Monstro



MONSTRO


Acordou na dia seguinte com o cheiro do café da manhã se espalhando pela casa. Tomou um banho e desceu. Sirius lançou-lhe um olhar cauteloso. Ficou curioso mas não disse nada além de lhe desejar um bom dia.


– Harry, espero que não tenha se chateado ontem, mas todos estamos preocupados com o que pode vir a partir de agora, o clima anda bem tenso...


– Tudo bem – teve vontade de dizer que nunca mais lhe contaria nada, muito menos em segredo, só para chateá-lo, mas não teve coragem.


– Tem outra coisa que quero te dizer, espero que não se aborreça, mas sei que já reparou que não sou nenhum mestre em assuntos domésticos, então, se você concordar, vamos mantê-lo conosco, pra me ajudar nesses assuntos, isso é, se você achar que está tudo bem...


– Do que está falando? – não entendera nada do que Sirius dissera.


– Dele.


Virou-se na direção que Sirius indicava, havia algo no chão, parecia uma trouxa de trapos sujos... mas a trouxa se mexeu. Harry prendeu a respiração.


– Sirius... Por que... Por causa dele...


– Eu sei, ele traiu a gente. Mas ainda assim, ele me pertence, não posso me desfazer dele, não depois do tanto que ele tomou conhecimento. Dumbledore acha perigoso deixá-lo sozinho na Sede, aqui poderei ficar de olho nele, sem contar que ele poderá ser útil.


Harry ficou observando o monte de trapos no chão, que na verdade era Monstro, encolhido, provavelmente se lamentando por estar ali. Ficou enojado.


– Ele mentiu pra você, eu sei, mas já dei ordens expressas para nunca voltar a fazê-lo, para considerá-lo seu mestre na minha ausência, o que na verdade você já é, fiz um testamento te nomeando proprietário de todos os meus bens, Harry, o que inclui o Monstro também. E ele sabe que não deve sair desta casa, não é mesmo, Monstro?


– Sim meu amo, tudo o que quiser – respondeu entre dentes, visivelmente contrariado por estar ali.


– Acha mesmo seguro?


– Na primeira que ele aprontar eu o tiro daqui, ele não pode me desobedecer, Harry, estamos presos um ao outro.


Monstro chorava agora, seus pequenos punhos pressionados contra as têmporas. Harry achou loucura, ele os odiava, mas não disse nada. Lembrou de Dobby e imaginou o quanto Monstro devia se sentir infeliz servindo a pessoas de quem não gostava.


– Pretende sair? – Sirius mudou o rumo da conversa.


– Fiquei de jogar quadribol com Rony hoje. Por quê? Você tem outros planos?


– Não... Tenho mesmo que acertar algumas coisas, não imaginava que cuidar de uma casa desse tanto trabalho... não que eu não esteja gostando – acrescentou rapidamente. – Mas, você se perfumou todo só pra jogar quadribol?


– Acha que está exagerado? – Harry corou, sentira vontade de se arrumar, nada especial, ele achava.


– Não... – Sirius respondeu, medindo-o, depois sorriu.


Achou melhor não perguntar o motivo, seja lá qual fosse. Tomou logo o café-da-manhã e saiu de casa assim que pôde, após ouvir quase quinze minutos de recomendações sobre o caminho a seguir, não sair da trilha e outras coisas mais.


Após quase trinta minutos de caminhada nem avistava a Toca. Ninguém lhe falara que o caminho era tão longo, também, tirando ele, Rony e Gina todos os demais podiam aparatar. Parou.


“Droga!” – bateu na testa, pensando consigo mesmo. – “Esqueci a vassoura” – ficara com tanta pressa de sair da casa... Encostou-se numa árvore. Quase imediatamente ouviu um barulho alto de passos à frente e Rony surgiu aos tropeços.


– Harry! – surpreendeu-se, também parecia bem cansado. – O que faz aqui?


– Indo pra sua casa! E você?


– Estava indo te buscar – largou-se no chão. – Sua casa está perto? – perguntou em tom esperançoso.


– Uns trinta minutos...


– O quê?!! Então são quase uma hora de distância! Ninguém me disse isso!


– Como vocês vinham?


– Aparatação acompanhada, com meus pais. Não vejo a hora de prestar os exames de aparatação! Vamos poder ir a qualquer lugar... Bem, pelo menos te encontrei na metade do caminho...


– Tenho que voltar, esqueci minha firebolt – desculpou-se.


– Ah... Não pode usar um feitiço convocatório? – reclamou já se levantando, sabia que era proibido, e Harry quase fora expulso ano passado por violar essa regra. – Regras idiotas!! – reclamou novamente.


Harry chegou em casa chamando por Sirius. Ninguém respondeu. Encontrou Monstro se arrastando pela cozinha.


– Ah... Monstro? Você sabe onde o Sirius está? – perguntou cauteloso.


– Saiu, meu Senhor – respondeu entre dentes.


– E... disse pra onde?


– Compras para casa, meu Senhor – fez uma reverência exagerada, afastou-se em direção ao corredor e se enfiou dentro do armário sob a escada.


