Quando nada mais importa...



E toda a aura mágica criada até o momento se desfez num sobressalto, uma porta bateu no outro extremo do corredor.


         Matt e Hermione procuram pela origem do barulho, assustados.


 


*When he holds you close
Quando ele a abraça apertado

When he pulls you near

Quando ele a puxa para perto

When he says the words

Quando ele disser as palavras que

You've been needing to hear

Você tem tido necessidade de ouvir

I'll wish I was him with those words of mine

Eu desejarei ser ele com essas palavras que são minhas

          Harry nunca sentira nada igual antes.


         Sentia suas veias latejando sob sua pele.


         Todo seu corpo tremia, de cima a baixo.


         Estava cego, irado, transtornado.


         Entrou na primeira sala que encontrou e bateu a porta com força.


         Ao olhar em volta, percebeu estar numa sala extremamente branca e bem iluminada.


         Grande, muito grande.


         As paredes ao longe, reluzindo brancas, assim como o teto.


         Havia luzes demais, um clarão que quase cegava.


         E dentro da sala havia milhares de corredores, cheios de prateleiras de vidro, com as mais diferentes formas de estátuas de cristal.


         Por todo lado que olhasse, via aquelas prateleiras quase transparentes, com pequenos bibelôs e grandes estátuas, reluzindo sob a iluminação forte.


         Frágeis.


         Harry estava tão atordoado que não deu-se conta de onde estava até que com um grito esvaziou uma prateleira com as mãos fazendo todo o cristal espatifar no chão com um barulho que gerou eco.


         Sala Precisa.


         Era justamente tudo que ele precisava.


         Passou a mãos nervosamente nos cabelos enquanto caminhava pelos corredores intermináveis, claros e estranhamente reluzentes.


         Não podia imaginar cena pior.


         Dor pior.


         Algo dentro dele rasgou-se barbaramente, aparentemente sem chance de cura.


         Seus passos ecoavam altos pelo lugar, enquanto ele andava as cegas pelos corredores reluzentes.


         Como ela podia?


         Como ela fora capaz de fazer uma coisa dessas?


         Ela...


         Ele berrou de novo, mas uma prateleira foi esvaziada quando os cristais atingiram o chão.


         Os pés dele pisavam nos cacos que insistiam em brilhar, ainda que espalhados.


         O beijara.


         O beijara depois...


         Ele chutou uma das estantes que cambaleou até virar, fazendo um barulho estrondaste de várias prateleiras de cristais quebrando.


         Era a música deles.


         O primeiro beijo deles.


         Era o momento deles.


         E ela subira até o sétimo andar para beijar outro?


         Seu corpo todo queimava, tremia.


         Ele não enxergava mais: nem o certo, nem o errado; não fazia idéia do que era sanidade naquele momento.


         Fugira de si, completamente.


         Outra prateleira teve seus cristais reluzentes quebrados.




***




         Seus passos eram titubeantes.


         Seu vestido branco esvoaçava divinamente pra trás, sem perder a beleza e sem despi-la da majestosa imponência na qual se encontrava.


         Parou em frente a uma porta qualquer.


         Entrou, fechou e a trancou.


         Não queria ninguém importunando.


         Nada nem ninguém.


         Virou-se e viu que estava numa sala que nunca vira antes.


         Super iluminada, clara, com cristais reluzindo por toda parte.


         A luz quase cegava.


         Ela observou por alguns instantes, depois tomou um dos corredores entre as estantes de vidro. Parou quando viu uma que fora, sem dó nem piedade, derrubada.


         Cacos de cristal espalhados pelo chão reluziam em várias cores, como num arco-íris, a luz forte que vinha não se sabia da onde.


         Suas rasteiras douradas pisaram nos cacos, delicadamente enquanto ela procurava por um lugar onde pudesse sentar.


         Mas tudo em volta pareceu perder o sentido no momento que ela se deparou com uma capa preta, no chão.


