O Leão e a Serpente



O LEÃO E A SERPENTE



Harry estava sentado na janela com uma folha de pergaminho no colo e uma pena na boca pensando no que escrever. Rony estava deitado na cama enfeitiçando as cortinas para mudarem de cor até achar uma que lhe agradasse. Mione andava lentamente pelo dormitório vazio. Simas, Dino e Neville só voltariam no final do dia seguinte.


Eles e Gina eram os únicos alunos da Grifinória no castelo, os demais estavam aproveitando a oportunidade de estarem juntos da família, o que, devido às circunstâncias atuais, era algo incerto de poder se repetir.


– Você ainda pode voltar pra casa, passar esses dois últimos dias com seus pais – Rony sugeriu a ela.


– Ainda acho que seria interessante se procurássemos o Cetro de Slytherin. - Mione ignorou seu comentário.


– Não estou interessado nas joias da família dele. - Harry disse olhando para seu pergaminho, até agora havia escrito “diário”, “medalhão” e “anel”. Estava tentando relacionar outros possíveis objetos que Voldemort poderia ter transformado em horcruxes.


– Não mesmo? - Rony perguntou sarcástico.


– O Sr. Gaunt me deu o anel, é meu agora. E se conseguirem extrair a alma dele sem destruí-lo...


– Foi uma boa ideia. - Mione concordou – Tínhamos que arranjar outras para testarmos até conseguirmos.


– Quantas vocês acham que são? Lupin disse que três já era muito. - Rony decidiu por deixar as cortinas na cor salmão.


– Não consigo pensar em nada. - Harry declarou pondo o pergaminho de lado - Eu teria que saber quais objetos ele já teve, e então sim, decidir quais ele poderia ter usado.


– Hogwarts é grande, se duas horcruxes vieram parar aqui, quem sabe... - Rony especulou.


– Vamos descer. - Harry ficou de pé e caminhou para a porta. Encontraram Gina sozinha no Salão Comunal, estudando. Desde o dia anterior ela os estava evitando e os olhava como se a tivessem traído.


– Oi. - Mione a cumprimentou mas ela fingiu não ouvir. Rony sentou ao seu lado, porém, ela sequer olhou em sua direção.


– Nós estamos descendo Gina, quer vir com a gente? - Harry tentou. Ela se levantou e foi sentar mais distante, próximo à lareira.


– Descer mais para onde? - Rony estranhou.


– Pra baixo de Hogwarts, vamos começar pela Câmara Secreta, depois procuramos pelo resto do castelo. - Harry explicou se encaminhando para o retrato.


Entraram no banheiro feminino e lacraram a porta. Murta não se limitava mais ao banheiro, não queriam correr o risco de serem surpreendidos por alguém. Desceram escorregando pelo encanamento, passaram pelo desmoronamento e chegaram à Câmara.


Harry voltou a examinar a estátua enquanto Rony e Mione se espalhavam admirando a grandiosidade do lugar. Vasculharam todo o local e os encanamentos secundários, mas não acharam nada.


– Isso virá bem a calhar, já que Dumbledore ficou com as nossas garras de dragão. - Rony comentou enquanto recolhiam as presas de basilisco.


– Só as usaremos em último caso... - Harry o lembrou.


– Onde vamos achar essa informação, para os gêmeos? - Mione indagou pensativa.


– Aposto que eles sabem, bem que poderiam nos ter dito, pensei que as coisas mudariam agora... - Rony reclamou.


– Claro que não Rony! Para começar nem deixaram que a gente falasse com Monstro. Podem até liberar alguma informação, mas da forma mais limitada possível. - disse Mione.


Voltaram para a torre da Grifinória para guardar as presas e pegar o mapa. Tinham perdido a hora do almoço, então foram comer alguma coisa na cozinha com Dobby. Decidiram começar pelo lado leste do castelo.


– Não estaria tão à vista assim para qualquer aluno ou professor. - Harry disse a eles no final da tarde quando terminaram o lado leste imundos e um pouco desmotivados por não terem achado nada. - Podemos ser mais seletos... depois da Câmara Secreta, um outro lugar em que poucos ou só ele teria acesso...


– O dormitório da Sonserina... - Mione sugeriu se animando.


– Como vamos entrar lá sem que nos matem? - Rony limpou as mãos empoeiradas nas vestes imundas. - Poção Polissuco?


– Draco...


Viram no mapa que ele estava com Pansy Parkinson em uma das torres oeste. Encontraram os dois abraçados olhando a floresta ao longe.


– Bela vista daqui de cima. - Harry os interrompeu.


Pansy olhou para eles com desdém reparando em suas vestes imundas. Draco pediu que ela descesse e o esperasse nos jardins.


– Não vou sair e te deixar sozinho com esses três... - disse olhando-os desafiadoramente.


– Não somos covardes como vocês sonserinos... - Rony bufou.


– Por favor, Pansy. – Draco pediu com doçura fazendo Rony e Harry trocarem um olhar enojado.


– O amor te faz bem Draco... - Mione se admirou enquanto Rony observava o mapa para ter certeza que ela não ficaria para tentar ouvir a conversa. - Nada como um pouco de sensibilidade...


– Vocês estão tentando se confundir com a sujeira do castelo? Tudo isso é pra se esconder deles? - Draco gracejou.


– E bom humor... - Mione cruzou os braços irritada.


– Esconder de quem? - Harry olhou para baixo, na direção que ele apontara. - Ah... aurores! - Rony e Mione se aproximaram para ver também.


– Mas... O que é isso? Nos disseram que podíamos confiar neles... - disse Rony.


– Sim, mas não que iriam confiar na gente, não acreditei que fossem facilitar. - Harry disse a eles.


– Isso dificulta tudo. Como vamos sair com aurores vigiando os terrenos?


– Vamos encontrar um jeito Mione...


– Eu ainda estou aqui, lembram? Vão me dizer ou não o que está acontecendo? Eles não vieram por mim...


– Por que viriam? - Harry o encarou. - Você conseguiu mesmo? - perguntou pasmo - Foi até Azkaban?


– Por que eu não conseguiria? Você se acha o único esperto por aqui? - Draco se aborreceu.


– Desculpe, não tive a intenção. - Harry pediu se sentando na murada.


– Tudo bem... A principio eu pensei que tivessem me descoberto – Draco reconsiderou – Mas então descobri que vocês tinham voltado mais cedo...


– Que esperto... - Rony debochou sentando-se aos pés de Harry.


– Não viemos discutir quem violou mais regras, temos muito a fazer – Mione os lembrou.


Harry pôs Draco a par das últimas descobertas sobre as horcruxes e pediu sua ajuda para procurar as que poderiam existir no dormitório da Sonserina.


– Mas como eu vou achar isso? - Draco perguntou temeroso.


– Bom... estará provavelmente escondido, será antigo e protegido por magia. - Harry explicou.


– E é provável que tente te matar... - Rony reparou o olhar deles – O que foi?


– Só queremos que você ache e traga pra gente... - Harry pediu. - Se estiver protegida...


– Vocês acabaram de destruir uma, saberão reconhecê-la melhor do que eu. - Draco se justificou.


– E como você espera que entremos lá sem sermos atacados pelos seus “amigos”?


– Aguardem dez minutos e me encontrem lá em baixo. - Draco desceu.


– Vão confiar nele? - Rony perguntou quando ele se afastou.


– Rony... - Mione reclamou. - Seja mais tolerante.


Após dez minutos desceram. Passaram pela Professora Vector, de Aritmancia, ignorando seu olhar alarmado para o estado deles e desceram até as masmorras. Raven havia ficado com Sirius, só voltaria no dia seguinte junto com a maioria dos alunos, até lá teriam o castelo todo para explorar.