Harry ficou preocupado, por que Sirius deixaria o elfo-doméstico sozinho na casa se ainda há pouco havia dito que deveria ficar de olho nele... Ano passado Monstro havia mentido fazendo com que acreditasse que Sirius corria perigo... e se tivesse mentindo agora?


– O que está fazendo? – Harry se aproximou do armário.


– Meu bondoso e amável senhor disse que Monstro podia se acomodar aqui – ironizou.


Rony achou graça. Harry, não. Também havia passado a maior parte de sua convivência com os Dursley dentro de um armário embaixo da escada, lembrou do que Dumbledore dissera ano passado, sobre Monstro ser exatamente o que os bruxos faziam dele, como o tratavam. Pensou no sentimento que nutria pelos Dursley.


Nunca vira Sirius se dirigir a Monstro de maneira amável ou benevolente. Sentiu-se mal por isso, já o tinha visto em atitudes que o deixaram decepcionado e envergonhado... e ao seu pai também. Olhou dentro do armário vazio, Monstro encolhido a um canto.


– Podemos deixá-lo bem confortável pra você – agachou-se. – Você é pequeno, vai ter bastante espaço... e pode decorar da maneira que você quiser, com coisas que goste.


Monstro ergueu os olhos pra ele e ficou em silêncio.


– É – Rony continuou. – Onde estão suas coisas?


– Monstro não tem nada, tudo pertence à antiga e nobre Casa dos Black, e Monstro não pode ir buscar.


– Bom, você vai precisar de uma cama – Rony insistiu.


– Monstro nunca teve cama, seus donos nunca se importaram com isso, Monstro dorme em qualquer lugar... só mestre Régulus... – sua voz agora estava embargada.


– Tudo bem, Monstro, vamos... vamos providenciar... Você pode trazer algumas coisas do Largo Grimmauld, coisas que goste...


– Mestre Sirius proibiu Monstro de deixar a casa... o menino Potter vai deixar Monstro voltar lá? – olhou-o desconfiado.


– Não posso... – disse Harry. Monstro se afastou e voltou a se encolher no seu canto. – Não sozinho...


Nem conseguia imaginar a reação de Sirius se pedisse pra que levasse Monstro a um passeio pelo Largo Grimmauld pra trazer algumas das lembranças da casa que ele tanto detestava.


– Mas talvez eu possa ir com você... – pensou alto demais, Monstro o encarou com uma expressão que nunca vira antes no rosto do elfo, seria esperança, felicidade...?


– Harry, acha que Sirius vai deixar você ir até lá? – Rony soltou.


– Não sei... “Era só o que me faltava” – pensou consigo mesmo. – “Por que não fiquei calado?”


Agora Monstro se levantou visivelmente animado. Que desculpa poderia dar para não ir? Que desculpa daria a Sirius se fosse? Olhou para Rony, ele parecia estar pensando a mesma coisa.


– Teria como, Monstro, irmos até lá sem que ninguém soubesse? Eu não sei aparatar... Creio que você consiga aparatar direto dentro da casa... – lembrou-se de que Dobby conseguia aparatar dentro de Hogwarts quando os bruxos não podiam.


– Monstro pode levá-lo até lá e trazê-lo de volta.


– Pode levar nós dois? – Rony quis saber.


– Não, Rony, você fica. Pode ser perigoso, se Sirius aparecer...


– Por isso mesmo eu vou contigo, Harry – interrompeu. – E tem que ser logo, antes que ele volte. É melhor que ninguém saiba, senão... – não conseguiu nem imaginar o que fariam com eles.


– Não é melhor deixar um bilhete? De qualquer forma já teríamos ido...


– Claro, junto com flores para jogarem nas nossas lápides... É melhor voltarmos antes que alguém perceba. Podemos ir, Monstro?


Monstro pegou as mãos de ambos, instantaneamente o ar ficou pesado e a luz sumiu, levou dois segundos pra perceberem onde se encontravam.


– Nossa!! Isso sim é viagem de primeira! – Rony se afastou observando os móveis, fazia tempo que não apreciam por lá.


– Monstro, pegue só o essencial, temos que voltar logo. Não podemos levar a casa toda! – aumentou o tom pra que o ouvisse enquanto se afastava.


– Shhhhh! – Rony se aproximou apressado e puxou-o rumo às escadas. – Acho que tem alguém lá embaixo, na cozinha – murmurou. – Eu ouvi um barulho.


Harry gelou. Nem pensou na possibilidade de encontrar alguém ali, algum membro da Ordem. O que diria? Sentiu o desespero palpável como a poeira que os rodeava. Se esconderam num vão escuro ao lado da escada. Ouviram passos de alguém subindo os degraus de pedra da cozinha.


Uma figura pequena e ruiva surgiu, carregando uma grande saca quase cheia. Parou em frente a um armário e começou a remexer nas gavetas. Pegou um castiçal escurecido e jogou dentro da saca. Harry não pensou duas vezes, avançou para o centro do cômodo sentindo Rony se enrijecer de espanto.


– O que você pensa que está fazendo, Mundungo?!! – perguntou em alto tom deixando-se levar pela raiva e indignação, era um membro da Ordem como podia estar roubando a Sede? Roubando Sirius?