         Seu coração se comprimiu forte dentro do peito, respirar pareceu um sacrifício enorme.


         Ele ergueu a cabeça e a encarou.


         Os olhos, outrora verdes, estavam turvos numa ira incondicional.


         Jamais.


         Nunca, em tantos anos, ela o vira daquela forma.


         Parecia outra pessoa.


         Ele estava transtornado.


         Segurava a mão direita com esquerda.


         Ela viu sangue escorrer pelos dedos dele.


         Quis se aproximar, mas alguma coisa a segurava ali.


         Alguma coisa que ela via nos olhos dele pedia pra que ela permanece parada, se quisesse continuar viva.


         - Cansou? – voz dele soou num tom que Hermione jamais ouvira antes.


         Era mais que ironia.


         Era ódio.


         - De que? – ela perguntou, surpresa com o fato de estar com medo. Medo dele.


         Medo de Harry.


         Ela nunca imaginara que chegaria a esse ponto.


         Nunca.


         - De se agarrar ao professor?


         Ele não parou de fitá-la, os olhos injetados, escuros.


         - Harry...


         - Vai negar? – a voz dele foi um silvo, mas ela sentiu até sua espinha gelar.


         - Vou embora. – ela disse, dando as costas.


         - Fugindo, Hermione? – ela parou. – Está fugindo?


         - Você está fora de si...


         - Será que não percebeu que não dá pra fugir? Depois de tanto meses tentando, será que você ainda não entendeu?


         Ela o ignorou e começou a caminhar para a saída.


         - Fraca. – ele disse, alto, se fazendo ouvir.


         Ela voltou a ignorá-lo.


         - Isso mesmo... Volte correndo para os braços do professor. Afogue suas mágoas com ele.


         Ela continuou, sentindo o sangue ferver nas veias.


         Ele não devia dizer essas coisas.


         Ele não devia dizer nada.


         - Chore. Diga a ele que o Harry te maltratou e diga para o Professorzinho vir tirar satisfações comigo.


         Os punhos da garota se fecharam.


         Ele se irritou por não conseguir fazê-la parar.


         - COVARDE!!!


         Ela estacou no meio do corredor, sentindo o ar faltar em volta.


         Girou sobre os calcanhares e o encarou.


         - Tudo isso é porque eu o escolhi? – ela soltou, sem conseguir frear. Ia feri-lo, da mesma forma que ele estava fazendo. – Porque eu preferi ele a você?


         A frase surtiu efeito, o rosto dele se contorceu em traços de fúria.


         - Eu não sou a única fraca aqui. – ela disse, com dignidade, sentindo seu corpo começar a ficar anestesiado tal era a adrenalina e o nervosismo. – Eu ainda sei perder.


         - O que é que você perdeu? – ele perguntou, caminhando na direção dela. – O que você já perdeu na sua vida, Hermione?


         Ela deu um passo pra trás ao vê-lo se aproximar cada vez mais.


         - Não te interessa...


         - Talvez você sequer se lembre, de tão insignificante que foi. – os olhos dele cravaram nos dela. Eles sequer piscavam.


         - Não fale como se soubesse...


         - Eu sei. – ele a interrompeu. – Eu sei. Agora, olhe pra mim. Eu perdi tudo. Eu perdi você.




This Romeo is bleeding
Este Romeu está sangrando

But you can't see his blood

Mas você não pode ver seu sangue

It's nothing but some feelings

Isto não é nada além de alguns sentimentos

         Ela não soube o que responder.


         - Quer que eu sinta pena? É isso que você está tentando?


         - NÃO! – ele rugiu, pra cima dela. – Não quero nada de você. Mais nada.


         - Então pare de se lamentar.


         Eles se calaram por longos segundos. Seus olhos presos um no outro.


         - Nós não precisamos fazer isso, Harry. – Ela tentou, com a voz controlada.


         - Eu preciso. – ele respondeu.


