Conflitos Secretos



Olá, pessoas! Estive um pouco afastada por motivos pessoais e computacionais (meu note não queria colaborar) e também por conta do site... Bem, estou de volta, com um novo capítulo e com outro quase pronto para dar continuidade a essa história. :)



Mika! Obrigada por comentar no último capítulo! Fico feliz que continue por aqui!!!! :)



Bem, preciso voltar para minha torcida nas Paralimpíadas! Esses caras são incríveis! Fazem eu parar para pensar sobre o que é um corpo perfeito... o meu, mesmo sem deficiencias aparentes, com certeza está longe disso, não consigo fazer nem um décimo do que eles fazem... "Just amazing".



Deixem comentários, please! Estou carente... ;)





153. Conflitos Secretos



Aquela não era a primeira noite de sua vida que ele passava sem dormir. Regulus não conseguia entender como os outros haviam aceitado tão bem a ideia da derrota e agora dormiam tranquilamente. Ou ainda: era compreensível, pois também havia se divertido em alguns momentos no dia anterior enquanto sabotava o trabalho dos outros fingindo inocência. A cara de Petigrew, por exemplo, ao ver os animais escapando pela cerca era impagável!



Ainda assim, aquilo o deixava irritado. A mentira que ele havia inventado para si mesmo para aceitar a necessidade de perder não parecia fazer sentido agora que estava sozinho com seus pensamentos. Ele sabia que sua habilidade em liderar o grupo é que havia resultado na perfeita harmonia e ótimo resultado do grupo nas tarefas ateriores. Ele havia conseguido o improvável, os arrogantes e competitivos alunos da Corvinal se submeterem a ouvir e aceitar a sugestão dos outros, segurado os membros da Grifinória para que não agissem por impulso, que os alunos da Lufa-lufa a serem mais confiantes e, por fim, os colegas da sua própria casa haviam também trabalhado cooperativamente com os outros... Ele sorriu, ele era realmente muito bom no manejo do grupo, em manipular as pessoas. Sim, certamente essa sua habilidade seria de grande utilidade quando estivesse liderando um grupo de Comensais. Ele olhou novamente para a silhueta dos amigos em suas camas e algo cresceu dentro dele. Não era difícil se imaginar à frente dos colegas em um combate. Qualquer um era capaz de ver que ele era o único que conseguia ter a plena dimensão dos fatos e liderar em qualquer adversidade. O Lord das Trevas iria apreciar isso. Ele sorriu para o infinito da escuridão do teto.



Contudo ainda haviam coisas que ele não conseguia compreender. Então se perguntou: haveria mesmo uma função pedagógica o treino da sabotagem do próprio grupo durante os jogos? Teria Lucius planejado isso? Ele duvidava. O mais provável era pensar que os Comensais os julgavam tão incapazes de trabalhar cooperativamente e, consequentemente, vencer que contavam com sua derrota e por isso reservaram para o terceiro lugar um prêmio que certamente seria deles... Qualquer pessoa de mente sã apostaria na derrota. Mas ainda havia sempre a possibilidade dos Comensais não terem estabelecido a ordem dos prêmios e isso ser algo determinado por Dumbledore... Como saber? Será que todo seu esforço em liderar a equipe em situações tão complicadas seria reconhecido, afinal? Ele franziu a testa, bufando. Então se acalmou: haveriam outras oportunidades. O Lord das Trevas era o bruxo mais poderosos e inteligente da Terra, não teria dificuldade em perceber suas qualidades. O orgulho cresceru novamente dentro de si e transbordou em um sorriso largo.



Seu corpo permanecia imóvel como mármore, os olhos abertos, as mãos unidas sob a cabeça, as pernas esticadas sob a fina camada de lençóis. Um som estranho veio do lado de fora, como se algum animal tivesse batido no vidro da janela submersa. Poderia ser um peixe. Não se deu ao trabalho de olhar. Os olhos começavam a arder e ele ousou piscar algumas vezes, mas não deixou se abater.  A penumbra e o cansaço roubavam-lhe a noção de profundidade, deixando aquele ponto fixo no teto, logo acima de sua cabeça num etéreo mar de nada. Ele continuou a olhar para o mesmo ponto por horas, até mesmo quando os ruídos quase imperceptíveis no dormitório indicavam que os elfos do castelo estavam organizando a costumeira bagunça dos garotos. Por um instante ele pensou em pedir ao elfo uma xícara de chá, depois declinou, não queria abrir a boca, não queria falar com ninguém, somente continuar com seus pensamentos e aquele exercício de não existência.



