Fawkes



Amaldiçoou-se amargamente e milhões de vezes enquanto andava com uma dificuldade exageradamente dolorida pelo corredor a caminho do café da manha no Salão Principal.
Amaldiçoou Harry também, por pegar no sono naquela posição horrível, naquele parapeito apertado onde os dois tinham se enfiado. Suas pernas tão encolhidas quanto possível, sua costas totalmente curvada e sua cabeça numa única posição o tempo todo.
Harry deixara mesmo que dormissem ali?
Ela bufou de raiva sentindo que a cada passo sua coluna urgia de dor, seu pescoço estava com o movimento limitado, e seu cérebro estava borbulhando em fúria.
Entrou no salão andando meio torta, alguns olhares caíram sobre ela, alguns risinhos foram ouvidos, ela lançou um olhar mortal as crianças do primeiro ano que se calaram no mesmo instante.
- Bom dia, Mione! – Rony cumprimentou.
- ‘Dia! – ela respondeu, mal-humorada, sem olhá-lo.
- O que houve?
- Dormi numa posição péssima, estou toda dolorida, meu pescoço não mexe e minhas costas estão gritando de dor. – ela disse, tomando um gole de suco de abóbora.
Rony olhou para Harry sentado a sua frente, que permaneceu calado fingindo que não ouvia a conversa, mas foi traído pela natureza, sentiu uma fisgada latejante perto da costela e gemeu de dor.
Hermione finalmente notou Harry, quase riu lembrando-se do quanto sofreram pra descer daquele parapeito quando deram-se conta que o dia já tinha nascido. Nunca mais chegaria perto daquela janela.
- Vocês dois estão com os mesmo sintomas? – Rony perguntou, meio desconfiado.
- Dormiu de mal jeito também, Harry?
Ele pôde sentir o tom levemente irônico que ela usou, ergueu uma sobrancelha e tentou sorrir.
- É o que parece. – ele respondeu.
- Que pena... – disse a garota, com escárnio. Depois piscou pra ele.
- Vocês dormiram juntos! De novo! – Rony disse, espantado.
Harry ergueu a cabeça pra fitar o ruivo, Hermione tentou virar o rosto para fazer o mesmo, mas gritou de dor levando uma das mãos ao pescoço.
- Não seja idiota Ronald!
- Dormiram sim, olhem só pra vocês! – o ruivo disse, apontando de um para outro. – Estão com cara de que dormiram juntos.
- E por um acaso dá pra ter cara que dormiu junto com alguém? – Harry perguntou, rindo.
- Não... Mas... Vocês sim!
- Largue de ser imbecil, Rony. – Hermione disse, sem poder olhá-lo. – Harry e eu acabamos pegando no sono na biblioteca, dormimos sentados naquele banco extremamente desconfortável.
- Mentira!
- Ora, ora, ora... Como pode dizer que é mentira? Você não foi lá nos ver, foi? – Hermione perguntou, num tom desafiador, mas Harry ainda pôde sentir o medo que ela tinha da resposta.
- Bom... Não, mas...
- Então pronto. – disse Harry, terminando a conversa. – Termine seu café, Hermione, e vamos pedir a Madame Pomfrey alguma coisa que melhore essa maldita dor.
- Certo. – ela murmurou, comendo um pedaço de bolo.
Apesar de tudo, Rony não pareceu nada convencido.