         Ela viu o corpo dele tremer.


         - Vá em frente, então. – ela murmurou, baixando os olhos. – Me acuse. Diga que eu sou culpada... Me culpe pelos seus erros, se é disso que você precisa.


         Ele ignorou o comentário.


         Virou-se de costas pra ela buscando algum controle, sentindo seu corpo chocalhar.


         - Por que você está fazendo isso comigo?


         - Eu estou vivendo minha vida, Harry. Não é nada contra você...


         - Você nunca precisou de outra pessoa para viver sua vida nos últimos anos.


         - Talvez tenha sido porque eu estava vivendo minha vida por você.


         - Está jogando na minha cara agora?


         - Não, Harry. Mas eu acho que você está sendo extremamente egoísta.


         - Eu? Egoísta?


         - Eu vivi todos esses anos por você, lutei, sangrei, chorei... Eu virei noites acordada, eu velei teu sono, fui tudo pra você quando você não tinha ninguém. Acho que é hora de começar viver minha própria vida. E você não pode se opor a isso.


         - Eu sei ao que eu posso ou não me opor.


         Ela bufou, cansada.


         - Eu não pensei em nada nem ninguém além de você nos últimos anos.


         - Eu nunca te pedi pra que fizesse isso. – ele soltou, virando-se e voltando a encará-la.


         Foi como um golpe rápido e certeiro.


         - Tem razão. Você nunca me pediu. Eu fui tola o suficiente pra achar que você precisasse de mim. – ela falou, alterando a voz. – Você não precisa de ninguém, não é? É tão auto-suficiente que não depende de nada, nem de ninguém. – a voz dela começou a aumentar, a medida que ela crescia pra cima de Harry. – Nunca precisou de mim e de Rony para te tirar de apuros, para solucionar problemas, pra te ajudar em tudo que você não conseguia fazer sozinho. Nunca precisou de Dumbledore com suas informações preciosas, nem de Lupin para te ensinar um Patrono, nem da Ordem para te proteger. Você nunca precisou de nada. Fez tudo sozinho. E é sozinho que você vai terminar, porque a mim, você acaba de perder, definitivamente.


         Ele não se abalou.


         Ela o fitou por mais alguns poucos segundos.


         Depois, deu as costas e saiu em passos fortes, triturando o cristal quebrado no chão.


         - Hermione? – ele gritou.


         Ela parou, mas não virou.


         - Por que ele?


         - Porque ele não é você. – ela respondeu, seca.


         Os punhos dele cerraram e as unhas cravaram nas palmas com força.


         - O que ele fez com você? Você não pensava assim até poucos dias atrás.


         - Você também era uma pessoa normal há poucos dias atrás.


         - O que...?  


         Ela virou, voltando a encará-lo.


         - Você não é o Harry que eu conheci. Não é o Harry pelo qual eu faria qualquer coisa. Você está diferente...


         - O que está diferente? – ele perguntou, ríspido, interrompendo-a.


         - Diga-me você, Harry, o que foi que mudou? Eu apenas te disse que não iria com você ao Baile porque você não havia me convidado.


         - Eu achei que...
         - Não importa o que você achou. O que importa são os fatos. Você não me convidou, eu apenas resolvi ir com alguém que o fez.


         - Você não entende...


         - E você? Entende, Harry? Você por um acaso sabe o que é isso? O porquê disso? Faz muito tempo que você não entende mais nada. – ela desviou o olhar e baixou a voz. – Que nós não entendemos mais nada.


         - Nada disso justifica o que você fez.


         - O que eu fiz? – ela repetiu, indignada. – O que eu fiz? O QUE FOI QUE EU FIZ, HARRY?


         - QUEBROU SUA PROMESSA! ME TROCOU POR OUTRO!!! – ele berrou de volta.




