Diferente



Mais um raio clareou a sala.


         Escura.


         Toda e qualquer iluminação vinha dos raios incessantes, seguidos de trovões estrondosos no meio da tempestade torrencial que caia lá fora.


         - Hermione...


Ela voltou a interromper, em voz baixa dessa vez.


         - Se você estiver brincando. Se isso não for sério, essa é a hora de dizer.


         - Eu não...


         Antes que ele notasse, que percebesse, que desse conta, ela se aproximou dele e tocou levemente os lábios dele com o dedo indicador.


         - Shhhh.


         Eles se fitaram por alguns instantes, que parecera durar uma eternidade.


         Harry não entedia.


         Não a entendia.


         Estava tenso, seus músculos enrijecidos, em parte por causa do frio. Sua pele gelada entrou em choque com mão quente da garota, que tocou o lado esquerdo do rosto dele com a palma, de uma maneira quase desesperada.


         Ele não sabia como reagir, não sabia o que viria dela. Não depois de tudo que ela dissera.


         Seu corpo tremeu inteiro no momento que a testa dela colou na sua.


         - Diz que não é brincadeira. – ela sussurrou, quase inaudível, mantendo sua testa na dele, bem como sua mão no rosto frio.


         Seus olhos não se desligavam um do outro, nem que o quisessem.


         - Não é brincadeira. – ele disse, tão baixo quanto ela, com certa dificuldade pelo frio que sentia.


         Ela apertou mais o rosto dele contra sua mão, enquanto buscava na íris verde, alguma certeza, de alguma coisa.


         Qualquer coisa.


         Porque ela não sabia mais nada.


         - Diz que... – ela pausou, teve que pensar antes de continuar. Ainda era difícil acreditar. – Diz que me ama de verdade.


         - Nada no mundo é mais verdade que isso.


         Ela suspirou antes de voltar a falar, sentindo seu coração pulsar dentro do seu peito, cada fibra do seu corpo reagia a ele, as palavras dele, todos seus sentidos afloraram, seu estômago deu voltas depois pareceu contrair contra sua coluna, lá nas costas.


         - Diz que me ama tanto quanto eu amo você. – os olhos dele se arregalaram em surpresa. – Porque aí eu saberei que é infinito.


         Ele levou alguns segundos até entender o que ela disse.


         Segundos esses que findaram num sorriso bobo nos lábios dele.


         - Eu devia matar você por f... – ela não conseguiu terminar.


         Os lábios gelados dele tocaram os dela, quentes, sem nenhuma cerimônia.


         Ela esqueceu tudo em volta, e sentiu um arrepio que veio da espinha ao pescoço, a fez tremer, abrir e fechar as mãos, pra tentar controlar o turbilhão de sensações que se apoderaram dela naquele momento.


         Era pura energia.


         Alguma coisa entre eles parecia faiscar.


         Talvez fosse o contato da pele quente dela, com o toque gelado dele; que causava choque a cada instante que se encontravam.


         Talvez fosse o fato de ter certeza que tudo que havia acontecido até então era passado.


         Talvez fosse simplesmente a forma como ele a enlaçou pele cintura, a trouxe perto.


         Talvez fosse meramente a certeza de que aquilo era um recomeço.


         Ele se lembrou, então, da primeira vez que a beijou. Aquela fora a única vez que a sentiu corresponder com tanto sentimento quanto ele o fazia. Quanto tempo já tinha?


         Quase cinco meses.


         Levaram cinco meses pra finalmente assumir que começara naquela tarde, no Largo Grimmauld?


         Levaram cinco meses para notar que tudo que precisavam era apenas um ao outro?


         Levaram cinco meses pra entender que todos os arrepios que sentiam quando se tocavam eram sinal de desejo?


         Pra notar que o pulsar acelerado de seus corações quando estavam juntos não consistia apenas em amizade?


         Levaram cinco meses pra perceber que amizade não era o suficiente há muito tempo?


         Cinco meses pra descobrir que a amizade era apenas o complemento.


         Complemento de algo muito maior, muito mais intenso, e muito mais indestrutível?


         Ela se afastou lentamente, sentindo o gosto dele em seus lábios.


