Na Biblioteca...



Harry estava sentado na confortável poltrona de frente para a lareira do quarto de Hermione, esperando ela realmente tomar um banho.
Só então Harry dera-se conta do quão grande era o quarto da amiga, e quanta sorte ela tinha por ter se tornado Monitora-Chefe.
Entrando no quarto, da porta, via-se uma cama de casal confortável a esquerda, ladeada por criados mudos e nos pés um baú enorme, e ainda, oposta a porta de entrada, a porta do banheiro. Na mesma parede da porta do quarto, um enorme guarda roupa ocupava grande espaço. Em frente o baú, tinha um grande tapete no chão, e no meio dele, duas poltronas de frente para a lareira. Próximo a esta, uma penteadeira e ainda, na parede, junto a porta do banheiro, uma escrivaninha espaçosa e bem polida, e o cesto de Bichento, que não aparecera ali até o momento. O quarto era gigante!
Muito grande.
Muito mesmo.
Era possível viver ali dentro, sem precisar sair.
Ele riu, imaginando que com tudo aquilo ali, era realmente deprimente ter que dormir no chão por uma noite.
- Rindo de que? – ela perguntou, ao sair do banheiro enrolada numa toalha, com os cabelos ainda presos no mesmo coque de antes, atravessando o quarto até o guarda roupas.
- Seu quarto é muito... Grande. – ele disse, meio pasmo.
- Eu acho ótimo. Tenho tudo que preciso aqui.
- É... Da pra perceber. – ele disse, lançando um olhar a uma organizada pilha de livros no chão, ao lado da escrivaninha.
- Harry, hum... Que desculpa vai usar pra justificar seu sumiço?
- Ah, não sei... Sair para tomar um ar... Andar pra pensar nos problemas... Afinal, esses não me faltam!
- É uma boa alternativa, mas...
- Mas...?
- Gina. Não consigo esquecer o fato dela desconfiar que você passou a noite comigo. – ela disse, séria, após apanhar uma roupa.
- Passar a noite com você... Uau, isso soa tão... – ele disse, fazendo graça para deixá-la irritada, e conseguiu. Hermione veio na direção dele com a varinha em riste.
- Termine a frase e você se arrependerá...
- O que vai fazer...? Me lançar mais um feitiço do Príncipe? – ele provocou.
- O que? – ela questionou, horrorizada.
- Pra quem abominava o livro e tudo que dizia respeito a ele, você executou o Levicorpus com exímia perfeição.
Ela o fitou, desarmada.
- Quando...?
- Quando me pendurou de cabeça pra baixo, naquela noite que nós cabulam...
- Cale a boca! – ela sussurrou, interrompendo-o, zangada. – Foi a única coisa que me passou pela cabeça no momento.
- Isso quer dizer que se tivesse passado pela sua cabeça um Avada Kedavra você teria me matado? – ele indagou, se divertindo horrores ao ver cara espantada e horrorizada que ela lhe dispensava.
- Era o que devia ter feito. – ela sibilou, baixando a varinha, dando-lhe as costas a caminho do banheiro, mais uma vez.
- Fala como se tivesse coragem. – ele falou, rindo.
- O.k.. – ela disse, minutos depois, dando-se por vencida, saindo mais uma vez do banheiro, vestida e com os cabelos soltos. – Sabe que nem na pior das circunstâncias eu te mataria, não é?
- Sei. – ele falou todo presunçoso. – Em hipótese alguma.
- Devia saber que sabe. Modesto como é. – ela disse, sentado-se no braço da poltrona dele.
- Acho que é hora de ir. – ele disse, erguendo a cabeça para olhá-la.
- Ãh... Acho que sua modéstia me impede de dizer tudo que eu realmente quero dizer... Afinal, você já sabe, não é mesmo? – ela falou, sorrindo pra ele.
- Há coisas que eu realmente não sei. – ele disse, fingindo seriedade.
- Então queria que soubesse que sou eternamente grata pelo que fez por mim essa noite, pelo belíssimo presente que me deu e pela companhia maravilhosa. – ela falou, baixinho, ainda sorrindo enquanto o fitava.
- Bom... Disso eu já sabia. – ele comentou, sério, fazendo-a rir. Depois sorriu também. – Sabe que não há o que agradecer, afinal, amigos são pra essas coisas.
- Hãhã... – ela murmurou, balançando a cabeça negativamente, colando sua testa na dele. - Você é pra essas coisas.
Harry sorriu, acariciando o rosto dela, porém um barulho frenético de batidas os fez olhar para janela.
- Edwiges? – Harry falou, levando-se e indo até a janela. A coruja trazia um pequeno pedaço de pergaminho, com poucas palavras:

Onde você está? Estou preocupado.
Rony.