***


- Como estão suas costas? – Rony perguntou, sentando-se ao lado de Hermione na sala dos monitores.
- Bem melhor. – ela disse, com cara de alívio. – E Harry?
- Foi pegar alguma coisa no quarto. Livro de Herbologia... Vamos a estufa sete depois desse tempo livre.
- Legal! Como vão as coisas com Sam?
- Bem, muito bem... No último final de semana...
Rony e Hermione passaram alguns bons minutos falando do relacionamento dele. A garota acabou sem ar de tanto rir com as narrações desengonçadas do ruivo.
- Mas Sam acha que...
- Não pode! – ouviu-se uma voz aterrorizante gritar do lado de fora da porta.
- Que é isso?- Rony perguntou, olhando para porta.
- Já disse, sem senha não entra!
- É a armadura que permite nossa entrada aqui. – disse Hermione, se levantado. – Tem alguém querendo entrar na sala sem senha.
- Será...
- MALDIÇÃO! – berrou uma voz irada.
- Harry! – Hermione se sobressaltou e voou para porta, abrindo-a.
- Graças a Deus! – ele gritou, em alívio, abraçando Hermione, quase sufocando-a.
- Harry, Harry... Calma. – ela disse, tentando se desvencilhar dos braços dele.
- O que houve, cara? – Rony perguntou, preocupado, vendo Harry anormalmente pálido agarrar Hermione como se tivesse medo que alguma coisa tivesse lhe acontecido.
- Fomos convocados como reforço... – ele começou a falar muito rápido, soltando Hermione, enterrando as mãos nos cabelos.
- Respire, Harry... – Hermione foi puxando-o com cautela para dentro da sala e o sentou no confortável sofá.
Rony se sentou a lado do amigo, começando a ficar meio pálido também.
- Explique agora, com calma, o que está havendo.
- Ataque num vilarejo a alguns quilômetros daqui, muitos Comensais, muita gente inocente morrendo, nos convocaram como reforço...
- Nós? – ela indagou, com dúvida.
- Nós três? – Rony perguntou, nervoso.
- Sim. Precisam muito.
- Quanto tempo faz que começou...?
- Duas horas, eu acho. Estúrgio foi trazido por Lupin há poucos minutos... Está mutilado. – ele disse, fazendo careta. – Precisamos ir. Matthew e Minerva estão nos esperando.
- Quem mais?
- Não sei... Talvez Gina, Luna e Neville que são bons também...
- Então vamos... – Hermione disse, se levantando. – Vamos nos juntar a eles, estão nos esperando no escritório de Minerva, presumo...
- Sim... – Harry murmurou, ainda passado, meio abobalhado.
- Vou avisar a Sam... Encontro vocês no escritório. – Rony disse, e saiu correndo.
- Vamos Harry. – Hermione ofereceu as mãos para ajudá-lo a se levantar.
- Não, Hermione. – ele disse, levantando-se num pulo, num arroubo de lucidez. – Você não pode ir, Hermione, por favor.
- Não vou discutir isso com você agora.
- Hermione...
- Harry. – ela disse, pegando o rosto dele nas mãos, fazendo-o encará-la. – Eu adoro você, adoro essa sua proteção exagerada, adoro tudo que você faz por mim. Mas eu entrei nessa com você há seis anos, é tarde demais para me pedir pra sair.
Ele assentiu, sentindo pânico tomar-lhe conta.
- Eu...
- Tudo bem. – ela disse, sorrindo levemente. – Vamos agora.
- Hermione. – ele chamou, fazendo-a voltar-se pra si. – Eu...
- Granger? Potter? – a voz de Parker ecoou com desdém. – Granger, você sabe muito bem que não pode trazer ninguém para dentro dessa sala, que não seja monitor também e...
- Eu sei muito bem as regras, Parker. Sei melhor ainda das minhas obrigações. Pode ter certeza que não é você que vai me lembrar delas. – ela disse, brava, puxando Harry pela mão, até a porta, onde parou e encarou Parker com desprezo. – Agora, se permite, querido, vou arriscar minha vida num lugar que não faço idéia de onde seja para salvar a vida de pessoas medíocres como você.
Ele pareceu se retorcer de nervoso, vendo Hermione sair pisando duro da sala, ainda teve que se deparar com um sorriso triunfal de Harry, olhando pra si.


