Little Hangleton



LITTLE HANGLETON



Raven e Gina, assim como Hermione, também se opuseram ao fato de Harry usar o anel, mas ele não se incomodou. Raven passou a semana vigiando-os, a todo intervalo os procurava para saber se estava tudo bem.


– Raven, a Professora McGonagall, já cuidou deles, eles não vão tentar mais nada, mesmo se quisessem... – Harry reclamou na sexta-feira. Os três sonserinos estavam cumprindo suas detenções na torre, terminando a tarefa que tinha sido dada a Harry, Rony e Mione.


– Tá bom! Desculpe-me, vocês só vão voltar a me ver na terça-feira, durante a aula. – Raven anunciou com a expressão séria que a fazia se parecer mais com a imagem que tinham de uma professora.


– Não! Eu não quis dizer isso! – Harry se desculpou. – Eu só não quero que você fique se preocupando...


Raven sorriu para ele.


– Estou dizendo isso porque vou passar o fim de semana fora e só volto na segunda. Não se preocupe, não vou desistir de você... – piscou um olho para ele e se afastou.


– O que será que ela tem? Está tão séria. – Mione comentou quando ela se foi.


– Não sei... mas ela não vai estar aqui amanhã... – Harry disse pensativo. – Então é uma ótima oportunidade para a gente ir em busca de informações, Dumbledore está fora também.


– Amanhã? Mas e as suas lentes? – Rony o lembrou, Sirius ainda não as havia enviado.


– Não vou ficar esperando... Vou levar a minha capa. – Rony e Mione trocaram um olhar meticuloso e concordaram.


Desceram para o café na manhã seguinte e não encontraram Raven, ela já tinha partido. Saíram do castelo e foram caminhando em silêncio. Tudo estava do jeito que se lembravam, as janelas lacradas, os poucos móveis quebrados. A Casa dos Gritos ficava fora dos domínios de Hogwarts, não havia proteção ali.


Hermione consertou e limpou uma mesa, onde depositou os pertences que retirou de sua bolsa tiracolo, potes de gel, cremes, prendedores de cabelo... Em trinta minutos estavam prontos, dois meninos e uma menina de cabelos pretos vestindo roupas comuns. Hermione tinha prendido o cabelo num rabo-de-cavalo e usava óculos sem graus.


– Vamos? – Mione perguntou a eles.


Harry vestiu a capa e eles se deram as mãos. Aparataram no Beco Diagonal, em frente a loja de artigos esportivos, que sabiam estar fechada. Como da última vez o Beco estava quase vazio.

– Olhem! De novo, outro comensal saindo de Gringotes! – Harry disse observando um homem idoso que ia apressado carregando uma valise.


– Não comece! Já decidimos isso, hoje só vamos trocar o dinheiro, ou você desistiu de Little Hangleton? – o questionou Mione.


Harry concordou de má vontade, tinham que visitar um lugar de cada vez, não podiam demorar e ele ainda queria fazer uma consulta na Biblioteca local.


– É melhor ficarem aqui, eu vou e volto logo. – Mione decidiu.


– Combinamos de ficarmos juntos! Sem mudança de planos, lembra? – Rony reclamou.


– Eu sei, mas o Banco pode estar cheio... – Mione disse a ele com um olhar intenso.


– Que seja. – Harry concordou percebendo que ela queria se referir a ele. – Mas se você demorar nós iremos até lá.


Hermione se afastou rapidamente. Rony ficou puxando conversa o tempo todo, fazendo perguntas bobas.


– Você não está nervoso, está? Lembre-se que eu não estou aqui, você está conversando com as portas de uma loja fechada...


– É verdade... – Rony concordou olhando ao redor. – Me dê a sua mão então... – Harry riu.


– Obrigado, mas eu não estou com medo.


– Estou falando sério, eu quero saber onde você está.


– Para com isso, você está parecendo a Mione... Não me diga que vocês estão virando a alma gêmea um do outro... – Harry brincou com ele.


– Isso incomoda você? – Rony perguntou com seriedade.


– Não, claro que não! Eu estou feliz por vocês. – respondeu com sinceridade. Desde o jogo contra Sonserina, ele inventava desculpas para se afastar e deixar os dois sozinhos durante os tempos vagos que tinham juntos, mas eles sempre davam um jeito de estar por perto. Disse isso a Rony.


– Não... não queremos assim, nada muda entre a gente, ainda somos um trio, certo?


Hermione voltou e sugeriu que aparatassem numa viela que dava para os fundos de um prédio desativado e que ficava a poucos quarteirões da Biblioteca, assim o fizeram. A viela estava deserta, exceto por alguns gatos vira-lata e um mendigo que dormia encolhido a um canto.


Seguiram em direção à rua principal, não havia muito movimento, ainda era cedo. Rony se encantou com uma casa de jogos, mas Harry e Mione o apressaram.


O prédio histórico possuía dois andares, Harry e Rony ficaram assombrados com o tamanho, nunca haviam estado lá antes. Harry se livrou da capa e foi em direção à galeria de livros.


– Não, por aí não! – Mione o puxou. Subiram até o segundo andar onde ficavam os computadores. – O que você quer pesquisar primeiro? – perguntou a Harry.


– Sobre Little Hangleton... – Harry pediu.


A tela se encheu de links de notícias recentes, foram abrindo um por um em busca de algo interessante.


– Isso é muito legal! – Rony exclamou assombrado, pois até então não tinha tido acesso à tecnologia trouxa. – É muito melhor que o seu livro, Har... Bryan!


Tinham combinado de usarem somente os nomes fictícios quando estivessem fora de Hogwarts, Hermione atenderia por Samantha.


– Poderíamos ter um desses em Hogwarts... Para quê perder tempo desfolhando centenas de livros?


– Que bom que pensa assim, eu estou querendo começar um projeto de digitalização da cultura bruxa... – Mione sussurrou, embora estivessem sozinhos no laboratório, alguém poderia aparecer de repente. – Você pode me ajudar...


– Claro, Sam... O que você quiser...


– Por que vocês não vão procurar por alguma notícia que possa ser interessante, algo fora do comum? – Harry sugeriu enquanto lia as reportagens.


Samantha levou Mat para outro terminal para ensiná-lo sobre informática. Após duas horas tinham, em mãos, impressas as principais notícias dos últimos meses. Escolheram uma mesa no salão de leitura para discutir o próximo passo.


