Trem para Londres (verão, 1973

Trem para Londres (verão, 1973



Os dias passaram voando e mais um ano letivo tinha chegado ao fim. Regulus apressava-se para tomar um bom lugar no trem, evitando estar próximo de qualquer garota, por medo de ser mal interpretado. No caminho para a estação ele havia lembrado do que um dia lhe disse seu irmão: quando se tem todas as garotas, não se tem nenhuma. Ainda não sabia se queria realmente alguma em especial, então era melhor manter distância. Além do mais, no momento ele tinha somente uma coisa na cabeça martelando em sua cabeça: precisava aprender latim urgentemente. Mas antes disso, passaria uma longa e divertida viagem ao lado de seus amigos e companheiros de quarto.


– E aí, Ami? – ele disse ao encontrar os amigos já instalados em uma cabine. – tem lugar para mim?


– Claro, Reg. Guardamos um lugar para você. Como você demorou!


- Rosier e Steve me seguraram na sala comunal. Queriam ter certeza que eu não iria contar para o Sirius sobre o clube... Rosier chegou até a me ameaçar, dizendo que ele vai ser batizado comensal da morte durante estas férias e que me perseguiria até o inferno se eu contasse qualquer coisa para qualquer pessoa...


- E você? – perguntou John.


- Eu dei risada... Disse que se ele se tornar mesmo um comensal vai conhecer minha prima Bellatrix... Que mandasse lembranças a ela. Depois disse que eu não tenho medo de nada e que um dia vou ser um comensal também.


- E ele? – perguntou Jack, com a boca cheia de feijõezinhos de todos sabores.


- Ele deu risada. Ele é um idiota! Mas Steve disse que era mesmo para manter segredo, pois seria melhor para todos...


- E depois? – questionou Amifidel.


- Ora, depois nos despedimos e vim correndo para cá. Estava torcendo para que não me deixassem de fora. Não ia querer viajar com a Emma ou com Sirius e o insuportável James, agora que eles ganharam a taça das casas... Tudo por incompetência da Rachel que deixou a final do campeonato nas mãos da Grifinória...


- Bem, a Emma também não foi das melhores no último jogo... Ela que entregou o jogo todo para a Lufa-lufa... Reg, acho que ela tá apaixonada por você... – disse John, concordando com a cabeça.


- É, eu sei. – respondeu Regulus, desviando o olhar para fora do trem – não sei bem o que fazer com isso, acho ela legal e tudo mais, mas não vai além disso...


- Mas bem que você gosta de deitar no colo dela lá na sala comunal... – comentou Jack, com uma pontinha de inveja.


- Gosto, quem não gostaria de receber um cafuné de vez em quando?


Os outros garotos permaneceram calados por alguns instantes. Então Amifidel perguntou:


- E a tal Alice da Lufa-lufa?


Regulus sorriu e respondeu defensivamente:


- É só uma amiga.


- Uma amiga com quem você passa horas nos cantos mais escondidos da escola... o que ficam fazendo?


- Hum, nada de mais. Treinamos feitiços.


- Você não fica ensinando a ela o que aprende no clube, não é mesmo? – perguntou Jack, em tom acusatório.


- Claro que não. Repassamos as aulas do professor Flitwick. Ela é um pouco insegura na prática de feitiços... mas isso me lembra uma coisa que queria conversar com vocês.


- O quê? – interrompeu Theodor, muito curioso.


- Eu estava praticando feitiços com a Alice outro dia e pensei: já que o Rosier está dificultando as coisas para vocês, praticamente os expulsou do clube, porque não fazemos um clube paralelo, só nosso? Eu poderia ensinar a vocês o que tenho aprendido com eles.... O que acham?


Os outros três garotos ficaram muito animados com a ideia e começaram a falar todos ao mesmo tempo. Apesar de todo estardalhaço que faziam, ainda se podia ouvir a confusão que vinha de fora:


- Ei! Vocês ouviram isso? – perguntou Theodor.


- Sim, deve ser o pessoal da Grifinória comemorando. – Disse John.


- Não sei não, parece mais uma briga. Vamos ver! – sugeriu Jack, já empolgado e abrindo a porta da cabine, saindo para o corredor, seguido de perto pelos outros três.


Dois vagões adiante eles encontraram o carrinho de comida virado e a senhora de nariz pontudo que vendia os doces estava desmaiada no chão. Jack, John e Theodor pularam sobre as pernas dela e seguiram pelo corredor. Regulus nunca havia se esquecido do quanto aquela senhora havia sido boa com ele em sua primeira viagem para Hogwarts, então cuidadosamente tentou puxa-la para o lado. Como ela era pesada demais ele não conseguiu, então lançou nela o único feitiço que lhe veio à mente:


- Levicorpus.


Imediatamente ela foi guindada de cabeça para baixo, deixando à mostra suas pernas finas cheias de varizes. Regulus desviou o olhar e a levou rapidamente para dentro de uma cabine, desfez o feitiço, deitando-a sobre os assentos do trem, arrumando-lhe a roupa para não expô-la de forma indecente outra vez. Checou duas vezes para ver se ela estava bem, respirando normalmente. Ela, de alguma forma, o lembrava sua mãe, apesar de terem aparência opostas.


Então ele deixou a cabine e seguiu pelo corredor. Realmente havia muitas bandeirolas da Grifinória espalhadas pelo chão, mas já não podia mais ouvir o barulho dos estudantes. O silêncio era bastante incomum. Aos poucos foi encontrando alunos desmaiados por todo corredor, inclusive seus amigos Jack, Theodor e John. Apreensivo, ele pegou sua varinha. Sabia que ela não adiantaria muito frente aos poderes de um bruxo adulto e hesitou. Sentia seu coração batendo forte em seu peito. Não queria acabar desmaiado como todos ali, então encolheu-se num canto. Ouviu passos vindo em sua direção, o desespero tomou conta do seu corpo e ele deitou-se no chão ao lado de outro aluno, fingindo estar desmaiado também.

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