Epílogo



         Espreguiçou-se com muito custo, sentindo o lençol deslizar por sua pele nua. Abriu os olhos vendo a claridade fraca do sol pálido que entrava pela janela e se derramava sobre a cama, que, ela logo notou, estava vazia.


         Ergueu a cabeça e viu, repousando tranqüila e reluzente no travesseiro ao seu lado uma rosa vermelha de pétalas aveludadas.


         Sorriu, inconscientemente, com seu olhar alcançando uma pequena caixinha, retangular, que estava ao lado da flor.


         Sentou-se e a apanhou, ao mesmo tempo que seus olhos se arregalaram ao ver que a rosa também “levantara-se” e agora flutuava verticalmente ao seu lado.


         Curiosa demais para saber o que tinha na caixa, Hermione ignorou o comportamento da planta e mirou a embalagem em suas mãos.


“Feliz natal!”, estava escrito num pedaço rasgado de pergaminho. Era a letra de Harry. Ela sorriu e abriu a caixa.


Se surpreendeu.


Um outro pedaço de pergaminho dizia: “Acho que devemos andar juntos agora.” E ao lado estava um pingente de prata com duas letras “H” enlaçadas.


Ela riu, observando a prata reluzir sob o sol. Sem pressa alguma, tirou seu velho pingente e o trocou pelo novo, satisfeita.


Foi então que seu estomago fez um barulho absurdo, avisando-a que sim, ela estava com fome.


Levantou-se, sentindo o calor morno do sol de inverno em seu corpo, apanhou o roupão grande e fofo que a estava esperando na poltrona ao lado da cama, o vestiu e enquanto dava o nó, viu que a rosa flutuava a pouca distancia de seu ombro esquerdo, girando lentamente, como uma bailarina numa caixinha de musica. As pétalas aveludadas brilhavam; o perfume, emanava suave.


Riu, ligeiramente nervosa, tentando descobrir qual era o ‘mistério’ da flor, mas logo deixou de se preocupar, nada que Harry fizesse seria para assustá-la, seria?


Caminhou até o banheiro, olhou-se no espelho, viu o pingente em seu pescoço reluzir, radiante. Prendeu o cabelo num coque frouxo, jogou água no rosto... Olhou-se mais uma vez, reparou que sorria. Porque não conseguia parar de sorrir. Não se lembrava de uma vez, em toda sua vida, que se sentira assim.


Leve.


Ela tentou ficar séria, mas não conseguiu. O que a fez rir mais.


Saiu do quarto, no hall, seu olhar caiu sobre o sofá.


Riu sozinha.


Teve certeza que a textura fina do veludo claro daquele sofá jamais seria esquecida.


Desceu os degraus da escada lentamente, sendo seguida pela flor, que vinha ao seu lado, silenciosa.


Passou pela sala, afundou seus pés descalços no tapete fofo e claro, sentindo o sol perder a timidez e se espalhar pela sala através das paredes de vidro. Depois de passar pela entrada da sala de jantar, chegou, finalmente, a cozinha, onde o balcão alto a esperava, convidativo, com um café da, manhã digno da realeza.


Mais que satisfeita com o que via, sentou-se num dos bancos altos e sua atenção foi desviada inteiramente de todas as guloseimas a sua frente para a rosa, que, com um gracioso movimento girou pela ultima vez e desceu até pousar num vaso fino e cumprido de cristal que a esperava.


O cristal reluziu, radiante, com sua mais nova e bela ocupante.


Hermione não dera conta que sorria bobamente diante da imagem. Piscou algumas vezes até seus olhos se desprenderem do espetáculo e seu estomago avisar, zangado, que sim, ele esperava comida.


- Bom dia! – a voz dele encheu a cozinha. Ela se envergonhou apenas em pensar que além de aquecedora, soou bastante sexy também.


- ‘Dia. – ela respondeu, num sussurro falho, depois de engolir rápido demais um gole de suco de abóbora.


A reação foi instantânea no momento em que os lábios dele passaram pela curva do pescoço dela. Hermione imediatamente colocou o copo que segurava sobre o balcão, sabia que se continuasse sem apoio ele se espatifaria no chão.