- Pobre Rony, deve ter tomado um susto quando acordou e não me viu lá... A gente sempre disputa quem dorme mais de domingo. – ele riu, virando-se para a amiga, enquanto Edwiges levantava vôo mais uma vez. – Deve ter achado que eu fui atrás das Horcruxes sem ele.
- Não ria dele, Harry, é natural estar preocupado... A forma como estão acontecendo as coisas e depois do desentendimento de vocês, nada mais normal que ele ser um pouco mais atencioso, não? Está querendo reconquistar a confiança de antes.
- Eu sei... Imagino... – ele murmurou, amassando o pergaminho e enfiando-o no bolso. – Vou dizer que fui voar um pouco no campo de Quadribol.
- De pijama? – Hermione observou, rindo.
- Hãm... Não me troquei para não fazer barulho... Afinal saí muito cedo e é domingo! – ele respondeu, astutamente, pegando sua vassoura debaixo da cama.
- Certo, certo... Então ainda não nos vimos hoje! – ela falou, caminhando até ele.
- E nem nos veremos... Você não pode descer, repouso absoluto. – ele falou, ligeiramente preocupado com riso que se formou nos lábios dela.
- Passar a noite toda com você me fez mal... Uma súbita vontade de quebrar regras. – ela disse, risonha – Encontro você no Salão Comunal, traga algo pra eu comer... Estou faminta.
Ele a olhou bestificado. Mas não agüentou e sorriu. Não poderia chamar atenção dela e brigar para zelar de sua saúde com ela o olhando daquele jeito, com aqueles olhos.
- O.k.. – ele respondeu, simplesmente, arrancando um sorriso ainda maior dela, que pensava receber uma represaria. – Mandei entregar seu presente, tá? É um... Diário.
- Eu jamais usaria um diário.
- Eu também jamais usei aquela agenda de deveres... – ele disse, sorrindo com o olhar zangado que ela lhe lançou. – Meu anjo, é apenas o troco.
- Sei... – ela disse, meio aborrecida.
Harry sorriu ainda mais e lhe deu um beijo na testa.
- Até mais...
- Até. – ela disse, puxando-o para um abraço apertado. – Muito obrigada por tudo... Eu nem sei...
- Está tudo bem, não se preocupe. – ele disse, afagando os cabelos dela. – Faço qualquer coisa por você, sabe disso...
Ela assentiu, se separando dele.
Com um longo suspiro, ela o viu deixar seu quarto, através da janela. Passou pelo espelho, olhou para sua imagem ali refletida, guardou seu delicado colar dentro das vestes e desceu para o Salão Comunal.