– Houve alguns relatos trouxas de atividades estranhas na floresta que circunda o povoado, datados da mesma época que as denúncias de bruxos mascarados no local. – Harry começou informando-os. – Pelo o que eu entendi, essa colina que Riddle marcou no mapa tem fama de ser mal assombrada, os trouxas evitam ir até lá, superstições...


– Que bom ... fantasmas não são perigosos, melhor do que encontrar vampiros, lobisomens,... – Rony comentou despreocupado. – Se bem que podem ser espíritos agourentos, poltergeist, ...


– Pode ser só magia defensiva. – Mione o tranquilizou.


– Seja o que for nós descobriremos... Vamos? – Harry os convidou se levantando.

Hermione guardou os papéis em sua bolsa e foram em direção ao banheiro.


Little Hangleton ficava há duas horas do centro, como bruxos também habitavam o local Harry teve que ficar sob a capa. O povoado não era muito grande, o comércio era modesto, havia escolas e um hospital, percorreram as ruas observando as casas sem saber o que procurar. Hermione tirou o mapa de Riddle da bolsa, havia várias colinas rodeando o povoado.


– O lugar que estamos procurando fica na direção do cemitério – Mione avisou.


– Que coincidência! – reclamou Rony – Um lugar mal assombrado que fica no meio da floresta e ainda, na direção do cemitério...


Hermione pediu informação a um homem que passeava com o cão. Voltaram pelo mesmo caminho e depois seguiram em direção ao leste.


– Vão andando e esperem por mim em frente ao cemitério, preciso comprar umas coisinhas – Mione falou ao chegarem próximo aos comércios.


– Quer que a gente espere por você em frente ao cemitério?! – Rony bufou.


– O que isso tem de mais? – Mione perguntou já se virando para partir.


– Nada... – Rony respondeu meio encabulado. – Não demora! – gritou enquanto ela se afastava.


– O que foi? Você não tem medo de fantasmas. – Harry estranhou seu nervosismo.


– Não estou pensando em fantasmas, estou pensando em criaturas das trevas de verdade, criaturas horripilantes...


– Então não pense... Anda Mat! Talvez tenha algo interessante lá. – Harry o chamou se afastando.


Seguiram pela rua. Alguns minutos após passarem pelas últimas casas viram o extenso muro do cemitério.


– Por que será que aquelas senhoras ficaram olhando para a gente? Será que eram bruxas? – Rony perguntou cismado.


– Talvez... – Harry respondeu procurando pelo portão – Porque não somos daqui.... e porque você estava falando sozinho. – disse sorrindo e tirou a capa, não havia ninguém por perto ou casa, se dirigiu ao portão de entrada.


– Aonde vai?


– Procurar alguma pista enquanto Samantha não volta, não temos muito tempo...


– Mas... Quem disse que tem alguma coisa lá dentro? – Rony perguntou nervoso.


– Você... você tem razão, é muita coincidência...


Harry parou quando chegaram ao portão e ele avistou o interior do cemitério.


– O que foi?


– Nada... Cemitérios são todos iguais... – Harry respondeu após algum tempo, mas aquele em especial lhe trazia péssimas recordações, que provavelmente voltariam a assombrar seus sonhos durante a noite.


Seguiram em silêncio pelos túmulos, observando os nomes das lápides. Não havia nada que chamasse a atenção ali, mas um nome não saía de sua mente, estava ficando cada vez mais desconfiado, embora durante o dia não parecesse tão assustador.


– Vocês estão procurando alguém? – a voz veio de uma lápide próxima ao local onde estavam, um homem estava ajoelhado ali, fazendo reparos, parecia ser o responsável pelo local.


– Não... – Harry deixou escapar com a voz fraca. – Não – repetiu com maior firmeza. Rony tentou sorrir para o estranho, para disfarçar seu nervosismo. – É aqui que estão enterrados os Riddle? – Harry perguntou a ele.


– Ah, sim... é só seguir em frente – o homem respondeu observando-os com curiosidade.


Harry apenas olhou na direção que ele indicava.


– O senhor sabe me dizer se teve alguém visitando o túmulo recentemente? – Harry pediu enquanto Rony olhava ao redor.


– Vocês não são daqui, não é? – o homem levantou com dificuldade, a idade pesando sobre os ossos cansados. – Isso aconteceu há muito tempo, existem outras histórias interessantes na cidade...


– Mas ninguém fez perguntas sobre o túmulo, ou levou alguma coisa?


– Nada sai daqui de dentro sem a autorização das famílias, e eu saberia se tivessem – invocou-se. – Já tem quase dois anos que estiveram aqui, por que querem saber? Quem são os pais de vocês?


Rony pediu desculpas e puxou Harry em direção à saída antes que ele pudesse responder.


– Qual o problema? – reclamou Harry – poderíamos convencê-lo a dizer mais alguma coisa.


– Ele disse que vieram há quase dois anos! O que aconteceu aqui há dois anos atrás? – Harry compreendeu. – Podem ter sido os funcionários do Ministério, investigando, ou da Ordem, mais provavelmente...


Encontraram Hermione do lado de fora, aguardando impaciente. Ela trazia três pacotes de lanches para a viagem.


– Então, seja o que for que ele estava querendo aqui, deve ter algo relacionado com a família dele, acha melhor procurar a casa dos Riddle? – Mione perguntou enquanto comiam sentados na calçada em frente ao cemitério.


– Não, ele marcou a colina, deve ter algo lá – Harry disse consultando o relógio. – Podemos voltar outro dia e revistar a casa, se ainda estiver abandonada.


Hermione tirou as anotações da bolsa e estudou a direção correta. Entraram pela floresta.


Após vinte minutos de caminhada começaram a subir, a floresta era densa e não conseguiam avistar o povoado, paravam de vez em quando para executar o Feitiço dos Quatro Pontos.


– Por que a gente não aparata logo lá em cima? – Rony sugeriu após algum tempo.


– Não sabemos onde está o que procuramos, nem sabemos o que é...


– Justamente, pode estar em qualquer lugar ou direção – Rony insistiu. – Pelo menos, descer é mais fácil.


– Fiquem aqui, eu vou dar uma olhada. – Harry disse indo até a árvore mais próxima, foi acompanhando os galhos até chegar à copa. O povoado parecia estar bem distante, à frente deles viu apenas árvores.


– Rony tem razão, é melhor subirmos, a visão daqui de baixo é muito ruim – Harry disse quando voltou ao chão.


– Não! Vamos continuar, pode ter alguma coisa por aqui – Hermione continuou a caminhada, e eles a seguiram, prestando a atenção a qualquer anormalidade.


