Bicicletas



Olá!!! Estou viajando, mas achei uma brechinha na agenda para postar um capítulo exótico aqui... Perdoem o atraso! Bem, vamos ver o que vocês vão achar.

Mika e Luiza, obrigada pelo incentivo! Mika, aqui vai um capítuo nada romântico para compensar o anterior. Não posso lhe contar quanto ainda vai durar o namoro o Reg e da Alice, mas posso garantir que já escrevi o capítulo do rompimento... Mas daqui até lá, temos algum recheio. Dona Walburga, coitada, ainda vai sofrer um bocadinho até a história terminar, mas dizem por aí que quem planta, colhe, então não vou sentir tanta pena dela...

Bem, chega de conversa, vamos ao que interessa: você já viu um bruxo andar de bicicleta? Então... Vejo vejo vocês na semana que vem!

---------------- \----------------
124.Bicicletas


 


Regulus passou alguns dias andando nas nuvens depois de seu encontro com Alice, mas logo caiu em si e retornou à rotina chata de trabalho no Ministério. Depois de descobrir que Weasley e Perkins haviam enfeitiçado sua varinha, nada mais que eles fizessem despertava o menor interesse em Regulus e acordar todas as manhãs parecia a continuação de um grande pesadelo. Pelo menos estava livre de ver Crouch Junior, que havia sido escalado para acompanhar o Ministro da Magia a uma visita a um país do continente.


 


Regulus contava os dias que faltavam para o primeiro de setembro num calendário colado desajeitadamente na porta de seu armário. Alice tinha ido viajar com os pais para algum lugar no Caribe e ficaria lá até o final das férias, então não haveriam outros encontros até que as aulas voltassem. Além de 1º de setembro havia mais duas únicas datas marcadas no seu calendário: 13 e 23 de agosto. Eram os dois dias que ele e Severus haviam combinado de se encontrar para treinar suas novas habilidades. Ainda faltavam três dias para o próximo encontro. Regulus coçou a cabeça e se afastou para abrir o armário e escolher uma roupa de trouxa bem confortável. Tinha sido uma recomendação de Perkins, que havia recebido uma correspondência anônima no dia anterior avisando sobre uma bicicleta enfeitiçada à venda em uma grande loja do centro da cidade. Eles poderiam ter que testar algumas para descobrir qual era a enfeitiçada. Também não tinham certeza se havia mesmo uma bicicleta ou ainda, em qual das oito lojas de bicicleta ela poderia estar. Regulus se sentia especialmente aborrecido com a perspectiva de perder um dia todo procurando por algo que poderia não existir e pensou seriamente em fingir estar doente ou qualquer coisa assim. Então lembrou-se da última vez que havia fingido estar doente para não ir à casa dos tios. Sua mãe o havia feito engolir um caldeirão inteiro de uma sopa estranha que cheirava a mofo. Pensando bem, fingir doença não era uma boa ideia. Além do mais, seria engraçado ver Perkins testar algumas bicicletas. Ele já o havia visto montar uma vassoura e era desastroso, uma bicicleta, então, seria algo impagável. Aquilo o animou um pouco. Rapidamente ele vestiu a calça jeans mais larga que havia no armário e uma camiseta branca.


Uma hora mais tarde, ele estava novamente no Ministério.


 


- Pensei que havia recomendado a você vestir algo confortável. – disse Perkins.


 


- Me sinto confortável com essa roupa. – disse Regulus, olhando para Perkins incrédulo. O que o homem esperava que ele vestisse? Uma bermuda roxa com camiseta branca escrita “The fastest man” em letras douradas? Certamente que não, Perkins deveria saber que havia comprado todo o estoque de roupas bregas da cidade.


 


- Então está bem. Arthur, não sei quanto tempo isso vai demorar. Você sabe, da última vez que recebemos um desses, levamos a semana toda abrindo pacotes de macarrão até descobrir que não havia um único pacote enfeitiçado em toda a Grã-Bretanha.


 


- Sim, claro que me lembro! E o bilhete tem a mesma estrutura, os mesmos dizeres... A chance de ser novamente uma piada sem graça é enorme!


 


- Mesmo assim, não podemos contar com o blefe e deixar a comunidade desprotegida. – Perkins disse solenemente. Pegou o pequeno chapéu coco sobre sua mesa e estava prestes a sair quando Regulus disse:


 


- Senhor, acho que as pessoas de bermuda não costumam usar chapéus.


 


- Ah, sim. Bem pensado, pequeno Black. 


