A História do Elfo



Quando o fogo se revogou, Harry sentiu a brisa do crepúsculo bater nos seus cabelos, deixando á vista somente o castelo conspícuo. Estava longe, fora dos muros de Hogwarts, mas tinha nas mãos seu único amparo: a Espada de Godrico Gryffindor. Sua visão podia alcançar o único vilarejo inteiramente bruxo da Grã-Bretanha, e com suas luzes apagadas, Hogsmeade parecia bem mais sombria do que vira há pouco. Ao seu lado, o garoto viu a fênix de fogo brandir as asas e grunhir chamando sua atenção.
Não podia permanecer ali, pois a Armada da Morte estava dentro do castelo, cuidando para que o terror abrangesse todo o local.
- Me leve de volta, Fewkes! – murmurou Harry para o animal, mas a criatura apenas piscou os olhos, soltando um ruído alto e sonoro em resposta.
- Preciso que você me leve de volta, – insistiu o garoto. – por favor...
Fewkes apenas olhou em seus olhos, mexeu as asas e tornou a fechá-las. Andando no caminho da estrada do vilarejo, a fênix abriu as asas e voou, na direção de Hogsmeade.
Sem saber se o gesto fora resposta, Harry seguiu a criatura correndo. Aproximando-se cada vez mais da vila, ele notou que até mesmo o Três Vassouras estava só, sem luzes para iluminar o belo bar.
O animal aterrisou sobre o caminho de pedras, próximo ao morro que embelezava o vilarejo de Hogsmeade. Harry chegou exausto perto da criatura e perguntou ofegante:
- O que você pensa que está fazendo?
Antes de qualquer outra resposta, a primeira delas veio do céu, e pousou num estrondo ao seu lado.
- Hannie! – admirou-se Harry, vendo que a dragão trazia nas costas escamosas várias outras criaturas pequenas, que de longe se viam só suas orelhas de morcego.
Os elfos pularam para o chão, todos marcados com uma marca no braço, que Harry nunca tinha visto dessas criaturas, mas lembrava-se dela. O último a pular, foi o seu elfo preferido.
- Como vai o Harry Potter? – murmurou Dobby, numa reverência longa até o chão.
- Olá Dobby! Estou ótimo...
Quando o elfo se levantou da adoração, logo de trás dele saiu outro bem conhecido, mas que Harry não suportava ver seu rosto.
- Monstro veio proteger meu Senhor! – grunhiu Monstro, numa reverência mais demorada do que a de Dobby, assim deixando seu difuso nariz tocar as pedras do chão.
Os outros elfos também murmuraram algumas palavras de veneração formando um tumulto, talvez querendo em troca algum crédito de Harry Potter.
- Ah, tudo bem... tudo bem! – gritou Harry, em meio à confusão.
Imediatamente as criaturas pararam de falar, permitindo, assim, que o garoto pudesse dizer:
- Por favor, alguém pode me dizer o que está havendo?
Um dos elfos pulou para frente.
- Viemos para ajudá-lo, Senhor! – resmungou ele.
- Dizendo melhor, Senhor... precisamos de sua ajuda também. – falou Dobby.
- Minha? Ah, claro... – disse Harry meio confuso. – Antes... queria saber o por que dessas... – e apontou para as marcas nas peles deles.
- Desses brasões? – pronunciou Monstro, curvando ligeiramente o braço para olha-la – São as marcas da nossa nova escravidão, Senhor. – e murmurou algo bem baixinho, mas Harry percebeu que não fora para ele. – A marca da Esquadra Maligna, Senhor.
Ao entender o que o elfo quis dizer, Harry sentiu o ânimo afundar. Não acreditava que até mesmo Voldemort estava escravizando os elfos domésticos, nem conseguia entender o porquê disso, já que havia muitos Comensais da Morte á seu serviço.
- A Armada da Morte...
- Sim, Harry Potter! – exclamou Dobby infeliz, virando seus enormes olhos para o chão. – E é por isso que solicitamos seu apoio! – e olhou-o novamente, agora mais afoito.
O garoto olhou os elfos e o enorme dragão que repousava à sua frente. Ele imaginou que se não ajudasse esses seres logo, em pouco tempo as forças da Armada da Morte poderiam piorar a situação. Assim, então, resolveu por ajudá-los.
