O quadro e suas lembranças



No dia seguinte, depois que apareceram na cabana de Hagrid pedir mais planta de Matuana para o trabalho, os três amigos foram para a aula de Defesa contra as Artes das Trevas.
- Hoje - começou o professor fechando a porta da sala - Estaremos, como combinado, examinando a planta que pesquisaram, para o inicio do nosso trabalho sobre o Naquários. Trouxe comigo - apontou para um tanque coberto com um pano azul iluminado - um Naquário. Vocês terão que alimenta-lo com a matéria que trouxeram e veremos se há reação. Lembrem-se de que esse animal é apenas um recém-nascido.
- Uau! – falou Rony - Recém-nascido. Imaginem como seria com um adulto desses!
O professor pediu aos alunos que fizessem uma fila em sua frente e tomassem em mãos as plantas. Alguns dos colegas de Harry tiveram pouca sorte, pois as plantas que haviam trazido não tinham dado reação alguma no animal. Ou em vez te atordoá-lo, o bicho acabava mais agitado e nervoso, e a maioria das vezes, atacava com sua longa cauda ferrosa. Harry e Rony tiveram sorte de ter Hermione como amiga, pois ela garantira dez pontos para cada um dos três, ao dar ao Naquário a planta de Matuana, fazendo-o adormecer no mesmo instante.
- Ainda bem que você, Hermione - comentou Rony ao saírem da sala, em direção a Sala Comunal. - tinha lido aquele livro Criaturas das Profundezas Marinhas... e alguma coisa assim!
- Acho que fomos os únicos que saímos ilesos da sala. - disse Harry, vendo que faltavam muitos colegas da sua série nas mesas da Grifinória e da Corvinal.
Hermione foi para a aula de Estudo dos Trouxas, enquanto Rony e Harry ficaram na Torre da Grifinória, conversando.
- Sabe - disse Rony colocando um sapo de chocolate na boca - Acho que se Mione não fosse nossa amiga... talvez não teríamos tanta sorte assim.
- Pra mim - disse Harry pegando um pergaminho e desenhando nele. - Você e Hermione são mais que amigos.
- Quê? - exclamou Rony, fazendo Harry cair na gargalhada - Para de rir! Lógico... que... é... nós somos... só amigos... só isso! Por que você está rindo?
Harry parou de rir e explicou.
- É... é que você diz isso como se eu não soubesse! Vai Rony, fala aí... eu te falei quando eu gostava da Cho... e quando comecei a gostar de sua irmã! Fala aí cara!
- Aaah! - exclamou Rony. Harry abafou uma risada pelo nariz. - Para com isso! Eu não gosto...
Mas Harry o olhou sério nos olhos – pelo menos tentou. Achou que Rony não poderia continuar a mentir.
- Ah... OK! - disse vencido - OK. Mas só digo alguma coisa se você para de rir. Assim está melhor... eu...
Mas ele parou e ficou observando a lareira pensativo com os olhos vidrados.
- Você... - disse Harry
- Eu... eu... - ele olhou para os lados, para cima das escadas, e para trás das poltronas, antes de cochichar no ouvido de Harry: - Gosto sim... desde o terceiro ano!
Harry deu uma palmadinha nas costas de Rony e disse:
- Demorou muito, ein? Tava na cara Rony!
- Mas... se você contar pra ela ou para alguém...
- Pode deixar, não direi nada! Juro!
Rony puxou os dedos de Harry para ver se ele não os cruzava.
- OK. - terminou Rony se levantando para ir ao dormitório.

Á noite, os três amigos voltaram da aula de poções, nas masmorras. Hermione se deixou cair num cochilo na hora em que realizava sua tarefa, na Sala Comunal. Enquanto isso Harry tentou convencer Rony de que ele não poderia esconder mais o amor secreto dele por Hermione. Mas o amigo lutou com todas as forças até que Hermione acordou.
- O que vocês acham que estão fazendo? - disse tentando abrir os olhos.
- Chegou sua hora, amigo! – cochichou Harry no ouvido de Rony. – Conta para ela...
