Em Cokeworth à meia noite

Em Cokeworth à meia noite




  1. Em Cokeworth à meia noite



Por um instante, Regulus perguntou o que estava fazendo ali. Ele desviou o olhar penetrante de Severus e colocou as mãos nos bolsos. Ali estavam sua varinha e o pote com a gosma misteriosa que ele roubara de Slughorn. Seus olhos pararam sobre a lareira. De repente tudo clareou e ficou óbvio o que ele estava fazendo ali.



- Chamei você aqui para ver se conseguimos resolver o problema de comunicação... – disse Snape, parecendo ter lido seus pensamentos.



Regulus empertigou-se, cheio de si.



- Ah, isso já está praticamente resolvido! – Regulus sorriu ao ver os olhos de Snape se iluminarem, – outro dia eu fiz vários testes com pó de flu, aliás, você sabia que a mistura exata foi descoberta por acaso? – ele riu – e foi por acaso que consegui mandar uma mensagem de voz sem entrar na lareira... Mas a gente ainda precisa testar qual das combinações foi a que deu certo, eu não tive tempo ainda, sabe? tem coisas que é melhor não se fazer na frente dos pais, ou eles começam a fazer perguntas... E também temos que ver se a lareira da Sonserina pode ser reativada, não deve ser difícil, já que é apenas um feitiço que a desligou da rede de flu... Isso é o que fizeram com todas as lareiras antigas que não tinham permissão para se conectar; hoje em dia é adicionado um pouco de pó na massa para ligar uma lareira nova à rede.... Proteção contra trouxas, entende? – ele soltou um longo suspiro.



- Chega! Assim você me enlouquece! Vamos por partes: então você conseguiu mandar uma mensagem de voz usando uma mistura de pó de flu com alguma coisa, mas não sabe o que foi, correto?



Regulus acenou com a cabeça.



- Ótimo. Então podemos testar as misturas que você fez e ver qual delas funciona. Onde estão suas anotações?



- Eu não fiz anotações...



Severus lhe lançou um olhar de desaprovação.



- Mas tenho tudo aqui na minha memória... e também alguma coisa nos bolsos... – ele apressou-se em dizer, tirando do bolso o potinho com a gosma verde.



- O que é isso? – Severus, até então parado imóvel em sua frente, esticou a mão e pegou o pote que o colega lhe mostrava e abriu. – Humm... viscoso. – ele disse, cheirando e apontando a varinha para a gosma, fazendo aparecer uma pequena onda em sua superfície.



- O que é, exatamente, eu não sei... Peguei na sala do Slug... quer dizer, eu quebrei um pote por acidente, a coisa grudou na minha calça e eu guardei. Achei que poderia servir para alguma coisa...



- Então isso é tudo o que temos? Uma mistura provável de uma gosma que você conseguiu não se sabe como e não sabe dizer o que é, com pó de flu? E quando o que você tem no pote acabar? Ficamos sem? Não sei porque pensei que poderia perder meu tempo com você...



- Espera! Eu acho que não foi a gosma que deu o efeito... Acho que foi meu sangue. É isso, quando me cortei e o sangue escorreu sobre a mistura foi que Kreacher conseguiu me ouvir. Sangue nós temos de sobra, não?



Severus lhe lançou um olhar perigoso.



- Quer dizer, não precisa de muito sangue na mistura... deixa eu mostrar para você.



Ele olhou em volta e encontrou sobre a lareira uma pequena caixa de madeira rústica. Dentro dela o pó de flu. Pegou uma pitada e colocou na palma da mão. Então tirou do bolso sua adaga e fez um pequeno furo na ponta do indicador, de onde brotou uma gota de sangue. Ele usou o mesmo dedo para misturar o sangue ao pó. Em pouco tempo ele obteve uma pasta rosada, que ele entregou para Severus.



- Não pode ser eu, tem que ser você. Chame: Largo Grimmauld, 12: elfo.



- Porque não pode ser você? – perguntou Severus, olhando enojado para a pasta na palma da mão de Regulus.



- Porque se eu chamar, ele vem de qualquer jeito. Ele é meu elfo.



- Entendi. Largo Grimmauld, 12: elfo? – disse Severus, jogando uma pequena quantidade de pasta nas chamas da lareira.



A pasta produziu uma pequena explosão de chamas azuladas. No instante seguinte, Kreacher respondeu com sua voz rouca,



- Quem chama o elfo da nobre casa dos Black?