Esconderam-se quando viram meia duzia de alunos da Sonserina saírem reclamando e tampando o nariz. Draco apareceu à entrada e fez sinal para que entrassem.


– Ótimo, e agora, onde ficam os dormitórios? - Mione perguntou com a voz anasalada enquanto interrompia a respiração.


Draco os guiou. Procuraram em cada centímetro dos quartos do dormitório masculino. Olharam em baixo das camas à procura de um piso solto ou qualquer compartimento secreto, Harry vasculhou o teto. Não encontraram nada.


– Não há nada aqui - Draco reclamou quando terminaram o último quarto, olhando criticamente a própria camisa empoeirada e amarrotada.


– Claro que não! - Harry exclamou de repente. - Esse nem sempre foi o Salão Comunal da Sonserina!


– A antiga Ala de Salazar Slytherin... - Draco comentou percebendo o que ele estava tentando dizer.


– Vamos, antes que passe o efeito da bomba de bosta e alguém resolva retornar. - Se apressaram para a saída. Harry olhou ao longo do corredor. - Para que lado fica? - Perguntou a Draco.


Assim que desceram Harry girou a varinha em círculo fazendo com que todos os archotes se ascendessem em sequência. Observaram atentamente o caminho para que não se perdessem na volta.


– Esse lugar é assustador. - Rony comentou.


– Você acha isso porque não ficou preso aqui, no escuro... - Harry parou diante dos primeiros corredores. - Há mais dois corredores lá na frente, é melhor nos separarmos.


– É melhor ficarmos juntos. - Mione se opôs.


– Você e Rony podem ficar com o corredor da direita – Harry apontou a varinha para o longo corredor escuro. - Se acharem alguma coisa... - sugeriu levando a mão ao cordão. - E você Draco? Prefere ficar com a próxima passagem?


– Não... sua presença não me incomoda tanto assim...


Acenderam as varinhas e entraram no corredor à esquerda. Draco lançou um feitiço para limpar o caminho das teias de aranha. Chegaram a uma área circular com duas portas laterais, o corredor continuava em frente, mas antes inspecionaram os aposentos. Eram amplos e o teto era pintado com desenhos do oceano refletindo o pôr-do-sol.


Passaram por mais cinco locais iguais ao primeiro, não encontraram nada. Mione e Rony também não haviam mandado nenhuma mensagem ainda. O corredor terminou em um grande salão de banho. Havia grandes blocos coloridos no meio do caminho, que haviam se desprendido do teto.


Contornaram os escombros e olharam os sanitários e os chuveiros, havia um espaço vazio num canto onde o chão era mais baixo.


Harry foi até lá e desceu para aquela área retangular o som de metal ecoou no aposento, bateu com o pé no chão confirmando suas suspeitas.


– O que você acha? - Harry perguntou a Draco, que tinha aproveitado para lavar as mãos e o rosto em uma das pias.


– Que esses são bem melhores que o nosso. Slytherin tinha bom gosto.


– Estou falando dessa parte do chão! - Harry disse pulando sobre a placa de metal – Está ouvindo? É oco, deve ter algo aqui em baixo.


– Sim, esgoto. E se continuar pulando aí vai acabar caindo lá dentro, ou fazendo alguma coisa cair em cima da gente – Disse observando a pintura restante do teto desbotado.


Harry flutuou acima da área suspeita e fez com que a tampa levitasse até o outro lado do banheiro. Ficou um tempo observando a piscina de mármore branco com água até a metade. Draco se aproximou para observar também.


– É só uma banheira. - Draco comentou por Harry continuar observando-a insistentemente.


– Mas está tão limpa após tanto tempo... - Disse reparando o mar azul refletido na superfície da água.


– O que é um verdadeiro espanto neste castelo imundo. – Draco concordou espanando a poeira da roupa. - Vamos verificar logo o outro corredor.


Harry foi para a borda, ergueu a manga da blusa e deitou no chão. Mergulhou o braço na água, junto com o frio que invadiu o seu corpo sentiu algo mais, que fez sua cicatriz latejar.


– Está ali, está vendo? Lá no fundo – Harry se ergueu apontando a varinha. Tentou invocar o objeto, mas tal como o anel ele estava protegido.


– Não estou vendo nada... - Draco se agachou na borda e mergulhou a varinha iluminada dentro d'água, alguma coisa fez sombra no fundo da banheira, algo tão branco quanto o próprio mármore. - Que objeto é aquele?


– Não sei... Mas seja o que for, é uma horcruxe. - disse pegando o cordão e enviando uma mensagem a Rony e Mione, enquanto Draco fazia um fio dourado sair de sua varinha para tentar pescar o objeto mas não conseguiu fazer com que chegasse perto dele. - Você conseguiu inundar a sala do Snape, não consegue esvaziar a banheira?


– A sala dele não estava protegida por magia naquela época. - Draco tentou alcançar o ralo que faria a água sair, mas também era impossível. - Te aconselho a nunca mais tentar entrar lá, ele me deu uma ideia do que irá acontecer a quem tentar...


Rony e Mione apareceram e Harry mostrou a eles onde estava o objeto.


– Alguma ideia para tentar tirar isso daí de dentro? - Perguntou já se despindo dos sapatos e das blusas.


– Não... Mas eu não acho que você deva fazer isso, se está protegido como o anel, não sabemos o que pode acontecer a quem mergulhar aí. - Mione considerou.


– O objeto é pesado demais para boiar, o que mais podemos fazer? - perguntou se sentando à borda e dobrando as pernas da calça. Ficou um tempo olhando para o fundo, reunindo coragem para fazer o que devia ser feito.


– Deixa que eu faço. - Draco se ofereceu desabotoando a roupa.


– Não, talvez seja menos arriscado se eu fizer – disse Harry lembrando que só ele conseguira abrir o medalhão.


– Ou justamente ao contrário – Mione disse franzindo a testa e olhando de esguelha para Draco.


Harry entrou na água gelada, um estremecimento percorreu seu corpo e teve certeza que não era só pelo frio.


– É mais fundo do que parece – disse procurando se direcionar exatamente acima do objeto, seus pés nem encostavam no fundo, teria que mergulhar. Tirou os óculos e os jogou para Mione, não precisaria da visão embaixo d'água, podia senti-la.


Rony já estava retirando o excesso de roupa tencionando entrar se algo acontecesse. Harry tomou fôlego e mergulhou. Na mesma hora sua cicatriz ardeu violentamente desorientando-o.


Tentou focar apenas o objeto ao fundo enquanto cada parte do seu cérebro gritava para que saísse dali, mas sabia que era tarde, tinha que pegar o objeto. Seus dedos se fecharam sobre o objeto cilíndrico mas ao invés de subir, seguiu seus instintos e abriu o ralo, só então se impulsionou para emergir, mas como previra a superfície formava um manto intransponível. Entendeu o que Hermione tentara dizer, a proteção feita para não permitir que a alma de Voldemort fosse retirada do local escolhido para seu repouso, e em seu caso, isso talvez o incluísse também. Sentiu medo, mas então fechou os olhos e se sentiu melhor, não estava sozinho.


Assim que Harry pegou o objeto no fundo da banheira Rony se agachou na borda para ajudá-lo a sair d'água, mas ele não subiu, ao invés disso se afastou em direção ao ralo.


– O que ele está fazendo? - Mione reclamou enquanto Rony entrava na água gelada.


– Uau! Dá pra usar um feitiço para esquentar um pouco isso aqui? - Rony pediu a Mione enquanto boiava olhando na direção em que Harry subia, mas ele não saiu da água.


– Não mergulhe! - Mione gritou.


Rony nadou rapidamente até Harry, o segurou antes que afundasse o nível da água descia lentamente, o puxou com dificuldade até a borda. Draco também entrou e ajudou a retirá-lo.


