Bagunça.



Naquele dia, nem Harry nem Hermione apareceram às refeições, a Sra. Weasley insistiu para conversar com os garotos e descobrir o que estava acontecendo, mas Rony a impediu, terminantemente, fazendo a mãe se calar e parar de fazer perguntas, apenas a convenceu de arrumar alguma coisa para eles comerem e que ele mesmo levaria aos dois. Primeiro o ruivo se dirigiu à porta de Hermione, bateu:
- Quem é?- perguntou a voz da garota lá dentro.
- Rony. Trouxe alguma coisa para você comer.
- Não quero.
- Não tem querer, você precisa comer. - ele entrou no quarto e encontrou-a sentada no meio da cama com os joelhos dobrados envolvidos por seus braços. Ela não disse nada, ele também não, apenas deixou a bandeja em cima da escrivaninha e saiu, fechando a porta ao passar.
Sabia que com Harry a coisa não seria tão fácil, mas não era por isso que o deixaria o dia todo sem comer. Atravessou o corredor e bateu na porta do amigo.
- Quem é?- perguntou a voz do rapaz, friamente.
- Rony. Trouxe comida, mamãe que mandou.
E pra surpresa do ruivo, o rapaz abriu a porta e pegou a bandeja, com um sonoro ‘Obrigado’. Rony começou a responder, mas a porta se fechou com uma batida retumbante em sua cara. “Não podia ser tão fácil...”. Ele voltou para cozinha e passou parte da tarde ouvindo os lamentos e reclamações de uma Fleur enjoada, que não via graça em nada e protestava sobre qualquer assunto interessante que se iniciava.
A noite caiu e com ela trouxe um clima ameno e um céu extremamente limpo e estrelado, Hermione estava numa vigília intensa em sua janela, mirava o céu, mas simplesmente não o via. Permanecia em pé, ora com a testa colada no vidro, ora andando de um lado para o outro, respeitando os limites da grande janela ao seu lado. O quarto permanecia escuro e a única fonte de luz era o luar, uma lua muito cheia que banhava a cama da garota com uma luz perolada. Ela pensara na discussão terrível que travara com Harry, fora um pouco injusta, admitia, mas tinha lá seus motivos, ele permanecia muito orgulhoso quanto a Rony e isso lhe causava certa irritação. Mas o que mais a intrigava era a maneira que ele protestava terrivelmente a vontade de voltar a falar com Rony, ela simplesmente não entendia como ela podia ter sido capaz de perdoar e ele não “O problema foi comigo... e não com ele!”.
“PORQUE NÃO CONSIGO SUPORTAR A IDÉIA DELE TER OFENDIDO VOCÊ TÃO SERIAMENTE! PORQUE NÃO CONSIGO AGUENTAR LEMBRAR DAS INSUAÇÕES SEM SENTIDO QUE ELE FEZ, porque eu não consigo me controlar quando o vejo te tratando como uma qualquer.” Essas palavras martelavam na cabeça dela, se repetiam por diversas vezes seguidas. Por que ele não conseguia suportar? Por que ele se irritava tanto com isso? Por que não conseguia virar a página e esquecer? Ela não achava respostas. Em outros tempos, ela tinha certeza, ele ficaria bravo, mas não levaria tão a sério como estava fazendo. Por um lado ela se sentia imensamente feliz e lisonjeada, com a proteção dele e com o fato dele se importar realmente com ela, mas por outro, toda aquela proteção já estava passando dos limites. Ela não sabia o que pensar, mas estava disposta a se desculpar com Harry e, com ele e Rony, decidir sobre Hogwarts. “Amanha falarei com ele...”, a garota olhou para bandeja intocada que Rony trouxera durante a tarde e de repente descobriu que estava com muita fome.

