Nada vai mudar



- Desculpe o atraso, Matt. – disse Hermione, puxando Harry para dentro da sala do professor.
- Sem problemas, Hermione. – ele respondeu, sério, fechando um livro sobre sua mesa.
Harry e Rony, que estava sentado em uma das poltronas em frente a lareira, ficaram olhando de Hermione para Matt perplexos, sem entender o que estava acontecendo.
- Boa noite, Potter. Excelente jogo. – Matt cumprimentou, aproximando-se deles.
- ‘Noite. – Harry respondeu rispidamente, Hermione lhe lançou uma olhar de desaprovação.
- Certo... Podemos começar? – o professor perguntou, olhando para Hermione.
- Acho que ainda não. – ela murmurou.
- É. Eu também acho que não, afinal, não faço idéia do porque estou aqui! – Rony falou, levando-se, bravo.
- Você não contou a eles? – Matt indagou, horrorizado, aproximando-se de Hermione.
- Não, eu...
- Eu disse a você que não os queria aqui a força, Hermione! Você me prometeu!
Harry bufou.
Rony soltou um muxoxo impaciente.
Agora ela também prometia coisas ao tal professor?
- Sim, Matt, eu sei...
Matt, Matt, Matt... A voz de Hermione martelava no cérebro de Harry.
- Eles podem colocar tudo a perder se fizerem isso sem ser por vontade própria. – Matt disse, inflamado. – Podem contar a minha mãe...
Hermione abriu a boca para argumentar, consternada, mas foi a voz de Harry que soou nada amigável na sala.
- Você está querendo dizer que o que estamos prestes a fazer é ilegal?
- Desde quando você se importa, Harry? – Hermione perguntou, chateada e com ironia.
Ele a fuzilou com o olhar, mas preferiu não responder.
- Chega disso! – disse Rony, em alto e bom som. – Hermione, explique-se.
Ela tomou ar, olhando para os três homens a sua volta. Se sentiu ligeiramente impotente no meio deles.
- Matt concordou em nos ajudar em algo de suma importância. Nos fará um favor, porém, ninguém, absolutamente ninguém pode ficar sabendo disso.
- De que se trata? - a voz de Harry veio cortante.
- Em suma, Oclumência e Legilimência.
- Oh, não! – Harry resmungou, irado. – De novo não, Hermione!
- Harry...
- Sabe o quanto eu sofri com isso no quinto ano...
- Matt não vai querer matar você usando como arma sua própria mente. – ela disse, fazendo pouco caso. – Você sabe muito bem que precisa disso.
Ele se calou sob o olhar autoritário e quase maternal que ela lhe lançou.
- Ronald? – Matt chamou. – De acordo?
- Total. – Rony disse, sorrindo animado. – Se um dia eu for pego por aquele verme com cara de cobra não vai conseguir nada de mim.
Matt riu, o que desanuviou a tensão que se acumulara ali.
- Todos de acordo? – tornou a perguntar, dando a volta por sua mesa. Encheu um copo de água e o bebeu olhando para os três, que o olhavam com atenção.
Rony, descontraído; Hermione, ansiosa; Harry, extremamente zangado.
- Sim. – Os três concordaram. Hermione sorriu visivelmente agradecida por Harry ter concordado.
- Prontos para começar?