Quando chegaram no alto Rony se jogou no chão cansado e Hermione se sentou ao seu lado. As árvores impediam a visibilidade para o povoado, ela executou novamente o Feitiço dos Quatro Pontos para verificar se estavam na direção correta.


– Venham ver isso – Harry os chamou. A descida do outro lado era íngreme e com poucas árvores dando uma melhor visibilidade da planície abaixo.


– É lindo! – Hermione exclamou parando ao seu lado.


– O que é aquilo? – Rony apontou para um arvoredo à direita, um pouco abaixo de onde estavam, havia algo entre as árvores, parecia uma construção.


Tentaram achar uma trilha que os conduzisse até lá, mas não havia nenhuma, desceram com dificuldade, deslisando pela encosta. As árvores se agitaram de repente, como se atingidas por um vendaval, tudo o mais ao redor permanecia quieto.


– Acho que achamos, não é? Deve ser uma casa mal assombrada. – Rony parou quando alcançaram a primeira árvore.


– Mas de quem será? – Hermione se adiantou e Harry segurou o seu braço, pegou a varinha e foi andando na frente.


O vento os recebeu com uma chuva de terra, ergueram as mãos protegendo os olhos.


– VÃO EMBORA! SAIAM DE MINHA PROPRIEDADE! – A voz chegou num silvo rouco.


– Desculpe! Não queremos incomodar. – Harry gritou em resposta, sibilando.


O vento parou tão repentinamente como quando começou. Espanaram a terra de suas roupas. A figura translúcida de um velho apareceu em frente a eles, olhando-os com curiosidade.


– Faz muito tempo que não ouço um ofidioglota.... – o velho sibilou para eles. – De onde são?


Mione e Rony se aproximaram mais de Harry sem entender o que estava acontecendo.


– Nós estamos vindo de Hogwarts... – Harry sibilou. – Podemos fazer algumas perguntas? – O velho olhou dele para os outros dois estudando-os. – De quem é essa casa? – perguntou em linguagem humana para que Rony e Mione pudessem entender também, enquanto sacudia a terra dos cabelos.


– Como conseguiu esse anel? Onde o pegou? – O velho sibilou, se aproximou pairando à sua frente, os olhos fixos no anel em sua mão.


– É meu – respondeu descuidadamente. O velho arregalou os olhos examinando-o, seus cabelos negros, seu rosto, ficou um tempo encarando-o nos olhos.


– Eu não acredito que esteja aqui... – disse por fim, emocionado. – Tive esperanças, mas pensei que nunca chegaria a conhecê-lo...


– Me... conhecer? – Harry gaguejou sentindo uma pressão estranha no peito.


– Um bisneto... Eu tenho um bisneto... – o velho pareceu de repente ainda mais frágil e cansado. – Há anos tenho aguardado que seu pai voltasse aqui, e agora estou conhecendo você, que é mais do que eu poderia esperar...


– Harry...? – Mione segurou sua mão.


– Harry... – o velho repetiu sorrindo – E vocês...também...?


– São meus amigos... – Harry os apresentou. Ele os olhou rapidamente mas se demorou estudando as feições de Harry. – Desculpe, mas como se chama?


– Ah... entendo... Eu sou Servolo Gaunt – o velho baixou a cabeça decepcionado. – Seu pai não falou sobre mim...


– Não... – disse lentamente, estava falando com o avô de Tom Riddle, sentiu-se ansioso, sempre tivera vontade de conhecer a própria família, agora estava conhecendo a de Voldemort. – Eu achei o mapa desse lugar nas anotações dele, por acaso... O senhor é pai...


– Sou o pai de Mérope, sua avó. – Servolo se afastou em direção à casa, Harry soltou a mão de Hermione e o seguiu.


Não havia mais telhado, todo o segundo andar já tinha desabado, era só uma lembrança da imponente mansão que havia sido um dia.


– Lembro-me da única vez em que esteve aqui – Servolo parou na varanda e se virou para a propriedade, Harry ficou aos pés da velha escadaria, que já não possuía a maioria dos degraus. – Um pouco mais velho do que você é hoje. Minha Mérope fugiu de casa para viver com o pai dele por causa da minha intolerância... Na época não pude permitir ver a minha filha, descendente de Salazar Slytherin, apaixonada por um trouxa. Foi meu pior erro Harry... e eu me arrependo até hoje... – Gaunt o olhou tristemente.


– Conte-me mais – Harry pediu sentando-se em um dos degraus que restavam, o que aconteceu depois? Eu sei que o pai dele a abandonou e ela morreu dando à luz, deixando-o sozinho para ser criado em um orfanato, mas por que ninguém foi buscá-lo?


– Eu fui... – Servolo baixou a cabeça envergonhado.


Rony e Mione se aproximaram e sentaram ao lado de Harry.


– Quando soube que Tom Riddle tinha voltado sozinho eu fui procurar minha filha. Se eu tivesse sido mais compreensivo ela não teria tido medo de voltar. Quando eu consegui encontrar seu paradeiro, três anos já haviam se passado. Minha Emily já tinha partido, a tristeza por ter perdido nossa única filha a levou. Eu estava sozinho e descobri que minha filha tinha morrido trazendo ao mundo o filho daquele... – suspirou. – Eu não tive coragem, não tinha mais forças, ele era tão parecido com o pai... – lamentou-se. Deslizou para perto de Harry mirando seus olhos. – Você não, você deve se parecer com sua mãe... De que família ela descende?


– Minha mãe nasceu trouxa – afirmou Harry com desafiante orgulho..


– Ela deve ser uma bela mulher... – Gaunt considerou.


– Era... Seu neto a matou quando eu tinha um ano de idade... – Harry começou a contar a verdade.


– Não! Não...! – O Sr. Gaunt se desesperou assustando-os. Pairou para longe depois regressou rapidamente. – Isso não pode continuar, esse ciclo de ódio que está arruinando nossa família, geração a geração! Você o odeia! Assim como ele odiou o próprio pai e minha filha, a mim... Será que fui eu quem os condenou a isso? Será que nunca vou ter paz?!


Harry trocou um olhar com Rony e Mione sem saber o que fazer ou dizer, eles o olharam assustados, sem reação.


– Não é culpa sua ele não ter perdoado o pai – Harry disse tentando acalmá-lo. – Ele, talvez, tenha se arrependido de tê-lo matado...