O relógio da torre do castelo batia, ao longe, as quatro horas. Logo sua tortura terminaria. O que ele iria dizer aos outros, a respeito de seu rosto com olheiras? A despeito da certeza de que estava fazendo o que era esperado dele, a derrota pesava em seu peito, ainda mais quando a imagem de Alice e Longbottom invadiam sua mente. A alegria deles tinha um gosto amargo. Tão amargo quanto a expressão de Rachel. Ele queria conseguir se enganar novamente, queria poder dizer a si mesmo que aquilo tudo seria bem recompensado no final, mas não tinha certeza. Tudo o que queria, naquele momento, era a paz e a certeza dos braços de... forçou-se a pensar em Rachel, pois o sorriso de Alice foi a primeira coisa que lhe veio à mente.



Então começou a enumerar para si mesmo o quanto Rachel era perfeita para ele, numa tentativa de apagar o sorriso de Alice de vez de sua mente. RACHEL. RACHEL. RACHEL. Linda. Loura. Inteligente. Sarcástica. Arrogante na medida certa. Perfeita. Ao seu lado, Regulus se sentia bem. Ela o incentivava a melhorar cada vez mais, dar o melhor de si, ser o melhor em quadribol, ser o melhor aluno, ser o melhor. Ela compreendia e apoiava em sua aproximação com os Comensais. Sentia orgulho de ter um namorado tão engajado na luta pelos direitos dos bruxos. De todos os modos: perfeita. E agora, ele estava arruinando seu namoro por receio de que a sabotagem deles abacasse vindo à tona. Ele precisava com urgência lhe falar a verdade – ela entenderia – e teria que fazê-lo sem que mais ninguém soubesse. Daria um jeito.



 Mas aquilo não podia ser sempre assim. Nenhum namoro resistiria a tantos altos e baixos. Seria Rachel capaz de aprender Oclumência? Ele poderia ensiná-la, treinar com ela e então não haveriam mais segredos incôdos... não, isso seria perigoso demais – apressou-se em abandonar a ideia, tão logo o rosto redondo de Alice voltou à sua mente. Sentiu vontade de gritar e arrancar Alice de seus pensamentos! Num movimento subido, pegou seu travesseiro e cobriu o rosto, mas ao invés de abafar um grito com o travesseiro, mordeu-o com força, apertando os olhos. O coração disparado parecia querer estourar-lhe o peito. Levantou-se. Nada daquilo fazia o menor sentido. Levantou-se rapidamente e sentiu-se zonzo.



Olhou para os lados onde os amigos dormiam pesadamente. Amifidel dormia de bruços, a perna direita escapando para fora da cama, John abraçava o travesseiro como se fosse um urso de pelúcia e Jack estava encolhido em posição fetal. A cena era engraçada e ele sorriu. O seu sorriso logo sumiu em seu rosto, pois sentiu-se levemente incomodado, como se os tivesse traindo. Precisava acabar logo com aquilo. Saiu o mais sorrateiramente que pode do dormitório, atravessou a Sala Comunal e ganhou o corredor escuro. Seus passos pareciam um pouco incertos, a cabeça doía e pesava. Sentia-se angustiado. Obviamente sua privação de sono o estava a torturar com sensações e sentimentos confusos. Não demorou muito para que chegasse em frente aos aposentos de Slughorn. Bateu na porta com cuidado, temendo acordar alguém além do professor. Mas o professor já estava acordado. A porta se abriu devagar. Slughorn vestia um pijama listrado verticalmente nas cores cinza e esmeralda, tinha a expressão abatida de quem não havia conseguido dormir. Por um instante o professor o encarou e depois desviou o olhar para o topo da cabela do garoto.



- Black! O que houve?



- Bom dia, professor. Me desculpe o horário... Eu preciso saber...



Slughorn inquietou-se, olhou para os lados com ar de preocupação e então respondeu:



- Você já sabe tudo o que precisa saber, Black. Continue fazendo o que tem feito e tudo dará certo...



- Mas professor...



- Este circo todo foi armado para vocês... – interrompeu o professor – Eu sei que você está angustiado pela derrota de ontem, mas perder faz parte do jogo. Não desperdice seu tempo com questões que não vem ao caso e mantenha-se na liderança do seu grupo. Você fez um ótimo trabalho hoje, foi perfeito. Continue assim. Todo esforço será recompensado, mas você já sabe disso. Mantenha o foco no que está por vir. No seu prêmio, onde você quer estar durante o verão, onde irá aprender coisas importantes para o resto de sua vida... Deixe sua mãe orgulhosa, filho.