- Minha cabeça está pesando uma tonelada... – Rony reclamou, duas horas depois, desmoronando sobre a poltrona que estivera sentado mais cedo.
- Tome isso. – Matt jogou um frasco um liquido verde brilhante para Rony, o ruivo o apanhou no ar. – Uma colher, depois durma. Acordará novo em folha.
- Obrigado.
- Por hoje foi o suficiente. Vocês parecem bem mais espertos que eu imaginava quanto a essa coisa de mente aberta. Principalmente você, Potter.
- Tenho meus motivos...
- Foi o que imaginei. – o professor comentou. – Vejo vocês terça feira, as oito.
- Até. – Rony murmurou, apressado, apelando urgentemente por uma cama.
Harry se levantou lentamente, olhou em volta, Hermione estava sentada no chão, com a cabeça recostada numa prateleira, de olhos fechados, exausta.
Vencendo todo seu orgulho, com a cabeça rachando de dor, ele se virou para o professor, que tomava uma colher da mesma substância verde que tinha entregue a Rony.
- Professor. – chamou. O tom polido assustou Matt, que o olhou apreensivo.
Hermione, lá do canto dela, abriu os olhos.
- Obrigado. – disse. – Obrigado pela ajuda. É muito importante pra nós...
- Oh, - Matt ficou desconcertado. Hermione sorriu levemente assistindo a cena de longe, sentada no chão. – Não há o que agradecer Potter. Eu também quero um mundo melhor, me sinto bem em estar contribuindo de alguma forma.
Harry sorriu e estendeu a mão. Matt a apertou e sorriu também.
Hermione riu baixinho de onde estava.
Oh, mas que bela visão: dois homens absurdamente lindos, que tinham uma rixa idiota, sabe-se lá porque, se comportando como dois cavalheiros.
Estava orgulhosa deles, principalmente de Harry.
- Até terça. – Harry disse, dando as costas, seu olhar caiu sobre Hermione que sorria pra ele.
- Até. – Matt murmurou, virando-se de costas para outro copo d’água.
Harry caminhou em direção da porta, mas parou, sorrindo para a garota sentada com seu olhar radiantemente exausto.
- Vou te ver essa noite. – ele sibilou, sem som algum.
Ela assentiu, vendo-o deixar a sala.
A porta se fechou e tudo ficou em silêncio.
Matt estava atrás de sua mesa, que ficava numa elevação, mais alta que todo o resto da sala, de costas, mexendo em alguma coisa que Hermione não podia ver, sentada do lado oposto da sala, perto da porta pela qual Harry acabara de sair.
Não tinha vontade nenhuma de levantar, seu cérebro parecia ter sido comprimido numa caixa de um centímetro cúbico, depois expandido de tal forma que queria ir além do crânio. Sua cabeça latejava de dor, mas ela não parecia se incomodar tanto.
- Hei! Você ainda está aí... – disse Matt, virando-se, olhando para Hermione, sentada lá longe.
- Sim, e sem vontade... – ela corrigiu. – capacidade nenhuma para me levantar daqui.
Matt riu, caminhando até ela.
Hermione reparou como ele era elegante, caminhando cheio de classe, ainda que estivesse descontraído.
- Como está sua cabeça? – ele perguntou, se sentado ao lado dela.
- Prestes a explodir. E a sua?
- Prestes a implodir.
Ela riu, voltando a fechar os olhos.
- Que bicho mordeu o Potter?
- Não faço idéia. – ela respondeu. – Mas Harry é uma pessoa extremamente justa. Qualquer diferença que tenha com você, ele deixará pra trás. Ele sabe reconhecer quando é ajudado, mesmo que sinta seu orgulho ferido.
- Me pareceu o Potter que tanto eu ouvi falar. Até então, ele estava se comportando estranhamente...
- Estava com ciúmes. – Hermione respondeu com simplicidade.
- De quem?
- Ora, de quem? De você. – ela abriu os olhos e o olhou de esguelha, ele parecia não entender do que ela falava. – De você comigo.
- Qual o problema dele? - Matt perguntou, achando graça.
- Talvez a questão seja: qual é o seu problema?
Ele se calou e a olhou.
Trocaram faíscas por uns breves segundos.
- O que quer dizer?
- O que você está pensando que quero dizer. – ela respondeu, com um sorriso doce.
- Hermione...
- Oh, céus! Eu definitivamente não quero falar sobre isso. – ela disse, rindo.
Ele a fitou, sem entender nada.
- Você é inteligente o suficiente pra se fazer de desentendido, do mesmo jeito que eu sou suficientemente inteligente pra saber que você sabe exatamente do que estamos falando e a que estamos nos referindo.
Ele se calou por um momento e depois soltou uma gargalhada gutural.
- Você é surpreendente.
- Oh, obrigada.
Ele também recostou a cabeça e fechou os olhos, Hermione fez o mesmo.
- Aceitar seu convite para ir a Hogsmeade foi um erro. – a voz dela estava séria. – Eu sinto muito, Matt.
- Hermione...
- Isso não é certo. Você sabe que não é. Você é meu professor, eu sou sua aluna. É isso e somente isso. Nada de passeios, encontros falsamente ocasionais nos corredores, – ele riu ao ouvir o comentário. – ou desculpas para eu ficar até mais tarde na sua aula.
- Estava tão óbvio assim?
- Não imagina o quanto!
- Eu sinto muito, Hermione. Realmente sinto muito. – ele murmurou, também sério. – Isso nunca aconteceu antes, também estou confuso.
- Não fique. – ela disse. – Não pode acontecer. Esqueça.
- Mas...
Ele abriu os olhos e fitou o rosto dela ao seu lado, bem feito, boca bem delineada, os cabelos bagunçados, o ar de exaustão e fragilidade.
- Mas...? – ela o encorajou, sem abrir os olhos.
- Mas, se não fosse proibido. Se não fosse nessas condições...
Ela abriu os olhos e fitou os dele.
- Matt...
- Só me diga se...
- Não. – ela respondeu. – Não me pergunte isso. Deixemos como está. Você é um excelente amigo, eu agradeço de todo meu coração pelo que está fazendo por mim e pelos meninos. Mas não me peça nada que eu não possa te dar; vou me sentir culpada e a amizade que temos pode acabar.
- Não.
- Eu também não quero isso, portanto...
- Certo. – ele murmurou, sorrindo. – Obrigado pela sinceridade.
- Não me agradeça, me mataria se não fosse sincera com você.
- Amigos? – ele estendeu a mão.
- Amigos. – ela concordou, aceitando a mão dele.
Eles se fitaram por longos instantes.
- Tenho que ir... – ela disse, sem vontade e força nenhuma para levantar.
Matt se pôs de pé e ofereceu as duas mãos pra ela. Ela aceitou e ele a pôs de pé.
- Obrigada... Por tudo.
- Não há de que.
Ela sorriu e deixou a sala dele.

