Dedos Dormentes



         N/A¹: Huuuum, só pra constatar: o nome do capítulo é só pra descontrair.


=]


Que medo desse capítulo. Nem sei o que dizer...


Então... Boa sorte!



___________________________________


- Hermione? – ele chamou, entrando no quarto. – Pretende ficar aí até quando? É quase meia noite.


Era véspera de natal, uma noite fria e adorável se estendia lá fora, com estrelas cintilantes no céu. Harry cansara-se de esperar por Hermione que parecia não terminar de se arrumar nunca. Em breve seria natal, e ela não dava nenhum sinal de que se importava com isso, deixando-o ansioso com tudo que prepara para passarem aquela noite juntos, observando o mar, na varanda que conseguira enfeitiçar para permanecer quente e aconchegante.


         - Pode vir aqui um segundo, por favor? – a voz que veio do banheiro soou abafada. Harry estranhou, abrindo a porta que estava somente encostada.


         Ao olhá-la, sentiu a estranha sensação de já ter vivido aquela mesma situação antes.


         E lembrava-se perfeitamente.


         Hermione estava de frente para o enorme espelho sobre a pia, com os cabelos presos num coque frouxo, que estava quase se desfazendo. Ela usava um vestido preto, justo e curto, sem alças e suas mãos contorciam-se nervosamente na tentativa de fechar o zíper a suas costas.


         - Só consegui fechar metade. – ela disse, com simplicidade, olhando-o através do espelho ainda um pouco embaçado pelo vapor do banho que ela acabara de tomar. – Pode terminar isso, por favor?


         Ele, desde que entrara no banheiro, a observava atônito, sem conseguir desviar o olhar ou, ao menos, piscar.


         - Harry? – ela chamou.


         Ele levou alguns bons segundos até sair do transe que não se lembrava de ter sido induzido. Caminhou em passos lentos até ela parou às costas da garota.


         - Harry? – ela voltou a chamar, como se esperasse que ele dissesse alguma coisa que tirasse aquela cara de bobo que ele exibia sem vergonha nenhuma. Parecia nem saber que o fazia.


         - Hãm? – ele murmurou, tontamente, fazendo-a sorrir docemente.


         - Algum problema? – ela perguntou, suavemente, observando a cautela dele ao se aproximar.


         - Hum?


         - Alguma coisa está errada?


         - Que?


         Ela riu, balançando a cabeça.


         - Apenas feche. – Ela disse, finalmente, disposta a esperar o tempo que fosse necessário.


         Não demorou muito, as mãos dele tocaram suas costas. Ela sentiu o zíper subir mais um quarto de sua extensão.


         Ele respirou fundo, parando suas mãos no lugar em que estavam, levou alguns segundos até que ele erguesse o olhar para fitá-la através do espelho.


         - Desde aquela noite quando eu vi você usando esse mesmo vestido no banheiro do seu quarto em Hogwarts, eu soube que eu queria você mais que qualquer outra coisa no mundo, ainda que negasse isso até conseguir me convencer do contrário. – a voz dele não passava de um sussurro rouco. Ela teve certeza que ele saíra do transe, e agora a induzia a um. – E quando você me perguntou por que eu a olhava daquele jeito, que você disse ser “só um jeito diferente”, e tudo que eu disse foi que você é deslumbrantemente linda, eu na verdade queria ter dito que eu amo você. Não por você ser deslumbrantemente linda, mas sim por ser apenas do jeito que você é.


         As mãos dela tremeram sobre a pia, onde estavam apoiadas. Ela viu através do espelho, o rosto dele se aproximar do seu, por cima de seu ombro, a respiração morna sobre a pele nua de seu ombro a fez sentir um arrepio forte que correu todo seu corpo. E quando ele sussurrou, ela arquejou.


         - Porque você é deslumbrantemente linda. – ele beijou a curva do pescoço dela, tão exposta, tão irresistível. Ela estremeceu sob os lábios dele. – E eu amo você.


         A voz dele era quase inaudível, mas o efeito era devastador, ela sentiu que seu corpo não lhe pertencia, não lhe obedecia. Tudo que seus sentidos registravam era a sensação inexplicável que ele a fazia sentir.