- O Senhor é o melhor, Harry Potter! – falou Dobby noutra reverência, assim intuindo todos os outros elfos a fazerem o mesmo gesto.
Sua cicatriz agora ardia mais a cada segundo, e não podia negar. Sabia que, sem ele, Hogwarts corria mais perigo do que antes, por que Voldemort talvez estivesse travando novamente a luta achando que Harry desaparecera por obra dos moradores da escola.
Sem ter como agüentar mais, deixou se penetrar na mente do Lorde, assim vendo o que ele fazia. Andava pelos corredores sujos do castelo, olhando aquelas pessoas asquerosas presas nas correntes, então uma delas se levantou protestando:
- Você está mentindo! – disse num brado esganiçado.
Harry lançou o próprio punho na menina, a fazendo calar-se quase caindo no chão. Aproximando o rosto perto da cara ensangüentada da garota, ele falou num tom de orgulho:
- Eu matei Harry Potter.
- N-não é verdade! – murmurou Gina Weasley abaixando o rosto, e deixando lágrimas de consternação deslizar e irem para o chão.
A menina que se encontrava amarrada atrás da outra, cochichou audivelmente no ouvido de Gina:
- S-sentimos muito também! Mas p-parece ser r-realmente...
- Verdade. – sussurrou firmemente o garoto de cabelos ruivos que mirava a irmã por trás do ombro.
Voldemort parou de andar, olhando para os adolescentes amarrados em longa fila aos seus dois lados. Alguns deles o encaravam com voracidade, como um que sabia pertencer ao casal Longbottom. Mas a maior parte dos alunos mantinha-se calados e de cabeça baixa.
- Não adianta fazer cara de mau – falou para o garoto Longbottom – Você não me intimida.
- Por que não os manda limpar o chão, Milorde! – disse a voz de Bellatriz, num tom de zombaria. – Está um pouco fedido aqui...
- Vamos, Bella... cuide de seu serviço, pois o trabalho deles logo será cumprido. – murmurou Harry, pedindo para que voltasse para o fim do corredor.
A moça baixou o sorriso e caminhou para onde ele apontara, sem se atrever a protestar ou dizer algo a mais.
Podia mentir o quanto desejasse, pois sabia que não eram eles que haviam participado do sumiço do garoto. Se Potter se mantesse longe por um tempo, o que ele achou muito provável nessas circunstancias, seria bem mais fácil escravizá-los com a agonia do seu excepcional herói morto.
Voltando onde se encontrava, nos terrenos fora de Hogwarts, Harry viu os elfos correndo á sua volta.
- Nós precisamos voltar logo para o castelo! – falou ele se levantando rapidamente.
- O Senhor está bem? – disse Dobby arfando o peito.
- Estou sim! Voldemort está torturando todos lá dentro, e está dizendo para eles que eu morri pela suas mãos.
- O Lorde das Trevas... tão maldoso! – rosnou Monstro felizmente.
Ao longe, podia-se ver o castelo alcácer com todas as suas luzes extintas, tenebroso e cada vez mais sombrio. Harry notou que pequenos pontos negros sobrevoavam o local, criando uma névoa densa carregada ao redor de Hogwarts.
- Harry Potter precisa chegar ao castelo – disse uma elfo, por trás de Dobby. – Podemos ajudá-lo com certeza, afinal, elfos domésticos podem aparatar até mesmo em um local protegido...
- Podem?! – exclamou Harry, olhando agora para a criatura.
- Sim senhor! – falou Dobby.
Uma luz no fim do túnel. Era isso que aparecera. Se eles pudessem aparatar para dentro do castelo, claro que isso ajudaria, e muito.
Harry colocou a mão na bolsinha do pescoço, tentando encontrar sua varinha, mas lembrara que havia deixado ela em Hogwarts. Em compensação, uma espada repousava em sua mão suada, dando-lhe, assim, mais segurança.
Quando tirou a mão da bolsa, algo caiu titilando metal. Notou que guardara ali dentro uma das partes do medalhão de Slaytherin partido. Antes que a pudesse pegar, viu que Monstro correu em apanhá-la para devolvê-la. Assim que direcionara para as mãos de Harry, seus olhos brilharam.