Are just memories of a different life
São somente lembranças de uma vida diferente

Some that made us laugh

Algumas que nos fizeram rir

Some that made us cry

Algumas que nos fizeram chorar

One that made you have to say good bye

Uma das que fez você ter de dizer adeus

         - Eu não quebrei minha promessa. Foi você quem se afastou. – ela o fitou. Harry viu os olhos castanhos dela se tornarem frios. – E você deveria saber que eu jamais te trocaria por quem quer que fosse.


         - Você me afastou. Você me traiu. – ele sibilou.


         Hermione sentiu seu corpo todo gelar.


         Nenhum dos dois se dera conta do quão próximo estavam. Gritando um na cara do outro, o rosto de Harry logo acima do dela, enquanto seus olhos se fitavam a poucos centímetros de distância.


         - Quem é você pra falar de traição? Quem é você pra acusar de traição?


         Era incrível.


         Pareciam dois animais.


         Cada vez mais próximos.


         Cada vez mais irados.


         Cada vez mais ferinos.


         - Não se esqueça, Harry, que foi você quem transou com a Cho. – ela cuspiu as palavras na cara dele, sentindo a respiração dele tão descompassada quanto a sua.


         - Você estava com ele...


         - POR VOCÊ! – ela berrou. – EU SAÍ COM ELE POR VOCÊ.


         - ISSO NÃO ATENUA A SITUAÇÃO!


         - NÃO? – Ela indagou. – Tem certeza? EU ESTAVA TENTANDO TE AJUDAR A SALVAR A SUA PRÓPRIA VIDA ENQUANTO VOCÊ TRANSAVA COM AQUELA VADIA!


         Ele não argumentou.


         Porque não tinha como argumentar.


         Jamais vira Hermione em tal estado.


         Jamais a vira tão transtornada.


         Nem com Malfoy.


         Ela jamais olhara pra alguém daquela forma.


         As pupilas delas pareciam duas fendas, ela não estava num estado normal, e ele imaginou que sua situação não devia ser diferente.


         - Você já me perdoou. – ele murmurou.




It's been raining since you left me
Tem sido chuvoso desde que você me deixou

Now I'm drowning in the flood

Agora estou me afogando no dilúvio

You see I've always been a fighter

Você vê que eu sempre tenho sido um lutador

But without you I give up

Mas sem você eu desisto

         - Já. Tola, não?


         - Hermione...


         - CALE A SUA BOCA! – ela rugiu. – Não diga nada. Mais nada. Você acabou de cavar sua própria cova, Harry. Pode se deitar nela agora.


         Ela deu as costas, mas ele não a deixou ir, agarrou o braço dela com força demais e a trouxe pra si.


         - Eu achei que... – ele começou, em voz baixa, fincando seu olhar no dela.


         - O que? Que eu imploraria pelo seu perdão? – ela disse, mordaz. – Esqueça. Eu não fiz nada de errado, não há porque pedir perdão.


         - Certo. – ele apertou mais o braço dela. – Você está certa. Como sempre. – o tom foi irônico, ela tremeu. – Muito bem, Granger. Se for pra jogar sujo, vou jogar.


         - Mais? – ele apertou mais forte, sob o tom que ela usara. Ela sentia seu braço começar a adormecer, mas não daria um sinal sequer de fraqueza.


         - Eu salvei sua vida. – ele sibilou, a dois centímetros de distância do rosto dela. – E não foi só uma vez.


         Ela sequer piscou.


         Como ele era capaz de dizer esse tipo de coisa?


         - Descendo o nível, não, Potter? Vamos ver quão baixo você é capaz de chegar. Continue. Me lembro apenas do Trasgo, quais foram as outras vezes?


         - A Fênix...


         - Ah, é? Lembrou a palavra mágica que fez a Fênix aparecer? – ela transbordava crueldade enquanto falava.


         - Você não deveria brincar com isso... – ele murmurou, furioso.


         - Por quê? – ela instigou, vendo-o tremer sob a provocação. – Por quê?