         Era estranho.


         Muito estranho.


         Estranho poder olhá-lo dessa forma.


         Era estranho se permitir olhá-lo dessa forma.


         Era uma sensação totalmente desconhecida saber que poderia encará-lo depois de beijá-lo, sem desculpas por tê-lo feito, sem pensar em uma desculpa convincente pelo impulso, sem ter que ficar embaraçada e fingir que nada tinha acontecido.


         Quando ela finalmente o fitou, percebeu que ele sentia da mesma forma.


         - Esquisito. – ela murmurou, fazendo-o rir.


         - Concordo. – ele disse, sem soltá-la ou deixar de fitá-la.


         Ele a trouxe mais perto, o que a fez rir, uma vez que não havia como eles estarem mais próximos.


         A mão gelada dele encontrou a pele quente do fim das costas dela, segurando-a possessivamente.


         Hermione apoiou o queixo no ombro dele, sentindo sua respiração falhar enquanto o nariz frio do rapaz perpassava sua têmpora e parte de seu rosto.


         - Agora é a hora de você ficar sem palavras, olhar pra mim com culpa e pedir para fingirmos que nada aconteceu. – ele sussurrou, provocante, no ouvido dela, vendo a pele da garota se arrepiar instantaneamente.


         - Não vou fazer isso. – ela murmurou em resposta, sentindo que sua voz não queria sair... Havia se perdido em algum lugar que ela não conseguia sequer imaginar. Sentia... Sentia algo estranho, diferente... Estava entorpecida, como se não respondesse por si, como uma marionete que iria pra onde ele quisesse levá-la. Estava entregue, completa e totalmente, sem ao menos saber quando passara a esse estágio.


         - Não vai?


         - Não posso. – ela sussurrou, rouca, tentando fazer sua voz funcionar. Mas nada mais em seu corpo funcionava. Estava tudo sob controle de suas terminações nervosas que gritavam exaltadas cada vez que a respiração dele batia em seu pescoço. – Não quero.


         Ela não viu o sorriso tímido que surgiu nos lábios dele.


         - Eu amo você. – ele sussurrou, de tão baixo foi quase inaudível. Mas ele pôde sentir que, além de fazê-la arrepiar, também a fez tremer. – Sabe que nada que aconteça vai nos separar. Sempre juntos.


         Ele a sentiu aquiescer ligeiramente.


         - Agora mais que nunca. – ela murmurou. – Vencemos, Harry.


         Hermione afastou-se para poder fitá-lo, ele fez o mesmo.


         - Nós poderíamos ter desistido. – ela cochichou. – Eu quase desisti. Me desculpe...


         - Hermione...


         - Eu tive medo.


         - Hermione...


         - Você... – ela tocou os lábios dele com o dedo indicador, fazendo-o se calar, antes que voltasse a interrompê-la. – Você... O efeito que você tem sobre mim é muito poderoso. Eu tive medo de fraquejar. De fracassar. Sabe que eu odeio o fracasso. Eu quis fugir antes que me visse totalmente controlada por você.


         Ela pausou, o fitou por alguns instantes e depois sorriu.


         - Acho que não deu certo. – admitiu. – Ainda bem que não deu certo.


         - Céus! Isso quer dizer que eu tenho total controle agora. – ele disse, com um tom de superioridade, fazendo-a franzir o cenho.


         - Nope! - ela se aproximou dele novamente, e segredou ao pé do ouvido. – Parei de fugir de você. Isso te dá todo e qualquer controle. – ele riu, sentindo que também se arrepiava com a voz dela flutuado suavemente a sua volta. – Mas, pra manter minha sanidade, eu também parei de fugir de mim mesma. Isso me devolve todo o controle. Posso me controlar.


         - Certeza? – ele perguntou, com um riso maroto.


         - Absoluta.


         - Mesmo?


         - Sim.


         - Acho que você está muito certa de si, Srta. Granger. – ele sussurrou no ouvido dela, provocando, fazendo-a arquejar.


         - Golpe baixo.


         - Eu nunca disse que o jogo seria justo. – ele tornou a sussurrar.


