Fora de controle



FORA DE CONTROLE


Lupin se juntou a eles na sala, curioso. Só então, Harry reparou, Tonks não viera com eles, devia ter continuado na loja por algum motivo.


– Pode começar a se explicar, moleque! - Moody rosnou, parecia mesmo furioso.


Harry não esperou novo pedido, estivera ansioso pra contar. Relatou tudo o que descobrira sobre Malfoy, só parou depois de descrever o acontecido na ruela da Travessa do Tranco. Quando terminou os outros ainda o encaravam perplexos. Harry esperou impaciente, como ninguém quebrou o silêncio, puxou do bolso das vestes a encomenda feita por Draco. Moody se adiantou e pegou o pacote.


– É um frasco pequeno, contém um líquido dentro – disse sacudindo-o.


– Borgin disse que mataria quem o usasse. - Harry completou.


– Foi bom ter pego isso, garoto, boa iniciativa – Moody disse, para surpresa de Harry. Os dois olhos fixos no pacote, avaliando-o. – O que não apaga a idiotice de sair da loja desacompanhado. Ainda mais pra ir atrás de um comensal!


– Você tem certeza disso, Harry? - a Sra. Weasley perguntou. – Ele é só um garoto! Você chegou a ver a marca tatuada no braço dele?


– Eu tenho certeza. Eu não vi... - ia dizer que sentira a marca, mas se conteve a tempo. – Mas ele confirmou depois.


– Ele podia estar mentindo - Mione comentou.


– Mas não estava, eu sei que não! - disse irritado. - Temos que descobrir quem Voldemort quer matar desta vez, e por que mandar o Draco fazer? Por que não faz ele mesmo ou manda outro qualquer? E Draco disse que iria voltar a Hogwarts esse ano. Pra quê? Se ele agora é um comensal da morte como o pai, por que se arriscar a voltar à escola e ser pego pelo Ministério?


– Que se danem os Malfoy, ninguém naquela família nunca prestou! - Sirius cortou. – Eu quero saber quem é esse estranho. O que exatamente ele disse, Harry?


Harry se concentrou pra lembrar, não havia dito muitas coisas, mas eram muito confusas para ele. Relatou o melhor que pôde. Lupin trocou um olhar preocupado com Sirius.


– Tem certeza que ele mencionou a Magia Oculta?


– Tenho. O que é isso? É o mesmo que Magia Antiga?


Lupin não respondeu. Moody fez uma careta e Sirius passou a mão pelos cabelos pensativo. Harry olhou para cada um deles aguardando uma resposta. A Sra. Weasley estava pálida e visivelmente preocupada.


– Onde isso vai parar, crianças virando comensais, a Magia Oculta sendo mencionada...


Harry olhou para Hermione, ela lhe devolveu o olhar perplexo e curioso. O comportamento dos adultos era muito estranho.


– Vocês não vão contar pra gente? - Harry tentou chamar-lhes a atenção.


– Não! - Moody rosnou.


– Não somos mais crianças! Se até o Draco sabe a respeito, por que...


– Claro! Sendo o pai dele quem é! - Sirius reprovou exaltado.


– Mas eu tenho o direito de saber ... - Harry tentou argumentar.


– Você está muito encrencado pra fazer exigências! - Lupin o interrompeu, a raiva transparecendo a cada palavra. – Não dá pra compreender, por mais esforços que façamos para mantê-lo a salvo, o que não é nada fácil, você sempre arranja um meio de colocar tudo a perder.


As palavras de Lupin o atingiram como um murro na altura do estômago.


– Eu não tenho culpa se...


– Ah, tem sim. Sempre ignorando as regras, nossas recomendações, o sacrifício de seus pais! Castigos não resolvem mais o seu caso, o que fazer então?!


Molly abriu a boca pra dizer algo mas deixou-a se fechar lentamente enquanto encarava Lupin. Sirius se manteve calado observando o amigo.


“Então é isso o que pensam a meu respeito...” - Harry pensou, sentia o calor fugir de suas faces. Sua cicatriz ardeu.