- Little Hangdise. – disse Minerva, para Harry, quando este lhe questionou para onde estavam indo. – Eu realmente não queria chegar ao extremo de chamá-los... Foi o combinado que não participassem ativamente, mas o caso é realmente grave e...
- Mãe, por favor. – disse Matt, olhando-a com carinho, com um doce sorriso na boca bonita. – Vamos matar aqueles idiotas, voltar pra cá e tudo ficará bem.
As sobrancelhas dela formaram uma única linha rígida.
- Não brinque com coisas sérias, Matt! – ela ralhou. – Vamos aparatar juntos, estejam apostos assim que tocarem o chão daquele lugar.
Todos assentiram: Harry, Rony, Hermione e Matt.
- Somos só nós? – Rony perguntou, nervoso.
- Sim. – a mulher respondeu. – Não quero envolver mais ninguém nisso.
- Vamos. – disse Matt, tomando a frente.
Saíram do castelo e tomaram os jardins bem cuidados que os levaram até os portões da propriedade. Aparataram assim que se encontraram fora dos terrenos da escola.
Hermione sentiu frio. Lamentou não ter tido tempo de se vestir melhor. Estava com o uniforme da escola, assim como Rony e Harry.
Seus pés pisaram no chão e foram os segundos que ela levou para se equilibrar, um jato de luz vermelha passou rente ao topo de sua cabeça.
Sem sequer pensar, eles foram se afastando uns dos outros, com varinhas em riste, escolhendo alvos, lançando feitiços, escapando de maldições.
Em poucos minutos estavam tão submersos na batalha que sequer notaram que havia vários corpos largados no chão.
Trouxas.
Era um pequeno vilarejo trouxa, quase colonial, se observasse as construções, tudo tão aconchegante, a rua sem asfalto, de terra batida, levantava poeira que lhes cegava os olhos devido aos passos frenéticos daquelas várias pessoas.
Harry se escondeu atrás e um tronco de árvore com um movimento rápido, quando o feitiço a atingiu, um galho tombou retumbando no chão. Ele expirou com dificuldade sentindo o suor escorrer de suas têmporas, viu a sua frente o corpo de uma garotinha de não mais que cinco anos. Olhos abertos, vidrados, sem vida.
Como podiam ser capazes disso?
Como podiam ser capazes de tamanha atrocidade?
Que perigo aquela garotinha poderia representar?
Uma raiva descomunal tomou conta de cada fibra de seu corpo, ele saiu de trás da árvore e lançou um “Crucio” no primeiro Comensal que viu. Ele caiu no chão se retorcendo de dor, dentro de Harry alguma coisa também doía... A imagem da garotinha cravara em sua mente e não saía.
Por quê?
Os minutos foram se estendendo sangrentos, cheios de raiva, gritos de dor, de exultação, de alívio...
De repente, uma chuva fina começou a cair sobre eles, a poeira foi sumindo e à medida que a violência da chuva ia aumentando, mais lama ia se formando no chão.
Um cenário horrível ia sendo descoberto...
Pessoas mortas no chão, outras rolando de dor por causa da tortura, outras mutiladas, agonizando.
Era desesperador, havia sangue, muito sangue... Que era pisoteado sem nenhuma cerimônia pelos que ainda lutavam por sobrevivência.
Harry olhou em volta depois de amarrar um Comensal que Lupin, depois, matou. Rony duelava arduamente com uma Comensal que parecia concentrada. Pôde notar a testa franzida, sinal de esforço do ruivo.
Que será que lhe passava pela cabeça? O que lhe trazia toda aquela força de vontade? O desejo de voltar vivo para Samantha?
E ele, Harry? Desejava voltar vivo para quem? Não tinha ninguém.
Num reflexo inexplicável ele apontou a varinha por cima do ombro e com um feitiço certeiro derrubou um comensal que queria atingi-lo pelas costas.
Não via Hermione em lugar nenhum...
Será que ela estava caída no meio daqueles mortos...?
Um arrepio lhe correu o corpo com uma frieza sobrenatural.
Não, ela era esperta o suficiente para sobreviver a essa e todas as outras batalhas que viessem.
- RONY! – ele gritou, ao ver um comensal que havia sido estupefato, levantar e apontar a varinha para o ruivo, que continuou concentrado demais para ouvir o aviso. Harry mirou com pressa, lançou um feitiço no mesmo instante que o Comensal fazia o mesmo.
O homem caiu, o raio de luz verde lançada ao ruivo ruiu-se no meio do caminho ao alvo.
Harry respirou aliviado. Rony derrubou a Comensal e sorriu para Harry.
Voltando ao duelo, as horas se arrastaram...
Seus ossos doíam, seu corpo todo tinha pequenos cortes, havia poucos de pé, mas os que permaneciam continuavam firmes e fortes. A chuva cada vez mais forte os sacudia e lavava a alma, misturava-se ao sangue que banhava o chão que outrora fora terra, atenuava o cheiro, levava o suor embora.
Mais um que Harry derrubara, perdera as contas de quantas vezes o fizera, olhou em volta procurando outro alvo, havia uns sete Comensais ainda, dois ou três lutando contra mais de um membro da Ordem, o que significava vantagem, disse Harry a si mesmo, conseguindo sorrir. Estava acabando...
Avistou Hermione ao longe, duelando com bravura contra um Comensal alto, que ria e falava numa voz igualmente alta e gutural. Um floreio bruto com a varinha e Hermione gritou alto, caindo de joelhos.
Harry ficou horrorizado e antes que pudesse fazer qualquer coisa, um feixe verde de luz verde cortou o ar e atingiu em cheio o peito do Comensal que a machucara. O rapaz olhou de onde veio e viu Matt com um ódio descomunal no olhar.
Seus olhares se cruzaram por um instante, um único e intenso instante onde dois pares de olhos verdes se entenderam em silêncio.