         Hermione sentiu seus joelhos fraquejarem, e os arrepios voltarem com uma força impressionante.


         - Eu devia ter previsto isso... Você nunca joga justo.


         - Nem você. – ele sibilou. Ela prendeu a respiração quando os lábios dele desceram pelo seu pescoço lentamente.


         Havia algo melhor no mundo que aquilo?


         Se havia, ele não conhecia.


         Há quanto tempo sonhava com isso?


         Há quanto tempo desejava isso?


         Há quanto tempo?


         Vê-la e não poder tocá-la o torturava desde sempre. O problema sempre foi ele não querer enxergar esse pequeno impasse.


         Pior: vê-la e poder tocá-la.


         Porque sempre pôde.


         Sempre pôde tocá-la quando bem entendesse.


         Mas tinha que ser cuidadoso em como tocava. O quanto tocava.


         Não podia ultrapassar a linha.


         - A linha. – ela o ouviu sussurra contra seus lábios antes de beijá-la novamente.


         Ela riu, beijando-o de volta, com sua mão embrenhando-se nos cabelos molhados e sempre rebeldes dele.


         - Cruzamos a linha. Feio dessa vez. – ele disse, fazendo-a soltar uma gargalhada gostosa.


         - Gosto do outro lado da linha. – ela murmurou. – Você não?


         - Posso ir pro inferno por dizer isso, mas sim, gosto desse lado e não pretendo sair dele. – ele comentou, enquanto distribuía beijos ao longo do pescoço dela. – O que me diz disso?


         - Posso suportar o inferno. – ela falou, fazendo-o rir.


         - Iremos juntos, então, nada pode ser tão ruim assim. Nem o inferno.


         - Lá em cima, ou lá embaixo. Sempre juntos.


         - Eu vou para onde quer que você vá.


         Eles se fitaram, as brincadeiras e as piadas ficaram soltas no ar, se perderam.


         As testas deles voltaram a se juntar.


         - Seu coração também está batendo tão rápido que você pensa que não será capaz de agüentar muito, ao mesmo tempo em que queria que essa sensação durasse para sempre? – ela perguntou, baixinho.


         - Huhum. – ele murmurou, concordado. – E meus joelhos parecem fracos e não param de tremer.


         Ela riu, nervosamente.


         - E seu estômago parece um vácuo cheio de borboletas voando em todas as direções?


         Ele riu dessa vez.


         - Por mais... Piegas que isso possa soar. Sim. Milhões delas voando aqui dentro. – ele respondeu, no mesmo tom dela.


         - E todo o seu corpo treme só de pensar em como vai ser daqui pra frente?


         Ele não respondeu de imediato.


         - Na verdade, meu corpo todo treme porque eu estou com muito frio. – ele disse, rindo.


         - Oh, Deus! Uma toalha! – ela disse, dando-se conta de que ele ainda estava do mesmo jeito quando entraram na casa, depois de passar pela tempestade.


         - Já estou quase seco. – ele disse, segurando-a pelo braço, quando ela quis se desvencilhar dele.


         - Harry...


         - Hei, meu anjo... Tudo bem.


         - Preciso fazer alguma coisa, ou você vai...


         - Você vai fazer alguma coisa. – ele falou, sem deixá-la concluir a frase. Passou o braço por trás dos joelhos dela e a pegou no colo.


         - O que pensa que está fazendo?


         - Estou fazendo você fazer alguma coisa. – ele respondeu, divertido, deitando-a no sofá fofo, claro, cheio de almofadas.


         - Harry...?


         - Confortável?


         - Sim, mas... – ela não terminou, apenas o observou tirar os sapatos encharcados, bem como as meias, e deitar-se ao lado dela. – Você vai me molhar, desse jeito...


         - Você acha? – ele indagou, balançando os cabelos molhados sobre ela, fazendo respingar água para todos os lados.


         - Harry! – ela brigou. – Pare com isso...


         - Estou com frio. – ele murmurou, voltando a ficar sério.


         - Não me venha com essa...


         - é sério.


         Ela riu quando ele se apertou, deitando-se de frente pra ela no sofá que parecia abraçá-los de tão fofo.