Ele riu com a reação dela, vendo a pele arrepiada da garota aonde acabara de tocar. Sentou-se do outro lado da bancada, apanhou uma uva, mastigou-a lentamente enquanto observava cada movimento que ela fazia, quando mordia a torrada ou os nós dos dedos, firmes, em volta do copo de suco.


Ela estava diferente.


Parecia diferente.


Parecia uma pintura.


De verdade.


Os cabelos claros sob o reflexo do sol que entrava pelo vidro, preso descontraidamente; o pescoço alvo, languido, que de tão frágil, era convidativo.


E, estranhamente, ele admita, sabia que não havia uma só peça de roupa sob aquele roupão fofo e grande.


Ela parecia irradiar uma luz própria, que ele jamais vira antes.


- O que foi? – ela perguntou, fingindo estar incomodada com a observação sem fim dele. Na verdade, gostava. Via admiração nos olhos dele.


- Ainda não acredito.


- Em que?


- Em você.


- O que? – ela indagou, surpresa. O que fizera de errado?


- Digo, você e eu. Juntos.


Ela sorriu.


- Sempre juntos, lembra?


- Sempre juntos. – ele assentiu, sério.


Alguns segundos se passaram. Hermione terminou seu suco e partiu para outra torrada.


Harry, do nada, caiu numa gargalhada sem fim, assustando-a.


- Qual é a graça?


- É inacreditável.


- O que é inacreditável?


Ele acalmou-se um pouco, tomou ar, a encarou, ainda sorrindo, e disse com orgulho.


- Fiz amor com Hermione Granger.


Ela ficou vermelha até a ponta dos cabelos.


- Seu. Pervertido. – ela disse, com dificuldade, depois deixando-se levar pelo riso dele, riu também.


- Você não tem idéia do quão bom foi. – ele emendou, fazendo-a ficar quase roxa, agora.


- Talvez eu faça alguma idéia. – ela respondeu, com dignidade. Então, mudou de assunto rápido. – Obrigada pelo presente.


- Por nada. – ele disse, como se realmente fosse nada.


Mais um momento de silêncio.


- Os Wesley mandaram uma coruja, com uma carta, dizendo que chegarão ainda hoje.


- O que?


- Parece que o Natal na tia Muriel foi insuportável, e eles não vêem a hora de sair de lá. Virão pra cá. Teremos uma festa de ano novo.


- Uuuuh. Emocionante. – ela disse, pouco convencida.


- Acho que alguém aqui está decepcionada com a notícia. – ele comentou, sabendo exatamente o porque.


- Você sabe o porquê.


Ele riu.


- É ruim pensar em ter que esconder. – ela disse, pensativa. – Eu amo você, queria que todos soubessem.


Ele piscou, surpreso com a declaração repentina.


- Eu também queria poder dizer para todo mundo. Queria poder sair e gritar a plenos pulmões. Escolhemos esconder, acho que é o mais certo por enquanto, a não ser que tenha mudado de idéia.


- Não. É o certo a fazer. Mas não sei se vou conseguir resistir. – ela admitiu, com um pequeno sorriso.


- Prepare-se, então, para o maior teste de resistência das nossas vidas. – ele falou, rindo.


- E que Merlim nos ajude.


 


- - - -


 


Era dia 31 de dezembro.


A casa estava cheia e tumultuada. Todos os Weasleys presentes e Angie que quando não estava chorando a plenos pulmões, estava rindo das graças bobas que Gui fazia pra ela.


Aquela tarde fora agitada. A cozinha não parou um segundo, com a Sra. Weasley comandando tudo como se fosse sua própria casa.


Estava implícito na euforia de todos o desejo de que aquele novo ano trouxesse mudanças. Trouxesse dias melhores, mais felizes, menos obscuros.


Agora, tudo estava calmo. Não silencioso, exatamente, mas tranqüilo. Todos em seus respectivos quartos se preparando para a ceia farta que teriam dali a alguns instantes. Estavam todos tão absortos que sequer notaram quando Hermione, na ponta dos pés, atravessou o hall enorme e entrou no quarto de Harry.


- Harry? – ela chamou, notando o quarto vazio (lê-se: sem Harry).


- Hermione? – a voz veio do banheiro. Ela riu do tom que ele usou.