Algum tempo depois de comer, Hermione voltara a encostar sua testa na janela fria e ouviu umas batidas na porta.
- Entra... - disse ela, sem emoção, ainda olhando para noite.
Ouviu-se a porta abrir e ao som de alguns passos depois ela se fechou.
- Quem é?- perguntou ela, ainda imóvel, ouvindo passos em sua direção.
- Adivinha?- perguntou a voz que Hermione achara que era a ultima, no mundo, que iria querer falar com ela.
A garota se virou e o viu, ali, parado com um leve sorriso no rosto, a camisa com parte desabotoada e as mãos no bolso.
- Achei que não quisesse falar comigo. - disse ela, tranqüilamente.
- Achei que me conhecesse o suficiente para saber que não agüentaria ir dormir sossegado depois do que aconteceu. - respondeu ele, calmo, ainda sorrindo.
- Me desculpa, eu perdi o controle, fiquei nervosa... - disse ela, rapidamente, como se desejasse que aquilo acabasse logo.
- Percebi que você ficou nervosa, nunca falou comigo daquele jeito... - disse ele, sorrindo ainda mais.
- Ah!- ela sorriu também, era como se tirasse um peso de suas costas.
- Tudo bem, Mione, nós dois exageramos... Passamos do ponto.
- É, eu sinto muito, não queria dizer nada daquilo.
- Nada?- ele a olhou criticamente.
- É... Bem... Na verdade... Quase nada... - ele deu risada.
- Ótimo, agora sim entramos num acordo. - ele sentou-se na cama.
- Harry, eu estive pensando no que você disse hoje... - começou ela, séria.
- Qual parte?- perguntou ele, ficando sério também, abaixando ligeiramente a cabaça.
- O fim...
- Hãm... - Harry não foi capaz de falar nada, não sabia o que dizer, apenas emitiu alguns sons inaudíveis.
- Não sabia que... - ela tentou escolher as palavras de uma forma que não recomeçassem a brigar por causa do mal entendido com Rony.- ...Que... Bem... Que tudo isso tivesse te afetado tanto...
Harry não disse nada, nem ele sabia o porquê de ter gritado aquelas palavras, sabia que eram verdadeiras, mas o real porquê de tudo aquilo ele desconhecia.
- Bem... Eu não posso negar que me senti feliz. Muito feliz. - disse ela, tranqüilamente, sentando-se ao lado dele, olhando para as próprias mãos sobre suas pernas. - Saber que sou importante pra você, me deixou radiante!
Ele a olhou brevemente, depois virou-se para encarar o luar.
- Mas, acho que... Ah, Harry, não me leve a mal, mas acho excesso de cuidado, eu realmente adoro, mas isso pode acabar nos prejudicando, como aconteceu hoje... Talvez seja um cuidado muito exagerado, entende?
- Entendo sim, Mione e concordo. Vim aqui justamente me desculpar... Não vai voltar a acontecer. - disse ele, se levantando e caminhando até a janela.
- Como assim ‘não vai mais acontecer’? - perguntou Hermione, levantando num pulo. - Não vai mais me defender?
Harry se virou e a encarou, ela parecia assustada, ele não pôde evitar uma gargalhada.
- Claro que vou, sua boba... Só que sem exageros... - ele ria gostosamente. A feição de Hermione se descontraiu num sorriso tímido e envergonhado.
- Por um momento eu pensei que... Ah, esquece... - ela voltou a se sentar.
- Não consegue ficar sem mim, né? - perguntou ele com um sorriso maroto, encarando-a.
- Já te disse que não... - ele também se sentou. - Sabe... É diferente... Tudo muda...
- O que? - perguntou ele, sem entender o que a amiga dizia.
- Quando estou perto de você, quando você me defende... Quando você arruma briga pra me defender, eu me sinto tão... Ah... Nem eu sei... Mas é uma sensação boa, de paz, como se nada de ruim pudesse acontecer no mundo. Uma sensação de proteção inexplicável... É incrível Harry, como se nada pudesse me atingir quando estou perto de você.
