O Fim



Seus olhos demoraram a se acostumar com a escuridão do lugar. Logo ela notou que a única fonte luz era uma pequena janela na parede esquerda, quadriculada por grossas barras de ferro. A garota correu os olhos castanhos pelo aposento, viu uma cama de armar logo a sua frente, encostado a parede de pedra fria, ao lado, uma mesa velha de madeira malcuidada com uma jarra e um copo de alumínio sobre, acompanhada de uma mísera cadeira.
“Poderia ser bem pior...”, ela pensou, ao dar-se conta que isso com certeza era luxo perto dos cárceres mantidos por Voldemort. Deu mais um passo pra dentro, então, paralisou.
Viu um monte roupas – que um dia, num passado longínquo, tinham sido brancas – encardidas amontoadas no chão, logo abaixo da janela.
Alguns segundos se passaram, ela apenas observava aquilo que parecia uma trouxa de roupas bem sujas... Até que o monte se mexeu, Hermione se sobressaltou e deu um passo pra trás.
Quando ele levantou a cabeça, que estivera encostada aos seus joelhos até então, Hermione pôde ver no que Draco Malfoy tinha se transformado.
Ele a encarou, ela apenas o observou, sem fitá-lo nos olhos, seus belos cabelos louros, que um dia tinham sido tão sedosos e invejáveis, haviam sido cortados sem dó de forma grosseira e disforme, e agora se assemelhava ao cabelo de Harry, visto que o corte malfeito não lhe permitia abaixar e alinhar como era antigamente. Seu rosto macilento e branco, estava prestes a ficar transparente de tão pálido, olheiras fundas e enormes se estendia abaixo dos olhos do jovem rapaz que parecia ter envelhecido vinte anos em tão pouco tempo. Sua roupa suja e desalinhada não escondia o estado deplorável no qual se encontrava, totalmente magro, aparência desnutrida, as mãos grandes de dedos cumpridos como os da mãe, pareciam estar mais cumpridos agora, devido a magreza dele.
Ele permaneceu encarando-a, esperando algum sinal de reconhecimento ou que apenas estava pronta pra ouvir o que ele tinha a dizer, mas ela apenas observara o que restara de um imponente Draco Malfoy, que já a fizera sofrer tantas humilhações um dia... O mesmo Malfoy que...
Hermione fechou os olhos com força, tentando não lembrar, tentando reprimir tal pensamento. Lembrar só a faria querer sair correndo dali, gritar para abrirem o pesado portão que o prendia, e se encolher nos braços dos amigos que a esperavam lá fora.
- Granger...? – ela o ouviu chamar. A voz bastante falha, talvez pela falta de uso, talvez pela fraqueza e pelo estado de saúde no qual se encontrava.
Será que acertara?
Será que estava pronta para aquilo?
Será que realmente podia agüentar a pressão?
Abriu os olhos lentamente, mirando a claridade pálida e quadriculada que entrava pela janela. O dia estava frio, típico dia de outono, o sol escondido, as nuvens densas.
Respirou fundo e fitou os olhos cinzentos de Malfoy.
A sensação foi indefinida, mas era impossível não sentir o mesmo quando aqueles mesmo olhos correram seu rosto, enquanto a boca dele tentava beijá-la de qualquer jeito.
- Sei que é difícil... – ele começou, num tom baixo e receoso.
- Não. Você não sabe. – ela respondeu, fria.
A tristeza estampada na face do rapaz, que transbordava no olhar dele, deu lugar a uma feição de um arrependimento incalculável.
“Cínico”, ela pensou, fitando-o.
E os olhares tão intensos um no outro, os olhos de Hermione eram capazes de produzir faíscas a tal ponto. A raiva, o ódio, o nojo, a revolta... Tudo junto, dominando-a de uma forma como nunca antes... Cegando-a.
- MALDITO! – ela berrou, dando um passo a frente. – MALDITO!
Ele se encolheu diante da fera que encarava.