- Quem mais seria?


- Sei lá... Gina é meio louca às vezes... – ele continuou, distraidamente, saindo do banheiro com uma toalha na cintura.


- Tsc, tsc, tsc... – Hermione murmurou, balançando a cabeça negativa e teatralmente. Depois que ele a encarou, questionando, ela disse numa voz quase irreconhecível – Que tentação!


Ela o fitou e riu quando notou o quão vermelho ele ficara com o comentário.


- Você já foi mais comportada. – ele disse, sorrindo, ainda envergonhado.


Ela apenas ria, sentou-se na cama dele com um pulo.


- Mais um ano. – ela disse, distraidamente, enquanto o observava se vestir. – Como as coisas mudam em um ano, não?


- Nem me fale!


Eles caíram num silêncio confortável, cada um absorto em seus próprios pensamentos.


- Você mudaria alguma coisa? – ele perguntou, depois de um longo silêncio, abotoando sua camisa branca.


- Não. – a resposta foi imediata e cheia de certeza, o que o fez olhá-la, desconfiado.


- Nada?


- Nada. – ela afirmou, vendo-o dar a volta no quarto e parar a sua frente. – Faz parte da nossa evolução como seres humanos, nós nos tornamos mais fortes. – ela o fitou, observando-o atentamente. – E você? Mudaria alguma coisa?


- Uma, talvez... – ele respondeu vagamente. – Me arrependo tanto...


Ela sorriu docemente, afagando uma das mãos dele.


- Talvez eu mudasse uma também. – ele assentiu, tendo certeza que as mudanças não ditas eram sabidas pelos dois naquele momento.


Mais um logo silêncio estabeleceu-se. Harry afagou o rosto dela lentamente.


- Talvez eu devesse ter dito que amo você quando me dei conta que amava você. Sem negações ou enrolações.


Ela o fitou, curiosa.


- Quando foi isso?


- Não importa. Não mais.


- Eu quero saber. Importa pra mim.


- Você ficaria decepcionada com o quão covarde eu fui...


- Helloooo! Você sabe há quanto tempo eu brigo com mim mesma por causa de você?


Ele riu pelo nariz.


- Esqueça, Hermione.


- Harry!


- Hermione!


- Eu quero sab... – ele a calou, beijando-a.


- Que pessoa mais teimosa! – ele murmurou, contra os lábios dela, fazendo-a rir.


E então, num piscar de olhos, numa velocidade inimaginável, Harry estava do outro lado do quarto. Quando Hermione finalmente deu-se conta que já não beijava ninguém, Rony já entrara no quarto sem sequer bater na porta.


Ela se perguntou como Harry sabia que ele entraria ali, naquele momento, sem sequer ter sido avisado.


- Ah, Mione! Você por aqui! – ele cumprimentou, distraidamente. Hermione não respondeu, não foi capaz de fazê-lo, ainda estava espantada e atônita com o que acontecera segundos atrás. Permanecia quieta e imóvel sentada na cama. – Harry, será que você pode me emprestar uma camisa branca?


- Claro, no guarda-roupa. – Harry respondeu, naturalmente, terminado de abotoar sua camisa.


- Ouvi você dizer que tinha comprado uma camisa nova para o Ano Novo. – disse Hermione, algum tempo depois.


- Sim, de fato. Mas ficou bem mais bonita na Sam que em mim... Deixei com ela.


Hermione emitiu um som de tédio, o que fez Harry olhá-la, desconfiado.


- Qual é, Mione? Alguma coisa contra? – Rony perguntou, enquanto despia a camisa que usava para vestir a outra.


Ela virou o rosto, numa reação estranha, mas automática, preferia muito mais ver Harry sem camisa.


- É, Hermione. – disse Harry num tom instigante, quase a censurando. – Alguma coisa contra?


A voz dele a fez fitá-lo.


- Acho que ela está com inveja porque não tem um namorado que prefira a camisa nela que nele. – Rony alfinetou.


Ela ficou zangada com o comentário. Harry conhecia aqueles vincos ranzinzas naquela testa adorável. Hermione quis dizer a Rony com todas as letras que quem estava usando aquela mesma camisa, que o ruivo terminava de abotoar, duas noites atrás era ela.