– Ele te contou … – Servolo ficou surpreso, deixou os olhos se perderem na direção dos sabugueiros – Sim... na noite em que veio aqui. Tom Riddle nunca se interessou em saber deles, eu mesmo o teria feito, mas não quis magoá-las ainda mais, minha Mérope e minha Emily... Naquele dia há muito meu corpo havia perecido, mas minha culpa me manteve aguardando por todos os minutos desses longos anos... E ele veio, atrás de suas raízes, seus direitos, não havia mais nenhum parente vivo e a fortuna da família há muitas gerações havia se perdido, restara apenas o medalhão com o brasão dos Slytherin, que Mérope levou consigo, mas creio que o perdeu, pois ela não o tinha quando a trouxe para junto de sua mãe, e esse anel... que me acompanhou até a morte...


Mione olhou para a mão de Harry, Rony fez uma careta de repulsa. Harry tentou tirá-lo do dedo, Riddle tinha profanado o túmulo do avô para pegá-lo.


– Não! Por favor, fique com ele, é seu – Servolo protestou. – Fico muito feliz em saber que está com ele, que os Gaunt continuarão a ser lembrados...


– Não restou mais nada? – Harry perguntou aceitando o anel.


– Só a propriedade... foi construída pelo próprio Salazar, quando abandonou Hogwarts... uma herança que ruiu com a ação do tempo e a falta de magia.


Harry olhou as ruínas analisando aquela informação.


– Não há compartimentos secretos, câmaras,...?


– Havia sim – Servolo informou entusiasmado por ter alguém com quem falar depois de tantos anos, satisfeito por ser com seu descendente. – Mas não há mais nada lá, seu pai também esteve interessado naquela época e homens mascarados vieram aqui há pouco tempo também procurando...


– Procurando o quê? – Mione perguntou interessada, mas logo se calou corando.


– O Cetro de Slytherin... tolos, é o que são. – Gaunt flutuou indo em direção aos sabugueiros.


– Por quê? Eles não o acharam? – Harry perguntou se levantando. Gaunt parou e se virou para ele.


– Ah... – Gaunt deu um muxoxo de insatisfação. – Contavam nossos ascendentes que quando os trouxas começaram a formar o povoado lá em baixo Salazar se retirou para sua outra propriedade, um refúgio, onde guardava seus bens mais preciosos, mas ninguém conseguiu encontrá-la, Salazar era um bruxo magnífico e a protegeu bem, muitos já se interessaram ao longo dos séculos, mas ninguém conseguiu achar indicações de onde isso seria ou do paradeiro do cetro, que ele levava sempre consigo.


– O cetro é uma chave? – Harry perguntou lembrando-se do estranho formato que o cetro apresentava nas mãos da estátua da Câmara Secreta.


– Dizem que sim... – disse Servolo Gaunt. – Mas isso é mais lenda do que realidade. Sinto por não ter sobrado mais nada para vocês...


– Está tudo bem... – Harry o confortou. – Ele se orgulha muito de ser um descendente de Salazar Slytherin...


– Ele disse que nunca me perdoaria... – Servolo lamentou-se. Viram dor em seus olhos.


– Eu o perdoo – disse Harry com sinceridade. – E acredito que Mérope também tenha te perdoado...


Tentou por a mão em seu ombro, mas um frio se espalhou até sua espinha quando o atravessou. Servolo fechou os olhos, as lágrimas peroladas escorrendo por sua face, desvaneceu lentamente, partiu.
Harry levou a mão à cabeça, ficou momentaneamente tonto, sentiu um vazio no peito, uma enorme sensação de perda. Respirou fundo.


– Pra onde ele foi? – perguntou Rony olhando ao redor.


– Foi embora. – Harry declarou.


Foi andando até os sabugueiros, não demorou a localizar as três lápides, cortou o mato que crescia ao redor e reparou a lápide profanada. Ajoelhou-se diante do túmulo de Mérope e ficou tentando imaginar como ela teria sido.


– Vem Harry, vamos voltar. - Mione o segurou pela mão e o fez se levantar. Voltaram para a
Casa dos Gritos.



Harry ouvia em silêncio enquanto Rony e Hermione se arrumavam repassando as informações obtidas.


– O que levou Você-Sabe-Quem a mandar seus seguidores até lá foi o interesse pela herança perdida de Slytherin. – Mione disse enquanto soltava o cabelo e tirava o disfarce.


– Que perda de tempo, isso nem deve existir... Você não acha Harry? – Rony perguntou a ele para trazê-lo de volta. Harry apenas deu de ombros e continuou calado. – Você não precisa se culpar por ter mentido para o Sr. Gaunt, com certeza ele está melhor agora, sem o peso da culpa.


– Eu não menti Rony... Eu o perdoei, por ter contribuído para fazer de Tom Servolo o que ele é hoje, o homem que matou os meus pais...


– Você está se sentindo bem? – Mione perguntou observando-o de longe.


– Estou... – mentiu.


– O que você quer fazer agora? – Mione perguntou enquanto seguiam de volta ao castelo.


– Não sei, talvez...


– Garotos! – Hagrid os chamou saindo da floresta. – O que estão fazendo?


– Oi Hagrid! Dando umas voltas... – Rony respondeu a ele.


– E que tal um chá? – Hagrid os convidou animado. Foram com ele até sua cabana.


– O que é isso Hagrid? – Mione apontou para a sacola enorme que carregava.


– Algumas coisas que o Professor Snape me pediu, ele perdeu muitos ingredientes com a brincadeira que fizeram...


– Duvido que tenha sido uma brincadeira Hagrid – Rony comentou sorrindo. – A maioria dos alunos não gosta dele.


– É, mas vocês não tiveram nada a ver com isso, não é? – Hagrid disse olhando de soslaio para Harry, este suspirou.


– Ele está dizendo por aí que fui eu... – Harry concluiu. – Mas eu já disse várias vezes que não fiz nada...


– Nem invadiu a sala dele para pegar o animal? – Hagrid perguntou desconfiado enquanto servia chá para eles em canecas gigantes.


– Peguei... – Harry admitiu. – Mas foi só para isso...


– Ah, Harry... Você não devia aborrecer o Snape! Se eu fosse você manteria distância dele daqui para frente... Dumbledore disse a ele mais cedo, que se não há provas de que foi você...


– Dumbledore esteve aqui hoje?! – espantaram-se.


– Ele está no castelo! Dumbledore voltou hoje de manhã – Hagrid informou a eles. Os três trocaram um olhar surpreso, adorariam saber o que o Diretor andava fazendo lá fora.


