Perkins



Olá, aqui estamos de volta com mais um capítulo... essa férias de Hogwarts estão rendendo mais do que eu havia planejado inicialmente.
Adorei os comentários,  e vou tentar responder de um modo geral sem me estender demais.
Mika, eu fico sempre preocupada quando descrevo o Regulus, porque ele é, essencialmente, um fofo e um medo grande que sempre tive foi de despertar pensamento preconceituosos nas pessoas por conta de uma identificação com o personagem. Eu atendi muitos meninos no consultório que eram bastante cativantes, mas estavam lá porque eram pessoas que praticavam bullying ou coisa pior. Compreender sua linha de raciocínio para então quebrá-la acabou sendo minha especialidade (olha eu, tão modesta quanto Dumbledore! hahaha) Eu quis desenvolver este personagem justamente por isso, porque sabia que ele era um Black, Comensal da Morte e preconceituoso que no final acaba por querer derrotar Voldemort. A possibilidade de descontruir todas as suas razões foi o que mais me animou. Mas antes de desconstrui-las, preciso apresentá-las... e com alguma consistência lógica. Pelos comentários de vocês, parece que estou conseguindo fazer isso. Obrigada pelo feed-back.
Bia e Luiza, a senhora Black amava seus filhos, tinha orgulho deles. Ela era preconceituosa e má, mas como eu disse no capítulo anterior, era refém dos preconceitos e tradições da família Black. Penso em Orion com uma cabeça um pouco mais aberta por conta de ser homem e ter a oportunidade de sair para trabalhar e conviver com outras pessoas. A senhora Black vivia enfurnada dentro de casa e suas relações eram apenas com a família, o que contribuiu para que ela se mantivesse assim. Também a rebeldia de Sirius contribui para aumentar seu ódio em relação aos trouxas, mestiços e sangues-ruins. Isso porque as mães e os pais, de modo geral, não conseguem ver que os filhos têm opinião própria e são capazes de chegar a conclusões por si mesmo, então atribuem qualquer mudança de pensamento ou atitude a terceiros (quero dizer, se Sirius fugiu de casa isso acontece, na visão dos pais, por conta das más companhias - a namoradinha mestiça, os amigos da Grifinória - e não por que ele não compactuava com o modo de pensar da família que era mesmo um horror). Assim eles não precisam mudar e, se o filho voltasse, poderiam tentar convencê-lo de que estava errado sem culpá-lo por isso. Feio, né? Acontece muito por aí...
Bem, este capítulo é um refresco que ofereço para vocês. Para relaxar e ler com os pés em cima da mesa, feito o folgado do Bartô Crouch Junior... hehehhe.... boa semana! Beijim!
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119. 
Perkins


O vazio que o engoliu era como um eco do que havia em seu peito. Sentia-se muito triste por não ficar para cuidar da mãe ou dar uma atenção ao elfo quando ambos precisavam dele. Ele sabia que no íntimo sua mãe também sabia que Sirius não voltaria e isso a corroía por dentro. Também sabia que parecesse não se importar, Kreacher deveria estar sofrendo com a falta de sua mãe. Não havia o que fazer se não trabalhar e seguir sua vida adiante; ele tinha seus deveres e não podia se mostrar mais fraco do que um elfo, afinal, Kreacher não havia deixado de fazer suas obrigações. E foi com esse pensamento que chegou ao escritório do senhor Crouch.


Crouch Jr havia ganhado uma confortável cadeira e uma escrivaninha, onde agora apoiava os pés enquanto lia o Semanário dos Bruxos, uma publicação voltada para o público feminino com fofocas e fotos da alta sociedade. Regulus ergueu uma sobrancelha:


- Eu esperava qualquer coisa de você, menos isso... Essa revista é um lixo! Achei que só minha prima Narcissa lesse isso.


- Ah, não costumo ler, mas saiu uma foto da minha família. Olhe aqui minha mãe como está bonita. Foi durante uma recepção do ministro, no final de semana passado.


Regulus tomou a revista em suas mãos e olhou, mas realmente não estava interessado. Era uma foto de vários bruxos no que parecia ser um baile, Crouch e seus pais em roupas de gala erguiam taças, oferecendo um brinde aos que olhassem a foto. Crouch tirou a revista da mão de Regulus, visivelmente decepcionado com a falta de interesse do colega.


- Tem uma foto que acho que é do seu avô. – ele folheou rapidamente a revista – Está aqui: Arcturus Black, recebendo a Ordem de Merlin.


Regulus sentou-se sobre a escrivaninha e olhou novamente para a revista. Lá estava o avô e a avó, cercados por um bando de anciãos vestidos com longas capas que arrastavam pelo chão, dando-lhe a impressão de que os bruxos fossem de cera e estivessem, de alguma forma, derretendo de baixo para cima.