***

- Hermione? – Harry chamou, assim que entrou no quarto dela, que estava totalmente escuro.
- No banheiro... – a voz dela saiu abafada. – Pode vir aqui, por favor?
Harry estranhou, mas atravessou o quarto a abriu a porta do banheiro lentamente.
Hermione estava de frente para o grande espelho sobre sua pia, com os cabelos presos num coque que estava quase desmanchando.
- Fecha pra mim? – ela pediu, com simplicidade, olhando pra ele através do espelho.
Ele olhou de volta e viu o reflexo de Hermione dentro de um vestido preto justo, que realçava o busto, valorizava as pernas que ficavam em grande parte exposta pelo cumprimento curto do vestido, modelo tomara-que-caia.
- O que...?
- Ah, minha mãe comprou pra mim, não faço idéia do porquê. Chegou via coruja. Ela disse que passou por uma loja e achou que ficaria bom em mim.
Ele assentiu e se dirigiu para as costas dela. O zíper totalmente aberto ia até o fim das costas dela, que fulgia nua em toda sua extensão alcançando os ombros, também nus, pela ausência de alças.
Ele levou uma das mãos ao zíper enquanto a outra juntou as duas partes do vestido para facilitar o fechamento.
- Harry? – Hermione chamou, vendo o reflexo dele no espelho, os olhos verdes do rapaz corriam as costas dela de uma forma diferente.
- Sim? – ele disse, finalmente começado a puxar o longo zíper para cima fechando toda a extensão do vestido.
- Obrigada. – ela disse, suspirando satisfeita ao olhar seu reflexo.
O vestido lhe servira perfeitamente, ajustou-se em seu corpo como mágica, ela sorriu.
- E então...?
- Linda. – ele disse tendo em mente que o adjetivo ‘sexy’ se encaixaria melhor com o que via, ainda atônito, olhando as pernas dela se mexerem incomodadas enquanto ela se virava para ver todos os ângulos.
- Obrigada. – ela finalmente se virou pra ele. – Está tudo bem?
- Ótimo.
- Ótimo. – ela disse, rindo.
Deixou o banheiro com uma sonora risada, Harry parou a porta, a observando. Descalça, as pernas longas e bem torneadas, o busto mais avantajado pelo modelo do vestido, braços soltos, com uma leveza sem igual.
- Vou mandar uma coruja agradecendo. – ela disse, enquanto procurava alguma coisa no guarda-roupa. – Gostou mesmo?
- Sim. Ficou ótimo. – ele repetiu, sem deixar de acompanhá-la com o olhar.
Hermione escolheu um pijama e se abaixou perto da cama tirando um par de chinelos de debaixo dela.
Levantou-se e encarou Harry.
- O que foi?
- Por quê?
- Por que está me olhando desse jeito?
- Que jeito?
- Esse... – ela disse, séria, apontando pra ele, equilibrando tudo que carregava num único braço.
- Não é um jeito em especial. – ele disse, achando graça.
- É diferente dos outros jeitos que você me olha.
- Você não gosta?
- Não é isso... – ela disse, deixando um dos chinelos cair. – É só... Diferente.
Ela se aproximou dele, olhando-o penetrante, para descobrir o que aquele jeito novo de olhar significava.
- Você é deslumbrante. Deslumbrantemente linda. – ele disse, baixo. Harry, ainda que no escuro, tinha certeza que Hermione havia corado.
- Obrigada... – ela disse, num sopro.
Passou por ele e voltou a entrar no banheiro.
- Pode abrir agora?
Harry, se punindo em pensamento, sentiu os músculos de seu corpo reagir à frase.
Aproximou-se dela, mais uma vez, e puxou o zíper lentamente. As costas nuas foram aparecendo gradualmente, torturando Harry que desviou o olhar.
Hermione arquejou sem querer no momento que as mãos dele tocaram sua pele sem motivo nenhum.
- Pronto. – ele disse, tirando uma das mãos dela. Ele olhou para o espelho e seus olhos encontraram os da garota. A mão que restava alcançou a cintura dela e foi subindo lentamente sobre o vestido, até chegar ao ombro nu, onde pousou levemente.
O contato visual não foi quebrado nem por um segundo, Hermione abriu um meio sorriso sentindo a respiração descompassada de Harry atrás de si.
- Por que queria me ver?
- Precisava conversar com você...
- Pode esperar eu me trocar? – ele assentiu e saiu do banheiro sem dizer mais nada.