Deitaram-no na margem da piscina, estava muito pálido e frio.


– Ele está muito gelado... - Mione passou a mão pelo seu rosto afastando os cabelos molhados, o chamou repetidas vezes e o sacudiu, em vão.


– O coração dele está batendo - Rony disse após encostar o ouvido em seu peito. - Ele está respirando... Por que não acorda?


Mione retirou com dificuldade o cilindro de seus dedos enregelados e o fez rolar para longe.


Enervate! - Draco disse apontando a varinha diretamente para o peito de Harry, mas nada aconteceu.


Hermione fez vapor quente sair de sua varinha para aquecê-lo e Rony fez o mesmo. Aos poucos sua cor foi voltando ao normal e sua respiração se tornou mais perceptível.


– Tom... - Harry sussurrou. Mione beijou seu rosto repetidas vezes, aliviada.


– Harry, somos nós. Estamos aqui com você... - Rony disse enquanto ele abria os olhos devagar.


– Rony? São sete, Rony...


– Tudo bem... - Rony disse a ele - Vamos te tirar daqui.


– É melhor levá-lo até a Ala Hospitalar – Draco sugeriu enquanto Rony e Mione o ajudavam a se levantar.


– Estou bem, Draco. Obrigado. - Harry disse trêmulo pegando os óculos. - Onde ela está?


Mione lhe passou o cilindro branco que ele examinou curioso.


– É pesado, o que será isso? - Harry o revirou nas mãos, o cilindro era composto por seis partes móveis, mas não se desenroscavam, não podiam ser separadas. – Tem letras... - observou girando-as aleatoriamente.


– Não! Você pode acabar abrindo! - Rony o retirou de suas mãos.


– Ela está mesmo aí dentro? - Draco observou atentamente o objeto nas mãos de Rony.


– Está... - Harry assegurou ainda tremendo enquanto pegava suas roupas.


Draco tirou o objeto das mãos de Rony – Isso parece um código – disse antes de entregá-lo à Hermione. - É melhor sairmos daqui. - tentou secar as roupas com vapor de sua varinha enquanto Harry e Rony se vestiam.


– Temos que aparecer para o jantar, há muito poucos alunos, podem acabar percebendo. - Mione aconselhou.


– Com certeza vão perceber – Rony concordou.


– É melhor você ir na frente – Mione sugeriu a Draco quando chegaram ao alto da escada. – É melhor que não nos vejam juntos.


Draco assentiu e saiu, após alguns minutos eles saíram também. O corredor estava deserto, passaram por Draco parado à entrada do Salão Comunal da Sonserina e correram em direção ao térreo.


– Você nos assustou. - Rony reclamou enquanto subiam as escadas – Por que falou o nome dele quando acordou? Você teve alguma daquelas... você sabe...visões?


– Não, foi só um sonho estranho... Ele tem usado Oclumência contra mim... - Harry disse tomando consciência daquele fato que antes não tinha percebido. - Ele está fazendo alguma coisa e não quer que eu saiba.


– Já era de se esperar algo assim. Por que ele iria deixar que você continuasse invadindo a mente dele a qualquer tempo? - Mione perguntou. - E o que são sete, Harry? Você disse a Rony que eram sete, o quê?


– Eu disse? Não lembro... – falou após um bocejo.


Rony e Mione se olharam e resolveram deixar para conversarem no dia seguinte, quando ele estaria mais descansado. Gina correu para eles assim que passaram pelo retrato.


– Onde vocês estavam? Vocês sumiram o dia inteiro!


– Nós te chamamos, mas você não quis vir com a gente... - Harry a lembrou enquanto seguia em direção ao dormitório.


– Minerva estava procurando vocês, eu não sabia o que dizer... - Gina os seguia reclamando.


– O que disse então? - Mione perguntou pensando em uma possível desculpa, caso alguém perguntasse.


– Que não sabia... Não ia dizer que vocês tinham ido à Câmara Secreta.


– E quem te disse isso? - Rony se voltou para ela.


– Eu ouvi vocês comentando... Então tive que convencer a Murta a ir até lá embaixo ver se estavam bem, só que vocês não estavam mais lá.


– Então amanhã a escola toda vai estar sabendo. - Rony concluiu e se afastou enquanto Hermione puxava Gina até o dormitório feminino e explicava o que tinha acontecido.


Encontraram-se mais tarde no Salão Comunal impecavelmente limpos e desceram para jantar. O Salão Principal estava quase vazio, todos os alunos e professores estavam reunidos em uma das mesas. Minerva olhou para eles quando entraram, mas não fez comentários. Draco estava sentado ao lado da mal humorada Pansy e teve o cuidado de não olhar na direção deles.


– Harry, come alguma coisa. - Gina pediu reparando que ele não se servira.


– Estou sem fome.


Quando voltaram à torre da Grifinória Harry foi direto para perto do fogo e Rony e Mione mostraram à Gina a horcruxe encontrada. Começaram a fazer planos para o dia seguinte, agora que estariam em cinco demorariam menos para vistoriar o castelo.


– Por onde começaremos amanhã, Harry? - Rony perguntou em voz alta, mas ele já estava aninhado sobre o tapete, em frente à lareira, dormindo. - Harry? - se levantou.


Tentaram acordá-lo mas ele parecia estar muito cansado. Depois de se certificarem de que estava respirando normalmente foram até o dormitório pegar seus pertences, dormiram todos no Salão Comunal.


Harry despertou lentamente, sentiu seu braço esquerdo imobilizado, a cabeça de Gina estava apoiada sobre o seu ombro. Esfregou os olhos sonolento enquanto tentava se lembrar do porquê de estarem ali. Afastou lentamente o braço de Hermione de cima do seu peito.


– Quer ajuda? - ouviu a voz de Sirius sussurrada em algum lugar próximo e a seguir o peso de Gina saiu de cima de seu braço, mas não conseguiu mexê-lo de imediato. A ouviu resmungar enquanto se remexia ao seu lado.


O vulto de Sirius apareceu no seu campo de visão e por alguns segundos pensou que ainda estivesse na Casa Verde. Foi puxado para fora da cama. Olhou em volta esfregando os olhos, o borrão de cores vermelhas indicavam que realmente estava na Casa da Grifinória. Estendeu o braço direito em direção à cama improvisada invocando seus óculos.


Deixou-se cair numa cadeira e ficou absorto relembrando os acontecimentos do dia anterior, suas pálpebras ainda estavam pesadas. Viu Rony deitado com o braço de Hermione envolvendo seu pescoço. Não se lembrava de terem se deitado ali.


– O que aconteceu ontem para estarem tão exaustos assim? - Sirius perguntou ao seu lado.


Harry olhou para ele por alguns minutos, se dando conta de que ele realmente estava ali.


– Acho que ele ainda não acordou, Sirius. - Raven disse abraçando o noivo enquanto o estudava.


– O que vocês estão fazendo aqui? - perguntou Harry realmente despertando enquanto massageava o braço dormente.


– Estamos tentando falar com vocês desde ontem, mas parece que andaram muito ocupados. - Sirius sondou.


– Aconteceu alguma coisa? Pensei que você só voltaria à noite. - Perguntou à Raven.


Ela não respondeu, apenas olhou para Sirius esperando. Hermione se mexeu acordando com o som da conversa. Esticou o braço direito sobre o espaço vazio ao lado e ergueu a cabeça quando percebeu que Harry não estava. Adormecera com o braço sobre seu peito prestando atenção a sua respiração.


– Mione, Sirius e Raven estão aqui. - Harry a avisou.