         - Vem cá... – ela se sentou, puxando-o consigo. – Se não se livrar disso, o frio só vai aumentar.


         Ela tirou o casaco que ele ainda vestia e puxou pra cima a camiseta que respingava água.


         - Está com sua varinha? Larguei a minha na cozinha... – ele sacou a varinha e entregou a ela, sentindo seu queixo tremer.


         - Detesto usar varinhas alheias... – ela comentou, enquanto, com um floreio, fez alguma coisa que Harry não fazia idéia do que era. – Nunca surtem efeitos desejáveis.


         Ela arrumou umas almofadas, encostando-as no braço do sofá, apoiou suas costas nelas e fez um sinal para Harry.


         Ele estava com frio demais para se dar o trabalho de fazer alguma cerimônia.


         Juntou-se a ela, deitando a cabeça num dos ombros da garota, enquanto ela o abraçou e enlaçou suas pernas.


         - Melhor?


         - Huhum... – ele resmungou, escondendo-se na curva do pescoço dela.


         Ficaram algum tempo em silêncio, enquanto Hermione sentia o calor de seu corpo ser roubado, paradoxalmente ao mesmo momento em que o contato com ele parecia fazer ondas de calor passar por toda a extensão de seu corpo.


         - Harry?


         - Hum?


         - Como serão as coisas daqui pra frente?


         - Hermione... é cedo para..


         - Não. Não é. – ela o cortou. – Os Weasley virão pra cá daqui três dias. O que faremos?


         Ele não tinha pensado nisso.


         Respirou fundo, tornando a deitar no ombro dela para poder fitá-la.


         - Isso é um problema. – ele disse, enquanto ela corria os dedos pelo braço frio dele, indo e voltando.


         - Sim. E um dos grandes.


         Eles voltaram a ficar em silêncio, um barulho de algo quebrando os fez olhar para trás: uma coberta vinha levitando, e derrubara um vaso no meio do caminho.


         - Varinhas alheias nunca funcionam com dignidade.


         - Não fale assim da minha varinha! – ele reclamou, enquanto ela o cobria com cuidado.


         Ela riu, voltando a passar os dedos pelo braço dele, dessa vez ela decidiu usar as unhas, correndo levemente a pele dele. Que se arrepiou. Que a fez sorrir.


         - Como eles irão reagir? – Harry indagou, voltando a sentir a ponta de seus dedos e seus pés.


         - Como assim?


         - Quando contarmos... Como será...?


         - Você está pensando em contar? – ela o interrompeu.


         Ele ergueu a cabeça, olhando-a firmemente.


         - Você está pensando em não contar?


         - É claro! – ela respondeu, como se fosse a coisa mais obvia a ser feita.


         - Mas, meu anjo...


         - Meu anjo... – ela repetiu, brava. – Não me venha com a idéia de fazer o anúncio que estamos juntos na noite de ano novo.


         Ele riu, acariciando o rosto zangado dela.


         - Eu pretendia te pedir em casamento na frente de todos na noite de ano novo. – ele disse, baixo, observando atentamente a reação dela, que não fez nada a não ser emitir um grunhido. – Brincadeira. Juro. Brincadeira.


         Ela respirou aliviada.


         - Nem pense numa coisa dessas.


         - Não quer casar comigo?


         - Isso é um pedido de casamento?


         - Não. Mas se fosse...


         - Eu tenho dezoito anos. Ninguém, em sã consciência se casa com essa idade.


         - Isso é um não.


         - Entenda como quiser. Mas, em hipótese alguma, nunca, nem amanha, nem na noite de ano novo, nem daqui trinta anos, me peça em casamento na frente de um monte de gente.


         - Por que não?


         - Porque não.


         - Hermione...? – ele a instigou, cutucando-a. – Por quê?


         - Não vou responder. Não preciso responder a perguntas desse tipo. – ela disse, irritada. – Mas, voltando ao assunto que interessa... O que faremos?


         - Por que você não quer dizer a eles? Teremos de dizer, em algum momento. E nem deve ser novidade pra ninguém...


         - Como assim?


