Mudanças



         - É claro que Angie vai gostar mais de mim! Eu não sou mandão! – Harry disse, alfinetando a amiga que ficou profundamente ofendida.


         - Você é infantil, isso sim. Ela terá vergonha do padrinho que ganhou. – ela retrucou, mordaz.


         Gritou quando sua barriga foi beliscada.


         - Harry!


         - É, sim, estou apenas fazendo jus a minha fama de infantil.


         Outro beliscão, ela pulou.


         - Pára, Harry. – ela pediu, se encolhendo mais do que já estava, sentada entre as pernas dele, no peitoril da janela de seu quarto.


         - Não paro enquanto você não admitir que Angie irá gostar mais de mim que de você.


         - Eu não vou admitir nada porque ela... Aaahhh! – ele começou fazer cócegas, enquanto ela se contorcia. – Harry!


         - Admita.


         - Angie vai gostar mais de você. – ela disse, dando-se por vencida.


         Mas ele não parou.


         - Por que...?


         - Porque você é mais divertido, mais engraçado, mais bonito e mais rico que eu.


         Ele parou.


         - Ótimo. – ele sorriu maroto, enquanto ela recobrava o fôlego. – Conseguiu me convencer.


         - Mas eu ainda sou mais inteligente. – ela berrou cheia de graça, pulando do peitoril da janela, sabendo que ele voltaria a atacar.


         E de fato ele o fez, saltou do peitoril e passou a correr atrás dela pelo quarto.


         - Não é justo usar o quesito inteligência. – ele disse, enquanto a encarava, do outro lado da cama, de pé, provocando-o com o olhar.


         - Por quê? Será pelo fato de você ter certeza que perde? – ela disse, com graça.


         - Eu ainda sou mais rico.


         - Inteligência faz dinheiro, é uma questão de tempo. – ela retorquiu, com um sorriso triunfal.


         - Eu ainda sou mais bonito.


         - Isso também é questão de tempo. – ela disse, vendo uma careta se formar no rosto dele.


         - Não devia ter dito isso Granger.


         - Ah, é? Por quê? O que vai fazer? – ela desafiou.


         Num movimento rápido, Harry pulou na cama, a atravessou, e puxou Hermione pela cintura com nenhuma delicadeza, a jogou na cama sem cerimônia e pulou encima dela, prendendo-a entre suas pernas e seus braços, que imobilizaram os dela.


         - Feito. – ele falou, com simplicidade, depois de constatar que ela estava completamente imóvel sob si.


         Ela torceu o nariz.


         - Porque eu ainda sou mais forte. – ele disse, com um sorriso radiante de vitória.


         Ela suspirou, mas não se deu por vencida com facilidade.


         Recuperou o fôlego e o fitou.


         Harry a encarou.


         Ela estava o provocando.


         Aquele olhar... Ela estava provocando.


         Num movimento brusco ela esticou os braços para os lados, sobre a cama, os de Harry que a seguravam foram junto, o fazendo cair e ficar poucos centímetros distante dela.


         Hermione ergueu uma sobrancelha.


         Harry ficou assustado.


         Perturbado.


         E pra piorar o estado de confusão dele, Hermione aproximou lentamente seus lábios aos do rapaz, sem quebrar o contato visual, faltava um milímetro pra que eles se encostarem quando ela sussurrou.


         - Eu ainda sou mulher. – com um giro rápido ela inverteu a situação, ficando sobre ele, com uma gargalhada gostosa observando o rosto totalmente perplexo dele. – Ganhei.


         Ela se levantou deixando-o totalmente atônito na cama.


         Ele ouviu a risada dela por muito tempo ainda, até ter coragem de se levantar e voltar a encará-la.


         - Golpe baixo. – ele murmurou. – Muito baixo.


         - Usar sua força também foi golpe baixo.


         - Você foi cruel.


         - Não. – ela o encarou, com um sorriso de escárnio nos lábios. – Quando eu jogo, eu jogo para vencer. Devia saber disso, Harry.


         Ele assentiu, ainda pasmado com o poder de persuasão dela.


         A observou voltar a sentar no parapeito.


         - Eu tenho que me vingar de alguma forma. Você sempre vem com esses ataques de cócegas e eu não posso escapar, você é mesmo forte.


         - Obrigado. – ele disse, irônico.


         - Ooohhh, feri seu orgulho masculino, foi? – ela perguntou, com graça.


         - Feriu. – ele respondeu, sem nenhuma dignidade, fazendo-a rir.


