Segredo



         Sob a capa, eles caminharam num silêncio risonho pelos corredores.


         Insanos.


         Eram totalmente insanos.


         E, por incrível que pareça, dos dois, naquele momento, ela era a mais insana das criaturas.


         - Pisou no meu pé! – ela sussurrou, em meio uma risada.


         - Desculpe. – ele disse, rindo também.


         Eram todo risos.


         Abobados.


         Sonados.


         Débeis.


         Estavam num estado deplorável.


         Excitação e uma felicidade radiante pulsavam quente em suas veias.


         Não tinha tempo para pensar no quão infantis e irresponsáveis estavam sendo.


         Saíram do Castelo e ganharam os jardins secos do inverno iminente.


         Andaram por pouco tempo, sob risos abafados até chegarem ao ponto desafio da noite.


 


- - - - -


 


Agora ela estava no topo da escada de mármore, com lembranças felizes correndo em sua mente. Não se permitia pensar nisso, da mesma forma que Harry não se permitia. Haviam deixado implícito que essa noite jamais poderia ser lembrada.


         Mas evitar a lembrança, naquele momento que ela havia caído do que não fora um queda pequena, era impossível.


         Harry sempre a colocara no alto. Sempre em primeiro lugar.


         Agora ela era nada pra ele.


         E sentia que era nada para si mesma.


 


*Anyone who ever felt like I do 

Qualquer um que algum dia já se sentiu como eu, 

Anyone who wasn't ready to fall 

Qualquer um que não estava preparado para cair, 

 


- - - - -


 


         - Você faz! - ele disse.


         - Você faz, você que deu a idéia...


         - Você que aceitou.


         - Não faz sentido...


         - Anda logo.


         - Você é homem. Você faz.


         Ele bufou e buscou um galho resistente.


         - Você consegue! – ela encorajou.


         - Huhum... – ele murmurou, com todo o cuidado do mundo, pôs-se a trabalhar.


         Segundos depois tudo parou em volta.


         - Aah! – ela gritou. – Você é o máximo!


         Ele a ignorou por completo.


         Apenas escorregou pra dentro, lugar escuro, úmido.


         Quando bateu no chão, esperou para se levantar, segundos depois Hermione caiu sobre si.


         - Ooooops! – ela murmurou, se sentando.


         - Anda logo! – ele disse, impaciente, puxando-a pela mão.


         Andaram pouco segundos, quando finalmente encontraram a porta do alçapão.


         Harry a abriu e subiu, virando-se para puxá-la pra cima.


         Ambos se colocaram de pé, olhando em volta.


         - Esse lugar ainda me dá arrepios. – ela disse, baixo.


         - Faz tanto tempo... – Harry murmurou, tomando a mão dela.


         Subiram o primeiro lance de escadas sem se preocuparem muito em olhar em volta, estava escuro, só a luz da lua entrando pelos vidros das janelas mal cuidadas iluminava o lugar.


         - Por aqui...- ele disse, puxando-a para um o fim do corredor onde abriu uma porta estreita, que revelou uma escada mais estreita ainda.


         - Harry...


         - Está tudo bem.


         Ele subiu na frente, com seus pés levantando lufadas de poeira conforme tocava o chão.


         A escada terminou, e Hermione soltou um suspiro.


         - Uau!


         Não havia teto.


         Não naquela parte da casa, pelo menos.


         Então, eles podiam visualizar o céu estrelado e limpo se olhassem para cima.


         - Acho que é aqui que vamos ficar, então. – ele disse, tirando a mochila que carregava das costa e colocando-a no chão.


         - Sabe... – ela começou, quando ele se ajoelhou ao lado da mochila e começou a mexer dentro dela. – Acho que não foi uma idéia muito inteligente... Afinal, é a Casa dos Gritos.


         Harry a encarou, olhando pra cima.


         - Não consigo imaginar lugar melhor. – ele disse, apontando para o alto.


         Ela seguiu a direção indicada, viu a lua resplandecer prateada sobre sua cabeça.


         - É... – ela soltou, com um traço de riso. – Talvez tenha sido sim uma boa idéia.


         Harry riu, tirando umas coisas da mochila.


         - O que? – ele perguntou, ao vê-la olhar aterrorizada.


         - Assaltou a cozinha?