         - Acho que todos, na face da Terra, já sabiam que eu sempre fui um tolo cego apaixonado pela minha melhor amiga.


         A forma como ele falou fez a expressão enfezada de Hermione se suavizarem, até ela sorrir.


         - Não quero que eles saibam. Por enquanto.


         - E quando chegar a hora de dizer, enfrentaremos esse mesmo dilema, por que não fazemos isso de uma vez?


         - O que vamos fazer? Hein? Chegar para o Sr. e a Sra. Weasley e dizer: “Olá, como foi o natal na tia Muriel? Porque o nosso foi ótimo, descobrimos que nos amamos desde sempre, e estamos juntos! Ah, Harry vai me pedir em casamento essa noite!” É isso o que você pretende?


         - Não exatamente. – ele disse, com calma. – Pretendia algo menos desesperado como: “Hermione e eu passamos por alguns problemas, e finalmente ajustamos tudo e estamos juntos agora.”


         Ela ponderou.


         - Eles falariam: “Mas vocês sempre estiveram juntos, desde os onze anos de idade”.


         - Eu responderia: “Estamos juntos no sentido literal da palavra”.


         - Eles jamais entenderão, Harry. – ela falou, desanimada. – Uma vez que nós sempre estivemos juntos.


         - Precisamos de uma definição melhor.


         - Alguma sugestão?


         - Eu diria namorando... Mas nós não estamos namorando. – ele falou, pensativo.


         - Não? – ela perguntou, achando graça.


         - Não. Você acha que estamos?


         - Não.


         - Ótimo.


         - Estamos juntos, não estamos namorando. Você diz que vai me pedir casamento, mas também não estamos noivos...


         - Ah, desisto! Muito complicado. – ele falou, fazendo-a rir. – Ninguém precisa saber, por enquanto.


         - Muito obrigada por concordar! Podíamos ter poupado essa discussão se você me desse ouvidos.


         - Eu te dou ouvidos... – ele falou, beijando-a levemente, depois voltando a deitar no ombro dela. – E não vamos começar a discutir relação já, não é?


         - Não. Acho que...


         - Relação! – ele repetiu, voltando a levantar, encarando-a.


         - O que tem?


         - Podemos dizer que estamos nos relacionando numa relação! – ele disse.


         - Cale a boca, Harry! – ela falou, rindo com vontade, puxando para ele voltar a se deitar. – Foi a coisa mais estúpida que eu já ouvi você dizer.


         - Como se você não dissesse coisas estúpidas...


         - Ãh? – ela ficou indignada. – O que foi que eu disse pra você que soa tão estúpido quanto “nos relacionando numa relação”?


         - Você disse que queria uma cicatriz. – ele falou. – Foi tanta estupidez que você conseguiu uma!


         Ela deu um tapa de leve nele.


         - Foi muita estupidez mesmo... – ela murmurou, sabendo que sua cicatriz viera de uma maneira horrível.


         - Mas tudo bem... Eu te perdôo por isso. – ele falou, causando uma onda de riso nela.


         - Me perdoa por eu ter uma cicatriz?


         - Não. Pela estupidez.


         - Ah, claro. Como se eu tivesse te pedido perdão e...


         - Céus! Como uma pessoa pode ser tão orgulhosa? – ele reclamou, voltando a se erguer para fitá-la.


         - Como se você não fosse...


         - Como pode ser tão teimosa?


         - E você n... – ele a interrompeu, beijando-a.


         Ela foi pega de surpresa pelos lábios, agora quentes, dele.


         Lentamente, como se já conhecesse cada ponto fraco dela, Harry a tentou.


         Sorriu ao vê-la arquejar de frustração quando, em mais uma tentativa fracassada, ela tentou capturar os lábios dele, que fugiram dos dela. Quando Hermione perdia as esperanças, lá estavam os mesmos lábios, de novo, roçando nos dela, provocando, tentando... e mais uma vez, quando achou que finalmente os teria, fugiram.


         - Não tem graça. – ela sussurrou, descontente.


         Ele apenas riu, voltando a provocá-la.


         Mas ela não reagiu dessa vez, sabendo que voltaria a ficar apenas na vontade. Harry decidiu, então, parar de aborrecê-la.


