O Trio Refeito.



- Ah Srta. Granger, em primeiro lugar quero lhe pedir perdão pela maneira que você passou essa noite. Sinto muito mesmo, não era pra ter sido assim, só que foi o primeiro dia de aula, eu confesso que ainda me sinto meio perdida, me esqueci completamente da senhorita. Peço que me perdoe, por favor. - A diretora falava com extrema rapidez, olhando atentamente pra Hermione, quase como se tivesse cometido um pecado. – A escola deve muito a senhorita, que foi sempre tão prestativa e responsável, sinto muito que tenha ocorrido tal equivoco. Quero que saiba que em nenhum momento passou pela minha cabeça fazer isso com a senhorita. De maneira alguma, é que com tantas coisas na cabeça, foi impossível me lembrar.
- Oh, não, não. Não precisa se desculpar, está tudo bem. – disse Hermione, assustada com tamanha atenção.
- Hoje, a situação irá se regularizar, já avisei o Matt, ele cuidou disso.
- Avisou quem? – perguntou Harry, que não sabia a quem a diretora se referia.
- Matt. Matthew. O Professor McGonagall. – disse ela, com impaciência.
- Ah, tá.
- Bom, estamos aqui porque tenho algumas coisas para passar a vocês, e temos pouco tempo até o horário do almoço. Portanto pretendo ser breve. Sr. Potter, isso eu encontrei no dormitório de Dumbledore dentro de um de seus livros preferidos, está destinada a você. E o livro, é claro, para senhorita Granger. – disse a mulher, entregando um envelope que estava em cima da mesa, para Harry e um livro muito grosso e grande com aparência bem velha e gasta a Hermione. – Isso aqui também é pra você, Potter – disse ela enquanto pegava num armário uma bacia de pedra com símbolos de runas na borda, depois numa das gavetas da escrivaninha, pegou um pequeno vidro com um ‘liquido’ quase prateado dentro. – Essa lembrança também é pra você. Acho que ele lhe ensinou como usar, certo?
Harry assentiu, incapaz de falar, tudo que era de Dumbledore estava sendo entregue a ele. O rapaz olhou para o envelope na intenção de abri-lo, mas foi interrompido.
- Acho que não é uma boa hora Potter, é melhor deixar para quando tiver bastante tempo. Ah, Weasley, ele não se esqueceu de você, ou melhor, de vocês. – disse ela, alto, dando um susto no ruivo. – Dumbledore deixou metade de todo seu ouro para Hogwarts, um quarto dele pra Ordem e outro quarto para sua família. Segundo Alvo, não houve e nunca haverá família como a dos Weasley, ele tinha muita estima por todos vocês.
Rony sorriu bobamente. Não tinha nem noção de quanto seria esse “um quarto” e também não se importava com isso. O fato de Dumbledore ter se lembrado de sua família em tal situação, já o deixara feliz.
- Tenho pra mim que isso é tudo que eu encontrei. Ele deixou uma carta sobre a mesa, antes de sair com você naquela noite, Potter, me dando instruções sobre o que fazer se o pior acontecesse. Na carta, ele pedia para que eu lhe entregasse a Penseira e esse frasco com alguma lembrança que eu não sei qual é. Pediu para que lhe entregasse uma carta que estava dentro desse livro, que entregasse o livro a senhorita Granger e que lhe pedisse para abrir o envelope quando estivesse realmente em paz, com tempo. Nela também constava a divisão dos bens dele, incluindo a família Weasley, Hogwarts e a Ordem. Não me recordo de ter encontrado mais nada que possa ser útil, mas se o fizer mando lhes entregar. Quanto às reuniões da Ordem, serão avisados com antecedência, para irem programando seus deveres e tarefas. Alguma pergunta? – indagou a mulher, que com um aceno da varinha vez a Penseira e a lembrança sumirem dali, indo direto para junto dos pertences de Harry.
- Já tem alguma reunião com data marcada? – perguntou Hermione, apertando o livro velho e pesado, entre os braços.
- Exatamente, não. Mas pretendemos fazer uma em duas semanas, com todos os membros da Ordem que estão em Londres.
- Alguma nova noticia? – perguntou Rony.