         - Hermione... – foi difícil fazer a palavra sair. Ele sequer conseguia respirar, apertando-a cada vez mais. Trazendo-a cada vez pra mais perto.


         A cara de deboche dela estava começando a tirá-lo do sério.


         - Caso você não se lembre, Potter, eu também salvei sua vida. Eu fiz sacrifícios por você. E não foi apenas um.


          - Ah, é? O que? Sair com o professorzinho? – ele soltou, com escárnio. – Desculpe, Hermione, se não reconheci tamanho sacrifício. Quer que eu me ajoelhe pra mostrar o quão grato eu estou?


         Ela não conseguiu mais se controlar, perdeu toda e qualquer noção de consciência. Sua mão livre virou com gosto no rosto do rapaz, que, sem esperar, acabou soltando-a e cambaleado pra trás.


         - INGRATO! COVARDE! SEU... – ela pegou o primeiro bibelô de cristal que viu na frente e tacou nele sem pensar. Esse primeiro foi seguido por muitos outros. Harry protegeu o rosto com os braços e sob a chuva de cristal foi tentando chegar perto dela para fazê-la parar.


         Ela não parava de gritar.


         De xingar.


         Ela perdera totalmente o autocontrole.


         Aquela não era Hermione.


         - Espera! HERMIONE! – Ele berrava, tentando segurá-la, enquanto ela gritava sem parar de arremessar cristais na direção dele – HERMIONE! PÁRA! HERMIONE!


         Ele a alcançou, a abraçou forte, prendendo os braços dela, enquanto a garota não parava de se debater e gritar.




If you told me to cry for you I could
Se você me dissesse para chorar por você eu choraria

If you told me to die for you I would

Se você me dissesse para morrer por você eu morreria

Take a look at my face

Olhe para meu rosto

There's no price I won't pay

Não existe preço que eu não pagarei

To say these words to you

Para dizer estas palavra para você

         - ME SOLTE! ME LARGA!!! – ela se debatia entre os braços dele com uma força descomunal. – HARRY!


Ele não soltou, continuou segurando, enquanto ela se debatia, fazendo-os andar sobre os cacos brilhantes no chão.


         Demorou alguns minutos até que ela desistisse, aos poucos.


         Quando ele finalmente conseguiu olhar pra ela, a garota tinha o rosto cheio de lágrimas.


         - Hermione...


         - Ele vai me matar... E a culpa é sua! Toda sua! EU TE ODEIO! ODEIO! – ela fechou os punhos e passou a bater no peito dele.


         - HERMIONE! PÁRA! HERMIONE! – Ele foi andando até encostá-la numa das paredes anormalmente branca. – PÁRA!


         Ela parou, e o fitou.


         Os olhos castanhos dela estavam sem foco.


         Ela parecia uma louca, Harry notou. Fora de si. Insana.


         Totalmente insana.


         - Ele vai me matar... – ela sussurrou. – A culpa é sua. Toda sua... Eu odeio você. Odeio. – olhou pra ele, enquanto as lágrimas desciam pelo rosto dela.


         - O que você está dizendo? – ele perguntou, sem entender.


         - Ele vai me matar. Por você...


         - Hermione...


         - Eu vou morrer...


         - HERMIONE! – o grito a assustou.


         Ela o fitou, parecendo voltar ao normal.


         - Eu sou a primeira da lista, Harry. – ela disse, em voz baixa. – Eu sou a primeira.


         Ele levou alguns segundos pra entender do que ela estava falando.


         - O que é que você está dizendo? – ele indagou, sentindo um medo súbito tomar conta.


         - Eu sou a primeira da lista. A última a morrer. – ela disse, parecendo não sentir nada. Fria. – Ele vai matar todos. Eu sou a última. Sou a cartada final.


         Ele piscou algumas vezes, até digerir o que ela dissera.


         - Quem...?


         - Malfoy.


         - Por que você não...?


         - Eu queria poupar seu sofrimento. – ela disse, prática. – Mas agora eu já não me importo mais. Dane-se você!


