Decepção.



- Entre! - respondeu Harry, ao ouvir batidas na porta, Hermione entrou no quarto levando a bandeja consigo. - Ah, mas que demora Hermione! - reclamou ele, impaciente.
Ela o olhou com raiva. Estava fazendo tudo àquilo com melhor das intenções, cuidando dele e ele ainda vinha reclamar porque estava demorando.
- Você não está me pagando nada pra fazer isso, ainda tem coragem de reclamar? Não posso nem jantar?
- Não é isso, é que...
- ‘Tá aí, sua janta. - disse a garota, acenando com a varinha, fazendo a bandeja cair com uma força desnecessária sobre a escrivaninha.
- Mione, me desculpe, é que...
- Come logo, antes que esfrie! - disse ela, abrindo a porta pra sair do quarto.
- Espere! - disse Harry, segurando-a pelo braço, voltando a fechar a porta. - Eu fiquei irritado porque...
- Por que...? - disse Hermione, querendo uma explicação.
- Porque Gina me falou que vocês ficaram sozinhos lá em baixo... Você e o Rony. Eu já estava descendo, pra saber o que ele estava fazendo com você...
- Como Gina sabia?
- Ela viu os Srs. Weasley e Gui e Fleur entrando em seus quartos quando veio me ver. Então deduziu que só havia vocês dois lá embaixo.
- O que você acha que ele ia fazer comigo? Me lançar um feitiço ou o quê?- perguntou ela, pouco irritada.
- Ah, Mione, eu só fiquei preocupado... - disse ele, encarando-a.
- Não fique, eu já perdoei o Rony.
- Você o que?- perguntou ele, irado, segurando o braço dela com mais força.
- Isso mesmo que você ouviu, perdoei. Conversamos e eu achei que...
- Você não está bem... Nada bem... Até parece que você não ouviu tudo que ele te disse.
- Não vou mais falar sobre isso, eu o perdoei e pronto! E você devia fazer o mesmo.
- Eu? Não, definitivamente.
- Deixa de se orgulhoso Harry! - disse ela encarando-o de maneira firme.
- Não posso perdoá-lo, nem que eu quisesse, o que ele fez com você foi demais pra mim, ele não merecia seu perdão.
- Mas o problema foi comigo e não com você, porque eu consigo perdoá-lo e você não? - perguntou ela, se soltando dele.
- Eu não sei... - disse ele com a voz fraca. - Eu não sei, só não consigo perdoá-lo, só de lembrar o que ele fez com você eu sinto a mesma raiva que senti na hora, tudo de novo...
- Harry, por mim, esqueça isso. - pediu ela, olhando-o carinhosamente. - Por mim...
- Eu não sei...
- Certo, pense nisso, agora coma. Você já está bem melhor... Achei que os efeitos da bebida iriam durar como duraram em mim, quando tomei champagne. - disse ela mudando de assunto, voltando a pegar a bandeja, dessa vez manualmente e levando para Harry que havia sentado na cama.
- Acho que cerveja amanteigada tem um efeito mais curto, porém mais forte. Lembro muito vagamente do que aconteceu antes de eu dormir. - explicou ele, pegando a bandeja, depois mergulhando um pedaço de pão na sopa de cebola.
- Não aconteceu nada importante para conversarmos agora, amanha conversamos sobre isso. - disse ela, parando onde estava, fitando o prato de sopa de Harry.
- A propósito, sobre o que é a tal conversa que quer ter comigo amanha? - perguntou ele, tomando um gole de suco. Ela não respondeu, continuou fitando o prato, parecia estar viajando. - Mione? Hei... Mione? Hermione... Está me ouvindo? Hermione!- falou ele, alto, tocando o ombro da amiga.
- O que?- falou ela, sem tirar os olhos do prato.
- Perguntei o que... - ele tentou repetir.
- O que Gina veio fazer aqui? - perguntou ela, encarando-o irritada.
- O que?
- Gina... Você disse que ela veio te ver.
- Veio.
- O que ela queria? Conheço a Gina, ela não queria só te ver, queria? - perguntou ela, com um brilho diferente no olhar.
- Bem, ela... Ela veio me perguntar se eu estava melhor, e eu disse que sim. - respondeu ele, nada convincente.
- Não minta pra mim. O que ela queria?
- Não estou mentindo, ela só queria saber como eu estava e...
- E...? - repetiu ela, curiosa, sentando-se na cama, de frente para Harry.
- E... Desejar-me boa noite. - disse ele, sem encará-la.
- Certo Harry, não quer me contar, ótimo... Mas não minta pra mim. Quando você mente parece não confia em mim, portanto, é só dizer que não quer me contar e pronto. Eu respeito seu silencio. - disse ela, com cara de ofendida.
- Ah, Mione, não é isso, confio em você e você sabe disso. - disse ele, encarando-a, meio envergonhado. - Só que...
- Certo, já entendi. Boa noite. - disse ela, levantando-se e torcendo para que ele a chamasse de volta. Talvez, se ela fingisse estar ofendida e indignada, ele contaria o que Gina realmente viera fazer no quarto dele.
- Mas...
- Até amanha! - falou ela, abrindo a porta.
- Espera aí, Mione.
“Isso! Deu certo!” Comemorava ela, em pensamento. “Hei, eu não posso armar assim... Não posso enganá-lo dessa forma... Me fingir de ofendida só pra ele se sentir culpado e contar o que Gina queria? Não posso.”, pensava ela, indignada com sua própria perversidade. “Mas eu preciso saber o que Gina veio fazer aqui... Ela resolveu subir tão de repente, o que ela queria? Um tempo sozinha com Harry no quarto dele? Pra relembrar os velhos tempos? Não, não... ela não seria capaz... Ou seria? E se foi? Ai, abusada!” ela estava em estado de choque consigo mesma “Gina é minha amiga, o que deu em mim pra pensar isso?” perguntava-se ela “Isso se chama ciúmes!” disse uma voz dentro da cabeça dela “Ciúmes? E porque eu teria ciúmes do Harry? Ciúmes dele com a Gina?” “Você sabe muito bem o porquê, só não quer assumir nem enxergar...” “Chega de paranóia Hermione! Vá embora, é o melhor que você faz...”
- Vem aqui, vou te contar tudo. - disse ele, dando-se por vencido, tomando mais um gole de suco e indicando a cama para Hermione se juntar a ele.
- Não Harry, não quer me contar, não conte. - disse ela, tentando escapar da armadilha cuja qual ela mesma criara.
- Mione, por favor, eu preciso mesmo contar pra alguém, e esse alguém não pode ser o Rony. Vem cá, senta aqui e me escuta, pois é uma longa historia.
Ela estava num impasse, não sabia o que fazer. Mas a curiosidade foi mais forte, ela se sentou, novamente, de frente pra ele e o encarou. Então ele começou:
- Eu estava tomando banho e quando saí encontrei ela sentada ali, na cadeira da escrivaninha, eu estava somente com uma tolha enrolada na cintura, afinal de contas, eu não sabia que ela estaria aqui, foi então que ela disse...