Aos poucos todos foram levantando e recolhendo as coisas antes de subirem ao dormitório para se aprontarem para o café da manhã. Raven acompanhou as meninas ao dormitório feminino enquanto Sirius ia até a cozinha pedir que fosse servido o desjejum no Salão Comunal. Depois que voltaram do banheiro Harry e Rony foram verificar se as presas de basilisco e a horcruxe estavam bem guardadas.


– Foi sorte a Mione ter lembrado de guardá-la aqui ontem de noite. - Rony abriu seu malão conferindo. - Vai contar a eles sobre essa?


– Não, não permitiriam que ficássemos com ela e precisamos entregar uma aos seus irmãos. - Harry decidiu. Desceram.


Sentaram-se à mesa e Harry ficou observando-os reunidos como uma família de verdade. Sirius reclamou por ele não estar se servindo então se esforçou para comer alguma coisa.


– Vocês ainda não disseram o que vieram fazer aqui tão cedo. - Harry o lembrou.


– Sirius estava preocupado com o que vocês poderiam estar pensando, depois de serem mandados para a escola mais cedo e com os aurores pelo terreno do castelo... Como vocês não respondiam pelo espelho e Minerva disse que tinham sumido o dia inteiro, resolvemos vir vê-los de perto, saber o que estão fazendo. - Raven explicou.


– Querida, não precisa ser tão detalhista. - Sirius pediu a ela segurando sua mão. - Não foi só por isso... Ontem vocês queriam falar com Monstro e eu não permiti.


– Vai nos contar então? O que queremos saber? - Rony perguntou desconfiado.


– Não é isso... É que eu o encontrei morto naquela noite... Acho que assim que descobriu que o medalhão tinha sido destruído se sentiu liberado da promessa feita ao meu irmão. Foi pra cama e... não acordou mais. - Sirius explicou pesaroso.


– Achamos que ontem não era o melhor momento para contar. - Raven se desculpou.


Mione não tentou impedir as lágrimas. Rony a abraçou consolando-a. Harry se controlou, iria sentir a falta do elfo, ficou ouvindo cabisbaixo enquanto Sirius contava onde o tinha enterrado, próximo ao jardim.


– Ele finalmente pôde descansar, imagina como deve ter sido penoso para ele ter de guardar a horcruxe em segredo por tanto tempo, ele já estava muito velho... - Rony argumentou para consolá-los.


– Não se preocupem – Sirius pediu após algum tempo. - Iremos nos dedicar a encontrá-las, as horcruxes, e deixar para o Ministério a tarefa de tentar capturar seus comensais. Só conseguimos pegar doze deles até agora, quando chegamos eles desaparecem sem querer nos confrontar... Dumbledore acha que vocês estão certos.


– Onde ele tem ido Sirius? - perguntou Harry sem muita esperança de obter uma resposta. Agora o Diretor se ausentava apenas nos fins de semana.


– Ontem ele esteve no Beco Diagonal, checando a sua informação, ou melhor, intuição. Mas não tinha nada lá. Os duendes de Gringotes não dão informação sobre seus clientes. O próprio Voldemort poderia estar indo pessoalmente ao Banco que não faria diferença para eles, eles não se metem nos assuntos dos bruxos e Dumbledore não conseguiu convencê-los.


– Mas eles devem ter alguma lugar ali. Eu posso achá-los, posso senti-los...


– De jeito nenhum. - Sirius o cortou fazendo com que se calasse, não valeria a pena discutir.


Passaram o dia com eles, a maior parte jogando e conversando no Salão Comunal.


As aulas recomeçaram e os deveres de casa dobraram. Muitos reclamaram inutilmente, antes estava difícil se manter em dia com os deveres, agora estava quase impossível.


– Que coincidência eles fazerem isso logo agora – Mione reclamou durante o tempo vago de sexta-feira. Ela estava sendo a mais atingida, fazia mais matérias que eles.


Tinham quase tempo nenhum para andar pelo castelo e depois do ocorrido na Antiga Ala de Salazar tinham decidido não fazerem isso separados. Não tinham mais falado com Draco, evitavam serem vistos juntos, prometeram avisar quando achassem outra horcruxe, mas isso não tinha acontecido ainda.


Dois meses se passaram e ainda não haviam conseguido terminar o lado norte do castelo, apesar disso já duvidavam que voltariam a encontrar mais alguma coisa em Hogwarts.


– Conseguimos duas só na Antiga Ala de Salazar, temos que ficar felizes por isso. - Harry comentou durante o almoço de sexta-feira.


– Repararam como Salazar gostava do oceano? O teto de todos os salões continha a mesma pintura...


– Ainda está pensando em sua propriedade secreta? - perguntou Gina.


– Por que simplesmente não pergunta a Evandra sobre o cetro, se está tão interessada? - Harry sugeriu.


– Já perguntei, mas o pai dela não pode receber corujas de onde está agora... Ele está trabalhando com trouxas em uma escavação... Evandra disse que ele já é considerado excêntrico sem ter corujas levando mensagens... - Mione reclamou. - Dumbledore também se mostrou interessado. - afirmou para convencê-los da importância do assunto.


– Esquece isso Mione, - Rony pediu – O que nos interessa é encontrar as horcruxes.


– Tirando Hogwarts, onde mais poderíamos procurar, um lugar que ele pudesse considerar tão seguro quanto? - perguntou Gina.


– Mais seguro do que Hogwarts? Talvez Gringotes... - Rony especulou. Harry e Mione olharam para ele, sérios.


– Não dá para simplesmente entrar em Gringotes e ficar procurando nos cofres... - Mione disse desanimada.


– Não acredito que ele tenha alguma coisa lá, os Gaunt com certeza não tinham mais... Harry olhou em direção à mesa da Sonserina onde Draco conversava despreocupado com Pansy e Nott.


– Murta! - Harry a chamou. Ela estava sobrevoando a mesa da Corvinal e se aproximou feliz quando ouviu seu chamado.


– Harry... Faz tempo que eu não falo com vocês... Tenho estado tão ocupada...


– Murta, pode me fazer um favor? - a interrompeu ansioso. Pode dar um recado a uma pessoa para mim? Está vendo aquele menino loiro sentado no final da mesa da Sonserina?


– Ele é monitor... - Murta se esticou para vê-lo melhor.


– Você o conhece?- Gina indagou.


– Não, mas ele usa o banheiro dos monitores...


– É, então é ele mesmo. - Harry disse impacientemente se lembrando de que ela tinha o péssimo hábito de espionar o banheiro masculino. - Pede para ele me encontrar hoje no final da aula em frente à Biblioteca, por favor. E não deixe ninguém ouvir.


– Claro, eu posso fazer isso... Vocês vão a Hogsmeade logo mais? Seus irmãos estão prometendo uma grande festividade. - Murta disse a Rony.


– Para comemorar o quê? - Harry perguntou distraído.


– O dia dos namorados... - Murta respondeu com ar de incredulidade. - Todo mundo está comentando sobre o evento especial em Hogsmeade! Começa hoje à noite e vai até amanhã... As meninas da Lufa-lufa estão curiosas para saber quem você vai levar... - comentou meigamente.


Harry olhou rapidamente em direção ao grupo de meninas que ela apontara e voltou a prestar atenção na mesa da Sonserina.

– Quem você vai levar?! - Insistiu impaciente.


– Ninguém! Eu tinha me esquecido disso... - Olhou para Rony e Mione estranhando que não tivessem comentado – Também, nem tenho permissão pra sair...


– Você vai, eu sei - Murta falou a Gina – suas amigas pediram pra você levá-las para ajudarem na loja Gemealidades, mas elas querem é tentar chegar perto do cantor... como é mesmo o nome dele...


– Murta, você não deve ficar por aí comentando a vida dos outros... - Mione a repreendeu.


– É. - Rony a apoiou - Só pra gente.