O homenzinho pulou derrubando a sacola, várias coisas rolaram de seu interior.


– Arry?! O que faz aqui? Eu... não! Eu estava....


– Roubando? – Rony estava ao seu lado agora.


– Garotos! Como podem dizer uma coisa dessas?! – seus olhos corriam por todos os lados como se esperasse ser cercado a qualquer momento. – Sirius está aqui também?


– Não interessa! Como pode fazer isso conosco? Estamos do mesmo lado, ou não?


– Não estava fazendo nada... só uma arrumaçãozinha aqui, tantas coisas jogadas...


– Ralé, escória, roubando a casa de minha Senhora!! Sempre se esgueirando e mexendo em tudo sim, menino Potter, um ladrão, sim!


– Fora! – Harry disse, taxativo. – Saia daqui agora, e nunca mais toque em nada que estiver dentro desta casa, entendeu?


– Mas eu sou inocente... – argumentou num tom que não convencia...


– Monstro põe o ladrão pra fora se mestre Potter mandar!


Os três olharam pra Monstro, não parecia estar brincando, faria mesmo. Harry estava surpreso, era a primeira vez que o chamava de mestre.


– Eu já tô indo... – Mundungo se apressou para a porta, erguendo as mãos. Parou e virou-se. – Vocês dois ...


– Fora! – Rony apontou-lhe a varinha. – Mundungo desapareceu batendo a porta atrás de si.


Harry olhou para o amigo, admirado.


– Ótimo, era tudo o que a gente queria, agora todos vão saber que estivemos aqui.


– Se ele não contar, conto eu, Rony, ele não vai continuar entrando aqui pra roubar. São as coisas de Sirius mas são da Sede também, é como uma traição!


– Não vou ficar admirado se descobrirem que era ele, novamente, que estava de guarda no dia em que você foi atacado, Harry! Temos que nos apressar – voltou-se para Monstro, que estava agora agachado no chão, mexendo nos objetos que rolaram da sacola.


Harry se aproximou e pegou uma peça de prata suspensa em uma corrente, era pesada para o tamanho. Tinha uma serpente verde, em forma de S, em alto-relevo. Devia conter algo dentro, mas Harry não conseguiu abrir.


– Já vi isso antes – concluiu. – Sirius já não o tinha jogado fora? – observou os olhos desejosos e a maneira nervosa com que Monstro torcia as mãos, imaginou que aquele fosse um dos muitos objetos que o elfo andara recuperando das lixeiras ano passado.


– Era de mestre Régulus – murmurou com olhos aquosos.


Harry ficou observando o objeto, virando-o entre os dedos. Sentiu um formigamento estranho subir-lhe pelo braço.


– Então ele iria gostar que ficasse com você, toma – estendeu o objeto para o elfo. – É seu.


– Mestre... – Monstro parecia sem falas.


– Então – Rony quebrou o silêncio pegando a sacola vazia no chão. – Vamos pegar logo o que tivermos que pegar e dar o fora.


Os meninos ajudaram Monstro a recolher os objetos que iria levar, controlando-o nos excessos. Concluíram a lista com a cama da mãe de Sirius, por sugestão de Harry, que Monstro reduziu até o tamanho apropriado para um elfo, e que Rony teve que carregar, pois não cabia na sacola que já estava pela metade.


– Espero que caiba isso tudo lá – Rony comentou.


Harry hesitou.


– Vamos embora assim? E se ele voltar pra levar tudo o que puder, antes que os outros saibam? – Harry olhou em direção à porta.


– Mas o mestre pode, mestre Sirius o fez dono da casa também, pode lançar um feitiço pra protegê-la do ladrão.


– Não posso fazer magia fora de Hogwarts... Mas você pode! Essa casa também é sua, morou aqui toda a sua vida, pode fazer o feitiço, não?


– Se é a vontade do mestre Potter, Monstro faz! – disse emocionado.


– Por favor, Monstro, mas nada violento, apenas algo que o proíba de entrar sem a presença de outro membro, ou se a casa estiver vazia.


Monstro estalou os dedos. Harry e Rony ficaram olhado, esperando ver algo, mas não viram nada diferente.


– Só isso? – Rony se surpreendeu. – Simples assim? – insistiu ao ver a confirmação do elfo. – Puxa! Podiam ensinar isso na escola, magia de elfo-doméstico, parece ser tão mais simples do que decorar aquele monte de feitiços...


Monstro pareceu elogiado com o comentário, ao qual agradeceu com uma reverência. Harry estava feliz em ver a alegria do elfo, não lembrava mais o elfo resmungão e taciturno que conhecera ano passado, agora ele o lembrava Dobby , um elfo avô de Dobby, imaginou.


Pegou a saca em uma das mãos e com a outra segurou a mão do elfo-doméstico, Rony fez o mesmo, em um piscar de olhos estavam novamente na claridade e no ar fresco da casa nova.


– ONDE VOCÊS ESTAVAM??


O grito os pegou desprevenidos, Rony largou a cama em cima do próprio pé, Harry sentiu pedras de gelo descerem pelo estômago.