***


Rony estava sentado no sofá da sala com cara de bobo, olhando o crepitar das chamas na lareira.
- Que foi Rony? Que cara é essa?- perguntou Gui, sentando-se ao lado do irmão.
- Nada Gui, nada... O que você está fazendo acordado?
- Vim buscar alguma coisa pra Fleur beber... Ela anda tão estressada ultimamente, acho que a viajem ao invés de fazer bem, fez mal.
- Ela nunca foi muito calma...
- Está enjoada, aí como ela me dá trabalho. - reclamou Gui, dando um tapa na própria perna.
- Cadê todo aquele amor da viajem?- perguntou Rony, rindo.
- Hum, eu continuo a amando, muito, só que ela não está bem, está estranha. Agora me deixa pegar alguma coisa pra ela, se não ela vem aqui me dar uma bronca. - disse ele, se levantando e indo para a cozinha.
Rony riu sozinho, Fleur sempre fora enjoada, pena que só depois de casado o irmão se dera conta.
- Bem que dizem... Depois que casa é outra coisa... - ria ele, gostosamente.
Rony ainda viu Gui subir com uma jarra de suco de abóbora e alguns pedaços que sobrara da torta de chocolate, depois o viu descer segurando ainda as mesmas coisas.
- Ué? Por que ela não comeu? - perguntou Rony sem entender o porquê que o irmão voltara, exatamente com as mesmas coisas que fora.
- Ela disse que é muito tarde pra comer torta e que o suco está quente. Mandou-me buscar torradas e leite quente.
- Mal casaram e ela já esta mandando em você desse jeito? - perguntou Rony, espantado.
- Ah, Rony, quando você amar alguém de verdade você vai entender... - respondeu Gui, voltando para cozinha.
- Isso não é amor. Isso é ser cego e não conseguir ver que ela está tentando te dominar. - disse Rony ao irmão, quando este voltava a subir agora com torradas e leite.
Gui fingiu não ouvir o comentário do irmão e sumiu lá no andar de cima. Rony continuou sentando, mas agora, pensativo, tentando encontrar uma maneira de esclarecer as coisas com Harry.