Ele podia contar nos dedos de uma só mão as vezes que deu a volta pela cama de Hermione, esperando ela sair do banheiro.
A garota apareceu usando uma calça de moletom gasta e uma grande camiseta.
- Uau... – ele assobiou assim que a olhou. – Que contraste!
Ela pareceu não gostar muito do comentário, mas riu.
- Não poderia terminar o dia com comentário mais tórrido. – ela disse, com uma pontada de mágoa.
Harry riu.
- Desculpe meu anjo... Mas você não me deixou terminar. Apesar do contraste, continua linda.
- Valeu a tentativa. – ela disse, sem acreditar no que ele dizia.
Parou perto da penteadeira e soltou os cabelos que se derramaram por suas costas em ondas desconexas.
Caminhou até o parapeito da janela e com um pequeno pulo se sentou nele, encostando a cabeça no vidro, olhou para fora.
- Lupin deve estar tendo uma noite difícil. - ela comentou.
Harry se aproximou, parou rente a ela e olhou pela janela onde uma lua cheia prateada banhava o quarto com sua luz perolada.
- Hermione... – ela murmurou alguma coisa, em sinal que estava ouvindo. Harry não pôde deixar de lembrar que ela estava sentada da mesma forma naquela janela quando viera tentar se explicar depois de brigar com ela no meio do corredor após o passeio em Hogsmeade, a única diferença era que naquele fatídico dia, via-se da janela um lindo pôr-do-sol. – Eu pensei enquanto nós estávamos lá na sala do Professor McGonagall...
- Você conseguiu pensar? – ela perguntou, surpresa, interrompendo-o. – Minha mente estava tão exausta, e ainda está, que eu sequer conseguia lembrar meu nome.
- Sim, mas... – ele pausou escolhendo as melhores palavras para tocar num assunto tão delicado, que eles haviam concordado em enterrar e jamais trazer de volta. – Você e o Professor combinaram essas aulas há algum tempo, não é?
- Sim. – ela respondeu. – Mas aí ele foi ferido naquela batalha depois que saímos do cemitério, e coisas aconteceram e só agora pudemos começar.
- Foi por isso que foi com ele a Hogsmeade? – ele perguntou, sem rodeios.
Hermione levou alguns segundos para digerir a pergunta, depois o encarou, ali, de pé, ao seu lado.
- Sim. – estava séria. Muito séria.
- Droga! – Harry deu as costas e vagou pelo quarto pisando forte, parou de repente, sacou a varinha e fez chamas crepitarem ruidosas na lareira, iluminando o lugar. – Cada minuto que passa me sinto mais idiota...
- O que quer dizer?
- Você realmente fez isso por mim. – não foi uma pergunta.
- Claro! Por quem mais seria? Não achou mesmo que eu tivesse uma queda pelo Matt, não é?
- Talvez...
- Harry Potter! – a voz dela aumentou, inflamada.
- Não, Mione, de novo não. – ele implorou, voltando-se pra ela.
Eles se calaram por alguns instantes.
- Como você pode ser tão estúpido? – ela disse, depois de alguns longos segundos.
- Não faço idéia. – ele respondeu.
Mais alguns instantes em silêncio e os dois caíram numa gargalhada gostosa.
- Você é incrivelmente idiota. – ela disse, rindo. – Não sei o que eu vejo em você.
- Eu menos ainda. – ele se aproximou dela, tocou o rosto da garota com suavidade. – Mas seja o que for, agradeço a Merlim por existir.
Por que suas mãos queimavam para tocá-la a qualquer custo?
- Harry... – ela disse, calmamente. – Vi uma coisa hoje que me intrigou.
- O que?