         - Sim. E seu quarto também. – ele respondeu, terminando de tirar pelo menos meia dúzia de garrafas de cervejas amanteigadas da mochila, bem como dois cobertores.


         Hermione riu bobamente, como vinha fazendo a maior parte da noite, e o ajudou a esticar os cobertores no chão.


         - Esqueci os travesseiros... – ele murmurou.


         - Deixa comigo. – com a varinha, ela vez quatro travesseiros aparecem já devidamente colocados sobre as cobertas no chão.


         - Muito bom. – ele elogiou.


         - Obrigada.


         Se acomodaram entre as cobertas e travesseiros, deitados, cada um no seu lugar, olhando para cima.


         - Realmente, uma boa escolha. – ele disse, observando o céu repleto de estrelas.


         - Eu sempre faço excelentes escolhas. – a voz dela soou extremamente narcisista.


         - Certo, Srta. Convencida, vamos comemorar então, afinal é pra isso que viemos até aqui. – ele disse, voltando a se sentar, pegando uma das garrafas e estendendo para ela.


         Ela apanhou e abriu, esperando que ele fizesse o mesmo.


         - Ao fim da tradução... – ele começou, erguendo a garrafa, assim como ela.


         - ... e ao fim que essa tradução dará a Voldemort. – ela completou.


         - E a você, a pessoa mais importante da minha vida.


         Ela piscou, depois sorriu.


 


- - - - -


 


E tudo que ela pensou que era verdade, tudo que ela imaginou que era contos de fada, mas, que, por incrível que pareça, estava acontecendo com ela, ruiu-se perante seus olhos.


 


*Anyone who loved like I do 

Qualquer um que amou como eu, 

Knows it never really happens at all 

Sabe que isso nunca acontece realmente. 

 


- - - - -


 


         - A nós, então. – ela sibilou.


         As duas garrafas se chocaram no ar com um estalido, e permaneceram ali por algum tempo, enquanto os dois se fitavam.


         Harry sorriu pra ela e bebeu um gole de sua garrafa, enquanto a observava fazer o mesmo.


         - Então, tradução terminada, seu prêmio está pago, não te devo mais nada.


         - Eu traduzo mil páginas e você me trás aqui e acha que estamos quites? – ela perguntou, fingindo incredulidade.


         - Foi o que você pediu.


         - Por enquanto.


         - Oh, Merlim!!! Já estou vendo que você jogará isso na minha cara pelo resto da minha vida.


         - Pode apostar. – ela sorriu.


         Eles beberam mais alguns goles em silêncio.


         - Temos aula amanhã. – ela disse, sem aparentar real preocupação com o fato.


         - Eu sei.


         - Ninguém precisa saber que estivemos aqui, não é?


         - Ninguém.


         - Ótimo.


         - Ótimo.


         Eles se fitaram.


         Terminaram suas garrafas.


         Pegaram mais duas.


         - Vamos mesmo nos embebedar?


         - Duas garrafas não embebedam ninguém. – ele disse, abrindo a segunda pra ela.


         - Isso é loucura.


         - Eu sei. – ele respondeu, fazendo outro brinde. – Já reparou que todos os momentos que estamos juntos se tornam loucuras?


         Ela o fitou e ponderou por poucos segundos.


         - Talvez. A maioria deles. – ela falou, constatando.


         - Acha ruim? – ele perguntou, depois de mais um gole.


         - Não. Não de todo ruim. – ela disse, meio vaga, olhando em volta. – Esse lugar está imundo.


         - Todo ruim? – ele repetiu.


         Ela continuou olhando em volta algum tempo. Depois o encarou.


         - Loucuras são chamadas loucuras porque, certamente, excedem limites. – ela disse, fitando os olhos dele. – Uma vez que passamos dos limites nos expomos a perigos. Isso é ruim.


         - E por que nossas loucuras não são de todo ruim, já que, ao que me parece, você as considera péssimas.


         - Porque faço loucuras com você. – ela falou, simplesmente, dando a conversa por encerrada.


         Mas ele não pareceu convencido.


         - E isso te deixa segura, de alguma forma?


         - Estou com você. Não importa quão longe formos dos limites, você jamais deixaria algo de ruim acontecer comigo. Você jamais me machucaria.


         Ele a fitou demoradamente, enquanto ela sorria de leve, terminando a segunda garrafa.