         - Venha cá. – ele caminhou até ela, a garota afagou os cabelos bagunçados dele. – Como um cãozinho, você ainda ganha um carinho.


         Ele achou o comentário o fim da picada.


         Pegou-a nos braços e a jogou em um dos ombros enquanto ela berrava para ele soltá-la.


         - Um cãozinho não faz isso, faz? – ele perguntou, voltando a jogá-la na cama, prendendo seus braços como antes. – Não vou cair no seu truque sujo de novo.


         - Será que não? – ela perguntou, presunçosa.


         - Nem tente. – ele disse, sério.


         - O que vai fazer comigo então?


         - Na verdade, queria te fazer um convite. – ele disse, ainda sério.


         Ela estranhou, que tipo de convite viria dele, estando sobre ela, a imobilizando, numa cama?


         - Não sei se quero saber qual é... – ela disse, incerta, arrancando uma risada dele.


         - Não vou atacá-la. Não se preocupe. – ele disse, achando graça da cara dela. Depois completou. – Por enquanto.


         Os olhos dela se arregalaram.


         - Sério, Mione. – ele disse. – Lembra quando me disse que iria comigo a minha casa em Brighton quando eu quisesse ir?


         - Lembro. É claro que lembro.


         - Estive pensando que poderíamos passar o Natal lá.


         Ela ponderou por alguns segundos.


         - Tem certeza?


         - Por quê? Não acha que seja uma boa idéia?


         - Acho. Claro que acho, só... Talvez você não esteja totalmente no ânimo de festa de Natal quando entrar lá. E ainda mais com todos os Weasley...


- Eles vão passar o Natal com a tia Muriel. – ele disse. – Rony me contou hoje de manhã, assim que recebeu a carta da mãe dele. Ele detestou, mas ele e Gina foram convocados, e nós, segundo a Sra. Weasley, podemos escolher, entre ficar na escola ou passar o Natal com eles. Eu, particularmente, estou dispensando um Natal com a tia Muriel, também não quero ficar na escola, sabendo que tenho uma casa nova pra ir.


         - Oh, não, não, não! Tia Muriel? Tô fora. – ela disse, com um aceno da cabeça. – Vou escrever para os meus pais, e ver o que eles estão planejando.


         - Ótimo.


         - Eles me disseram que... Que queriam viajar no Natal, América do Sul. Trocar o frio pelo calor. Eu gosto do frio.


         - Vou mandar um recado a Sra. Weasley. Avisando.


         - Faça isso.


         Eles se fitaram por alguns segundos. Até que Harry a soltou e se levantou, sem dizer uma palavra.


         Ela se sentou e o observou encostar-se à parede, de costas pra ela.


         - Medo de se deixar seduzir de novo? – ela perguntou, com simplicidade.


         - Não. – disse, brevemente. - Uma imagem passou pela minha cabeça. Não muito agradável.


         - Posso saber o que é?


         Ele se virou e a encarou.


         - Melhor não.


         - Harry... – ela se levantou a o segurou pelos braços.


         Os olhares deles se cruzaram e Hermione foi rápida.




Uma labareda de fogo se materializou em algum lugar. Ouviu-se um canto baixo e triste.


         Harry virou o rosto e viu a imagem que acalentou seu coração desesperado naquele momento.


         - Fawkes...


         A fênix maneou a pequena cabeça, pousando levemente num dos braços de Hermione. Algumas lágrimas cristalinas se derramaram sobre o corte que parecia incurável.


         Como um milagre, ele foi se fechando lentamente.




         - Não devia ter feito isso! – Harry disse, zangado, esquivando-se dela.


         - Desculpe, eu só...


         - Não devia... Não devia... – ele repetiu, dando as costas pra ela.


         - Por que isso te deixa tão perturbado? – ela perguntou.


         - Não importa. – ele retorquiu, seco.


         - Se eu estou perguntando é porque importa. Porque eu me importo com você.


         - Hermione...


         - Harry. – ela o obrigou a olhar pra si. – Harry...


         - Eu não faço idéia de como ela apareceu. Não faço idéia de como ela soube que eu precisava de um milagre pra ter você de volta. Não sei como... Dumbledore está morto, Fawkes pertencia a ele, devia ter sumido, só devia fidelidade a ele, só em coisas que diziam respeito a ele. Tenho tentando tanto entender como ela apareceu, como isso aconteceu...


         - Harry...