– ONDE ESTIVERAM? COM A AUTORIZAÇÃO DE QUEM SUMIRAM DESSE JEITO? TÊM IDÉIA DE COMO FIQUEI PREOCUPADO??!!


Os gritos continuaram. Agora Sirius o segurava pelo braço, abriu a boca mas não conseguiu pensar em nenhuma resposta a dizer.


– ME RESPONDE!!


– Está me machucando... – conseguiu sussurrar.


Sirius o largou, Harry se afastou rapidamente para perto de Rony.


– Desculpe, Harry... – Sirius passou a mão pelos cabelos e respirou fundo – Você não tem ideia do que eu passei. Foram os piores momentos da minha vida. Cheguei em casa e percebi que Monstro tinha desaparecido, você não estava em lugar nenhum, sobrevoei cada canto desta floresta... – sua voz subindo novamente a cada sentença.


– Falou com a minha mãe?! – Rony quis saber, alarmado.


– Claro que falei, foi o primeiro lugar em que fui procurar. Fiquei desesperado quando soube que você não tinha sequer aparecido na Toca hoje! Todos estão!


– Ah, não! Você não ... todos quem? – pediu Harry.


– Os Weasley apenas – Sirius se sentou e apoiou os cotovelos sobre os joelhos, parecia mais calmo. Harry se aproximou e se ajoelhou na frente do padrinho.


– Desculpe, Sirius... – olhou para Rony, que estava com cara de quem tinha visto a própria morte, ainda congelado no mesmo lugar. – Eu... você tinha saído, pensei que fosse demorar, não pensei que fosse... Me desculpe, por favor – estava mesmo se sentindo péssimo.


– Não custava ter deixado um bilhete. – Sirius disse. Harry olhou novamente para Rony, paralisado com a mesma expressão.


– Você ficaria menos zangado, se eu tivesse deixado um bilhete explicando?


– Não – Sirius respondeu após alguns segundos. – Provavelmente pensaria que havia sido forjado – puxou-o para si e o abraçou. – Não faz mais isso, da próxima vez, espera eu voltar.


“Até que não foi tão ruim assim” – Harry pensou, passado o primeiro momento. Mas ainda estava longe de terminar. A Sra. Weasley entrou pela porta.


– RONALD WEASLEY! ONDE ESTEVE?


Rony arregalou ainda mais os olhos. Harry foi ficar ao seu lado. Monstro também estava parado ao lado de Rony, porém com ar tranquilo. Os objetos que trouxeram, Harry reparou, haviam sumido.


Harry começou a explicar, para uma exaltada Sra. Weasley, tudo o que havia acontecido, de vez em quando, lançando olhares para ver a reação de Sirius.


– Então vocês resolvem, do nada, dar um pulo até Londres, como se não fosse nada de mais?


Têm ideia do quanto ficamos preocupados? Seu pai pediu pra ser dispensado mais cedo do trabalho por sua causa!


– Contou para o papai!!? – finalmente conseguiu falar.


– Claro que contei!! Acha que eu iria rodar o mundo em busca dos seus restos mortais sozinha?!


– Mas fomos direto para a Sede, aparatamos dentro da casa, não passamos em nenhum outro lugar...


– Então da próxima vez, deixa escrito num bilhete pra gente colocar na sua sepultura quando você voltar! – Vai ficar de castigo dentro do quarto, sem saídas e sem visitas até segunda ordem!


Harry estava com pena do amigo, por culpa dele Rony se encrencara. Sirius apenas observava em silêncio. Harry esperou que ele não estivesse reconsiderando sua posição, fora muito mais compreensível.


– Sra. Weasley – tentou argumentar percebendo que o castigo de Rony o incluía, já que o amigo iria ficar sem receber visitas. – Se não tivéssemos ido não descobriríamos o que Mundungo anda fazendo, não é? Afinal, foi muita sorte termos aparecido na hora certa.


– Não, Harry! Sirius saberá o que fazer com você, é claro que te colocaria de castigo também, mas não cabe a mim decidir.


Harry achou que sua explicação havia sido um tanto sugestiva, com a qual Sirius concordou prontamente, dizendo que Harry também estaria de castigo a partir daquele instante.


Rony, antes de ir embora, lançou-lhe um olhar de despedida, de quem está sendo levado para execução, que deixou o amigo se sentindo ainda mais culpado. Imaginou que a noite seria bem longa para Rony, ainda teria que enfrentar o pai quando chegasse em casa.


Sentiu umas palmadinhas acima da cintura, olhou pra baixo, Monstro o olhava compadecido. Tentou sorrir. Ficou no quarto até a hora do jantar, que naquela noite foi um verdadeiro banquete, até Sirius pareceu voltar ao humor habitual por conta da maravilhosa refeição.


Hesitou um pouco, mas tomou coragem e perguntou a Sirius enquanto este se servia pela segunda vez.


– Então... qual será o meu castigo?


– Hum... Qual... O que os teus tios te mandavam fazer quando ficava de castigo? – perguntou um tanto incomodado.


– Nada... me trancavam no quarto... sem comida – acrescentou de má vontade.