         - Você é completamente louca. – ele disse, por fim, entregando a ela uma terceira garrafa.


         Ela o olhou, indignada.


         - Me desculpe por confiar cegamente em você. – ela disse, com ironia, abrindo a garrafa.


 


- - - - -


 


Pôde vislumbrar Matt no fim da escadaria.


Não era ele quem ela queria.


Estava acabado.


Não podia se lamentar.


 


*It's over when it's over 

Está terminado quando está terminado. 

What can I do about it 

O que posso fazer a respeito disso, 

Now that it's over 

Agora que terminou?

 


 


- - - - -


 


         - Não. Não desculpo. – ele disse, sério. – Sabe muito bem que corre mais perigo do meu lado que em qualquer outro lugar.


         - Não me venha com essa conversa de novo...


         - Não quer falar sobre isso porque sabe que está errada.


         - Harry...


         - Admita.


         Eles se fitaram por alguns longos segundos.


         - Certo, - ela bufou. – Corro mais perigo ao seu lado que ao lado de qualquer outra pessoa no mundo. Mas eu tenho uma atração irremediável pelo perigo, atração essa que aprendi com você, portanto nada de sermões.


         Ele pareceu zangado.


         Ela o ignorou.


         Tomou sua cerveja enquanto ele a encarava.


         Minutos depois a gargalha dele soou alta, ela se assustou.


         - Você é incrivelmente teimosa.


         - Oh! – ela se sentiu ofendida. – Olha quem fala!!!


         Ele riu terminando sua quarta garrafa, enquanto ela acabava a quinta.


         De repente ele tomou a garrafa da mão dela e largou no chão junto a sua.


         - Não vou te embebedar.


         - Cinco garrafas não podem embebedar ninguém – ela reclamou, fazendo-o rir.


         - Podem começar a embebedar. – ele disse, puxando-a junto a si, deitando-se nos travesseiros fofos conjurados por ela.


         Ela deixou de pensar nas cervejas no momento que ele a envolveu entre os braços fortes, quando pôde senti o perfume dele em sua pele; quando pôde se aninhar a ele, sentindo todas as sensações estranhas indo e vindo...


         Hermione sentiu Harry respirar fundo, quando ela finalmente se acomodou junto a ele.


         Eles se calaram por muito tempo, apenas olhando o céu.


         O céu que estava, pra dizer o mínimo, estonteantemente lindo.


         Limpo, cheio de estrelas, e a lua... Sua luz prateada era tudo que iluminava o lugar.


         - Perfeito... – ela sussurrou.


         - Acho que gostou da nossa comemoração.


         - Acho que não poderia ser melhor.


         Ele tomou o rosto dela em uma das mãos, fazendo-a encará-lo.


         Ela o fitou, calmamente, ainda que seu sangue pulsasse forte nas veias, sentido a respiração dele sobre si.


         - Obrigado.


         - Não há...


         - Não diga que não há o que agradecer, porque há, e você sabe disso.


         Os olhos dele foram amavelmente duros ao dizer isso.


         Ela não respondeu.


         - Hermione...


         - Não. Por favor. – ela disse, suavemente. – Não diga mais nada.


         Ele a fitou por pouco tempo, até voltar a olhar para o céu.


         Ela não o permitira continuar, porque sabia o que viria pela frente.


         Eles tinham um pequeno impasse.


         Impasse o qual não estavam querendo resolver.


         Para o próprio bem deles.


         Para manter a própria sanidade.


         - Uma estrela cadente! – ela disse, apontando para o alto.


         Eles viram uma estrela atravessar o céu.


         - Faça um pedido. – ele disse.


         - Não sei o que pedir.


         - O que você mais quer na sua vida.


         - Você sabe...


         - Não. Não vale pensar em Voldemort.


         - Então...
         - Algo que você queira. Sempre quis. Independente de tudo que está acontecendo. Pode ser a coisa mais idiota do mundo. Apenas peça.


         - Você também vai pedir?


         - Vou.


         - Certo.


         Eles fecharam os olhos ao mesmo tempo e fizeram seus pedidos.


         Harry abriu os olhos e riu.


         - Agora me conte o que você pediu! – ele disse.


         - HEI! – ela gritou, dando um tapa no peito dele.


         - Ai! – ele reclamou, rindo. – O que?


         - Se eu contar, não vai se realizar.