– Eu não procuro por nada, eu sou encontrado! Não me importo de morrer, se for lutando pelo o que eu acredito, e eu acredito que não é certo que Voldemort continue solto, impune, planejando a morte de outras famílias! Eu não vou permitir se puder... Se é isso que sou pra vocês, um estorvo... - disse olhando para cada um deles. – Então não se esforcem mais!


Subiu as escadas e foi direto para o quarto. Abriu o malão e começou a jogar nele os seus pertences. Estava com muita raiva, sua cicatriz queimava. Ouviu alguém se aproximar correndo.
Não se virou, apressou-se em sua tarefa.


– Harry! O que está fazendo?! - reconheceu a voz alarmada de Mione, mas não parou.


Rony e Gina entraram no quarto.


– O que está fazendo?! - Harry não respondeu. Rony o parou segurando o seu braço e repetiu a pergunta.


– Você também acha isso, Rony? - perguntou.


– Claro que não! Todo mundo sabe que não é culpa sua. Não é como se você saísse por aí procurando, as coisas simplesmente acontecem contigo - respondeu sem precisar perguntar o que o estava incomodando.


Não sabia ao certo o que iria fazer ao sair dali, sabia apenas que isso já estava decidido.

– Você não vai a lugar nenhum! - Gina exclamou impaciente.


Harry a olhou mas não teve coragem de discutir com ela, então voltou a juntar suas coisas.


– Lupin estava nervoso, Harry. Ele não te culpa por nada, só está com medo... por você!


– Onde pensa que vai?! - Sirius entrou furioso acompanhado de Moody.


Harry tinha planejado sair sem ser visto, talvez pela janela. Não esperava ter mais confrontos. Só então pensou que devia estar sendo vigiado desde que subiu as escadas. Se sentiu sufocado, era um prisioneiro naquela casa, assim como o era em Hogwarts, percebeu alarmado, nunca tinha visto as coisas assim antes, mas era tão óbvio!


– Não importa. - disse por não ter nada a dizer. Não tinha planos.


– Não fale assim comigo, rapazinho! Não te dei autorização para ir a lugar algum!


– E eu não pedi! Nem estou pedindo agora! - a última coisa que queria era brigar com Sírius, mas estava sentindo tanta raiva... - Escuta, só me deixe ir, OK? - se virou para fechar o malão, sentiu uma sua cicatriz arder mais intensamente.


– Não seja ridículo, já disse que você não vai! Eu sou responsável por você, então EU decido isso!


– Você não tem obrigação nenhuma - respondeu tentando controlar suas emoções.


– Tenho sim, você ainda é menor de idade. - Harry sentiu o peito doer com aquelas palavras. Poderiam ser consideradas normais, mas naquele momento teve um significado diferente para ele.


– Eu já tenho dezesseis anos, daqui a um ano serei maior de idade...


– Acabou de fazer dezesseis! E um ano é muito pouco tempo pra se tornar responsável.


– Eu não sou irresponsável! Já passei por muita coisa...


– Querer sair de casa, sem rumo, com tudo que está acontecendo lá fora...


– Vou voltar para a rua dos Alfeneiros – mentiu. - Vou ficar com meus tios. - Sentiu Mione e Rony se agitarem em volta dele, mas não os olhou. Tinha certeza de que não acreditariam.


– Mas por quê? Você disse que não gostava de ficar lá, nunca gostou - a voz de Sírius parecia triste e cansada. Harry não teve coragem de encará-lo.


– Eu estava enganado - disse fitando o malão fechado. Já havia se decidido, achava que seria melhor para todos desse jeito e não iria mudar de ideia.


– Espera eu pegar as minhas coisas, Harry. Eu vou com você – Mione decidiu.


– E eu também! - Rony exclamou surpreso. Você não ia me deixar pra trás, não é?


– Vocês não vão comigo. - Harry declarou ignorando a expressão ofendida de Rony, o olhar surpreso de Hermione e o ar invocado de Gina. Abriu novamente o malão, ele só atrapalharia.


Pegou a mochila, colocou dentro o livro do Lord e começou a escolher algumas peças de roupa.


– É por causa dele?!  Eu disse que não deveria ficar com esse livro, não é você que quer ir, é ele, não é? Para pra analisar, você está confuso.