- O medalhão do meu Senhor! – resmungou Monstro, tirando a peça das mãos do garoto. – O medalhão do meu Senhor legítimo!
- Senhor? – grunhiu Dobby, agarrando a parte do medalhão da mão do elfo. – Isso não pertenceu ao Senhor das Trevas, Harry Potter?
- É. – confirmou Harry.
- Ele foi roubado, meu senhor! – guinchou Monstro, olhando feio para Dobby. – Foi roubado pelo Lorde das Trevas, das mãos do meu senhor.
- E quem é o seu senhor? – interrogou Harry curioso.
Monstro tomou velozmente a peça do outro elfo, olhando-a contra a lua do céu, talvez tentando encontrar detalhes imperceptíveis.
- Régulo Arturo Black! – exclamou o elfo com um grande orgulho estufando pelo peito.
- Régulo? – disse Harry, agora bem mais interessado. – Irmão do Sirius?
- Bah! – gemeu Monstro, num bufo. – Aquele irmãozinho nojento dele... ainda bem que...
- Não se atreva a falar mal do Sirius, Monstro! – alertou Harry, apertando com força a espada.
Então, o elfo calou e admirou Harry com seus olhos saltados, abraçando afetivamente o meio medalhão, como se fosse um filho.
- Meu senhor.... morto injustamente! Devia não ter ouvido sua ordem, ou estaria vivo...
- Me explique como ele foi morto. – pediu Harry.
Monstro girou seus olhos para o redor, olhando para o insigne dragão e para os outros elfos.
- Meu senhor estava á serviço do Lorde das Trevas... sempre tão prestativo – começou o elfo, parecendo imaginar cada cena que contava – Um dia, senhor saiu de casa junto á Monstro. Lorde das Trevas disse ao senhor Régulo que colocasse essa peça a um lugar seguro. – e olhou para o medalhão, depois retomou o olhar para Harry – Meu senhor foi a uma caverna, bem longe daqui. Quando chegamos lá, havia um grande lago negro... e um pequeno b-barco...
Harry se lembrou da vez que fora com Dumbledore a esse lugar, lembrando da água escura e da névoa sombria que cobria.
“Meu Senhor pediu para que Monstro fosse com ele.”, continuou a criatura olhando, agora, fixamente para o medalhão, “Assim Monstro partiu com meu senhor Régulo no barco apertado. Enquanto Monstro estava naquela embarcação, sentia que não... havia somente Monstro e meu senhor Régulo ali...”.
Podia-se ver no rosto lívido do elfo certa insegurança nas palavras Monstro.
- Meu senhor Régulo e Monstro alcançaram... a outra margem do lago funesto... – a partir daí, era evidente o medo no rosto de Monstro, pois seus enormes olhos estavam cada vez mais arregalados. – E assim que meu senhor desceu, Monstro foi atrás, e foi uma bacia de mármore... muito... muito b-bonita... – falou com uma mescla de fascinação e temor. – Senhor Régulo pegou o medalhão que lhe pertencia, mas que fora roubado pelo Lorde das Trevas, para transformá-lo em sua relíquia, e colocou-o dentro da bacia. Encheu-o com um liquido alvejado, aparentemente plácido...
O elfo parou e demorou a continuar, para enxugar uma lágrima que escorria sobre sua pele de sapo.
- E depois? – perguntou Harry.
- D-depois... depois meu senhor Régulo tentou sair da... ilha... m-mas... e-ele...
O elfo caiu num choro escandaloso, num pranto que Harry nunca imaginara que Monstro iria fazer.
- Monstro! Monstro pára! – falou Harry, pegando nos pulsos do elfo, que acertavam a própria cabeça aos murros. – Chega Monstro!
Assim que o garoto ordenou, o elfo abaixou as mãos, levantando uma delas novamente ao rosto para limpa-lo.
- Desculpe senhor! – disse Monstro, num tom incrivelmente amigável.
- Conte-me com calma... ãn, por favor, Monstro. – pediu Harry, controlando a voz para ser o mais suave possível.