Transtornada.
Transformada.
Nem sob as piores ofensas Malfoy a vira assim.
Nunca, antes.
Nunca.
- Eu odeio você, ouviu? – ela rugiu pra cima dele. – ODEIO!
Ele voltou a abaixar a cabeça, apoiando-a nos joelhos novamente. Ele começou a tremer. Ela não se importou.
- Por mim pode morrer, pra mim será um favor! – ela soltou, dando as costas pra ele, andando nervosamente pela cela.
- Pra mim também. – ele falou, com a voz abafada nos joelhos.
- O que quer de mim, hein? O que quer? ME DIZ! – ela esbravejou, voltando-se pra ele, ainda encolhido. – Me diz.
As duas últimas palavras saíram num tom de súplica. O rosto abatido de Draco voltou a aparecer.
- Quero que me perdoe. – ela falou, num fio de voz.
Ela soltou um som de indignação e levou a mão aos cabelos cacheados... O gesto lembrava muito Harry quando estava nervoso.
- Você ao menos sabe o que fez? – ela sibilou, pra ele, com os olhos saltitando nas órbitas.
- Sei. – ele respondeu, cabisbaixo.
- Então sabe também que não há como perdoá-lo. – ela completou, aproximando-se dele ameaçadoramente. Só Deus sabia o quanto ela estava tentando se controlar para não sacar a varinha e azará-lo... Ou até mesmo, amaldiçoá-lo.
- Hermione, eu...
- Hermione? Hermione? – ela repetiu, maldosamente. – A sangue-ruim da Granger foi parar onde Malfoy? Pensa que com essa mudança de comportamento vai conseguir minha piedade?
Ele não respondeu, apenas a encarou, meio horrorizado pela Hermione que se apresentara pra ele naquele momento, aquela pessoa que ele não conhecia... Achava impossível que pudesse existir tal criatura por detrás da face angelical da menina sangue-ruim.
- N-Não... Eu... – ele gaguejou. Sentiu-se fraco.
Pela primeira vez na vida sentiu-se fraco, e sentiu vergonha de ser quem era. Quando se rendera a Ordem sentira-se derrotado, mas agora sentia-se fraco.
- Não? Saiba que de você, eu não sou capaz nem mais de sentir pena. Nem pena. – ela sibilou, cada vez mais próxima dele, que se mantinha encolhido no chão, apertando-se contra a pedra fria e tristemente sólida do lugar.
- O... – voz dele foi embargada, simplesmente sumiu no meio de seu corpo, afundara em sua podridão e no lixo no qual tinha se transformado.
Em que momento da sua vida se deixara envolver por eles? Em que momento ele deixou a própria vida e passou a viver a vida que elesqueriam que vivesse?
O silêncio reinou entre o ambiente gelado que formava as paredes da cela. O único ruído que se ouvia era a respiração difícil e descompassada de Hermione que parecia atordoada.
Algum tempo se passou até que Draco resolveu quebrar o silêncio.
- Me desculpe por fazê-la via até aqui... Mas era a única forma de... – ele se calou sob o olhar feroz dela - ...de falar com você... Conseguir te pedir perdão.
A voz dele foi morrendo. Era evidente que a saúde dele estava bastante debilitada. Falar lhe parecia um grande esforço.
Hermione o encarou... Ah, como o odiava... Mas o estado que ele estava e criatura na qual ele tinha sido transformado despertava-lhe certa compaixão. Ela balançou a cabeça rápida, não podia se deixar levar pelas palavras dele... Não depois do que ele fizera.
- Eu não... Eles estavam me matando aos poucos. Eu pensei... Pensei que podia... Pensei que tinha nascido pra aquilo... Pra ser um deles, mas... Não. – a voz dele aumentou consideravelmente na ultima palavra. Isso parecia ter-lhe custado muito, porque ele parou, tornou a encostar a cabeça nos joelhos e respirava com força, buscando alguma coisa no ar... Alguma coisa que nunca poderia ter.