- Ah - começou Rony. Harry percebeu que o amigo havia ficado com as orelhas muito vermelhas. - Eu... Eu... É... Mione... Eu...
- Desembucha! - exclamou Hermione nervosa.
O amigo deu um pequeno empurrãozinho de apoio em Rony.
- Eu... Ah...
O garoto apertava os pulsos.
- Q-queria que você me ajudasse na lição...!
Harry bateu com a mão na testa. Hermione bufou e depois falou:
– Tudo bem... mas é a ultima vez!
Rony parecia que ia desmaiar. Estava branco, com destaque de suas orelhas extremamente vermelhas.
A garota pegou uma pena, e foi até a mesa.
- Você me passar a lição, ou vai ficar aí parado, esperando eu fazer tudo?
- Rony... – murmurou Harry.
Harry balançou a cabeça. Resolveu então ir deitar-se.
Subiu até o dormitório. Deitou na cama, depois de vestir seu pijama. Adormeceu mais rápido que esperava...
Ouviu uma voz... bem distante... falava alguma coisa... mas ele não podia entender o que era. Era um voz fria e colérica. Até que conseguiu distinguir que dizia:
- Terei de pega-la... antes que ele faça isso. - disse a voz apática.
- Estão o ajudando, Lorde! Estão ajudando-o a procurá-las. - exclamou uma segunda voz - Teremos que ir á Floresta hoje á noite... ele pode descobri-la antes!
- Ele está com alguma delas, Lucio?
Harry viu que á sua frente, um homem encapuzado lhe erguia uma taça prateada.
- Não que saibamos Milorde! Capturei esta... a Taça de Hufflepuff, Milorde!
Tomou em suas mãos o objeto oferecido por Lucio Malfoy.
- Será muito bem recompensado por protegê-la! Agora providencie o que lhe pedi! Já!
- Ah... Lorde das Trevas! O Senhor é o mais poderoso! Prontamente... deveria chamar nossos... Comensais?
- Não! Faça o que lhe pedi, Lucio. Faremos como no ano anterior... uma emboscada! Amanhã... a dez da noite!
A voz fria ria demoniacamente.
Harry acordou num salto e se levantou automaticamente. Deveria comunicar isso á alguém. Mas depois se lembrou que não podia falar com Dumbledore. Mesmo assim, correu até a gárgula onde se encontrava a sala do Diretor. Só então se recordou que não sabia a senha.
- Vamos! Abre... - exclamou para a estatua, mas nada aconteceu.
Ele olhou para os lados e viu passos. Percebeu que era o Prof. Deny.
- Professor, por favor! - disse Harry para o professor, fazendo parar bruscamente.
- Ah... Potter! O que...
- Preciso que o senhor me ajude a entrar na sala da diretora!
- A Profª McGonagall não está Potter... ela saiu - disse ele olhando para os lados.
Harry não podia acreditar. A quem iria contar aquele sonho? E se, como os outros muitos que tivera em tempos passados, fosse real, e a escola tivesse em perigo?
- Mas posso abrir a sala para você... - disse o professor - Pode esperar lá dentro, talvez ela não demore!
O professor disse a senha e a gárgula abriu-se. Harry correu para dentro e abriu a porta. Olhando de vista, não parecia a mesma sala que era de Dumbledore. As paredes continuavam cheias de quadros dos antigos diretores, mas a mesa tinha sido mudada de lugar, os armários tinham ficado perto da janela. O poleiro de Fewkes, a fênix de Dumbledore estava vazia.
De repente, o garoto levou um susto. Havia um grande quadro, aparentemente um pouco maior que os outros, que tinha um homem com uma grande barba prateada e branca, cochilava num canto, com os óculos meia-lua sobre o nariz torto, e de boca meio aberta. Era um quadro de Alvo Dumbledore.
Harry se lembrou como os outros quadros do castelo conversavam com os moradores dali. Correu para perto do quadro, olhando bem para Dumbledore.
- Professor? - sussurrou.
Dumbledore apenas fechou a boca, e virou de posição.
- Professor Dumbledore? - retornou a chamar.
O quadro resmungou, abriu um olho, depois o outro. Dumbledore se endireitou, arrumou os óculos, e deu um largo sorriso para Harry. O garoto não podia acreditar que poderia retornar a falar com Dumbledore.