***


Na semana seguinte fora afixado nos murais da Escola a data da primeira ida ao povoado de Hogsmeade.
- Bom... Não foi somente a data que eles comunicaram, não? – comentou Rony, logo depois de olhar o pergaminho de meio metro onde estava todas as regras e informações sobre o passeio que estaria com a segurança mais que reforçada.
- Eles não querem que, por acaso, trombemos com um Comensal enquanto compramos penas novas. – disse Hermione, com sarcasmo e impaciência, já tendo decorado tudo que constava no pergaminho.
- Mas precisa de meio metro de tinta pra dizer só isso: Não queremos que os alunos trombem com um Comensal? - retorquiu Ron, incrédulo.
Hermione bufou e rolou os olhos, Harry riu.
Haviam acabado de sair da biblioteca, onde Harry e Hermione colocaram todos os deveres em dia e Ron... Bom... Ron preferia dar umas voltinhas pela escola enquanto os outros dois estudavam.
- Ele está aprontado alguma coisa. Tenho certeza. Posso sentir. – declarava Hermione, toda vez que ele se levantava e dizia que ia ao banheiro, o que vinha acontecendo com uma freqüência sobrenatural.
- Às vezes é só o intestino... – Harry começou rindo.
- Harry! – ela interrompeu, horrorizada. – Faz muito tempo que ele está assim, misterioso! – ela o olhou de esguelha, que ainda ria. Se aproximou mais do garoto a abaixou a voz para um sussurro. – Se fosse... Realmente o... Hum... Intestino, já era pra ele estar desidratado.
Harry abafou uma gargalhada com sacrifício, Madame Pince passava pela mesa deles no momento. Ultimamente o rapaz vinha se dedicando arduamente aos estudos e gastava horas na biblioteca com Hermione pesquisando sobre todo e qualquer objeto que poderia ter pertencido aos fundadores de Hogwarts, concentrando-se, especialmente, em algo que poderia ter sido de Ravenclaw. Harry sugeriu também que procurassem alguma outra coisa que poderia ter pertencido a Gryffindor, mas depois de procurar muito chegaram à conclusão que a única coisa que sobrara era a espada que estava a salvo na sala da Diretora.
Essas horas incontáveis que os dois gastavam na biblioteca rendiam a Harry comentário como: “Estou orgulhosa de você, Harry!”, “Realmente está se esforçando!”, todos ditos por Hermione que continuava trabalhando na tradução do livro de Runas e ainda alegava quando Harry reclamava: “Você também tem se esforçado, Harry! Eu faço minha parte e você a sua, e nosso esforço não será em vão, tenho certeza.”.
E somente assim, com a ajuda e principalmente o apoio incondicional da garota, Harry estava agüentando conciliar tudo: deveres (aos montes, e extremamente difíceis, nos quais Hermione era essencial), quadribol, pesquisas sobre as Horcruxes, sobre R.A.B., sobre lugares onde, supostamente, Voldemort teria passando durante seu exílio e milhares de outros detalhes que a dupla foi juntando enquanto faziam suas ‘reuniões’ no ‘Império de Madame Pince’ que não parecia muito contente com a presença constante deles ali. E pra piorar a situação da bibliotecária, e deixá-la com os nervos a ‘flor-da-pele’, Hermione, como monitora-chefe tinha acesso total a Sessão Reservada, o que rendia várias rondas da mulher em volta da mesa dos dois, tentando descobrir o nome dos livros que estava usando e os anotando, pra ter certeza que se sumisse, não teria trabalho em procurar os culpados.
Eles não perdiam um minuto sequer, só deixavam o lugar quando Madame Pince os expulsava, pois já era hora de fechar. Os dois voltavam correndo pro Salão Comunal pra terminar as tarefas, ainda contavam a Rony todos avanços que tinham feito durante o dia. O ruivo prestava atenção, e tentava ajudar, mas o fato de estar alheio durante muito tempo rendia a Hermione altas doses de impaciência pra explica tudo que tinham conseguido.
Harry havia marcado um treino para sexta, depois do jantar. Totalmente exaustivo, porém, o time estava ótimo, como sempre, só que um pouco enferrujado por causa das férias, questão de pouco tempo pra voltar ao que era antes. A prioridade agora era entrosar Lara, a nova artilheira, ao grupo e as jogadas. Era quase onze da noite quando Harry deixou o vestiário, depois de guardar todo o equipamento, tendo em mente que sua noite apenas começara.