Ela sangrava de forma inacreditável, as vestes já estavam tingidas de sangue que se misturava com a chuva fria que insistia em banhar aquela batalha infindável... Os olhos fechados indicando o fim das forças, sinal de entrega. Seu corpo desmoronou na lama fria.
Sem pensar, Harry largou tudo para trás, venceu a distância que os separava e ajoelhou-se ao lado dela.
- Não... – sussurrou sem querer acreditar no que via; sentindo uma coisa rasgá-lo por dentro, como se fossem unhas felinas que o arranhassem internamente, causando uma porção de pequenas e dolorosas feridas.
Olhou-a, o corpo inerte jogado naquele chão frio e molhado. Corpo que outrora o acolhera e o aquecera de forma tão peculiar... O corpo daquela que o livrara de seus medos, suas mágoas.
- Vamos sair daqui... – ele murmurou, colocando-a nos braços, sentindo aquele corpo pesando sobre si. – Vamos, acorde...
Ele saiu em passos tão rápidos quanto a situação permitia. Estava todo molhado, sentindo todo seu corpo doer, pele ferida, músculos contraídos, ossos fraturados; mas sentia-se anestesiado, ou talvez, a dor em vê-la em tal estado superava a dor física.
Seus pés o guiaram sem ele ao menos pensar, tudo que via era ela sangrar, precisava salvá-la, fazer alguma coisa...
A chuva caía sem trégua, as gotas caíam e tocavam a pele fazendo arder, ele até poderia gemer de dor se ainda conseguisse senti-la em um só ponto, afinal, tudo doía, de uma ponta a outra, por dentro e por fora.
Saiu da rua principal onde a batalha se matinha como se nada mais no mundo importasse, entrou num beco onde o chão também era feito de terra, que no momento era pura lama devido a chuva torrencial que os açoitava.
O corpo aparentemente sem vida da garota agitava-se miseramente com os passos rápidos do rapaz, por aquele beco frio, sujo e escuro... A noite não tinha estrelas, nem lua, apenas um pequeno candeeiro que fornecia uma luz nefanda, quase inexistente.
Parou de repente, por instinto, uma pequena porta direcionada para o chão se encontrava a sua direita. Um alçapão, parecia... Pertencia a uma casa que estava visivelmente desocupada, com suas vidraças quebradas e paredes descascadas.
Acenou sua varinha desajeitadamente, visto que seus braços estavam segurando-a, a porta se abriu. Havia uma escada descendo e tudo estava muito escuro.
Ele ponderou, fitou a mulher em seus braços.
Não só ela, mas suas roupas agora também se tingiam com o sangue da garota. Sem mais pensar, desceu os primeiros degraus “Lumus!”, e um feixe de luz fina iluminou a escada, com um novo aceno ele fechou a porta e lançou vários feitiços de proteção. Logo que terminou de galgar as escadas alguns pensamentos lhe ocorreu assim que reparou no lugar “Um celeiro subterrâneo?”, ele se perguntou, vendo a grande quantidade de feno que havia amontoado por quase todo o ambiente.
“Melhor que deitar no chão...”, ele pensou, apressando-se em deitá-la num montante em um canto. Olhou em volta com certo desespero, encontrou um lampião tombado no chão, pegou-o e acendeu, dando uma iluminação precária ao lugar.
- Hermione... – ele sussurrou, olhando-a com certo pavor. Ela continuava sangrando tingindo a camisa branca de vermelho, ambos estavam encharcados... Vê-la em tal estado o desesperava. – Meu anjo...