***


- Não acredito que ela disse isso... Não acredito que ela fez isso! - dizia Hermione de pé, andando de um lado para outro na frente de Harry. Estava incrédula depois de ouvir Harry narrar tudo o que acontecera quando Gina viera vê-lo.
- Disse e fez, exatamente como eu te contei. - disse ele, encostando-se a cabeceira da cama, depois de ter colocado a bandeja vazia sobre a escrivaninha.
- Merlim, eu achei que Gina jamais seria capaz...
- Eu também...
- Mas ela disse assim mesmo? Sem rodeios?
- Disse... ‘Harry, eu sei que você tem sentido minha falta então resolvi te dar mais uma chance’ e depois me beijou.
- Ela pensa que é quem pra fazer isso? - perguntou Hermione irritada.
- Calma Mione... Não precisa ficar nervosa... – disse ele, achando graça.
- O que mais me irrita é que ela falou como se você estivesse aos pés delas, implorando por migalhas, só esperando ela te dar outra chance.
- Ela me parecia meio louca. - disse Harry, como se fosse a coisa mais obvia do mundo.
- Você não queria outra chance, queria? - perguntou Hermione, parando de andar e encarando-o.
- É claro que não! - disse ele, categoricamente. - Desencanei da Gina faz tempo, não sei o que a fez pensar que eu...
- Ela sente sua falta, eu sei que sente. – ela começou, voltando a andar de um lado para outro. - Sabe Harry, ela gostou muito de você, desde que ela te viu pela primeira vez. Depois de muito tempo vocês ficaram e tal, aí ela desencantou sabe, caiu na real que tudo não passava de uma paixonite de menina. Você é um herói Harry, muitas garotas são apaixonadas por você.
- Eu não sou um herói! E não quero montes de garotas correndo atrás de mim...
- É claro que quer Harry, todos os garotos querem... Mas voltando ao assunto da Gina, enquanto nós estávamos na Toca, ela estava muito bem, nem um pouco abalada com o fato de você ter terminado com ela.
- Antes de nós virmos pra cá, ela disse que estava tudo bem, que era passado.
- Ela disse isso porque já estava de rolo com um outro garoto.
- Já? Assim tão rápido? - perguntou Harry surpreso com a agilidade da ruivinha.
- Gina é bonita e popular, Harry, há muitos garotos atrás dela... Pois então, eles estavam ficando e bem...
- O que Mione?
- Eu não devia estar te contando isso, mas essa deve ser a única resposta pra loucura que ela fez hoje... - dizia Hermione, baixo.
- Fala logo!
- Ela foi traída. Sabe como é a Gina, ela nem estava gostando tanto do rapaz, nem era nada sério. Mas pra ela, a última coisa que poderia acontecer no mundo é ela ser traída. Ela sabe que é bonita, popular e tal, então ela achou que isso nunca aconteceria com ela. Pois então, ela caiu das nuvens.
- E o que isso tem a ver com a loucura que ela fez hoje? - perguntou ele, ainda sem entender.
- Harry, Harry... Pelo fato dela ser tão popular e cobiçada, como a ultima bolacha do pacote, ela acha que conseguirá o que quiser e na hora que quiser, então ela entrou aqui com essa historinha de ‘vou te dar outra chance’ achando que você cairia, aí a auto-estima dela levantaria de novo entende? É uma questão de ego.
Harry a olhou impressionado e não falou nada por algum tempo.
- Como sabe de tudo isso? - perguntou ele, por fim.
- Algumas coisas ela me contou, a maior parte delas... Outras eu deduzi e outras... Bem...
- Fala!
- Tenho minhas fontes...
- Você tem fontes? - perguntou Harry, incrédulo.
- Não que eu queira saber exatamente, mas sabe como é... As notícias correm...
- Sei como é... - disse ele, nem um pouco convencido.
- Ah... Ela também aproveitou porque você estava sob o efeito da bebida, achou que poderia te enrolar, te seduzir...
Os dois se calaram, de novo, mas dessa vez por mais tempo.
- Você correspondeu ao beijo? - perguntou Hermione, de supetão, sem conseguir se segurar.
- Hãm? O que disse?- perguntou Harry, confuso.
- Perguntei se você correspondeu ao beijo. - repetiu ela, encarando-o muito séria.
- Por que isso, Mione? Por que essa pergunta agora?
- É... - só então ela tinha se deu conta da burrada que fizera “Isso é coisa que se pergunte? Ai, sua idiota, o que você ter a ver com isso?...” - Por causa da Gina, sabe, pra não dar falsas esperanças a ela. Você disse que desencanou dela, porém, se você correspondeu ao beijo isso a fará pensar que você ainda sente alguma coisa por ela. Não quero vê-la sofrendo mais, sabe... - falou ela, ainda séria, sem nem acreditar no que dizia.
- Hum... Claro, pra não dar falsas esperanças a Gina. - Harry pareceu ligeiramente decepcionado. - Não, não correspondi, quando ela veio pra cima de mim e a segurei, depois a empurrei pra fora do quarto. Na verdade, quase que não houve beijo, nem dá pra considerar aquilo um beijo. Mas eu confesso que fiquei assustado com a atitude dela.