Monstro secou a cara uma última vez, e continuou, mas ainda não tão razoável:
- Meu senhor R-régulo tentou s-sair da ilha. Quando Monstro e o senhor tentaram procurar o barco que tínhamos ido... o barco desaparecera... e... e... então senhor Régulo p-pisou na água... e da á-água saíram m-mãos que agarram cruelmente m-meu s-senhor...
Mais uma vez, o elfo entrou em pânico.
- Continue! – gritou Harry, no meio da confusão de berros que Monstro criava.
- As mãos cruéis l-levaram meu senhor Régulo para baixo do lago... mas... antes... meu senhor pediu que eu levasse o medalhão embora... q-que Monstro não o deixasse lá... e... q-que Monstro f-fosse e-e-embora...
A criatura levou as mãos para dentro dos panos que lhe protegiam o corpo, e retirou um lenço florido, assuando o nariz trombudo.
- Você conseguiu tirar a Horcrux da bacia? – indagou Harry, reparando que Monstro não continuaria por si.
- Monstro fez tudo que s-sabia... – retomou sua história – Monstro tentou... não c-conseguiu... M-monstro tentou de novo... e t-tornou a não c-conseguir... Monstro fez n-novamente... novamente não conseguiu...
- Nós elfos domésticos devemos obedecer as ordens do nosso mestre sempre, Harry Potter – justificou Dobby, agora parecendo abalado com a situação do companheiro. – Do contrário devemos nos castigar... no caso de Monstro eternamente... até a morte.
- Conseguiu tirar a Horcrux então? – perguntou Harry, ainda bem interessado em saber sobre essa questão.
- N-não senhor. – falou Monstro.
- Então... como você parou de se castigar... ãn...
- Monstro r-recebeu mais uma ordem do mestre, d-depois disso. – disse o elfo, com os olhos brilhantes para a lua – Monstro s-sabe que meu senhor Régulo não está m-morto!
- Como não? – cochichou Harry para si mesmo, imaginando que ninguém humano escaparia daquele lago mortífero.
Harry tinha de ir salvar Hogwarts. Agora, se levantando, com a espada de prata nas mãos, sem varinha e sem sua capa de invisibilidade, seria muito mais difícil de cumprir isso. Além de tudo, todos o viam como morto dentro do castelo, a não ser o aleivoso Voldemort.
- Devemos partir agora. – disse Harry, olhando para os elfos.
- O senhor precisará de mais do que um exército de elfos fracos. – falou um dos elfos ao lado de Monstro, que agora se recompusera na multidão.
- Precisará de um exército de criaturas mágicas! – disse Dobby exaltado.
De trás do morro, ao lado das lojas de Hogsmeade, por cima das casas, surgiram criaturas mais inimagináveis do mundo. Pelo céu vinham lindos hipogrifos, fortes testrálios e enormes dragões. Por terra, passavam os gigantes colossais, grifos ferozes e pomposos Oneros. Haviam também outras feras vindo de todos os lados, assim, formando um exército das mais exóticas criaturas existentes do mundo bruxo.
- Nossa! – admirou-se Harry, incapacitado de acreditar que houvesse tantas variedades de animais que fossem vistos pelos bruxos.
- Todos nós estamos ao seu serviço, nosso senhor! – falou Dobby, numa reverencia mais exagerada.
- Não acredito... todos eles vão me ajudar? – perguntou Harry, ainda incrédulo.
- Todos – falou Monstro, dando o primeiro sorriso que Harry já vira.
- Há somente uma maneira do senhor se comunicar com os que não entendem a língua humana. – disse Winky, a elfo que Harry conhecia há um tempo, mas que só a notara ali agora.
A elfo tirou de dentro dos trapos um vidro de poção bem dourada, tapada com uma rolha.
- Vocês já vieram mesmo preparados – indagou Harry impressionado.
- Sim senhor! – disse Winky destapando o frasco, indicando-o para Harry – Se o senhor quiser...
Harry pegou o vidro cheio do liquido cor de ouro. Cheirava um pouco mal, mas sabia que precisava para ajudá-los na batalha que estava por vir.
- Não é veneno, senhor. Comprovamos! – grunhiu um dos elfos.
O garoto sorriu, indicando sua confiança em todos eles e tomou a poção num único gole.

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