- Nada, nenhuma novidade.
- Eu continuo sendo o capitão do time da Grifinória? – indagou Harry, guardando a carta no bolso da capa.
A diretora o encarou por alguns instantes, depois assentiu.
- Sim, Potter, ainda tem seu posto no time, se quiser, é claro.
- Claro que quero. Quadribol é a única coisa que me faz esquecer um pouco os problemas.
- Ótimo, traga a taça para nós então, Potter. Matt ficará feliz. – Harry deu de ombros. Sem saber, exatamente, o que achar. – Algum problema?
- Não, nenhum.
Ouviu-se o sinal tocar e passos vindos de todas as direções.
- Acho que terminamos, podem ir.
Os três se levantaram e seguiram até a porta, Rony abriu e saiu, Hermione estava quase cruzando o portal quando ouviu a diretora chamando-a, Harry parou logo atrás dela.
- Oh, Merlim, já ia me esquecendo, de novo. Senhorita Granger, eu não sabia se a senhorita voltaria pra escola ou não, esse foi o motivo do transtorno. – disse ela, apanhando alguma coisa numa das inúmeras mesinhas de pernas finas ali na sala. - Meus parabéns, senhorita Granger, você merece.
A diretora andou até Hermione e lhe entregou o que segurava, a garota pegou e levantou à altura dos olhos, Harry podia jurar que ela desmaiaria. Um distintivo de monitor, onde o ‘M’ estava enlaçado com um ‘C’, ao fundo havia um pequeno leão em ouro e vermelho.
Ela emitiu um som incompreensível.
- Agora a senhorita tem total autoridade para aplicar pequenas detenções e tirar pontos. E quanto ao quarto, terá um só pra você. Acho que sabe onde é, no fim corredor dos dormitórios femininos há uma escada, que leva a uma porta de madeira grande e pesada. Aquele quarto pertence a você agora. Desejo que desfrute com sabedoria dele e de seu novo posto.
A diretora deu as costas e voltou a se sentar a sua escrivaninha, Harry percebeu que já era hora de ir, mas Hermione parecia incapaz de se mexer. Ele a segurou por um dos braços e a conduziu escada abaixo, quando chagaram no corredor, encontraram Rony com uma cara feia.
- Onde é que vocês estavam, estou morto de fome. Por que demo...
Um grito muito alto e agudo interrompeu a fala de Rony, Hermione se pendurou no pescoço de Harry que quase caiu com o susto.
- Monitora-Chefe. Monitora-Chefe. Monitora-Chefe. – cantarolava ela, em meio a gritos, largando ele, dando pequenos saltos. – Harry, eu sou monitora-chefe!
Ela estava com o rosto corado e com os olhos brilhando numa alegria contagiante, encarava Harry como uma criança que acabara de ver a decoração de sua festa de aniversario pronta.
- Monitora-Chefe? – perguntou Rony, perplexo.
- Ah, EU SOU MONITORA-CHEFE! – ela se jogou mais uma vez pra cima de Harry, que agora estava preparado e sorria com a atitude da garota. A envolveu pela cintura e saiu rodopiando com ela corredor a fora. Rony os seguia em passos largos, rindo da situação. – Eu não acredito. Monitora-Chefe.
Entraram no corredor que dava acesso para sala de DCAT, a turma da Sonserina acabara de ser dispensada. Todos pararam para olhar a cena, Harry e Hermione rodopiando pelo corredor e Rony, atrás, rindo.
- Ora, ora. Agarração em publico, é, Granger? Acho que terei que te penalizar por isso! – disse Parker, saindo do meio dos alunos, caminhando até os três grifinórios.
Hermione largou Harry no mesmo instante, porém seu sorriso não vacilou. Ela levantou o pequeno distintivo a fim de prendê-lo nas vestes, mas Harry o tomou de sua mão, para que ela pudesse tirar o velho, que só continha um ‘M’. Depois de se livrar desse, ela observou Harry prender o novo cuidadosamente, ao lado direito da capa, pouco acima do peito. Quando terminou, se aproximou dela e sussurrou em seu ouvido:
- Parabéns. Tinha certeza que isso aconteceria. – ela sorriu e encarou Parker, que observava a cena com sua cara arrogante, mas pasma. Rony estava dando gargalhadas, esse era o único som que se ouvia ali.