- Granger... – ele sussurrou voltando a levantar a cabeça. – Eu... Eu... – ele se mexeu no chão com uma dificuldade imensa. Arrastou-se até os pés de Hermione e equilibrou-se precariamente de joelhos. – Eu... Imploro... Imploro que me perdoe.
Ela o encarou sem conseguir conter a surpresa.
- Está brincando, não está? – ela perguntou num tom irônico, mas ainda surpresa. – Acha que vou cair nessa? Acha mesmo que vou acreditar?
- Granger... Por favor... Acha mesmo que se eu não estivesse arrependido estaria ajoelhado aqui agora? – ele perguntou, com seus olhos fundos desesperados.
- Eu não acredito que mudou. Não acredito em nada do que diz. – ela falou. A frieza da voz dela congelava o sangue dele.
- Por quê? Por que não acredita?
- Porque você me fez desacreditar. Você me transformou nisso que você está vendo. Depois... Depois daquilo Malfoy, eu nunca mais fui a mesma... Antes eu até poderia tentar te ajudar, poderia acreditar. Até você me arrastar pra aquela rua deserta eu acreditava na bondade das pessoas... Acreditava que mesmo você, poderia achar seu lado bom e reverter o passado, seguir uma nova vida. Mas não. Toda essa minha esperança, essa minha fé foi embora... E quem as tirou de mim foi você. – ela o olhou amargamente e cuspiu no chão. – Acha que tenho orgulho? Acha que me orgulho dessa pessoa que está na sua frente? – ela berrou na cara dele, Malfoy desmoronou no chão, ela se ajoelhou na frente dele, enfiou a mão nos cabelos desgrenhados do rapaz o os puxou, fazendo-o encará-la. – Você me fez descobrir sentimentos perversos... Sentimentos que eu nunca tinha provado, que me achava incapaz de sentir. Mas você conseguiu. Destruiu minha fé, minha esperança no mundo e nas pessoas. Você acabou com minha inocência e a minha ingenuidade Malfoy, você acabou com toda a beleza que eu ainda via na vida. Você é o culpado pelo ódio que estou sentido... Por esse sentimento que cega e que perturba. Você matou a criança que tinha dentro de mim, a criança que eu fazia de tudo para não morrer apesar do todo o horror do mundo. Eu nunca tinha odiado ninguém até aquele dia... Você acabou comigo e corrompeu a pureza da minha alma.
Ela puxou com força os cabelos dele entre seus dedos depois o empurrou. Draco caiu no chão, seu rosto bateu na pedra fria.
- Eu achei que você seria única que me entenderia... – ele falou, ainda no chão.
- A culpa é toda sua. – ela retrucou, tão gelada quanto as pedras solitárias que construíam aquele lugar.
Eles se calaram por um momento. Malfoy continuou no chão, Hermione voltou a andar pela cela.
- Eu estou arrependido. Juro que estou. – ele falou, em voz baixa, voltando a se encolher sob a janela.
- E eu juro que não acredito. – ela retrucou.
- Eu me entreguei. Já é um começo...
- Você é um fraco. Não suportou a vida que você mesmo escolheu. Covarde. – ela disse, olhando para ele.
- Eu me entreguei porque tinha descoberto coisas... – ele falou. – Descobri coisas que não podia ter descoberto. Ele me mataria, eu não podia voltar. Estou seguro aqui.
- O que você descobriu?
- Ele tem uma lista. Quer atingir o Potter usando tudo que o cicatriz mais preza, e que o Lorde menos acredita.
- Não insulte o Harry na minha frente. – disse, ríspida.
- Desculpe. – ele murmurou.
Hermione o fitou incrédula. Ele estava mesmo pedindo desculpas?
- Dumbledore sempre disse que o tal amor venceria tudo e qualquer coisa. – Malfoy continuou. – O Lorde quer destruir o Potter usando o amor. Quer mostrar a ele que o amor é destrutivo, é coisa para as pessoas fracas.
- Não é. Você não ama. – ela ironizou, erguendo uma sobrancelha.
Ele fingiu não ouvir o comentário e continuou.