– Não!! – Sirius discordou em tom de desaprovação – Vou pensar em alguma coisa.


Harry ficou aliviado, as refeições prometiam ficar bem melhores agora, com Monstro.






Na manhã seguinte Sirius o surpreendeu com um convite para irem às compras, disse-lhe que precisavam comprar algumas coisas para decorar seu quarto. Saíram com Tonks, divertiram-se muito. Compraram enfeites, quadros, roupas de cama, e muitas outras coisas, tudo ao gosto de Harry. Levaram toda a manhã escolhendo cada item. Compraram também uns mimos para Edwiges e algumas coisas para o Lupin, que Sirius informou, à pergunta de Harry, andava pela floresta, a trabalho.


Tonks lhe contou que havia sido muito difícil convencer Lupin a ir morar com eles. Lupin se considerava uma ameaça para a segurança deles, embora todos, até mesmo Dumbledore discordassem. Ele só aceitara mesmo o convite como um pedido para que Harry se sentisse mais em família, com mais pessoas em casa.

Harry ficou durante algum tempo pensando a respeito, a poção de Mata-Cão, diziam, era muito difícil de ser preparada, deveria ao menos tentar aprender, mas não estudaria mais poções, não obtivera NOMs suficientes... Teria que esperar Hermione chegar para discutirem isso.


Chegando em casa foram recebidos por um elfo-doméstico solícito e dedicado. Sirius recebeu desconfiado e surpreso a repentina mudança, Harry já havia pedido para que o tratasse melhor, para que parasse de associar o elfo ao próprio passado, assim conseguiria tratá-lo como deveria. Sirius pareceu espantado com a sugestão, mas Harry percebeu suas tentativas.


Depois do almoço Harry se ofereceu para ajudar Monstro com a arrumação das coisas que haviam trazido do Largo Grimmauld, mas Monstro mostrou-lhe que já providenciara tudo, então subiu e foi arrumar o próprio quarto. Idealizou mantê-lo sempre arrumado a partir de então, imaginou o que Gina pensaria se visse como costumava deixar seu quarto da rua dos Alfeneiros.


Depois estranhou esse pensamento, afinal, Rony não era melhor do que ele nisso. Sirius apareceu no quarto com o seu par dos espelhos, que usara para falar com ele em Surrey, e sugeriu que enviasse um, secretamente, para Rony. Harry adorou a ideia, na mesma hora foi à janela e chamou por Edwiges, que costuma ficar sempre nas árvores próximas ao seu quarto.


Sirius o ajudou a embrulhar e escrever um bilhete que alertasse Rony a guardar segredo e que ao mesmo tempo pudesse ser lido por qualquer pessoa sem levantar suspeita. Após mais de dez minutos bolando algo, conseguiram despachar a mensagem. Seu castigo, pelo jeito, Sirius havia esquecido.


Os próximos dias foram igualmente formidáveis para Harry, nunca havia sido tão paparicado, exceto pela Sra. Weasley. Até Monstro fazia de tudo para agradá-lo, sempre indagando por suas preferências. Rony e ele conversavam todos os dias, pelo par de espelhos, em segredo.


Quando Hermione chegou, na outra semana, a Sra. Weasley concordou em liberar Rony do castigo. Hermione exigiu que lhe contassem tudo. Harry falou pela primeira vez, em detalhes, o que havia acontecido em Surrey, e Rony o ajudou a contar sobre a ida ao Largo Grimmauld. Para surpresa de ambos, Hermione os apoiou, disse que a Sra. Weasley havia exagerado um pouco com Rony e os parabenizou pelo feito, que segundo ela, poderia ser um bom exemplo a ser mostrado pelo FALE.


– Embora, se vocês tivessem me esperado, eu poderia ter ajudado – ela reclamou. – E duvido que teriam sido pegos.


– Nós percebemos isso quando tudo saiu errado, você nem imagina o quanto sentimos a sua falta... – Rony respondeu, meloso demais. Hermione sorriu.


Harry riu e Rony ficou sem graça. Era difícil vê-lo assim tão afetuoso, geralmente era bem insensível, Harry não pôde resistir. Gina se juntou a eles, quebrando o clima de constrangimento e culpa. Os quatro passaram o resto da tarde juntos.


Antes de se despedir Harry chamou Hermione para passar as férias com ele, na Casa Verde, que era como os outros da Ordem a chamavam, Rony pareceu não gostar da ideia. Sugeriu então, que passassem os três juntos em sua casa o resto das férias, Rony ficou de pedir à mãe. Marcaram de visitar Harry na manhã seguinte, Gina também se interessou em ir e Harry ficou feliz por isso, despediram-se.


O Sr. Weasley fez questão de levá-lo pra casa. Ficou imaginando se permitiriam que passeassem pela propriedade como haviam planejado.


Sirius o esperava para jantar, não sentia fome, mas não quis desapontá-lo. Depois do jantar pediu para ver a reportagem que Sirius mencionara há uma semana.