 


“Pequeno Black”. Aquilo era humilhante, mas ele não iria discutir com o homem. Ninguém discutiria com um homem de bermuda roxa, sapatos pretos de bico fino e polainas. Obviamente que não. Os dois saíram pela estreita cabine de telefone e caminharam em direção à estação de Westminster, onde tomaram um trem lotado de pessoas com cara de quem estava ainda despertando. Regulus se perguntou por que estavam saindo tão cedo se nem tinham certeza de que as lojas estariam abertas. A mistura de odores no trem o fez enjoar: colônia barata, café, um perfume almiscarado, cheiro forte de bebida vindo de um grupo que, pela prostração, estava agora encontrando o caminho de volta do pub.


 


- Preciso descer, – ele disse a Perkins, a mão sobre a boca.


- Ótimo. Já chegamos.


 


Haviam andado apenas duas estações. Não houve tempo para Regulus procurar um local adequado. Assim que ele estava do lado de fora do trem, encostou em uma parede e vomitou. Perkins colocou a mão dentro da surrada bolsa tiracolo de couro escuro que carregava e acenou sua varinha sem expô-la para fora mais do que o necessário. Perkins era muito bom em feitiços não verbais. As férias estavam acabando e o garoto não havia presenciado mais do que duas vezes o homem abrir a boca para fazer um encantamento.


 


- Você precisa de alguma coisa? Quer voltar?


 


- Não, obrigado, senhor. Já me sinto melhor, - respondeu, limpando o canto da boca nas costas da mão. – Vamos ter que pegar outro trem?


 


- Não. Temos a nossa primeira loja aqui perto, na Vauxhall Bridge Rd. Vamos!


 


Os dois saíram da estação Vitória e ganharam a avenida. O sol surgia tímido entre as nuvens e aqueceu o rosto de Regulus de forma agradável, enquanto uma brisa leve penteou seus cabelos para trás. Por um momento ele lamentou não estar na casa da avó em Bramshill, onde poderia estar voando em sua vassoura livremente. Seu pensamento vagava sobre a copa das árvores e os telhados da casa da avó e das vizinhas Leloush, numa lembrança saudosa de algo que parecia que nunca mais ia ocorrer quando Perkins parou e olhou ao redor, trazendo Regulus de volta à realidade.


 


- Qual o endereço, senhor?


 


Perkins não respondeu, mas tirou um pequeno pergaminho do bolso, olhou rapidamente e o recolocou no bolso. Abriu a bolsa que carregava e tirou um mapa de dentro e começou a desdobrá-lo. O mapa era particularmente grande e Regulus pensou que aquilo era realmente embaraçoso quando o mapa tocou o chão e sentiu uma súbita vontade de sumir. O homem olhou ao redor e seguiu para a esquerda mais dois quarteirões sem falar nada.


 


Eles pararam em frente a uma loja cuja vitrine exibia um selim vermelho com os dizeres: anatômico e confortável. Regulus franziu a testa e riu. Não lhe pareceu nem anatômico nem confortável, mas talvez fosse mais confortável que uma vassoura – o que ele fez força para não admitir.


 


- Vamos entrar na loja, eu o apresento como meu filho e digo que procuro algo especial para nós passearmos juntos, coisas que pais e filhos fazem... Então experimentamos todas as bicicletas disponíveis. Suponho que você saiba andar de bicicleta, não?


 


- Óbvio que não! – respondeu Regulus, ofendido. – Mas não deve ser mais difícil que voar em vassouras...


 


- Certamente que não. Vamos?


 


- Primeiro o senhor.


 


Os dois entraram na loja e foram atendidos por um sujeito atlético e sorridente que começou a enumerar as qualidades de cada modelo que ele tinha para vender. Perkins pediu para experimentar uma bicicleta verde esmeralda. Montou na bicicleta, olhou para os pedais e concluiu que era o local para colocar os pés e ali os colocou... Os dois de uma vez. Num piscar de olhos o homem estatelou no chão sobre seu braço esquerdo.


 


- Está tudo bem, tudo bem. – ele disse, levantando-se, desajeitadamente.


 


- O senhor poderia tentar apoiar um pé, dar o impulso e depois o outro. É mais fácil se equilibrar quando em movimento. – sugeriu o vendedor polidamente.


 


- Está certo, mas acho que gostaria de testar outra, por favor. Aquela ali, – disse o homem, apontando para uma robusta bicicleta vermelha. O vendedor prontamente pegou a bicicleta e guardou a bicicleta verde.


 


Perkins passou sua perna sobre a bicicleta, apoiando os dois pés no chão, certificando-se de que havia entendido as instruções de dar um impulso com um pé e depois com o outro, quando já estivesse em movimento. Segurando fortemente no guidão, ele colocou o pé direito no pedal e deu um impulso, porém, ao fazer isso, desequilibrou a bicicleta para o lado direito e não conseguiu colcoar o pe esquerdo no outro pedal a tempo de evitar cair novamente. Ele se levantou e olhou para Regulus.


 


- Isto não está dando certo. Da próxima vez que eu subir, acene a varinha para que eu não caia – ele pediu, murmurou entre os dentes.