- Ele tem uma lista. Matará todas as pessoas que o Potter ama. Assim, o Lorde mostrará pra ele que o amor não vence nada. Apenas nos faz perder.
Hermione empalideceu.
- Ele matará, simplesmente? – ela indagou, horrorizada, aproximando-se de Malfoy, esquecendo toda sua ironia.
- Sim. Ele tem uma lista.
- Uma lista?
- Sim, Granger.
- E ele... Você...? Oh, meu Deus! – ela exclamou, passando a andar de um lado pro outro, desesperadamente, unindo as peças.
- Exatamente. – Malfoy concluiu.
Hermione puxou a cadeira em frangalhos que tinha ali e colocou-a próxima ao Malfoy, sentou-se e o fitou.
- Você descobriu a lista. – ela afirmou.
Ele apenas assentiu.
- Ele quer me matar por isso.
- Por quê?
- Oras... Porque não era pra ninguém saber.
- Por quê?
- Não sei. Mas acredito que... Ele queira forjar acidentes. Matar essas pessoas, fazendo parecer acidente... Ou então colocar a culpa em outras pessoas, alterando as lembranças.
Hermione lembrou-se do que Harry lhe contara... Sobre o que vira na Penseira e que Dumbledore lhe falara. Voldemort já havia feito isso. Modificara a memória do próprio tio, fazendo com isso o mantivesse preso em Azkaban até sua morte. Voldemort era perito em simulações.
- Mas o que ele ganharia com isso? Se ele realmente fosse forjar acidentes, Harry realmente pensaria que é um acidente.
- Talvez no começo sim... Mas, por favor, Granger, Potter não é burro. Quando ele desse conta de tanto acidentes com pessoas que ele ama, logo ele perceberia quem está por trás de tudo isso.
- Sim... Sim...
- É uma boa forma de mostrar que o amor não nos leva a nada. Apenas ao sofrimento.
- Isso é uma tolice.
- Pessoas morrerão Granger!
- E desde quando você se importa? – ela perguntou, ligeiramente irritada.
Ele não respondeu.
- Quem está no topo? – ela indagou, receosa pela resposta.
- Você.
- Mas... – ela se segurou na cadeira pra não cair. Isso era um baque terrível. Era estranho saber que você estava marcada pra morrer. – Eu estou em Hogwarts. Como ele pretende...?
- Você tem saído de Hogwarts...
- Direto para Ordem.
- Ele dará um jeito.
- Eu estou segura.
- Não acredite tanto nisso Granger.
- E por que ele começará por mim?
- Ele não começará por você.
- Mas você acabou de dizer que eu estou no topo da lista! – ela esbravejou, levantando-se, com seu tom frio intensificando-se.
- A lista é uma espécie de ‘Lista de pessoas mais importantes para o Potter’, ou seja, as que ele mais ama. Você está no topo, Potter ama você, isso é tão óbvio! – ele falou, parecendo entediado.
Hermione virou-se pra ele de repente, o examinado criticamente.
- O que quer dizer com isso?
- Você é o trunfo. A cartada final. – ele disse. – Ele começará a seguir a lista de baixo para cima, ou seja, dos menos amados até os mais amados. Vai da importância.
- Harry não faz diferença entre as pessoas.
- Ah, não acredite nisso, Granger, ele faz bastante diferença com você. – ele comentou. – Quando o Lorde já tiver matado todas as pessoas mais importantes da vida dele, e só restar você, ele vai enlouquecer de tanto desespero, tendo certeza que você será a próxima. Potter já estará enfraquecido com tantas perdas, provavelmente, desmotivado, irá sucumbir. Perder você seria o fim do Potter... Portanto, você morre, Potter se torna nada mais do que algo com vida, afinal, ele simplesmente não vive sem você... E o Lorde terá sua vitória bastante facilitada.
- Isso é... Horrível. – Hermione sussurrou, voltando a se sentar, sentindo sua pele se arrepiar.
Ah, aquilo mataria Harry aos poucos. Ela podia sentir a dor que ele sentiria, e poderia ver o estado que ele ficaria se isso realmente acontecesse. “Harry...”