- Cho e Parker.
- Juntos?
- Não exatamente. – ela falou, olhando pra ele. – Eles estavam conversando muito animados... Não sei, me senti mal vendo, como se tivessem falando de mim, ou de você.
- Não seja tola, Hermione. O que aqueles dois idiotas podem fazer contra nós? – ele perguntou, sentando-se de frente pra ela no parapeito da janela, fazendo-a dobrar o máximo as pernas para que os dois coubessem ali.
- Não sei... Mas...
- Esqueça meu anjo, não faz sentido.
Ela o encarou por um tempo depois sorriu, tomando uma das mãos dele.
- É bom ter você de volta... – ela disse, enlaçando seus dedos nos dele.
- Obrigado por me aceitar de volta. – ele falou, apertando os dedos dela entra os seus.
Ela riu uma gargalhada gostosa, energizante.
Com muito custo e sacrifício, ela se virou no parapeito e sentou entre as pernas dele, encostando-se no peito de Harry.
Ficaram muitos minutos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos, os dedos firmemente enlaçados e a certeza de que o outro estava ali.
Hermione olhou para a lua enorme no céu escuro além do vidro, com os braços de Harry em volta de seu corpo, a respiração dele, quente, batendo contra seus cabelos, fazendo-os mexer levemente, sentia o corpo dele em suas costas, suas pernas enlaçadas nas dele, naquele espaço pequeno, limitado... Naquele momento nada parecia importar, nada. Ela descobriu naquele momento que não precisava de mais nada para viver, mais nada além daquilo.
- Em que está pensando? – ele sussurrou.
Ela se arrepiou, ele a apertou mais entre os braços.
- Não sei bem... Não dá para definir. – ela disse, vaga.
- É bom?
- Não conheço nada melhor.
Ela mexeu a cabeça para encará-lo, o rosto dele acima do seu, tão perto.
- Você se sente tão culpado quanto eu me sinto tendo momentos como esse, em que nada mais importa, enquanto há uma guerra lá fora e pessoas morrendo? – ela disse, fazendo-o sorrir.
- Não imagina o quanto. – ele respondeu, fitando o rosto bonito dela abaixo do seu. – Mas todos precisamos de uma fuga não é? Não podemos respirar guerra 24 horas por dia... Ninguém é capaz de agüentar, é de enlouquecer.
- Obrigada... Fez eu me senti menos pior. – ele riu, ela continuou séria e levou umas das mãos ao rosto dele, acariciando lentamente.
- Rony tem Sam. Nada mais justo para nós dois que termos uma pausa também, não?
- Sim... – ela murmurou, olhando sua própria mão passear pelo rosto dele, séria. Sentiu-o ficar tenso de repente, seus dedos tocaram a fina cicatriz em forma de raio na testa dele. – Eu nunca consegui ter uma cicatriz...
Ele riu do comentário dela.
- Você queria uma?
- Quando era pequena, sim. Sabe, aquelas coisas de novela, onde as pessoas desmaiam, ficam internadas num hospital, recebem flores e ganham uma cicatriz... Era fabuloso. – ela disse, sonhadora.
- Voce é doente? – ele perguntou, entre a diversão e a perplexidade.
- Eu era criança! – ela disse, fingindo zangar-se. – Crianças pensam em absurdos como esse. Eu achava glamoroso. Nas novelas, pelo menos, parecia...
- Oh, meu Deus... – ele ficou fascinado. – Você ainda me surpreende.
Ela deu de ombros, contornando a cicatriz dele com o indicador.
- Queria uma, pelo menos. – ela disse, de novo, soando totalmente fora si.
- Não é tão legal quanto parece, Hermione.