– E vocês dois... Vão juntos, não vão? - Murta perguntou sorridente para Rony e Mione.


– Nós não vamos...


– Por que não? - Harry a interrompeu. - Ninguém proibiu vocês de sair.


– Talvez a gente possa dar um olhadinha... - Rony sugeriu a Mione – Para ver a decoração...


– Eu posso ficar, se você quiser. - Gina ofereceu enquanto Murta voltava a sondar a mesa da Corvinal após ouvir um garoto mencionar algo a respeito de uma competição.


– Não precisa, provavelmente o castelo ficará vazio, vou aproveitar para terminar o lado norte.


– Você não vai fazer isso sozinho. - Mione determinou.


– Por desencargo de consciência, não deve ter mais nada...


– Oi meus amores.- Raven abriu espaço entre eles. - Animados para mais tarde?


– Você vai a Hogsmeade? - Gina perguntou.


– Nós vamos... - Raven a corrigiu. - Eu convenci Sirius, ele virá também.


– Sírius? - Harry estranhou – Numa comemoração do dia dos namorados?


– Claro, eu pedi! É tão romântico... E será nosso primeiro dia dos namorados... - Raven suspirou.


– Nós só vamos se o Harry for. - Mione o chantageou.


– Não sou eu que tenho que ir com você. - Harry a lembrou. Rony sorriu, mas ficou rapidamente sério quando ela o olhou. - Eu não vou.


– Vamos todos! Ninguém vai ficar. - Raven os intimou.


Harry e Rony desceram com Neville, Dino e Simas, mas ficaram aguardando no Salão Comunal enquanto eles saiam. Tinham se arrumado com capricho. Harry tirou os óculos e os guardou no bolso de seu sobretudo preto.


– O que você acha? - perguntou a Rony – Fico melhor sem eles?


– Fica diferente. - Comentou distraído passando a mão pelos cabelos pela enésima vez. Tinha-o penteado todo para trás, o que lhe dava uma aparência mais madura.


– Diferente tipo... esquisito? - perguntou se olhando na superfície espelhada de um dos quadros. Patil e Lilá desceram risonhas, os recolocou rapidamente.


– Mione já está descendo. - Lilá os avisou quando passou por eles.


Mione desceu alguns minutos depois parecendo bem entusiasmada para quem disse que não iria. Harry percebeu isso mas não comentou nada. Gina tinha ido mais cedo com as amigas ajudar os irmãos com os preparativos.


– Você está linda. - Rony a elogiou.


– Obrigada... - Mione agradeceu satisfeita, deu o braço aos dois conduzindo-os para fora.


Desceram para encontrarem-se com Raven e Sirius.


– Acho que Draco está subindo – Harry comentou franzindo a testa enquanto desciam para o saguão.


– O que vocês conversaram hoje? - Mione perguntou, mas Harry não respondeu, franziu o nariz depois tentou aparentar indiferença. Ela olhou para os pés da escada e viu o porquê. Desceram em silêncio.


– O comportamento de vocês é totalmente fora dos padrões! – Snape se queixou puxando Harry para longe de Mione e obrigando Rony a fazer o mesmo. - também, com o exemplo que recebem... Não é de se admirar...


– Não estamos fazendo nada... - Mione queixou-se.


– Justamente, vocês estão sempre fazendo nada, pobres vítimas inocentes do acaso... - Snape desdenhou. - Você não tem mais permissão para ir a Hogsmeade... - Snape se dirigiu a Harry o reparando de cima a baixo.


– Meu padrinho...


– Ah, claro... - Snape o interrompeu – O seu responsável irresponsável... - criticou-o com azedume se afastando decidido.


– O que houve com ele? – Rony continuou a descer – Não descontou pontos da gente...


– Parece que ele foi fazer queixa a alguém. - Mione comentou.


– Deve ter ido mesmo... - Harry indicou Sirius e Raven abraçados num canto do saguão, se beijando.


Os três se aproximaram o mais ruidosamente possível.


– Vocês não deveriam fazer isso aqui, o Snape acabou de passar...


– É, eu sei. - Sirius sorriu zombeteiro.


– Ele continua implicando com você? - Raven perguntou se agarrando ainda mais a Sirius.


– Não, só tem se demonstrado tentado a me torturar até a morte.... - Harry gracejou fazendo Rony rir.


– Você não me disse isso! - Raven reclamou.


– Só estou brincando. - Harry reconsiderou, não queria que ela voltasse a tomar suas dores, estava se saindo muito bem em evitar a presença do professor.


– Snape sabe o quanto eu quero uma oportunidade, ele não me daria esse gostinho. - Sirius a tranquilizou. - Vamos.


Hogsmeade estava iluminada, conseguiam ouvir o som da música da estrada, o vento frio os castigava, mas ao entrarem no vilarejo o clima mudou totalmente, estava agradável e acolhedor, uma bolha térmica envolvia todo o povoado.


– Mais uma invenção de Fred e Jorge – Mione deduziu.


– Eles podem inventar qualquer coisa. - Raven concordou.


– Espero que sim. - sussurrou Harry olhando as pessoas a sua volta.


Não precisaram de uma desculpa para despistarem Sirius e Raven, o local estava muito movimentado. Eles estavam tão distraídos um com o outro que Harry teve certeza que nem perceberam quando se afastaram. Havia muito mais que alunos no povoado, mas principalmente casais e os que estavam desacompanhados estavam procurando companhia.


Entraram na loja de logros mas não viram os gêmeos, havia tumulto no segundo piso, o cantor cujo nome Harry e Mione desconheciam estava usando os aposentos dos gêmeos antes do show e algumas fãs se aglomeravam aguardando sua passagem. Deram umas voltas pela loja e como não encontraram Gina, então saíram novamente para a rua principal.


– Você ainda não disse o que conversou com Draco. - Rony o lembrou.


– Só pedi para ele ver se tem algo interessante no escritório do pai dele, algo que nos seja útil. Agora ele já sabe como entrar... Olhem, o Madame Puddifoot... Que tal?


– Vamos – Rony deu de ombros não muito entusiasmado com a decoração cor de rosa que saltava aos olhos de quem passava do lado de fora.


Atravessaram a rua movimentada com dificuldade e subiram as escadas da loja. Quando chegaram à porta Harry estancou de repente.


– O Simas... - disse olhando para o mar de pessoas na rua. - Preciso falar com ele! Me esperem lá dentro, eu não demoro... - Afastou-se rapidamente não dando tempo para que protestassem e se misturou à multidão.


Com uma espiada rápida em direção à loja viu Rony e Mione entrarem resignados. Diminuiu o passo. Foi andando sem rumo observando as lojas, queria que eles tivessem um dia dos namorados decente. Parou enfrente ao Correio, lembrou-se de Edwiges.


– Oi Harry – Evandra se aproximou. - Cadê a Hermione? - Ela não tinham voltado a falar com Harry sobre o incidente ocorrido entre os dois, então Harry decidira esquecer, considerava Evandra uma ótima companhia, principalmente agora, que tinha certeza de não sentir nada por ela.


– Está com o Rony no Puddifoot... Espera! - a chamou de volta. - Você não vai até lá, não é? Acho que eles querem ficar sozinhos...


– Ah... Claro. Eu ia chamá-la para ir ao camarim do Braxton comigo, eu consigo entrar com o crachá do Profeta. - disse entusiasmada. - Você... vai ficar aqui sozinho?


– Não estou sozinho... - Harry olhou em volta, viu Draco e Pansy, de mãos dadas, entrando na Dedosdemel. Voltou a olhar para Evandra, sorriu. - E o seu acompanhante? Não quer ir ao camarim com você? - mudou de assunto.


– Eu o perdi por aí – disse olhando ao redor distraída. - Deixa pra lá... - virou-se para ele novamente sorrindo. - Vamos andar um pouco? - sugeriu segurando seu braço.