– E como ele está, Hagrid? O que ele disse?


– Ocupado, analisando seus livros antigos, era de se esperar que estivesse cansado, mas há tanta determinação em seus olhos... – Hagrid comentou. – Mas ele sabe que você é inocente...


Ele acha que você é... – corrigiu lançando-lhe um olhar reprovador. – Eu mesmo disse: Para que o garoto iria querer escama de moke (lagarto verde-prateado)? E Dumbledore concordou comigo, que serventia teria?


– E para que serve isso? – Rony perguntou curioso.


– A única utilidade que eu conheço é para a poção do Sono da Morte.


– Poção do quê? – Harry e Rony perguntaram juntos, nunca tinham escutado a respeito.


– É só uma poção que simula a morte... – Mione explicou. – Quem dela beber é dado como morto até que os sintomas passem, o que pode demorar horas... Para quê alguém iria querer passar por isso, pelo risco de ser enterrado vivo? – perguntou olhando para Harry.


Ele ficou em silêncio pensando a mesma coisa, o motivo para Draco querer aquilo.


– O que é isso, Harry? Um brasão de família? – Hagrid perguntou erguendo sua mão.


– É... eu ganhei. – Harry disse enquanto Hagrid examinava seu anel. – Meu pai não tinha nenhuma herança de família...?


– Ora Harry, está tudo em Gringotes...


– Não... sem ser dinheiro, objetos pessoais, fotos, quadros de nossos antepassados, alguma joia...


– Não sei... A casa foi destruída, não sobrou muita coisa, mas está tudo lá do mesmo jeito. O Ministério isolou o local na época e lançou feitiços defensivos, uma homenagem aos Potter...


– Ah, sei... – disse pensativo.


– Por que? Você queria alguma coisa?


– Não, tudo bem... – disse cabisbaixo passando o polegar sobre o anel, acariciando-o inconscientemente.


Raven voltou na segunda-feira, como havia dito que faria, ficaram após o término da aula de terça, para falar com ela, mas ela não quis comentar como tinha sido seu retorno para casa, queria apenas saber as novidades, o que tinham feito em sua ausência. Contaram a respeito da visita a Little Hangleton, foi a primeira vez que ela se zangou com eles. A intensidade de sua indignação era tanta que conseguiam senti-la pelos seus olhos.


– Se eu souber que saíram novamente deste castelo sem mim, eu conto tudo a Sirius! – Raven os ameaçou.


– Você não acha que está exagerando? Não tinha nada... – Rony mudou de ideia e se calou mediante sua expressão feroz.


– Quando você diz “sem você”... – Mione arriscou.


– Quero dizer que vão ter de me levar, se precisarem sair novamente, claro! A vida aqui dentro é um tédio... – confessou mas logo recuperou o tom brusco e invocado. – E eu não quero que corram riscos desnecessários!


Não disfarçaram a animação, o apoio de Raven era importante e poderia ajudá-los muito.



– O que mais me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas desaparecidas, assim como no nosso mundo, há muitos trouxas sumindo por toda a parte. Não sei se há alguma correlação, talvez não, mas... – Mione comentou mais tarde na Sala Precisa enquanto analisavam os artigos que haviam conseguido na biblioteca.


Harry ficou sentado acariciando o anel distraidamente enquanto Rony observava o mapa.


– Estamos novamente sem rumo. – Rony comentou após algum tempo. – Se Você-Sabe-Quem está mais interessado em caçar tesouros perdidos ao invés de procurar algo que resolva o problema de vocês... O que vamos seguir agora?


Mione pegou um saquinho de presente e despejou seu conteúdo sobre a mesa. Tocou com a varinha as três correntinhas com pingente de coração, separando-as.


– Que coisa é essa? – Rony soltou. – Quero dizer... pra quê isso? – tentou disfarçar quando Mione o olhou chateada.


– Eu comprei em Little Hangleton...


– Mas você comprou três iguais... Não era melhor ter comprado enfeites diferentes? – Harry observou.


– Não vou usar os três, é um para cada um de nós – esclareceu a eles. – Anda, peguem!


Rony e Harry se olharam alarmados.


– Isso é de menina! – Rony reclamou.


– Era só o que tinha na loja... Vamos ter que usar esse mesmo – Mione decidiu indiferente ao ar perplexo deles.


– Você quer dizer... você e o Rony, não é? – Harry se ajeitou em sua poltrona sentindo-se desconfortável.


– Isso é para substituir as moedas – explicou impaciente pegando a sua. – O primeiro toque é importante, fará com que eles se abram apenas para a primeira pessoa a tocá-los – mostrou abrindo o relicário em forma de coração. – Assim ninguém além de nós poderá ler as mensagens que trocarmos.


Rony e Harry trocaram um olhar cauteloso. Pegaram cada um o seu.


– Parem de frescura, ninguém precisa saber que estão usando isso! – Mione reclamou pendurando a sua corrente ao pescoço e escondendo-a sob as vestes. Fizeram o mesmo.


Na quinta-feira Harry acordou disposto a encontrar Draco. Revirou seu malão, desde que voltara do Ministério a havia jogado ali e se esquecido dela, na hora não soube ao certo porque a queria, mas agora ela lhe serviria bem. Pegou a varinha e prendeu-a no cós da calça. Procurou por Draco no mapa do maroto, mas não o viu em parte alguma do castelo.


– Ele também não veio almoçar... – Harry reparou examinando a mesa da Sonserina horas depois. – Mas deve ir à aula de Poções... dá um recado a ele para mim...


– Tá brincando?! Eu não vou falar com o Draco! – Rony reclamou perplexo.


– Rony, lembra do que Dumbledore disse, temos que nos unir contra nosso inimigo em comum. Além disso, ele está diferente agora, acho que a convivência com Vodemort fez bem a ele... – Harry gracejou, mas Rony amarrou a cara desgostoso. – Mione, você pode?


– Tá... tá bom... – Mione suspirou e revirou os olhos.


– Oi... – Evandra os cumprimentou sentando ao lado de Hermione, de frente para Harry e Rony. – Como está a investigação? – perguntou a Harry.


– Sem grandes descobertas... – Harry respondeu meio sem jeito, desde o jogo contra a Sonserina eles não se falavam.


– E no Profeta? – Mione perguntou assumindo a conversa. – Algum boato ou informação sigilosa?


– Bom... O Ministro ameaçou acusar Dumbledore de abandono de cargo, por causa de suas constantes ausências, ficaram sabendo? – perguntou Evandra.