- Penalizar, Parker? Acho que não pode penalizar um monitor-chefe, pode? – perguntou ela, caminhando lentamente até ele.
- Não, realmente não posso. – disse ele, abrindo um sorriso malicioso.
- Acho que a única pessoa que deve ser penalizada aqui, é você!
- Hum... - ele fez uma pausa, com cara de pensativo. – Acho que você está errada Granger. – disse ele, vendo Hermione fazer uma cara de espanto. - Que foi? Nunca te falaram que você estava errada?
- Por que eu estou errada? – disse ela, ignorando o comentário dele.
- Porque da mesma maneira que eu, você também não pode penalizar um monitor-chefe! - ele exibia um sorriso triunfante. A cara de Hermione permaneceu impassível. – É Granger, acho que somos o casal de Monitores-Chefes esse ano!
O rapaz apontou o dedo indicador para o peito, um distintivo igual o de Hermione, exceto pela serpente verde e prata, ao fundo. Ela olhou do distintivo para ele, e voltou a olhar para o distintivo. Foi como se tivessem jogado um balde de água gelada nela. Era terrível demais pra ser verdade. Mas ela não ia dar esse gostinho a ele, abriu seu mais belo sorriso e o encarou com indiferença.
- Ótimo. Menos mal assim. Direitos iguais, não é? – disse ela, numa voz firme e determinada, sem vacilar no sorriso.
- Sim. Direitos iguais. – disse ele, com um sorriso malicioso.
- Muito bem. Espero que possamos fazer um bom trabalho juntos. - ela mudou para uma voz bastante amigável, o olhou de um jeito diferente. Parker se surpreendeu com tal reação e se aproximou mais.
- Não adiantou fugir Granger, você viu? De qualquer forma, teremos que estar juntos.
- Realmente, Parker, você tem toda razão e sabe, não há como fugir... – ela se aproximou mais dele, com um olhar penetrante, e disse em voz baixa. -...e eu fico surpresa de estar bem feliz com isso.
Ela se afastou do sonserino e piscou pra ele, depois se juntou a Harry e Rony que a olhavam embasbacados. Passou entre os dois e começou a caminhar em direção do Salão Principal, os outros dois a seguiram em passos rápidos. Eles fizeram uma curva e entraram num corredor deserto, Harry e Rony pularam pra trás ao ver Hermione virar pra eles como uma fera.
- Eu mato aquele desgraçado! – disse ela, entre dentes, dando um murro na parede. – Eu não acredito! Ele? Ele nunca nem foi monitor, não sabe o que fazer. Por que ele?
Ela socou a parede mais uma vez, depois apoiou a testa nela, respirando pesadamente.
- Se acalma Mione. - disse Rony, se aproximando para consolar a amiga, ela virou de súbito, com o punho cerrado brandido no ar.
- Me acalmar? Aquele idiota será monitor-chefe comigo e você me pede para me acalmar? Tinham tantos bons, por que tinha que ser ele?
- Mione... – tentou Harry.
- Não falem comigo agora. Por favor. Vou azará-los se mandarem eu me acalmar de novo!
Ela saiu pisando duro pelo corredor, largando os outros dois pra trás. Quando os rapazes chegaram ao Salão Principal, a garota estava sentada num ponto isolado da mesa, com a cara fechada, de bem poucos amigos. Harry e Rony se sentaram perto dela, sem falar nada, serviram-se e almoçaram vendo a cortar a carne com uma força desnecessária. Minutos depois, ela se levantou e saiu em direção a algum lugar, provavelmente a biblioteca, pensou Harry.
Depois do almoço os garotos foram para a aula de Transfiguração, que duraria dois tempos. Quando chegaram, Hermione já estava lá, eles se sentaram perto da amiga, mas nenhum dos três disse nada. A aula percorreu normalmente, com a voz severa da professora falando do N.I.E.M.’s e de como eles teriam que estudar naquele ano, para alcançarem objetivos satisfatórios.
