Tom Riddle



TOM RIDDLE


Caiu num mar de escuridão e silêncio pelo qual foi arrastado rapidamente. De repente a claridade. Abriu os olhos devagar, a luz do sol era reconfortante. Levantou-se, não sabia onde estava, viu árvores, o céu azul, a relva verde...


– Gosta daqui? – ouviu a voz familiar, mas não havia saído de sua boca desta vez. Virou-se.


Voldemort estava de pé encostado a uma árvore, as mãos enfiadas no bolso, numa posição bem descontraída. Mas não era o Voldemort, era Tom Riddle, do jeito que o conheceu no diário, aos 16 anos. Buscou automaticamente por sua varinha, mas não a encontrou nos bolsos.


– O que faz aqui? – perguntou desconcertado.


– Estou exatamente onde eu deveria estar...


Harry olhou ao redor, nenhuma casa ou pessoa.


– Estou morto? – perguntou assustado. Lembrou da detenção com Snape e de ter visto o sangue. Olhou para as mãos, estavam limpas.


– Você deve estar delirando... – Tom Riddle disse pacientemente.


– Mas se você está morto... O que eu estou fazendo aqui?


– Morto? Eu? Nada, nem ninguém pode me matar. Estou protegido da morte humana, já mencionei isso. – disse irritado – Você deve estar se referindo ao diário que o meu estúpido servo deixou que parasse em suas mãos... Não confunda uma “lembrança” com quem eu sou de verdade... – Harry o ficou observando em silêncio. – Tudo bem que você esteja confuso – disse em tom mais suave. – Tive que recorrer a magias muito poderosas para te trazer aqui hoje. Você tem bloqueado todas as minhas tentativas de aproximação.


– Tenho?! – espantou-se.


– Tenho tentado acessar a sua mente mas você não tem permitido. Afinal, não foi tão boa ideia assim te dar aquele livro. – um sorriso encrespou os cantos da boca de Riddle. – Imagino que tenha aprendido a fechar sua mente.

Harry olhou para o céu, o sol brilhava, mas mesmo assim sentiu frio.


– Onde estamos? Que lugar é esse?


– Essa é uma lembrança da minha adolescência, um lugar especial para mim... – disse olhando ao redor.


– E por que me trouxe até aqui? – era difícil associar o belo rapaz ao que Voldemort se transformara.


– Eu prometi te dizer o que eu havia descoberto depois que você me permitisse confirmar minhas suspeitas, lembra? Você cumpriu a sua parte, mesmo que involuntariamente – disse enquanto andava ao seu redor. – Estou aqui para cumprir a minha.


Harry o acompanhava desconfiado com o olhar.


– Você se deu a todo esse trabalho só pra cumprir com uma promessa sobre algo que eu sequer aceitei? O que está querendo desta vez? Sem jogos...


Tom Riddle parou e o encarou por um tempo, um breve lampejo avermelhado passou por seus olhos, Harry sustentou seu olhar.


– Na noite em que seus pais morreram – Voldemort começou a explicar omitindo o fato que fora ele o causador das mortes. – Parte de minha... alma, acidentalmente, se uniu à sua através do corte em sua testa, enquanto meu corpo era destruído.


Harry o olhou incrédulo, passou o dedo sobre a cicatriz, não estava doendo naquele momento.


– Nunca ouviu falar em divisão de alma? – Harry negou lentamente. – Uma alma pode se dividir em certas circunstâncias... especiais... A parte que se desprende, se não conseguir retornar à sua origem e não for direcionada para algo específico... 


– Eu estou com parte da sua alma?!


– Sim, está... Mas ela não deixou de me pertencer, existe uma atração muito forte que tende a manter a alma sempre una, ao sentirem a presença uma das outras, as partes sempre buscarão se unir, por isso dói à minha presença.


– Impossível... – Harry sussurrou. Riddle se aproximou determinado.


– Continuamos conectados como um só, apesar dela estar presa a você. É por isso que você consegue me acompanhar quando perde o controle...


– Quando estou dormindo, ou com raiva?


– Qualquer sentimento ou situação que te faça baixar a guarda... irá possibilitar que prevaleça a vontade dela.


Harry pensou nas vezes em que não soube explicar a origem da raiva que sentia, lembrou da súbita vontade que teve de fugir da Casa Verde. Se aproximou também. Riddle havia controlado Gina uma vez, isso não acontecia com ele, tinha total consciência do que fazia.


– Você está dizendo que isso pode me controlar, tem vontade própria? Como o seu diário?


– Controlar não... influenciar talvez. É muito parecida com a minha “lembrança”, que você conheceu em meu diário. Os meus poderes, a minha ofidioglossia, tudo que você herdou de mim se deve à presença dela.


– Isso é loucura... – pronunciou, mas muita coisa fazia sentido para ele. – E como eu tiro isso...