- Olá Harry! - disse Dumbledore meio rouco
- Professor! O senhor está... está... - gaguejou Harry
- Sim?
- Está vivo?
Dumbledore deu uma ajeitada no chapéu cônico e olhou para Harry, mas seu sorriso não estava mais tão denso.
- Receio que vivo não seja a palavra adequada.
- Mas... mas... como...
O antigo diretor ao lado de Dumbledore resmungou alguma coisa como: Jovens!
- Estou apenas cumprindo uma impressão, Harry. Sou apenas uma lembrança. - disse Dumbledore
Harry teve um aperto no peito, e nem havia percebido que tinha se sentado. Estava novamente falando com Dumbledore.
- Como assim uma lembrança...?
- Apenas uma lembrança - repitiu o professor. Seu sorriso não mais visivel, mas suas palavras eram leves e calmas - Eu apenas tenho o poder de lembra-lo de mim, ou lembra-lo de algo que ja lhe disse na minha vida.
O garoto parou e olhou para o poleiro vazio da fenix. Como poderia estar falando com Dumbledore, mas o mesmo estar morto?
- Sabe o-onde foi Fewkes? - resmungou Dumbledore bocejando.
- Não... partiu logo depois de...
- Eu morrer? – completou plenamente.
Harry confirmou com a cabeça. O professor suspirou e disse:
- Era de se esperar. O que faz aqui, Harry, na sala da diretora, à noite?
- Eu... tive... um sonho, professor! - apressou-se a dizer. - As Horcruxes... Voldemort quer... pegar uma! Esta na Floresta Proibida, a Horcrux. Ele... ele vai...
Mas Dumbledore levantou a mão, e Harry se calou.
- Isso não está mais em meus interesses. - disse Dumbledore, calmamente. - Terá de contar a Profª. Minerva...
- Mas porque eu iria contar a ela se o senhor está aqui para me ouvir? - disse Harry, impaciente. Porque não seria do interesse de Dumbledore?
O professor deu um longo suspiro, e disse lentamente:
- Harry, quero que entenda uma coisa. Dou conselhos, mas não passo de uma mera lembrança. Como já lhe disse e retorno a dizer: Não tenho o poder de acrescentar coisas que não disse na minha vida.
Foi como um choque para o garoto. Dumbledore estava ali, mas nenhuma coisa podia fazer? Poderia lhe dizer o que fazer... impedir de acontecer! Mas não. Ficaria ali, para lhe dizer coisas que já tinha ouvido; coisas que ele julgava inúteis no momento.
- Professor... - disse Harry nervoso. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, a porta se abriu.
- Potter?
Era Minerva Mcgonagall.
- Agora tenha a bondade de contar a Minerva o que houve. Ela pode te ajudar. - disse Dumbledore
Harry não tinha a menor vontade de sair de perto de Dumbledore; muito menos de contar a Profª. McGonagall o que aconteceu em seu sonho. Nunca compartilhara essas coisas com outros, exeto com Dumbledore, Hermione e Rony.
Levantou-se, e começou , andando de um lado para o outro, contar o seu sonho. Não se sentiu muito confortável em contar isso para sua Professora de Transfiguração, mas fez o possível para que Dumbledore ouvisse tudo que dizia. O professor ouvia tudo com muita atenção, mas sequer interrompia, ou dava opiniões. Depois de terminar, a Profª. McGonagall encarou Harry por alguns segundos e falou:
- Isso é muito sério, Potter. - disse ela sinceramente, olhando de Harry para Dumbledore; parecia pedir ajuda ao quadro, mas o professor nada disse. - Se for realmente verdade, terei que, imediatamente, convocar reforços em nossa escola... e nos preparar para alguma... coisa assim. Vamos Potter. Volte para o dormitório e permaneça lá.
Ela se levantou e saiu antes que Harry protestasse. Harry se levantou, e olhou para o quadro de Dumbledore. Agora Dumbledore voltara a dormir - ou fingia dormir - e roncava silenciosamente, iluminado pela luz da manhã clarear, de sua antiga sala.

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