– Agora não, Mione, por favor! Você sabe muito bem que não é nada disso - encheu a mochila com o resto das suas coisas que julgava essenciais e fechou-a com dificuldade. – Ou você acha que eu também estou louco, além de todo o resto?


– Do que estão falando? - Sirius quis saber, como ninguém respondeu continuou. – Não acho que os Dursley vão ficar felizes em recebê-los, nenhum de vocês!


– Arrr... Acaba logo com isso Sirius! Chega de tanta conversa!


Harry ignorou a reclamação de Moody e pôs a mochila nas costas. Sirius passou as mãos pelo cabelo, gesto que fazia sempre que tentava se decidir por algo ou estava preocupado. Harry não tinha mais nada a esperar, foi em direção à porta. Moody barrou sua passagem.


– Sirius! - Moody o repreendeu. - Ou quer que eu faça?


Harry olhou desanimado para ambos, não iria ser fácil, então. Olhou pra janela. Com um movimento rápido Sirius a lacrou com barras de ferro. Os quatro olharam espantados.


– É para o seu próprio bem, Harry. - Sirius sussurrou como se pedisse desculpas.


– O que você está querendo afinal? O que quer de mim? Sou um estorvo, sou um ingrato, não tenho feito nada além de preocupar, aborrecer e violar regras, então por que não me deixam ir? -  estava tremendo agora, tentando controlar a raiva que tentava aflorar com toda a força.


– Você não é nada disso pra mim... – Sirius tentou se aproximar, mas Harry se afastou.


– Não importa o quanto você esteja a fim de se matar, nós não vamos deixar. - Moody declarou convicto. – E não é por causa dos seus pais, que foram boa gente e fizeram a única coisa que os pais podem fazer pelos filhos, garantir sua sobrevivência, não... Vamos fazer isso porque você é bom e decente demais, pra servir de diversão para o Lorde das Trevas enquanto ele o tortura e mata. É contra isso que lutamos até hoje. E não vamos deixar que aconteça com um de nós, mesmo que este seja um adolescente inconsequente, preocupado demais com os outros para por a própria segurança em primeiro lugar.


Harry não se mexeu, não conseguiu dizer nada. Aquelas palavras vindas de Alastor Moody poderiam ser consideradas como uma declaração de afeto.


– Os outros podem sair. Harry não vai precisar de ajuda para por as coisas novamente no lugar - Sirius afirmou.


Harry sentiu os outros se mexerem a sua volta, mas continuou parado. Quando todos saíram Moody parou à porta.


– As grades continuarão aí. E se não forem suficientes pra você, posso arranjar algumas correntes pra sua cama combinando com elas. - fechou a porta atrás de si. Uma luz amarela a envolveu por instantes.


Harry ainda ficou um tempo sem se mexer, depois se jogou na cama. Não se deu ao trabalho de conferir, sabia que estava preso e não conseguiria sair.


O sol já estava se pondo quando resolveu se mexer de novo, ficara na cama observando o teto por tempo demais. A bandeja com seu almoço ainda estava intocada, do jeito que Monstro a deixara. Não sentia fome, seu estômago já estava muito pesado. Abriu o malão e revirou os poucos pertences procurando pelo espelho, fazia tempo que não o via.

Abriu o guarda roupa, agora quase vazio e passou a mão pelos lençóis buscando o contato com sua superfície lisa e fria. Agarrou uma trouxa de pano e a puxou com força, sentiu algo pontiagudo perfurar sua mão, gemeu. Puxou para si a mão dolorida. O primeiro impulso foi ir até o banheiro lavar o sangue, mas lembrou-se de que estava trancado.


Acabou de puxar a trouxa com a outra mão, agora com mais cuidado. Manteve a mão ferida fechada, agora o sangue escorria pingando no lençol. Puxou uma fronha limpa e a enrolou na mão.


Com a outra desfez cuidadosamente a trouxa expondo no chão os cacos do espelho. Esquecera de pedir a Sirius para consertá-lo. Lamentou que quase tinha partido sem levá-lo, iria fazer falta quando quisesse falar com os amigos, saber notícias de casa. Estava pensando se deixariam que conversasse com Rony quando pedisse para reparar o espelho, já que estava de castigo.