O sinal tornou a soar anunciando o fim da aula, os garotos juntaram o material e seguiram para a aula de DCAT. Ao entrar na sala do novo professor, foi notória a mudança. Deixara de ser a sala sombria que Snape preservara. Agora estava bem parecida com a sala de Lupin quando dera aula, mas sem os bichos estranhos que ele mantinha ali. A sala estava mais bem iluminada e nas paredes havia alguns quadros de grandes bruxos, observando a maioria, Harry percebeu que aqueles eram bruxos que haviam se tornados famosos por criarem feitiços eficazes em duelos ou que acabaram com grandes bruxos das trevas.
O professor entrou na sala inteiramente vestido de preto, porém as roupas pareciam bem trouxas para um ambiente como aquele.
- Boa tarde a todos. – disse ele, simpático, ouvindo um murmúrio bem feminino em resposta. – Eu sou o Professor Matthew McGonagall e lecionarei Defesa Contra as Artes das Trevas este ano.
- Com licença, professor. – disse Parvarti Patil, levantando a mão para que o professor identificasse de quem vinha a voz.
- Pois não, senhorita...?
- Patil. Parvarti Patil. O senhor tem algum parentesco com a diretora? Digo, a Professora McGonagall.
- Hum, essa tem sido uma curiosidade de todas as turmas que já passaram por mim hoje. – disse ele, sorrindo pra aluna, que agora parecia ligeiramente sem ar. – Bom, sim, eu tenho parentesco com a diretora sim, sou filho dela. – ouviu-se uma agitação na sala. – Acho que nenhum de vocês sabiam que ela tinha filhos, não é? – falou ele, andando entre as carteiras, com os alunos o seguindo com o olhar. – Tem, apenas um. Eu.
Ele parou e encarou cada um dos alunos, com um sorriso avassalador, as garotas ficaram num estado de hipnose, com exceção de Hermione, é claro, que o encarava séria.
- Enfim, sou um conhecedor profundo das Artes das Trevas, porém não a pratico. Me formei na Drumstrang e lecionei durante três anos em Bauxbatons, depois disso, viajei o mundo atrás de novas descobertas dessa Arte e fiz vários estudos bastante interessantes, excelentes e inovadoras descobertas. Cheguei dessa viagem há dois meses, vim visitar minha mãe e ela me contou todos os problemas que Hogwarts enfrentou no ano passado, falou também da falta de professor na matéria e me chamou para trabalhar aqui. Já que não tinha nenhum emprego em vista, aceitei, e aqui estou eu, para ajudá-los a passarem com êxito nos N.I.E.M. ‘s.
- Não falei que ele era um metido sabe-tudo? – resmungou Hermione ao ouvido de Harry, completamente desgostosa, enquanto via o professor se adiantar para a frente da sala, ao lado do quadro com o livro nas mãos.
- Se abrirem seus livros no capitulo um, poderão ler o que o autor tem a nos dizer sobre os assuntos que abordaremos este ano. Portanto, façam uma leitura rápida e logo conversaremos.
Todos os alunos apanharam seus livros e abriram no primeiro capitulo, o professor passou a andar mais uma vez pela sala, parando eventualmente para responder algumas perguntas, sempre muito educado e simpático. Em nenhum momento aquele sorriso radiante sumia de sua face, isso, de alguma forma, irritava Hermione. Harry teve certeza, naquela aula, que ele não era nada parecido com o Lockhart. Não era convencido, nem procurava chamar mais atenção do que o normal. Muito pelo contrário, era muito educado, inteligente, culto, simpático, gentil, bastante cavalheiro também. Então, começou a pensar em o que dera em Hermione pra sentir tal aversão do professor.
Algum tempo depois o professor voltou pra frente da sala, e chamou a atenção dos alunos.
- Acho que todos já concluíram a leitura, certo? Então vamos analisar algumas coisas a partir disso. Como vocês podem ter observado, iremos revisar tudo que vocês aprenderam até hoje, nos aprofundando apenas em azarações. Toda a teoria que vocês aprenderam até hoje será de suma importância esse ano. Então, acho que podemos começar com algumas demonstrações de feitiços simples, para eu ver como está o aprendizado de vocês.
