Retorno para Hogwarts, 1974

Retorno para Hogwarts, 1974




  1. 48.                    Retorno à Hogwarts, inverno, 1974


No dia seguinte Sirius se sentia mais calmo após o episódio do chá gelado com seu pai, embora não conseguisse perdoar Regulus ou sua mãe, principalmente após ouvir sua conversa durante o café da manhã, em que a mãe destilava seu veneno contra os Leloush e Regulus concordava com a cabeça. Sirius achou que não valeria a pena discutir com os dois naquele momento, tampouco nos dias seguintes. De fato ele pensava que seria uma perda de tempo conversar com eles e ele não pretendia fazer isso nunca mais em sua vida! Naturalmente, as coisas poderiam mudar... para melhor ou pior.


Após dias de uma atmosfera pesadíssima na casa dos Black, finalmente chegou o dia de voltarem para Hogwarts. Ao chegarem na estação de King’s Cross, as coisas não mudaram muito entre os irmãos Black. Os dois desceram do carro e, enquanto o pai tirava as malas do porta-malas, Regulus se despedia da mãe ainda sentada no banco da frente do carro. Sirius desceu do carro sem ao menos olhar para dona Walburga ou para o irmão.


- Você vai se arrepender  de ser tão mau com sua mãe! E quando isso acontecer, talvez eu não esteja mais aqui para lhe dar o meu amor! Ela falou, ressentida, olhando para as costas do filho que abraçava o pai, sem virar para encará-la. Ela percebeu seu filho mais velho sacudir a cabeça para se livrar do que ela estava falando e pensou, com o coração partido, como ele podia ser tão diferente dela em seus pensamentos quando era tão parecido na aparência? Porque Sirius não conseguia entender as coisas como elas eram? Tudo o que havia acontecido era graças à madame Leloush e seu marido trouxa! ela odiava os trouxas ainda mais! Ela fungou e seus olhos se encheram de lágrimas.


- Sirius, se despeça de sua mãe... para o seu bem! – Orion resmungou com sua voz grave.


Sirius fingiu não se importar com os sentimentos de sua mãe, pegou seu malão e correu em direção à plataforma 9 ¾. Regulus franziu os olhos de raiva para seu irmão enquanto o observava sumir no meio da multidão barulhenta de trouxas vestidos em azul e outros vestidos em vermelho, que carregavam bandeiras que Regulus supôs serem de times de futebol. Anos atrás Sirius havia lhe explicado que era um jogo trouxa de apenas uma bola, muito tedioso.


Regulus estava ainda com o olhar vazio e o pensamento longe quando seu pai aproximou-se dele e o abraçou:


- Tenha paciência com Sirius. Ele está sofrendo por causa da namoradinha. Com o tempo isso passa.


- Pai, você sabe como estão as Leloush?


- Estão bem, seguras em Beauxbatons. Madame Leloush ainda está no Saint Mungo’s. Não tenho certeza se vai se recuperar. Ela parece pior a cada dia – ele respondeu, com pesar na voz.


- Triste, não é? Uma família toda desfeita...


- São escolhas que fazemos ao longo da vida, filho. A madame Leloush seguiu seus princípios e teve que suportar as consequências disso. A minha escolha é sempre manter a família segura, acima de tudo. Os Ministros e as políticas mudam de tempos em tempos, mas os Black são sempre os Black, há centenas de anos. Agora vá, ou perderá o trem. – ele respondeu, dando um tapinha carinhoso nas costas do filho.


Regulus deu mais um abraço no pai, se virou e correu tentando desviar-se dos torcedores do time azul, que discutiam calorosamente:


- .... é, se o Chelsea perder mais essa o Sexton tem que ser demitido... Ei, garoto! Olhe por onde anda! – disse um homem grandalhão, com uma grande letra C azul pintada no rosto, quando Regulus esbarrou nele tentando chegar à entrada da plataforma.


Quando finalmente conseguiu passar o portal, o trem já dava o primeiro aviso de que ia partir. Regulus correu. A plataforma 9 ¾ estava praticamente vazia, não fosse por alguns casais que acenavam para os filhos que olhavam pela janela. Um senhor de bigodes castanhos, acompanhado de uma senhora que vestia um estranho chapéu com um urubu em cima, ajudou Regulus a entrar no trem que já começava a se movimentar. Então ele começou a procurar um lugar para ficar. Passou pela cabine onde estava Sirius e seus amigos. Sirius fingiu que não o viu. Com um discreto aceno de cabeça, Lupin fora o único a lhe cumprimentar. Ele seguiu em frente. Então encontrou Theodor Amifidel, Jack, John, Avery, Mulciber e Snape em outra já lotada cabine. O sonserino dos irmãos Black entrou.