- Como foi o treino? – Hermione perguntou assim que ele entrara no Salão Comunal com sua vassoura no ombro.
- Ótimo, não posso reclamar, só mais um pouco de tempo e a equipe estará perfeitamente entrosada. – ele disse, lhe dispensando um beijo rápido na testa e indo em direção ao dormitório. – Me espere aqui, já volto.
Quase meia hora depois, o salão já tinha se esvaziado, todos foram se deitar mais cedo com a perspectiva de levantar cedo no dia seguinte para aproveitar ao máximo a tão merecida visita a Hogsmeade.
Hermione estava deitada no sofá em frente à lareira, lendo tranquilamente um livro da Sessão Reservada que lhe rendera uma grade dose de autocontrole até conseguir convencer a bibliotecária a deixar tirá-lo de lá. Enquanto acariciava Bichento, mantendo os olhos do gato longe das folhas do livro.
- Desculpe a demora, realmente precisava de um banho. – Harry falou, parando de frente pra ela com sua costumeira calça de moletom de dormir e um casaco quente, e ainda mais a Capa da Invisibilidade no braço e o Mapa do Maroto na mão.
- O que pretende? – ela disse estreitando o olhar pra ele, sobre o livro.
- Biblioteca! – ela respondeu, lhe estendendo a mão pra ajudá-la a levantar.
- Harry! Isso... Não devemos...
- Não combinamos que não iríamos amanha a Hogsmeade para adiantarmos nosso trabalho? – ela assentiu. – Então poderemos dormir até mais tarde, sem ninguém nos incomodar, todos vão sair cedo.
- Ãh... Não sei Harry...
- Hermione, por favor, me diz uma única vez que eu cheguei numa sexta à noite com todos os deveres da semana já prontos, hein? Quando foi que eu preferi passar cada minuto livre dentro da biblioteca do que ir visitar o Hagrid ou inventar outra coisa menos tediante pra fazer? Quando foi que eu, filho de Tiago Potter, usou essa Capa pra fazer uma coisa certa, como ir a biblioteca de madrugada, pra adiantar trabalho? Hermione!
Ela o fitou, ele continuava com a mão estendida, tinha um ar cansado, talvez ele estivesse se segurando com todas as forças pra não se juntar a ela deitada no sofá. Ele estava fazendo um sacrifício imenso, fazendo coisas que ela nunca imaginara que ele faria um dia. Entrar na biblioteca pra estudar quando já era quase meia noite, numa sexta feira, depois de um treino de quadribol longo e cansativo?
- Até que horas vou poder dormir amanha? – ela perguntou.
- Nove? - Ela fez uma careta. - Tá, tá... Dez... Ãh... E meia, ta bom?
- O.k.! – ela disse aceitando, finalmente, a mão dele.
Os dois pegaram suas mochilas e um lampião apagado, se esconderam sob a Capa, com um pouco de dificuldade, afinal, eram adultos, Harry estava extremamente alto e escondê-los já não era mais uma tarefa tão fácil.
Saíram pelos corredores, esgueirando-se sorrateiramente pelas passagens e atalhos, verificando no Mapa o paradeiro de Filch e Madame Nora.
Chegaram a porta da biblioteca e com um simples feitiço Hermione a destrancou, entraram no lugar que estava totalmente escuro e foram até a mesa que costumavam se sentar, a mais no fundo, distante de todo mundo, na porta da Sessão Reservada onde quase ninguém ia, portanto era o lugar perfeito para eles discutirem sobre as Horcruxes sem ninguém descobrir.
- Certo! Isso é loucura, totalmente. – Hermione resmungou, assim que saiu de sob a Capa e colocou a mochila cuidadosamente sobre a mesa.
- Pode fazer barulho. – Harry falou, acendendo o lampião com um agito da varinha. – Lancei um bom e velho Abaffiato na porta, não se preocupe.
Hermione até tentou ficar séria, mas não conseguiu. Riu abertamente olhando pra ele.
- O que foi? – ele indagou, mesmo sem saber o motivo, rindo com ela.
- Você, aqui, a essa hora! Parece miragem, ilusão, ou seja lá que nome que dão...
Ele se sentou ao lado dela, ainda rindo, e começou a espalhar os livros pela mesa.


