19 de Setembro



Eram onze da noite, Harry não conseguia dormir, mesmo cansado estava esgotado demais para relaxar. Tinha sido um dia cheio, milhares de sentimentos vieram e foram numa velocidade incrível... Relembrar daquele dia era como repassar na mente um dia distante, acontecera tanta coisa em tão pouco tempo.
Tinha um time formado... Estava com fome... Uma barra de cereal... Um apelo suplicante... Um sacrifício... E... Um ‘quase’ beijo... Ela desmaiara.
“Merlim... Eu quase a beijei...”, ele pensou derrotado, expirando com força, “De novo...”. Prometera a si mesmo não fazer mais isso, depois daquele jantar na sacada; de novo a culpa tomou conta dele, afinal... Prometera. “Foi questão de necessidade” pensou, tentando contornar a situação, mas de nada adiantava, estava começando a se estranhar. Ele... Harry... Estava... Atraído por ela?
“Não, não, não e não.” Ele negou, virando-se na cama “Que absurdo... Besteira!”, ele riu pelo nariz.
Ótimo.
Podia ser besteira, mas ele simplesmente não podia parar de pensar nela e em tudo que sentira quando ela desmaiara, era... Impossível não pensar. Ele voltou a virar, ouvindo o ronco de Rony ao seu lado.
- É isso! – ele sussurrou levantando da cama num pulo.
Silenciosamente foi até seu malão...