- Depois você me chama de convencido... Mas você é a única responsável pelo meu ego elevado... - eles riram até Harry a olhar profundamente nos olhos e os dois ficarem sérios de repente. - Ficou feliz em ajudar... Já cometi tantos erros, é bom saber que de alguma forma eu te faço bem.
Ela o fitou e depois pegou num dos pulsos dele erguendo o braço do rapaz, se enfiou de baixo e deitou a cabeça no ombro dele. Ele não conteve uma gargalhada com a atitude repentina da garota, mas a abraçou assim mesmo. Ficaram algum tempo em silencio até que ele falou:
- Sabe Mione, acho que tomei uma decisão.
- Quanto a que?
- Hogwarts.
- Ah... Mas nós nem tivemos tempo de...
- Tudo que você me disse foi o suficiente, refleti bastante, achei os prós e os contras, enfim, acho que cheguei a uma decisão final.
- E eu posso saber qual é?- perguntou ela, erguendo a cabeça para encará-lo.
- Acho que Rony devia participar disso. - disse ele, soltando-a e saindo quarto.
Hermione ficou parada, sem emitir nenhum som, não acreditava no que tinha ouvido. Minutos depois, Harry voltou com Rony em seus calcanhares, com um aceno da varinha acendeu a luz o que fez Hermione fechar os olhos energicamente, a claridade ofuscante agredia seus olhos, acostumado com o escuro no qual estava mergulhada.
- Pronto. Agora sim. - disse Harry, largando a varinha sobre a cama. Hermione, finalmente o encarou, depois olhou para Rony que parecia surpreso. - Rony, você concorda com tudo que Hermione disse, quanto a Hogwarts?
- Sim, acho que ela está inteiramente certa. - disse ele, prontamente, ainda surpreso com o fato de Harry estar falando com ele.
- Ótimo, portanto, minha decisão é que voltamos a Hogwarts. - disse Harry, sorrindo, o mesmo fizeram os outros dois. - E vamos nos dedicar completamente aos estudos e absorver a maior quantidade de conhecimento e informação possível.
- Ah, que maravilha... Nem acredito. - falava Hermione com um sorriso radiante.
- RONY!!! RONY! DESÇA ATÉ AQUI! AGOOORA. - era voz da Sra. Weasley, que ecoava escada acima.
- Acho que tenho que descer, fico feliz pela sua decisão, cara. Agora eu vou indo...- disse Rony, calmamente, deixando o quarto.
- Ah, agora temos que combinar um dia para ir ao Beco Diagonal comprar o material escolar, preciso de novas vestes, as minhas parecem ter encolhido...
- Na verdade, foi você quem cresceu. - disse ele, rindo da euforia da amiga.
- Não, Harry, eu não cresci tanto assim...
- Não? Vem aqui. - Harry puxou Hermione pelo braço e a colocou de frente ao espelho, na porta do guarda-roupa, era possível ver o reflexo da garota e a cabeça de Harry atrás dela. - Está vendo sua altura? Você está bem mais alta agora. E, Mione, com todo respeito, não me leve a mal por isso, mas você não tinha todas essas curvas há pouco tempo atrás. - ele a viu corar através do espelho e lhe lançar um olhar de censura. - Acho que vou ter muito mais trabalho esse ano, acabar com o barato dos idiotas que vierem atrás de você.
Ele sorriu pra ela e ela retribuiu.
- Não se preocupe, ninguém vai reparar como você reparou.
- Você é a única que acha isso, espera só pra ver, os montes de garotos atrás de você!
- Deixe de ser tonto Harry! – ela fechou a cara. - Chega.
- Certo. Ótimo! Vou indo pro meu quarto dormir, boa noite. - disse ele, dando um beijo na bochecha dela.
- Boa noite.