- Harry... – ela murmurou num fio tênue de voz.
- Estou aqui, vai ficar tudo bem... – ele disse, desabotoando a camisa dela com cuidado, sentindo seu queixo bater de frio, ao mesmo tempo em que sentia seu sangue correr quente nas veias. Uma adrenalina incomensurável, medo, tensão... Ela estava morrendo, mas preferia evitar a idéia.
O corte se fez visível na pele anormalmente branca, Harry quis gritar de horror quando viu. Ia desde o ombro direito até o vale dos seios dela, aberto de maneira grosseira, e extremamente fundo.
- Estou com frio... – ela disse, com os olhos ainda fechados.
“Está delirando... Vai piorar... A chuva, febre, o corte...”, o cérebro dele trabalhava tão violentamente que podia-se ouvir o barulho. Como faria pra estancar aquela sangria incessante?
Fora causado por um feitiço forte, não seria qualquer coisa que o fecharia.
Hermione provavelmente saberia...
De que adiantava?
Ela estava ali, sangrando com um corte enorme, delirando e tremendo de frio.
Ele a levantou para tirar a camisa e a ouviu gemer de dor.
- Ai... – ela berrou. Sentiu uma dor mortal, não sabia onde estava e nada em sua cabeça funcionava direito, era como um limbo. – Harry...
O rapaz viu lágrimas escorrerem no rosto dela, sentiu-se o pior dos homens, tão impotente, vendo-a chorar de dor e sem conseguir pensar em nada que pudesse salvá-la.
- Vai ficar tudo bem, Hermione. Eu prometo. – ele murmurou, jogando a camisa dela no chão.
Ela abriu os olhos precariamente.
- Harry... – ele segurou com força as mãos dela. – Me ajuda... – ela sibilou, numa súplica desesperada. Ele tirou a capa, jogando-a de lado e tirou a própria camisa. Rasgou-a e colocou um dos pedaços numa bacia que conjurou com água fria.
Pôs na testa da garota, que expirou começando a tremer.
- Frio... – ela disse, sem pensar.
- É para não dar febre, Mione. – ele disse, passando outro pedaço da camisa pela ferida. Ela berrou, com a voz falha.
- Frio... Harry... – ela tornou a abrir os olhos de forma ineficiente. – Feche a ferida, Harry. – ela disse, num sopro de força. – Feche-a, você sabe o que fazer.
- Eu não sei... Não me lembro... Preciso de você Hermione, preciso que me diga, preciso...
- Tenho fé em você, Harry. – ela murmurou tentando lhe oferecer um sorriso, que foi frustrado por mais um gemido quando Harry tornou-a limpar o corte.
- É fundo demais.
- Se não fechar... – ela sussurrou, já sem condições de continuar. – Vai infeccionar e...
Ela não terminou, voltou a fechar os olhos e desmaiou.
- Hermione... Não... Hermione... – ele se desesperou de fato. – Você prometeu que não me deixaria... Você prometeu... Não...
Sua respiração estava descompassada, seus pensamentos se atropelavam, precisava dela, precisava salvá-la...
Ele tornou a limpar a ferida enquanto varria seu cérebro em busca de alguma informação, feitiço que tivesse aprendido, qualquer coisa.
Voltou a molhar o pano e colocou na testa dela.
Era simplesmente inexplicável o desespero que sentia naquele momento. Seu cérebro parecia trabalhar tão depressa que tudo se embaralhava em sua cabeça. Não lembrava feitiços, poções, nomes... Nem mesmo o que estava acontecendo lá fora. Tudo que ele via, ouvia e sentia era Hermione, ali a sua frente, sangrando como se tivesse uma hemorragia, sem saber o que fazer, sem ter como ajudar.