O resto da aula correu com os alunos executando feitiços que o professor pediu. Coisas básicas, mas muitos alunos tiveram um pouco de dificuldade ou porque esqueciam a fórmula cabalística do feitiço ou o movimento. Foi uma boa revisão. Hermione, que não estava de bom humor, executou seus feitiços com exímia perfeição, porém não abriu a boca durante a aula, a não ser para responder perguntas exageradamente complicadas, as quais o professor fizera como pegadinha e a garota respondeu séria e muito corretamente. Isso rendeu trinta pontos para Grifinória aquela tarde.
- Achei ele bem legal. Bem simpático, parece saber do que está falando. Tem experiência no assunto. – disse Rony, animado, se juntando a Harry e Hermione na saída da sala. – O que você achou, Mione?
Hermione lançou um olhar ameaçador a Rony e bufou.
- Vou para aula de Runas Antigas. – disse ela, secamente. Depois saiu em passos decididos.
Harry tomou o caminho do Salão Comunal da Grifinória, percebeu que Rony o seguia, quando passaram pelo buraco da Mulher Gorda encontraram o lugar completamente cheio. Rony passou por ele e foi direto em direção a escada que levava ao dormitório masculino.
Harry olhou em volta, viu outros colegas conversando animadamente sobre as férias, não estava nem um pouco a fim de fazer isso. Resolveu fazer o mesmo que Rony, subiu para o dormitório e quando entrou não encontrou o ruivo, talvez estivesse no banheiro. Então ele abriu seu malão e começou a procurar algo para se distrair, não achou nada interessante, apanhou a primeira coisa que viu: O Mapa do Maroto. Sentou-se em sua cama e murmurou: Juro solenemente que não farei nada de bom. O mapa se revelou pra ele, as inúmeras salas de Hogwarts e todas as pessoas que ali habitavam. O rapaz começou a analisar o mapa, como se nunca tivesse feito antes, ouviu o barulho de Rony saindo do banheiro, mas não olhou, continuou analisando o mapa, pois uma coisa chamara sua atenção. Uma coisa que ele já tinha visto antes, mas nunca prestara atenção. Numa letra garranchada, quase ilegível, no rodapé do pergaminho, bem espremida, estava uma frase enigmática.
- ‘Para chegar até elas, use o Cavaleiro sem Espada. ’ – Harry leu, em voz alta. Aquilo não fazia nenhum sentido pra ele. “Chegar até elas? Cavaleiro sem espada? O que é isso?”
- Disse alguma coisa? – falou Rony, vestindo a camisa.
- Não, só uma coisa estranha que está escrito aqui, o que... - Harry o encarou e parou de falar. Rony o fitou por algum tempo, depois desviou o olhar, pegou um pente e o passou pelos cabelos.
- Ainda bem que não deram tarefa. – disse o ruivo, na tentativa de quebrar o clima.
- É. – disse Harry voltando a mirar o mapa, mas sem o ver realmente.
Alguns minutos de silencio se passaram, Rony se sentou em sua cama, mirando as costas de Harry.
- Sabe, hum... Acho que essa situação está bem... Hum... Desagradável. – disse o ruivo, tentando manter um tom casual, mas parecia nervoso.
- É. – repetiu Harry, ainda fitando o mapa.
- Eu, bem... Eu acho que nós, não sei, é... Podíamos ao menos nos falar, assim, normalmente, como conhecidos. – disse ele, em voz baixa.
- Talvez. – disse Harry, sem se mover.
- Quer saber? Dane-se o que você vai me dizer. Pode quebrar minha cara se quiser. – começou Rony, numa voz firme, se levantando. – Eu não agüento mais isso, sei que errei e estou completamente arrependido. Gostaria que ao menos você olhasse para mim quando estou tentando te pedir desculpas.
Rony dera a volta e estava agora de frente para Harry que até então não tirara os olhos do mapa.
- Não acha que demorou muito? – disse ele, tentando manter a calma, encarando-o de maneira firme.
- Talvez sim. Mas acho que não houve uma ocasião favorável para conversarmos sobre isso.
- Ah, então você acha que numa ocasião favorável, nós conversaríamos e ficaria tudo bem? – disse Harry, irônico, se levantando também.