         - Claro que vai... Besteira isso... Superstição. Seu pedido não vai deixar de ser realizado porque você me contou. – ele explicou, com graça.


         - Ah, claro, isso é superstição. – ela soou mortalmente irônica. – E fazer pedidos a estrelas cadentes é totalmente real e aceitável.


         - OH! – ele fingiu indignação. – Quer dizer que você não acredita no poder da estrela cadente?


         Ela não agüentou, e riu com gosto do tom que ele usou.


         - Acredito. – ela disse, suavemente. – Claro que acredito.


         - Ufa! Por um momento pensei que você estivesse duvidando dos poderes dela.


         Ela riu ainda mais, virando-se para encará-lo. Encontrou os olhos dele sobre si.


         - Você acredita?


         Ele piscou, o sorriso se atenuou, mas não sumiu.


         - Claro.


         - Acredita de verdade, ou apenas prefere acreditar?


         Ele a fitou, ela era esperta.


         - As duas opções. Prefiro acreditar que é verdade.


         - O que você pediu, então?


         - Ora, ora! – ele riu. – Quem é que está quebrando as regras da estrela cadente agora?


         - Você disse que essa regra era apenas superstição.


         Ele ficou sério.


         - Usando minhas próprias palavras contra mim mesmo?


         - Exato. – o sorriso dela se alargou.


         - Por que quer saber?


         - Porque se souber o que você pediu saberei se você realmente acredita no poder da estrela cadente. – o final da frase soou num tom de motejo.


         - Não vou dizer.


         Os olhos dela se arregalaram.


         - O que?


         - Não vou dizer.


         - Por quê?


         - Porque não quero que você saiba.


         - Ótimo. Também não te conto o meu. – ela jogou.


         Ele se calou, vendo-a se separar de si, indo para o extremo das cobertas.


         - Eu já sei o seu. – fingiu seriedade ao dizer isso, e pôde vê-la congelar sob a frase.


         - Não. Você não sabe.


         - Posso provar que sei.


         - Prove. – ela desafiou, ainda que a voz tremesse.


         - Não aqui. Não agora. – ele disse.


         - Então você não sabe.


         - Sei, pode apostar que sei.


         Ela o encarou, depois bufou com tédio e voltou a olhar para o céu.


         Ele riu alto, se aproximando dela com cautela.


         Ela não recuou, ele teve certeza que ela não estava tão brava quanto aparentava estar.


         - Não faça essa cara. – ele sussurrou.


         - Que cara?


         - Essa cara de que esta brava.


         - Mas eu estou brava. Com você.


         Ele riu mais, quase colado nela agora.


         - Não. Não está. Está com medo. – ele disse, ainda com um riso bonito no rosto.


         - Medo? – a voz dela a traiu. Tremeu. – Medo de que?


         Ele sorriu.


         Ela poderia jurar que fora um sorriso malicioso.


         - Medo de você? – dessa vez a voz não tremeu, saiu mais alta, mais desafiadora.


         - Não. Não de mim, exatamente, está com medo de que eu saiba... De que realmente saiba qual é o pedido.


         - Você não sabe. Não há o que temer.


         - Não teria tanta certeza se fosse você.


         - Sei...


         - Que tal uma aposta?


         - Quer fazer uma aposta a qual vai perder?


         - Isso não te deixa claro que eu sei o que é?


         - Isso deixa claro que você não sabe jogar. – ela disse, com algo faiscando no olhar.


         - Muito bem. Não quer apostar?


         - Não quero vê-lo perder.


         - Ainda vou provar que sei.


         - Claro. Vou arrumar uma pedra filosofal para me fazer imortal e esperar até esse dia.


         - Não precisará esperar tanto. Acredite em mim.


         Ela não retrucou, mas continuou fitando o rosto dele sobre o seu.


         Hermione piscou, depois fechou os olhos.


         - Primeiro sinal que bebeu demais. – ela falou, baixo. – Está com sono.


         - São três da manha, é aceitável sentir sono as três da manha.     


         - É. Claro que é.


         - É... – ela murmurou.


         - Vamos voltar.


         - Ainda é cedo! – ela disse, depois riu.


         - Segundo sinal de que bebeu demais. – ele riu dela. – Está rindo e se contradizendo.


         - Pare com isso... Cerveja amanteigada não embebeda ninguém.