Uma hora depois a mesa sumira sob pergaminhos e mais pergaminhos com anotações corridas, penas, tinteiros, e uma quantidade imensa de livros abertos.
- Feitiços, Harry? – ela gritou entre um dos corredores de prateleiras e mais prateleiras de livros.
- Sim... – ele respondeu, alto, distraidamente. – Acha que consegue achar aquele Poções Muy Potentes?
- Ah, claro, só um minuto. – ela ficou em silencio, provavelmente andando entre as prateleiras da Sessão Reservada, a qual ela já conhecia como a palma da mão.
- Que monte de pergaminhos são esses caindo da sua mochila? – ele perguntou, enquanto ela procurava os livros.
- Ah! São os relatórios da Monitoria do mês. Ser Monitor-Chefe tem lá seus momentos desagradáveis. Tenho que fazer um relatório completo por mês e depois, numa reunião com o meu colega, o outro Monitor-Chefe, que também deve ter feito seus relatórios, nós redigimos um definitivo para entregar a direção da Escola.
- Uau! Que coisa mais sem sentido! – ele motejou.
- Ah, Harry, não diga isso. É importante para a Diretora saber o que acontece nas salas vazias, nos corredores desertos e essas coisas...
- E ela não pode deduzir sozinha o que adolescentes fazem em corredores desertos? – Harry perguntou, com graça. Ouviu uma sonora risada vindo da Sessão Reservada.
- Nem todos possuem as mentes tão poluídas, Harry!
- Me fala, quantos casos de amassos têm nesse seu relatório? – ele alfinetou, rindo.
- Digamos que noventa por cento! – respondeu a outra, rindo com ele.
- Vou reforçar o feitiço na porta, volto em um segundo. – ele disse, depois de algum tempo. Foi até a porta da biblioteca, reforçou o feitiço do Príncipe, verificou se aporta estava trancada, como Madame Pince havia deixado, e voltou ao seu lugar.
- Aqui! – disse Hermione chegando a mesa junto com ele, colocando os dois livros sobre a montanha dos outros que já estavam na mesa. Harry reconheceu a capa do velho livro, Poções Muy Potentes, que transformara ele e Ron em Crabbe e Goyle no segundo ano, e Hermione em... Uma espécie de gato.
- Excelente! – ele exclamou, tomando seu lugar a mesa, com Hermione ao seu lado, que mergulhou mais uma vez na tradução das Runas, enquanto Harry folheava o livro em busca de alguma poção útil para o que ele estava procurando.
- O que quer, exatamente? – Hermione perguntou, longos minutos depois.
- Como você acha que se destrói Horcruxes?
Ela pausou, ponderando por alguns segundos.
- Acha que é com uma poção? – ela perguntou, sem responder a pergunta dele.
- Não sei, mas não custa tentar acha uma que possa servir.
- Sabe, Harry, andei pensando nisso e... Bem... Pode parecer meio sem noção mas, veja bem: a alma é o que nos dá vida, certo? Hum... Sem alma somos apenas um corpo inerte que não serve pra nada. A alma é nossa essência, é onde está nossa identidade e tudo que somos... Enfim alma é vida.
- Sim... – ele disse, a fitando com curiosidade, e sorrindo ao vê-la morder o lábio inferior antes de continuar.
- Bom, como se acaba com vida?
Ele a fitou, sério. Finalmente entendendo onde ela queria chegar.
- Você acha que... Uma Maldição da Morte...?
- É uma alternativa. – ela respondeu, voltando a atenção para a tradução.
- É uma excelente alternativa. Faz total sentido. – ele disse, animado.
- Ah, Harry, não se anime tanto não. Horcruxes têm muita magia das Trevas, coisa que nos não fazemos idéia. Pode não funcionar...
- Vai funcionar!
- Harry! Sem querer estragar sua alegria, mas... Os feitiços que devem proteger a Horcruxes devem ser tão fortes e antigos quanto o que sua mãe lhe deixou, que lhe impediu de morrer aquela noite... – ela disse, com cautela, voltando a fitá-lo.
- Mas minha mãe não estava com a alma partida em vários pedaços. Hermione! Por mais protegida que esteja, a alma dele está partida, e o próprio Dumbledore disse que quando uma alma é partida, quebrada, ela perde toda a pureza e todas as coisas boas que a tornam tão imaculada. Mione... Por mais proteção que tenha, ela ainda sim está partida e possui apenas um sétimo da força que teria uma alma totalmente intocada. O feitiço de proteção da minha mãe fez a Maldição voltar contra ele porque... Ela tinha a alma intocada e eu também... Voldemort tem a alma tão partida quanto se pode ter, por mais forte que seja a proteção, com certeza, uma boa dose de Maldições pode quebrar as barreiras que a protegem.
Ela o encarou, ele estava realmente animado com a nova perspectiva.
- Tem razão Harry, eu vejo sentido no que falou, pode funcionar, eu acho. – ela disse, sem poder evitar um sorriso com a euforia dele.