– Mione disse que seu pai trabalha com trouxas... - Harry comentou enquanto caminhavam lentamente entre as pessoas vários grupinhos trocavam aviõezinhos de papel cor de rosa, encantados especialmente para a troca de mensagens entre os paqueradores.


– Está trabalhando para uma multinacional em expansão, ela atua em vários nichos de mercado e parece que gosta muito de antiguidades e o meu pai também... Ynys Corporate, acho - afastou os cachos dos ombros, empurrando-os para as costas - Ele gosta de uma vida dupla, assim como você...


– Eu gosto de uma vida dupla? - espantou-se.


– Do bom menino que se arrisca em situações perigosas ao infringidor de regras e criador de problemas.


– Você acha? - achou graça em seu comentário – Mione quer muito conhecer seu pai, será que poderíamos visitá-lo nas férias?


– Claro. Eu a convidei no natal, ela disse que iria com vocês… Mas não puderam, não é?


– Não...


– Evandra! - O rapaz que a acompanhava apareceu de repente abrindo caminho entre as pessoas apressado, era mais velho que eles e trabalhava com ela no Profeta. - Você sumiu! – reclamou reparando o braço dela preso ao de Harry, ele rapidamente a soltou.


– Você já conhece o Harry? Harry Potter... - ela o apresentou. - Esse é meu colega de trabalho, Mark...


– Oi, prazer. - Harry o cumprimentou.


– Evandra fala muito de você, Harry Potter... Mas afinal, quem não fala? - comentou grosseiramente.


– Eu já vou indo, te vejo por aí. - Harry se despediu dela.


– Não quer ficar? Eu te faço companhia. - Evandra se ofereceu ignorando o comentário de seu colega.


– Tá brincando? - Mark sussurrou para ela – Você não quer bancar a babá do garoto, ele dá azar!


– Como é que é? - Harry já estava se afastando mas voltou quando o ouviu. - Por que não repete isso?


Mark olhou para as suas mãos, mas Harry as manteve paradas ao longo do corpo, não tentou pegar sua varinha, mas Mark pegou a dele por precaução.


– Já ouvi falar sobre as coisas que você fez e tudo o mais… você atrai coisas ruins.


– Mark! - Evandra o olhou com raiva. - Por que não vai embora?


– Mas é verdade... começando pela morte dos pais... depois um prisioneiro conseguiu fugir de Azkaban pra ir atrás dele, e ainda é ofidioglota! - murmurou preconceituosamente - Até Você-Sabe-Quem voltou...


– O que você está insinuando?!! - Harry vociferou.


Mark caiu de joelhos tossindo e engulhando, o rosto ficando rapidamente tingido de vermelho.


– Para Harry! - Evandra se desesperou agachando ao lado de Mark. - Para! Você vai matá-lo!


Harry mirou seus olhos azuis ofendido enquanto Mark, caído no chão, sugava o ar com sofreguidão.


– Eu não iria fazer isso... - reclamou chocado.


Se afastou abrindo caminho entre os presentes,não tinha percebido as pessoas se aglomerando em volta deles. Seguiu apressado disposto a voltar ao castelo. Deparou-se com dois aurores do povoado vindo em sua direção, não o tinham visto, mas provavelmente tinham pressentido a confusão e iriam fazer perguntas.


Olhou em volta procurando por Sirius mas não o viu. Caminhou na direção oposta e entrou no Cabeça de Javali, o pub estava quase vazio apesar do movimento na rua. A sujeira do local espantava os possíveis frequentadores. Atravessou-o e saiu pelos fundos.


Contornou a orla da floresta em direção ao castelo, arrependido de ter saído. Massageou a nuca e abriu o colarinho da blusa, ainda estava quente de raiva e indignação. Diminuiu os passos quando sentiu a presença de alguém à sua frente, mas logo distinguiu a figura pálida sentada nos fundos da Dervixes e Bangues, se aproximou.


– Noite ruim? - Harry perguntou sentando-se ao seu lado.


– Não... péssima. - Draco respondeu carrancudo.


– Quando você vai até sua casa? - Harry perguntou mudando de assunto, não iria perguntar o que tinha acontecido, também não queria falar sobre o incidente ocorrido a pouco.


– Não posso ir. Deve haver pessoas lá...


– Você disse que sua mãe estava com sua tia, ela voltou?


– Não, nossa casa está... servindo aos interesses de outra pessoa... E seus... seguidores, talvez estejam lá. - pronunciou escolhendo as palavras.


– Mas é sua casa! Não pode dizer que está indo pegar alguma coisa, sei lá, inventa uma desculpa!


– É arriscado... - Draco murmurou indiferente, estava mais interessados em seu drama pessoal.


– Tudo bem, eu vou. - Harry se levantou. - Me diz como eu faço.


– Você ouviu o que eu disse? Há comensais lá! - respondeu de mau humor.


– Ótimo. Eu quero saber o que estão fazendo...


– Minha casa recebeu proteções extras você não vai conseguir entrar...


– Então me coloca lá dentro, depois eu dou um jeito de sair, nem que eu tenha... que mexer um pouquinho na decoração.


– Você é louco e suicida... - Draco virou-se para o outro lado e atirou algumas pedras para longe.


– Não tem como esta noite ficar pior... não vou ficar aqui parado enquanto tanta coisa acontece lá fora. Anda! Temos que aproveitar a oportunidade... - Harry o instigou.


– Há aurores por todo o canto, como acha que vamos conseguir sair?


– Como você saiu da última vez?


– Tive que caminhar pela floresta até a estação, fora da área de proteção que eles fizeram.


Harry se lembrou da clareira atrás da loja dos gêmeos, mas Raven havia dito que os aurores tinham ampliado a área de proteção.


– Como conseguiu entrar em Azkaban? - Harry perguntou por fim, andava muito curioso, mas não tinha tido a oportunidade ainda.


– Peguei um fio de cabelo da roupa de um dos aurores que vigiam o povoado. Disse aos guardas de Azkaban que estava a serviço do Ministro, alguns deles me conheciam, o auror. Não foi difícil. - gabou-se. - Ao menos, eles não desconfiaram de nada.


– Também não será difícil desta vez, vamos para a Casa dos Gritos. - Harry sugeriu. - Se ela ainda estiver desprotegida... Vamos! - obrigou-o a se levantar e foi abrindo caminho pela floresta, se guiando pelo Feitiço dos Quatro Pontos.


Em poucos minutos chegaram ao terreno da Casa dos Gritos. Harry pulou sobre a cerca e foi em direção à casa.


– Espera! - Draco reclamou mais atrás.


– Tá, aqui tá bom... - disse aguardando que se aproximasse. - Vai aparatar sozinho ou quer ajuda? - Harry guardou os óculos e olhou em volta se certificando de que ninguém os vigiava. Já haviam começado a ter aulas de aparatação, mas a maioria estava tendo dificuldades ainda.


– Estava pensando numa chave de portal... mas eu consigo, é claro! - disse irritado por ser considerado incapaz.


– Eu não sei preparar uma chave de portal... - Harry tentou reconciliar. - Então eu vou de aparatação mesmo.


A rua estava escura por causa das sombras das árvores que ladeavam o extenso muro de pedra. Harry ficou parado em frente as grades do portão se concentrando na casa que se projetava aos fundos, uma mansão de dois andares. Olhou em volta e não viu ninguém. Passou a mão pelos cabelos e cobriu a cabeça com o capuz. Draco entrou na rua cabisbaixo se aproximando devagar tentando evitar que o som de seus passos ressoassem na rua deserta.


– Por que foi tão longe? - Harry perguntou quando se aproximou.