– Eles deveriam estar se unindo e não brigando. – Mione censurou.


– Todos no Profeta sabem o quanto o Ministro anda interessado em saber o que o Diretor tem feito, consulta os repórteres constantemente ansioso por notícias, chegou até a encarregar alguns de conseguir alguma informação... Aquela nojenta da Rita Skeeter...


– Você também não gosta dela? Ela é um horror! – Mione concordou.


– Depois de todas aquelas histórias ridículas que ela inventou sobre o Harry... – Evandra comentou.


– É, mas descobri um jeito de calar a boca dela. Na verdade ela foi bem útil. – Mione assegurou.


– A publicação que saiu no Pasquim...? – elas riram. – Você deveria fazer mais vezes do seu “jeitinho”, ela tem um sério desvio de moral...


– Então é por isso ele ainda está aqui. – Harry comentou com Rony e olhou em direção à mesa dos professores, onde o Diretor conversava com a Professora McGonagall.


Raven estava duas cadeiras depois em silêncio, parecia totalmente distraída, Harry ficou um tempo observando-a preocupado, depois surpreendeu Dumbledore olhando-o atentamente antes de voltar a conversar com McGonagall, teve a impressão de que falavam sobre ele.


– Que lindo o seu anel... – Evandra segurou a mão de Harry sobre a mesa examinando a pedra.


Harry trocou um olhar nervoso com Rony e depois olhou para Gina, ela estava afastada, sentada com as amigas do quinto ano.


– Tem mais alguma coisa acontecendo que não esteja saindo nos jornais? – Mione perguntou à Evandra. Harry puxou a mão de entre as suas gentilmente.


– Não... nada realmente novo, só alguns boatos... – Evandra disse voltando sua atenção para ela. – Mas talvez te interesse Harry, já que... quer dizer... – ficou encabulada de repente.


– O que é? – Rony perguntou com curiosidade.


– Não quero dizer exatamente que te interesse... Você tem seu padrinho... É só que o Ministério está querendo criar um lugar especial para bruxos órfãos, menores de idade, sabe, que não tem para onde ir – disse meio sem jeito.


– Isso seria ótimo! – Harry disse pensando em si mesmo. – Mas é um pouco tarde, deveriam ter criado isso antes... Uns cinquenta anos atrás... – pensou em Tom Servolo.


– Que perda de tempo, com tantas coisas acontecendo, tantos ataques... Quantos bruxos órfãos existem na Inglaterra? – Rony reclamou.


– Tenho a ligeira impressão que o Ministro não está realmente empenhado em resolver problemas, parece estar mais interessado em causar distrações – Harry comentou.


– Quem sabe ele se interesse por projetos inovadores Hermione, como o de Digitalização e o FALE – disse Rony carinhosamente.


Harry se esforçou para não sorrir, sabia que Rony se interessava pelo FALE tanto quanto ele. Hermione sorriu, talvez, pelo seu esforço.


– O que é FALE? – Evandra perguntou para eles.


– É um projeto que eu tenho... Ainda está em andamento, Fundo de Apoio à Liberação dos Elfos...


– Sério? – Evandra entusiasmou-se. – Já ouviu falar na DRED?


– Não... O que é isso?


– Dignidade e Respeito aos Elfos Domésticos. Nunca leu nada a respeito? – perguntou decepcionada. – Meu pai escreveu um livro sobre isso, ele começou esse movimento há mais de cinco anos... Nunca ouviu falar de Jonathan Gardner Velaska? Escritor, Historiador...?


– Seu pai?! – Mione admirou-se eufórica.


– Por falar nisso, a Winky ainda está precisando de ajuda... – Harry comentou.


Mione contou a ela tudo sobre a elfo-doméstico que tinha pertencido ao Bartolomeu Crouch. Rony e Harry ficaram escutando enquanto elas não paravam de falar, parecia que Hermione tinha encontrado uma entusiasta à altura.

Quando o sinal tocou elas simplesmente se levantaram e foram para a aula tagarelando. Harry e Rony as seguiram indignados.


Harry seguiu para a Sala Precisa, queria ficar um tempo sozinho para pensar e fazer os deveres. Quando chegou à porta Draco saiu.


– Ah...Então é você quem anda usando a sala quase o tempo todo... – Harry concluiu.


– O que você quer aqui Potter? – Draco parecia bem cansado.


– Eu também uso esta sala, tem coisas minhas aí – disse Harry espiando pela porta, mas Malfoy continuou bloqueando a passagem.


– Não aqui...


– É aqui que você está fazendo a tal poção? A Poção do Sono da Morte? – Harry perguntou curioso. Draco pareceu surpreso, mas logo se recompôs. – Só por curiosidade, já que estou levando a culpa pelo seu roubo... Não é para você, é?


– Claro que não, por que eu iria querer beber isso? – Draco não se moveu, parecia estar se decidindo por algo, naquele momento Harry imaginou o que, no lugar de Draco, faria com aquela poção.


– Entendo... – Harry comentou após algum tempo. – É difícil não fazer nada – estava pensando em Sirius. – Quanto tempo até ficar pronta?


Draco fixou os olhos no corredor além dele.


– Entre – Draco o convidou.


Harry olhou para trás surpreso, pensou que ele se dirigia a outra pessoa, mas a única pessoa além deles no corredor, era uma garota de ar invocado que se aproximava rapidamente.


– Vai entrar ou não? – Draco o apressou tencionando evitar o encontro com Pansy Parkinson.


A sala, para Draco, era muito bem iluminada e clara, havia uma bancada no meio, dois caldeirões, um deles aceso, vários frascos e potes e uma estante com livros na outra extremidade, tudo muito bem organizado. Harry se aproximou da bancada e viu um livro aberto na explicação sobre a poção do Sono da Morte.


– Onde arranjou o livro? – perguntou se virando para a estante.


– Aqui mesmo. Esta sala fornece tudo de que eu preciso. – Draco foi até o caldeirão verificar o andamento de sua poção.


Harry não tinha pensado nisso. A sala forneceria tudo de que precisasse, se concentrou pedindo algum livro que substituísse o que havia sido roubado no Ministério. Não percebeu nenhuma alteração. Se concentrou no exato livro, mas nada surgiu, vasculhou a estante e não encontrou nada.


– O que você anda fazendo aqui na sala? – Draco perguntou observando uma gaiola vazia.