- Sou eu, Regulus. Venha, Kreacher.



Ouviram um estampido e o pequeno elfo apareceu entre os dois garotos. Regulus sorria, satosfeito. Ainda não sabia para que serviria a tal gosma verde que Slug estava envasando, mas isso já não importava mais.



- Kreacher, o que você ouviu do outro lado?



- Kreacher ouviu alguém chamar “elfo”.



Regulus abriu um largo sorriso e olhou para Snape.



- Problema resolvido.



- Ao que tudo indica... mas seria melhor fazer alguns testes. – disse severus.



- Pra quê? Você chamou e ele ouviu. O que mais você precisa?



- Precisamos ver se funciona com meu sangue. Nós chamamos o seu elfo na sua casa usando o seu sangue. E não sabemos se é seguro, se é realmente só na sua casa que a mensagem chegou...



- Ahn... está certo, você tem razão. Kreacher, você pode voltar em casa e aguardar se chamado novamente?



Kreacher desaparatou no mesmo instante.



Severus pegou uma pitada de pó de flu e colocou na palma da mão, depois furou seu dedo e misturou o sangue ao pó, depois entregou a Regulus.



- Largo Grimmauld, 12: elfo?



- Meu senhor quer que Kreacher volte à casa do amigo em Cokeworth?



A voz de Kreacher chegou a lareira alta e clara. Tão clara que Regulus olhou em volta para checar se o elfo não estava realmente lá.



- Sim, Kreacher. Por favor.



O elfo voltou e ficou olhando para os garotos.



- Bem, agora precisamos testar se o som chega também em outras lareiras...



- E porque chegaria? Falamos claramente o endereço.



Severus bufou antes de tomar fôlego e responder.



- Você já deve ter notado que quando viajamos pela rede de flu conseguimos ver outras lareiras pelo caminho. O som deve fazer o mesmo percurso...



- Pensando por esse lado, é, você deve ter razão... Fique em outra lareira e eu fico aqui, aí a gente vê se você escuta alguma coisa...



- Bem, temos um problema, aqui na minha casa só tem essa lareira. – disse Severus, abaixando os olhos.



- Então eu fico na minha casa na sala de estar, Kreacher na cozinha e você fica aqui. Está certo? Vamos, Kreacher! Para casa!



Dizendo isso, Regulus pegou uma pitada de pó de flu e estava prestes a jogar nas chamas quando o elfo pegou sua mão e desaparatou com ele, direto na cozinha do largo Grimmauld.



- Você fica aqui e eu vou até a sala de estar.



Ele correu escadaria acima, esbarrando em Floffy que estava supostamente tirando o pó das paredes com um pano bastante sujo.



- Desculpe, Floffy.



A elfo não respondeu, continuou alheia à presença de seu senhor, deixando um rastro de sujeira na parede. Regulus franziu as sobrancelhas. Com certeza havia alguma coisa errada com aquela elfo. Mas no momento ele não tinha tempo de ver o que era, em pouco tempo Severus estaria mandando uma mensagem de voz e ele não queria se atrasar.



Ele entrou na sala de estar, correu até a lareira, sacou a varinha.



- Incendio!



Agora só precisava aguardar. Alguns segundos depois as chamas se tornaram azuis e ele ouviu a voz de Severus.



- Regulus?



- Estou ouvindo perfeitamente, Severus. E você, Kreacher?



- Kreacher escuta perfeitamente o senhor e o garoto Severus, escuta sim.



Regulus desanimou. Se mandassem mensagens para a lareira da Sonserina, não iriam querer que o diretor ouvisse tais mensagens, não é mesmo?



- Severus, venha até aqui. Precisamos conversar.



As chamas ficaram verdes e Severus saiu da lareira.



- Não vai dar certo... Assim o diretor pode nos ouvir... ou Filch, ou McGonagall, ou qualquer outro...



- Eu também não desperdicei meu tempo neste natal... Podemos testar um feitiço em que tenho trabalhado... Pensei em algo que pudesse produzir um ruído para disfarçar o som que não queremos que seja ouvido... Estou chamando de “susurrus continuus”, porque produz uma espécie de sussurro contínuo. Vou voltar para casa e testamos. Que tal?



- Está certo. Kreacher, volte para cozinha. Aguardo o seu chamado, então.



Severus lançou um punhado de pó de flu na lareira e sumiu nas chamas verdes.