- Não quero brigar de novo, melhor... Melhor conversarmos outro dia, você já esta ficando nervoso... – disse Rony dando as costas para o outro, achava completamente inútil ter uma conversa com Harry se ele estivesse a ponto de azará-lo.
- Como não ficar nervoso? Me diz? Como eu faço para não ficar nervoso? – disse Harry, aumentando a voz.
- Não sei, cara. Mas assim a gente não vai chegar a lugar algum. – disse Rony, pacientemente, virando-se para Harry.
- Quem disse que eu quero chegar a algum lugar? – falou Harry, mais alto.
- Se você não quer chegar o problema é seu. Eu quero! – disse Rony, sobressaltado, falando alto também. – Tenho tentado desde o dia que brigamos, mas você não dá uma brecha. Quer saber? Não dá pra manter uma conversa civilizada com você. Acho que o primata aqui não sou eu.
Rony já estava tão vermelho quanto seus cabelos. Os punhos de Harry tinha se fechado inconscientemente.
- Vai querer voltar àquela discussão de novo?
- Não é por causa dela que estamos sem nos falar?
- Ainda bem que você reconhece.
- Nunca neguei isso. Errei. Sei que errei, mas estou arrependido.
- Esse discurso pode ter convencido a Hermione, mas a mim não vai convencer. – disse Harry, quase aos berros.
- Por que você é tão orgulhoso? Por que não consegue olhar pra alguma coisa que não seja seu próprio umbigo? Acha que são só seus sentimentos? Acha que foi só você que sofreu com tudo isso? Não Harry, não foi só você! Fique sabendo que há mais pessoas machucadas com isso. Mas você está muito ocupado tentando se fazer de coitadinho, não é? Tentando fazer os outros enxergarem apenas os seus problemas! Há outras pessoas no mundo que tem problemas Harry, não é só você! – disse Rony, com a respiração descompassada, gritando a plenos pulmões, encarando Harry.
- Cala sua boca. Você não sabe do que está falando. – disse Harry, baixo.
- A verdade dói não é? Dói muito. – retrucou o outro, num sorriso sarcástico.
- Então é pra falar de verdades? Vamos falar então. – disse Harry, avançando um passo em direção ao outro, com a voz novamente alta e um olhar feroz. - Eu posso ser orgulhoso e tudo isso aí que você falou. Mas eu não julgo as pessoas sem que elas se expliquem antes. Também não tiro conclusões precipitadas de coisas que eu não sei como aconteceram.
- Vai me atacar agora?
- Você me atacou até agora. Quero ter o prazer de fazer isso também!
- Já disse que estou arrependido.
- Do que adiante esse arrependimento? A burrada já foi feita, você já magoou, já feriu. Não adianta se arrepender agora.
- Hermione me perdoou.
- Hermione tem o coração muito bom. Ela é muito boa. Me admira muito você ter falado todas aquelas coisas horríveis pra ela, conhecendo-a como ela realmente é.
- Não venha com sermões pra cima de mim. Admita que a situação era pra se pensar que realmente havia acontecido...
- Acontecido o que? Está vendo? Está vendo o porquê de tantas brigas, você só enxerga o que quer enxergar.
- Não é bem assim...
- É lógico que é Rony, é lógico que é. – disse Harry, gritando e respirando com dificuldade. - Conhecemos a Hermione desde que entramos aqui em Hogwarts. Passamos todos os nossos dias aqui dentro juntos. Rimos, choramos, enfrentamos coisas boas e ruins juntos. Férias na sua casa, somos como irmãos. Aí você nos encontra juntos e começa a fazer escândalo, falar coisas horríveis pra ela como se ela fosse uma qualquer... Rony?
- Eu... Eu... Eu não queria...- Rony havia se sentado na cama de Harry, enterrado o rosto nas mãos, enquanto ouvia calado.
- Como não queria? Você quase a chamou de vadia, Rony! Vadia? Ou coisa muito pior... Hermione... Justo Hermione! Como você pôde?
- Eu... – Rony chorava, ainda com as mãos no rosto.
- Você entrou naquele quarto e começou a berrar...
- Eu achei que... que vocês... – ele tentou se explicar, mas situação se agravou mais ainda.