Ouviu um barulho na porta, se virou e esperou para ver quem seria. Lupin espiou cauteloso pelo vão da porta.


– Sei que não deve estar querendo me ver, mas vou te impor minha presença por alguns minutos - entrou fechando a porta atrás de si.


Harry ficou parado observando, na verdade estava aliviado que tivesse vindo, chegou a pensar que Lupin estaria com tanta raiva dele que não iria querer vê-lo tão cedo.


– Bem, Harry... - começou a dizer olhando-o nos olhos mas parou quando viu o espelho quebrado no chão.


Harry olhou também, tinha tentado arrumar os pedaços de forma a reconstituí-lo sobre o lençol salpicado com seu sangue, sabia que se faltasse um pedaço seria impossível repará-lo. A próxima coisa que sentiu foi os braços de Lupin erguendo-o bruscamente do chão.


– O que está fazendo?! Está louco?! - Lupin berrava de encontro ao seu rosto. Harry tentou empurrá-lo com a mão boa se esforçando para que seus pés encostassem no chão novamente.


Sirius entrou escancarando a porta do quarto.

– O que houve?! Remo! - avançou e puxou seu braço. – O que está fazendo?!


Harry aproveitou para se soltar, indo para perto de Sirius que o puxou para trás de si, protegendo-o.


– Eu?! - Lupin perguntou indignado. – Eu, Sírius! Olhe para ele! Está tentando se matar!


Sírius se virou para ele também. Harry estava assombrado demais para falar. Lupin se aproximou e ergueu seu braço. Harry se encolheu, sua cicatriz começou a arder novamente. A fronha enrolada em sua mão agora estava empapada de sangue, que começou a escorrer pelo seu antebraço. Esforçou-se para se controlar enquanto a compreensão invadia sua mente.


– Não fiz isso! Foi um acidente - tentou puxar o braço, mas Lupin o segurava firme. Sírius pegou sua mão e desenrolou a fronha. Não tinha imaginado que um corte tão pequeno pudesse sangrar tanto. - Se eu quisesse me matar não tentaria cortando a palma da mão! - tentou trazer um pouco de bom senso à situação. Lupin o encarou pensativo.


– Claro, desculpe. Eu me descontrolei quando vi o vidro e o sangue... Estive com medo que estivesse com tanta raiva a ponto de cometer alguma loucura – apontou a varinha para sua mão que ficou ainda mais quente por alguns segundos. Depois com um aceno da varinha fechou o corte.


Sirius ergueu a varinha e limpou o sangue.


– O corte foi fundo, por que esperou tanto pra chamar alguém?


– Obrigado - se limitou a responder.


– Desculpe-me, Harry - Lupin pediu novamente. – Machuquei você?


– Não... - Harry respondeu sem saber se ele se referia a alguns instantes ou ao que dissera mais cedo - Tudo bem.


– Acho que esse trabalho está me deixando um pouco descontrolado, agora não só quando se aproxima a lua cheia - disse envergonhado.


Harry que até então não sabia o que Lupin fazia nos seus longos períodos de ausência, pois ele se recusara a responder quando perguntara, tentou novamente.


– Que trabalho está fazendo?


– Não, Harry. Não vai ser hoje que vamos falar sobre isso.


– Vamos falar algum dia? - espantou-se. Lupin sorriu.


– Você é um garoto incrível, e eu gosto muito de você, de verdade. Desculpe-me pelo o que eu disse mais cedo, não quis te magoar... Eu me arrependi antes mesmo de você subir, mas ... e como Moody viu que você estava nervoso, achei melhor dar um tempo, depois tive medo de estar dando tempo demais... Essa visão agora, descontrolou os meus nervos, de novo. Desculpe. Harry baixou os olhos sem jeito, Lupin o abraçou.


– Bom, já que está tudo bem agora – Sírius disse olhando a bandeja intocada. - Que tal comer? Vou pedir pra Monstro te trazer alguma coisa.