Regulus sentou-se no chão em frente à lareira, cruzando as pernas. Já havia passado um longo minuto quando as chamas ficaram azuis e um som ensurdecedor de mil vozes sussurrantes chegou à lareira.



- Kreacher, você me escuta? – ele perguntou, levando as mãos aos ouvidos, tentando abafar o som.



Quando, finalmente, as chamas voltaram à sua cor normal, Kreacher chegou à sala de estar, cambaleando.



- Você está bem, Kreacher? – o garoto levantou-se e foi ao socorro do elfo.



- Kreacher está bem. O som alto do feitiço do garoto Severus deixou Kreacher tonto. As orelhas dos elfos-domésticos são sensíveis aos sons para atender seus senhores ao menor chamado.



- E você conseguiu entender o que ele falou?



- Não, Kreacher não entendeu nada.



A sala se iluminou com a luz esverdeada que vinha da lareira à suas costas, então Regulus se virou para receber o amigo.



- E então, como foi? – perguntou Severus, visivelmente esperançoso.



- Bem, ainda não funcionou... Ouvimos um som ensurdecedor de mil vozes sussurrantes, mas não conseguimos ouvir sua mensagem.



- Ahn... – Severus desanimou.



- Mas acho que você está no caminho certo, acho que você precisa direcionar melhor o som da mensagem para uma lareira só. Talvez você devesse dizer “sala de estar, Grimmauld Place, 12”.



- Certo. Vou voltar para casa. Me espere um minuto.



Regulus suspirou profundamente e olhou para Kreacher, enquanto Severus entrava novamente na lareira. Kreacher não precisou ouvir seu senhor, no mesmo instante desaparatou para a cozinha. O garoto sentou-se no chão em frente à lareira mais uma vez e aguardou. As chamas ficaram azuis e ele ouviu a voz de Severus.



- Regulus?



- Deu certo! Corre aqui!



As chamas ficaram, então verdes e Severus saiu da lareira um pouco zonzo por conta das sucessivas viagens pela rede de flu.



- Kreacher? – Regulus chamou o elfo e aguardou.



Os dois meninos se olhavam sorrindo satisfeitos quando o elfo entrou pela sala se segurando nas paredes.



- Muito ruído... Muitas vozes na cabeça de Kreacher... – ele disse, revirando os olhos.



Regulus correu até o elfo e o colocou sentado em uma poltrona.



- Precisamos descobrir como abafar um pouco o som... Não podemos chamar a atenção dos outros... – ele disse, olhando para o elfo doméstico que ainda esfregava a cabeça.



- Abafar.... Abafar... Parece uma boa ideia... Acho que por esta noite está bom.  Continuamos amanhã, está bem?  Vou testar outros feitiços...



- Por mim, tudo bem. Amanhã, então. Talvez fosse interessante se mais alguém pudesse ajudar... Sei lá, para testar se em outra lareira que não as de casa recebessem a mensagem. O que você acha?



- Prefiro que continuemos só eu e você... E seu elfo doméstico.



Kreacher olhou para Severus com um olhar assustado, depois saltou da poltrona e postou-se de pé, como se só naquele momento tivesse se dado conta de que se sentava na poltrona dos patrões.



- Está certo. Eu poderia chamar Floffy também...



Kreacher balançou a cabeça para os lados desesperadamente, tentando convencer Regulus de não pedir ajuda para sua mãe. Regulus franziu a testa.



- Ahn... Está certo. Daremos um jeito sem Floffy. De qualquer forma, está quase amanhecendo e precisamos ir dormir. Virei aqui amanhã e ficarei aguardando uma mensagem sua, pontualmente à meia noite. Kreacher ficará na cozinha.



- Combinado. E, parabéns pela descoberta. – disse Severus, já entrando nas chamas verdes, de costas para o amigo, uma vez que não era do seu feitio elogiar.



Regulus permaneceu alguns instantes olhando as chamas voltarem ao normal, depois pediu ao elfo que o levasse de volta direto ao seu quarto em Bramshill. E assim o elfo fez, retornando para Grimmauld Place em seguida.



Na noite seguinte eles teriam novos testes a fazer. Regulus puxou as cobertas de sua cama e deslizou para baixo das cobertas. Sua vaga no clube agora era quase uma certeza. Ele ainda deu uma olhada no irmão que dormia na cama ao lado. Felizmente não havia nenhum frasco de poção na mesa de cabeceira. Sirius apenas dormia.


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