- Achou o que? – rugiu Harry, encima dele. – Achou que eu e Hermione tínhamos transado?
Rony levantou a cabeça, olhos vermelhos e arregalados, rosto molhado em lágrimas. Ele realmente pensara isso, a situação na qual encontrara os dois amigos o fizera pensar isso, mas agora com Harry falando tão claramente, em alto e bom som, tudo parecia um grande equívoco. Como pudera pensar numa coisa dessas, era um absurdo, uma coisa medonha. Como pudera pensar nisso... Harry e Hermione? Nunca... O desespero dele aumentou.
- Não, não foi isso...
- Lógico que foi!
- Não foi!
- FOI! VOCÊ INSINUOU ISSO DURANTE TODO O TEMPO!
Harry explodiu, pegou o primeiro travesseiro que viu e o segurou com força, foi a maneira que encontrou para extravasar o ódio, a raiva e tudo que guardara dentro dele durante aqueles dias. A frustração com Rony, a vontade de parti-lo em pequenos pedacinhos. Num grito de fúria ele puxou o travesseiro para sentidos opostos com as mãos. Penas saíram flutuando pelo quarto no momento que o tecido se rompeu. Sua respiração estava ofegante, tinha certa dificuldade em fazê-la, jogou a sobra do travesseiro no chão e começou a andar de um lado para outro no quarto.
Rony se levantou, depois de algum tempo, parou e encarou Harry.
- Anda, me mata.
- O que? – disse Harry, parando de frente para o ruivo.
- Me mata.
- Mas, que diabos você...?
- Eu mereço. Mereço morrer. Mereço que você me mate. Fui um imbecil, tolo, idiota... Não tem palavras no mundo pra definir o tamanho da besteira que eu fiz. Não sei como pude... Você e a Mione... Nunca. Jamais... Como pude pensar numa coisa dessas? Me mata logo e acaba com isso.
Harry o encarou, confuso.
- Você...?
- Quero que me mate, que acabe comigo. Não há nada mais justo que isso. Assim eu também acabo com esse sofrimento e essa dor que está dentro de mim. Esse arrependimento que não me deixa dormir em paz, a frustração de ter magoado as duas pessoas mais importantes na minha vida. Você e Hermione sempre foram meus amigos, me ajudaram, estiveram comigo e com minha família nos melhores e nos piores momentos. E eu? Fui ingrato. Não fui fiel nem leal a nossa amizade, desconfiei e julguei vocês sem nem ao menos parar pra pensar. É como se tivessem aberto um buraco dentro de mim, e a cada dia rasgasse um pouco mais, uma coisa dolorosa, que vai acabando com a gente aos poucos, nunca vou me perdoar pelo que fiz, nunca mais vou poder encarar você ou Hermione sem me lembrar do quão idiota e ingrato eu fui. Eu nunca mais serei digno de uma amizade com vocês de novo, nunca mais serei digno de nada. Fui cruel e insensível com Hermione, a corrompi da pior maneira que podia ter feito, cheguei ao ponto mais delicado e preservado dela. A dignidade e decência. Julguei você, te acusei de ter se aproveitado dela porque estava bêbada, eu sequer sabia se ela tinha bebido... Falei demais, gritei demais... Cavei minha própria cova Harry, acabei com a minha própria vida. Por mais que eu tente seguir em frente, isso vai estar comigo, dentro de mim, todo o tempo, martelando na minha cabeça. E mesmo que eu tente levar minha amizade com vocês, toda vez que eu os olhar tudo vai voltar à tona e eu não vou conseguir conviver com isso. – Rony suspirou, já nem secava mais as lagrimas que vinham numa quantidade extremamente grande. – Só espero que um dia possa me perdoar, ou pelo menos me dizer um boa noite, sabe...
Harry ouvira tudo em silêncio, vendo as lágrimas e o desespero do amigo naquele discurso arrependido e sincero. Já não agüentava mais aquela situação, não suportava mais a distância, abriu os braços e abraçou o amigo que lhe fizera tanta falta.
- Hei cara, acredito em você, mas não pense que será fácil, vamos recomeçar, aos poucos, tentar reconstruir o que foi perdido. – disse Harry, enquanto sentia Rony se balançar num choro compulsivo em seu ombro.
