Dia dos namorados, 1975




  1. Dia dos namorados, 1975



Regulus mais uma vez se enganara. A ajuda de Alice na pesquisa sobre qual feitiço impedia a lareira de se conectar à rede de flu revelou-se um verdadeiro desastre. Não que a menina não estivesse se empenhando na pesquisa, ela já havia lido nove livros diferentes enquanto ele folheava o primeiro livro que havia pego no primeiro dia em que se encontraram na biblioteca. Ele sentia como se tivesse sido enfeitiçado e era impossível concentrar-se em qualquer outra coisa que não fosse a respiração, o olhar, as mãos suaves de Alice tomando notas e sua boca que lhe falava incessantemente coisas incompreensíveis de forma melodiosa.



O Salão Principal tinha sido todo enfeitado em tons de rosa e vermelho, com gigantes bolhas de sabão no formato de corações que surgiam de um velho gramofone colocado próximo à mesa dos professores. Cada vez que uma bolha estourava, ela soltava um verso romântico que provocava suspiros em todas as meninas do recinto. Aquilo deixou Regulus um pouco enjoado, ele não via sentido em tantos suspiros por conta de um “um dia dos namorados”. Então ele tomou seu café da manhã o mais rapidamente que pode e ficou no hall aguardando Alice sair.



Passados quinze minutos ela surgiu, rindo alegremente junto com suas amigas.  



- Alice? – ele chamou. A garota olhou para as amigas, que responderam com sorrisinhos, e foi ao seu encontro.



- E aí? Vamos para Hogsmeade hoje? – perguntou o garoto, quando os dois começaram a andar em direção às escadas que levavam para o andar abaixo.



- Hum, não sei... hoje é dia dos namorados...- ela respondeu sem olhar para ele.



Ele ficou sem graça, olhou espantado para ela e e perguntou:



- Você tem namorado? Por isso não quer ir comigo?



- Que pergunta boba para se perguntar, Reg! Você sabe que não tenho! Não é isso.



Regulus não replicou, não sabia o que dizer ou onde colocar as mãos. Achou melhor continuar caminhando ao lado dela sem conversar. Ele pensou um pouco. Ele queria ir com ela à Hogsmeade. Passavam tanto tempo juntos e ainda tinham tanto para conversar! Mas por um motivo que ele não conseguia alcançar, ela não queria ir com ele. Mas era com ela que ele queria ir. Como iria dizer aquilo?



- Então, eu também não tenho namorada – ele disse, aliviado. – A gente podia ir junto para Hogsmeade e comprar alguns doces... O que você acha?



- Não sei, Reg. Estou um pouco sem energia hoje, vou passar o dia lendo na frente da lareira da sala comunal. Tchau, Reg. – disse ela quando chegaram às escadas que desciam para a cozinha.



Ele ficou alguns instante olhando ela descer as escadas. Não era isso que Regulus queria. Estava tudo errado. Mas ele não sabia o que fazer. Desesperado, sentou na escada. Então se perguntou: o que papai faria? Orion sempre tinha boas ideias e sabia como agradar uma mulher. Pelo menos, sua mãe era feliz, ele sempre lhe trazia flores. A resposta veio imediatamente à sua mente: num ato contínuo sacou a varinha e fez o feitiço orquideos, conjurando delicadas flores azuis e rosas e as arrumou num belo buquê, escondeu-o atrás do corpo e correu atrás de Alice. Ela já estava quase chegando aos barris que escondiam a entrada da sala comunal da Lufa-lufa quando ouviu seus passos correndo apressado em sua direção:



- Alice, me desculpe. Eu menti. – ele disse, ofegante.



Ela franziu a testa:



- O que foi, Reg? Do que você está falando? - ela respondeu, estarrecida, franzindo a testa.



- Eu menti para você quando disse que não tinha namorada. – aquilo era mais difícil do que ele havia imaginado, sua voz hesitava em deixar sua garganta. Então ele respirou fundo e falou, em um só fôlego - Eu tenho. E vim até aqui para ver se ela gostaria de ir a Hogsmeade comigo hoje. – neste momento ele olhou nos olhos dela e tirou a mão das costas e lhe estendeu o buque de flores.



Alice sorri, emocionada, sem saber o que dizer.