         Os olhos dela fitaram os dele pelo espelho, sem deixar uns aos outros. A respiração dele em seu pescoço fazia alguma coisa dentro de si dar voltas, deixando-a desconcertada e prazerosamente perturbada.


         Até que somente o reflexo dos olhos dele não pareceu mais o suficiente, ela teve que fitá-los de verdade, virou o rosto até poder encará-lo, ainda que seu pescoço ficasse numa posição incômoda, ele pareceu colaborar dando um passo a mais, deixando seu corpo rente ao dela, com seus olhos fixos uns nos outros.


         Ela estremeceu quando aponta do nariz dele roçou no seu, e perpassou seu rosto tão lentamente que ela sentiu que era – podia ser! – algum tipo de tortura. Ele a provocou o quanto pôde, apenas seus rostos em contato, conhecendo-se de uma forma que jamais haviam se permitido antes, ainda que já usada nos momentos de puro suplicio, onde eles se perdiam, deixando-se levar pelo estado de inconsciência.


         Agora a situação era diferente porque eles podiam se permitir, e podiam ir em frente sem hesitar, sem sentir culpa ou qualquer coisa do tipo. A sensação ainda era nova, o que, de alguma forma, ainda os fazia ser cautelosos.


         Ela parecia bastante sentida com a brincadeira.


         - Sem graça. – ela murmurou, fazendo-o rir contra o rosto dela.


         Uma das mãos da garota foi até o rosto dele, acariciando-o levemente. Quando ele teve certeza que já sentira o bastante – sabendo que por mais que o fizesse, jamais seria o suficiente – ele acabou com o suspense e tocou os lábios dela com os seus.


         A língua de Harry, contornou os lábios dela, fazendo os dedos da garota apertarem o pescoço dele, onde estavam quase anestesiados. E quando a dela se juntou a dele aquela velha sensação tomou conta: a certeza que nada no mundo poderia ser mais certo ou mais exato.


         Quando se separaram, ela respirou fundo, sem abrir os olhos, tentando memorizar cada gesto, cada toque, cada palavra, cada sabor. Era um limbo no qual queria ficar presa para sempre. Sequer sabia que ele a observava, somente o fez quando a ponta dos dedos dele correram seu rosto lentamente, contornando o queixo, as sobrancelhas, os lábios perfeitos...


         Foi quando ela o fitou, e naquele olhar havia algo implícito. Algo que tanto apareceu quanto foi decifrado inconscientemente.


         O zíper que fora quase que fechado por inteiro, agora era aberto lentamente pelas mãos fortes de Harry, enquanto os lábios irresistíveis passeavam sedutoramente pelo pescoço dela, alcançando a nuca e os ombros nus.


         Hermione não conseguia fazer outra coisa que não fosse comprazer-se com aquelas sensações novas que corriam todo seu corpo. Era surpreendente e ao mesmo tempo indispensável, o que a fazia questionar-se porque resistira tanto tempo àquelas ondas elétricas que iam e vinham por todas as partes de seu corpo. O toque dele era suave, cuidadoso, sem exaltações ou pressa. E era capaz de causar um turbilhão de emoções diferentes, dependendo do lugar aonde parava.


         As costas alvas da garota foram aparecendo a medida que o zíper descia lentamente, a respiração quente e agora entrecortada dele no ombro dela a fez ficar tensa. Quando não havia mais trilho para ser aberto, ela sentiu as mãos dele tocarem hesitantes sua pele quente, fechou os olhos ao senti-lo, e quando teve certeza que nada tinha sido deixado para trás, o fitou e encontrou os olhos dele fazendo o mesmo. Sentiu as mãos dele aparecerem subitamente em cada lado de sua cintura e ele a virou de frente pra si.


         Ela suspirou, sequer reparou o olhar dele no espelho, admirando a espalda nua e alva refletida ali. Quando seus olhares se encontraram novamente nada mais precisou ser dito, Harry se aproximou lentamente dela e a sentiu tremer contra si quando seus lábios se encontraram mais uma vez.


         Sem quebrar o beijo, ele a pegou nos braços e caminhou em passos lentos pelo quarto, sentindo o vestido que ainda estava no corpo dela ir cedendo lentamente ao movimento.


         Ela estranhou quando percebeu que ele a carregou para fora do quarto, quando ele finalmente a colocou no chão, ela olhou em volta, e ficou totalmente surpresa quando notou que ele a trouxera para o grande hall pouco mobilhado que dava espaço às portas para os quartos no andar de cima.