***



Um feitiço no trinco foi o suficiente pra janela abrir num rangido baixo. O vento estava gelado, sequer se lembrara de pegar uma blusa, quase não sentia os dedos.
Pulou o peitoril da janela e a fechou. Respirou fundo, ali estava bem melhor, a lareira próxima, acesa, alem de ser a única fonte de luz, aquecia o lugar deixando-o bem agradável. Bom, estava escuro, o que dificultava muito as coisas, só era possível enxergar através da claridade lançada pelas chamas bruxelantes da lareira.
Caminhou em passos curtos, tomando cuidado em onde pisar, pouco adiantou... Tropeçou, por pouco não caiu, xingou mentalmente e olhou para o motivo de seu ‘quase’ acidente: um tênis. Aproximou-se com cuidado da cama e sentou-se na borda. Pela pouca luz do quarto era possível ver o contorno do perfil ímpar e angelical dela.
Sorriu.
Chegara até ali, iria até o fim.
Esticou o braço e tocou levemente o rosto dela. Ela pulou e abriu os olhos assustada, sentou num pulo olhando-o surpresa.
- Sua mão está realmente fria! – ela falou, passando a mãos onde ele a tocara. Então ela parou, ficou tensa, e arregalou os olhos. – Como entrou aqui?
- Vim pelo lado de fora. – ele disse, indicando com a cabeça sua vassoura no chão.
- Por isso está tão gelado. – ela falou, lançando a ele um olhar desaprovador, observando a camiseta de manga curta que ele usava.
- Realmente... O vento está cortante. – ele falou, sorrindo, tentado distinguir a feição dela através dos contornos de seu rosto contra o fogo da lareira.
Ela o encarou.
Saíra de vassoura, no vento frio, dera a volta na torre e invadira seu quarto através da janela. Estava pálido e com a pele congelada. Seria muita crueldade expulsá-lo, não?
- Como você está? – ele perguntou, quebrando o silêncio.
- Bem, a poção é ótima. Pelo menos não tenho mais olheiras, e minha cor normal voltou, estava meio amarela... – ela comentou, se levantando e andando para um canto do quarto que Harry não conseguiu enxergar.
- Que bom. Fiquei bastante preocupado.
- Eu percebi. Me pareceu meio perturbado também. – ela disse, voltando pra ele com uma coberta.
- Não, não estava perturbado... – ele falou, sentindo-a envolver seu corpo na coberta, jogando-a em suas costas e juntando a pontas dela em seu peito.
- Abalado? – ela sugeriu, puxando a coberta, apertando-a contra ele.
- Sim. Acho que essa é a palavra. – ele respondeu, vendo-a se ajoelhar a sua frente, sem largar as pontas da coberta.
- Fiquei... Surpresa com a sua reação. – ela falou, baixo.
- Não esperava que eu desse uma festa, não é? – ele disse, sorrindo. Ela fez o mesmo.
- O que veio fazer aqui? – ela questionou, depois de algum tempo.
- Hãm? Ah!
- Harry?
- Eu...
- O.k.. Já entendi. – ela disse, se levantando.
O relógio de Harry apitou. Meia noite.
Hermione foi até a lareira e parou de frente pra ela. Encarou as chamas, pensando no que tinha acontecido antes de desmaiar, realmente queria perguntar isso pra ele, não se lembrava de nada, como se tivessem passado uma borracha... A última lembrança que tinha era que fora para o campo de quadribol, trocara algumas palavras com Harry, se sentara na arquibancada, entregara a ele umas barrinhas de cereal e...? Apagado! Sabia que tinha deitado no ombro dele, pois não se sentia bem. Mas... E o resto?
- Har...? – ela não completou, sentiu alguma coisa gelada em seu pescoço e a respiração quente de Harry sobre seu ombro.
- Feliz aniversário. – ele sussurrou no ouvido dela, fazendo-a tremer.
- O que...? – ela disse num fio de voz; colocou a mão em seu pescoço, uma corrente fina prateada com um pequeno pingente de uma letra ‘H’ bem feita e ornamentada. – Harry...?
- Sei que já tem um ‘H’ de Hermione... – ele falou, sorrindo.
- Sim, eu já tenho.
- Mas esse é um ‘H’ de Harry. É enfeitiçado, mandei fazer há algum tempo...
- Harry?
- Você esqueceu, não foi? – ele perguntou, sorrindo.
- Foi.
- Esqueceu do seu próprio aniversário?
- Tenho esquecido de mim mesma nos últimos dias. – ela disse, olhando para a letra, prata, brilhando.
- Mas eu não esqueci. – ele sussurrou mais uma vez, fazendo os cabelos da nuca dela se arrepiarem.
- Eu...
- Não há o que agradecer, é o mínimo que eu posso fazer pra retribuir tudo o que... – ele não terminou, Hermione virou-se de repente e se jogou nos braços dele.
- Você é... Eu... Ah... Obrigada. – ela disse, com a cabeça no ombro dele.
- Mione...
Ela recuou para olhá-lo, ainda abraçando-o forte.
- Você é... Tudo.
Ele a fitou, ela tinha lagrimas nos olhos.
- Eu adoro você. – ele sussurrou e ela voltou abraçá-lo com força.
Sem saber o que fazer, ela simplesmente o apertou mais forte numa tentativa de se proteger, de protegê-lo, de pegar um pouco da força e da coragem dele pra si, precisava senti-lo perto, precisava... Tocá-lo. Saber que estava tudo bem. Que estava vivo, a salvo. A situação toda, do mundo, estava a enlouquecendo, e ele era seu ponto fraco e sua força. Um paradoxo que ela não conseguia decifrar.
Depois de alguns minutos em silencio, ela tornou a recuar e o encarou.
- Disse que está enfeitiçado...
- Tenho outro pingente como esse. Mas é um ‘H’ de Hermione. – ele falou, sentido-se aquecido pela amiga, já que deixara a coberta na cama.
- Tem?
- Acha que é só você que ganha presente? – ele disse, sorrindo.
- Harry!
- Na verdade, - ele falou, voltando a ficar sério. - É a maneira que encontrei de saber se você está bem, mesmo estando longe. Tenho você comigo o tempo todo, - ele falou, puxando de dentro da camiseta uma corrente masculina, o pingente se encontrava pendurado no fecho da corrente, ficava na nuca do rapaz. – e você me terá o tempo todo também.
Ela sorriu docemente, vendo-o voltar a guardar a corrente dentro da camiseta, girando-a, fazendo o pingente voltar a sua nuca.
- Como funciona?
- Não importa, o importante é que estaremos ligados através disso, é uma forma de segurança.
- Mas, Harry, há outras formas...
- Mas essa é bem difícil de Voldemort descobrir, não acha? – ele disse, fazendo-a sorrir. – Prometa que não vai tirar.
- Mas Harry...
- Prometa.
- Prometo.
- Boa menina.
Ela riu. O que ele estava querendo com aquilo, exatamente? Proteção? Havia outras tantas formas... E, convenhamos que andar com uma corrente como aquela em Hogwarts, depois de tudo que acontecera no trem, seria a gota d’água. Mas agora já prometera, não voltaria atrás... Afinal ter um elo com ele poderia ser uma boa arma no futuro... E tudo ali era ‘H’, não? Harry... Hermione...
- Harry... – ela falou, fitando-o.
- Sim? – ele disse, pousando as mãos na cintura dela.
- Só isso que você veio fazer aqui?
Ele a encarou sem entender.
- Acho que sim. Por quê?
- Achei que... – ela desviou o olhar.
- Que...? – ele encorajou, fazendo-a voltar a olhá-lo.
Os olhos castanhos dela o encararam com uma intensidade tão grande, que ele poderia mergulhar neles...
Harry realmente mergulhou, sem saber como, sentiu deixar o tempo e o mundo, e simplesmente mergulhou... As coisas começaram a girar em volta dele numa dança de borrões indefinidos, parou, ele viu...

