O Baile



 - Você está deslumbrante! – a voz de Matt saiu rouca, carregada de significado, assim como o olhar que ele derramou sobre ela no momento que a viu descer os degraus da escada de mármore.


- Obrigada. – ela disse, aceitando o braço que ele oferecia – Você também está muitíssimo elegante.


         De fato, se ela não estivesse tão magoada e sem vontade pra nada, teria tido uma taquicardia ao olhar o Professor dentro de uma armadura tipicamente grega, que incluía parte das pernas dele a mostra, assim como os braços extremamente musculosos.


         Ele era lindo.


         Tinha que admitir pra si mesma que tinha sorte.


         Tinha que admitir pra si mesma que tinha sorte duplamente.


         Primeiro, por estar entrando em seu último Baile, provavelmente, com o homem mais cobiçado de toda a escola.


         Segundo, por esse mesmo homem estar perdidamente apaixonado por ela, embora estivesse tentando negar o fato e fingir que não enxergava.


         Eles caminharam até a porta do Salão Principal, onde a música tocava animada.


         No momento em que entraram algumas – muitas!- cabeças viraram-se para observá-los. Vários pares de olhos medindo-os de cima abaixo, burburinhos maldosos, outros surpresos, outros invejosos começaram a rondar o salão.


         Eles ignoraram, cheios de dignidade, com uma presença e classe quase inacreditáveis.


          Harry, que observava tudo sem querer acreditar no que via, torcendo para acordar desse pesadelo a qualquer instante, viu que o professor não cabia em si de contentamento, mas, de alguma forma, Harry notou, era uma coisa totalmente sem intenção.


         Sim, os olhos do professor irradiavam, mas era como se ele não precisasse que ninguém soubesse, era visível, mas ele não parecia querer demonstrar, não queria se mostrar para tudo e todos, apenas ele e aquele sentimento é o que bastava.


         Sorte.


         O cara tinha muita sorte.


         E, claro, Harry não precisava fazer esforço nenhum pra sentir suas pernas tremerem ao olhar a beleza exuberante que Hermione exibia aquela noite, ela cintilaria, se não fosse o olhar mortalmente triste que carregava, ainda que sorrisse.


         - Boa noite.


         - Hei, Matt. – Rony cumprimentou o professor no momento em que o casal chegou à mesa onde estava Neville e Luna, Gina e Harry, Rony e Sam. – Mione... Você está...


         Ele não terminou a frase, apenas assobiou.


         As pessoas em volta riram, ela sorriu em agradecimento.


         - Zorro, Ron? – ela perguntou, achando graça na máscara que o ruivo usava, com sua capa e roupa pretas.


         - É! O que achou? – ele perguntou, dando uma volta. – Sam que escolheu.


         - Excelente. Você está ótima, Sam. – Hermione disse, admirando a fantasia preta e vermelha de Espanhola que Sam usava, com seus longos cabelos bem pretos presos com uma rosa, e seus olhos incrivelmente azuis dando todo um contraste a fantasia.


         Um elfo passou carregando uma bandeja com bebidas coloridas.


         Cada um pegou uma das taças, Rony propôs um brinde.


         - Ao nosso último ano. – ele disse.


         - Ao nosso último baile. – Neville disse.


         - A nossa última chance. – Harry falou, olhando nos olhos de Hermione.


         Ninguém pareceu notar o que ele realmente quis dizer, o brinde foi feito, depois a maioria deles se entretiveram numa conversa animada.


         Harry tentou se enturmar, mas tudo que conseguia era assentir e concordar com uns poucos monossílabos, enquanto seus olhos observavam a Musa Grega do outro lado da mesa.


         Hermione estava se sentindo totalmente desconfortável, sem conseguir se concentrar em nada a não ser o olhar que não saia de si.


         - Dança comigo, Matt? – ela perguntou, oferecendo uma das mãos para o professor, que pareceu animadamente surpreso.


         - Eu que deveria perguntar... – ele disse, aceitando a proposta.


         - Faça o convite na próxima música. – eles se afastaram para a pista de dança.


         Por mais que se esforçasse para ignorar, Hermione sentia os olhos verdes de Harry sobre si a todo o momento.


         O baile foi se estendendo, para Harry, foi se arrastando, sentado, fazendo nada a não ser fitá-la, todo o tempo.


         Não era isso que queria pra si.


         Não era fraco a esse ponto, mas alguma coisa nela, alguma coisa...


         A banda estranha que tocava entrou num intervalo.


         Matt e Hermione voltaram à mesa, ela vermelha e rindo.