– Não. Não há como ser desfeito.


– Se for como o diário, é claro que tem... eu o destruí.


– Era um objeto, você só liberou a alma contida nele.


– Então era uma parte de sua alma também? Ela voltou para você quando eu o destruí? – Riddle se afastou dele e começou a caminhar devagar. Harry o seguiu. – Como você a colocou num diário? Foi acidental também?


– Não te trouxe aqui para discutir isso...


– Pra quê então? Me matar e pegar a sua alma de volta? – desafiou.


– Não... – Tom Riddle parou e o avaliou durante algum tempo. – Antes eu não sabia o que você era, não há nenhuma vantagem para mim em fazer isso agora. Na verdade não garantiria tê-la de volta, não sei o que poderia acontecer.


– Se não sabe o que pode acontecer, como pode ter certeza que não há como desfazer?

– Não tenho, mas a alma que está em você, agora é tão sua quanto minha, assim como você herdou características dela, minhas, isso pode ter acontecido em sentido inverso, por isso seres vivos não são usados. Não existe nenhum caso semelhante ao nosso, teríamos que aprender com nossas próprias experiências e eu não vou arriscar ter de volta algo que eu nem sei mais o que é ou o quanto foi modificado.


– Não importa o que vai fazer com ela, é sua, só pegue-a de volta. – Riddle olhou para sua cicatriz. – Está com medo?!


– Mesmo se eu soubesse como... Já perdi onze anos... Eu aprendo com os meus erros. Minha prioridade agora é te manter a salvo enquanto descubro o que fazer.


– A salvo do quê? – perguntou irritado. – Eu não vou continuar compartilhando nada com você, seus poderes, sua alma perdida... Eu quero desfazer isso!


– Eu também quero! Mas de forma segura e racional... Você é emotivo demais... Se descontrola por qualquer coisa... Grandes bruxos não demonstram sentimentos.


Ficou chocado com aquela crítica, os únicos bruxos que conhecia e que se encaixavam naquela descrição eram, talvez, Dumbledore e Snape, e nunca que seria igual a ele. Teve vontade de dar uma resposta mas só se afastou. Olhou para o céu azul e respirou fundo para se acalmar.


– Ótimo Harry. Vejo que você herdou também o meu bom senso...


– Não me irrite... – disse entre os dentes, tentando manter o controle.


– Com os meus conhecimentos e a sua juventude, pode ir muito além do que imagina. Não precisaria se submeter a ninguém, a nenhuma magia...


Harry se aproximou cauteloso, estava se sentindo muito próximo de obter o que queria.


– Quem são esses praticantes de Magia Oculta e o que são essas magias Oculta e Antiga? O seu livro não mostra nada sobre elas...


– São a mesma coisa. – Riddle respondeu prontamente como se esperasse o tempo todo pela pergunta. – É tudo magia. Simples, complexas, avançadas, elementares, todas provenientes de uma mesma origem – caminhou até próximo a uma grande árvore e se sentou à sua sombra. Harry se aproximou também. – Não encontrei nada a respeito em livros, foram todos destruídos... Quando o Ministério resolveu ditar suas regras e eliminar o uso da magia descontrolada, da magia livre, ela foi intitulada de Magia Antiga, tudo que existia a seu respeito foi destruído e seus praticantes, os que não quiseram se submeter às diretrizes impostas pelo Ministério... Bem, estão lá onde você pôde ver naquela noite. Um cemitério secreto, último descanso dos resistentes, protegido pela magia dos Antigos.


– Foram assassinados? Pelo Ministério?! – Harry pergunto perplexo.


– Você já teve uma pequena amostra do que o Ministério é capaz. Por que o espanto?


Harry olhou pras costas de sua mão direita, apoiada na árvore, as marcas de seu castigo, imposto pela Subsecretária Sênior do Ministro, Dolores Umbridge, ainda eram visíveis. Deslizou os dedos pelas iniciais de Ridle – TSR – gravadas no tronco. Sentiu um calafrio.


– Mas o que eles fizeram?


– Nada. Só quiseram continuar escolhendo o próprio meio de vida. Os poucos remanescentes são praticantes da Magia Oculta, agora. Tenho certeza de que já percebeu o descaso com o qual o Ministério trata todas as criaturas antigas que, apesar de racionais, fogem ao padrão de normalidade aceito pelo Ministério, elfos-domésticos, lobisomens, centauros, e muitos outros.


– Isso é um absurdo...


– Embora o Ministério saiba que ainda existam praticantes da magia livre, não tem como encontrá-los, estão bem protegidos. Apenas um membro poderia quebrar o encantamento que os protege mas todos são obrigados a fazer um voto perpétuo. É a única forma de entrar para a irmandade.


– E o que eles querem comigo, se eu nem sabia que existiam?