***

Harry estava chegando à porta de seu quarto quando viu Rony chegando ao corredor.
- Mamãe queria que eu a ajudasse com a louça, não sei por que, ela tem uma varinha... - disse Rony, rindo. - Ah, falei pra mamãe sobre uma ida ao Beco e ela disse que podemos ir no dia do nosso teste de aparatação, logo depois que terminarmos lá e...
- Rony, chega. - disse Harry, friamente.
- Mas...
- Você está achando que já esqueci o problema de ontem, é? Só porque te falei uma dúzia de palavras no quarto da Mione? Só falei com você por causa dela, única e exclusivamente em consideração a ela, portanto não venha atrás de mim querendo puxar conversa, o.k.?
- Eu pensei que...
- Pensou errado. Tenha uma boa noite!- disse Harry entrando no quarto e fechando a porta bruscamente.

A segunda-feira chegou sem muita demora, Harry continuou firme na sua posição de não falar com Rony, porém tentava amenizar a situação quando estava perto de Hermione, a mesma coisa acontecia perto dos outros moradores da casa. Enquanto isso, Fleur continuava com suas infinitas reclamações e se queixava de dores as quais não falava pra ninguém onde eram, Gui estava extremamente impaciente com a esposa, mas vazia o possível para não aborrece-la ainda mais. O Sr. Weasley parecia bastante atarefado no Ministério, pois saia muito cedo e voltava muito tarde, era quase impossível encontra-lo em casa. Os membros da Ordem apareciam com pouquíssima freqüência na sede, o que fez Harry pensar que deviam estar meio sem rumo depois da morte de Dumbledore.
Eram onze e meia da manhã quando Harry e Rony chegaram ao Largo Grimmauld acompanhado de Tonks e Lupin que pareciam bastante animados.
- E então, como foi?- perguntou uma Hermione ansiosa e nervosa, que estava numa vigília inquietante no sofá esperando os amigos.
- Consegui Mione! Eu consegui! Passei no teste!- Rony estava radiante, seus olhos brilhavam incessantemente.
- Ah, Rony! Meus parabéns, eu sabia que você ia conseguir!- Hermione deu um abraço no ruivo que retribuiu feliz.
- E você Harry?- perguntou ela, voltando-se para ele.
- O que você acha?- perguntou ele abrindo um sorriso devastador.
Ela deu um grito de alegria e pulou nos braços dele, todos os presentes riram, até mesmo Rony.
- Ótimo, fico muito feliz que todos tenham passado, portanto, vamos estrear essa permissão indo ao Beco Diagonal!- disse a Sra. Weasley abraçando o filho.
- Mas tem a Gina... - disse Tonks.
- Ela não vai, não precisa de novas vestes, portanto não precisa ir. - respondeu a mulher, apanhando a bolsa. - Vamos?
- Vamos. - responderam os outros.
- Pegaram suas listas?- perguntou Lupin.
- Sim.
Eles saíram da casa e, depois de verificar se haviam trouxas por perto, aparataram no Beco diagonal.
Algumas horas depois, estavam todos de volta e famintos, com livros, pergaminhos, penas e vestes novos.
Todos estavam bastante animados com a volta a Hogwarts, que seria na quarta-feira, dia primeiro de setembro, “Oba, o fim da semana vai chegar mais rápido” dizia Rony, animado. Na manhã do dia seguinte as malas de Hermione já estavam prontas e ela estava arrumando o cesto de Bichento quando ouviu alguem bater a porta.
- Quem é?
- Fleur.
- Entra.
- Oi. - disse Fleur entrando no quarto de Hermione. - Atrapalho?
- De maneira nenhuma. - disse Hermione, sorrindo. - Sente-se.
A loira sentou na cama e mirou Hermione por alguns instantes.
- Você me disse que eu podia vir conversar se precisasse. - ela parecia meio desesperada.
- Claro, pode confiar em mim Fleur, sou toda ouvidos. - Hermione se sentou ao lado da outra.
- Eu... Bem... Eu preciso contar pra alguém, já não agüento mais me segurar. - ela deu um suspiro profundo e voltou a encara Hermione. - Hermione, prometa que não vai contar pra ninguém e, por favor, me ajude!
- Prometo Fleur, seja o que for, pode confiar em mim, e vou te ajudar da maneira que eu puder. - disse Hermione, prestativa e agradavelmente.
- Eu, ando meio, estranha... Acho que todos têm notado isso, mas eu simplesmente não consigo evitar.
- Sim...?- incentivou Hermione.

Depois de uma longa conversa com Fleur, Hermione correu para a escrivaninha e vez algumas anotações num pergaminho, que amarrou a perna de Edwiges que passara a manha inteira em sua janela e a despachou, esperando uma resposta em breve. A garota se sentia extremamente feliz com as coisas que Fleur lhe confidenciara, e mais feliz ainda com o fato da loira ter confiado nela. Hermione deu conselhos, sugestões e explicações, percebeu que Fleur saiu de seu quarto mais descontraída, mais feliz e menos apavorada, com certeza do que fazer. Hermione, mesmo sendo mais nova, a ajudara muito e ela se sentia imensamente grata por isso.

