Hermione reparou, vendo a geladeira, o microondas e a lavadora de louça de inox combinando com a decoração.


         E era tudo muito novo, pra uma casa que estava fechada há 17 anos.


         Provavelmente, tinha dedo de Dumbledore nisso.


         Ela abriu um das portas da geladeira, que ela descobriu logo estar cheia de comida, e apanhou uma jarra de suco.


         Procurou por algum tempo, dentro das várias portas, por um copo, quando achou um, o encheu.


         Encostou-se ao balcão enquanto sorvia o liquido.


         Ouvia o barulho das ondas agitadas, urrando lá fora, bem como a chuva que batia nos vidros da casa, chicoteando as paredes e janelas.


         Outro arrepio.


         Aquilo não podia ser bom.


         Mas ela tornou a ignorar.


         Ela não se importava com o que acontecia com ele.


         Se ele quisera sair na chuva torrencial e correr o risco de ser arrastado por uma onda, o problema era dele.


         Ela não tinha nada com isso.


         Terminou o suco e se dirigiu a pia para lavar o copo.


         De repente, aconteceu muito rápido.


         Um raio cortou o céu, deixou a casa toda escura, logo em seguida veio um trovão, ela assustou, pulou, o copo bateu na pia e quebrou-se na mão dela.


         - Ah! – ela berrou, sentindo um corte em um de seus dedos.


         Tudo estava escuro, não podia enxergar, o barulho ensurdecia, seu dedo doía.


         Desajeitada, ela pegou sua varinha e acendeu a luz fraca, viu que o corte não fora grande, com um feitiço o fez parar de sangrar.


         Voltou para a sala, escura, iluminada apenas pela luz natural da noite que entrava pelo vidro das portas ao lado da lareira.


         A chuva acoitava o vidro sem piedade.


         Raios seguidos começaram a brilhar no céu, e os seus trovões tornavam o barulho insuportável.


         Outro arrepio.


         Ela começou a se irritar.


         O que era aquilo?


         Sinal?


         Ela tornou a ignorar, enquanto voltava para escada.


         Outro raio, um das janelas se abriu, como por mágica, e as cortinas começaram a esvoaçar.


         Tudo começou a molhar, a força da chuva mais o vento fez tudo gelar dentro da casa de temperatura amena.


         Ela deu meia volta, tentou fechar a janela, mas esta emperrara.


         Foi quando ela viu.


         Um vulto longe, no meio de toda a tempestade, caminhando pela arrebentação.


         Alguma coisa estava errada.


         O vulto parecia estar com sérias dificuldades para caminhar.


         Ela observou, por algum tempo, vendo-o se aproximar.


         - Harry... – ela sussurrou.


         Sem conseguir mais ignorar os arrepios que vinham seguidos agora, ela abriu a porta de vidro e parou na varanda, coberta, esperando-o chegar.


         De pouco adiantava a cobertura, o vento trazia a chuva até a garota, que passou a senti frio, no lugar dos arrepios.


         Quando ele chegou a varanda, quando só faltavam os degraus para alcançá-la, o corpo dele cedeu, e ele caiu ajoelhado na areia.


         - Harry... – de repente, nada mais de tudo aquilo importava.


         Ela queria ele de pé, para xingá-la e dizer coisas horríveis.


         O queria apenas são.


         Vivo.


         - Harry... – ela desceu os poucos degraus correndo e o ajudou a se levantar, passando um dos braços ensopados dele pelo seu ombro. – Está tudo bem, Harry.


         Ela o arrastou para a varanda, mas ele parou.


         - Hermione... – ele sussurrou.


         - Vamos entrar...


         - Não.


         - Harry, - ela disse, séria, quase fria. – Por pior que seja nossa situação, não vou deixá-lo morrer no meio dessa tempestade.


         O comentário o fez sorrir.


         E ele de repente deu-se conta de quanto tempo tinha que não fazia isso.


         Sorrir.


         Ele a fitou.


         - Antes, preciso que me diga...


         - Qualquer coisa, desde que você entre... Você vai pegar uma pneumonia brava...


         - Você realmente me odeia? – não tinha graça nenhuma no tom de voz dele. Os olhos verdes, ela reparou, esperavam ansiosos pela resposta, como se a mente dele viesse remoendo a hipótese desde que ela berrara tais palavras na cara dele noite passada.


         A pergunta fora real.