 


- Vou tentar – respondeu o garoto sem ter certeza de qual encantamento deveria usar.


 


Perkins subiu em outra bicicleta, então olhou para o garoto que tirou sua varinha de dentro do cós da calça e a acenou por baixo da camiseta, murmurando a primeira palavra que veio à sua mente. A bicicleta começou a tremer descontroladamente, derrubando Perkins no chão mesmo antes dele colocar os pés sobre os pedais.


 


O vendedor estava prestes a sugerir o uso de rodinhas adicionais, do tipo que se coloca em bicicleta de crianças quando Perkins exclamou animadamente:


 


- É essa!


 


Regulus se aproximou do homem, oferecendo-lhe a mão para que se levantasse.


 


- Sinto muito, senhor. Acho que confundi os encantamentos. – sussurrou, erguendo os ombros, fingindo inocência, mas com uma vontade incontrolável de rir.


 


- Neste caso, talvez seja melhor você experimentar a próxima. – respondeu, astutamente, Perkins – uma bicicleta confortável para o meu garoto, por favor.


 


Para a sorte de Regulus, Perkins já não era mais um garoto e ele sabia, exatamente, qual feitiço lançar para evitar que Regulus caísse, mas não evitava que garoto batesse as canelas nos pedais toda a vez que tentava apoiar o pé sobre o pedal quando já estava em movimento. Parecia impossível coordenar pés e mãos ao mesmo tempo e a ideia de pedais lhe parecia algo “trouxa” demais para assimilar.


 


Quinze bicicletas e algumas manchas roxas nas canelas depois, eles terminaram de experimentar todo o lote de bicicletas disponível na loja e partiram para outra. E depois outra depois outra, quando finalmente chegaram à oitava loja, próxima da Ponte de Londres, à rua Tooley. Regulus, a essa altura, já havia testado mais de uma centena de bicicletas dos mais variados tamanhos e cores. Ele estava exausto e faminto e, pela aparência de Perkins, concluiu que o homem também estava. Demorariam muito para terminar?


 


Àquela altura do dia estava difícil parar de pensar na placa que anunciava café-da-manhã por £2,99 em uma confeitaria próxima à estação Vitória. Mas ambas estação Vitória e a confeitaria já faziam parte de um passado tão distante que Perkins já estava, inclusive, quase conseguindo equilibrar-se o suficiente na bicicleta para dar uma pedalada inteira.


 


Eles já haviam experimentado quase todo o estoque da loja quando, finalmente, Regulus montou em uma bicicleta preta que encolheu conforme ele pedalava. Foi quando Regulus ouviu alguém rir. Era uma risada familiar e parecia abafada, como se a pessoa estivesse debaixo de um pano grosso ou colocando as mãos sobre a boca. Regulus olhou para os lados.


 


- Foi o senhor? – perguntou Regulus, timidamente, entregando a bicicleta que tinha menos de setenta centímetros de altura nas mãos de Perkins.


 


- Obviamente que não. Por que eu iria encolher a bicicleta?


 


Perkins não havia notado a risada. Regulus olhou para os lados mais uma vez. Não havia mais ninguém na loja, exceto pela vendedora que já não era mais tão atenciosa quanto quando eles haviam pedido a primeira bicicleta para provar. Aquela risada não saía de sua cabeça. Quem quer que havia colocado o feitiço na bicicleta, ainda estava por ali, deliciando-se em ver o papel de ridículo a que eles se submeteram. Se sentindo bastante aborrecido e, pela primeira vez sentindo pena de Perkins, que estava visivelmente exausto e com dor em diversas partes do corpo, ele observou o homem desfazer o feitiço e apagar a memória da vendedora e então o seguiu pela rua até chegarem na estação e partirem de volta ao Ministério.


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • Luiza Snape

    Que cômico trash este Perkins é, que horror! 

    2015-05-13
  • Mika Black

    Ahh, se o Regulus não tivesse tido essas férias, ele não estaria tão anti trouxa. O garoto tem que passar por situações como essa, que para ele são no mínimo idiotas...aliás tive mais dó ainda do sr Perkins que ficou caindo da bicicleta!"Pequeno Black", não tem como não morrer de rir disso, o Regulus tem muitas razões para odiar esse trabalho! Se eu fosse ele também não estaria muito feliz, até meio rebelde, o legal é pensar que o Perkins até pensou que isso podia acontecer com o Regulus. A risada misteriosa... Sirius? Acho muito provável que o Sirius morando com o Tiago se entediariam ficando só em casa sem fazer nenhuma brincadeira! Seria muito legal se fossem eles que enfeitiçaram as bicicletas, ou até mesmo as latas!  Estou muito curiosa pro próximo capítulo!!  A espera do próximo capítulo!! 

    2015-05-12
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.