- Você não seria sexy como é sem essa cicatriz. – ela comentou, depois riu. – Afinal, não seria Harry Potter.
Ele ficou perplexo.
- Hermione? O que foi que fizeram com você?
- Me deixe divagar um pouco, falar coisas ridículas que não tenham nexo... Me deixe respirar por um instante sem ter que pensar onde está a tal varinha ou qual é a Horcrux faltante. – ela reclamou. – Só por alguns instantes me deixe ser totalmente débil, sou humana, preciso dessas coisas de vez em quando.
- Certo. – ele concordou. – Te ajudo nisso se quiser.
- Ajuda? – ela pareceu interessada.
- Claro. Veja lá... – ele apontou para o céu. – Vê aquele grupo de estrelas?
Ele mostrou, ela assentiu.
- Elas não parecem com nada... Não formam nada... – ela disse, olhando atentamente, escorregando sua mão para o pescoço dele.
- Parecem sim. – ele disse, em voz baixa. – Parecem com pontinhos brilhantes, sabe?
Ela voltou a encará-lo, incrédula.
- Isso é ridículo...
- Você está implorando por uma cicatriz e alguns dias internada num hospital e eu sou o ridículo? – ele falou.
Hermione o encarou por alguns segundos, depois riu.
- Somos desequilibrados.
- Sim, somos. – ele concordou.
- Não! Não somos! – ela disse, brava.
- Mas...
Ela riu de novo.
- Estou brincando... – murmurou. – Escuta... – ela voltou a acariciar o rosto dele. – Já notou que acordamos todos os dias sem saber o que vai acontecer?
- É mais uma divagação? – ele questionou, sem ver sentido nenhum na pergunta.
- Talvez... Mas... Sabe, eu acordo todas as manhãs sabendo que meu dia jamais será como o dia anterior, eu não posso prever, não posso fazer nada a não ser esperar que ele passe e estando preparada para qualquer coisa...
Ela fez uma pausa, olhando vagamente para o rosto dele.
- E...? – ele incentivou.
- E eu não sinto medo. Muitas coisas horríveis podem acontecer, o mundo pode acabar, e eu não sinto medo.
- Não sente?
- Não, porque eu sei que aconteça o que acontecer você estará comigo. Não sinto medo.
Ele sorriu, pegando o rosto dela com uma das mãos, acariciando-o levemente com o polegar.
- Tudo pode mudar, tudo pode acontecer, mas você é a única coisa fixa pra mim, estará sempre onde eu preciso que você esteja. Ao meu lado. Mas... – ela desviou o olhar, fixou-o em algum ponto sobre o ombro de Harry. – Mas tenho medo de tudo mudar, algum dia...
- Não.
- Não você... Mas... – ela ficou desorientada, confusa. – Tenho evitado tanto isso...
- Hermione, eu não...
- O problema não é você. – ela disse, fracamente. – O problema sou eu.
Ele a fitou, ela parecia não entender o que ela própria dizia.
- Calma, meu anjo... – ele a abraçou, fazendo-a encostar-se em seu peito. – Nada vai acontecer, nada vai mudar. Somos você e eu, sempre juntos.
Ela permaneceu agarrada a ele por algum tempo, em silêncio, mas voltou a erguer a cabeça e fitá-lo.
- Gosto de você, Harry. – soou como uma constatação, o que fez Harry sorrir.
- Também gosto de você, Mione. – ele disse, sentindo os dedos frágeis dela voltarem ao seu rosto com extrema delicadeza. Ele fechou os olhos, ela acariciou todo o rosto dele e o sentiu tremer ligeiramente quando seus dedos contornaram os lábios bem desenhados dele.
- Nada vai mudar. Somos você e eu. – ele a ouviu sussurrar.
- Nada vai mudar.