O Profeta trazia na capa uma foto de Sirius e Dumbledore, relatava o “triste destino de Sirius Black”, condenado injustamente após a morte do melhor amigo, a fuga desesperada da prisão de Azkaban, a caçada promovida pelo Ministério o confronto com bruxos das trevas dentro do próprio Ministério, nesse ponto a narrativa se voltava para Harry, sua invasão ao Ministério com a esperança de salvar o padrinho – essa parte Harry imaginou que o próprio Dumbledore esclarecera o ocorrido, já que desconhecia que os amigos tivessem dado relatos à imprensa, assim como ele próprio.


Mencionava também o confronto com Comensais da morte, o duelo com Voldemort. A partir de então muitos comentários e especulações de bruxos e funcionários do Ministério que não quiseram se identificar – “Pura invenção” – Harry pensou, não tinha mais confiança no jornal.


Citavam Harry como a esperança contra o reino das trevas, o menino que derrotara Você-Sabe-Quem, o garoto cujo poder e magia eram comparáveis com o do bruxo das trevas mais poderoso que já existiu...que pela segunda vez, após seu retorno o enfrentara e o vencera, relembravam, maldosamente, a semelhança entre eles, órfãos, ofidioglotas, ...


– Um monte de baboseiras, tirando o que realmente interessa – Sirius comentou. – Em alguns artigos te chamam de o Eleito, dizem que você é a esperança de derrotar o Lorde das Trevas, já em outros, que seus poderes, incomuns em tão pouca idade, podem ser um sinal preocupante, principalmente se consideradas as... semelhanças, e a obsessão que o Lorde das Trevas tem demonstrado por você... Especulações, Harry, chegam a ser ridículas. Acho que o Profeta quer agradar a todos que puderem comprar o jornal....


– É... – concordou, evasivo. – Alguma notícia dele?


– Não, ainda não.





Naquela noite teve pesadelos. Sobrevoava vales e montanhas, a paisagem mudando rapidamente. Quando desceu, Harry percebeu que não usava vassoura, sentia-se liberto no ar, sem limitações. Passou por uma fenda na rocha e desceu por um caminho estreito até a parte mais profunda e sombria. Estava angustiado, queria respostas.

Chegou a uma grande gruta subterrânea, sombras se arrastavam por perto, o caminho mal iluminado por poucos archotes. Não sentiu medo, seguiu em frente descendo ainda mais, rumo às profundezas da terra. Parou em frente a um pequeno declive na rocha e olhou para baixo, alguma coisa se contorcia no chão, parecia um homem, a iluminação era muito fraca naquele espaço.


– O que vem fazer cá o que Lorde se diz? – uma voz sibilou na língua das cobras. Era fraca, pouco mais que um sussurro, como se seu dono já tivesse vivido muitos anos.


– Tenho dúvidas, preciso de respostas que não encontro em nenhum lugar – o silvo saiu involuntariamente de sua boca.


– Já esteve aqui antes, em corpo outro, não adiantou falar eu pra você... eu avisei, mas teimou!


– Sim, mas fui bem sucedido e estou aqui hoje. Mas descobri, há pouco, uma parte da qual não tinha conhecimento, não deveria existir...e é por isso que estou aqui. Preciso saber o que fazer com essa outra parte, como desfazer sem...


– Não! – sibilou raivosamente. – Avisado foi, coisa viva não usar! – o vulto agitou-se energicamente, parecia estar se erguendo. – Mesma espécie foi usado, então vida própria é, do pai mesmas características, mas controlar não consegue.


– Mas eu não tive a intenção! Me diga o que devo fazer! – sentiu a raiva crescendo. – Tantos anos me sacrificando para chegar até aqui, onde nenhuma outra criatura viva conseguiu chegar...


– Ninguém lugar de tolo quer – algo se agitou atrás da figura sombria, agora erguida até sua mesma altura. – Pegou demais, nada deu, transformação magia é, troca... Assim a natureza é, filho substitui pai, pra isso cria.


– Só que não fui eu que criei... O que faço agora? Muito tempo se passou, o destino já foi traçado ... – sentiu-se angustiado, não parecia haver resposta, nenhum caminho.


– Chega! Destino não traçado foi! Você traçou! Desfazer não pode, mas transformar, terá... Guardiães já sabem... – o vulto deslizou rapidamente para longe, a conversa tinha chegado ao fim. Cruzou pela luz do archote mais próximo, em direção às trevas do outro lado da caverna, por alguns instantes teve o corpo iluminado.


Harry soltou um berro. Estava apavorado. A escuridão o envolvia. Se lançou para longe tentando se afastar da criatura, sua cicatriz queimava, se debateu no chão entre os lençóis, tentando ficar de pé mas tudo rodava, só havia escuridão e o pavor pela proximidade daquela criatura.


– Harry!! – uma voz gritou ao longe.


Mãos o agarraram tentando puxá-lo para algum lugar, nas trevas que o rodeava.


– Afaste-se de mim!! – se ouviu gritar num silvo rouco.


Alguém o segurou com força e então surgiu a luz, cegando-o. Encolheu-se tapando os olhos com as mãos.


– Calma, estamos aqui – Sirius sussurrou, ainda imobilizando-o.


