Desaparecidos



DESAPARECIDOS


Teve vários sonhos estranhos, com cães ganindo, lobos uivando e um um homem sem rosto, que o acompanhava em todos eles.


Acordou faminto. O sol entrava pelas janelas da enfermaria. Pegou os óculos na mesinha de cabeceira e se levantou devagar, não tinha ninguém por perto, foi em direção ao banheiro e vestiu seu uniforme.


Saiu o mais silenciosamente que pôde, tinha certeza que Madame Pomfrey não deixaria. Queria saber notícias de Sirius ou Raven, embora soubesse que dificilmente eles entrariam em contato assim tão rápido.


Encontrou alguns alunos andando pelos corredores perguntou a hora a um deles. Tinha perdido o café da manhã, seu estômago doeu de fome só em pensar. Resolveu parar na cozinha para comer alguma coisa, desde que voltara não havia visto Dobby ainda.


Duas garotas da Lufa-lufa pararam no meio do saguão de entrada quando o viram e cochicharam dando risadinhas. Se perguntou até quando continuariam com aquele tipo de comportamento, o episódio do trem havia acontecido há muito tempo. Desceu para a cozinha e passou pela pintura de fruteira de prata.


– Oi... – Harry cumprimentou meia dúzia de elfos solícitos e sorridentes que se aproximaram dele. Pediu que lhes arranjasse alguma coisa para comer.


Em menos de um minuto tinha diante de si um pequeno banquete, perguntou por Dobby enquanto comia, ele não estava. Procurou pelo mapa no bolso, mas não o encontrou, queria saber se os amigos haviam voltado para a Torre da Grifinória.


Dobby apareceu logo depois. Piscou várias vezes e agitou as orelhas de abano quando o viu.


– Harry Potter acordou e veio ver Dobby!! – disse abraçando-o.


– Claro... – disse dando tapinhas nas costas do seu amigo elfo. – Por que não foi me ver? Tem andado muito ocupado?


– Dobby vê Harry Potter todas as noites quando vai limpar os dormitórios... Mas Harry Potter está sempre dormindo...


– Hum... Então é melhor aparecer em outro horário, não? – perguntou se servindo de mais um bolinho. – Dobby você ouviu os professores comentando algo sobre a Professora Raven?


Quando ela vai voltar ou se mandou notícias?


– Professora Raven Sterling? – perguntou animado. – Dobby gosta muito dela... E ela também gosta de conversar com Dobby!


– É mesmo? – não se surpreendeu. Raven era muito simpática, não era de se admirar que as pessoas gostassem dela tão rapidamente, até mesmo o Professor Snape.


– Dobby não ouviu nada sobre ela, mas viu ela chegar hoje de manhã.


– Ela já voltou!? Então já encontraram ele... – levantou-se apressado. – Dobby eu preciso ir – correu para a porta recusando os pratos que os elfos-domésticos ofereciam para que levasse.


Foi até o Salão Principal mas não viu Raven nem os amigos, só a Professora McGonagall.


– Professora, a senhora sabe onde está a Professora Raven?


– Potter! Papoula já te liberou? Está se sentindo melhor hoje?


– Estou me sentindo bem... – desconversou meio sem jeito. – A senhora a viu?


– Não... Mas acredito que o senhor tenha bastante dever de casa, pra se ocupar em procurar pela Professora Sterling no fim de semana... – disse severamente.


Harry se afastou espantado, Lupin estava passando por problemas, e ela queria que ele se ocupasse com o dever de casa. Encontrou os amigos na entrada do saguão.


– Acabamos de vir da enfermaria, por que fugiu? – Mione pousou a mão em sua testa para sentir sua temperatura.


– Para com isso – reclamou. – Não estou doente.


– Mas ontem à tarde você estava febril... – Gina pousou a mão em seu pescoço para se certificar. – Harry afastou sua mão e a ficou segurando entre as suas.


– Vocês viram a Professora Raven?


– Não... Ela ainda não saiu de seus aposentos. – Rony conferiu no mapa. – Deve estar dormindo, só voltou hoje de manhã.


– Então vamos falar com Sírius.


– Ele também ainda não entrou em contato – Rony lhe passou o espelho.


Harry recebeu o espelho e o guardou no bolso das vestes, frustrado. Cho Chang passou perto deles olhando furtivamente para Harry.