***

N/a: E então?
O que vocês acharam desse capítulo?
Lindinho o final, né?
E o Matt? Declarações bombásticas implícitas, não?

Vocês acreditam que eu simplesmente empaquei no ultimo capítulo?
Ele não sai, nem com reza brava.

Torçam por mim, para eu conseguir sair desse bloqueio.
Eu até cheguei a cogitar a hipótese de uma continuação, de tanto desespero que eu fico de pensar no fim.
Mas eu tenho que ser forte, e resistir a esse impulso.

COMENTEM, por favor!!!

Eu tenho sentido MUITAAAA falta de algumas pessoas que nunca mais apareceram com seus comentários lindos e enormes que tanto me faziam feliz... A Thais Mariana, o Alarico, e a Dani também deu uma sumida!

VOLTEEEEEEM, por favor.


Tenho umas coisas para dizer a vocês.
Eu agradeço, de todo meu coração [como sempre] [pela paciência, o carinho e a fidelidade de cada leitor para comigo e com a fic.
Gosto muito daqueles pedidos desesperados por atualização, e gosto mais ainda daqueles comentários enormeeees, cheios de detalhes sobre o capítulo que só vocês sabem fazer.

Tenho que admitir que durante todo esse tempo de fic, desde o primeiro capítulo, eu sinto que ganhei uma família nova. Família sim, porque vocês me apóiam, me elogiam quando faço algo legal, puxam minhas rédeas quando acham que não ta muito bacana, me divertem, e me mantém firme nessa loucura toda. Sem vocês, eu seria uma tentativa frustrada de escritora de fic. Com vocês eu sou a pessoa mais sortuda e feliz do mundo.
MUITO OBRIGADA, por cada palavra de apoio, cada crítica, cada risada que vocês já me fizeram rir, e cada lágrima [de alegria] que vocês já me fizeram derrubar. Vocês são parte da minha vida, e parte da minha história, e não há nada no mundo que pague isso.

Eu amo vocês, hoje e sempre.


Então, é isso.

Comentem bastantãããooo, por favor.

Beijoooos.

Paulinha

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