         - Estou tentando, mas ainda não consegui. – ela respondeu, igualmente séria, fitando os olhos dele.


         As gotas escorriam pelo rosto dele, que estava anormalmente branco.


         - Vamos entrar, você deve estar congelando.


         - Eu não vou pedir que me perdoe. – ele continuou, sem dar atenção ao que ela dissera. Ela tornou a fitá-lo, com dúvida. – Porque acho que você já me perdoou demais.


O comentário a pegou de surpresa, ela não esperava nada desse tipo.


         Não esperava esse tipo de declaração.


         Não dele.


         Não naquela situação.


         - Não importa... – ela disse. Sem conseguir soar amigável. – Vamos entrar.


         - Não.- ele disse, puxando-a.


         Ela o fitou, depois olhou para a mão dele que apertava seu braço – não com a força anormal que fizera na noite passada – somente o suficiente para fazê-la ficar onde estava.


         - Eu não consigo. – a frase saiu num sussurro. Ela somente fitou os olhos verdes dele por longos segundos, sem se mexer. – Não consigo, não posso e não quero. – ele continuou, baixo. Ela reparou que ele começava a tremer. – Não consigo viver sem você.


         - Harry...


         - Eu sei. – ele a interrompeu. - Eu sei que nada que eu diga irá mudar o que aconteceu. Sei que agora, nada mais importa... Que tudo está perdido e sem volta. – pausou. – Não sabe o quanto eu lamento a forma como as coisas aconteceram e o rumo que elas tomaram. Não precisava ter sido assim. – ela abriu a boca para argumentar, mas ele não deixou. – E eu também sei que foi minha culpa e...


         Ele parou e nada mais saiu.


         Tudo que ele fazia era fitá-la nos olhos enquanto a garota simplesmente esperava, sentindo os dedos frios dele em sua pele quente.


         Ela tinha medo.


         Medo do que estava sentindo.


         Medo do fato de não conseguir odiá-lo, por mais que tentasse.


         Medo de enxergar que o que sentia por ele passava muito, mais muito longe do ódio que queria estar sentindo.


         Que devia estar sentindo.


         Porque, afinal, ela sabia o que era odiar alguém – ela odiava Draco Malfoy e sentia isso latejar em suas veias com força. Mas Harry... Nem que nascesse de novo conseguiria odiá-lo.


         Isso a assustava.


         Ela estava apavorada.


Em pânico.


Todo interior dela berrava por socorro.


Salvação.


- Eu só queria que... – ele não conseguiu terminar. Parou de novo.


Ele estava enregelado, pálido, tremendo.


Ela estava começando a se irritar vendo-o naquele estado, sem poder sair do lugar onde estava.


Harry não ligava para o frio que sentia, ou para o fato de seu corpo estar começando a ficar dormente. Tinha que tentar alguma coisa.


O desespero estava o matando, muito lentamente.


Era insuportável a dor.


Jamais sentira nada pior.


A iminência da perda o aterrorizava.


- Harry, diga o que quiser dizer lá dentro, por favor. – ela pediu, sem mudar seu tom sóbrio de sempre.


- Não, por favor. – deu-se conta que até sua voz tremia àquela altura.


Ela não discutiu, não iria contrariá-lo. Não tinha mais forças. Não queria tornar tudo pior que já estava.


         - Nada mais importa, Hermione. – ele começou, de novo, baixo. – Nada mais importa pra mim... Nem Voldemort e suas Horcruxes, ou a Ordem e as pessoas morrendo, ou Hogwarts... Nada mais importa porque eu sou nada sem você. Eu não sou auto-suficiente, eu preciso de ajuda. Eu preciso de você. Cavei minha própria cova, sei que foi minha culpa, mas... – ele cravou seus olhos verdes nos castanho dela, de tal forma que Hermione se viu sem saída. – Eu me dei conta que tudo que eu fiz até hoje foi por você. E se eu continuo lutando até hoje é por querer um mundo melhor pra você... E a razão de eu ter, ainda, alguma esperança que as coisas podem dar certo, é você. – ele voltou a pausar, respirando fundo com dificuldade, sua garganta queimou. – O que estou dizendo, Hermione, é que sem você eu desisto. Eu amo você.


         De repente, a pele dela ficou tão fria quanto a dele.


         - Não brinque com isso. – ela murmurou, lentamente, com uma dificuldade incrível ao pronunciar as palavras.


