Detenção



DETENÇÃO


A semana começou e se viram novamente atolados com deveres de casa. Rony havia despachado Pichitinho à loja dos gêmeos no fim da semana, sem que Hermione soubesse. Tinham enviado um pedido de kits mata-aula num envelope com dinheiro e todas as manhãs aguardavam ansiosos pelo correio.

Na terça-feira foram para a aula de DCAT. Raven os recebeu alegre, como sempre. A aula foi bem divertida, tanto quanto eram as de Lupin. 
 

– Gostei da aula dela. - Rony comentou algumas horas depois enquanto se encaminhavam para o salão comunal.

Harry estancou de repente e os puxou com urgência para dentro da porta mais próxima, o banheiro da Murta.

– O que foi? - Mione reclamou.

– A marca... - sussurrou. - Pode ser o Snape. - Puxou de dentro da mochila o mapa do maroto.

Viram um pontinho com o nome de Severo Snape passar pelo corredor ao lado de onde os nomes deles estavam marcados. Ele seguiu até o final do corredor e parou ao lado de outro que marcava Raven Sterling.

– O que será que estão fazendo? - Rony perguntou. - Será que ele ainda tem esperanças?

– Contanto que não a trate como trata o Sírius, ou a mim...

– O que vocês estão fazendo? - Murta perguntou acima deles, tentando ler o pergaminho.

– Nada de mais, só esperando o Professor Snape ir embora... - Harry passou o mapa à Mione, que continuou vigiando. - Como você está?

– Sozinha... - Murta disse tristonha. - Vocês não vêm mais me visitar... Ninguém vem aqui, só algumas alunas do primeiro ano, às vezes...

– Pode ir nos visitar quando quiser, não precisa ficar aqui o tempo todo. Os outros fantasmas circulam por todo o castelo... - Harry comentou.

– Sério? - perguntou ajeitando os óculos.

– Claro! Eles circulam pelo castelo todo, o tempo inteiro...

– Não! Posso mesmo visitá-los? - perguntou entusiasmada.

– Pode sim, somos amigos, não? - Rony respondeu examinando a passagem que levava à Câmara Secreta. - Ninguém nunca mais a abriu, não é?

– Não... Acho que só o Harry consegue... - disse flutuando em volta das pias.

– Snape bem que poderia dar umas voltinhas lá em baixo – sugeriu a Harry brincando.

– Ele já foi. - Mione avisou.

– Como assim ele já foi? Se só o Harry consegue abrir... - Rony estranhou.

– Eu quis dizer que ele foi embora, já podemos sair.

Despediram-se da Murta e seguiram para o Salão Principal. Não viram o Prof. Snape. A Profª Sterling conversava animada com a Profª Sprout. Depois do almoço Harry subiu com Mione enquanto Cátia marcava com Rony o primeiro treino do time.

Raven fora a única que não passara dever de casa até então. Ficaram aliviados. Ainda tinham deveres de Feitiços e Transfiguração das aulas do dia anterior. Rony apareceu depois, de cara amarrada. Mione e Harry já tinham começado a fazer seus deveres.

– O que foi? - Mione perguntou. - Vai ter que acordar muito cedo para o treino?

– Acabei de perder dez pontos para a Grifinória! - disse de mau humor.
 
– Por que?! - Harry o olhou curioso.

– Snape! - pronunciou com raiva. - Só porque eu estava com pressa, eu nem estava correndo! Acho que a Professora Raven deve ter dado um fora nele...

Harry suspirou aborrecido. Tinham muitos problemas a resolver.



Na quinta-feira de manhã receberam uma resposta de Fred e Jorge. Uma caixa vazia com um bilhete:
Para monitores é mais caro!


– Eles vão ver só! - Rony vociferou.

– Deixa que eu escrevo a eles. - Harry pegou papel na mochila e começou a escrever.

– Mesmo assim, o que faremos hoje? - disse desesperançado.

– Do que vocês estão falando? - Mione olhou pra caixa vazia sem entender.

– Nada... Mamãe esqueceu de me mandar um suéter que eu pedi... 

Mandaram Pichitinho de volta com a carta de Harry. Tiveram que assistir a aula de Poções à tarde.

Ficaram em silêncio durante toda a aula, mesmo assim Snape tirou dez pontos da Grifinória por Harry não saber responder o nome dos ingredientes da poção Veritaserum e mais dez por não saber a utilidade da poção Amortentia.

– Pensei que eu estivesse aqui pra aprender, não pra dar as respostas... - respondeu malcriadamente.

– Detenção Sr. Potter!! - disse satisfeito. - Na minha sala, sábado, às 9hs.