***


Encostado impacientemente na parede que circundava a torre, Harry sentiu alguma coisa queimar em sua nuca. Instintivamente ele levou a mão no lugar e sentiu o pequeno pingente arder entre seus dedos.
Hermione estava pensando nele. Precisando dele.
- Quero entrar lá. – ele falou, firme, olhando para Lupin.
- Não é prudente Harry, poderia botar tudo a perder.
- E torturá-la viva não é nada, perto de estragar os planos da Ordem, não é? – ele disse enfurecido.
- Harry!
- Ela precisa... Ela...
- Calma, cara. Está tudo bem... Hermione é forte. – disse Rony, tomando um dos braços de Harry, voltando a encostá-lo na parede onde estava. – Quando ela chegar ao limite, ela sairá. Temos que acreditar nela.
Harry voltou pra onde estava relutante.
“Hermione...”

***
***


Hermione pulou de susto ao sentir algo arder em seu busto. Ela enfiou as mãos nas vestes e sentiu o pingente queimar na palma de sua mão. Ela o apertou forte, como se aquilo pudesse lhe trazer em conforto.
‘Sempre juntos.’ – era possível ouvir a voz de Harry lhe dizer isso. E isso a encorajava de alguma forma.
- Pelo menos você tem mais tempo de vida do que aquela gorda mãe-Weasley... – ele falou, com certa ironia.
O comentário arrancou Hermione de seus devaneios.
- A Sra. Weasley? – ela indagou, assustada.
- Ela é uma das primeiras a morrer... Junto com o lobisomem e as crias dela... E o marido, claro. Me parece que ele irá poupar somente o que jovem que se casou... Sabe como é, manter o sangue puro.
Hermione o encarou, perplexa.
- Meu Deus! – ela sussurrou.
- É, Granger... A coisa ficou feia para o lado de vocês. Melhor tomarem cuidado. – ele disse, dando a conversa por encerrada.
- É tudo que você tem a dizer?
- Não é o suficiente?
Ela o fitou, vasculhando vestígios de vacilo nos olhos cinzentos dele, ao notar, ele desviou o olhar.
- Olhe pra mim. – ela mandou.
- Não. – ele respondeu.
- Olhe pra mim.
- Não.
- Malfoy. – ela falou, sentindo todo seu ódio voltar a borbulhar. – Olhe pra mim, AGORA.
Ele a fitou.
- Não gosto que me olhe assim. – ele sussurrou. – Parece que está vendo minha alma.
- Oh, por favor, sem sentimentalismo agora! – ela ironizou. – Já disse que nada que me diga despertará algum tipo de piedade, eu sinto muito.
Ele se calou, mas manteve-se firme no olhar. Hermione pôde ver cada detalhe dos olhos dele, de tão fixo que seu olhar se tornou sobre ele.

O lugar era escuro, uma única vela acesa sobre uma mesa de madeira bem conservada iluminava o lugar.
As costas de uma poltrona alta e imponente era vista atrás da mesa.
Aproximou-se lentamente, sem fazer um ruído sequer.
Ninguém entrava ali se ele não estivesse presente.
Era o primeiro a conseguir tal façanha, seu coração batia acelerado. Olhou em volta tentando identificar alguma coisa interessante no lugar, e uma onda descontentamento foi tomando conta dele. Não havia nada de especial ali... Seus passos silenciosos alcançaram a mesa e ele a olhou. Um pedaço de pergaminho jazia ali.
Seus olhos brilharam ao notar do que se tratava, leu o conteúdo rapidamente, e no momento que esticou sua mão para apanhá-lo a porta do aposento se abriu com força.
Sem nem ter tempo de se virar, uma dor cruciante tomou conta de seu corpo, que caiu no chão se contorcendo e gritando.
- O que pensa que faz aqui? – perguntou a voz fria e cortante de Voldemort. – Se acha esperto, não é? Não passa de um fracassado perdedor, assim como seu pai.
Draco Malfoy, foi empurrado contra uma das paredes, bateu nela com força. Todos seus ossos doíam.
- Você viu o que não podia ter sido visto. Você entrou onde não podia ter entrado. Desobedeceu quem não podia ter desobedecido. O que devo fazer com você agora?
Um aceno da varinha de Voldemort, foi o suficiente para Draco se arrepender de um dia ter nascido, tal foi a dor que sentiu.
Um urro de dor cortante vazou no lugar, ecoando pelos aposentos...