         Quando ela virou-se para indagar que diabos era aquilo ela entendeu.


         Ficou sem palavras ao olhar para a parede que era toda em vidro, com quase cinco metros de altura e um comprimento sem fim. A lua cheia e prateada brilhava lá fora, num céu limpo e cheio de estrelas, no silêncio que estavam era possível ouvir o vento uivar lá fora, ela sentiu um arrepio correr seu corpo ao imaginar a temperatura que devia fazer fora dali. Ouvia-se e via-se, também, as ondas quebrando na arrebentação, constantes e fortes.


         - Céus... – ela murmurou, sem se cansar de admirar a visão que tinha ali.


         - Sabia que ia gostar. – ele sussurrou no ouvido dela, mordiscando a orelha de leve.


         Ela esqueceu-se da vista instantaneamente, fechou os olhos num sinal de rendição e enlaçou o pescoço dele quando seus lábios voltaram a se unir. As mãos dele subiram ligeiramente nas laterais do corpo dela, e quando desceram iam levando consigo o vestido que àquela altura já fizera o papel dele. Sentiu o corpo dela ficar tenso quando o tecido tocou seus pés.


         Hermione se separou dele por um segundo e não o fitou por alguns instantes, sabia que estava sendo observada – e, ela esperava ardentemente, admirada – pelos olhos verdes dele. Quando finalmente criou coragem e o encarou, surpresa percebeu que ele apenas observava seu rosto.


         Harry observava cada detalhe, do rosto que se tornara tão perfeito com o passar dos anos. Não via ali sua velha amiga de cabelos lanzudos que sempre tinha uma resposta para tudo.


         Via a mulher Hermione, dona de um rosto de traços firmes e delicados, olhos doces e um corpo que parecia ter sido esculpido num sopro abençoado de inspiração, que cintilava sob a luz prateada da lua.


A mulher que escolhera como sua.


         A mulher que o escolhera como seu.


         Ela mordeu o lábio inferior, duvidosa, enquanto o fitava. Ele sorriu.


         Tão Hermione.


         - Deslumbrantemente linda. – ele repetiu, fazendo-a sorrir um pequeno sorriso.


         Com poucos passos ele a conduziu até o sofá anormalmente grande que havia ali, tão fofo e confortável quanto o do andar debaixo.


         As costas dela tocaram o veludo macio, enquanto uma das mãos de Harry segurava sua cintura de forma possessiva. Ela o agarrou com força pelos ombros, trazendo-o pra si. O beijou.


         Harry sentiu que mais um pouco ela o deixaria louco. Um beijo lascivo, provocante e ensandecido. Ele apertou a cintura curvilínea com mais força, ela cortou o beijo e no mesmo instante sentiu os lábios dele descerem por seu pescoço, enquanto suas mãos enterraram-se nos cabelos desalinhados. Harry se afastou um momento e a olhou, logo depois seu olhar recaiu sobre a cicatriz enorme e fina que começava no ombro dela, percorreu toda sua extensão como beijos lentos, parou entre o vale dos seios dela, ouvindo-a arquejar.


         Ela se curvou, procurando o olhar dele, quando encontrou, o trouxe pra si.


         Ele fechou os olhos quando os lábios macios dela contornaram a linha de seu queixo suavemente, e mordicaram sua orelha.


         - Você sabe que eu sou sua. – ela sussurrou, com a voz falha. Ele se arrepiou, e sentiu-se atordoado com o que acabara de ouvir. Ela se afastou dele para olhá-lo nos olhos. – Eu sempre fui sua.


         Ele sorriu torto, ela riu, conhecia aquele sorriso. Aquele sorriso que ele só sorria quando estava extasiado demais para sorrir um sorriso ‘não-torto’.


         Seus lábios se uniram mais uma vez, lentamente dessa vez, sem pressa ou urgência. As mãos dela foram desabotoando tremulamente os botões da elegante camisa que ele usava. Ele a ajudou a tirá-la enquanto suas bocas e línguas dançavam sensual e lentamente.


         Hermione correu as costas largas dele com as pontas dos dedos, sentindo a pele quente, a textura macia. Sentia os movimentos da respiração dele, que ficava cada vez mais rápida e falha a medida que iam se descobrindo.