         - Me diz. Me diz como aconteceu. – ele pediu, parecendo mais perturbado que antes. – Isso vem me enlouquecendo.


         - Fawkes voltar a aparecer não quer dizer que Dumbledore está vivo. – ela disse, olhando no fundo dos olhos dele, sabendo que toda a angústia vinha da ânsia de saber se era possível o antigo Diretor ainda estar vivo.


         - Como você sabe?


         Ela sorriu docemente, pegando-o pelo braço, fazendo-o se sentar na poltrona em frente à lareira.


         - Fênix nunca morrem. Ainda que o dono delas tenha morrido, elas permanecem por toda a eternidade.


         - Eu sei, mas...


         - Não sei como responder sua pergunta Harry. Eu adoraria saber, mas não tenho idéia. Porém, acho que Fawkes sempre soube que a devoção e a lealdade sua para com Dumbledore continua firme e forte como se nada houvesse acontecido. Você ainda é um homem de Dumbledore, vem se comportando como tal, lutando bravamente, como ele queria que fizesse.


         - Mas...


         - Sua lealdade a ele também é eterna, Harry. Assim como Fawkes. Você é um dos poucos que continua leal a ele, se não for o único. Quando você precisou dela no Segundo ano, ela te ajudou. Você precisou agora e ela tornou ajudar.


         - Mas não era eu... Era você. Não tem sentido.


         - Talvez alguma coisa que tenha dito, ou feito. Fênix são extremamente sensíveis a sentimentos verdadeiros, elas sabem reconhecer quando vêem um. Pense nisso. – ela disse, com uma piscadela.


         Ele assentiu lentamente.


         Minutos depois os dois estavam de volta ao peitoril da janela, sentados lá, como de costume, Hermione entre as pernas de Harry, encostada no peito dele, enquanto o rapaz mantinha seus braços bem firmes em volta dela.


         Hermione brincava com uma das mãos dele entre as suas, sem dizer uma só palavra.


         Os dois permaneciam silêncio.


         Mas Harry, que encostara sua cabeça no vidro frio, estava ainda tumultuado por dentro, sua cabeça fervilhava pensando em tudo que Hermione dissera minutos antes.


         A voz dela repetia constantemente na cabeça dele: “Talvez alguma coisa que tenha dito.”


          E então, vinha a lembrança de sua própria voz gritando: EU NÃO SEI VIVER SEM VOCÊ! EU NÃO SEI...   Eu não sei... Eu amo você.


         E a voz dela voltava a ecoar: “Fênix são extremamente sensíveis a sentimentos verdadeiros, elas sabem reconhecer quando vêem um.”


         E de novo, a lembrança: Eu amo você.


         Não podia ser.


         Não desse jeito.


         - Mione... – ele chamou, a fim de sanar suas dúvidas. – Acha que...


         Ele a fitou.


         Ela dormira.


         Dormira com a mão dele entre as suas.


         Dormira entre os braços dele.


         Ele sorriu ao contemplá-la, carregou pra cama e deitou-se ao lado dela.


         Eu amo você.




***




- Olha, Harry!


         Ele olhou, e se surpreendeu consigo mesmo achando a imagem simpática.


         - É... É um mini-caldeirão?


         - É! E é cor e rosa!!! – disse Hermione, eufórica. – Vamos...


         Ela tomou a mão dele e o puxou para dentro da loja.


         - E o que é que você está fazendo?


         - Para nossa afilhada. – ela disse.


         Harry riu, mas aceitou a sugestão de bom grado. Estava amando essa coisa de ser padrinho, e Hermione tornava tudo mais fácil, afinal, a parte séria da coisa ele podia deixar pra ela, que era boa nisso... E apenas se preocupar em mimar a pequena.


         - Falei com a Sra. Weasley e com Lupin. – ele disse, enquanto a via escolher o caldeirão mais cheio de frescuras da loja. – Eles nos autorizaram a ir para Brighton.


         - Sério? – ela o fitou. – Sem perguntas?


         - Sim. A única coisa que me perguntaram é como eu soube da casa.


         - Eles sabiam?


         - Lupin sim, a Sra. Weasley não. Lupin disse que havia até se esquecido. Mas não falaram nada, não contestaram... Lupin disse que não pode ter lugar mais seguro. Segundo ele, o próprio Dumbledore fez os feitiços de segurança da casa.


         - Uauuuu. – ela murmurou, levando o caldeirão para o caixa.