Horas depois, Hermione continuava trabalhando na tradução, sentada ao lado de Harry, com suas pernas sobre as dele, sob a mesa. Ele estava concentrado nos feitiços e poções que poderiam ajudar, fazia breves anotações num logo pergaminho, que já estava com uma lista enorme de coisas úteis.
- Ah, nem acredito! Falta tão pouco... – Hermione disse, sorrindo em meio a um bocejo preguiçoso.
- Quanto?
- Trezentas páginas, eu acho.
- Uau... Isso quer dizer que foram mais de mil e quinhentas em... Um mês?
- Sim! – ela respondeu orgulhosa.
- Merece um prêmio.
Ela abriu um sorriso largo e o encarou.
- Que prêmio?
- Que tal uma boa noite de sono? – ele sugeriu, bocejando, antes de cair na gargalhada vendo a cara de desapontada dela. – Que foi? Achou o que? Que te colocaria no ombro e sairia gritando por aí o quão inteligente você é? São quinze para as quatro da manha, Hermione!
- Não! Não! Não precisa de tudo isso... Só algo melhor que... Ir dormir.
- Quer ir nadar no lago? – ele sugeriu, sério.
- Pirou? Está um frio de matar lá fora.
- Então... O que você esperava?
- Nada... Na verdade esperava que você pensasse em alguma coisa legal pra me dar como prêmio.
- Mas não adianta um prêmio sem ter terminado, não é?
- Ah, Harry! – ela largou o livro sobre a mesa e se aninhou entre os braços de Harry.
- Quando terminar pensarei em algo legal... Que tal assaltar a Dedosdemel de madrugada?
Ela ergueu a cabeça e o encarou horrorizada.
- Nem pensar!
- É... Foi o que eu imaginei... Bom, terei tempo pra planejar alguma coisa!
Ele largou os livros e a apertou os braços envolta dela. Ficaram em silencio por um tempo, somente sentindo o cansaço que agora apoderava-se deles rapidamente. Hermione podia sentir a respiração lenta de Harry em suas costas, enquanto os braços dele repousavam em sua barriga.
- Acho melhor irmos, senão acabaremos dormindo aqui e Madame Pince não vai gostar nada, nada de nos encontrar aqui pela manha. – ela falou, sentindo Harry relaxado demais, sinal que ele estava quase dormindo, se já não o estivesse de fato.
- Ãh? Que? – ela sorriu, se afastou lentamente dele, ficando cara-a-cara com o rapaz.
- Será que vou ter que te carregar de volta?
- Hum... – ele sorriu desconcertado. – É, bom... Vamos então, antes que nós... Bem... Eu acabe não conseguindo levantar mais.
Hermione se desvencilhou dos braços dele e passou a apontar a varinha para a mesa, vendo livros se fecharem, pergaminhos se organizarem numa pilha, tinteiros e penas voarem pra dentro das respectivas mochilas, enquanto ela apanhava os livros para devolvê-los aos lugares certos.
Vários minutos depois, andando entre as prateleiras para devolver os exemplares para os lugares de onde saíram, pra não chamar atenção de bibliotecária em nada, e dupla verificou se estava tudo em ordem e sumiram debaixo da Capa.
Andaram lentamente até a Torre da Grifinória, a quando chegaram ao Salão Comunal, depois de Hermione tomar uma bronca da Mulher Gorda por causa do horário, eles se encararam longamente ao pé da escada.
- Obrigado... – Harry murmurou.
Hermione sorriu e o abraçou.
- Tudo bem... Mas vou dormir até as onze, ta? Ou melhor... São... Quatro e meia... Acho que até o meio dia é o suficiente!
Ele riu e ela lhe deu um beijo na bochecha, ficando na ponta dos pés.
- O.k.! Boa noite.
- ‘Noite. – ela respondeu e subiu a escada que dava acesso aos dormitórios femininos.
Harry a observou sumir de vista, depois subiu para o seu quarto e se jogou na cama, sem cerimônia.