         Arquejou ruidosamente, cravando suas unhas nos ombros dele quando em mais um passeio dos lábios dele por seu corpo, foi até seu abdômen e na volta a enlouqueceu se detendo em um de seus seios.


         E como se nada mais no mundo importasse, eles se beijaram e se deixaram levar pelos instintos que até aquele momento pareciam ter ficado adormecidos dentro deles... De repente, nada daquilo era mais suficiente...


         - Harry... – foi tudo que a garganta dela a permitiu dizer, num sussurro rouco de entrega. A dor ínfima que durou milésimos de segundos, foi substituída por uma sensação totalmente inexplicável, ao senti-lo dentro de si. Ele a fitou, o reflexo da lua brilhando nos olhos castanhos dela, queria ver o cintilar da luz flamejante que dançava no rosto perfeito.


Entregavam-se um ao outro sem pudor ou restrições, sem culpas, sem medos, sem contras, sem mentiras ou falsidade. Sem máscaras ou qualquer receio.


Eram apenas eles.


Harry e Hermione, como foram predestinados a ser.  


         Era como se tivessem vivido cada segundo de suas vidas, como se tivessem nascido para estarem ali naquele momento, para pertencer um ao outro, para se completarem de corpo e alma.


Era como se tudo que eles já tivessem passado até então os levassem àquilo, como se fosse o destino fazendo seu trabalho. Como se tivessem sido guiados para chegarem até ali.


Era como se nada mais fizesse sentido no mundo, porque todo o sentido estava ali. Porque naquele momento tudo parecia tão certo e tão fácil. Porque eles eram um. Duas metades que depois de muito tempo separadas, voltavam a se unir.


Era como se nada pudesse os atingir, porque eles estavam no lugar ao qual pertenciam e nada poderia destruí-los.


Nada nem ninguém.


- Eu amo você. – ele sussurrou.


Ela o fitou em resposta, e mesmo com o olhar urgente, sorriu. Ele viu um brilho diferente cintilar nos olhos dela, e sorriu também, juntou seus lábios com os dela no momento que seus corpos retesaram e uma onda devastadora os sacudiu dos pés a cabeça.


Quando seus lábios se separaram, Harry a observou fechar os olhos e expirar com força enquanto os braços afrouxavam o aperto no corpo dele, logo em seguida ele desabou, acomodando-se no vale entre os seios dela.


Hermione permaneceu em silêncio, assim como ele, afundou seus dedos nos cabelos mais bagunçados ainda do rapaz e esperou sua respiração voltar ao normal, sentindo suor de seu corpo fundindo-se com o dele, da mesma forma que seus corpos permaneciam. Ela esperou...


E nessa espera, se deu conta que não esperava.


Porque quem espera, espera por alguma coisa, e ela não esperava por nada. Ela queria apenas permanecer ali, pra sempre. Sentindo aquela sensação inexplicável, com o peso do corpo de Harry sobre o seu, ouvindo ambos os corações baterem num ritmo ainda acelerado, assim como suas respirações que abrandavam lentamente.


Queria parar o tempo.


Queria esse momento por toda a eternidade.


Ele, por sua vez, nem que quisesse encontraria palavras para explicar o que passava por sua cabeça. Ainda estava atônito do quão ímpar tinha sido tudo aquilo. O quão certo e perfeito. Sentia como se tivesse, por toda sua vida, esperado por esse momento. Vivido apenas para chegar ali e deitar sobre o corpo dela com a certeza que ela era sua.


- Meus dedos dos pés estão dormentes. – ela disse, com a voz falha.


Ele riu alto e rouco do comentário tão inesperado.


Depois de algum tempo ela sorriu, dando-se conta do quão bobo fora seu comentário.


Um silêncio extremamente aconchegante durou por um bom tempo... Tudo que se ouvia eram as ondas agitadas lá fora.


Um relógio, em algum lugar da casa silenciosa começou a badalar.


- Feliz natal, meu anjo. – ele murmurou, erguendo-se para encará-la.


- Feliz natal, Harry. – ela respondeu, séria e suavemente, observando atentamente cada traço do rosto dele.


Ela permaneceu naquela contemplação por algum tempo, até que resolveu acabar com a espera dele, que a olhava ansioso, esperando por alguma coisa.