         Tinha a ousadia de se divertir, enquanto Harry remoia-se.


         - Pode me trazer alguma coisa para beber? – Hermione pediu, assim que voltaram pra mesa.


         - O que quer?


         - Whisky. – ela respondeu, convicta.


         Uma das sobrancelhas de Matt ergueu, enquanto ele a avaliava com o olhar.


         - Tem certeza?


         - Estou precisando. – ela respondeu.


         Assim que ele saiu, ela pegou com força no braço de Harry e o arrastou pra fora do Salão Principal.


         Quando eles finalmente se encararam, estavam aparentemente magoados e estranhamente ofendidos.


         - Qual é o seu problema? – ela perguntou, baixo.


         - Por quê?


         - Porque não pára de me olhar? Por que não esquece que eu existo? Você veio fazendo isso muito bem nos últimos dias, tem mesmo que lembrar da minha existência hoje? Logo hoje, quando eu estou tentando me divertir.


         - Você estava se divertindo. – ele disse, sério, sem achar graça nenhuma.


         - Ah, claro, estava. – ela disse, com ironia. – Pare com isso.
         - Isso o que?


         - POTTER! – ela berrou.


         Os dois se fitaram, sentindo faíscas emanarem de seus corpos.


         Estavam tão ressentidos um com outro.


         Tão machucados.


         O sobrenome dele pairou no ar por algum tempo.


         - Não posso. – ele disse, baixo, ainda que firme, sua voz estava fraca. Seu olhar desviou do dela.


         - O que? – ela indagou, sem ter certeza do que ouvira.


         Ele a encarou.


         Alguma coisa dentro dele o fez querer gritar.


         Agir.


         Fazer alguma coisa.


         Qualquer coisa.


         Ele não era do tipo que entregava o ouro sem lutar.


         Mas sempre lutava por ela... Ela era toda sua força.


         Agora ele a perdera.


         Não tinha mais forças pra nada.


         - Esqueça. Me desculpe. – ele deu as costas e voltou a entrar no Salão.


         Hermione permaneceu parada, tentando entender o que se passara, mas foi incapaz.


         Voltou para dentro do Salão e se juntou a Matt.


         Virou seu copo de whisky sem nem pensar.


         - Vamos... – ela titubeou.


         - Hermione...? – Matt a viu se desequilibrar, a segurou pela cintura. – Você está bem?


         - Ótima. – mentiu. – Quero dançar.


         Ele não se convenceu, mas a acompanhou, dançaram por muito tempo.


         Ela deixou tudo pra trás, tentou esvaziar a mente, deixou a música tomar contar de cada partícula de seu corpo.


         Não queria pensar, lembrar ou sentir.


         Queria apenas respirar, nada mais que isso.


         Se entregou de corpo e alma as notas agitadas que ensurdeciam e enlouqueciam os estudante em polvorosa.


         Estava tudo indo muito bem até o momento que ela viu Gina arrastar Harry para a pista.


         Até vê-los dançando juntos.


         Harry não era um dançarino exímio, mas progredira nos últimos tempos.


         E Hermione sabia muito bem disso.  




         Já passava da meia noite quando o clima do baile mudou da água pro vinho.


         No momento em que começaram as músicas lentas.


         No momento em quê os casais da pista juntaram-se e se deixaram embalar pela melodia doce.


         No momento em que Harry e Hermione sentiram que nada poderia ser pior que já estava.


         Ela não rejeitou ou recuou quando Matt a trouxe pra si com cuidado, se acomodou muito bem no ombro dele enquanto se deixava guiar pelos movimentos experientes que ele fazia.


         Era uma necessidade.


         Não era possível explicar. Ela sempre fora forte, sempre agüentara tudo... Mas sempre tivera onde se apoiar quando estava prestes a cair.


         Ela sabia onde procurar e tinha certeza que acharia.


         Agora, ela procurava desesperadamente por um novo porto seguro.


         Procurava em Matt, alucinadamente, uma coisa que sabia que não acharia. Por melhor que ele fosse, por mais que se esforçasse, nunca seria o suficiente.


         Era frustrante.


         Deprimente.


         Para Harry, por sua vez, no instante que Gina se juntou a ele, de repente, como se algo lampejasse diante os olhos dele, deu-se conta que não sabia o que fazia ali.


         Não tinha idéia do porque havia vindo, porque estava com Gina, porque estava ali, de pé, dançando, enquanto todos seus sentidos estavam voltados pra ela.


         O que?


         Dera pra gostar de tortura?