- Não sei, acho que não mereço Harry, melhor nós três...
- Todo mundo merece uma segunda chance. Que no seu caso é uma terceira. – brincou Harry, se separando do ruivo que limpava o rosto com a manga das vestes.
Rony sorriu meio torto, suspirou e sentou-se novamente na cama de Harry, que fez o mesmo. Passaram-se alguns minutos em silêncio, um respeitando o outro, o tempo um do outro, pra digerir tudo que acabara de acontecer.
- Hum... Acho que... – começou Rony, mas foi interrompido por batidas na porta.
- Entre. – respondeu Harry, estranhando as batidas, já que os ocupantes do quarto não o faziam pra entrar.
A porta se abriu numa brecha e a cabeça de Hermione apareceu dentro do quarto.
- Posso entrar? – perguntou ela.
- Claro. – disse Harry.
A garota entrou e olhou em volta, viu um travesseiro rasgado e penas no chão, os dois rapazes sentados lado a lado, com caras sérias, mas aliviadas, Rony estava mais vermelho que o normal e com os olhos inchados.
- O que aconteceu aqui? Ah, Rony, está tudo bem? – perguntou ela, preocupada, ajoelhando-se na frente do ruivo.
Ele a encarou e sorriu.
- Está sim, bem melhor agora. – ele a olhou com ternura, como se a admirasse. Admirasse a bondade e nobreza dela, a forma como ela era ou simplesmente o fato dela existir. Se sentido o homem mais perverso do mundo em desconfiar e ofender tal criatura. Tomou uma das mãos dela entre as suas e respirou fundo. – Sabe, Mione, você é incrível!
Ela sorriu, ligeiramente corada e confusa.
- Hum, obrigada. Mas eu vim aqui para chamá-los para o jantar.
- Mione?
- Sim? – ela virou o rosto para encarar Harry.
- Lembra o que você me disse ontem à noite? Sobre eu e Rony?
- Sim.
- Você estava certa. E, nós conversamos e chegamos a uma conclusão.
- Qual? – perguntou ela, ansiosa. Olhando de um para o outro.
- Somos um trio desde o inicio. Começamos Hogwarts como um trio, definitivamente não poderíamos sair daqui como uma dupla, certo?
- Ah, que bom. – ela disse, com os olhos brilhando. Ela pegou uma das mãos de Harry com a mão livre. – Quer dizer que tenho meus dois amigos de volta, sem ressentimentos?
- Sem ressentimentos. – disseram os outros dois, sorrindo.
- Maravilha! – disse ela, apertando a mão dos amigos. – É um ótimo presente. Sabe, meu dia não foi muito agradável hoje, mas só isso já o fez valer a pena.
Os três riram e se levantaram; o jantar daquela noite foi bem mais animado. As coisas e as pessoas pareciam ter vida, ter cor. Como há muito tempo não se via. O trio foi dormir naquela noite com a cabeça livre de problemas, o coração mais leve, a vida mais bela. Por mais difícil que fosse aquele ano, eles estavam juntos de novo, tinham um ao outro e tudo fazia mais sentido quando eram os três. Apenas os três.


***

N/a: Esse final do capítulo foi tão difícil de escrever... Vocês não fazem idéia.
Já disse a vocês que tenho dificuldade de descrever essas coisas de muita profundidade emocional. espero ter conseguido alcançá-los de alguma forma.

O que você acharam?
Aiii... Eu fiquei tão orgulhosa de mim mesmo quando acabei esse capítulo!!

Comentem bastante, porque escrever isso foi uma experiência revolucionária na minha carreira de escritora de fics.
Ahushaushauhsuahsuhauhauhsuahsuhasuhaushaushuahsuahs

Amo vocês, demais!

Aqui vai uma propaganda básica: Eu acabei de postar a fic que é a continuação de "Apenas Mais Umas de Amor" , se vocês gostarem, por favor, não deixem de passar lá.

Apenas Mais Uma de Amor:
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=27962

The Way You Are [continuação]:
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=29077



Beijoooo.

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