- É bom, não é? – ela indagou, vagamente.


- O que, exatamente? Porque tem muitas coisas que eu estou achando boas neste momento. – ele disse, com graça, fazendo-a sorrir.


- Recomeçar. – ela sussurrou, com simplicidade. – Deixar tudo de ruim pra trás... Os medos, os receios, as desconfianças, os segredos...


Nesse momento ele desviou o olhar do dela, observando a lua pelo vidro, que de repente pareceu muito interessante.


- Harry...? – ela chamou, ficando tensa subitamente.


- Hum? – ele murmurou, sem olhá-la.


- Sem segredos, certo?


Ele não respondeu, apenas respirou fundo.


Harry ponderou por alguns segundos, maneou a cabeça. Jurara pra si mesmo levar essa informação para o túmulo, mas não queria correr o risco de deixar isso escapar daqui alguns anos. Seria uma besteira, claro... Mas não seria melhor deixar tudo em pratos limpos agora, para não correr riscos no futuro?


- Tem uma coisa. – ela falou, olhando-a de relance. – Muito boba, na verdade, mas ainda assim...


- O que? – ela ficou séria, procurando o olhar dele que insistia em fugir. – O que, Harry?


- Lembra-se daquela noite, no Largo Grimmauld, há alguns meses atrás, quando nós jantamos juntos na sacada, antes dos Weasley voltarem das Bahamas?


Ela quis rir, mas manteve-se impassível. Não conseguia acreditar que ele voltara tão longe no tempo... Ela imaginou que era algo sério. Um segredo de verdade. Iria torturá-lo agora.


- Sim. Claro que me lembro.


- Então... – ele pausou, visivelmente nervoso. Por que era tão difícil dizer? Agora que já não havia nada do que se envergonhar? – Eu beijei você. – ele soltou num fôlego só. Depois semicerrou os olhos, esperando a maior bronca.


A única coisa que ouviu foi uma gargalhada alta e clara... Cheia de energia. Ele não entendeu. A fitou.


- Ri de que?


- Da sua cara.


- Ora... Achei que...


- Eu sabia. – ela disse, o interrompendo com suavidade. – Eu sempre soube.


Os olhos arregalados dele a fizeram rir mais, enquanto tocava o rosto dele, acima do seu, com a ponta dos dedos.


- Mas... Como...? Você estava...


- Bêbada. Eu sei. – ela o interrompeu. – Eu estava bêbada, Harry, álcool em excesso, e não amnésia em excesso.


- Hermione! – ele ralhou, chateado. – Por que não me disse antes? Por que não brigou comigo? Por que não está brigando comigo agora?


Ela sorriu, contornando os lábios finos dele com o indicador.


- Por que eu brigaria? Você poderia ter feito o quisesse de mim aquela noite. Eu estava totalmente fora de mim. E você não fez. Foi um perfeito cavalheiro. Você quer tomar uma bronca por isso?


Ele bufou, arrasado.


- Você, sua trapaceira... Nem para me dizer que sabia.


- E por que eu diria? Pra você ficar envergonhado? – ela pausou e refletiu por alguns segundos. – Apesar de que você ficou muito bom nesse negócio de “fingir que não aconteceu”. Aquele beijo na chuva... Até hoje eu me perguntou se aconteceu de verdade ou foi só sonho...


- Que beijo na chuva? – ele perguntou, fingindo não saber do que ela falava, pondo-a confusa.


Ela o fitou com os olhos estreitos e temerosos. Será que fora realmente um sonho?


Hermione observou atentamente a feição dele, depois deu-lhe um tapa no braço.


- Não venha tentar me confundir. – ela reclamou, rindo depois. – Oh, Merlim, não pode ter sido sonho. Foi bom demais pra ter sido apenas um sonho.


- Bom demais? – ele repetiu, provocando-a com curtos beijos pelo pescoço alvo e lânguido.


- Indescritível. Devíamos fazer isso mais vezes.


Ele riu no ouvido dela.


- Quem diria, Srta. Certinha-Granger colocando as garrinhas de fora... – ele murmurou, mordiscando a orelha dela.


- Sou certinha, mas não sou santinha. – ela disse, com dignidade, fazendo-a encará-la atônito com a declaração.


- Oh, Merlim... Estou perdido. – ele lamentou, falsamente desesperado.