         Qual era o problema?


         Já não fora o suficiente ter sido trocado, ainda tinha tido a coragem de aparecer no Baile para se auto-humilhar.


         Autoflagelação.


         Ele perdera a noção.


         Noção de perigo, de espaço, de consciência.


         Só registrava uma única coisa.


         A única coisa que podia – e estava – levando-o ao estágio mais elevado de insanidade.


         Não havia escapatória, ele se arrastara até ali por vontade própria.


         A primeira musica acabou.


         A próxima começou.


         E foi como se tudo ali desabasse.


         A primeira nota foi o suficiente para que os olhos procurassem um ao outro.


         Cada um com seus respectivos parceiros, cada um imerso em seus próprios pensamentos.


         Suas próprias lembranças.


         Tudo fugiu.


         Nada mais restava.


         Tudo que Hermione via era o par de olhos verdes fitando-a a alguns passos.


         Tudo que ele via era aqueles belos e doces olhos castanhos, que, pareciam perfurá-lo a cada olhar.


         As notas iam ecoando, fortes, retumbando, enquanto a letra soava tão longe, agora... Relembrando os tempos que ela parecia tão próxima da realidade.




So lately, been wondering
Ultimamente, tenho pensado
Who will be there to take my place
Quem ocupará meu lugar
When I'm gone, you'll need love
Quando eu me for, você vai precisar de amor
To light the shadows on your face
Para iluminar as sombras do teu rosto


         Eles eram capazes de reconhecer nos olhos um do outro, as mesmas lembranças, as mesmas sensações.


         Eles estavam sentindo a mesma coisa, ao mesmo tempo.


         Sabiam disso.


         Por cima do ombro de Matt, Hermione podia ver os olhos de Harry não fazer nada além de fitá-la.


         Nada além de relembrá-la.


         Ela estremeceu.


         Podia sentir o olhar dele sobre si, podia voltar a saborear aquela mesma sensação... Aquela inesquecível sensação.




Could you make it on your own
Você conseguiria se virar sozinha?

If I could, then I would
Se eu pudesse, então eu iria
I'll go wherever you will go
Eu vou para onde quer que você vá
Way up high or down low
Bem lá em cima ou lá embaixo


 


         Ele poderia jurar que a qualquer momento explodiria.


         Era frustrante demais.


         Humilhante demais.


         Era desejo demais.


         Queria falar, berrar, xingar, provar.


         Prová-la.


         Da mesma forma que fizera meses atrás.


         Da mesma forma que fizera sob a chuva.


         Tentá-la, testá-la, prová-la.


 


Run away with my heart
Foge com meu coração
Run away with my hope
Foge com minha esperança
Run away with my love
Foge com meu amor


         Surpreenderam-se de repente, estavam levando ao pé da letra, não?


         Afinal, tudo que vinha fazendo nos últimos dias era fugir.


         Fugir um do outro,


         Fugir de si mesmos.


         Fugir.


         Parecia o caminho mais fácil, mas...


         Havia se esquecido que fugir não significa esquecer.




If I could turn back time
Se eu pudesse voltar no tempo
I'll go wherever you will go
Eu vou aonde quer que você vá
If I could make you mine
Se eu pudesse fazer com que você fosse minha.
I'll go wherever you will go
Eu vou aonde quer que você vá


        


         Insustentável.


         Era impossível continuar com o olhar dele sobre si, se torturando daquela forma, ouvindo aquela música, sentindo aquilo que estava sentindo.


         - Matt... – ela sussurrou.


         - Está tudo bem? – ele perguntou, dando-se conta que ela estava lívida.


         - Me tire daqui. – ela pediu, num silvo.


         - Claro... – ele disse, prestativo, tomando-a pela mão. – Vamos.


         Uma vez fora do Salão Principal, Matt a fitou, preocupado.


         - O que está havendo...?


         - Me leve embora...


         - Mas...       


         - Me leve daqui, por favor. – ela murmurou.


         Ele assentiu sem perguntas.


         Era isso que ela gostava nele.


         Nada de perguntas.


         Estava livre pra falar sobre o que quisesse somente quando quisesse.


         Ele não cobrava.


         Nunca cobrara.


         Ela não prestou atenção para onde estava sendo levada, quando deu-se conta que estava no Sétimo andar, no começo do corredor, que estava escuro, somente a luz da lua prateada entrava pela grande janela.


         - Aonde...? – ela começou, fazendo-o parar.


         - Acho que você precisa descansar, organizar as idéias. Você não está bem, Hermione...


         Ela o fitou.