***

A casa esteve muito agitada durante todo o dia, A Sra. Weasley subia e descia as escadas numa velocidade incrível com roupas limpas e passadas para os garotos, enquanto estes corriam os cômodos atrás de seus pertences largados por toda a casa.
- Alguém viu o Bichento?- perguntou Hermione entrando ofegante na cozinha depois de revirar a casa atrás do gato, pouco antes do almoço. - Não o vejo há dias...
- Eu também não querida... - disse a Sra. Weasley procurando travessas nos armários, enquanto Dobby mexia grandes panelas no fogão.
- Você o viu Dobby?
- Sim, senhorita, o vi hoje, debaixo do sofá da sala de estudos no terceiro andar, ao lado do quarto que pertenceu ao hipogrifo.
- Terceiro andar? Nem me lembrava que ele existia. Obrigado Dobby, vou achá-lo.
- Hermione, querida, pode levar essas roupas? São do Harry, depois só faltam as da Gina e eu termino. - disse ela, apontando uma pilha de roupas sobre a mesa. - Depois chame todos para almoçar, já vou servir.
- Certo. - Hermione pegou a pilha de roupas e seguiu para o andar de cima, parou ao quarto de Harry e bateu, com dificuldade, na porta.
- Entre!
- Oi, eu vim trazer essas roupas... - ela parou de chofre, o quarto de Harry estava simplesmente uma bagunça, tinha roupas, toalhas, lençóis espalhados por todo o quarto e sobre a cama o malão escancarado completamente vazio. Ele olhava desesperado entre as coisas, com as mãos enfiadas nos cabelos. - Está tudo bem?
- É o que parece?
- Qual o problema?
- Não acho MINHA VARINHA!!!
- Ah! É isso?- perguntou Hermione fazendo pouco caso.
- É isso sim!
- Bom, - disse ela, calmamente, depositando a pilha de roupas sobre o travesseiro do garoto, essa era a única coisa que estava no lugar ali dentro. - Se você fosse menos apressado, você lembraria que...
- E a Edwiges... - disse ele, desesperado, mexendo os dedos freneticamente dentre os cabelos. - CADÊ A EDWIGES?
- Acalme-se Harry... - disse Hermione, caminhando com sacrifício até o amigo.
- Me acalmar? Eu perdi minha coruja e MINHA VARINHA!!! NÃO DÁ PRA ME ACALMAR! - rugiu ele, se abaixando e revirando ainda mais as coisas no chão.
- HARRY! Cala a boca!- disse Hermione muito séria, com um olhar de advertência. Ele a encarou, ainda agachado. - Eu peguei Edwiges hoje pela manhã, precisava mandar uma carta e ela estava na minha janela, portanto, a usei. Desculpe não ter pedido sua permissão, nem ter te avisado, mas você não tem tanta correspondência pra mandar, tem?
- Não. - disse ele, ofegante, se levantando.
- Quanto a sua varinha, você a deixou no meu quarto ontem a noite.
O rosto de Harry se iluminou num alivio absoluto. Estava desesperado com o fato de ter perdido a varinha, o que seria de um bruxo sem sua varinha?
- Ah, eu estava desesperado, não encontrava em lugar nenhum...
- Bom, acho que você vai ter trabalho de sobra durante a tarde, não? - disse ela, olhando em volta.
- É.
- Vamos almoçar, a Sra. Weasley mandou chamar. Depois te ajudo com isso.
- Vou ao seu quarto, pegar a varinha.
- Certo, vou chamar os outros.
Eles saíram do quarto e Hermione seguiu batendo nas portas para chamar o restante das pessoas, enquanto Harry atravessou o corredor e entrou no quarto de Hermione.
O rapaz logo percebeu que ela já fizera as malas e estava pronta para partir, o malão da garota estava devidamente arrumado e encostado ao lado do guarda roupas, o cesto de Bichento estava pronto encima da cadeira da escrivaninha, onde Harry avistou sua varinha e foi apanhá-la. Nesse instante, Edwiges entrou voando no quarto da garota carregando uma pequena caixa embrulhada em papel pardo, com o dizer ‘Madame Malkin’ carimbado e mais um pequeno pergaminho.
- Estranho, fomos ao Beco Diagonal ontem mesmo, o que será que ela esqueceu?- Harry desatou a caixa e o pergaminho da coruja e aproximou dos olhos, observando atentamente, era pequena demais para caber uma peça de roupa, porém, um pouco grande pra um lenço ou um outro adereço feminino qualquer.
- Harry!- ouviu-se a voz de Hermione chamando-o no corredor. - Achou?
- Sim, sim, estou indo. - Harry largou a caixinha e o pergaminho sobre a escrivaninha e seguiu para o almoço, acompanhado de Hermione, Rony, Gina e Fleur. - Mione, chegou uma encomenda, Edwiges trouxe.
- Já? Ah, depois eu vejo... - na cozinha, eles provaram um delicioso almoço e depois disso, subiram para terminar de fazer as malas.