- Você está insinuando que eu não consigo arrumar um namorado?


- Não vi nenhum desde o babaca do Krum.


Harry sentiu uma pontada estranha em algum lugar. Krum. Nem se lembrava dele... Por que isso passara o incomodar tanto em poucos segundos?


         - Ao menos não era eu que corria atrás dele como um retardado por um rabisco dele num pergaminho... – ela disse, ofendida.


         - Não fale assim! Isso é despeito por ele ter sido o único que conseguiu te suportar!


         - Ronald...


         - Agora eu entendo... ele não falava nossa língua, não é mesmo? Talvez tenha sido isso, ele nunca entendeu suas reclamações e...


         - Agora você está insinuando que eu sou uma chata insuportável? – ela falou, alto, levantando-se.


         - Eu não estou insinuando nada... Mas se a carapuça serviu...


         - Ronald Weasley, veja bem como você fala comigo! – ela ralhou, em voz alta, nervosa.


         Harry riu.


         Os mesmos de sempre.


         Eles jamais mudariam.


         - Pára de histeria, Hermione. Você tem que aceitar o fato: Sam e eu somos um casal agora. Não tenho culpa que você e Krum não tenham dado certo. Pare com as cenas de ciúmes agora, ok?


         Hermione riu uma risada irônica e venenosa.


         - Cenas de ciúmes? EU? – ela estava realmente brava, Harry notou. Viu que era hora de intervir.


         - Chega, os dois. – ele falou, alto e claro. – Rony, fico feliz em saber que você está feliz, mas você não precisa compartilhar detalhes da sua vida de casal com a gente. – o ruivo abriu a boca para protestar, mas Harry aumentou a voz. – E você, Hermione, cale-se agora antes que você diga coisas das quais vai se arrepender depois.


         Ela sequer deu sinal de que contestaria. Apenas assentiu, abaixou a cabeça e ficou bem quieta.


         Rony bufou, terminando de vestir a camisa. Olhou-se no espelho e pareceu bastante satisfeito o que via.


         - A propósito, Hermione – ele disse, olhando para a amiga com uma voz doce, quase num tom de desculpas. – Você está linda.


         Ela o encarou, arregalando os olhos. Depois sorriu.


         - Obrigada, Ron. Você também. – ela disse, suavemente.


         - Vejo vocês mais tarde. – ele saiu do quarto sem ao menos esperar resposta.


         Não viu que Harry estava com a cara mais espantada do mundo.


         - Que foi? – Hermione perguntou.


         - Nada. – ele respondeu, rápido demais.


         - Harry... – ela falou, sabendo que alguma coisa estava errada.


         - Você está mesmo linda. – ele disse. – Me desculpe não ter dito antes. Sabe que eu sou meio...


         - Distraído? Totalmente sem jeito com as mulheres? Sim, eu sei, te conheço há sete anos. – ela disse, com graça. Ela se levantou da cama e foi até ele.


         - Totalmente sem jeito. Me desculpe. – ele disse, de novo, achando que cometera um pecado por não tê-la elogiado antes. Ela estava realmente linda, de uma forma simples, dentro daquele longo vestido branco. De um tecido leve que vinha justo até a cintura e depois tornava-se rodado até o chão.


         - Não se preocupe. – ela falou, baixo. – Você está indo muito bem.


         - Estou?


         - Huhum. – ela assentiu, acariciando o rosto dele. – Nada que um pouco de prática não resolva.


         Ele riu, roçando seu nariz na bochecha dela. Gostava de sentir a pele dela contra sua... Gostava do perfume, da textura, da cor, do sabor...  


         - Sabe... – ele começou, lentamente, ela expirou fundo sentindo que aí vinha... – Rony se lembrou do Krum e...


         - Oh, não. – ela riu, com sua testa na dele. – Não vai querer trazer isso agora, vai?


         - Não. Eu só estive pensando se...


         - Se... – ela o encorajou, achando graça no jeito dele.


         - Se você gostava dele... Porque... Você nunca falou muito sobre isso e... Sempre se esquivava quando te perguntávamos alguma coisa...


         - Sim. Eu gostava dele. Não teria ficado com ele se não gostasse. – ela disse, com sinceridade, ainda sorrindo.