“...Eles estavam colados um no outro, na sacada no Largo Grimmauld, ele passou a mão pelas costas dela a abraçou pela cintura, ela deitou a cabeça no peito dele e eles permaneceram assim, juntos e calados, até ele perceber que ela adormecera...”


De repente, tudo girou de novo, estava confuso...

“- Por que eu teria medo de você?- perguntou ela, nervosa no meio do corredor da casa.
- Não sei... Parece que você está fugindo...
- Olha pra mim, HERMIONE! – ela o olhou, firme...”



Outro giro, e Harry se sentia tonto.

“Ele foi aproximando a cabeça lentamente...
...ela fechou os olhos...
...era possível sentir o coração de ambos baterem furiosamente...
...ele fechou os olhos...
...no momento que os lábios de ambos se tocaram...”



Hermione estava com seu coração acelerado, não entendia, o que aquelas lembranças estavam fazendo ali, naquela hora... Estavam passando, mudando rápido...

“- Estarei sempre com você...
- ... ‘não importa onde nem como, estaremos sempre juntos’ – completou ela...”


“ Harry está na minha mente...”, ela tentava raciocinar, mas era impedida pelos giros das lembranças...

“- Não seja tão teimosa, não há como escapar... - Malfoy sussurrou no ouvido dela.
Uma mão aberta pousou em sua barriga e a puxou para trás, ela de um passo para trás e suas costas colidiu com o peito de Harry.
O rapaz a apertou, tentando deixá-la firme, estava quase desmaiando.
- Calma, Mione... Vai ficar tudo bem...”


Harry viu tudo girar de novo, parou mais uma vez, vendo... Lembranças...? Ele não sabia.

“- Eu sei que você me acha bonito, mas é melhor disfarçar, Mione...- ele falou, sorrindo maroto...”

“ Tenho que quebrar o contato visual, isso está indo longe demais!”, pensava ela, tentado desviar o olhar dele.

“- ANDA! TERMINE A FRASE, VAI... OFENDA-A E ESSA SERÁ A ÚLTIMA COISA QUE VOCÊ FARÁ NA VIDA! - bradou Harry, com a varinha apontada para Rony...”