- Preciso ir atrás do Bichento, Dobby me disse que ele está lá no terceiro andar. - disse Hermione, enquanto subia a escada acompanhada de Harry e Rony.
- Terceiro andar? Nem me lembrava que existia. - disse Rony.
- Eu também não, mas mesmo assim, vou lá...
- Vou fazer minhas malas. - disse Rony e seguiu direto pra seu quarto.
- Mione...
- Que?
- Você pode ir, lá... Bem... Me fazer companhia? Quero dizer, enquanto arrumo as malas.
- Claro, não tenho nada pra fazer hoje à tarde... E você vai precisar de bastante ajudar.
- Certo, te espero então.
- O.k.!

Hermione encontrou Bichento exatamente no lugar que Dobby informara, ele havia levado algumas coisas para debaixo do sofá, como uma camisa e uma meia de Hermione, que estavam completamente comidas.
- Você está com algum problema! Só pode ser... Comer objetos... Não é normal. - ralhava ela, carregando gato em direção ao segundo andar. - Vou colocar comida descente pra você e vou ficar realmente zangada se você não comer, entendeu?
Ela desceu a escada, entrou em seu quarto, e com alguns acenos da varinha, conjurou uma excelente ração para gatos e um cercadinho alto, no qual colocou Bichento.
- Não se atreva a sair. Não se atreva!- ela deixou o gato lá e saiu em direção ao quarto de Harry. Quando entrou nele, não avistou o dono, mas tudo continuava na mesma situação deplorável de antes do almoço.
- Por onde você prefere começar?- perguntou ele, saindo do banheiro com alguns objetos na mão, que jogou em cima da cama.
- Por onde você quiser, estou realmente sem nada pra fazer, portanto, quanto mais bagunça, melhor!
Ele a encarou por alguns instantes.
- Você é louca!- disse ele, por fim, sorrindo.
Harry puxou a varinha e apontou para as meias que se ordenaram ridiculamente no ar.
- Harry! Isso é ridículo!
- Também acho. Melhor você enfeitiçar a roupa, para que elas se dobrem você é muito melhor que eu nisso... - ele olhou para as meias que se viraram do lado avesso sozinhas, depois caíram no chão. - Nisso e em outro milhão de coisas!
- Ótimo, me elogie bastante, vai se arrepender por isso, sabe que minha auto-estima tende a subir demais...
- Sei sim, mas é verdade.
- Vamos fazer isso manualmente!- disse ela, sentando-se no meio da cama, depois de abrir caminho na enorme quantidade de roupas aglomeradas ali.
- O que? Manualmente? Você quer dizer...
- Como trouxas! Isso mesmo. - ele arregalou os olhos. - Se usarmos magia, faremos isso muito rápido, depois não teremos mais nada pra fazer... Você não está muito a fim de partidas de xadrez de bruxo com Rony, está?
Ele suspirou.
- O.k., você venceu. - ele empurrou um monte de roupas, que estava nos pés da cama, pra cima de Hermione, e colocou seu malão ali, para que pudesse organizá-lo. - Você dobra! Eu não tenho vocação nenhuma para isso!
Ela sorriu e com a ajuda dele, separam as roupas por peças, ela começou a dobrá-las enquanto ele ia recolhendo seus pertences pelo quarto. Foi bastante divertido, pois enquanto trabalhava, cantavam musicas animadas e conversaram sobre coisas completamente inúteis.
Em algumas horas, grande parte da roupa estava dobrada em várias pilhas perfeitas, esperando serem colocadas no malão. As pilhas estavam e volta de Hermione, que terminava de dobrar as camisas de Harry, com um cuidado particular.
- Não precisa dobrar assim, Mione!- disse Harry, enquanto organizava seus livros no fundo do malão.
- Precisa sim, é horrível um homem andando com a camisa cheia de vincos nos lugares errados!- disse ela, dedicando-se a uma nova camisa.