         - Incrível não? – ele parecia animado com idéia. Depois completou, com voz amena. – Meus pais iam pra Brighton... Estavam se preparando para ir quando Voldemort entrou em casa, aquela noite.


         Hermione o fitou com carinho, afagou os cabelos dele, bagunçando-os.


         - Vai ser ótimo. – ela disse.


         - Isso quer dizer que você vai?


         - Recebi uma carta dos meus pais hoje pela manha. Brighton nos espera.


         - Maravilha! – ele riu, abrindo a porta para que ela pudesse sair da loja. - Onde vamos arranjar as fantasias? – ele perguntou, voltando a rua principal de Hogsmeade, onde a neve embelezava a paisagem.


         - Tem uma loja próxima ao fim da rua. – ela respondeu, olhando em volta. – O que acha que Rony e Sam vão vestir na festa?


         - Não sei, mas Sam é original e trouxa, acho que será algo bem interessante.


         - Certo, e o que você vai vestir?


         - Achei que você resolveria isso.


         - Por que eu resolveria? Tenho a minha própria fantasia para me preocupar. – ela disse, com graça.


         Mas Harry parou no meio da rua, o que a fez parar também e o encarar com dúvida.


         - O que? Foi uma brincadeira... – ela disse, na defensiva.


         - Eu... Você vai escolher nossa fantasia. Até onde eu sei, desde o dia que recebemos o bilhete, ficou implícito que íamos juntos ao Baile, visto que Rony já tem um par.


         Hermione piscou, abriu a boca, mas a fechou antes de falar qualquer coisa.


         - Harry... – ela começou, se sentindo imensamente culpada.


         - Não me diga que...


         - Sinto muito. – ela falou, extremamente desconcertada.


         - Não! Eu não acredito nisso, Hermione. – ele se zangou e saiu andando pela rua movimentada, ela se adiantou e o pegou pelo braço.


         - Você não me convidou!


         - Eu pensei que não precisasse de convite, afinal você é Hermione! A minha Hermione!


         Ela não soube o que responder. Engoliu seco sentindo os olhos profundamente magoados dele sobre si.


         - Harry, eu... Eu não achei que fosse querer ir comigo...


         - E com mais eu iria querer ir?


         - Eu jamais te deixaria na mão se soubesse que me queria como par no Baile.


         Ele a encarou, incrédulo.


         - Eu achei que me conhecesse, Hermione.


         Ela se sentiu ofendida.


         - Não diga um absurdo desses! Você sabe que...


         - Não o suficiente, pelo que vejo.


         Ela largou o braço dele se sentindo realmente machucada agora. Como ele podia ter a coragem de jogar esse tipo de coisa na cara dela? Justo dela, que faria qualquer coisa por ele?


         - Você está sendo egoísta.


         - Eu estou sendo egoísta? – ele repetiu, indignado. – Não fui eu que arrumei outro par e deixei meu melhor amigo achando que teria companhia para o Baile.


         - Eu não poderia adivinhar que você iria me convidar...


         - Eu não iria. Achei que estivesse subentendido.


         Eles trocaram olhares de pura mágoa.


         - Sinto muito. – ela murmurou, baixinho, desviando o olhar do dele, recomeçando a caminhar e passos lentos.


         - Com quem você vai? – ele perguntou, sério, encarando as costas dela.


         - Matt. – ela respondeu, sem olhar pra trás.


         Hermione voltou a andar e se perdeu no meio da multidão de estudantes que passeavam ali, Harry permaneceu parado, sentindo a neve fina cair sobre si.


         Sentindo-se despedaçado por dentro. E, de alguma forma, estranhamente traído.


         Não esperava isso dela. Jamais achou que Hermione fosse capaz de fazer isso com ele.




***



         Lançou um olhar descontente a sua fantasia, sobre a cama.


         Não era assim que imaginava que seria seu último Baile. Não imaginara que estaria se sentindo triste, culpada e magoada. Muito menos com Harry.


         Saiu em completo desanimo, passou pelo Salão Comunal sem olhar para os lados e tomou os corredores frios do Castelo.


         Já passava das nove da noite, inventar uma ronda qualquer pelo menos a faria espairecer.


         - Hei... – alguém chamou.


         Hermione olhou em volta e não viu nada.


         - Hei, Hermione.


         Reconheceu a voz e olhou pra trás.


         - Oi.


         - Chá?


         Vendo que não tinha nada melhor a fazer, a não ser remoer seu próprio remorso, ela assentiu.