         - Pode embebedar quando se toma cinco garrafas em vinte minutos.


         - Harry, você está sendo chato.


         - Eu sei. – ele respondeu. – Vamos.


         Eles se levantaram e juntaram as coisas com acenos da varinha.


         - Harry? – ela chamou, enquanto desciam para saírem da Casa dos Gritos,


         - Sim?


         - Eu não bebi demais.


         - Sim.


         - Estou falando sério.


         - Eu sei. – ele disse, sério, virando-se, fazendo-a esbarra nele. – Era a única forma de te tirar de lá antes que dormisse.


         Ela fez um bico, ficou emburrada.


         - Por que fez isso?


         - Porque, como você disse, temos aula amanha. Não podemos dormir aqui, mais alguns minutos eu cairia no sono ao seu lado e nada nos acordaria amanha.


         Ela assentiu, rindo.


         - Você é esperto.


         - É a convivência. – ele piscou pra ela, depois continuou o caminho para fora.


         Antes que eles terminassem o túnel que dava para o Salgueiro Lutador, pôde-se ouvir um barulho.


         - Parece que está chovendo... – Harry murmurou, enquanto faziam o caminho de volta.


         - Acho que sim.


         Quando finalmente saíram do túnel, Hermione riu.


         - Está chovendo! – ela falou, começando a ficar ensopada sob a chuva não muito forte.


         - Não parecia que ia chover, o céu estava tão limpo.


         - E continua. – ela disse, apontando pra cima.


         - Estranho...


         - Aquecimento Global. – ela disse, fazendo-o rir.


         Hermione rodou, olhando pra cima, sentido a chuva descer pelo seu corpo.


         Esquecera como era bom tomar banho de chuva.


         Parecia lavar alma, levar tudo de ruim embora.


         Ela parou, olhou pra Harry que não fazia outra coisa que não fosse observá-la.


         - O que? – ela perguntou, sem deixar sorrir.


         - Você parece uma criança. – ele disse, suavemente.


         - É necessário ser criança às vezes. – ela disse, depois se aproximou dele e estendeu a mão.


         - O que? – ele perguntou, olhando desconfiado para a mão dela.


         - Dança comigo, Harry?


         Ele riu alto, jogando a cabeça pra trás, sentindo a chuva escorrer, fazendo suas roupas colarem no corpo.


         - Não tem música.


         - Podemos cantar. – ela disse, com a mão ainda estendida.


         Ele a encarou, depois olhou para a mão da garota, voltou a fitá-la e aceitou.


         Ela riu quando ele tomou a cintura dela com firmeza, e a trouxe pra si.


         Ela encostou-se ao peito dele, aspirando o perfume dele que nem sob a chuva atenuava.


         - Que música? – ele sussurrou, sentiu-a tremer em seus braços. Tinha certeza que não era por causa da chuva.


         - Precisamos mesmo cantar? – perguntou, baixinho, enquanto ele a embalava lentamente.


         - Acho que não.


         Eles dançaram, ainda que sem música, por um longo tempo, satisfeitos apenas com o fato de estarem juntos um ao outro, sentindo os corações um do outro pulsarem com força.


         - Por mim eu passaria a eternidade aqui. Mas não quero ser responsável se você tiver uma pneumonia. – ele disse, sem vontade nenhuma de se mexer.


         - Só mais um pouco... – ela murmurou, erguendo a cabeça para fitá-lo.


         Ele sorriu encarando os olhos dela.


         Os pés deles se arrastaram no mesmo ritmo pela grama agora quase lama, enquanto seus corpos se moviam numa sintonia perfeita.


         Ela tocou o rosto molhado dele suavemente, com cuidado e leveza, acariciou sem pressa, vendo-o fechar os olhos.


         - Posso provar. – ele murmurou, sentindo seu corpo reagir ao toque dela.


         - Provar o que?


         - Que sei qual foi o pedido. – ele disse, finalmente abrindo os olhos para fitá-la.


         O corpo dela ficou tenso entre os braços dele.


         - Você não... – ela começou, mas ele interrompeu.


         Uma das mãos dele afagou a bochecha dela, com o polegar ele contornou o rosto delicado.


         - Você pediu.


         - Harry... – ela sussurrou num sopro fraco, sem deixar de fitar os olhos dele que se aproximaram numa velocidade quase inexistente.


         Ele a tentou.