– Cho! – Harry a chamou chocado. – Desculpe, eu esqueci, você queria falar comigo?


– Quero... – olhou para Gina e depois para suas mãos ainda entrelaçadas. – Não, deixa. Não era importante...


– Tudo bem, pode falar. Se quiser...


– Não, Harry. Esquece. Miguel está me esperando... – informou enquanto se afastava em direção à saída.


– O que foi? O que ela queria falar contigo? – Rony perguntou curioso.


– Não sei. – Harry deu de ombros. – Seja o que for, não devia ser importante. Agora eu preciso encontrar o Malfoy, ele também queria falar comigo ontem, mas Moody apareceu...


– Sobre o quê? A Magia Oculta? – Mione sussurrou interessada.


– Hum... Não sei... Mas... – começou indeciso.


– Você descobriu alguma coisa ontem... – Mione afirmou decidida. Harry confirmou. – Vamos lá pra fora – sugeriu enquanto passava para ele o jornal do dia.


A principal notícia era sobre um ataque de lobisomens a um povoado trouxa, uma mulher havia morrido e um rapaz, que havia sido mordido e que agora estava no St. Mungus, tinha sido dado como morto em assalto para as autoridades trouxas.


Pelo o que conseguiram ouvir no dia anterior, o ataque não tinha sido planejado pelos comensais da morte, não estavam mais conseguindo controlá-los. Harry se perguntou se Lupin poderia ter sido o responsável por um dos dois ataques e como ele estaria se sentindo agora.


Sentaram-se à beira do lago e Harry contou a eles a conversa que tivera com Tom Riddle.


– Eu nunca li nada a respeito. Ele disse que seres vivos não são usados... Usados em quê? Então objetos podem, logo, o diário não foi acidental...Pra que alguém vai querer tirar um pedaço da própria alma? Com que finalidade?


– Não sei, Mione... Para guardar a câmara-secreta? Não, isso não...


– Isso é fácil de descobrir, é só perguntar a um professor. – Rony concluiu.


– Pode ser... – Harry apontou a varinha para o castelo e invocou o Lord.


Ficaram observando enquanto ele procurava o que queria. Leram juntos.


“Técnica utilizada em Magia mui maligna” – Harry virou a página.


“Utilizada em uma das invenções mais malignas da magia”. – passou para a próxima folha.


“Não falaremos nem daremos instruções sobre horcruxes”.


– Ótimo! – Harry fechou o livro com raiva. – Mais um tabu.


– Se é magia das trevas... – Mione comentou. – Não vamos encontrar nada em livros.


– Nada em livros comercializáveis... – Gina corrigiu. – Então, estamos de volta ao plano original... O Ministério da Magia...


– Que plano? – Harry perguntou chateado. – Não temos plano nenhum... Na melhor das hipóteses poderiam nos trancafiar em Azkaban para sempre, se nos pegassem. Não quero mais que pensem em entrar lá.


– Como é isso? Ter uma alma, ou parte dela, de outra pessoa? O que você sente de diferente? – Mione o olhou com interesse.


– Não comece a me olhar como se eu fosse uma experiência interessante – Harry pediu. – Eu não sinto nada, eu não sei o que deveria sentir. Eu me acho normal...


– Vamos aprender tudo o que pudermos sobre esse assunto e depois descobrir uma maneira de te livrar disso. – Gina sentenciou.


– Dumbledore me disse que Voldemort havia transferido para mim apenas alguns dos seus poderes, e eu achei que isso era um problema. O que faço então com uma alma que tem vontade própria e conhecimentos obscuros que não devem ser revelados?


– Pergunte a si mesmo, talvez não seja preciso ir a lugar algum! Se você tem o conhecimento dele, então o consulte!


– Como, Mione? Eu não sou um diário! Nem ouço vozes na minha cabeça! – disse chateado.


Mione suspirou.


– De qualquer forma não é tão ruim assim, pelo menos ele não tem como te controlar. Vamos nos concentrar em descobrir uma forma de te livrar disso e em ficar longe desse pessoal da Magia Antiga, eles nunca vão conseguir entrar em Hogwarts. – Rony consultou novamente o mapa. – Vamos voltar para o Salão Principal?


– Você só pensa em comer? – Gina reclamou.


– É que a Professora Raven já está lá.