         Entrou na sala bem organizada de Matt, enquanto esse pedia o chá para um elfo.


         - Como você está?


         - Bem. – ela respondeu, sentando-se na poltrona em frente a lareira.


         - Não me parece bem.


         - Tive uma pequena discussão com Harry hoje.


         - O que houve?


         - Ele, aparentemente, achou que iríamos juntos ao Baile. Eu e ele.


         - Huuuu... – Matt fez uma careta e sentou-se no chão, em frente da garota. – Aposto que ele não foi muito gentil.


         - De fato. – ela disse, com um leve sorriso.


         - E aí?


         - Disse a ele que já tinha par, que havia aceito porque ele não tinha me convidado.


         - E ele?


         - Disse que imaginava ter ficado subentendido que íamos juntos.


         Matt riu alto, Hermione fez o mesmo dando-se conta do absurdo que falara.


         - Convites para Bailes não ficam subentendidos. – disse Matt. – O Potter, às vezes, consegue superar o Weasley.


         - É... – Hermione disse, incerta. – De qualquer forma, me senti culpada.


         - Por não subentender o que o Potter quis que subentendesse? – Matt indagou, com um riso devastador.


         - Eu não sou obrigada a entender tudo, não é?


         - É claro que não. Você vai ao Baile, será a deusa grega mais estonteante que esse Castelo já viu e, com certeza, será a mais invejada da noite.


         Ela riu com vontade, sentindo seus músculos relaxarem da tensão que enfrentara o dia todo.


         - Posso saber por quê?


         - Por quê? Não é óbvio? É a primeira aluna de Hogwarts que vai a um baile com um professor!


         Ela parou de rir de repente.


         - Sua mãe...?


         - Ela vai ter que entender.


         - Não teve que conversar com ela sobre isso?


         - Eu deixei subentendido.


         Hermione riu, aninhando-se na poltrona. Matt era bom em fazê-la se sentir bem, mesmo quando ela se sentia um lixo.


         Ele era bom em fazê-la sorrir.


         Quase tão bom quanto Harry.


         Ela parou, preferiu tirar Harry da mente, por hora, não queria estragar o pequeno momento de felicidade que estava tendo.




***



         - Sam que escolheu. Corro... Gorro... Morro... Vorro...


         - Zorro! – Harry disse, impaciente, assustando Neville e Rony que conversavam animadamente sobre suas fantasias.


         - É! Isso! Zorro.


         - O que é Zorro? – perguntou Neville.


         - Não sei bem... Uma coisa trouxa que ela disse que é interessante.


         - Hum...


         Os dois continuaram imersos no assunto. Harry não estava nada animado para participar dele. Levantou-se sem dizer nada e saiu do Salão Comunal.


         No primeiro corredor que virou trombou com alguém.


         - Oh, Harry, desculpe.


         - O que houve, Gina? – ele perguntou, vendo que a garota tinha os olhos inchados.


         - Acabei de ser rejeitada. – ela murmurou. – Depois de ter comprado minha fantasia e preparar tudo, ele me trocou por outra...


         - Quem? – Harry perguntou, sem conseguir se lembrar com quem que Gina estava saindo, que só podia ser do sétimo ano.


         - Não vale a pena comentar. Me deixe passar Harry...


         - Não. Espere. – ele a segurou pelos ombros. – Se não se importar de não combinar as fantasias, podemos ir ao baile juntos, o que acha?


         - Achei que fosse com Hermione...


         - Eu fui... Meio que rejeitado também.


         Ela abriu um sorriso agradecido.


         - Seria ótimo Harry. Obrigada.


         - Nãos seria justo com você, depois de ter gasto com a fantasia, não poder ir ao baile, não é?


         Ela assentiu.


         - E então? Posso saber com que tipo de criatura eu vou ao Baile?




***



         - Ai!


         Hermione olhou para a pessoa com a qual tinha colidido. Toda a alegria que sentia sumiu.


         - Desculpe. – Harry disse, sério.


         - Sem problemas. – ela falou, o fitando.


         - Ronda?


         - É. – mentiu. Já passava da meia noite e tinha acabado de deixar a Sala de Matt.


         - Hum...


         Ficaram em silêncio.


         - Eu... Já vou indo. – ela murmurou.


         - Certo, eu também...


         - Certo.


         Eles caminharam juntos até o Quadro da Mulher gorda e ao entrar no Salão Comunal não viram ninguém.