         Ele não respondeu.


         A soltou e deu as costas, andando em passos lentos.


         - O que? Vai dizer que se importa? – ela disse, com deboche. – Que se importa comigo? Não preciso de você Harry, da mesma forma que você diz que não precisa de mim. Acho que tudo isso foi o suficiente pra romper os laços. Nada mais importa.


         - Tem razão. – ele se virou e a encarou. – Nada mais importa.


         - Mas você vai ser o culpado. E nada vai mudar isso. Vou morrer, por culpa sua. Vai ter que conviver com o remorso. – ela disse, venenosa. As palavras vinham da boca pra fora. Queria feri-lo, rasgá-lo por dentro, da mesma forma que ela estava ferida, sendo consumida pela dor que sentia. – Eu realmente não me importo em morrer. Se existe uma péssima coisa que eu aprendi durante esses anos ao seu lado foi não ter medo da morte. Eu morro, mas você fica. E vai ficar sofrendo. Vai morrer aos poucos...


         - CALE A BOCA! – ele berrou, voltando a tremer. Mas não por raiva e fúria como antes.


         Era medo.


         Puro medo.


         - E vai sim, ficar sozinho. Você vai ter muito tempo sozinho pra provar a sua auto-suficiência.


         - Por favor...


         - O que? Não quer pensar nisso? – ela disse, cruel. – Dane-se. Você e todo o resto.


         Ela deu as costas, ia embora.


         Ia sair dali.


         Tirar a máscara da ironia e da frieza.


         Aquilo estava acabando com ela.


         Destruído-a por dentro.


         Seus passos lentos iam ecoando pelo lugar que não perdera nenhum pouco de seu brilho e de sua luz.


         O coração dela parecia comprimido.


         Não queria ter dito nada disso.


         Não devia ter falado da lista.


         Não queria que ele sentisse culpa.


         Não queria vê-lo sofrendo.


         Mas ele a machucara tanto.


         Estava tão quebrada por dentro que tinha certeza que seria impossível reunir os pedaços. Ele era tudo que ela tinha, agora, não tinha mais nada.


         Mas, inconscientemente ela parou, e virou.


         E o viu lá no fim do corredor, apoiado a uma prateleira.


         Estava longe, mas ela podia vê-lo tremer.


         Poderia jurar que ele estava chorando.


         - Eu realmente não me importaria em morrer por você. – ela disse, baixo.


         Ele a encarou, de longe.


         Nada que ela dissesse agora iria fazê-lo melhorar.


         Nada que ela dissesse mudaria tudo que acontecera, ou o que estaria pra acontecer.


         Nada mais importava.


         Não tinham mais um ao outro, não tinham mais nada.


         Não sabiam viver sem a companhia um do outro. Sequer sabiam o que era viver sozinhos.


         Eles eram melhores juntos.


         Sempre juntos.


         Eram duas metades que se completavam


         Separados, de nada valiam.


         Ele ouviu os passos dela voltarem a ecoar.


         Não conseguiu frear a próxima frase que escapou.


         - Eu disse que amo você.




And I will love you baby always

E eu te amarei querida, sempre

And I'll be there forever and a day always
E eu estarei lá para sempre e um dia, sempre

I'll be there till the stars don't shine

Eu estarei lá até que as estrelas não brilhem

Till the heavens burst and the words don't rhyme

Até os céus explodirem e as palavras não rimarem

And I know when I die you'll be on my mind

E eu sei que quando eu morrer você estará em minha mente

And I'll love you always

E eu te amarei, sempre

         Ela estacou.


         Demorou alguns minutos até que ela entendesse o que fora dito, sentisse o impacto e virasse para tornar a encará-lo.


         - O que? – a pergunta saiu num sussurro rouco de tão incrédula.


         - Pra fênix aparecer e salvar sua vida. Eu disse que amo você.