A fala do professor dava margem a mais de uma interpretação, mas a pressa na voz de Slughorn, bem como as gotas de suor que aparecia em suas têmporas não deixavam dúvidas. Aquilo não era um mal-entendido, o professor estava, de fato, a trabalhar para os Comensais da Morte. Regulus concordou com a cabeça:



- Minha mãe não se decepcionará comigo, professor. Muito obrigado por suas palavras, eram exatamente o que eu precisava ouvir. Acho que agora vou descansar um pouco. Boa noite.



Antes de responder boa noite, Slughorn olhou para os lados novamente, depois recuou para dentro de seus aposentos, despediu-se do garoto e fechou a porta.



Estava agora, mais claro que nunca, que ele deveria continuar sabotando seu grupo ao mesmo tempo que fingisse incentivá-los a se esforçar ao máximo. Assim como estava claro que o professor temia estar sendo vigiado e por isso falou tão evasivamente. Aquilo era exatamente o que ele precisava ouvir. O caminho de volta para o dormitório ele percorreu gingando de felicidade. Então todo aquele circo era mesmo para eles! Ele não iria decepcionar, continuaria fazendo exatamente como no dia anterior.



Regulus apressou o passo. Logo o dia amanheceria e ele iria conversar com Rachel, explicar-lhe sem muitos detalhes sobre a mudança nos planos. Daria tudo certo, ele estava novamente confiante.



Estava na hora de levantar e ele sentia como se tivesse acabado de fechar os olhos. Amifidel já estava pronto:



- Vamos, Black! Levante! Temos uma tarefa para perder hoje!



- Shhhhhhhhh. Ami, isso não é coisa que se fale! – ele levantou-se rapitamente derrubando os lençóis no chão e repreendeu o amigo, enquanto piscava para ele para dizer que havia compreendido. – Pessoal, acho melhor não comentarmos mais sobre nossos esforços. Não queremos chamar a atenção de ninguém, certo? Paredes podem ter ouvidos...



- Certo. – respondeu Jack com o rosto encoberto pela blusa que estava vestindo.



- Concordo – disse John, parando para bocejar - com você.



O café-da-manhã ocorreu como nos dias anteriores. Regulus voltou a falar frases de incentivo ao grupo, pois agora estava mais confiante na sabotagem que fariam. A tarefa do dia era construir três novas estufas, da metade do tamanho que as habituais, para receber as mudas que a professora Sprout esperava receber durante a viagem ao Brasil. Havia um prazo para terminarem. Como a tarefa era fácil e a eles foi permitido o uso de magia, a única orientação que deu aos sabotadores foi “a pressa é inimiga da perfeição, portanto, não tenham pressa”. Ele sabia que não poderiam falhar em uma tarefa simples, pois isso chamaria a atenção dos professores e dos outros companheiros de equipe. Então extrapolar o prazo de execução, cuidando de detalhes mínimos e sem importância seria o suficiente para perder a prova.



Na saída do Salão Principal, ele aproximou-se de Rachel, que ainda estava emburrada.



- Precisamos conversar. – disse, quase implorando.



Rachel gostava quando as pessoas lhe imploravam coisas. Isso a fazia se sentir melhor, valorizada.



- Está bem. – disse, segurando um sorriso de satisfação enquanto revirava os olhos fingindo desprezo.



Regulus pediu aos outros que seguissem em frente que eles os alcançaria em poucos minutos, e então tomou a escada para o andar de cima, conduzindo Rachel gentilmente pela mão. Procurou uma sala de aula vazia e entrou. Rapidamente acenou a varinha e transformou a cadeira do professor em uma confortável poltrona reclinável, tal e qual fizera para Alice, algum tempo atrás.



- Para que isso, Black?  - perguntou Rachel, meio desconfiada meio animada.



- Bem, depois de ontem, pensei que você merecia um pouco mais que um pedido de desculpas... Sente-se aqui, confie em mim.



Rachel sentou-se. Ele sorriu para ela, pegou sua mão e começou a massageá-la suavemente. A voz saia mansa de sua boca, como quem a quisesse acariciar com as palavras.



- Rachel, querida. Tem alguns momentos na vida que por mais que queremos, não podemos ser de todo sinceros com aqueles que amamos. – a garota tentou tirar a mão de sua mão, mas ele a segurou – Existe uma nova necessidade, que está muito além da minha vontade, de permanecermos na Europa esse verão...