– Quando eu saí de Hogwarts – Riddle acariciou lentamente a grama, um ato humano e involuntário. - Rodei o mundo em busca de todo e qualquer conhecimento que pudesse me dar mais poder. Eu sabia que o que eu havia aprendido em Hogwarts não era o suficiente, sempre me senti capaz de muito mais. Por causa da proibição do Ministério em relação a qualquer coisa ou assunto que mencionasse a Magia Antiga, eu fui procurá-los.


Harry aguardou impaciente enquanto ele pensava a respeito.


– O Ministério tenta nos impor uma magia limitada, para nos por sob seu controle. Associei-me à irmandade e a abandonei depois que consegui o conhecimento que queria. Por isso não sou muito bem quisto entre eles.


– Isso eu percebi. – Harry comentou lembrando da maneira como o mencionavam “o que se diz Lord”


– Eles esperavam que eu ficasse como eles, me escondendo em buracos abaixo da terra, com medo do Ministério...


– Harry analisou a informação – Era sobre mim que você e Tahaus estavam conversando naquela noite? – Riddle assentiu. Se lamentou por não se lembrar de muita coisa. – E por que não estão atrás de você? Por que aceitam que vá até lá?


– Tahaus é apenas um dos mais Antigos que existem no nosso país, e eu não sou uma ameaça. Ainda estou preso ao voto e não há nada que possam fazer contra mim... – Riddle o observou durante alguns segundos. – Quase nada... – concluiu.


– Ainda não entendi porquê estão atrás de mim. – sentou-se de frente para Riddle, enquanto ele brincava com um ramo seco recém arrancado da relva.


– Porque eles sabem o que você é. Sabem do que você pode ser capaz. Você tem muitos dos meus conhecimentos, embora nem saiba que tenha, incluindo os conhecimentos sobre a Magia Oculta. Assim como descobriu sobre o voo livre, pode vir a descobrir a forma de quebrar o encantamento que os protege e denunciá-los ao Ministério. Você não faz parte da irmandade, não fez o juramento, é uma ameaça para eles. – Harry pousou a testa entre as mãos.


– Eu não pretendo fazer nada disso... – disse após um tempo. – Bastaria que eu dissesse isso a eles?


– Isso eu creio que eles já saibam, pelo o que Draco Malfoy me contou sobre o seu encontro com um dos guardiães.


– Um... Quem são os outros?


– Não sei quem são agora, há muito não sei o que acontece entre eles, mas serão sempre quatro. Provavelmente você irá conhecê-los, está causando desequilíbrio no mundo deles... Os praticantes da Magia Oculta conseguiram sobreviver até hoje por se manterem unidos, e você os está dividindo, entre os que querem descobrir até onde você pode chegar sem se tornar uma ameaça, e os que querem te eliminar pela simples possibilidade de você se tornar uma, até mesmo por saber o que você carrega, são esses que me preocupam.


– Como Kariel?


Riddle ficou algum tempo olhando o vazio, o olhar inexpressível. Levantou-se.


– Tenho que ir. O melhor que você tem a fazer agora é ficar ao meu lado. – Harry fez uma careta desaprovando a ideia. – Dumbledore não pode protegê-lo, na verdade nunca conseguiu fazer isso, aceite seu destino, Harry, juntos podemos descobrir uma maneira de contornar isso, até lá, você poderá usufruir da magia livre, sem perseguições...


– E me tornar um praticante também? Deixar de ser humano...


– Não seja tolo! Tudo tem um preço. Você já conseguiu muito sem ter de pagar nada por isso.


– Eu não pedi... Não tenho uma vida perfeita! Eu sequer tenho uma vida normal! – Levantou-se  também. – Muito obrigado pela oferta, mas acho que posso tentar resolver isso sem virar uma aberração maior do que já sou. – Olhou em volta imaginando como sairia daquele lugar.


– Com a minha orientação você não precisará se transformar em nada, assim como eu também não fui. – Harry se virou para encará-lo.


– Não foi?! – perguntou sarcástico.


– Não me faça perder a paciência! – Riddle deu alguns passos em sua direção, seus olhos mudando de preto para vermelho. Parou. – Estão me chamando, espero que seja realmente importante... – disse irritado perdendo a consistência enquanto desaparecia.


– Espera, você não me disse...


Foi envolvido pelo vazio e sentiu-se emergir para a consciência. Abriu os olhos para uma parcial escuridão, uma vela brilhava fracamente de cima de uma mesa de cabeceira. Sua cicatriz latejou em protesto, estava um pouco atordoado. Retirou o pano úmido de sua testa e sentou-se.


Sentiu a textura do lençol negro e acetinado sob suas mãos. Olhou em volta estranhando o lugar. O teto era irregular como o de uma caverna, nas paredes, imagens de pessoas se contorcendo vítimas de terríveis maldições. Pulou da cama, enojado, quando percebeu onde estava. Era o quarto do Snape.


 

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