Abriu os olhos devagar, se habituando à recente claridade, estava sem os óculos, sua cicatriz ardia muito. Sentiu alguém se abaixar ao seu lado e por a mão sobre sua testa. A mão fria sobre sua cicatriz lhe proporcionou um pequeno alívio.


– Ele está muito quente! Vou buscar água.


Ouviu a voz de Lupin vinda de algum lugar. Não sabia que havia voltado. Aos poucos sentiu seu corpo parar de tremer. Alguém o ergueu do chão e o colocou sobre a cama. Sua cabeça ainda rodava, estava tonto, mas conseguia distinguir vultos.


Estava em seu quarto, uma figura pequena se agitava bem próximo, ao lado de outra maior, que se debruçava sobre ele. Ouviu novamente a voz de Sirius, fazia perguntas que não entendeu, estava se concentrando em fazer seu corpo se mexer, se sentia muito pesado. Uma mão prendeu-o contra a cama. Ouviu novamente a voz de Lupin, alguém colocou algo gelado sobre sua cicatriz, se sentiu melhor.


– Obrigado – sussurrou, ou pensou ter sussurrado e apagou.





Abriu os olhos devagar se acostumando à claridade. Olhou em volta estranhando o local. Fotos gigantes de motos decoravam a parede, do outro lado do quarto uma banda de rock se agitava num poster gigante. Estava no quarto de Sirius. Edwiges piou da janela aberta. Lembranças ruins tentaram invadir a sua mente.


O lugar na cama, ao seu lado, ainda estava quente, mas não ouviu ninguém por perto. Procurou seus óculos mas não os encontrou na mesa de cabeceira. Levantou e saiu para o corredor. Silêncio. Se esgueirou pelas paredes até chegar ao banheiro. Tomou um banho. Ficou um bom tempo deixando a água cair sobre sua cabeça.

Chegou ao seu quarto com dificuldade, não enxergava muito sem os óculos. Não os encontrou em lugar nenhum, estava ficando angustiado. Alguém entrou apressado pela porta.


– Está se sentindo bem? Não devia ter se levantado ainda – Sirius o conduziu até a cama.


– Estou bem, Sirius, sério, só não estou achando meus óculos...


– Eu os pus aqui...


Sirius afastou-se, voltando em seguida. Pôs os óculos em seu rosto. Ficou aliviado, se sentiu mais reconfortado. Agradeceu.


– O que está sentindo? – pôs a mão sobre sua testa.


– Nada, não estou sentindo nada, estou ótimo.


– Lembra o que aconteceu noite passada? – perguntou Sirius, hesitante.


Harry fechou os olhos e massageou a nuca. As imagens estavam todas lá, como se ele mesmo as tivesse vivido, já acontecera antes, sabia que não havia sido um sonho.


– Eu ... tive um pesadelo – mentiu.


Depois de tudo o que passara no ano anterior, não queria que o obrigassem a ter, novamente, aulas de Oclumência com Snape. Não agora que finalmente se livrara do professor. Sem falar em admitir que não conseguira aprender nada até então.


– Deita aqui um pouco – Sirius levou novamente a mão à sua testa.


– Não preciso deitar – reclamou. – Estou ótimo!


Lupin apareceu com uma taça nas mãos. – Como ele está, Sirius?


– Não sei... – Sirius respondeu, hesitante. – Parece que a febre já passou.


– Eu estou bem!


– O que aconteceu então, noite passada, o que você viu?


Queria abrir a boca e dizer que era normal, que aquilo não acontecia com ele, que não “virava” Voldemort quando fechava os olhos.


– Eu não sei ao certo... Mas eu estou bem – insistiu. – Só tive um pesadelo.


– Com... cobras? Você falou em língua de cobra ontem, alguma cobra específica? A cobra de Voldemort? – Lupin inquiriu.


Harry se arrepiou com a lembrança da figura em seu “pesadelo”.


– Nagini? Não... – Sirius e Lupin se enrijeceram com a menção ao nome de Nagini. – É como ela se chama... a cobra – Harry explicou.


– Beba isso, Harry – Lupin forçou a bebida em sua boca antes que pudesse perguntar algo. O gosto não era tão ruim. – É um tônico – Lupin explicou. – Vai se sentir melhor com ele.


– Posso descer? Estou faminto – exagerou um pouco, só queria se livrar daquilo tudo.


– Vou trazer algo...


– Não! – exclamou, erguendo-se. – Eu quero descer.


Sentaram à mesa. Monstro, tratando-o também como um doente, enchia o seu prato.


– Chega, Monstro. Obrigado – pediu. – Rony, Hermione e Gina vão passar o dia comigo hoje, podemos dar umas voltas, dentro dos limites?


– Quem sabe... se você confiar na gente e dizer exatamente o que o perturbou ontem...


Harry suspirou, Sirius não se deixara convencer. Não queria falar a respeito.


– Mas eu confio em vocês! É que... agora não, tenho que arrumar meu quarto. – nunca se preocupara em arrumar o quarto quando na casa dos Dursley. Estava virando paranoia.


– Não se preocupe, mestre Potter, Monstro arruma.