         Se sentiu a pior das criaturas.


         Ele era tão gentil, preocupado, prestativo.


         Era carinhoso, educado, um cavalheiro.


         Dispensava a ela um sentimento tão nobre que era impossível descrever.


         - Estou estragando sua noite... Me perdoe... – ela disse, fitando-o, sentindo seus olhos queimarem.


         - Não se preocupe com isso agora...


         - Você esperou por tanto tempo, queria tanto isso. Eu estou péssima, sendo uma companhia péssima... Me perdoe Matt, você não merece isso... Eu realmente...


         Ele a fez se calar, selando a boca dela com o dedo indicador.


         Ela sentiu um arrepio diferente, perdeu o equilíbrio, ele a segurou pela cintura, fazendo-a se apoiar contra parede.


         - Você nunca estraga nada. – ele sussurrou, secando uma lágrima que escorreu, com o dedo polegar.


         Ela o fitou, tão perto, os traços perfeitos contra a luz prateada da lua.


         Era uma necessidade estranha, precisava preencher o vazio. Precisava de alguém que a abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem.


         - Matt... – ela sibilou, tocando o rosto dele com leveza, fazendo-o sorrir um sorriso inebriante.


         - Gosto de você, Hermione... – ele voltou a sussurrar. – Sabe disso.


         Ela fechou os olhos a contento quando o nariz dele tocou o seu, aspirou o perfume forte, era hipnotizante.


         - Matt? – ela chamou, em voz baixa.


         - Hum? – ele murmurou.


         Eles se fitaram por alguns segundos.


         Ela não falou, voltou a fechar os olhos no momento que o nariz dele passeou por sua bochecha.


         Hermione ofegou.


         E tremeu, no instante que os lábios quentes dele tocaram os seus, que ela descobriu frios.


         Alguma coisa a chocalhou por dentro, quando ele deixou a calma de lado e a tomou pra si.


         Ela correspondeu, bagunçando os cabelos claros dele, fazendo-o rir contra seus lábios.


         E, surpresa consigo mesma, Hermione sorriu.


         Quando seus lábios se separaram, ela abriu os olhos lentamente, e viu a luz prateada refletir nos olhos claros dele.


         Matt tinha um poder sobre ela, leve, doce... Tinha um efeito devastador.


         Ele também sorriu, com toda doçura e suavidade que lhe era peculiar. Por poucos segundos o sorriso dela se estendeu aos olhos, que deixaram de estar opacos e sem vida.


         Brilharam.


         Ela suspirou.


         E toda a aura mágica criada até o momento se desfez num sobressalto, uma porta bateu no outro extremo do corredor.


         Os dois procuram pela origem do barulho, assustados.


         Quando voltaram a se encarar Hermione sentiu uma coisa estranha.


         Mais culpada agora.


         Ela o soltou e tentou sair de onde estava, entre Matt e a parede, mas não tinha espaço pra se mover.


         - O que houve?


         - Isso é um erro. – ela parou de tentar e o encarou. – Não é justo. Não é justo com você...


         - Eu decido o que é justo pra mim. – ele disse, doce e firme.


         - Você não entende...


         - Que você gosta do Potter? – ele perguntou, ainda suave, mas com um olhar arisco.


         Ela o fitou, abriu a boca pra responder, mas foi interrompida de repente.


         - Matthew? – Minerva McGonagall apareceu no corredor.


         - Sim?


         - Alguma daquelas tranqueiras que serviram pra beber fez alguns estudantes passarem mal, precisamos de sua ajuda lá embaixo. – ela disse, ríspida, parecendo totalmente insatisfeita com a cena que via.


         Ele fitou Hermione, que tentou sorrir, mas não conseguiu.


         Deixou o corredor junto a Diretora, deixando a garota ali, sozinha.


         Ela olhou em volta, enquanto caminhava para o outro extremo, ia para o Salão Comunal, sua noite acabara.




         Porém, mal sabia ela, que sequer começara.




***




N/a: Não vou dizer nada.


Acho que por hoje eu já fiz mal suficiente a vocês.


E ao Harry e a Hermione [bom, pra ela nem tanto].


Vou deixar a parte das palavras com vocês.


Espero comentários.




E só tenho um conselho: próximo capítulo é o “apocalipse” dessa fic.


Onde tudo acaba, mesmo sem ser o fim definitivo.






Muito obrigada pelos comentários pelo último capítulo.


Vocês, são a melhor coisa que já me aconteceu.


Eu amo vocês.




Beijooooos.




Paulinha.






 


 

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