- Sua... – Draco berrou, sentindo-se anormalmente fraco. E visivelmente violado.
- Me desculpe, eu não... – Hermione estava com a respiração difícil, sua pele estava arrepiada.
Entrar na mente dele fora um erro.
O grito de Draco congelara seu sangue.
- O que pensa que eu sou? Um dos livros que você lê? É isso que pensa? – ele cuspiu as palavras, com indignação.
- Me desculpe, Malfoy. Eu não... – ela começou, mas ele havia encostando-se na parede e fechado os olhos. – Malfoy...? Malfoy...?
Ela se aproximou lentamente, sentiu repulsa de si mesma por estar fazendo isso, mas tocou a testa dele levemente. Logo tirou sua mão dele num gesto ágil, ficou assustada, estava frio. Tão frio quanto um cadáver.
- Meu Deus... – ela murmurou, se afastando dele lentamente, apavorada.



Lupin pulou quando ouviu o portão ser esmurrado pelo lado de dentro.
Ninguém agiu num primeiro momento, todos paralisados com a violência com a qual a porta era empurrada.
- O que vocês estão fazendo aí parados? – Harry gritou, sentindo o pingente em suas costas queimar muito mais do que antes. – TIREM-NA DE LÁ!
Moody e Lupin correram para o portão, tentando desfazer todos os feitiços de proteção.
Rony pôde ver a hora que Harry derrubaria o portão com os próprios braços.
Quando finalmente a porta abriu, uma Hermione lívida apareceu sob a luz do céu nublado. O olhar dela encontrou o de Harry, ela simplesmente olhou para Lupin e Moody.
- Ele... Desmaiou. – ela disse, com simplicidade.
Os outros dois entraram na cela correndo, enquanto Rony caminhava até a amiga, ele lhe deu um abraço apertado.
- Tudo bem? – ele murmurou.
- Sim. – ela respondeu, separando-se dele com cuidado. – Tudo bem...
O ruivo se afastou. Os dois olharam para Harry, que permanecia parado no mesmo lugar, apenas a observando.
Ela levou a mão à corrente em seu pescoço, e ele a sua nuca onde seu pingente estava pendurado no fecho da corrente.
Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de ambos.