- Hermione... – ele murmurou, passando a camisa pelo torço dela tentando tirar o sangue que se acumulava ali. – Por favor, meu anjo...
Não parava de sangrar, parecia uma fonte.
Ela já perdera muito sangue. Mais alguns minutos e não sobreviveria para contar história.
- Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem... – ele dizia a si mesmo, tentando se convencer.
Hesitante, seus dedos frios tocaram a ferida dela, o sangue quente escorrendo pelo corte.
- Malfoy... – ele se pegou dizendo. – Feri Malfoy da mesma forma ano passado... Snape...
A mente dele se contorcia, lembranças, pequenos flashes.
- Você me contou qual era o feitiço que cicatrizava... – ele disse a Hermione, que permanecia desacordada. – Quando te contei, você me explicou... Por que não consigo lembrar!?
Ele jogou a bacia de água contra a parede, revoltado.
Era o único ali que podia salvá-la, porque simplesmente não se lembrava de nada?
Começou a sentir medo.
Muito medo.
Não podia perdê-la.
- Hermione! – ele chamou, em voz alta. – HERMIONE!!!
Ele segurou o rosto dela entre as mãos, sem nem perceber que ele mesmo chorava em desespero.
- É VOCÊ QUEM SEMPRE RESOLVE AS COISAS! É VOCÊ QUE SABE LIDAR COM ISSO! É VOCÊ QUEM ME SALVA! EU NÃO SEI FAZER ISSO! EU NÃO SEI VIVER SEM VOCÊ! EU NÃO SEI... Eu não sei... Eu amo você. – ele colou sua testa na dela. – Volta pra mim...
Uma labareda de fogo se materializou em algum lugar. Ouviu-se um canto baixo e triste.
Harry virou o rosto e viu a imagem que acalentou seu coração desesperado naquele momento.
- Fawkes...
A fênix maneou a pequena cabeça, pousando levemente num dos braços de Hermione. Algumas lágrimas cristalinas se derramaram sobre o corte que parecia incurável.
Como um milagre, ele foi se fechando lentamente.
Harry não acreditou no que via, ficou paralisado.
- Obrigado... – murmurou. – Muito obrigado.
A bela e estonteante ave tornou a manear a cabeça e levantou vôo, sumindo novamente, da mesma forma que aparecera, numa chama que surgiu e desapareceu no mesmo instante.
O rapaz olhou para garota, que parecia dormir serenamente.
Sorriu, ainda sentindo as lágrimas correrem silenciosamente pelo seu rosto.
- Está tudo bem agora... – sussurrou, deitando a cabeça no ombro são dela. – Está tudo bem.


***

N/a: Uouuuu, emoções fortíssimas, não???

Hauhsuahsuahushaushaushuahsuas

Quero muitos comentários...
Falando em comentários, gente, VOCÊ SÃO OS MELHORES LEITORES DO MUNDO!!!
Nem JK tem leitores tão bons quanto os meus.
Tenho certeza disso.

Cada comentários mais lindo que o outro... Os sumidos apareceram [com exceção do Alarico que continua sumido] e arrasaram em suas respectivas voltas.

Lindos, lindos, lindos!

Vocês são a melhor coisa da minha vida.
Não tenho palavras para agradecer e dizer o quão significante é pra mim todo esse carinho interminável e cada vez maior que vocês tem comigo e com a fic.

Beijos enormes e abraços de urso para cada um de vocês.

Amo demais.
Demais.
Demais.
Demais.

Até a próxima...


Paulinha.

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