- É meu avô... – ele franziu a testa. Seus pais não haviam comentado nada sobre aquilo e ele não lembrava de nada que o avô tivesse feito que merecesse a Ordem de Merlin. Talvez a tivesse obtido por outros meios... Vantagens de se ser um Black. Mas vangloriar-se de ser um Black não iria diminuir sua pena, nem livrá-lo da companhia de “Grouchy” que de uma hora para outra resolveu ser simpático com ele. Aquilo era muito suspeito. – Seu pai vai demorar? Estou curioso para saber o que ele vai mandar eu fazer hoje. Até agora não entendi porque chamou de “trabalhos comunitários” o que estou fazendo, não vi nada de útil até agora.


- Meu pai vai demorar. Foi a um julgamento na Suprema Corte dos Bruxos....


- Julgamento? Algum... – ele abaixou a voz – algum dos nossos?


- Não, óbvio que não. Parece que é de um cara que foi pego gritando para os quatro ventos que o Ministério estava tomado e que aqui só tinham corruptos e bruxos das trevas...


- Bem, me parece que ele não tem motivos para pensar isso... Aqui é um tédio. Tomado de amantes de trouxas por todos os lados...


- Não é mesmo? Também tenho essa impressão, não vejo a hora disso mudar... Imagina o que seria um mundo dominado por bruxos...


- Voar em vassouras para todo canto...


- Fazer feitiços sob a luz do dia...


- Em qualquer lugar... – Regulus deu um longo suspiro.


- Senhor Black?


Regulus se virou. Era Perkins.


- Venha comigo. Estamos indo dar uma batida no centro da cidade. Temos alguma confusão com latões de lixo cantantes na Hanway Place...


Regulus franziu a testa.


- Próximo a Tottemham Court Road. – completou Perkins.


Regulus escorregou de cima da escrivaninha e pos-se de pé. Perkins não era má pessoa, falava pouco, mas qualquer coisa seria melhor do que passar o dia no Ministério. Era verão, seria bom ver alguns raios de sol, só para variar.


Sr. Perkins levou-o para um pequeno vestiário atrás da mesa de Arthur Weasley. "Bom dia, senhor. ‘


- Bom dia!
Mr Weasley respondeu erguendo levemente a cabeça de suas anotações, olhando para o menino por cima dos óculos.


- Temos que nos trocar, eu não sei se você percebeu, mas os trouxas costumam vestir roupas estranhas. Felizmente, temos um vestiário aqui com algumas das roupas de trouxas. Arthur, eu quero dizer, o Sr. Weasley e eu estamos acostumados a usá-las e temos nossa própria coleção de camisas ...  - ele levantou a capa e mostrou suas calças boca-de-sino cor de laranja e uma camisa verde muito brilhante. Regulus engoliu em seco; com sorte ele teria roupas menos chamativas para colocar. Perkins percebeu o desconforto do garoto:


- Você pode ficar aqui. Eu sei, vestir roupas trouxas pode ser muito vergonhoso para alguns bruxos ...


- Não, não. Está tudo bem. Eu também costumo vestir algumas roupas trouxas para passear com o meu irmão ...


- Verdade? - Arthur virou-se para olhar para o menino. Regulus sorriu para ele com tristeza. Ele não tinha certeza se algum dia ele passearia com seu irmão novamente.


- Você pode colocar esse, eu acho que serve ... - Perkins entregou-lhe um jeans e uma camisa branca.


Ele entrou no quartinho e se trocou.A roupa ficou levemente grande em Regulus, o que lhe fez lembrar de Sirius e suas piadas quando uma roupa não servia, dizia que “o morto era maior”. Aquilo lhe deu um nó na garganta que se desfez assim que ele notou Perkins apontando e agitando a varinha em sua direção. Imediatamente a roupa encolheu até se ajustar perfeitamente ao seu corpo. Ele olhou com interesse para Perkins, precisava aprender aquele feitiço. Ele estava prestes a perguntar qual era o feitiço quando o homem lhe disse:


 - Vamos, não há tempo a perder. Quanto mais cedo, menos trouxas curiosos vamos ter para como testemunhas.  – e então puxou o garoto pelo braço, guiando-o entre a pequena multidão que ia e vinha apressada pelos corredores até chegar no elevador disfarçado em cabine telefônica que havia no meio do átrio e dava acesso direto à rua.


 Os olhos do garoto se arregalaram ao se perceber em Whitehall, ele nunca tinha estado lá antes. Perkins olhou para ele com interesse por algum tempo. O menino parecia olhar estarrecido para os prédios em torno deles. Então o homem se perguntou se algum dia aquele bruxinho tinha usado transporte de trouxa e sorriu marotamente:


 - O que você prefere? Podemos ir de metrô ou taxi. É perto daqui, estaremos lá em 15 minutos no máximo. Não é seguro aparatar no meio da multidão quando eles já estão tão assustados.


 - Podemos ir de metrô... e voltar de carro?


 Perkins sorriu.


 - Claro.