- Ah! – ela gritou, quando conseguiu quebrar o contato, virou a cabeça e fitou o chão, assustada. – Como fez isso?
- O que?
- Como fez isso? Como invadiu minha mente dessa forma? – ela perguntou, com medo de encará-lo de novo.
- Eu... Eu não sei... – ele falou, também assustado. Entrara na mente dela sem perceber, tudo passou rápido, confuso...
Ela se afastou dele, apoiou as mãos no encosto de uma poltrona próxima.
- Não tinha o direito de penetrar minha mente e ver minhas lembranças dessa forma, Harry! – ela falou, zangada, sem olhá-lo, encarando as próprias mãos.
- Hermione, não foi minha intenção, eu não sei como... – ele se aproximou dela, tocou-lhe o ombro. Ela se esquivou.
- Você enlouqueceu...? São minhas lembranças, você não pode olhá-las assim, como se fosse uma revista numa sala de espera. – Hermione falou, alto demais. Ele não tinha culpa, ela sabia... Mas era o cumulo sua mente ser invadida dessa forma, eram pensamentos íntimos demais para outras pessoas verem... Alguns deles eram dolorosos de lembrar, ela se esforçava pra esquecer; outros lhe causavam vergonha e lhe proporcionava sensações que ela se sentia culpada em sentir.
- Mione... – ele tentou de novo, ela se afastou.
- Não me toque. Não... – ela se envolveu nos próprios braços. – Isso é loucura...
Ela se sentou na poltrona, atônita, sem saber o que pensar ou o que dizer.
- Não tenho idéia de como aconteceu. – ele falou, com cautela, atrás dela.
- Eu sei que não tem. – ela disse, baixo.
- Me desculpe, eu não...
- Você viu tudo que eu vi?
- Acho que sim, tudo passava muito rápido, mudava de um lugar para o outro com muita rapidez.
- Ah... – ela apoiou os cotovelos nas pernas, e enterrou o rosto nas mãos.
Harry deu a volta e se ajoelhou na frente dela.
- Mione, não se preocupe...
- Isso já aconteceu outras vezes? Já entrou na minha mente, mesmo sem querer? – ela perguntou, alto, encarando-o de repente.
- Não! Se tivesse entrado, você teria percebido, como percebeu agora.
- Talvez... Eu... – ela tornou a desviar o olhar e se levantou, parou de costas pra ele. – Como fez isso?
- Não sei. Não sei como, nem porque, não sei... – ele falou, se levantando também e mirando as costas dela.
Só agora Harry realmente olhara para Hermione... Só agora notara que ela estava usando uma camisola de seda azul clara, que ia até o meio das coxas, o tecido leve marcava perfeitamente as curvas dela.
“Certo... Certo... Aí já é crueldade!”, ele pensou sem conseguir desviar o olhar dela.
- Harry? – ela se virou, ele desviou o olhar para o chão. – Acha que... Que conseguimos... Que conseguimos fazer isso?
- O que?
- Tem que haver um jeito... – ela falou, mais pra si mesma do que pra ele, começando a andar de um lado para o outro, fazendo Harry se sentir culpado por observar as pernas dela indo e vindo também.
- Do que...?
- Deve haver em algum livro. – ela parou e o encarou. – Seria perfeito. Como não pensei nisso antes!?
- Hermione, se importa de me colocar a par da situação?
- Ah... Claro. É simples. Precisamos aprender Legilimência e Oclumência.
- O que? – ele perguntou, abismado. – Você só pode estar brincando.
- Não, não estou. Harry é a arma perfeita. Se aprendermos a controlar nossas mentes poderemos nos comunicar sem palavras e...
- Nos já fazemos isso! – ele comentou, displicente.
Hermione o fitou e sorriu.
- Tem razão. Já fazemos isso. Mas a questão é que precisamos ficar muito bons nisso, e precisamos bloquear nossas mente, para que ninguém veja o que não queremos mostrar. – ela falou, aumentando a voz, nas ultimas palavras, olhando-o de esguelha. Ele riu.
- Acha que é necessário?
- Ele não teria como saber de nada. Nenhum plano, nenhum ataque... Nada. É importantíssimo Harry!
- E como vamos fazer isso?
- Não sei, acho difícil aprendermos apenas com livros. Mas não se preocupe, darei um jeito. – ela falou, com um sorriso travesso. Era difícil Hermione sorrir assim, como se armasse algo...
Eles ficaram em silencio.
Harry pensava em tudo que vira, o que queria dizer. Será que Hermione estava pensando em tudo aquilo naquele momento? Será que ela estava pensando nele? Sim, porque todas as lembranças eram dos dois, apenas os dois. Até o beijo... Ah, aquele beijo tinha historia pra contar, foi o ponto de partida da confusão. Eram lembranças curtas, mas todas carregadas de significado, para ambos.
- Hermione?
- Hum?
- Tudo que eu vi... Eu só vi porque você estava pensando naquilo?