***


A noite se estendia estrelada no lado de fora do Castelo, onde a maior parte da Ordem estava reunida numa das masmorras. A sala era fria, pouco convidativa, quase inóspita.
Harry estava num canto onde ninguém o via. Espumando de raiva, sentindo-se totalmente impotente.
Hermione estava sentada no centro da sala em uma cadeira velha, contando tudo que ouvira de Malfoy. Era uma cena terrível, quase como um interrogatório em filme trouxa.
Havia pessoas em volta dela, e a garota parecia tão frágil e desprotegida no meio deles.
Ela estava firme, mantendo-se com dignidade, havia quase duas horas que estava sob aquele martírio.
Assistir aquilo ainda era pior do que saber sobre a lista de Voldemort.
E aquilo tudo estava sendo difícil para Harry também... Saber que havia uma lista, que pessoas morreriam por suas causa, para lhe causar dor e sofrimento. Ele se sentia mal, se sentia como um verme, uma coisa que só atrapalhava a vida das pessoas a sua volta.
- Você ainda não nos respondeu quem está no topo da lista. – disse uma das pessoas que estavam ali presentes.
- A que vai morrer primeiro? – Hermione perguntou, com sua voz começando a tremer.
- Não importa a ordem, importa é saber quais são as pessoas, precisamos protegê-las! – disse Quim, deixando seu tom sóbrio de sempre, começando a ficar nervoso.
- Sobre quem ele te falou? Quantos nomes? – outra voz perguntou.
- Não citou muitos. Falou na família Weasley, que só pouparia Gui, que acabou de casar com uma bruxa de sangue puro... Para manter a tradição de puro sangue.
- Isso é ridículo! – disse uma voz grave, como se acusasse Hermione pelo que estava dizendo.
- EU SEI! – ela revidou, nervosa. – Eu sei! Eu nasci trouxa, sei muito bem do que se trata.
- Uma garota... – murmurou a mesma voz, soando descontente. – De quem foi a idéia genial de mandar uma garota falar com aquele verme?
- Malfoy quis assim! – disse Lupin, transtornado.
Todos os ânimos estavam exaltados.
- ‘Malfoy quis assim!’ – ele repetiu. – Vocês... Vocês não vêem? Estão fazendo as vontades de um Comensal! Ele é um prisioneiro, merece ser...
- O que você quer que façamos, Edwards? – rosnou Moody, com braveza. – A garota o interrogou, sem nem tocá-lo, e o verme está em coma, mas pra lá do que pra cá! Se fossemos torturá-lo, teríamos perdido nossa única fonte de informações! Agradeça a Merlim por ela ter conseguido tais informações!
- Vocês não entendem? – tornou a falar o tal Edwards. – Isso é uma guerra! Não podemos sentir piedade.
- Está insinuando que eu sinto piedade por aquele desgraçado? – disse Hermione, alteando a voz.
- Não Hermione... Ele não está... – Começou Lupin, tentando acalmá-la. Mas foi interrompido por Edwards.
- E se estiver? – retorquiu o homem, num ar desafiador. – O que vai fazer, garotinha?
Hermione se levantou e fitou o homem de uma forma que poderia perfurá-lo se quisesse. Harry viu a dor e a raiva faiscarem nos olhos castanhos dela.
Onde fora parar aquela Hermione que sempre via o lado bom das coisas? Ele não via mais a inocência e a esperança brilharem nos olhos dela... O que a guerra estava fazendo com eles?
- Talvez... – ela começou, sua voz retumbou pela sala, todos se calaram. – Talvez o fato de ele ter tentado abusar de mim há pouco mais de um mês não seja motivo para eu odiá-lo, não é?
Um murmúrio de surpresa ecoou no lugar frio.
Ouviu-se a Sra. Weasley fungar, e Lupin se mexeu desconfortavelmente.
Edwards a olhou com deboche.
- Coitadinha... – falou com ironia. – Acha mesmo que acredito nisso?
- AGORA JÁ CHEGA! – Harry berrou, entrando no meio da roda, tomando Hermione pela mão. – Eu não faço idéia do porquê que você foi aceito na Ordem, porque pra mim você não serve nada. Sequer pra limpar o chão da Sede, que por sinal, é minha casa.
- Ora... Se não é Potter. – disse o homem, começando a se arrepender do que dissera.
- Sim, sim. É o Potter. E eu vou começar meu treinamento para destruir Voldemort, acabando com você se não fechar essa sua boca imunda! – Harry cuspiu no chão, antes de deixar a masmorra com Hermione presa a si. Podia-se ver fogo lhe saindo pelas ventas. Hermione parecia assustada, e meio entorpecida com o que acontecera.
O tanto que ela sofrera aquele dia, e o turbilhão de emoções que passou pelo corpo dela haviam a deixado totalmente sem reação.
Eles estavam subindo, mas ela o fez parar no Saguão de Entrada.
- Me solte! – ela murmurou.
Ele ficou tão perplexo com o que ela dissera que a soltou instantaneamente.
- Mione...
- Me deixe sozinha.
- Mas...
- Me deixe... – ela repetiu, retomando o caminho em direção a Torre da Grifinória.
Harry ficou ali parado, observando ela se arrastar escada à cima.
Sentia-se um lixo.
O pior dos seres.
Preferia morrer a ter que causar tal sofrimento a ela... Preferia...
Qualquer coisa para protegê-la.
Ele apenas balançou a cabeça e deixou seus pés o guiarem pelo castelo.

***

N/a: Esse capítulo também saiu rapidão, né???
Espero que vocês tenham gostado, que tenham sentindo o feeling mega pesado da situação e que ainda me achem uma boa escritora, afinal, esse capítulo foi supeeeer difícil de escrever.
Mas o capítulo saiu rápido porque eu tenho boas notícias e, claro, tenho que compartilhar com vocês, meus leitores queridos: arrumei um emprego. Claro, que isso vai soar terrível pra vocês, porque minhas chances de aparecer aqui serão praticamente nulas... Estou torcendo para, pelo menos, conseguir postar as att’s, mas, mesmo assim, é o que eu queria, corri muito atrás, então, to feliz!
Continuem comentando, afinal, eu vou ficar ausente, mas não vou sumir, é sempre bom ler aqueles comentários gigantescos e maravilhosos... Melhora pra demais o meu dia.
Agradeço todos que deixaram seus comentários, e espero não tê-los decepcionado depois da propaganda que eu fiz desse capítulo.

Beijoooos.
Mais uma vez, muito obrigada por todos os comentários.
Amo Vocês.

Paulinha.

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