– Não, Sirius, não estou com fome. Sério. - confirmou perante seu olhar de descrença. - Não estou tentando me matar de fome, aliás não estou tentando me matar de maneira nenhuma. Já tem muita gente fazendo isso - tentou fazer piada, mas eles o olharam preocupados. - É brincadeira...


Abaixou-se perante os cacos do espelho.


– Podem consertar pra mim? - pediu para desviar o assunto.


– Claro! - Sirius se aproximou. Com um toque o espelho estava inteiro de novo.


– Posso falar com o Rony? - arriscou.


– Por que não poderia? - Sirius se surpreendeu.


– Não sei... - se sentiu meio idiota. – Porque estou de castigo? - com Sírius as coisas eram bem diferentes, depois de tantos anos sob o regime perverso de tio Válter, ainda não tinha se acostumado.


– Não, você não está de castigo. A menos, é claro, que tente fugir de novo. Você não ia mesmo voltar para a casa dos seus tios, não é?


– Não! Claro que não – admitiu. - Talvez para algum lugar ao sul. Lupin bufou.


– Com tantos homicidas surgindo atrás de você, como esperava conseguir isso?


Harry achou que Lupin estava sendo dramático.


– Os comensais não contam, pelo o que Draco disse, eles nem têm autorização... Então, por enquanto... oficialmente...


– Não é bem assim, agora começo a pensar que o incidente acontecido em Surrey não seja um fato isolado, com certeza há alguma ligação nisso. Dois estranhos que surgem do nada, que não parecem bruxos mas também não se comportam como trouxas comuns... um deles mencionando a Magia Oculta... E Dumbledore concorda comigo, deve haver uma ligação entre os dois casos.


Harry ouviu em silêncio, já havia, há muito tempo, esquecido o incidente do início das férias. Muitas coisas estavam acontecendo neste verão. Nem queria pensar no que aconteceria quando começasse o período letivo.


– Dumbledore já sabe? - processou melhor a informação.


– Ele esteve aqui para te ver, mas quando soube da sua... determinação... achou melhor que continuasse trancado em seu quarto - Sirius encurtou a história.


– Ah... - foi só o que conseguiu dizer. – Já que não estou de castigo, posso voar até a Toca? - preferia conversar com os amigos pessoalmente, queria saber se eles tinham conseguido alguma informação.


– Hum... não, hoje não – Sirius respondeu.  - Não abuse da sorte.


Harry se surpreendeu, então havia um limite. Limite que se limitava à opinião da Sra. Weasley, imaginou.

Quando desceu para jantar seu estômago doía de fome. Sirius e Lupin o olhavam comer contentes, pareciam até aliviados. Ficou tentando imaginar se seu pai também seria assim... talvez um pouco dos dois... permissivo como Sirius, exigente como Lupin... nunca saberia.
Aproveitou o bom humor deles.


– Quando eu usei magia hoje de manhã, na Travessa do Tranco - explicou rapidamente para que a lembrança não despertasse, nenhum dos sentimentos já manifestados anteriormente. – Por que ninguém do Ministério apareceu lá naquela hora? Dois bruxos menores de idade, usando feitiços fora de Hogwarts, por que não fomos detectados?


– Isso não funciona assim, uma vez que você não deveria estar lá, eles não tem como detectar...


– Sirius! - Lupin interrompeu. – Não acho prudente... - os dois se olharam cheios de mistérios.


– Você tem razão. Esquece isso, Harry. Nem tudo é perfeito o tempo todo.


Harry se irritou.


– E vocês não vão me explicar sobre a Magia Oculta?


– Não!! - a resposta foi simultânea, então desistiu. Sirius tinha razão, era melhor não abusar da sorte.





Depois do jantar chamou Rony pelo espelho. Hermione apareceu logo depois. Disse a eles que estava tudo bem agora e prometeu, para uma Hermione insistente, que não iria tentar fugir, nem pensava mais no que o tinha motivado a decidir isso. 

Queria mesmo era discutir sobre o que Malfoy estaria fazendo agora, que outros meios estaria bolando para atacar seja lá quem Voldemort quisesse morto e sobre a tal Magia Oculta, novo tabu do mundo bruxo. Os amigos também não tinham ideia, não conseguiram arrancar nada de ninguém da família Weasley.