Ela pensou por alguns instantes. Certo. Não havia por que mentir.
- Sim, receio que sim.
- Estava pensando em tudo aquilo?
- Não, as coisas estavam lentas, depois que você apareceu, tudo voou.
Eles ficaram em silencio de novo. Mas Harry não resistiu.
- Por quê?
- Por que, o que?
- Por que estava pensando em tudo aquilo.
Hermione parou de respirar por um momento.
Por que estava pensando em tudo aquilo?
Por quê?
Ah, nem ela sabia.
- Não sei. Acho que... Talvez por eu mesma ter me esquecido que estou fazendo 18 anos. E por você ter vindo até aqui, no frio, pra me lembrar. Talvez porque, você me deixe totalmente vulnerável quando está perto de mim, então eu acabo me lembrando de tudo que já passamos juntos... Eu não sei...
Harry a fitou. Sorriu, maroto.
- Te deixo vulnerável?
Ela o encarou, viu malicia no olhar dele. Ótimo, lá vinha ele com suas brincadeirinhas sem graça.
- Sim. Totalmente. – ela respondeu, aceitando a provocação.
- Totalmente? – ele repetiu, se aproximando dela.
- Total, extrema e completamente! – ela falou, rindo, deixando-se envolver pelos braços dele.
- Eu... Adoro você. – ele sussurrou no ouvido dela. Sentiu o corpo dela tremer no seu.
- Eu também. – ela falou, com a cabeça no ombro dele, com seu nariz tocando o pescoço do rapaz e o perfume dele tão presente.
A situação era tentadora, desde o inicio. Aquilo estava deixando Harry assustado. Desde quando estar com Hermione era uma situação tentadora? Que besteira era aquela, que, de uma hora pra outra, ele parava seus olhos nas pernas da amiga? Não estava certo... Não, não, não!
O relógio dele apitou de novo.
- Já é tarde... Ou melhor... Cedo. – ela falou, tentando se afastar dele, mas Harry a impediu.
- A noite é uma criança.
- E nós somos o brinquedinho dela. – ela respondeu.
Ele recuou e a encarou.
- O que quer dizer com isso?
- A noite manipula a gente, e acabamos fazendo coisa que não devemos fazer. – ela falou, desvencilhando-se dos braços dele.
- Tem medo do que ela pode fazer? – ele perguntou, baixo, num tom que parecia de desafio.
Hermione o encarou com o olhar estreito, avaliando o que ele realmente queria dizer com a aquela pergunta.
- Prefiro não arriscar. – ela respondeu no mesmo tom dele, firme.
Ela deu as costas pra ele, antes que fizesse uma besteira... Antes que ele fizesse uma besteira.
Harry a observou dar a volta pelo quarto, graciosamente, e se sentar na cama.
- Melhor eu ir então. – ele disse, andando até sua vassoura. Ele montou e abriu o trinco da janela. Mirou as costas dela, sentada na cama por algum tempo.
Ela, inconscientemente, levou a mão até o pingente em seu pescoço. Estavam mais unidos agora, segundo ele. E ela estava se sentindo confusa, como se a cada pergunta que fizesse pra Harry, trouxesse mais uma dúvida pra si. As coisas estavam mudando, tinham mudado... Que coisas eram essas? Ela não fazia idéia, mas o fato de terem mudado deixava-a insegura e cautelosa.
“Ah, pelo amor de Deus! Cautela? A noite está congelando!”
- Harry?
- Ainda estou aqui, mas já estou indo.
- Não vá! – ela disse, de costas pra ele.
- O que disse?
- Não vá... A noite está fria, seria loucura...
“Loucura sair na noite fria?”, ele pensou, sarcástico, rindo, “Loucura é isso tudo que está dentro de mim!”
- Está tudo bem Mione.
- Não, não está! – ela levantou, e foi até ele. – Eu preciso de você.
- Mione...
- Pra sempre. – ela falou, atirando-se nele, desesperada.
- Calma Mione...
- Tenho tanto medo...
- Está tudo bem...
- Pode ser meu ultimo aniversário.
Ele a empurrou pela cintura e a encarou.
- Nunca mais repita uma coisa dessas. Nunca mais pense numa coisa dessas. – ele falou, firme e determinado.
- Mas pode ser...
- Não é! Eu não deixarei ser.
- Harry...
- Mione... Eu não vou deixar nada te acontecer. Prometo.
- Não há como evitar, Harry!
- Eu farei de tudo pra evitar. – ele disse, trazendo-a pra perto de novo, tocando-lhe o rosto com uma das mãos.
- Eu...
- Dou minha vida por você, Hermione. – ele disse, baixo.
Ela o encarou surpresa, com os olhos castanhos brilhando.
Harry secou uma lagrima que escorreu no rosto dela. Ela voltou a abraçá-lo, mais forte que antes... Era possível sentir o coração dela batendo junto ao dele.
Harry percebeu que ela estava total, extrema e completamente vulnerável naquele momento e que não o soltaria tão cedo. Fechou a janela com uma das mãos e depois a conduziu pra cama, fazendo-a se deitar.