***

- Acho que Minerva vai continuar dando aula de Transfiguração. - disse Hermione, a Harry, enquanto continuavam a fazer as malas. Já estava entardecendo, o repertório de musicas estava cada vez pior, eles preferiram parar de cantar e conversar sobre alguma coisa que realmente valesse a pena.
O malão estava aberto nos pés da cama, e Harry, de pé a sua frente, tentava encontrar a melhor maneira de guardar as coisas, enquanto Hermione estava sentada no meio da cama com as pernas tipo de índio, rodeada de roupas as quais terminava de dobrar graciosamente.
- Não acho Mione, ela é diretora agora, está muito atarefada.
- Não acredito nisso Harry, tenho certeza que ela pode muito bem ocupar os dois cargos ao mesmo tempo... Que meias são essas?- perguntou ela, rindo, levantando o braço cujos dedos seguravam uma meia que Harry ganhara de Dobby no quarto ano.
- Ah, me dê isso aqui... - disse ele, debruçando-se sobre o malão para tomá-la da mão da amiga.
- Não, eu quero uma explicação. Você não usa isso, usa?- ela dava gargalhadas enquanto chocalhava a meia, roxo berrante com vários desenhos de pomos bem deformados, na frente dos olhos de Harry.
- Me devolve isso Mione. - disse ele, debruçando-se mais, para alcançar a meia.
- Não enquanto você não me explicar o que isso significa... - ela agora estava vermelha como um tomate, quase sem ar de tanto rir.
- Me devolve, AGORA!- Os pés de Harry escorregaram, ele caiu com tudo em cima de Hermione que também caiu para trás com o peso de Harry.
- Ai, minha perna... - ela reclamava gritando, mas não parava de rir.
- Para Hermione, vai chamar atenção da casa toda desse jeito. - a voz de Harry saiu abafada.
Estava uma confusão, Harry caíra com as pernas sobre o malão e sua cara estava enfiada na barriga de Hermione que tremia com o riso incessante dela, as pilhas de roupas perfeitas que a garota tinha dobrado, desmoronaram com o movimento dos dois. Era um emaranhado terrível de pernas, braços, e roupas. Mesmo assim, ela não parava de rir.
Harry teve sérias dificuldades pra poder enxergar o rosto da amiga, que agora estava ofegante, como se lhe faltasse ar para respirar.
- Certo, vejo que seu ataque de riso passou. - disse ele, com um ar zangado, mas parecia se divertir com a situação, tirando uma camisa do rosto dela para poder enxergá-la.
- Você ainda vai ter que me dizer de onde vieram essas meias!- disse ela, ofegando.
- Ótimo, agora, precisamos nos livrar de nós mesmo, depois dessas roupas... - disse ele, tentando, inutilmente, se levantar, mas estava enrolado demais para sair daquela situação, voltou a desabar na barriga de Hermione, então, apoiou o queixo nela e encarou a garota.
- Confortável?- perguntou ela, olhando para ele, deitando na própria barriga.
- Bastante. - respondeu ele, sorrindo. - Agora vamos ter que arrumar toda essa parte de novo, ah, droga, você já tinha dobrado tudo.
- Agora estou com preguiça, e... Upf! Você pesa Harry!- disse ela, sorrindo.
- Ah, me desculpe. - disse ele, voltando a se levantar, com mais cautela dessa vez, ele foi se erguendo e subindo na cama com a ajuda dos pés que pareciam escalar naquele montante de roupas, para evitar que o malão caísse e acabasse com o resto do trabalho que permanecera intacto.
- Minhas pernas estão dormentes, sai logo Harry!- disse Hermione, com uma careta, empurrado o peito de Harry com as mãos.
- Eu não tenho culpa dessa bagunça!
- Tem sim, AÍ! Pisou no meu joelho!- ela gritou, seus olhos se fecharam numa contração de dor.
- Desculpe, cuidado quando for esticar as pernas para não chutar o malão. - disse ele, conseguindo, finalmente, sair de cima dela e se sentar.
- Ah... Meu joelho!- disse ela, quando finalmente pôde se sentar e observar a perna dolorida. - Está roxo!
Ela levantou a calça até aparecer o joelho que trazia uma grande marca roxa.
- Oh, Mione... Desculpe-me! Tente esticar... - disse ele, examinando a marca que produzira, ajudando-a a esticar a perna.
- Ah, ah... Não dá pra esticar não. Harry, você pisou em cima, todo seu peso sobre meu joelho! Você não queria que eu saísse dando pulinhos, não é?
- Vou buscar gelo, para desinchar, me espera aqui.
- Definitivamente, daqui eu não vou conseguir sair!
- Volto logo. - disse ele, calçando os tênis.
- Pega lá no meu banheiro, aquela poção que eu usei no seu nariz, vai ajudar a tirar a marca.
- Certo, volto já!- disse ele, dando um beijo de desculpa na testa dela, que não conseguiu evitar um sorriso. Ele saiu do quarto e ela tentou se ajeitar na cama, afastando algumas roupas e encostando os travesseiros a cabeceira para que pudesse sentar com mais conforto.