– Pensa bem, Harry, por que o Lorde das Trevas iria querer um bruxo menor de idade, sem formação completa em magia, como um dos seus seguidores? Sabemos o quanto Malfoy é metido, ele só devia estar querendo se gabar, tirar vantagem do fato de que agora todos sabem quem é o pai dele.


– Eu já disse, Mione, ele é um Comensal da Morte, ele tem a marca!


– Mas você disse que não chegou a ver...


– Moody acreditou em mim!


– É, mas estamos falando do Malfoy, não dá pra acreditar nele – Rony emendou – Não o aceitariam como Comensal da Morte, não nos deixam nem participar das reuniões da Ordem...


– Duvido que Voldemort tenha tanto escrúpulo assim... É difícil explicar, eu senti a marca no braço dele... Não sei explicar como... – confessou. Os amigos absorveram a informação em silêncio. – Onde está Gina?


– Lá embaixo, com a mamãe.


– E o seu livro, Harry? – Hermione perguntou. Harry fez uma careta, não queria começar uma discussão a respeito disso de novo. – Rony disse que ele mostra qualquer coisa que você queira saber, já tentou perguntar a ele?


Harry a olhou desconfiado, não conseguiu identificar nenhuma censura em seu olhar. Foi até o guarda-roupa e buscou o livro. Mentalizou e o abriu. Nada.


– Ele não mostra nada... estranho... – murmurou – Talvez Voldemort não soubesse a respeito quando o fez... ou não queira me dizer...


– Bom, se é assunto proibido, o Ministério deve ter impedido publicações sobre o assunto... – Hermione concluiu.


Sua cicatriz doeu de novo, como acontecera outras vezes mais cedo. Estava achando mais fácil controlar esses momentos agora. Os ensinamentos do livro o estavam ajudando muito. Achou irônico que seria Voldemort e não alguém da Ordem que o ajudaria a controlar isso, o que o fazia questionar novamente se Snape estivera mesmo tentando ensiná-lo Oclumência. Dividiu sua opinião com os dois.


– Por que eu teria mais facilidade em aprender num livro do que com um professor? A maneira como o Lord explica... Snape nunca me ensinou isso... assim, dessa maneira.


– Bom, cada um tem um jeito diferente de ensinar... – Hermione defendeu, pensativa – Você também nunca foi bom em Poções! Mas, talvez, se você aprendesse com outra pessoa...


– Mas você não concorda que o Snape...


– Não... – Hermione cortou. – Acho que pode ser psicológico, sua animosidade com Professor Snape deve influenciar muito, afetava Neville também! Quando eu explicava Poções a ele, parecia entender muito bem, mas nas aulas... além do mais, se Snape estivesse realmente com a intenção de não te ensinar Oclumência ano passado, digamos, a mando do Você-Sabe-Quem, por que agora, o próprio te mandaria um livro com essa informação?


– Ah, Mione... porque... ele não sabia que tinha essa informação, porque o livro é velho demais e já tinha esquecido, porque ele nunca o leu, porque ele é maluco... Não importa, estou falando do Snape!


– Esquece, Harry, nunca encontramos nada contra ele.


– É, Harry, nos livramos dele finalmente, agora esquece! – Rony completou. – E você agora não precisa de professor de Poções, você pode aprender com o Lord.


Harry ficou em silêncio por alguns minutos, meditando.


– Podemos aprender a preparar a poção de Mata-Cão, para o Lupin.


– É muito difícil! – Hermione discordou. – Poucos bruxos conseguem prepará-la, nem Lupin se atreve a tentar! Se alguma coisa sair errado, vai piorar ao invés de ajudar.


– Se Snape consegue...


– Snape é professor, é mestre em Poções! E nem todos os professores conseguem!


Harry não disse nada, estava tendo uma ideia. Passou boa parte da noite estudando o livro do Lord, lendo as explicações. A poção era mesmo bem complexa, demorava pra ficar pronta, mas se seguidas as etapas corretamente... No dia seguinte disse a Sirius que precisaria comprar alguns ingredientes.