         - Você acha mesmo que eu estou brincando?


         Não.


         Ele não estava brincando e ela tinha certeza disso.


         Era o que mais a assustava.


         A aterrorizava.


         Ela esqueceu-se de respirar. Levou algum tempo até que voltasse a raciocinar, ainda que coisas sem nexo.


         - Você não pode brincar com as pessoas dessa maneira. Você não... – e voz acabou, ela estava anormalmente séria, lívida, e totalmente chocada.


         - Eu não...


         - Bastava pedir desculpas. – ela interrompeu. – Bastava dizer que está arrep...


         - Eu disse que não me desculparia. Não vou. E isso não é uma forma de conseguir seu perdão. Eu não o quero, não o peço porque sei que você não pode... – ele pausou. A fitou, penetrante, ela tremeu dos pés a cabeça. – Não é brincadeira. Sabe que eu jamais brincaria com isso. É sério, Hermione. Não precisa dizer nada, pode me deixar aqui, sozinho, agora. Vire as costas e volte para o seu quarto, volte para os seus pais se quiser.


         Ele soltou o braço dela, que pendeu mole rente ao corpo petrificado da garota.


         O cérebro dela processava tudo numa velocidade muito lenta. Simplesmente nada funcionava.


         Ele esperou.


         Observando-a empalidecer gradualmente, enquanto os olhos dela o fitavam sem foco, sem realmente enxergá-lo.


         - Você vai ficar doente. Entre. – ela mandou, sem perder o tom sério, sóbrio e agora, mandão.


         Ele a observou dar as costas e entrar na sala bem decorada.


         Ele respirou fundo e a seguiu. Sabendo que não tinha direito nenhum de esperar qualquer coisa dela.


         Não podia ter expectativas, nem esperanças, nem querer nada.


         Acabara com qualquer uma dessas coisas na noite passada.


         Ele a seguiu, ao entrar, sentiu a diferença drástica de temperatura com um solavanco.


         Olhou em volta e não a encontrou.


         Derrotado.


         Fracassado.


         Por culpa própria.


         Largou-se no sofá fofo, tendo a certeza de que nada a faria mudar de idéia, nada, jamais, tirava Hermione do caminho que ela escolhera pra si.


         Como pudera ser tão tolo?


         Como pudera demorar tanto para perceber o que estava tão óbvio?


         Como pudera ser tão cego?


         Tão tapado?


         Tão lerdo?


         Todas as vezes que estavam juntos, ou todas as vezes que sentavam no parapeito daquela janela, quando dormiam juntos...


         Quando dividiam aqueles momentos de alienação total.


         Ou aqueles momentos que perdiam a sã consciência e cruzavam a linha da amizade, ainda que voltassem a si antes mesmo de perceberem que o havia feito.


         A amava desde sempre.


         E, de alguma forma, sempre soubera.


         E, de todas as formas possíveis, sempre negara.


         Era perigoso amar a melhor amiga.


         Era perigoso pensar nisso. Ele jamais se permitira.


         Até agora.


         Até explodir.


         Até não ter mais como fugir, como negar, como esconder.


         Até perdê-la pra sempre.


 


         Suas mãos tremiam tanto que ela sequer conseguia segurar os objetos que queria.


         Já tentara desabotoar a camisa que usava, para trocar por uma blusa mais quente, mas desistira no meio do trajeto.


         Simplesmente jogou o pouco de coisas que havia tirado da mala, de volta nela.


         Iria embora.


         Não podia ficar ali.


         Não podia...


         Ela berrou e tacou o primeiro vaso que viu na parede.


         Ele continuava a machucando.


         Não desistia.


         Continuava a provocando, a magoando.


         Ela estava irada.


         Irada por ele ter sido tão baixo.


         Por ter chego a tal ponto.


         Por ter mexido no que ela mais tinha de precioso.


         No que ela mais escondia, mais guardava, mais tomava cuidado.


         Ela sempre soube, sempre... Sabia que no dia que assumisse que isso existia dentro dela, se machucaria.


         Só que havia sido pior.


         Porque quem trouxera tudo a tona fora ele.


         Quem mexeu pela primeira vez foi ele.


         Foi ele quem a quebrou.


         Foi ele que a destruiu.


         Ela tentara esconder, negar, e não enxergar de todas as maneiras que conhecia.