         Nenhum dos dois disse mais nada.


         Apenas se fitaram pelo que pareceu uma eternidade.




         Pelo o que eles queriam que fosse a eternidade.


         Pra sempre.




         De repente, ela simplesmente se virou e terminou seu caminho, saindo da sala.




What I'd give to run my fingers through your hair
O que eu não daria para correr meus dedos por seus cabelos

To touch your lips to hold you near

Para tocar seus lábios, senti-la perto

When you say your prayers try to understand

Quando você diz suas preces, tente entender

I've made mistakes I'm just a man

Eu tenho cometido erros, eu sou somente um homem

         Harry sentiu seu corpo ceder e caiu no chão.


         Abraçou os próprios joelhos.


         Sentiu sua vida sair por aquela porta junto com ela.


         Nada mais importava.


         Não mais.






***




Música: Always - Bon Jovi [A música não está na ordem correta, e sim na que eu achei mais apropriada para o texto.]




N/a: Essa nota está sendo escrita no exato momento que eu terminei esse capítulo.


Foram três anos imaginando essa sala, essa briga, essas frases.


Foram três anos de trabalho pra chegar aqui.


Eu?


Estou chorando como uma criança.


Não sei se na concepção de vocês o capítulo ficou bom ou não, mas pra mim, é mais que isso, é uma espécie de teste pelo qual eu acabei de passar.


Eu jamais imaginei que conseguiria chegar aqui, de fato.


Eu jamais imaginei que escreveria isso para alguém ler, eu jamais imaginei que teria forças pra chegar tão longe.


É uma vitória e um sentimento de dever cumprido que vocês não imaginam.


Estou num estado que sequer acredito que eu consegui. Portanto, ignorem todo o sentimentalismo. Meu coração está minha mão, eu sequer consigo pensar direito.


Harry e Hermione brigaram feio.


Agora, alguém me diz por quê?


A situação é complicada.


Eles não precisavam disso, mas, acho que quando há ressentimento demais, como no caso deles; Harry achando que de fato havia sido trocado por outro, enquanto Hermione se sentia injustiçada pelo fato de nunca ter prometido nada a Harry, que não fosse amizade verdadeira, de ser tratada da forma que ele estava a tratando, é necessário lavar a alma. Deixar tudo claro. Porque quando tudo é dito, e nada é deixado pra trás, é muito mais fácil de recomeçar.


Devagar, com calma, mas ainda assim um recomeço.


Eles precisavam disso.


Precisavam se livrar e dizer tudo que estava engasgado, que estava queimando na garganta.


         Ele precisava acusá-la. Harry precisava acusá-la, mas tendo certeza que o estava fazendo tentando justificar seus próprios erros.


Isso é o que mais o frustra.


         Enquanto ela, precisava entender o porque de estar sendo posta pra escanteio sem ter feito nada errado. Ele não tinha direito de se sentir traído, e ele sabia disso. Hermione sempre detestou injustiça, foi isso que fez lhe subir o sangue, o fato de depois de tudo que fizera e passara por ele, e pelo que ainda passaria, ele tivesse a coragem de dizer tantas coisas horríveis pra ela.


         A vida não é fácil. Nós cometemos erros a todo o momento.


         Nós fazemos escolhas a todo o momento.


         Escolhas erradas são erros.


         Erros são aceitáveis.


         Somos humanos.


         Mas, o maior erro é apontar as falhas alheias sem prestar atenção nas próprias falhas.


Foi aí que o Harry pecou.


Foi aí que Hermione mexeu.


Ofensas, palavras frias, ironias.


Eles foram cruéis um com outro.


Talvez cruéis demais.


Mas eles precisavam disso, cada um por seus motivos.




Agora, almas limpas.


Pronta para o recomeço.


Que pode tardar, mas vem.


Sempre vem.


 _____________________




Só uma palavra:


COMENTEM!




Beijooos,




amo vocês, suas choronas!




=D




 

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