Harry ficou perplexo trocou um olhar indignado com Rony. - “o que pode acontecer de pior?” - Se perguntou. A resposta veio antes do término da aula.

– Espero que se preparem para a minha próxima aula – Snape os avisou antes de tocar o sinal. - Pois consegui um raríssimo veneno de manticora... Eu tenho o veneno, vocês irão preparar o antídoto e no final da aula sortearei um aluno para testar sua eficiência perante a classe. Aconselho a se esforçarem, o veneno do manticora causa dores alucinantes...

Os alunos se entreolharam incrédulos, alguns arriscaram um risinho nervoso, na esperança de que fosse uma brincadeira.

– Ele não pode fazer isso! – Mione sussurrou incrédula. – Não existe antídoto para o veneno de manticora que seja eficiente o bastante... Os sintomas podem permanecer por dias...

– Aqui está o veneno... - disse mostrando uma ampola de vidro com um líquido alaranjado. O silêncio reinou na sala, todos pareciam estar prendendo a respiração. - Para não dizerem que não sou justo, estou avisando com antecedência para que os menos privilegiados nessa matéria também tenham uma chance... - trocou com Harry um rápido olhar.

Harry sentiu tanta raiva que sua cicatriz ardeu ferozmente. Estava convicto que seria o aluno “sorteado”. Saiu da sala apressado, queria por a maior distância possível entre ele e o professor. Rony e Mione o alcançaram um pouco depois. Lutou para se acalmar e retomar o controle. Aos poucos a dor foi suavizando.

– Não se preocupe Harry, ele não pode fazer isso, seria tortura e Dumbledore não vai permitir...

– Dumbledore tem permitido muita coisa ultimamente... Draco, o ataque ao trem... - Levou a mão à cicatriz, respirou fundo para voltar a se controlar.


Na sexta-feira ainda não estava se sentindo bem, sua cicatriz latejava frequentemente. Estava tendo dificuldade em manter o controle, estava seguindo as dicas do Lorde, mas toda aquela situação o atrapalhava a se concentrar. Evandra foi procurá-los depois do almoço.

– Eu falei sobre a sua idéia, lá no Profeta – comentou com Hermione.

– Mas você não disse o meu nome, não é? - perguntou preocupada.

– Não... Eu dei a entender que vários alunos haviam sugerido isso, pra dar mais força ao pedido, mas eles não deram nenhuma atenção, estão preocupados com os desaparecimentos que estão ocorrendo, ainda há três aurores desaparecidos, vocês sabem, não é?

– Estamos sabendo... - Mione respondeu desanimada.

– Mas vou continuar tentando... Já falei com Susana, ela prometeu comentar com a tia a respeito.

– Quem? - Rony perguntou.

– Ela participou da AD ano passado...da Lufa-lufa!

– Susana Bones! A tia dela trabalha no Ministério... - Harry comentou esperançoso.

– Tudo bem, mas não queremos que nossos nomes sejam envolvidos, muito menos o do Harry. Já estamos muito visados, entende? - Mione pediu.

– Claro! Não se preocupem! - Evandra sorriu para Harry e se afastou prometendo arranjar mais interessados para promover uma pressão interna também.

– Pelo menos estamos tentando.

– É, só que não está sendo o suficiente... - Harry reclamou esfregando a testa.


No dia seguinte desceu com os amigos, mas não conseguiu tomar o café. Sua cicatriz continuava a arder insistentemente, estava ficando preocupado.

– É melhor você falar com Dumbledore... - Mione congelou a água do copo, embrulhou a pedra de gelo num guardanapo e passou para Harry.

– Não... Eu consigo... Só está sendo mais difícil dessa vez. O Snape me deixou com muita raiva, perdi o controle. Além disso, o que Dumbledore pode fazer? Mandar eu ter aulas de Oclumência com ele novamente?

– Então evite pensar no Snape... - Rony encheu o prato com panquecas.

– Como? Esqueceu que tenho que cumprir detenção com ele hoje?

– Por que você não pede para ser dispensado, Harry? Fale com a Professora Minerva, diga que não está se sentindo bem... - Gina o olhava preocupada.

– Não dá, eu pretendo passar mal na próxima aula do Snape, se começar desde agora ele ficará desconfiado.

– Como assim “pretende passar mal”? - Mione indagou.

– Vou ter uma doença qualquer, contagiosa, Rony vai pegar também... - disse enquanto apertava o gelo contra a cicatriz.

– Quem sabe você consegue ficar doente hoje e estender durante o resto da semana – Rony disse olhando para o teto, na esperança de avistar alguma coruja.