- Quem não ficaria? - disse ela, baixo, voltando a se sentar na cama de Harry. Ela não sabia o que pensar, como Gina teria tido coragem, ela jamais imaginara Gina se atirando pra cima de um garoto dessa forma, muito menos pra cima de Harry. “Orgulho ferido... Esse é o problema dela.” Pensava a garota que abaixara a cabeça e fitava o tapete puído entre o pequeno espaço entre suas pernas, “Quanta decepção num só dia... Primeiro Harry, depois Gina. Pelo menos eu e Rony estamos o.k....” pensava ela, ainda fitando o tapete, mas sem perceber o que realmente olhava. “Harry... Ah Harry, qual é o seu problema? Por que beber pra esquecer e depois chorar me dizendo todas aquelas coisas? De alguma forma, alguma esperança nasceu em mim, só não sei o porquê, nem pra quê... Mas por que tinha que estar bêbado pra poder me dizer tudo aquilo? Será que sóbrio você não tem coragem? Ou quando está sóbrio não sente nada daquilo?” ela estava completamente confusa e cansada. Não sabia mais no que pensar, como pensar, seus pensamentos se embaralhavam numa velocidade incrível em sua cabeça.
- Mione? Está tudo bem? - perguntou Harry, depois de muito tempo em silêncio, observando a amiga.
Hermione levantou a vista e o olhou, agora ele estava ajoelhado na frente dela, com um olhar preocupado.
- Está tudo bem sim Harry, é só cansaço. - falou ela, com um sorriso fraco.
- Está triste com o que?
- Não estou triste, já disse que é cansaço. - repetiu ela, tentando ser convincente, mas sem sucesso; ela estava triste, cansada e decepcionada. Mas queria conversar sobre isso amanhã, não naquele momento, todos os acontecimentos estavam muito recentes.
- Não quer me dizer o que está acontecendo? - perguntou ele, apoiando uma das mãos no joelho da garota.
- Harry, não se preocupe...
- Como não me preocupar?
- Harry, quem estava mal aqui é você, eu que tenho que me preocupar. - falou ela, fazendo menção de se levantar, mas ele a puxou de volta.
- Você já cuidou de mim, e eu nem te agradeci... Obrigado.
- Harry...
- Obrigado por se preocupar comigo, por cuidar de mim, por me deixar dormir no seu ombro e me agüentar bêbado. - disse ele, sorrindo.
- Ah... Não precisa agradecer, não... - Hermione não conseguiu mais segurar aquela angustia reprimida dentro de si e começou a chorar. Harry viu uma lágrima saltar do olho da garota e rolar pelo rosto delicado dela, depois dessa, vieram muitas outras, ele não entendia o porquê do choro.
- Mione... - disse ele, baixinho, colocando as duas mãos no rosto dela, como se o segurasse, secando as lágrimas da garota com os dedos polegar. Hermione se lembrou que não havia muito tempo, tinha feito a mesma coisa com Harry.
- Por que você fez isso? Por quê? - falou ela, deixando as lágrimas rolarem pela sua face livremente.
- O que? O que eu fiz? - perguntou ele, desesperado com o fato de ser o motivo do pranto da garota.
- Por que bebeu daquele jeito? Eu ainda não consigo acreditar...
- Mione, eu...
- Você bebeu para esquecer seus problemas Harry? Bebeu pra esquecer? Eu não consigo acreditar, não quero acreditar... - dizia ela, encarando-o.
- Eu...
- Eu entendo que você tem problemas, entendo que são muitos e muito difíceis de resolver... Mas você sempre foi meu exemplo de força, de determinação, de coragem... Você é minha base, meu porto seguro... Você faz idéia de como eu fiquei quando te vi ali sentado, amarrotado, soluçando e falando coisas sem sentido? Você consegue imaginar minha decepção?
Harry a olhou, ela tinha um olhar triste e descrente. Ele também se sentiu imensamente triste por tê-la magoado, por tê-la decepcionado. Via lágrimas rolarem no rosto da garota e sabia que era o culpado por cada uma delas... Não existia nada pior no mundo, para Harry, do que vê-la triste, pior ainda era vê-la descrente e decepcionada por causa dele. Ele ficou tão magoado que a culpa não permitiu que ele continuasse a olhando, apenas abaixou a cabeça e Hermione tirou as mãos dele de seu rosto. Depois de algum tempo ele levantou e andou até a sacada onde um vento gélido bateu em sua face. O céu estava num azul profundo coberto de estrelas, Harry poderia julgar como uma noite perfeita, se não fosse a tristeza imensa que ele sentia dentro de si. Hermione ficou ali, na cama, sentada por mais alguns minutos, depois levantou e foi até Harry, sentiu o vento frio da noite brincar com seus cabelos. Ela se pôs de frente para ele e o encarou, ele fez o mesmo por alguns segundos, depois desviou o olhar.