         Pairou ali por alguns segundos.


         Suspense.


         Próximo.


         Tão próximo que as gotas de chuva do rosto dele escorriam pelo dela.


         Os dois pares de olhos se encaravam incertos, e os castanhos, assustados.


         Ela experimentou a sensação que fez todo seu corpo vibrar quando o suspense acabou e ela sentiu os lábios dele roçarem nos seus.


         Foi o suficiente para fechar os olhos e esquecer de todo o resto.


         No momento que ele a beijou, o mundo sumiu.


         Tudo que ela podia saborear era o gosto dos lábios dele se misturando com a água que caia, morna, sobre eles.


 


- - - - -


 


         Queria poder voltar no tempo...


 


*Anyone who ever kissed in the rain 

Qualquer um que algum dia tenha beijado na chuva, 

Knows the whole meaning 

Sabe o que significa 

 

 

- - - - -


 


         Antes que pudesse pensar, uma de suas mãos perdeu-se nos cabelos molhados dele, puxando-os levemente.


         Podia sentir seu coração disparado dentro do peito, uma coisa diferente no estômago...


         Borboletas?


         Antes de qualquer resposta, eles se separaram.


         Harry achou que fizera uma loucura.


         Mais uma.


         Mas tinha certeza que era isso que ela queria.


         Não necessariamente com ele, mas ainda era o que ela queria.


         Só pagara um favor com outro favor.


         Ainda que ele houvesse sentido o maior prazer do mundo em fazê-lo.


         Ele a fitou, mas ela ainda matinha os olhos fechados, havia gotas de água por todo o rosto dela, refletindo a luz da lua.


         Ela não podia estar mais fascinante.


         Finalmente os olhos castanhos dela se abriram, fitando diretamente os dele, com ar de duvida.


         - Harry...


         - Shhhh. – ele pousou o indicador nos lábios macios, os quais ele ainda sentia gosto. – É um segredo.


         - Como sabia que...? – ele voltou a interrompê-la.


         - Outro segredo.


         Ela não pôde evitar um sorriso.


         E eles permaneceram parados por algum tempo.


         Palavras ditas em silêncio.


         Palavras que não se permitiam pronunciar.


 


        


**It's hard to say you love someone


É difícil você dizer que ama alguém...


 


- - - - -


 


         Matt estava parado ao pé da escada, olhando para o Salão Principal, mexendo nervosamente as mãos e os pés.


         Ele olhou em volta, os olhos dele passaram por Hermione que já estava no meio da escada, e continuaram olhando em volta.


         De repente ele parou, voltou o olhar pra ela, como se nunca tivesse visto nada parecido antes. Um sorriso radiante surgiu nos lábios dele, totalmente inconsciente, enquanto os olhos verdes tão claros dele se iluminaram enquanto a observava.


 


**And it’s hard to say you don’t.


E é difícil dizer que você não ama.


 


 


***


 


N/a:


Músicas usadas nos capítulo:


* Anyone - Roxette


** Driving With The Brakes On – Del Amitri


 


Oieeee!


E aí?


O que vocês acharam?


Se situaram?


Estão mais felizes agora que finalmente descobriram quando o tal beijo aconteceu?


Como aconteceu?


Gostaram?


Odiaram?


Quero muitoooooos comentários pra esse capítulo, hein? Acho que eu mereço, não?


Aaaah, e a pessoa que já tinha lido esse capítulo [que ganhou ele de presente porque chegou mais perto adivinhando quando ele tinha acontecido] foi a Letícia. Sim, sim, a Letícia teve a sorte [ou o azar... não sei bem...] de ler isso tudo aqui muitoooooo antes de vocês, e ela nem disse nada.


hushaushuahsuhauhsuahsa


 


Valeu Letícia, por guardar o segredo.


 


Ela só não contou porque eu pedi, porque aposto que se eu não tivesse pedido ela correria aqui pra contar tudinho pra vocês.


haushauhsuhaushauhsuahushaus


 


 


Espero que vocês tenham gostado.


E se preparem porque agora só faltam 5 capítulos para o fim.


Isso mesmo, podem começar a chorar.


Só 5.


 


Aproveitem então, enquanto ainda dá para aproveitar.


 


Eu amo vocês.


 


Demais.


 


Comentem.


Demais, também.


=D


 


 


Beijooooooooooos.







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