Harry ficou indeciso se poderia dizer ou não, mas afinal, ele tinha permitido que entrasse ali.


– Estou mapeando as atividades dos comensais, os lugares em que atacam. – respondeu por fim.


– Isso vai te ajudar em quê? – Draco olhou para ele rapidamente franzindo a testa. – Que eu saiba, isso não é decidido com um propósito. O Lorde das Trevas em determinado momento chama um ou outro e diz para irem a determinado lugar fazer determinada coisa, por mais idiota ou estranha que pareça ser ,e eles têm que ir. Só isso. Não há grandes planejamentos... – Draco explicou.


Harry prestou atenção em silêncio, sabia que tinha algo mais, Voldemort não poderia simplesmente estar agindo por tédio. Se aproximou do outro caldeirão que borbulhava, não teve dificuldade em reconhecer a poção Polissuco. Draco pegou o livro em cima da bancada e acompanhou as instruções.


– Você não tem nenhum livro proibido? Um livro sobre artes das trevas ou qualquer coisa assim...? – Harry perguntou enquanto olhava os rótulos dos frascos sobre a banca.


– Não... – Draco parou para observá-lo. – Meu pai é que tem – informou olhando-o desconfiado.


– Ótimo! – Harry se entusiasmou. – Pode me arranjar alguma coisa que fale sobre horcruxes?


– Draco abanou a cabeça negativamente. – Não vai ser de graça... – comentou impaciente.


– Eu não tenho acesso ao escritório do meu pai. Só ele tem, está lacrado, protegido por magia, as batidas do Ministério … – comentou de mau humor.


Harry sabia bem sobre isso, já tinha ouvido comentários do Sr. Weasley.


– E você não sabe a respeito?


– Sobre horcruxes? Não é Magia Antiga? Se for, ninguém possui livros sobre isso..


– Eu não sei. Você não lembra de ter lido algo nos livros do seu pai?


– Ah, claro, como se eu não tivesse nada a fazer nas férias a não ser estudar! – Draco reclamou.


– Então... Pode ser que seu pai tenha livros úteis... Sobre imortalidade, por exemplo. – Acrescentou mediante o olhar pensativo de Draco. – Você pode pedir a ele o acesso.


– É... talvez, mas... – Draco ficou encarando a gaiola. Harry se aproximou para ver melhor, a gaiola que pensava que estava vazia, na verdade, continha um pequeno rato que se confundia com o forro cinza.


– Há quanto tempo ele está assim? – Harry imaginou que ele deveria estar testando a poção.


– Desde ontem, quando a poção ficou pronta... – Draco respondeu desanimado. – Não estou conseguindo acordá-lo.


– Talvez demore mais um pouco para passar o efeito. – Harry sugeriu tocando de leve o animal com a varinha. Pegou o Lord na mochila e o consultou, achou que, aparentemente, a poção de Draco estava normal.


– Deixa a Hermione dar uma olhada na poção, talvez ela consiga salvá-la. – Harry pediu lamentando os ingredientes usados, seria difícil voltar a juntá-los.


– Por que vocês iriam querer ajudar a libertar um Comensal da Morte, principalmente depois do ocorrido no Ministério?


– Se você acha que Voldemort vai aceitar o seu pai de volta se ele fugir, é melhor repensar seus planos. Na verdade, talvez Azkaban seja o lugar mais seguro para ele no momento.


Harry retirou a varinha de Lúcio Malfoy do bolso das vestes e colocou-a sobre a bancada. – Eu trouxe isso do Ministério, estou propondo uma parceria, sem brigas ou traições....


Draco recolheu a varinha cuidadosamente, como se fosse uma relíquia, ficou um tempo examinando o enfeite, a cabeça prateada, depois a guardou com cuidado.


– Pensei que já tivéssemos – disse fingindo indiferença.


– Você não vai para a aula de Poções? – perguntou Harry.


– Não estarei me sentindo bem hoje – Draco disse se jogando num sofá e esfregando os olhos.


– Ela vai vir?


Harry assentiu e se afastou para poder tirar o colar de dentro das vestes, enviou a mensagem. Ficaram discutindo os planos de Voldemort. Draco ainda não havia recebido nenhuma informação importante. Harry descobriu que ele tinha uma linha de pensamento direta e prática, ficou surpreso por nunca ter percebido antes. Quando sentiu seu “coração” esquentar junto ao peito abriu a porta para deixar que Rony e Hermione entrassem.


– O que é assim tão urgente? – Mione perguntou enquanto entravam, mas se calou ao perceber a presença de Draco.


Harry disse a ela o que estava acontecendo, Rony pareceu meio reticente, mas Mione aceitou bem a sugestão.


– Realmente... – disse após examinar a poção e o rato, que estava morto. – Ela não vai servir pra nada.


– Mas você pode recuperá-la? fazê-la funcionar? – Harry pediu enquanto Draco aguardava ao seu lado em silêncio.


– Não há como, ela já está pronta, não posso fazer mais nada... Ele iria mesmo beber?


– Se o julgassem morto e devolvessem seu corpo à família...


– Há casos em que eles são enterrados lá mesmo – Mione avisou. – Ou atirados ao mar.


Hermione foi até o caldeirão e analisou a poção Polissuco. – Essa aqui pelo menos você vai poder usar.


– Mas sem a Poção do Sono, para quê esta me serviria? – Draco reclamou.


– Para entrar em Azkaban, conversar com seu pai, pedir informações... Não vai poder pedir isso numa carta. – Harry acrescentou mediante seu olhar indagativo.


– Vai mesmo fazer isso? – Rony perguntou mal-humorado.


– Vou tentar tudo o que puder ... – Draco informou, se livrou da gaiola e da poção, não serviriam para nada.


Harry levou a mão esquerda à cicatriz percorrendo-a com o dedo, o anel brilhou em sua mão.


– O que foi, Harry? – Mione baixou seu braço para olhar par ele.


– Nada...


Durante a noite resolveu colocar em prática o que tinha em mente, achou que Draco tinha razão, tinha que usar as ferramentas que tinha e esta era a fonte mais confiável que poderia ter.


Concentrou-se, queria saber o que Voldemort estava fazendo e não descobriria isso pelos jornais. Teve uma noite de sono agitada, acordou ainda se sentindo cansado. Não entendeu porquê não estava conseguindo quando antes isso ocorria contra a sua vontade. Tentou novamente na próxima noite, mas sem sucesso, temeu que a prática da Oclumência tivesse bloqueado sua mente por definitivo.