Entraram no salão e se sentaram na extremidade próxima à mesa dos professores. Raven se levantou quando os viu e foi se sentar com eles. Os professores ficaram observando espantados.


– Professora... – Mione começou meio sem jeito. – Não é comum os professores se sentarem à mesa com os alunos. Estão todos olhando...


– Hermione, olha bem para mim... – pediu com a voz cansada. Estava com olheiras e seu cabelo curto estava desgrenhado. – Estou com cara de quem se importa com regras sociais?


Teriam achado graça se não fosse tão trágico.


– Fazia tempo que eu não participava de uma caçada, estou morta! – disse enchendo o prato com um pouco de tudo que pôde alcançar.


– Como foi? Encontraram ele? – Harry perguntou.


– Achamos um rastro, mas o perdemos depois de algumas horas. Cobrimos a floresta inteira mas não achamos mais nada.


– Devem ter aparatado então? – Gina sugeriu.


– Nem todos os lobisomens são bruxos ou possuem algum tipo de poder mágico. Achamos que foram levados, encontramos rastros de humanos no local. Dumbledore deve estar no Ministério agora, está tentando descobrir se foram eles que os capturaram.


– Mas talvez só os prendam não é? – Rony perguntou preocupado, agora que sabiam do que o Ministério era capaz.


– Só se a notícia vazar, aí talvez se vejam obrigados a apenas prendê-los, mas por que se dar ao trabalho de prender um bando de lobisomens selvagens, o que fazer com eles durante a lua cheia? – Raven se serviu de mais ensopado.


Mione a olhou horrorizada. Nem Rony costumava comer tanto.


– Desculpem, mas estou faminta. Só comi uma lebre desde ontem.


Gina parou de comer e afastou o prato discretamente.


– Por que fizeram isso? Por que atacaram aquelas pessoas inocentes, se não haviam recebido ordens de fazê-lo? – Gina perguntou penalizada.


– Não se pode ter lobisomens em bando por muito tempo, são seres solitários por natureza, são selvagens demais. Parece que os planos do... “Lorde” de ter sua própria alcateia não deu muito certo. Quanto mais tempo dividindo um mesmo território, mais hostis e descontrolados.


– O que faremos agora? – Harry perguntou preocupado. Seus problemas agora pareciam insignificantes, pelos menos, não estava causando a morte de ninguém, sentiu pena de Lupin.


– Torcer para que possamos descobrir quem ao certo os tirou de lá, e para que tenham sido os comensais.


Levaram seus deveres para fora e se sentaram na escada de entrada para o saguão do castelo, tentavam se concentrar enquanto aguardavam ansiosos por notícias. Dumbledore passou por eles no fim da tarde.


– Professor Dumbledore, tem alguma notícia de Lupin?


– Quem falou com vocês sobre Lupin? – os examinou curioso.


– Lemos no Profeta... o ataque, ele também estava, não?


Dumbledore assentiu.


– Como está se sentindo? E a sua cicatriz? – passou a mão por sua testa afastando seus cabelos.


– Normal...


– Ótimo! Quer conversar comigo agora, enquanto os membros da Ordem não chegam? – Harry negou. – Continuem seus estudos... – recomendou a eles.


– Não vai contar a ele a sua conversa com Tom Riddle? – Gina perguntou quando Dumbledore se afastou.


– Ele tem coisas mais importantes para resolver nesse momento. E depois não mudaria nada. Nem os Antigos sabem como desfazer esse tipo de conexão que tenho com Voldemort – retirou o espelho do bolso e chamou por Sirius. Nada.


Aos poucos os membros da Ordem foram aparecendo apressados. Não se atreveram a perguntar nada. O Diretor não havia respondido, duvidaram que os outros o fizessem. Sirius chegou com Tonks, ambos pareciam cansados e abatidos.


– Alguma novidade? – Gina se aproximou de Tonks e segurou sua mão. Ela continuava com os cabelos sem vida, cor de palha, parecia não estar se preocupando em mudá-los.


– A lua cheia termina hoje, estamos com esperanças de que ele apareça.


Harry duvidou que ele fosse querer aparecer depois daquilo, imaginou que ele deveria estar se sentindo culpado, tendo atacado alguém ou não.


– Ele não vai voltar – Harry disse depois que haviam partido. – Deve estar se culpando. Alguém tem que falar com ele.


 

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