         Harry sentiu um aperto no coração, se não estivessem na situação que estavam, ele a pegaria no colo e a jogaria no sofá, lhe faria cócegas até que os gritos dela acordassem todo o Castelo.


         Eles se fitaram por um instante, sem conseguir frear seu extinto, Harry pousou uma das mãos levemente sobre a bochecha dela. Um traço de um sorriso tímido surgiu no rosto dela no momento que seus olhos se fecharam inconscientemente.


         Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, mão dele a abandonou e Harry subiu as escadas para o seu dormitório sem sequer olhar para trás.


         Hermione permaneceu ali parada, ainda sentindo o calor do toque dele em seu rosto, tentando entender como havia chego àquele ponto.


         Como haviam conseguido estar tão ligados e tão unidos e ainda assim se ressentirem um com o outro.


         Entender como numa noite horrível ele quase a assistira morrer, e como conseqüência, quase morrera de desespero; em outra a beijara como se não houvesse amanhã para salvar-lhes a vida, e essa noite conseguia ser tão frio e indiferente.


         Seguiu para seu quarto, se sentindo mal, triste...


         No mesmo instante que a porta da garota se fechou, Harry apareceu ofegante no Salão Comunal, na esperança de ainda encontrá-la ali.


         Não.


         Ela já se fora.


         Se sentou em sua poltrona preferida derrotado.


         Não acreditava no que estava acontecendo, ainda naquela manhã estavam bem, comprando presentes para sua afilhada.


         E então, tudo desmoronara...


         O que havia acontecido?


         Ela o magoara profundamente aceitando convite de Matt... Preferindo o professor, a ele, seu melhor amigo.


         Era muita ingratidão da parte dela, depois de tudo que eles haviam vivido nos últimos dias. Depois de vê-la quase morta em seus braços e se sentir a maior dor que já sentira em toda sua vida. Depois de salvar a vida dos dois, beijando-a aquela noite...


         Ele balançou a cabeça. Como vinha tentando não pensar nisso... Vinha se esforçando e dando tudo de si para não se lembrar disso, não se lembrar do quanto queria aquilo a cada segundo que passava.


         Na hora, todo o nervosismo e adrenalina não o permitiram sentir. Mas ao colocar sua cabeça no travesseiro aquela noite e todas as outras que a seguiram, não pensava em outra coisa.


         Se punia.


         Como se punia e se amaldiçoava... Mas não podia evitar, estava ficando cada vez pior, era impossível...


         Levantou-se de repente, passou as mãos nos cabelos, despenteando-os ainda mais, e voltou para seu dormitório.


         Não pensaria nisso.


         Não podia.


         Não devia.


         Não queria.


         Mentira.


         Queria.


         Mas tinha que fingir que não queria, talvez ajudasse a não pensar.


         Deitou-se, respirando fundo.


         Não podia ficar longe dela, não podia permanecer naquela situação. Não podia evitá-la, não conversar ou ignorá-la.


         Daria um jeito nisso no dia seguinte.






***





         - Sabe onde está a Monitora Chefe? – Harry perguntou a um garotinho do segundo ano.


         - Em frente a Biblioteca. – ele respondeu.


         - Obrigado.


         Harry apertou o passo, estava disposto a esquecer tudo, até mesmo o fato dela tê-lo deixado para escanteio. Não podia viver sem ela, e já estava tudo resolvido, iria com Gina, uma amiga, ela iria com Matt, um amigo. Estava tudo bem.


         Virou para o corredor da biblioteca a viu, parada perto da porta, conversando animadamente com Matt.


         Era domingo, não havia aulas, não havia nada o que fazer com Matt.


         Ele avançou dois passos, mas viu ela assentir pra alguma coisa que ele disse, e ele – pervertidamente, na visão de Harry – tocou o braço dela e a conduziu corredor a fora, para o lado oposto ao qual ele estava.


         Então seria assim?


         Era assim que ela queria brincar?


         Era assim que ela queria jogar?


         Ótimo.


         Ele faria o jogo dela.






***





         - Uau, Hermione, você está incrível! – Gina disse, ao entrar no quarto da amiga, na noite daquela quarta-feira.


         A semana se arrastara em horas intermináveis para ela, que parecia ter levado um milênio para ir de sábado a quarta.


         - Obrigada. – ela disse, olhando seu reflexo no espelho.


         De fato, caprichara.