         Alguma coisa dentro dele deu voltas, subiu e desceu, virou cambalhota...


         Ele não emitiu uma palavra sequer por alguns minutos.


         - Não sabe o quanto é ruim ouvir isso. – ele admitiu, fazendo-a rir.


         - Harry! Você perguntou, eu respondi. Eu tinha 14 anos, ele era um jogador famoso, não que eu realmente me importe com isso, mas... Ele era um cavalheiro, fazia eu me sentir bem... Sei lá... Eu era meio idiota também...


         Nesse ponto ele riu.


         - Tenho que concordar, você realmente era meio idiota.


         - Não foi nada significante. Sequer nos correspondemos mais. Foi bom nos poucos dias que durou, mas passou. Assim como você e Gina.


         - Uh, nem me lembre! – ele disse, provocando uma gargalhada nela.


         - Você gostou dela.


         - Me apaixonei por ela. – ele falou. – Achei que a amava.


         Hermione o fitou, séria.


         - Nunca me disse isso.


         - De repente me dei conta do quão estúpido eu era. Eu nunca a amei. Me apaixonei por ela, me apaixonei pela idealização que tinha de nós dois juntos... Hoje eu amo você, amo pensar no futuro e saber que você estará comigo. Sem idealizações, apenas realidade. Me dei conta de quão longe está o que eu sentia por Gina e o que eu sinto por você...


         Ela aquiesceu, bobamente, sentindo seus olhos úmidos. Como podia ser tão boba?


         - Talvez seja esse o problema... Talvez seja por isso nós não termos dado certo... Eu olhava pra ela e procurava você. Talvez eu não soubesse aquela época quem realmente procurava, mas hoje eu sei que quando a olhava eu queria ver os olhos castanhos curiosos e sedentos por conhecimento, a força indestrutível, a bondade inquestionável, a personalidade indiscutível... Eu sempre procurei você... Só agora te achei. – antes mesmo de terminar, sentiu os lábios dela nos seus. Ela o beijou docemente.


         Era sua Hermione.


         Se separou minimamente dela, afagando a bochecha rosada.


         - E acho que você tem uma queda por jogadores de quadribol. – ele disse, cheio de graça, conseguindo fazê-la rir.


         - HARRY!  - a voz da Sra. Weasley berrou atrás da porta do quarto.


         Os dois se separaram instantaneamente, Hermione foi até a porta, a abriu, e deu de cara com uma Sra. Weasley elegantemente vestida e totalmente despenteada.


         - Olá, querida. Está muito bonita. – logo emendou, sem nem esperar que Hermione agradecesse o elogio. – Harry, Lupin e Tonks chegaram.


         - Claro. – Harry assentiu, se sentindo estranhamente adulto sabendo que tinha de recebê-los, uma vez que era o dono da casa.


         Saiu do quarto ligeiro, deixando as duas mulheres para trás.


         Desceu as escadas com agilidade e segundos depois estava cumprimentando Lupin e Tonks, e os guiando por um tour na nova casa.


         As horas passaram rápidas, em pouco tempo encontravam-se todos sentados a longa mesa da sala de jantar. O barulho de todos conversando, animadamente, era reconfortante. Angie não parava de rir, bobamente, com as graças de Fred e Jorge. Rony e Gui discutiam quadribol enquanto Gina, Fleur e Hermione falavam de Angie. Os Srs. Weasley e Tonks falavam sobre alguma coisa que Harry não conseguia distinguir e Lupin, sentado ao lado esquerdo do rapaz, falava animadamente sobre como pedira Tonks em casamento.


         A casa não podia estar mais alegre, e Harry, conseqüentemente, também não.


Tinha sua família inteira ali, para celebrar com ele a entrada de um novo ano, em sua casa, tinha a mulher da sua vida do seu lado, segurando sua mão por debaixo da mesa, sabia que ela o amava e isso bastava para todo o resto parecer perfeito.


         Era ridículo e piegas, ele sabia. Mas sim, estava perdidamente apaixonado. A amava, e se precisasse ser ridículo e piegas, seria, de bom grado.


         Qualquer coisa por ela.