- Então, Alice, o que você acha de ir à Hogsmeade comigo?



- Eu adoraria...



E dizendo isso ela se aproximou dele para pegar as flores, mas ele a tomou nos braços e a beijou na boca. Ele estava errado. Os lábios de Alice não eram doces como mel. Mel era enjoativo, ela não. Ela tinha um sabor suave, levemente adocicado. Do tipo que ele iria querer sentir em sua boca para sempre.



*



Eles caminhavam lado a lado pelas ruas congeladas de Hogsmeade. Era impossível não sorrir o tempo todo, mesmo que o sorriso estivesse escondido sob o grosso cachecol verde e prata, ainda era um sorriso sincero e feliz. Regulus tinha uma mão no bolso por causa do frio e a outra na cintura de Alice. Ele a segurava contra seu corpo gentilmente de modo a aquecer sua namorada com o seu calor. Era uma sensação maravilhosa e seria perfeita se não fossem os doces recém comprados que lhe estufavam os bolsos de maneira incômoda.



Todos olhavam para o casal de namorados, era impossível não notar, um sonserino e uma lufa-lufa, e o contraste do verde e do amarelo do uniforme de suas casas. Em frente a lotada casa de chá de Madame Padfoot eles fizeram uma breve pausa.



- Alice, acho que está meio lotado aqui... Mas se você quiser, a gente entra, toma um chá, como todos os outros... – ele disse, enquanto tirava com delicadeza os pequenos flocos de neve que se enroscavam nos cabelos encaracolados dela.



 O narizinho delicado de Alice tinha a ponta vermelha de frio, o que era, para ele um convite para que o aquecesse com seus lábios. Regulus aproximou seu rosto e beijou a ponta do nariz.



- O que você está fazendo? – Alice riu, virando o rosto levemente.



- Esquentando seu narizinho lindo.  E então, o que você quer fazer?



- Eu quero ficar com você em algum lugar quente e seco. E não cheio de gente que fique nos olhando como se fôssemos dois esquisitos...



- Um.. Voltamos, então, para o castelo?



Alice sorriu. Aquela parecia uma boa ideia.



- Para o castelo, então...



*



Mal Alice e Regulus haviam colocado um pé no hall de entrada do castelo, eles ouviram a voz de Severus:



- Black! Estive te procurando por todo lado. – ele disse, num tom preocupado e tristonho.



- Alice, nos dê licença um instante, por favor. Me espere aqui e eu já volto. – ele disse, olhando nos olhos da garota, enquanto tocava levemente em sua bochecha.



Os dois meninos se afastaram rapidamente e se postaram no corredor que levava aos aposentos do professor Kettleburn.



- Black! Pensei que você fosse trabalhar comigo no problema da lareira ao invés de ficar aí desfilando com essa menina... – Severus cochichou.



- Pois eu e ela estávamos justamente indo para a biblioteca agora mesmo. Eu disse a ela que precisava estudar e ela não se importou, vai me acompanhar. Eu não esqueci do nosso prazo. Sei que está acabando. A gente conversa à noite e eu terei uma solução para você. – ele respondeu em voz baixa e deu meia volta. Alice ainda o esperava no mesmo lugar.



- Erm... Alice, você se importaria de ir à biblioteca comigo? – ele perguntou, sem jeito. A biblioteca não parecia um lugar para encontros românticos.



Ela olhou para Severus que caminhava pelo corredor que dava acesso às escadas que iam para as masmorras. Ele caminhava cabisbaixo, parecia realmente triste e isso lhe tocou o coração. Como ela poderia pensar em namorar quando um garoto apaixonado precisava de sua ajuda?



- É pelo Severus? Aquele problema com a lareira, ainda?



- É. A menina não estuda aqui e ele não tem como lhe mandar uma mensagem. Você se importaria? – respondeu Regulus, fingindo estar consternado.



- Claro que não! Vamos! – respondeu Alice, encantada pelo fato de seu namorado ser tão leal, sensível e preocupado com os amigos.



Regulus a beijou e pegou na sua mão.



- Obrigado por entender. Vamos então. – e os dois foram de mãos dadas até a biblioteca, trocando olhares carinhosos e sorrisos um para o outro por todo o caminho.


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