         Sua fantasia de grega era longa, branca, num tecido bem leve e cintilante, um dos ombros estava nu, enquanto a alça do outro tinha um adorno em dourado. Seus cabelos presos numa trança frouxa, caída pelo ombro, e pequenas flores brancas estavam espalhadas por toda a cabeça.


         Ela sentou-se na cama e calçou as sandálias douradas, rasteiras, que amarravam até acima do tornozelo.


         - Uouuu! – Hermione exclamou, ao olhar para a ruiva, vestida de Odalisca, com a fantasia com verde musgo, com a barriga de fora. – Vai fazer sucesso.


         - Nem queria mais ir ao Baile, só estou indo por causa do Harry.


         Hermione estacou a meio caminho da penteadeira, aonde ia por os brincos.


         - O que tem o Harry? – ela perguntou.


         - Aparentemente foi rejeitado. Eu também fui. Ele me convidou.


         Hermione sentiu o sangue correr rápido nas veias. Não sabia se ficava mais brava com o fato dele ter dito que foi rejeitado, uma vez que Hermione sequer tinha recebido um convite para rejeitar; ou se ficava brava com o fato de ele ter convidado Gina para ir em seu lugar.


         Gina?


         Ele a substituíra por Gina?


         Por Gina?


         - Hermione? Tudo bem?


         - Tudo. – ela respondeu, como se acordasse de um transe. Tomou seu caminho de volta a penteadeira e apanhou os brincos também dourados. - Você e o Harry... – ela começou, como quem não queria nada.


         - Eu e o Harry? – Gina repetiu, se postando ao lado da amiga para olhar-se no espelho.


         - Você quer voltar com ele? – ela foi objetiva.


         - Não! – Gina disse. – Não. Ele está me fazendo um favor, e eu um a ele. Já passei dessa fase. Não o quero mais, pode ficar pra você. – ela completou com um sorriso junto a uma piscadela.


         Hermione a fitou, irritada.


         Não queria Harry pra ela.


         Só não o queria com Gina.


         Era diferente.


         - Não o quero.


         - Por que está com ciúmes, então?


         - Não estou.


         - Está. Sabe, Hermione, não devia fazer isso.


         - Isso o que? – Hermione terminou de colocar os brincos e olhou para Gina, que já abrira a porta para deixar o quarto.


         - Dar esperanças a um, enquanto ama outro.


         A ruiva se foi, fechando a porta, deixando Hermione perplexa a olhar para o nada.


         A garota balançou a cabeça. Não estava fazendo nada disso, Gina estava louca, como sempre.


         - Deixe de pensar nisso... Deixe...


         Uma última verificada no visual e ela expirou forte.


         Como queria que Harry estivesse a esperando no fim das escadas de mármore, vestindo uma armadura grega, com um escudo. Com aquele sorriso que ele só sorria pra ela.


         Sentou-se, desanimada, não queria ir. Não queria aquilo. Queria que Harry entrasse em seu quarto nesse momento, dissesse que estava tudo bem que estavam sendo tolos... Que se apertasse com ela naquele parapeito e sussurrasse coisas sem nexo em seu ouvido.


         Queria somente seu Harry de volta.


         - Meu Harry? – ela indagou, escandalizada. – Não é meu Harry.


         Levantou-se, juntando coragem e andou até a porta. Um aceno da varinha e as luzes se apagaram, uma bela lua cheia banhou o quarto. Eram as noites preferidas, as de lua cheia, quando o quarto ficava iluminado de prata, e eles dois se juntavam pra observar, enquanto seus corpos juntos pareciam totalmente familiarizados um com outro. Durante esses dias sem Harry, ela se sentiu solitária, sozinha, entendeu perfeitamente o imenso significado que um olhar pode ter, ou um toque, um simples toque. Sempre que Harry a olhava, sempre que ele a tocava, não precisava ser nada de mais, mas ela tinha certeza que era importante pra ele, que era querida, de alguma forma.


         Nunca imaginou que sentiria tanta falta daqueles olhos verdes de olhares furtivos, daquela voz que acalmava, rouca, aquela que causava uma série e arrepios seguidos, sem explicação. Ela sentia falta dele, da presença dele, do toque, do olhar, da atenção... Precisava dele.


         Ela suspirou, fechou a porta e seguiu para o Salão Comunal.


         Antes demorasse mais para fazê-lo, ao terminar as escadas deu de cara com Harry, muito elegante, por sinal, fantasiado de Vampiro. Um Vampiro de muita classe, com sua capa de golas altas. Era incrível como a fantasia caíra bem com a pele branca, cabelos negros e incríveis olhos verdes. Olhos verdes esses que se derramaram sobre ela no momento em que ela apareceu.