 Os dois caminharam até a estação, pegaram um trem e desceram na Tottenham Court, que já estava cheia de gente.


 O problema com as latas de lixo cantantes não foi difícil de resolver. Embora Regulus tivesse a impressão de que Perkins tivesse demorado um pouco, ouvindo a música, antes de sacar sua varinha e silenciá-las. Enquanto alguns funcionários do ministério apagavam o fato da memória dos transeuntes, Perkins e Regulus examinaram as latas de lixo a procura de algum indício de que poderia estar fazendo aquilo.


 - Era uma música bonita, não? E bem cantada... – disse Regulus, devolvendo a tampa para o latão.


 - De fato era. O que nos diz um pouco sobre o bruxo que as enfeitiçou. Não deve ser um adolescente, embora aumente consideravelmente nosso trabalho nas férias de Hogwarts, nenhum aluno iria escolher tal música...


 - Ora, eu escolheria... – desafiou Regulus.


 - Foi você?


 - Não, infelizmente não... Gostaria de ter feito algo assim, mas acho que não ficaria tão bom...– ele admitiu, coçando o queixo.


 Perkins olhou para ele. Gostava do garoto. Era inteligente e fazia comentários supreendentes.


- Fico pensando que Uma pena os bruxos não poderem brincar livremente como fazem os trouxas…


- Bem, os jovens  bruxos têm que zelar pelo nosso mundo, não? Admito que lixeiras que cantam tão afinadas não fazem mal algum e até poderiam divertir multidões… Mas nem tudo são lixeiras inocentes… Muitas vezes brincadeiras como essas acabam machucando pessoas. – sugeriu o bruxo, olhando desafiadoramente com o canto do olho para Regulus.


- Se quer saber mina opinião, eu diría que se algumas pessoas fazem brincadeiras de mau-gosto contra os trouxas é por causa de toda essa segregação a que somos forçados... Isso não existiria se não existisse essa lei... E além disso, o que de tão ruim o pessoal anda fazendo?


Perkins ergueu uma sobrancelha.


- Nada justifica atacar os trouxas... Não foram eles que fazem nossas leis... Bem, terminamos por aqui.  Vamos voltar de carro, então?


- Podemos voltar à pé?


- Temos cerca de uma milha e meia de caminhada... Podemos voltar à pé, então. Almoçamos pelo caminho.


Regulus voltou ouvindo Perkins contar histórias sobre litros de leite que rodopiavam e faziam manteiga, caixas de rapé que mordiam, sapatos que encolhiam quando a pessoa os tentava calçar. Aquilo tudo poderia ser muito engraçado se ele conseguisse realmente prestar atenção. Mas seu pensamento estava no irmão. Tinha esperanças de que Sirius pudesse mudar de ideia, de que eles pudessem novamente vagar juntos por aquelas ruas e conversar como nos velhos tempos, mas quanto mais pensava no irmão, mais a esperança dava lugar a um peso que lhe subia os ombros.


Sirius não voltou naquela noite e nem nas noites que se seguiram. Sirius se fora para sempre. Regulus agora sabia que a responsabilidade de honrar pai e mãe, de mostrar ao mundo o que um Black era capaz era toda sua. E assim ele o faria, seria o mais dedicado Comensal da Morte e todos o conheceriam por ter sido ele quem, ao lado de lord Voldemort, havia garantido o direito dos bruxos de saírem da clandestinidade e reestabelecer a paz.

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Comentários (2)

  • Mika Black

      Bem, ao que parece vc está gostando de escrever e eu de ler, então tá tudo perfeito! Aguardo o que vier!  Concordo com o Regulus, o Crounch se tornar amigável do nada é muito suspeito, mas eu imagino ele como um garoto fofo, fisicamente pelo menos, não sei porquê, talvez por ele ser mais o novo que o Reg.  Esse mini comensal barata suspirando, isso é má influência para meu Black favorito. Sinceramente, não to entendendo, o Crounch foi muito legal nesse cap, tá muito estranho, será que o castigo realmente fez efeito nele? Hum, tenho impressão que ele vai voltar ao normal quando chegar na escola... ou se não todo mundo acharia estranho. Esse garoto, cada vez que ele aparece é mais estranho...  Gostei da parte das latas cantantes. Foi legal ver o lado do Regulus que fala de modo tão inocente como queria que fosse um mundo livre para os bruxos, mas o Sr Perkins tem razão.  Adeus Sirius!  Sério? Fim da família Black? Tão rápido! T-T  Tenho esperança de o Regulus ter alguma conversa ainda com o Sirius, pelo menos o Sirius devia demonstrar um pouco de afeto pelo irmão, seria até bom o Sirius tentar abrir a mente do Regulus, ser um pouco mais liberal seria muito bom pra ele.   Ansciosa pelo próximo capítulo! 

    2015-02-24
  • Luiza Snape

    Aguardando o próximo cap 

    2015-02-22
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