         - Faltam cinco minutos para a meia noite. – Anunciou o Sr. Weasley, levantando-se. - Vamos todos pra varanda!


         A bagunça era divertida, todos se levantando, falando e comemorando juntos. Saíra da casa através das portas da sala como numa procissão.


         Lupin abraçou Tonks, da mesma forma que o Sr. Weasley abraçara a Sra. Wesley e Gui a Fleur e Angie. Estavam todos na expectativa.


         Era palpável a excitação e o sentimento de esperança que circulava ali.


         Todos desejando o mesmo, esperando o mesmo, torcendo para o mesmo.


         Queriam paz.


         Nada mais que isso.


         - Um minuto! – Fred e Jorge disseram juntos.


         - Cadê a champagne? – gritou Gina, de mau humor porque não abraçava ninguém.


         - Eu vou buscar! – Harry disse, prestativo.


         - Eu vou ajudar. – Hermione disse, sem nem pensar.


         Sabia porque Harry se oferecera para buscar o champagne esquecido. Sabia que ele estava tão ressentido quanto ela de não poder estarem juntos na virada do ano.


         E o beijo da meia noite?


         Teria mesmo que assistir os fogos e nem ao menos tocarem um no outro?


         Eles entraram na casa e na sala de jantar conjuraram as bandejas com taças e as garrafas de champagne em baldes de gelo.


         Quando tudo estava pronto, eles ouviram as vozes lá fora:


         - Dez, nove, oito...


         Harry a fitou.


         Ela sorriu.


         Sorriu aquele sorriso que Harry sabia que era só dele.


         Ele a enlaçou pela cintura e a encostou num dos pilares da parede de vidro. Lá fora, todos olhavam para o céu, a espera do novo ano.


         - Quatro, três, dois...


         - Feliz ano novo, meu anjo. – ele sussurrou, aproximando-se dela.


         - um, zero!


         Harry a beijou, sentindo as mãos dela perderem-se em seu cabelo desalinhado ao mesmo tempo em que uma algazarra de fogos começava, barulhentos e lindos, na noite fria de inverno.


         Ela se separou dele, lentamente.


         - Feliz ano novo, Harry. – disse, baixinho, vendo-o sorrir. O fitou. E no reflexo dos olhos dele pode ver um monte de cabeças curiosas olhando para dentro da sala de jantar.


         - Oh, não! – ela lamentou, num sussurro fraco, sem acreditar no que via.


         Harry notou o descontentamento dela e antes de perguntar levantou seu olhar.


         Viu, do outro lado da parede vidro, todos os Weasley mais Lupin e Tonks olhando vidrados para os dois, encostados a parede.


         Harry riu pelo nariz, sem acreditar na besteira que haviam feito.


         - Malditas paredes de vidro. – ele praguejou, sabendo que era tarde demais para se afastar e fingir que nada havia acontecido, deitou sua cabeça no ombro de Hermione.


         Ela balançou a cabeça lentamente.


         - Pronto para o bombardeio de perguntas? – ela perguntou, sabendo exatamente o que viria a seguir.


         - Pensando pelo lado bom, - ele disse, voltando a fitá-la. – foi mais fácil que reunir todos e dizer.


         Ela riu, nervosa, saindo do lugar onde estava, entre Harry e o pilar, e com sua varinha fez as bandejas a seguirem, levitando, com suas taças de cristal. Harry pegou o balde com a champagne e seguiu Hermione para fora da casa.


         Na varanda, todos os esperavam, silenciosos, enquanto os fogos brilhavam no céu.


         Ninguém sequer prestava atenção.


         Harry pigarreou, sem graça, sentindo todos os olhares sobre si. Até Angie ficara em silêncio.


         - Hum... Champagne? – ele ofereceu, encarando os próprios pés.


         De repente, sentiu um par de braços sobre si.


         - Eu me perguntava todos os dias quando é que vocês cairiam na real! – Rony disse, abraçando Harry. – Até que enfim!


         Todos riram. Hermione ficou vermelha.


         - Aleluia! Aleluia! – cantavam Fred e Jorge, com caretas.


         Lupin deu uns tapinhas camaradas no ombro de Harry, enquanto Gina agarrava Hermione pelo pescoço gritando sem parar “Eu sabia! Eu sabia!”.