– Eu não... - Draco parou olhando o garoto loiro de olhos verdes que estava parado em frente ao portão. Abanou a cabeça em desaprovação. - Acha que vão acreditar que você é meu parente?


– Não tem ninguém na sua casa. - Harry explicou.


– Como sabe? - inqueriu mal humorado. - Esquece... - ergueu o braço esquerdo, que continhaa marca negra tatuada, e atravessou o portão puxando Harry consigo.


Harry olhou para trás, o portão continuava do mesmo jeito, intocado. Seguiram pelo jardim bem cuidado. A visão de casa deixou Draco mais entusiasmado, foi andando na frente, mostrando o caminho, cruzaram a varanda e ele abriu as portas duplas que levavam até o hall de entrada. A decoração era de muito bom gosto e os móveis caros. Harry olhou tudo atentamente.


– Com o que seu pai trabalha? - Harry perguntou enquanto o seguia pela casa.


– Arte. Ele tem... tinha galerias de arte.


– Faz sentido... - Harry se deteve para observar um quadro, o corredor que tinham entrado era repleto deles, várias gerações da família, mas aquele em especial lhe chamou a atenção. Uma mulher, cujas feições se lembrava de ter visto em um rosto mais velho, sentada ao lado dos dois filhos e do marido.


Harry sorriu ao identificar nas feições marotas de uma das crianças o traços do padrinho. Seu irmão, Régulus, tinha os olhos menos vívidos, mais humildes. Se lhe dissessem que um deles viria a se transformar em um seguidor do Lorde das Trevas, Harry não teria apontado Régulus.


– Ei! - Draco o chamou do final do corredor – Temos que sair antes que alguém chegue...


Harry correu para acompanhá-lo. Desceram para o porão e seguiram até a parede dos fundos. Draco apontou a varinha calculando, tentando se lembrar onde deveria ser a abertura. Harry tocou a parede e foi deslisando a mão por ela lentamente, sentindo-a.


– Aqui. - Avisou a Draco, ele obedeceu sem questionar.


Apontou a varinha e murmurou os contra-feitiços de proteção. Entraram. Havia poeira acumulada dos meses em que ninguém pisara ali e vários artefatos interessantes. Sentiu o pingente esquentando contra sua pele, puxou-o de dentro das vestes e suspirou contrariado ao ler a mensagem. Draco ficou observando mas não perguntou nada.


– O que é aquilo? - Harry perguntou ao erguer os olhos para um punhal pendurado na parede.


– Um Athame de prata, dizem que perfurou o coração de uma hidra... Coisas do meu pai, às vezes ele coleciona peças raras.


– Foi feito com metal forjado por duendes? - perguntou Harry.


– Ele diz que é do melhor metal...


Harry foi até a parede e pegou o punhal.


– Diga ao seu pai que eu vou devolver assim que eu puder.


– Se algum dia ele souber... - Draco comentou sombrio.


Foram para a estante e começaram a checar os livros, havia muitos títulos curiosos mas Harry só levaria o que lhe servisse. Achou-o após alguns minutos. Tinha tudo o que queria saber sobre horcruxes, Harry sobressaltou-se de repente , deixando-o cair de sua mão.


– Chegaram...dois...quatro. - anunciou olhando para cima. Recolheu o livro e guardou-o no bolso interno do sobretudo também.


Atravessaram rapidamente o porão após lacrar novamente o escritório. Voltaram por onde tinham entrado. Draco correu para a saída, mas Harry o deteve, já estavam dentro da casa.


– Onde fica os fundos? - Harry perguntou em voz baixa.


– Não! - Draco sussurrou. - Nunca usamos essa saída, está cheia de detectores de presença. Regressaram passando novamente pela entrada do porão, foram para outro corredor e saíram numa pequena sala que tinha mais duas entradas. Draco estava nervoso e mais pálido que o normal.


– Onde eles estão agora? - perguntou a Harry.


– Continuam na sala – respondeu após algum tempo. - Um deles está indo pra lá – disse apontando na direção por onde o comensal se deslocava.


– É a cozinha. - Draco andou até a janela, todas possuíam detectores de presença e feitiços defensivos, voltou coçando a cabeça pensativo. - Não podemos ficar aqui nos escondendo a noite toda. - reclamou. - Não sei por que fui ouvir você...


Harry já tinha saído pela outra porta, deixando-o para trás. Estava tentando chegar perto o suficiente para ouvir o que diziam. Seguiu por um corredor, esgueirou-se para outra sala maior, ornamentada com antiguidades, continha uma porta de vidro dando para os jardins e uma passagem circular que levava a um corredor bem mais largo que os anteriores e uma outra passagem, que o levou por outro corredor estreito até um cômodo solitário. Entrou no cômodo escuro, se arrepiando ao ver os troféus de caçadas, não tinha saída. Foi em direção às vozes que surgiam fracamente, vindas do outro lado da parede. Lamentou-se por não ter levado sua capa nem as orelhas extensíveis.


– Quer se matar? - Draco sussurrou puxando-o pelo braço para que saíssem dali. Harry desvencilhou-se pedindo um tempo com as mãos espalmadas. - E se eu fosse um deles?


– Estou acompanhando seus movimentos, sabia que era você. Sua casa parece um labirinto – reclamou encostando o ouvido à parede. - Quantas pessoas moravam aqui antigamente?


Draco se aproximou para ouvir também.


“Detesto... gostaria de não ter que …levá-los até uma cidade...”


“… fazer isso, eles precisam se alimentar... mais famintos... sejam os trouxas”


“... coitadas … pessoas... depois de mortas”


– Estão matando pessoas?! - Harry se perguntou alarmado. - Para alimentar o que? Você entendeu? - Draco o olhou espantado.


– Seja o que for serei o próximo se te pegarem aqui. - Draco concluiu nervoso.


– Isso não vai acontecer, eles são apenas quatro. - disse Harry fazendo o caminho de volta. Draco bufou. - Tem como eu chegar mais perto sem que percebam?


– Não! Você já pegou o que queria, nós vamos sair! - Draco sussurrou irritado.


Hary sabia o quanto ele era exagerado e imaginou que estivesse com medo, ele também estava, mas não deixava que isso o dominasse. Olhou ao redor, não havia como sair por ali sem chamar a atenção, se fizesse teria que enfrentá-los. Coçou o queixo considerando a possibilidade.


– O que tem lá em cima?


– Os quartos, o sótão...


– Estão vindo. - Harry sussurrou com urgência voltando para a primeira saleta em que estiveram.


Draco o puxou até a outra porta, atravessaram rapidamente um pequeno hall e sem dizer nada o empurrou em direção às escadas de mármore branco e voltou para a sala.


Harry ficou ouvindo do alto da escada enquanto Draco explicava que tinha vindo pegar algumas roupas. Um deles se queixou da incompetência do Diretor em controlar os alunos, deu a entender que a filha estava em Hogwarts e que esperava que estivesse segura. Harry achou o comentário irônico pois eram eles a ameaça à segurança. Ouviu Draco perguntar por Narcisa e uma segunda voz responder ranzinzamente que ela e a irmã estavam na companhia do Lorde das Trevas. Uma terceira voz se ofereceu para levá-lo de volta e ele recusou educadamente.


Aguardou-o no corredor enquanto ele subia.


– Não foi tão ruim. - Harry disse quando ele se aproximou.


– Ainda não saímos - murmurou enquanto se dirigia para uma das portas.


Harry o seguiu para dentro do quarto e enquanto ele pegava algumas peças de roupa no armário ficou reparando as paredes, o chão, os móveis, tudo era branco. Mesmo naquela hora, apenas com a luz do quintal entrando pela janela, tudo era nítido e perceptível. - Você dorme mesmo aqui? - olhou para a cama imaculadamente branca e lembrou do próprio quarto.