         Ela estremeceu quando a língua dele contornou seus lábios, causticamente, antes de beijá-la cuidadosamente. Lentamente, eles foram se perdendo no momento.


         Minutos depois, eles sequer notaram que, Hermione tinha uma das mãos na nuca de Harry, impedindo-o de se afastar, mesmo que ele o quisesse. Mas não parecia querer, já estava deitado sobre ela, a coberta há muito fora esquecida no chão, suas mãos tocavam o corpo anormalmente quente dela, enquanto suas respirações entrecortadas iam ficando cada vez mais audíveis.


         A urgência que a situação tomou tão rápido foi interrompida quando todas as luzes da casa se acenderam.


         Eles se separaram tampando os olhos, acostumados a escuridão na qual estavam. Harry foi se virar e acabou caindo do sofá.


         Hermione soltou uma gargalhada alta, enquanto tentava se habituar a luz.


         - Droga! – ele resmungou, sentando-se no chão.


         Nenhum dos dois falou por alguns segundos, que se estenderam.


         Ela notou que sua camisa, de alguma forma, só vestia um de seus braços, e estava prestes a parar de vestir o outro. Seu pescoço queimava ainda com o rastro dos beijos de Harry.


         Foi então que ela o olhou, sentando no chão. Deus! Tinha marcas das unhas dela nas costas dele.


         - Acho que a luz voltou. – ela disse, rouca.


         - Acho que si... – ele foi responder, mas alguma coisa bateu em sua cabeça.


         - Ah, o chá! Varinhas alheias realmente não prestam. Sabe quanto tempo faz que eu conjurei o preparo desse chá? – ela reclamou, levanto-se, enquanto ele pegava a xícara que batia incansável em sua cabeça.


         - Não está mais quente. – ele murmurou.


         - Eu esquento. – ela disse, colocando sua camisa de volta, de costas para Harry, sem ver que ele a observava.


         Tirou a roupa dela sem ao menos perceber que fazia.


         Não pôde deixar de lembrar-se daquela noite, no quarto dela, quando a garota tinha interrogado Malfoy. De como Hermione estivera da mesma forma que estava há horas atrás. Totalmente fora si, gritando com ele, sem saber o que fazer, sem ter para onde correr, com a camisa metade aberta. Ele sentira vontade de tirar aquela camisa dela, aquela noite. Mas só notou isso depois de acordar daquele sonho horrível que...


         Nossa!


         Ele se lembrou do sonho.


         Que teria se tornado realidade naquele momento se as luzes não tivessem voltado.


         - Me dê isso. – ela tirou a xícara das mãos dele e foi pra cozinha, rápido.


         Ele parou de divagar e levantou-se, indo atrás dela.


         Parou e encostou-se a batente da porta da cozinha enquanto a observava fazer um novo chá, da maneira trouxa, pra ele.


         Ela estava de costas, não podia vê-lo, ele demorou alguns minutos até dizer alguma coisa.


         - Pode usar magia pra fazer isso.


         - Não quero. – ela respondeu, sem se sobressaltar, parecia saber que ele estava ali todo o tempo.


         - Por quê?


         - Preciso recuperar o fôlego. – ela disse, com graça, fazendo-o sorrir.


         Mais algum tempo se passou, ambos em silêncio.


         Terminou o chá, que vinha, agora, fumegando nas mãos da garota.


         Ela parou quando o alcançou.


         - Suba e ponha roupas limpas e quentes. – ela disse, entregando o chá pra ele.


         - O que foi? – ele perguntou, segurando-a pela mão.


         - Nada. – ela disse, sem fitá-lo.


         - Foi alguma coisa que eu disse? – ela balançou a cabeça. – Alguma coisa que eu fiz?


         - Não, Har...


         - Desculpe pela camisa. Eu sequer notei...


         - Tudo bem. – ela disse, sorrindo. – Desculpe pelos arranhões.


         - Que arranhões? – ele perguntou, surpreso.


         - Ups... – ela riu. – Ainda bem que não consegue ver suas costas.


         Ele sorriu levemente enquanto via o olhar dela perder todo o brilho que tinha a minutos atrás.