         Depois do primeiro choque, todos voltaram a seus olharem para onde eles deveriam estar desde o começo: os fogos.


         Harry respirou aliviado, sentindo Hermione fazer o mesmo, quando a abraçou por trás e descansou o queixo no ombro dela.


         - Sem perguntas. – ele comentou, desconfiado.


         - Espere até o café da manhã. – ela disse, rindo e fazendo-o rir.


         Os fogos duraram longos minutos, todos assistiam, admirados, com suas taças de champagne.


         Quando acabaram, o falatório logo começou, mas ninguém parecia estar assim tão preocupado com o mais novo casal.


         Rony foi o único que chegou perto dos dois, enchendo suas taças.


         - Eu sabia, Hermione, que você não podia ser tão ruim assim para arrumar um namorado. – Rony comentou, provocando-a.


         Hermione respirou fundo, sorriu, maliciosa.


         - Na verdade, Ron, sou bem melhor do que você imagina. – ela disse, com dignidade. Enquanto Harry ria ao mesmo tempo que beijava seu pescoço. – Acredita que eu mesma estive usando essa camisa que você está vestindo duas noites atrás?


         Rony arregalou os olhos e fez uma cara de nojo.


         - ECAAAA! – reclamou, largando a taça e desabotoando a camisa no mesmo instante. – Harry! Tinha que me emprestar justamente essa?


         Harry riu, enquanto Hermione gargalhava. Rony já tirava os braços da camisa.


         - Você estaria tirando qualquer outra que tivesse pego no meu guarda roupa, de qualquer forma.


         Os olhos do ruivo se arregalaram mais.


         - Hugh! ECA! Que nojo! – ele deu as costas, praguejando, voltando para dentro da casa, enquanto Harry e Hermione riam.


         - Você ainda me deve uma coisa... – Hermione disse, depois de algum tempo.


         - O que?


         - Você me deve. Vai me pagar? – ela indagou, enigmática.


         - Sabe que faço qualquer coisa por você. – ele respondeu, vergonhosamente rendido.


         No segundo seguinte Hermione estava em sua mente.


 


- Nada vai me tirar de você. – ela sussurrou, olhando-o de forma penetrante, Harry podia sentir as palavras dela, enquanto ela ora lhe acariciava a testa, ora lhe afagava os cabelos desalinhados. A ponta dos dedos dela brincava com os seus. – Nada, nem ninguém.


         - Mio... – ele começou, levando uma das mãos ao rosto delicado dela. Mas ela o interrompeu tocando seus lábios com o dedo indicador, fazendo-o se calar.


         - Isso é uma promessa.


         E ela o viu sorrir, aquele sorriso que ele só sorria quando estava com ela. Meio aliviado, com extrema felicidade, como uma criança sem esperanças que vê um mundo de sonhos ser colocado a sua frente.


         E ele quis dizer “Eu amo você.”, naquele momento. Mas não saiu. Simplesmente não saiu.


         Meu Deus! Ele nunca estivera tão certo em toda sua vida. E essa certeza simplesmente não lhe escapava pelos lábios.


         E ele quis beijá-la. Mas a possibilidade de fazê-lo lhe pareceu impossível.


[...]


Hermione viu algo diferente perpassar nos olhos dele com rapidez, e ela não conseguiu definir o que era. Isso a intrigou. Ela sempre sabia, bastava olhá-lo nos olhos.


         A mão protetora dele lhe acarinhou a face com delicadeza e carinho. Ela sorriu levemente fechando os olhos sob o gesto.


         - Ainda que eu pudesse te ter pra sempre... O pra sempre não seria o suficiente.


[...]


Ela foi escorregando o rosto lentamente pelo dele, causando um contato que lhes produzia arrepios. Até que seus narizes se tocaram, assim como suas testas.


         - Pelo resto dos tempos... – ela sussurrou com sua boca rente a dele. – Eu e você.


 


         Ele riu alto.


         - Você não deixa passar nada, não é?


         Ela balançou a cabeça, sorrindo.


         - Pelo resto dos tempos, Harry...


         - Eu e você.


 


 


*  The End  *


 


 


~*~


 


 


 


FELIZ 2010!


 


Amo vocês...


 

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