***


Hermione entrou na sala, depois de um longo exercício de respiração parada à porta, era preciso toneladas de paciência para estar no lugar dela agora.
- Boa noite, Granger. – ele cumprimentou, com um leve sorriso. Somente sorriso... Sem deboche... Só um leve sorriso... “Ora, ora, ora, está querendo alguma coisa...”, ela pensou enquanto o analisava clinicamente com o olhar, colocando um grande volume de pergaminhos sobre a mesa.
- Boa noite, Parker. – ela respondeu, prática, remexendo em seus pergaminhos.
- Bom... Suponho que isso tudo aí sejam seus relatórios do mês.
- Sim, Parker. – ela respondeu, automaticamente, sem desviar o olhar dos pergaminhos.
- Me deixa envergonhado assim, Granger. – ele disse, tirando um único rolo de pergaminho amassado do bolso e colocando ao lado da pilha dela.
Hermione o fitou, e mais uma vez estava controlando arduamente sua respiração.
- Está brincando comigo, não? – ela disse, com um sorriso afetado.
- Não. Não estou. – ele respondeu sério, depois sorriu... Mas dessa vez, um sorriso maldoso. – Mas se quiser, podemos brincar de alguma coi...
- Ótimo Parker. – ela falou, alto, se sentando de frete pra ele. – Vamos acabar com isso de uma vez por todas.
Ele ergueu uma sobracelha.
- Como quiser, meu bem. – ele sussurrou.
- Não fale assim comigo. Não use esse tom. Não aja assim comigo. Eu não suporto se tratada dessa forma. Eu nunca te desrespeitei, porque você o faz comigo? – ela indagou, completamente contrariada.
Ele a encarou, meio surpreso.
- Oh, não, não... Nem precisa me responder. – ela falou, com um sarcasmo disfarçado inutilmente de firmeza, ao vê-lo abrir a boca para retrucar. - Gente como você não sabe o que é respeito.
Ele estreitou o olhar e se levantou apoiando as mãos na mesa. Hermione percebeu que ele estava realmente zangado.
- Não fale como se me conhecesse.
- O problema é que eu conheço gente do seu tipo. – ela retrucou, num tom firme e decidido, digno de Professora McGonagall
- Não, não conhece. Se conhecesse não me trataria dessa forma. – ele disse, baixo, fitando-a com intensidade. Era quase possível ver desespero nos olhos dele.
- Que forma? – ela indagou, curiosa, quase debochada.
- Como se eu fosse igual aos... – ele pausou e desviou o olhar dela e prosseguiu em voz muito baixa. – Aos outros da minha casa.
Ela soltou uma sonora gargalhada. Ele cerrou os punhos.
- E como vai negar que é como eles? Afinal, você está na Sonserina, não está?
- Estou, mas isso não quer dizer que eu... – ele voltou a fitá-la. Um sorriso cínico brincava nos lábios dela. Ele se enfureceu. – Eu não te devo satisfação.
Ele empurrou a cadeira que estava atrás de si, fazendo-a cair com um estrépito. Hermione não se moveu.
- Já sei qual é o seu problema. – ela disse, para as costas dele. O rapaz estava pegando sua mochila, pelo jeito, pretendia ir embora. Ela concluiu com uma voz sugestiva: – Não gosta de ser comparado ao Malfoy, não é?
Parker se virou de repente com a varinha em riste, apontando para Hermione. Ela se sobressaltou.
- Nunca mais me compare àquele verme, me entendeu? Nunca mais!
Parker passou por ela como um furacão, e alcançou a maçaneta, transtornado.
- Temos que concluir... Hum, começar a reunião. – Hermione falou, firme, mas na defensiva.
- Vamos adiar pra outro dia. – Ele falou, abrindo a porta sem encará-la.
- Já adiamos três vezes e os relatórios são para amanha. – ela falou, em tom de aviso, e se calou, esperando que a consciência dele – se é que ela existia- fizesse o que era certo.
Segundos depois ele girou os calcanhares e respirou fundo.
- Vamos acabar logo com isso. – ele disse, de má vontade, fechando a porta e indo se sentar de frente pra ela, levantando a cadeira que derrubara.