         Mas ele fez questão de descobrir.


         Fez questão de jogar na cara dela.


         Fez questão de brincar com o que ela mais tinha medo de mexer.


         Não era sério.


         Ele estava apenas terminando o serviço que começara noite passada.


         Provocar, magoar, levá-la a insanidade.


         Serviço completo.


         Ele podia se dar por contente agora que a destruíra de todas as formas possíveis e imagináveis.


         Ia sair dali, sair daquela casa, sair de perto dele...


         Ia fugir.


         Ela fechou a mala.


         Ia fugir.


Ia fugir como fizera até agora.


         Só que agora fugiria da forma verbalizada do problema.


         Ia se dar por vencida, ia mostrar a ele que de fato, conseguira.


         Conseguira destruí-la.


         Que reconhecia a derrota.


         Faria tudo que ele queria que fizesse.


         Entregaria tudo de mão beijada.


         - NÃO! – ela abriu a mala e começou a jogar pra fora dela tudo que tinha ali.


         Não ia fugir.


         Não seria uma covarde.


         Ia mostrar a ele que ela também sabia ser terrivelmente cruel quando queria.


 


 


         - Não vou fugir. – ela disse, alto e claro, assim que chegou á sala, o viu sentado no sofá. – Se era isso que queria, eu...


         - O que houve com você? – ele disse, trêmulo, sem ter voltado a cor e temperatura normal ainda. Ela estava lívida, se comportando de forma estranha. A camisa meio aberta, deixava a mostra parte da renda do sutiã que ela usava, que só depois de um raio clarear o lugar, Harry notou que era lilás.


         - Acho que você sabe o que houve comigo. Acho que você...


         - Hermione? – ele chamou, quando ela falhou.


         - Não devia ter... Você não... – ela não encontrou nada o que dizer.


         Harry se levantou e caminhou na direção dela, sentindo seus pés descalços no tapete quente, fofo, grosso.


         Parou.


         Com medo de se aproximar mais.


         Eles se fitaram por muito tempo.


         Hermione sentiu seu corpo sacudir, e seus olhos marejaram.


         - Você não estava brincando. – ela murmurou, numa voz quase inaudível.


         Ele balançou a cabeça.


         - Você não... – ela parou, sem conseguir continuar.


         Todas as coisas que ela mais temeu em toda a vida vieram à tona naquele momento.


         Naquele olhar.


         Ela teve certeza que ele não estava brincando.


         Ela perdeu o chão.


         Não esperava isso.


         Ele a pegara de surpresa. 


         - Você é pior coisa que já me aconteceu. – ela disse, fria. – A pior de todas.


         Ok.


         Ele não tinha expectativas.


         Mas, não quer dizer que estava preparado pra ser cruelmente ferido.


         - Eu não... – ele começou, mas ela interrompeu.


         - Você é tudo que eu nunca consegui controlar, tudo que jamais soube o que esperar. Você sempre foi tudo que eu mais abomino.


         - Hermione...


         - Você sempre me surpreendeu, você sempre... Você é única pessoa que me faz ficar fora de mim, que me faz perder a sã consciência, que me faz cometer loucuras, e que, principalmente, me faz não pensar nas conseqüências. Você é única pessoa que eu sigo, mesmo sem saber pra onde vai me levar. Você me tira o fôlego, me tira da linha de raciocínio, me deixa sem palavras, me faz perguntas as quais eu não sei responder. Você é única pessoa que consegue me causar coisas que penso ser incapaz de sentir.


         Ela pausou, fitando os olhos arregalados dele.


         - Você é meu ponto fraco. É onde eu me perco. É a única pessoa pela qual eu faria qualquer coisa sem hesitar. Você é o único que me leva a loucura se não aparecer, que faz eu me arrepiar quando me toca, que me faz sorrir com poucas palavras. Você...


         Ela se aproximou um passo. Ele não conseguia desviar o olhar do dela.


         - É o único que eu tentei odiar e não consegui.


 ***



N/a: Tensooooo, hein???


Quero comentários para acabar com a dor de ver isso acabar.


São só mais dois capitulos agora.


só dois.



Aaaaaaai.


que tristeza.




MUITOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO obrigada pelos comentários lindos sobre o último capítulo. Vocês são incríveis. Eu não tenho palavras pra vocês.



Amo demais, demais, demais.



Beijoooos.

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