- Harry, quero deixar claro que compreendo seus problemas, sei a gravidade e amplitude de cada um deles e estou disposta a enfrentá-los ao seu lado. Também sei que não se pode ser forte o tempo todo, ninguém agüenta. Mas uma coisa é se ver num momento que a força se esvai e ainda ter consciência dos problemas que tem que enfrentar e procurar recuperar a força perdida; outra coisa, completamente diferente, é ver a força esvair-se e tentar esquecer do mundo, dos problemas e o que é pior, é não tentar encontrar e recuperar a força de novo. Eu sinto muito Harry, sei que não tenho nada a ver com isso, sei que você não me deve nenhuma satisfação e que eu não devia estar aqui te falando tudo isso, muito menos estar decepcionada pela maneira que você leva sua vida. Mas você é muito importante pra mim, e eu não suportaria vê-o desistir dessa forma.
Ele ingeriu tudo que ela disse e a entendeu perfeitamente, ficou feliz em saber que era importante pra ela e que ela estava disposta a enfrentar todos os desafios ao seu lado, porém a tristeza absurda que ele estava sentindo não deu trégua.
- Eu fui fraco. - disse ele, com a voz fraca, ainda sem encará-la.
- Não. Não foi fraqueza.
- E falta de força é o que?- disse ele, finalmente encarando-a. Hermione viu uma lágrima solitária rolar no rosto do rapaz.
O coração dela se partiu naquele instante. O vento frio batia com força contra eles, que estavam arrepiados e com a face vermelha. Um silêncio profundo, como a noite que se estendia lá fora, caiu sobre eles. Mas não era um silêncio qualquer, era um silêncio que dizia muita coisa. Eles entendiam perfeitamente o sofrimento e a dor um do outro naquele momento, ambos sabiam disso, da tristeza, da magoa, da decepção, do arrependimento... Naquele silêncio era possível entender e ver o quão forte era a amizade dos dois.
Harry andou até a balaustrada que rodeava a sacada, se apoiou nela e olhou para noite escura e sem fim, viam-se estrelas no céu se estender pelo infinito, era assim a tristeza que ele sentia dentro de si, infinita, não se conformava de ter magoado Hermione, tê-la decepcionado daquela maneira. Era uma dor tão terrível que não havia palavras que a explicasse. Como ele pudera cometer tantos erros com ela em tão pouco tempo, àquela hora, naquela mesma sacada, na noite anterior, ele estava a beijando, mesmo ela estando completamente alheia a tudo que estava acontecendo; depois, sentado ali no chão, completamente bêbado falando coisas sem sentido pra ela, das quais se lembrava vagamente. Tudo passava na cabeça dele como um filme, cada vez doía mais dentro dele e mais uma lágrima teimosa desceu em seu rosto gelado...
Hermione o observava de longe, com frio, o entendia, mas se sentia triste pela atitude dele; ela também sabia que ele a entendia e estava triste por tê-la decepcionado. Os dois se entendiam perfeitamente bem, não era preciso palavras. Ela decidiu ir embora, olhou para ele uma ultima vez e se virou, caminhou lentamente até a porta dupla que havia do quarto para a sacada, mas sentiu a mão gelada de Harry tocar na sua, que se mantinha quente. Ela se virou e encarou o rosto triste e vermelho do rapaz, eles se olharam por muito tempo, até ela dizer:
- Acho que nenhum de nós está em condições de falar mais sobre isso, amanhã talvez... - ela abriu um sorriso meigo e tímido, ele achou graça e sorriu também, enquanto outra lágrima solitária escorria em seu rosto. Ela tocou o rosto dele com a mão livre e secou a lágrima, percebeu que o rosto dele estava extremamente gelado, foi um choque quando entrou em contato com a mão quente da garota.
Depois de secar a lágrima, Hermione abriu completamente a mão fazendo a palma esquentar a bochecha do rapaz.
- Está quente... - disse ele, sorrindo pra ela.
- Você que está frio. - disse ela, também sorrindo e soltando a mão do garoto pra poder esquentar a outra bochecha dele, da mesma maneira.
- Me perdoa? - disse ele, voltando a ficar sério.
- Já perdoei, não tem como ficar brigada com você. - disse ela, ficando séria também.
- Me desculpa por ter te magoado e te decepcionado, isso não vai se repetir, eu não sei o que deu em mim... - ele tentou se explicar.
- Não precisa explicar Harry, eu sei exatamente o que aconteceu e o que você está sentindo, não me precisa me falar nada. - Ela escorregou as mãos do rosto dele e o enlaçou pelo pescoço, depois o abraçou. Ele a enlaçou pela cintura e retribuiu o abraço. - Quer saber a verdade? - perguntou ela, no ouvindo do rapaz, numa voz divertida.
- É claro que sim. - respondeu ele, sem vacilar.
- Não vivo sem você.
Nenhum dos dois soube explicar o que aconteceu exatamente naquele momento, eles apenas se calaram e se encararam ainda abraçados. Ele sorriu um sorriso bobo e ela um sorriso sincero. Sem muita demora e ainda em silêncio, eles foram dormir.