A casa dos Malfoy se diferenciava totalmente da ideia que tinha de uma casa de bruxos das trevas. Conseguiu distinguir a branca lareira num canto do quarto branco.


– É de verdade? - se dirigiu até ela e abriu a grade de ferro que a ornamentava, se agachou no pequeno espaço e examinou a abertura acima, era estreita, mas teve certeza de que conseguiria passar.


– É, mas... deve estar imunda... - Draco o alertou.


– Você tem razão, é melhor ficar e ser torturado a se sujar com cinzas. - desdenhou. - Te vejo no portão. Subiu pela lareira se lembrando do apertado duto de ventilação do Ministério, o livro e o punhal se comprimiam contra seu corpo. Agradeceu por seu sobretudo ser preto, assim a sujeira não seria notada, espanou um pouco da fuligem ao chegar ao telhado e foi se encontrar com Draco no portão.


– Conseguiu descobrir mais alguma coisa, sobre o que eles estavam falando?


– Eu tive sorte de não desconfiarem de nada! - Draco o puxou para fora.


Aparataram de volta aos terrenos da Casa dos Gritos. Harry baixou o capuz, sacudiu os cabelos novamente negros e recolocou os óculos, sentia falta deles mesmo que não precisasse.


– Vai você primeiro, não quero que nos vejam juntos. - Draco pediu.


– Draco, obrigado. - Harry pediu antes de voltar para a estrada que o levaria de volta ao povoado.


Olhou ao redor, ninguém olhou duas vezes na sua direção, a melodia triste e chorosa embalava os casais próximo ao palco, outros apenas caminhavam abraçados. Viu Neville e Luna perto do palco olhando, Harry supôs, alguma criatura minúscula que ela trazia nas mãos, ou algum ser imaginário. Sorriu ao se perguntar se Neville já estava sendo capaz de enxergá-los também.


Parou ao avistar os cabelos vermelhos de Gina, estava parada na entrada da loja, conversando com um dos gêmeos, mordeu o lábio considerando a possibilidade de sair novamente.


Ainda estava cheio de adrenalina e inquieto, ninguém parecia ter percebido sua ausência ainda e havia muitos lugares que gostaria de visitar, e principalmente, muitas informações que ansiava por obter, mas primeiro tinha que achar Rony e Mione, mandou uma mensagem para eles e foi até a loja de logros.


– Oi... Tudo OK? - Harry os cumprimentou.


– Diga você, o que aconteceu? - Fred lhe lançou um olhar gaiato. Gina o olhou friamente e não disse nada.


– Harry!! - Mione o chamou enquanto subia as escadas. - Onde esteve? - Perguntou zangada.


– Estamos te procurando há tempos! - Rony reclamou.


– Me procurando pra quê? - perguntou inocentemente. Mione bufou.


– Você não disse que ia falar com o Simas? Ele apareceu no Puddifoot com a Lilá, disse que nem tinha te visto!


– Com a Lilá? Hum... Gostaram da decoração?


– Para de tentar enrolar a gente, nós ficamos preocupados... - Rony reclamou.


– Por quê? Eu disse a vocês que estava bem...


– Disse que estava ocupado! - Mione se irritou. - O que é muito diferente...


– Será que eu não posso ter trinta minutos de privacidade?


– Uma hora e vinte minutos – Rony o corrigiu consultando para o relógio. - Onde esteve afinal?


– Estava com uma garota ou atacando mais alguém? - Fred perguntou com ar divertido. - Não se preocupe – acrescentou ao ver sua expressão de preocupação. - Ele não vai continuar espalhando essa história por aí, Jorge e eu já demos um jeito nisso.


– Sério? - Harry o olhou desconfiado. - O que fizeram?


– O que qualquer irmão mais velho faria... Não que você precise de ajuda, mas estávamos precisando de alguém em quem testar nosso Embaralhador de Memórias.


– Fizeram ele de cobaia? - Mione ficou chocada.


– Ele só vai se sentir um pouco confuso sempre que tentar se lembrar do ocorrido, só isso. - Fred deu de ombros ignorando seu olhar de reprovação.


– Obrigado Fred. - Harry enfiou as mãos no bolso do sobretudo certificando-se de que o livro e o punhal estavam seguros – Não existe garota nenhuma e eu não estava atacando ninguém, estava com o Draco.


– Você dispensou a gente pra ficar com o Draco? Agora ele é seu amigo? - Rony perguntou enciumado.


– Meus amigos de verdade deveriam estar aproveitando esta noite, mas pelo jeito... - suspirou chateado. - Tudo bem, se preferem brigar comigo ao invés de verem o que eu consegui... - Virou-se novamente para as escadas..


– Até que enfim nos reencontramos! - Raven apareceu de mãos dadas com Sirius barrando seu caminho. – Noite agitada? - perguntou diretamente a Harry.


– Um pouco. E vocês? Se divertindo?


– Não tanto quanto você, imagino. - Sirius disse - Atacou mesmo um funcionário do Profeta?


– Não... Mais ou menos. - Harry admitiu incomodado. - Ele me provocou.


– Não brigue com ele Sirius, esse Mark é que deveria ter vergonha de brigar com crianças, agora deve estar fingindo que não lembra o que aconteceu...


– Raven! - Harry reclamou.


– Que foi meu amor? - Raven perguntou com doçura.


– Eu vou voltar para o castelo. - Harry anunciou a eles. Afastou-se considerando a noite por encerrada antes que piorasse. Rony foi o primeiro a acompanhá-lo.


– Quem é essa garota, Evandra? - Sirius também apareceu ao seu lado e passou o braço pelos seus ombros. - Raven disse que você não gostava dela, por que então brigou com o sujeito?


– Não foi por isso, não teve nada a ver com ela. - Harry explicou. - Você acha que tenho tempo para pensar em relacionamentos com tudo o que está acontecendo?


– Você deveria. Esses anos não irão voltar, independente do que venha a acontecer.


Caminharam em silencio até o castelo. Encontraram Dumbledore no saguão com Snape.


– Já voltaram, que bom, eu estava indo buscá-los. - Dumbledore comentou.


– Aconteceu algo? - Sirius perguntou ignorando a presença de Snape.


– Não, nada. Só achei que já havia passado tempo suficiente . - Olhou para Harry e sorriu. - Acho que não é muito prudente que se afaste do castelo por muito tempo.


Harry olhou rapidamente pra Snape, imaginou que ele deveria ter sido muito convincente para fazer o Diretor ir até o povoado. Disse a eles que estava voltando para a Torre da Grifinória e se afastou após se despedir de Sirius e Raven.


Atravessou o buraco do retrato e esperou que se aproximassem, só havia alguns poucos alunos espalhados por ali, nenhum deles prestando atenção ao que fazia. Quando Rony, Mione e Gina se juntaram a ele, esvaziou os bolsos. Colocou os objetos sobre a mesa. Mione arfou depois o olhou acusadoramente. Contou a eles os acontecimentos daquela noite.


– Acha que essas pessoas que estão sumindo...? - Rony sussurrou perplexo.


– É o que parece. Se ainda tivéssemos o mapa poderíamos marcar os locais dos desaparecimentos e traçar com as atividades dos comensais, procurar algum rastro...


– Isso tudo é grave demais. Mas o que a gente poderia fazer? - Mione perguntou.


– Não podemos fazer tudo sozinhos. - Gina pegou o livro. - Vamos nos dedicar apenas em solucionar o seu problema, para que você possa ter uma vida normal...


– E vocês... Não quero que continuem se limitando por minha causa. - Harry falou aos três.


– Pensei que fossemos como uma família – Rony reclamou. - Logo, temos que ficar juntos.


– Sempre. - Mione completou.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.