Sirius apareceu no sábado, estavam no salão comunal quando um aluno do segundo ano foi chamá-lo. Harry o encontrou parado às portas do castelo, sorriu quando se aproximou, Sirius apenas o olhou pensativo.


– O que houve? – perguntou Harry ficando preocupado.


– Temos que conversar... – declarou Sirius.


– Claro. – Harry concordou prontamente imaginando que finalmente ficaria sabendo o que o estava incomodando tanto.


– Harry... Você sabe que Raven e eu estamos juntos... – começou enquanto passeavam pelo castelo. Harry aguardou curioso, todos sabiam disso. – Eu... bem, eu a pedi em casamento semana passada...


Harry sentiu o estômago pesar, parou e ficou olhando para Sirius, esperando que continuasse.


– Não vai me dizer nada? – Sirius pediu ansioso. Harry passou a mão pela nuca, não sabia o que dizer.


– Sinto muito... – murmurou. – Acho que é muito cedo, vocês mal se conheceram... não que eu ache que vocês não foram feitos um para o outro, mas...


– Ah... mesmo? – perguntou decepcionado. – Pensei que fosse ficar feliz.


– Feliz? Por que eu ficaria feliz? – Harry perguntou chocado.


– Eu só quero que você tenha uma família, uma vida normal...


– E... o fato da Raven não aceitar seu pedido me deixaria feliz...? – perguntou confuso.


– Quem disse que ela não aceitou? – Sirius perguntou espantado. – Ela disse alguma coisa?


– Não, ela não comentou nada com a gente. É que… como ela tem estado estranha, preocupada, eu pensei...


– Ah, não, ela está com problemas em casa, eles são muito ritualistas, mas ela disse que está tudo bem... Eu pedi que não comentasse, queria falar com você primeiro...


– Isso é ótimo! Então vocês vão casar mesmo? Quando? – perguntou animado.


– Fico feliz que você aprove – disse sorrindo. – Marcamos o noivado para o natal, semana que vem.


– Legal... – Harry olhou ao redor ansioso, resolveu seguir o conselho de Raven. – Podemos conversar? Sobre outro assunto... – pediu esfregando a mão que começara a comichar.


– Ah... sei, desculpe a demora. – disse entregando-lhe um embrulho. – Pode ser mais tarde?


Preciso encontrar Dumbledore, se ele ainda estiver em Hogwarts... – disse sorrindo para ele.


– Tudo bem... – respondeu meio a contragosto. Desembrulhou-o enquanto Sirius se afastava, eram as lentes que pedira, imaginou que ele andara ouvindo os palpites de Raven e pensava que ele queria falar sobre garotas.


Harry parou no banheiro e deixou que a água caísse abundantemente sobre a mão esquerda, o indicador estava vermelho em volta do anel, passou os dedos sobre ele, sabia ser ele o causador daquilo, mas não entendia o porquê. Voltou para a torre da Grifinória, comentou com Rony e Mione sua decisão.


– Eu acho ótimo, eles podem ajudar a gente, não conseguimos nada até agora Harry. – Mione aprovou imediatamente.


– Vai contar exatamente o quê? – perguntou Rony.


– Sobre o mapa que fizemos, o que encontrei lá em baixo... – Harry foi interrompido por uma forte fisgada no peito causada por uma descarga de energia que subiu pelo seu braço, em contraresposta sua cicatriz ardeu intensamente. Olhou para o anel em sua mão.


– Tá, mas não conte sobre Little Hangleton, se eles souberem... aquela torre vai parecer o paraíso! – Rony o avisou.


Harry não estava ouvindo, estava tentando retirar o anel. Maior que o desejo que sentira de tê-lo, era o de se livrar dele neste momento, e não se importou em saber de onde vinha esse sentimento, mas por mais que tentasse ele não saía.


– O que foi? O que está fazendo? – Mione observava suas tentativas infrutíferas.


– É esse anel, tem alguma coisa estranha nele... não quer sair...


– Ah, não acredito! Eu te...


– Hermione! Isso pode te fazer sentir melhor, mas não vai me ajudar!


– O que você fez, usou um feitiço permanente? – Rony reclamou após alguns minutos tentando ajudá-lo.


– Esperem aqui. – Hermione saiu e voltou minutos depois com gelo envolto em uma toalha e colocou sobre sua mão.


– Que tipo de feitiço deve ter nesse anel para fazer algo assim? – Rony perguntou enquanto Harry fazia careta mas mantinha a mão sob o gelo.


– E por que isso só foi acontecer agora? – Mione o observava preocupada.


Gina entrou pela passagem do retrato, carregando seus livros, e se sentou à mesa com eles.


– Não aguento mais ouvir falar em NOMs... – Gina reclamou. – Se eu soubesse o quanto teria que me dedicar para seguir a carreira de curandeira teria escolhido outra profissão.


– Está falando sério? – perguntou Mione.


– Na verdade não... Só estou chorando um pouquinho... – Gina admitiu. – Não desistiria nunca.


– Você vai conseguir, Gina, você tem um dom natural para isso. – Harry a confortou, retirou o gelo e fez nova tentativa, mas não conseguiu. Gina quis saber o porquê de sua mudança de ideia em relação ao anel, Harry contou a ela.


– Deixe por mais tempo. – Mione pediu.


– Mas minha mão já está dormente... Isso dói, sabia? – Harry reclamou.


– Então da próxima vez você me escuta!


– Deixa eu tentar. – Gina pediu segurando sua mão entre as dela – Estranho...


– Tente um feitiço, Mione. – Rony pediu.


– Não dá para usar um feitiço que quebre apenas o anel, iria acabar machucando-o também..


– Não! Não vou danificá-lo, quero guardá-lo num lugar seguro! – Harry reclamou.


– Não acredito que você vai querer continuar com esse anel! Não vê que ele pode estar cheio de …


– Então guarde-o. – Gina disse estendendo-lhe o anel que segurava entre os dedos.


– Você conseguiu! – Harry espantou-se estendendo a mão para pegá-lo.


– Acho que foi você, ele simplesmente saiu...


– Não volte a usar isso Harry – Rony pediu.


Harry o guardou no bolso com cuidado. Quando desceram mais tarde para o almoço encontraram apenas Raven, Sirius tinha saído com o Diretor. Parabenizaram-na pelo noivado.


– Não é o máximo? – Raven indagou sonhadora. – Nunca eu imaginaria que o meu destino pudesse estar unido ao de vocês... É tão perfeito... – suspirou.

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