***

N/a: Aaaah, como eu amo esse final de capítulo!!!

- Está quente... - disse ele, sorrindo pra ela.
- Você que está frio. - disse ela, também sorrindo e soltando a mão do garoto pra poder esquentar a outra bochecha dele, da mesma maneira.


Minha parte preferida, tenho que dizer!


Ai, ai... Deixando a minha falta de modéstia de lado: Gente, o que vocês acharam do capítulo? E do tamanho dele? Muitas coisas aconteceram, hein? Vocês vão ter muito o que comentar.

Visto que esse capítulo é enorme [e tem bem maior que isso, aguardem!], eu espero que os comentários dobrem de tamanho! [Huhu!] E os aviso que talvez demore mais um pouco as att’s porque com capítulos grandes a partir de agora, eu levo muito mais tempo pra escrever: isso quer dizer um pouco mais de tempo pra atualizar. Mas eu não vou deixá-los na mão jamais. Quem sabe uns bons comentários não apressem as coisas?

Espero que tenham gostado, que comentem e quanto aos agarramentos, realmente vai demorar o próximo, mas tantas coisas acontecerão nesse meio de tempo que você nem sentirão falta. Acreditem!

Beijos a todos e muitíssimo obrigada a todos os que comentaram!

Amo vocês.

Beijoooos.

Paulinha.





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