- Oi, pessoal. Como estão? – ele não esperou por resposta e continuou - Posso deixar minhas coisas aqui por enquanto? Vou procurar um lugar pra ficar.


- Vamos com você! – disseram Amifidel e Severus, ao mesmo tempo, pensando que talvez conseguiriam repetir a diversão da viagem da vinda.


E os três seguiram pelo longo corredor do trem. Mas não parecia nada animador. Regulus sentia-se triste e não tinha ânimo para correr de cabine em cabine. Ele estava pensando em sua mãe e em seu irmão, ele sabia que ambos estavam sofrendo e ele não podia fazer nada a respeito. Quando encontrou Emma Vanitiy numa cabine com Rosier e Crouch, pediu licença e entrou:


- Oi. – ele acenou sem graça - Vou ficar com vocês, tudo bem?


Crouch e Rosier responderam “ok” e voltaram a conversar sobre maldições e poções perigosas. Emma sorriu e respondeu, indicando um lugar vago ao seu lado. Ela se sentia aliviada por não ter mais que participar da conversa dos garotos que não paravam de se gabar. Isso a deixava muito aborrecida.


- Claro. Sente-se aqui comigo.


Ele aceitou o convite e deitou a cabeça no colo dela e fechou os olhos, sem perguntar se podia. Snape e Amifidel compreenderam que ele não iria acompanha-los, então Amifidel disse:


- Já que você encontrou um lugar pra ficar, Reg, vou voltar pra cabine. Nos vemos na escola.


- Você tem certeza que você não quer ver se.... – disse Snape, mexendo com a cabeça indicando o corredor.


Regulus sabia que seu amigo queria procurar por Lily, Alice e as outras meninas, como eles tinham feito da outra vez. Ele sabia que Severus não o faria sozinho, mas ele ainda se sentia triste demais naquele momento para fazê-lo.


- Desculpe, Severus. Eu estou bem aqui. Vejo você mais tarde.


Regulus se aconchegou no colo de Emma, que começou a lhe fazer cafuné, e ele dormiu. Acordou horas depois, Emma o estava chamando, pois eles estavam chegando à Hogsmeade. Levantou-se atordoado:


- Emma, eu dormi a viagem inteira?


- Sim. – ela sorriu – é melhor você pegar seu malão e a coruja na outra cabine. Nós já vamos sair do trem. Vai.


Então ele notou que havia babado acidentalmente nela enquanto dormia.


- Me desculpe por isso, Emma. – ele apontou para a blusa molhada. Ela pegou sua varinha e apontou para si mesma, confiante, o que chamou a atenção de Crouch e Rosier.


- Tergeo! - Emma fez o feitiço e secou a blusa molhada, olhou para Regulus e disse – Pronto. Você viu? Está tudo certo agora.


Regulus olhou atentamente para ela e disse:


- Me desculpe por não ter sido uma boa companhia durante a viagem.


- Você foi a melhor companhia que eu poderia desejar. Enquanto eu fiz cafuné em você meus pensamentos voaram longe e meus problemas se acalmaram.


Regulus franziu as sobracelhas preocupado e perguntou:


- Está tudo bem com você?


- Estou bem, te conto mais tarde. Agora vai... seu malão, lembra?


O garoto foi correndo até a outra cabine onde havia deixado suas coisas. No meio do caminho encontrou com Alice. Ela, assim como todos os outros estudantes, já vestia seu uniforme:


- Oi, Alice!


A menina sorriu e ele sorriu de volta e eles tornaram a andar enquanto conversavam.


- Oi, Reg... não o vi durante a viagem... onde você estava?


- Ah, eu dormi a viagem toda... – ele respondeu de forma evasiva, olhando para a janela, e mentiu - ontem fiquei com meu pai jogando xadrez até tarde, então estava muito cansado...


- Seu pai ficou jogando xadrez com você?! Que legal! Seu pai deve ser o máximo!


- Ele é... – Regulus sorriu ao pensar no pai. Um dia seria como ele, com seu bigodão preto e seu grande coração.


Então eles chegaram em frente a cabine onde os amigos dele estavam se organizando para descer do trem. Alice olhou para os outros meninos da Sonserina e depois para Regulus:


- Bem, vou indo. Minhas amigas já devem estar na carruagem.


- Nos vemos amanhã, então?


- Antes do jantar, na biblioteca.


- Combinado! – ele disse, sorrindo, enquanto observava ela graciosamente girar em seus calcanhares e apressar o passo para fora do trem, seus cabelos sacudindo de um lado para o outro. Ele suspirou. Era muito bom voltar a Hogwarts.

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