– Por que não comprou quando fomos ao Beco Diagonal?


– Porque eu não sabia que iria precisar, como não vou mais estudar Poções...


– Então, pra quê você quer, se não vai mais estudar Poções?


– Quero fazer uma experiência... Se eu não praticar, vou esquecer o pouco que aprendi.


– Só não vá me deixar de cabelos brancos!


– Não, não é pra você... – Harry ponderou se contaria ou não o que queria fazer.


– Estou dizendo que você é um ímã pra problemas, vê se não me assusta. O que vai preparar?


– Eu queria tentar a poção de Mata-Cão... – comentou. – Isso ajudaria Lupin...


– Não, Harry... Além de ser muito difícil de preparar, ele não poderia... ele está a serviço da Ordem...


– Por isso mesmo, se isso o está deixando tão descontrolado...


– Ele está andando com o bando, entende? – Sirius segredou. – Dumbledore precisa que ele haja como os outros, que permaneça infiltrado.


– Mas isso está fazendo mal a ele...


– Eu sei, e logo agora que... – Sirius refletiu, pesaroso. – Deixa pra lá... talvez não desse certo mesmo...




Passou o dia sozinho, estudando algumas azarações do Lord, Rony havia lhe dito, mais cedo pelo espelho, que não tinham recebido permissão para sair depois do ocorrido após a volta do Beco Diagonal. A Sra. Weasley achou melhor “deixarem que Sirius e Harry se entendam!”. Harry disse a eles que seu relacionamento com o padrinho era bem diferente, mas era melhor que ela não soubesse.


– O que você tanto lê? – Sirius perguntou examinando o livro aberto em suas mãos.


– Não vai tirar a grade da janela? – Harry perguntou, pra distraí-lo.


– Não sei... – Sirius passou a mão pela barba por fazer. – Elas ficam bem aí.


– Não, elas atrapalham! Fica ruim pra Edwiges também – sua coruja raramente o visitava agora, não tanto pela grade, Harry achava que ela estava se acostumando à vida selvagem. Mas preferia vê-la feliz em seu habitat do que dentro da gaiola de mau humor. Sirius riu.


– Eu estou brincando, tinha esquecido delas – no mesmo instante as retirou. – Mas saiba que elas podem voltar se for necessário! – disse, sério.


– Sim, Senhor. – Harry respondeu guardando o livro.


– Não precisa falar assim comigo! – Sirius reclamou, fechando a cara.


Harry lhe lançou um rápido olhar – Desculpe – seu Tio Válter sempre exigia que respondesse “com o respeito que se deve aos mais velhos”. Sirius era bem diferente.


– O que vamos fazer amanhã? Suas férias estão acabando, que tal um passeio? Você escolhe o lugar, um parque, zoológico, qualquer lugar normal...


Harry riu. Era estranho de imaginar, por mais que quisesse isso.


– Acho melhor não sair por aí... essas férias já estão sendo agitadas demais...


Sirius ficou em silêncio, pensando a respeito.


– Amanhã vou passar o dia na Toca – Harry improvisou. – Por que não aproveita e sai um pouco?


– Sem você?


– Sirius... tenho certeza que você tem muito o que fazer lá fora.


– Tá bom, posso aproveitar e adiantar algumas coisas pra Ordem...


No dia seguinte, pela manhã, Sirius o levou até a Toca. Harry tinha falado com Rony pelo espelho, durante a noite. Os quatro passaram o dia sob o olhar atento da Sra. Weasley. Jogaram quadribol, xadrez de bruxo e confabularam sobre o que Draco poderia estar querendo ao voltar a Hogwarts.


– Não acredito que Dumbledore o deixará voltar – Hermione disse. – Se ele for mesmo um Comensal ...


– Ele é um Comensal!


– Tá bom, Harry... – Hermione corrigiu – Já que ele é um Comensal... colocaria em risco todos os alunos e Dumbledore não permitiria isso.


– Mas mesmo que não volte – Rony atirou o jornal do dia sobre a mesa da sala. – Ele vai continuar livre pra fazer o que quiser? Ainda não li nada no Profeta a respeito dos Malfoy, será que a Ordem não vai denunciá-lo?