Abriu a boca pra dizer que não precisaria, que queria fazê-lo ele mesmo, mas já via apenas o lugar vazio onde Monstro estivera.


– Harry... – Lupin começou. – Isso pode ser muito importante, seria bom ter uma ideia do que ele está fazendo... o porquê de estar tão quieto.


– Pensei que não quisessem mais que eu tivesse essas visões, que eu aprendesse Oclumência.


– Bom, você tentou, não?


– Sabemos também que pode afastá-lo, ele sequer conseguiu possuí-lo no Ministério, ele não vai te controlar, você só precisa treinar mais – Lupin sugeriu.


– Não quero ter aulas com Snape! – apressou-se em esclarecer. – Posso ter aula com qualquer um que vocês quiserem, menos com ele.


– Eu nunca iria propor uma coisa dessas! – Sirius afirmou, veemente.


Harry se sentiu melhor.


– Eu não sei onde ele está, mas não é por aqui, ele não está perto, havia montanhas e ... – parou e apoiou a testa nas mãos, sua cicatriz estava formigando de novo.


– O que foi, Harry? – Sirius se levantou e foi pra perto dele.


– Minha cicatriz... – murmurou. – Acho que... quero subir um pouco.


Não devia ter dito isso, sabia, mas não queria continuar com aquilo, forçar as lembranças agora o levariam de volta para onde Voldemort estivesse, pôde sentir.


– Talvez seja melhor – Sirius fez menção de ajudá-lo. Recusou.


Quando chegou ao quarto encontrou-o tão impecavelmente arrumado, que estranhou durante alguns segundos parado à porta.


– Monstro, obrigado, ficou ótimo!


– É sempre um prazer, jovem mestre!


Harry olhou pra cama e percebeu que não poderia dormir, isso só facilitaria as coisas, deixaria sua mente vulnerável. Ficou olhando pela janela, imaginando quanto tempo seus amigos demorariam para chegar, pegou o espelho e chamou por Rony. Nada. Na certa, ainda estaria dormindo, acabara de amanhecer. Pegou sua firebolt e desceu. Sirius e Lupin, ainda à mesa, conversavam. Pararam quando o viram.


Comunicou que iria dar umas voltas, rodear a casa, não iria longe. Na verdade só queria se manter ocupado. Ambos hesitaram um pouco, por fim, concordaram.

Como sempre acontecia, assim que sentiu o vento frio no rosto se sentiu muito bem. Sobrevoou ao redor da casa contornando o bosque, foi subindo aos poucos. Estavam bem isolados do resto da civilização, ainda assim, tinham que tomar cuidado. Subiu o suficiente para que conseguisse avistar a Toca.


Olhou pra baixo e lembrou da sensação que tivera quando sobrevoara aquela região desértica, a liberdade, deixava o voo em sua firebolt desconfortável em comparação. Essas lembranças não lhe trouxeram nenhuma sensação desagradável, ficou aliviado.

Ficou a imaginar como Voldemort fazia aquilo, como conseguia voar sem uso de vassoura. Deixou-se inundar pela lembrança daquela sensação de leveza, sentiu sua vassoura corresponder também, as curvas ficaram mais suaves e fáceis.


Resolveu checar se Rony já acordara, desceu e entrou pela janela do quarto, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Colocou a firebolt sobre a cama, abriu o armário para pegar o espelho e se voltou para sair, flutuou até a janela quando se deu conta de que esquecera a vassoura sobre a cama.


Aconteceu tudo muito rápido, levava em uma mão o espelho e quando tocou com a outra a janela olhou para baixo e percebeu que não pegara a vassoura, no mesmo momento despencou.


Tinha mais da metade do corpo para fora da janela, ficou de ponta a cabeça, quase caindo lá embaixo, e enquanto tentava se içar para dentro do quarto novamente acabou deixando o espelho cair.

Quando seus pés tocaram o chão do quarto de novo respirou fundo pra tentar acalmar as batidas de seu coração. Pegou a vassoura e desceu às pressas, recolheu todos os cacos que encontrou e os levou de volta ao quarto, o que queria falar com Rony já não tinha importância, acabara de voar pelo quarto!


Seu primeiro impulso foi de falar com Sirius e Lupin, mas, pensou melhor. Afinal, não devia ser algo tão extraordinário, lembrou de quando Neville contara como sua família soube que não era um aborto como imaginavam, quando conseguira levitar da janela do primeiro andar ao térreo quando “largado” por seu tio... Ficou contemplando o céu e pensando se receberia uma carta do Ministério por isso.


Sons de vozes e risadas chegaram aos seus ouvidos, foi recebê-los ainda no jardim. Assim que entraram na cozinha Hermione fez questão de parar e conversar com Monstro, que dessa vez se mostrava mais tolerante, ao menos, estava se esforçando muito ao lidar com o preconceito que recebera de herança da família Black. Sirius apareceu e sugeriu um passeio seguido de um piquenique ao ar livre.


 



 

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Comentários (1)

  • Dih Potter

    "...Acha que eu iria rodar o mundo em busca dos seus restos mortais sozinha?!"Essa parte foi simplesmente demais....Tô amandooo 

    2012-08-15
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