O relógio dele apitou, mais uma vez. Ele olhou de longe, tentando distinguir os números, já que estava sem óculos. Duas da manha.
Harry tornou a olhá-la. Estava encolhida, abraçada a ele como uma criança com medo de pesadelo. Ela já dormira há algum tempo, mas parar de admirá-la estava sendo uma tarefa difícil. Hermione estava praticamente deitada sobre Harry, com o rosto em seu peito e a cabeça roçando no queixo dele. Ele a envolvia com os dois braços, enquanto uma das mãos dela segurava a camiseta dele com força. Harry perguntava-se como ela conseguia isso... Dormindo!? As pernas dela haviam se envolvido nas suas.
Harry se sentiu um tolo, como podia ter notado e pensado nas pernas dela, com outras coisas tão mais importantes para pensar e para notar. Tudo estava sendo tão difícil... Tudo... Tanto com que se preocupar e ele de olho nas pernas dela?
“Estúpido!”
Ele voltou a observá-la, o rosto dela ainda estava marcado pelas lagrimas que ela chorara, tudo era tão complexo e tão difícil. Ele não podia simplesmente largar tudo e fugir para um fim de mundo onde viveria com outro nome sem ninguém reconhecê-lo, sem magia, sem Voldemort, sem lembranças de seu passado, sem uma profecia, sem uma sina, sem ter que sacrificar? Ele não podia simplesmente urrar para todos ouvirem que não agüentava mais e desaparecer? Não poderia viver em paz? Viver em paz com ela?
Paz...
O único momento que Harry podia sentir o que era paz era quando estava com ela.
Somente com ela.
Somente ela.
Ele afastou uma mexa de cabelo do rosto dela, e o contornou, levemente, com o dedo indicador.
Foi, logo, vencido pelo sono.

***

N/a: Mil perdões pelo sumiço, amores da minha vida, mas eu realmente estou atarefada nos últimos dias...
mas tenho lido todos os comentários e todos são especialíssimos pra mim.
Muito, muito, muito, obrigada.
Tem bastantãããoooo.

=D

Sobre esse comentário, tenho que admitir que excluí duas frases dele agora, de última hora. Sinto muito.
Talvez vocês fosse gostar, mas não achei que ela seria boa, no momento.
[Eu excluo muitas coisas já escritas... Até mesmo capítulos inteiros, um dia, talvez, vocês os vejam!]
Mas é um capítulo bem H², né?
Me xinguem, sem beijo, eu sei, mas tenham paciência, por favor.

Próximo capítulo, no mínimo uma encrenca.

Beijooooos e comentem bastante, certo?
Assim que puder passo aqui para responder a vocês.

to indo postar o Ultimo capítulo de Save Me.
=]


Amo vocês.

Paulinha.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.