– Talvez não seja tão fácil de provar – Gina disse enquanto arrumava as peças no tabuleiro – Eles não iriam andar por aí com a Marca Negra à mostra, devem ter meios de disfarçá-la, meios indetectáveis...


– Como isso aconteceu, Harry? – Hermione o olhou preocupada. – Como, de uma noite pra outra, você passou a pressentir a presença dos seguidores dele? E a voar sem vassoura? E por que aquele homem, da travessa, acha que você sabe Magia Antiga?


– Não sei... Você acha que são a mesma coisa, então? Magia Antiga, Oculta, proibida... é, faz sentido... – analisou massageando as têmporas.


Sirius voltou à Toca no final do dia, parecendo radiante. Cumprimentou a todos alegremente, distribuindo sorrisos. O Sr. Weasley chegou logo depois e ficaram trocando informações, coisas da Ordem. Os quatro foram, providencialmente, enxotados até a hora do jantar.


A Sra. Weasley insistiu para que Harry passasse a noite, ele aceitou, estava com saudades da Toca, do soar do relógio da família aos sons do vampiro do sótão. Sirius, ainda de bom humor, concordou e se despediu deles. Foi embora em sua moto, fazendo-a roncar o motor ensurdecedoramente.





Os quatro resolveram voltar à Casa Verde no final da tarde. Foi uma longa caminhada, mas animada.


– Oi, Monstro – Harry o cumprimentou enquanto procurava por Sirius.


– Ele saiu, mestre Potter...


– Saiu? Pra onde?


– Mestre Sirius não disse a Monstro... mas deve voltar logo, nem almoçou em casa... – Monstro se afastou resmungando.


– Aproveitando que não tem ninguém em casa, Harry, traz o seu livro aqui – Hermione pediu se acomodando à mesa da sala.


– Pra quê? – Harry perguntou, desconfiado.


– Eu quero tirar uma dúvida – os outros a olharam, incrédulos. – Só quero fazer uma pesquisa... Bom, eu não tenho um biblioteca à disposição no momento – completou. – Eu admito que ele pode ser muito útil, afinal deve ter sido criado com o intuito de facilitar os estudos. É um livro antigo, pode ter sido feito por qualquer um, além do mais, ele já foi um aluno, foi Monitor-chefe! Quando não se faz uso da tecnologia, esse tipo de magia avançada pode...


– Tá bom Hermione, já entendi. Você mudou de ideia. – Harry se afastou sorrindo enquanto a amiga corava.


Voltou rápido e lhe entregou o livro, ainda sorrindo. Ela o pegou, ansiosa, desfolhou-o rapidamente e o devolveu contrariada.


– Procura pra mim por “Tipos de Magia”.


Harry compreendeu o que ela queria fazer, obedeceu. Hermione puxou o livro de suas mãos.


– Bruxaria, clarividência, ilusionismo, forças ... Não, não tem nada aqui também. – disse desanimada. – Talvez a gente não esteja fazendo a pergunta correta, vamos ter que...


Sirius entrou assobiando neste momento.


– Olá crianças! – cumprimentou-os animado.


– Onde esteve? – Harry perguntou.


– Dando umas voltas...


– O dia inteiro? – Gina perguntou, curiosa.


– É... o dia passou rápido hoje, não? – disse sonhadoramente. – Encontrei um ótimo programa pra amanhã, poderemos ir os cinco, ou seis, se Tonks quiser...


– Qual? – Harry perguntou, desinteressado.


– Um show da banda de rock The Burners, amanhã à noite.


– Sei... – não sentiu nenhum entusiasmo com o convite, mas Sirius tinha um poster dessa banda na parede do quarto, então, fingiu que tinha gostado da ideia.


Hermione e Gina não disfarçaram a falta de interesse e prontamente dispensaram. Rony aceitou o convite em solidariedade a Harry, a The Burners não era sua banda preferida também, achavam seu estilo pesado demais.


– Mas não acha... perigoso... sair assim... – Harry tentou uma desculpa.


– Não, nós vamos disfarçados! Animem-se, Vai ser legal!


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