         Seus olhares se cruzaram pelo que pareceu uma eternidade.


         Tudo em volta pareceu parar.


         Os olhares tão intensos um no outro, não pareciam ler mentes, e sim ler almas. Ia além do explicável.


         Foi quando tudo finalmente se explicou.


         Uma Deusa Grega.
         Uma Deusa de fato.


         Nada mais que Harry pudesse dizer descreveria o que ele estava vendo, muito menos o que ele estava sentindo.


         Eles estavam machucados, feridos e magoados um com o outro.


         Orgulhosos.


         Ambos eram orgulhosos o suficiente para continuar sofrendo a dar o braço a torcer e pedir desculpas.


         Harry tentara, mas a tentativa o levara a se ferir mais.


         Hermione não era mais a mesma.


         - Não é mais a minha Hermione.


         Ela franziu o cenho no momento que a voz de Harry ecoou em sua cabeça.


         Não fora proposital, logo, ele tentou pedir desculpas, mas Gina passou entre os dois e tomou o braço de Harry, retirando-os do transe.


         - Estou te chamando há pelo menos dois minutos, Harry. Será que podemos ir?


         - Claro. – ele murmurou, deixando o Salão Comunal, ainda olhando para Hermione.


         Ela sentiu seu coração se comprimir dentro do peito.


         O que ele quisera dizer?


         Como ela não era mais a Hermione dele?


         Desde quando era dele?


         - Desde que ele é seu Harry. – escapou de seus lábios numa estranha compulsão.


         Ela pensou estar enlouquecendo e deixou o Salão Comunal, combinara de encontrar Matt no Saguão de Entrada.


         Seus passos silenciosos corriam o chão bem polido dos corredores, sua fantasia esvoaçando levemente enquanto andava.


         Andava com pressa.


         Só não conseguia definir o porquê.


         Talvez quisesse chegar logo e encontrar Matt, que, no momento, era a única coisa mais próxima de um amigo que ela tinha.


         Estava vulnerável, estava perdida, qualquer deslize e ela faria uma besteira.


         Sua razão parecia tê-la abandonado.


         Era movida pelos sentimentos, que no momento, não eram amistosos.


         Talvez estivesse correndo para chegar logo ao Salão Principal e poder olhar pra Harry.


         No estado que estava só o fato de poder olhá-lo já a conformava de alguma forma.


         Virou o último corredor para encontrar a escadaria de mármore.


         Lembrou-se de um segredo.




***




N/a: “AMOREEEEEEEEEEEEEEEEEEES DA MINHA VIDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, daqui até a eternidade”




AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH




Se alguém pudesse morrer de saudade, eu já estaria bem mortinha há um bom tempo.




Que falta que senti de vocês.


Vocês não têm noção.


Minha frustração dos últimos meses era tentar todo dia, TODO SANTO DIA, regularizar essa coisa [lê-se: &^%$%$#] e NADA!




Mas agora eu estou de volta.


Mais feliz que nunca.


Graças a gripe não tem aula. Vou poder terminar o epílogo e terminar essa história que fez aniversário esse mês.


Três anos.


A fic já anda e já fala.


Ahsuhushuahsuhauhsa




EU queria agradecer DEMAIS,


De TODO o meu coração,


E ETERNAMENTE,


A todos vocês, meu leitores lindos mais maravilhosos do mundo, por todos os comentários estonteantes que você deixaram durante a minha longa ausência.


Agradeço muitoooo a cada um de vocês pela paciência, pelo apoio e principalmente pela fidelidade para comigo e com a fic.


Você não tem noção do quanto isso significa pra mim.


Muito obrigada mesmo.




E eu tenho que agradecer, claro, a Letícia, que acabou ficando de pombo correio entre eu e vocês. Valeu, Letícia, por tudo.




E, agora, indo ao que realmente interessa: o que vocês acharam do capítulo???


A fic ta na reta final, e é quando TUDO acontece.


TUDO MESMO.


Vocês nem têm idéia do que está por vir.




Me perdoem pela ausência mais do que longa, mas vocês sabem que se dependesse apenas de mim eu jamais teria feito algo assim com vocês.


=]






Porque eu amo vocês.


Cada dia mais.




Mas uma vez, obrigada.




Beijoooooo.




Ah, é claro: COMENTEM!

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