- Pode apostar que está. – ela falou, com um sorriso lascivo, puxando-o pelo pescoço.


Ela o beijou de forma concupiscente, sem vergonha nenhuma. Mas, de repente, ela quebrou o contato, sem nem dar sinal de que o faria.


- Há mais segredos?


- Que graça tem dizê-los se você já os sabe. – ele reclamou, voltando a beijá-la. Mas ela recuou, fazendo-o praguejar.


- Harry. – ela disse, naquele tom mandão que só ela sabia usar. – Há mais segredos?


- Não que eu me lembre... – ela torceu o nariz. – Não. Não. Não há. Só há... – Hermione o olhou interessada. – Há uma pergunta.


- Uma pergunta, a mim? – ela estranhou.


- Sim.


- Mas, você sabe tudo sobre mim.


- Não exatamente. Lembra-se no dia que acabamos entrando naquele bordel e eu tive que beijá-la como se não houvesse amanhã para que houvesse amanhã?


- Huhum. – ela murmurou, assentindo.


- Você não ficou envergonhada depois que eu te beijei. Você devia ter ficado.


Ela franziu a testa, pensando.


- Por que eu devia?


- Porque eu beijei você.


- Você salvou minha vida.


- Beijando você.


- Ora, Harry... Você queria mesmo que eu ficasse vermelha e te evitasse mesmo depois daquele beijo estonteante na chuva, que nós, nunca, nunquinha paramos para discutir ou para, ao menos, lembrar de ficarmos envergonhados de vez em quando?


Ele não se convenceu.


Ela continuou:


- Você devia ter ficado envergonhado depois te ter me beijado. Você devia se envergonhar de saber qual era o meu pedido... Porque é obvio que você usou legilimência para...


- É claro que não! – ele se defendeu, bravo. – Eu não precisei entrar na sua mente para saber que o seu maior desejo mais bobo era ser beijada na chuva.


Ela o fitou, desconfiada.


- Como você sabia?


- Eu convivo com você há sete anos.


- Eu jamais mencionei isso.


- Eu conheço você há sete anos. Eu respiro você há sete anos, Hermione. Eu posso saber o que você está pensando apenas olhando para você. Sem legilimência e sem truques.


A feição dela suavizou com as palavras dele, que tomaram um tom sério e sóbrio de repente. Ela amava aquela voz, e amava a maneira como aqueles olhos verdes olhavam pra ela, com uma espécie de adoração, respeito, admiração.


- Tanto conheço, que sei o que você está pensando nesse exato momento. – ele continuou, acariciando a bochecha dela levemente, vendo-a fechar os olhos.


- O que? – ela sibilou.


- Quer saber qual foi o meu pedido.


Ela abriu os olhos e o fitou, seriamente.


- Qual foi o seu pedido?


Ele não falou por alguns segundos, apenas observou os traços do rosto dela sob o seu por um longo tempo. Depois a beijou levemente, fazendo-a suspirar.


- Meu pedido foi que... – ele pausou por uns instantes. – Que eu fosse o homem que você sempre desejou beijar sob a chuva.


Os olhos dela brilharam e ela sorriu bobamente. Ele a acompanhou.


Harry se aproximou dela novamente e a beijou.


A beijou com a certeza que dali pra frente nada mais seria impossível. Não haveria mais barreiras que não pudessem vencer, mais obstáculos que não pudessem enfrentar.


Não havia nada que eles não pudessem fazer, porque estavam juntos, e juntos eram mais fortes.


Viesse o que fosse... Tempestades, vendavais... Nada seria demais para Harry e Hermione.


Jamais.


 


 


 


A noite de Natal se estendeu, com as ondas quebrando ruidosas, com o vento uivando forte, com o cheiro de mar no ar.


Harry estava certo que estava aonde sempre deveria estar. Estava com a pessoa a qual sempre pertencera, no lugar aonde sempre pertencera. Estava em seu lar.


E Hermione... Ah, Hermione... Ela ainda sentiu seus dedos dos pés dormentes mais uma vez aquela noite.


 


Fim


 ________________________________________________________________


 


19 de maio de 2009. Terça-feira, às 20h24min. Ao som de “Wherever You Will Go”.




***


N/A²: Nada a declarar. Deixo as conclusões para vocês.



 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.