A pele dela ela macia e ele quase não podia conter a vontade de beijar-lhe os dedos enquanto os puxava delicadamente.



- Eu vi que você recebeu uma carta de sua mãe... Não vai me dizer que ela não vai aguentar ficar sem você e por isso não pode viajar...



Regulus sorriu.



- Quase isso. Meus avós fazem bodas de ouro – disse, enquanto negava com o olhar e apontava para o interior do antebraço esquerdo – e são momentos como esse que marcam profundamente a vida em família, você sabe.



A namorada lhe deu um olhar de quem entendeu.



- E suponho que isso é algo que não possa ser compartilhado com o grupo?



- Sim, ninguém compreenderia minha vontade de ficar, achariam piegas. Por isso vamos remar contra a maré e esperar o barco afundar... Tudo pelo amor e pela família. Você está comigo?



- Claro! Acho linda essa sua preocupação com a família... um dia vamos ter nossas bodas de ouro também, né?



Regulus beijou-lhe a mão galantemente.



- Sim, querida. Agora vamos.



Rachel levantou-se, os olhos azuis radiantes. Num movimento rápido, ela mesma sacudiu sua varinha e voltou a cadeira para o seu estado original. Regulus esperou que ela terminasse os encantamentos e então a beijou.



Eles desceram as escadas para ganhar o caminho para as estufas, onde a equipe provavelmente já estava posicionada e pronta para começar os trabalhos. Regulus não conseguia parar de pensar nos momentos que esteve com Rachel na sala do primeiro andar, a acariciar-lhe a mão de um modo um pouco mais intenso que o habitual. Exatamente como fizera com Alice. Em sua memória, o rosto das duas se confundia e ele apertava a mão da namorada, sentindo um pouco de remorso por traí-la em pensamento. Mas era inevitável... Ele havia escolhido aquela massagem pois queria que Rachel não se opusesse ao que ele tinha para dizer. Queria ela desarmada, para que o ouvisse e compreendesse, pois sabia, que mesmo a mais inteligente das garotas, quando estava com ciúmes ou aborrecida, não conseguia pensar direito.



Eles já estavam chegando à porta de saída quando passaram por outro casal aos beijos. Alice e Frank. Regulus virou o rosto, automaticamente. Rachel perguntou, uma ponta de ciúme a escapar-lhe no tom de voz:



- Você ainda gosta dela, não é? Pensa nela, né?



- Claro que não. – ele mentiu.



- Gosta sim, eu percebo como você fica quando a vê... Fica todo irritado, não consegue  disfarçar...



- Bobagem, Alice.



- Alice? Você me chamou de Alice?



- Tá vendo o que você me fez fazer? Você, com esse seu ciúme bobo! – ele respondeu, muito bravo e soltou a mão dela e apressou-se em sair do castelo.



- Reg, me desculpa. Eu não queria... – disse Rachel, correndo atrás dele, sentindo-se culpada por tê-lo “ofendido”.



- Está tudo bem, meu amor. Vem cá. – então Regulus a abraçou e olhou novamente para Alice e Frank, que nem haviam notado sua presença.



- Você está olhando de novo pra ela! – disse rachel, afastando-se dele levemente.



Regulus improvisou uma resposta. Na verdade naquele exato momento ele pensava o quanto ainda era louco por Alice, o quanto gostaria de passar algumas horas com ela, sozinhos.



 - Eu só estava pensando se eu era um idiota feito o Longbottom quando gostava dela. O cara é um imbecil certinho, ouvi dizer que quer ser auror, que quer caçar Comensais... – disfarçou, pegando de volta na mão da namorada – pelo menos ele deixa a escola este ano... anjo, eu era mesmo tão tapado quando estava com Alice?



Rachel sorriu:



- Era sim. Se não fosse não teria demorado tanto para me beijar. Você deveria saber que eu sempre quis... Que era louca por você...



- Que você era louca eu sabia... – ele riu – ainda lembro de quando amassou meus dedos na escadas...



- Ah, isso foi pra ver se você percebia... dei tantas dicas... como você não percebeu?



- Eu percebi... mas antes eu era muito novo, então não poderia fazer isso.



Então ele pegou Rachel e a segurou contra um poste, beijando-a intensamente. Ele sentiu o corpo da namorada relaxar. A brisa leve da manhã lambia os longos cabelos dourados dela, que se movimentavam como labaredas ao vento, contrastando com o azul intenso do céu de verão. Alice e Frank passaram por eles rapidamente, mas nenhum dos dois parou o beijo para comentar. Nada como um beijo para mudar de assunto.


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