Era meia noite e meia quando Hermione se juntou a Parker, com as mochilas sobre os ombros, na saída da sala dos Monitores-Chefes. Não podiam reclamar, a sala era enorme, com sofás mais que confortáveis, mesa espaçosa e vários exemplares de livros que traziam as regras da escola, e pequenos feitiços para acabar com confusões causadas por estudantes, ou curar temporariamente algum ferimento até que chegassem a Ala Hospitalar do castelo.
O motivo do cansaço era ter passado horas – a reunião começara as oito- redigindo um relatório completo sobre a monitoria do mês: acidentes, detenções, avisos, broncas, confiscos, horário e mais um monte de outros detalhes. Hermione realmente tinha feito muito bem sua parte, porem seu companheiro não parecia muito disposto a lhe ajudar com seu único pergaminho, portanto passaram todo o tempo tentando fazer Parker lembrar dos principais acontecimentos.
O relatório tinha ficado satisfatório, do ponto de vista de Hermione, Parker estava nervoso demais pra lhe fazer piadinhas ou dizer besteiras, portanto foi mais fácil.
Se despediram com um frio boa noite a porta da sala e cada um tomou seu rumo, ele para as masmorras, e ela para a Torre da Grifinória.
- Estava preocupado, Hermione! – disse Harry, assim que a viu entrar pelo buraco do retrato da Mulher Gorda.
- O que foi que aquele idiota fez com... – começou Rony, se levantando da poltrona onde estava, começando a ficar vermelho.
- Nada. Ele não fez nada. Esse foi o motivo da demora. Ele não fez o que devia ter feito e passamos horas fazendo. Boa noite pra vocês. – ela respondeu, interrompendo-o, passando reto por eles, seguindo para a escada do dormitório feminino.
- Hermi... – ela não ouviu mais nada do que Rony gritara, fechou a porta do seu quarto e se largou na cama.
Sua cabeça trabalhando furiosamente no porquê de Parker ter tanta raiva de Malfoy a ponto de chamá-lo de verme e quase azará-la por ter mencionado uma possível comparação dele com o ex-estudante.
“Ele age como Malfoy, fala como Malfoy, pensa como Malfoy, mas não quer se comparado com Malfoy?”, ela pensava, exausta, enquanto despia suas vestes e ia jogando-as no chão. “Bom, se for analisar bem, todos os sonserinos agem, falam, e pensam do mesmo jeito então...”, pegou uma camisola qualquer no guarda-roupa e a vestiu rapidamente, voltando para cama, “Mas porque tanto ódio...? Bom, é de se imaginar que como todo sonserino ele aprecie tudo o que sonserinos apreciam... Artes das Trevas, Voldemort, o nojo de sangues-ruins”, ela ponderava enquanto se cobria, “Parker tem um segredo... um mistério... Alguma coisa ele...”, seus olhos se fecharam mesmo sem querer e caiu num sono pesado.


***

N/a: Olha, esse capítulo saiu bem rapidinho, né???
Acho que estou carente, agora que to escrevendo o penúltimo capítulo da fic, preciso de um apoio emocional sabe...
Capítulo 63, provavelmente o penúltimo capítulo dessa fic.
Que, provavelmente, será minha última fic, da mesma forma que foi a primeira.
Mas isso é assunto pra depois.
Agora que eu estou chegando no fim, derradeiro, eu tenho certeza de tudo que aconteceu e ainda acontecerá na fic, mesmo depois do final, então, se tiverem perguntas e questionamentos, façam, agora eu já posso responder com certeza.

Como você devem ter visto, faltam pouquíssimos comentários para eu chegar nos 500, to feliz, mas ainda assim, preciso de mais, de vários, porque minha auto-estima fica lá embaixo quando abro o Documento dos últimos capítulos.
Ai, ai...
Portanto, façam uma autora feliz e comentem bastantãããoooo, porque eu to quase morrendo de angústia aqui.
Sabe o que é passar três anos imaginando esse final?
Três anos?
E aí.. Pronto, estou prestes a escrevê-lo.
Espero ter imaginação e criatividade o suficiente para escrevê-lo de forma que faça jus a tudo que eu venho planejando a tanto tempo, e que também não os desaponte.
Agora, chega de me lamentar.
Desculpem o desabafo.

COMENTEM, por favor.

Não esqueçam que eu amo cada uma de vocês, são extremamente importantes pra mim.

Agradeço de todo o coração todos os comentários, e claro, os votos e desejos de que tudo dê certo pra mim. Vocês não fazem idéia do quão significante é ler tudo isso. Muitíssimo obrigada, mesmo.

Beijooooo.

Paulinha.

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