         - O que foi, meu anjo? – ele voltou a perguntar, deixando a xícara sobre o balcão, para poder acariciar o rosto dela com as costas dos dedos.


         - Nada. Vá se vestir e...


         - Você me parece exausta. Emoções demais num só dia?


         Ela assentiu.


         - Não quer me contar qual é problema?


         - Não tem importância... Esquece. Vá se vest...


         Ele a pegou no colo novamente.


         - Harry...


         - Juro que não vou te importunar dessa vez. – ele falou, atravessando o corredor.


         Eles passaram pela sala, e ela viu que seria levada para o andar de cima. Deitou a cabeça no ombro dele, enquanto o rapaz galgava os degraus.


         Ele abriu uma das portas e entrou num dos quartos, ela notou que não era o seu.


         Harry a deitou na cama cuidadosamente, abriu sua mala e tirou uma camisa sua.


         - Pode vestir se quiser. – ele disse, pegando uma toalha. – Vou tomar banho.


         Ela assentiu, mas antes de entrar no banheiro, ele sentou-se na cama, ao lado dela e a fitou.


         - Dorme. Foi um dia exaustivo.


         - Mas...


         - Tudo a seu tempo, Hermione. – ele sussurrou, arrumando uma mecha do cabelo dela.


         Hermione aquiesceu, e ele sumiu atrás da porta do banheiro.


         Ela ainda ouviu o chuveiro, enquanto tirava sua roupa e vestia a camisa deixada por Harry.


         Se jogou na cama, exausta, sentindo que seus corpo não agüentaria mais nenhuma emoção como aquelas que vivera nas ultimas horas.


         Mas, apesar de toda a exaustão, estava feliz.


         Radiante.


         Não tinha palavras para definir aquele sentimento que a aquecia.


         Harry saiu do banheiro com sua costumeira calça de moletom, sem camisa, e a observou.


         Mesmo com todas as luzes acesas, ela dormira. Jogada na cama, sem cobertas, nem nada.


         Ele sorriu, enquanto a cobria e apagava as luzes.


         Deitou-se ao lado dela e a trouxe pra si... Sem hesitar, ela o abraçou, respirando fundo.


         - Harry...? – ela chamou, baixo.


         - hum?


         - É estranho. Tudo isso. Eu... Ainda estou confusa. É muito novo e, por mais bizarro que isso possa parecer, é inesperado.


         - Eu sei. Me sinto da mesma forma.


         - Mas eu nunca estive tão feliz em toda a minha vida.


         Ele sorriu, afagando os cabelos dela, enquanto a garota se aninhava mais a ele.


         - Eu também não. Para ser sincero, acho que nunca fui feliz. Completamente feliz. Até agora.


         Ela não respondeu, ele julgou que ela já estivesse dormindo.


         - Boa noite, meu anjo. – ele murmurou. – Eu amo você.     


 


****


 


N\a: Huhu.


 


Essa a parte da fic que todo o sofrimento passa a valer a pena... na verdade é mais um bônus, né?


 


Não gosto muito de toda essa melação, mas acho que depois de TUDOOOO que Harry e Hermione passaram, nada mais justo que terem uns momentinho melosos, não?


 


O próximo capítulo é o último, o capítulo mais duvidoso da fic inteira, eu acho... que medo da reação de vocês. Tô quase morrendo aqui.


 


Aah, eu sei que esse capítulo pode não estar muito bom [eu não o achei muito bom, na verdade] mas o bom e velho final feliz é sempre bem vindo, não?


 


Anyway, comentem!!!


 


Se preparem para o último e derradeiro capítulo.


 


AAh, ainda tem o epílogo.. que ta legal... mio engraçado, eu acho... Não sei, to meio boba [mais boba, vocês perceberam?] porque ta acabando... AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!


 


Que desespero.


 


Muitíssimo obrigada minha leitoras lindas, maravilhosa, pelos comentários esplêndidos para o ultimo capítulo que eu postei. Vocês são demais.


Sem palavras pra vocês...


 


Amo muito, muito, muito...


 


Beijoooos.


 


Paulinha.


 

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