- E aí? Melhorou?- perguntou Harry, entrando no quarto, minutos mais tarde, com gelo numa bolsa térmica e um vidro de poção na outra mão.
- Não muito, está realmente doendo.
- Será que deslocou, ou quebrou? Melhor irmos ao médico... - disse ele, com um semblante preocupado e culpado.
- Não, Harry, quebrar não quebrou, tenho certeza. Talvez tenha deslocado, mas... Bem, ele vai voltar no lugar de qualquer jeito, não é?- ela sorriu, ele jogou todas as roupas, que estavam sobre a cama, no chão e sentou do lado dela.
- Me desculpe, eu não...
- Harry! Ah, pelo amor de Deus! Não vá se sentir culpado por isso... Dê-me o gelo aqui.
Ela puxou a bolsa de gelo da mão dele e pressionou contra o joelho, fez uma careta de dor e fechou os olhos, recostando a cabaça no travesseiro.
Ele foi até o banheiro e achou um pouco de algodão, “Vai precisar enfaixar... faixa... faixa...” pensava ele, procurando pelas portas e gavetas do armário do banheiro, não achou nada. “Ótimo, conjuro uma!”, com um aceno de varinha um rolo de faixa apareceu em sua mão.
Quando voltou, encontrou Hermione do mesmo jeito que a deixara.
- Não durma você ainda tem que me ajudar com a mala, lembra?- disse ele, baixinho, dando um beijo estalado na bochecha dela. Ela sorriu, mas não abriu os olhos.
- Depois de acabar com meu joelho você ainda quer que eu te ajude?
- Claro! Qual a graça de fazer as malas se você não estiver aqui pra organizar tudo?
- Acho que estou te mimando demais!- ela o encarou, sorrindo.
- Tarde demais! – ele sorriu, agradecendo todo o mimo dela. - Vamos consertar isso agora. - disse ele, sentando-se próximo ao joelho dela. Ele apanhou uns travesseiros e colocou-os sob sua panturrilha, deixando o joelho suspenso.
- Deixa que eu faça isso Harry, olha o estado desse quarto, você tem que fazer suas malas...
- Não! Fui eu quem fez isso, eu conserto!
- Ah... Adianta contestar?- perguntou ela, encarando-o.
- Não!
Ela resmungou alguma coisa sem sentido e ele voltou ao joelho dela, depois de passar bastante poção para marca roxa sair, ele o enfaixou cuidadosamente e selou o fim da faixa com um feitiço para que não escapasse.
- Pronto. - disse ele, olhando finalmente pra ela.
Deparou-se com um rosto angelical pendendo míseramente para o lado sobre o pescoço, ela estava com os olhos fechados, provavelmente dormindo.
Harry se levantou e a pegou no colo, para deitá-la decentemente na cama, colocou-a cuidadosamente sobre o colchão, ajeitou o travesseiro, pegou um lençol no guarda-roupa e a cobriu. Ela virou-se para o lado, fazendo o cabelo cobrir-lhe o rosto, ele se ajoelhou no chão, olhando para o rosto da garota, afastou o cabelo dela e o colocou de trás da orelha, depois acariciou o rosto dela com as costas dos dedos, os lábios dela se mexeram formando um sorriso leve e discreto, ele também sorriu. Depois de observá-la por muito tempo, ele se levantou e fechou a porta da sacada, deixando o quarto escuro. Apanhou um livro qualquer, no chão, e saiu em direção ao terceiro andar, tendo certeza que ninguém o incomodaria lá.



***

N/a: E aí???
O que acharam?

Desculpem-me pela demora para atualizar... Mas eu estava em semana de provas e não tive tempo para nada, nem pra responder os comentários.
Eu sinto muito.

Mas vou respondê-los ainda hoje.

COMENTEM bastante, por favor.

Eu eu gostaria de agradecer a cada uma das pessoas que comentaram os capítulos durante essa minha 'ausência'. Eu acho muito chato não responder a vocês, acho até que se o escritor da fic 'não liga' para os leitores eles ficam desmotivados e param de comentar. Por isso eu gosto de estar sempre respondendo. Porém, como vocês perceberam, os últimos meses andaram um tanto quanto tumultuados pra mim e eu os deixei na mão. Realmente me desculpem. Agradeço imensa e infinitamente por não me abandonarem, e sempre comentarem.
Amo vocês, demais!!!

Beijos a todos.

Paulinha.

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