– Tudo bem matar a aula de Poções – Mione concordou. - Mas não pode faltar a semana inteira, é muita matéria.

– Está falando sério? - Harry duvidou. - Concorda que eu use uma das Gemealidades Weasley para faltar à aula do Snape?

– Depois da última aula... talvez seja melhor pra você. 

– Ele não pode fazer isso! - Gina exclamou revoltada. - Dumbledore...

– O Diretor sempre o defende. - disse com raiva. - Não é a primeira vez que ele nos ameaça de envenenamento, mas pra ele chegar a fazer isso de verdade, só se o Diretor tiver autorizado, Snape não se arriscaria tanto...

– Acha então que ele só estava sendo desagradável? - Rony perguntou. - Sendo normal?

– É melhor não arriscarmos...

– Se Fred e Jorge não mandarem hoje o kit que encomendamos eu vou até lá pessoalmente! - Rony irritou-se.

– Se vocês verem o Sírius hoje, falem com ele, ele pode ir até a loja pra gente. Não sei a que horas o Snape vai me dispensar...

– Ele ficou de vir hoje?

– É provável que venha se encontrar com a Professora Raven. Se não vier, eu falo com ele hoje à tarde, pelo espelho...

Se despediram no saguão, Rony e Gina foram para o treino de Quadribol, Mione voltou para o Salão Comunal, para adiantar os deveres. Desejaram-lhe boa sorte. Às nove horas bateu à porta da sala de Snape. Ele mandou que entrasse, sentiu como se estivesse novamente nas aulas de Oclumência, a sala sombria e fria lhe trazia más recordações.

– Aproxime-se Potter. - Snape apontou para a mesa – Essa será a sua tarefa até o término da detenção. - Mostrou a ele uma bacia de insetos mortos. Harry sentiu o estômago revirar.

– Mas está podre... - comentou enojado cobrindo o nariz com a mão.

– Não seja estúpido! Esse é um cheiro característico dos Bundimuns. Quero que os esmague e separe a secreção nesse jarro – depositou um jarro de vidro sobre a mesa. - Há o suficiente para enchê-lo.

Ficou feliz por não ter tomado o café da manhã. Snape lhe deu um pilão e um recipiente de prata, ficou observando enquanto Harry retirava uma colher de insetos mortos da bacia, prendendo a respiração, e colocava no pote.



– Com o fluído deles pode-se preparar uma poção capaz de secar todo o liquido do corpo de quem a beber, uma boa técnica de mumificação. - Snape dizia enquanto andava pela sala verificando os rótulos dos frascos na estante, pegando um ou outro de vez em quando.

O cheiro o estava deixando tonto além de nauseado. Sua cicatriz não estava dando um minuto de trégua. A presença de Snape o deixava com ainda mais raiva, mais vulnerável. Triturou os insetos mortos com toda a raiva que sentia. Virou o recipiente no jarro, caíram duas gotas apenas. Olhou desanimado para a bacia, levaria no mínimo o dia inteiro para conseguir encher aquele jarro pela metade. Começou a sentir fisgadas na testa a intervalos cada vez mais constantes.

Uma hora depois a palma de sua mão estava vermelha e dolorida, e ainda conseguia ver o fundo do jarro. Não agüentou.
 
– Professor, posso continuar isso amanhã? Não estou me sentindo bem... - estava considerando a possibilidade de ir para a enfermaria, talvez pudesse ficar lá até segunda-feira.

– Está enjoado? - perguntou verificando sua palidez. - Acostume-se. Para quem consegue conviver com Sirius Black, não vejo porque tanto incômodo... - comentou maldoso.

– Por favor, Professor...

– Por que eu deveria lhe conceder o privilégio? O inútil do seu padrinho virá aqui hoje também? Logo agora que você conseguiu permissão para viver com ele... Parece que ele resolveu formar a própria família... Que pena! - suspirou.

Harry o olhou furioso mas não disse nada, voltou novamente para a mesa. 

– Não pense que ter um dos professores o bajulando irá lhe conceder mais regalias do que já tem!

Harry se apoiou na mesa e levou uma mão à testa, estava tremendo. Os potes na estante começaram a chacoalhar.

– O que está fazendo? - Snape perguntou surpreso e enfezado. - Pare com isso, Potter! 

Um vidro explodiu na estante fazendo seu conteúdo respingar pela parede, em seguida outro.

- Já mandei você parar com isso! - Snape puxou bruscamente seu braço, para encará-lo de frente.

Ambos olharam para a sua mão ensangüentada. Foi a última coisa que Harry viu.


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