Sonserino como sempre



Regulus acordou decidido sobre o que deveria fazer. Haviam mais coisas em jogo do que uma simples fofoca a respeito de seu envolvimento com Alice. Aquilo tudo não era sobre o resultado de um jogo, mas sua honra fora colocada em xeque. Quem teria começado a fofoca? Bem, essa não era uma informação crucial. Apesar dele ter conseguido manejar a situação a seu favor, ele sabia que o menor deslize seria suficiente para que ele perdesse sua posição no time e o respeito de seus colegas. Precisava agir rapidamente. Após trocar de roupa rapidamente, ele pegou uma folha de pergaminho onde escreveu, apressado, um bilhete. Tinha pressa de chegar ao Salão Principal naquela manhã, então enfiou no bolso e foi tomar seu café.


Rapidamente encontrou um lugar estratégico próximo de Snape, de onde conseguia ver a movimentação no salão. Sentar próximo de Severus era ótimo, pois ele não conversava absolutamente nada durante o café da manhã, tampouco fazia perguntas indiscretas. Ele cumprimentou o amigo com um breve aceno de cabeça, sentou-se e serviu-se. Então olhou ao redor. A vida parecia ter voltado ao normal na mesa da Sonserina, exceto pelos olhares desgostosos que uns ou outros lançavam para os alunos da Grifinória. Para ele, somente os habituais cumprimentos e sorrisos sonolentos. Ele sorriu silenciosamente sua vitória.


Regulus tomou seu café apressadamente e permaneceu à mesa, jogando conversa fora com Amifidel, que se sentara à sua frente. Por cima do ombro do amigo, ele espiava Alice na mesa da Lufa-lufa. Assim que ela se levantou para sair ao lado de suas amigas, ele levantou-se dando uma desculpa qualquer e apressou em segui-la. Precisava entregar o bilhete com urgência, sem chamar muita atenção. Como nenhuma ideia brilhante lhe passou pela cabeça, ele esbarrou propositalmente na garota. Disfarçadamente, num gesto muito rápido, ele deixou o bilhete dentro de sua mão, antes que a vontade de sair de mãos dadas com ela o vencesse. Então se afastou.


Alice sentiu a mão de Regulus deixando o papel amassado dentro da sua e parou, leu o bilhete, que dizia:


“Alice, precisamos dar um tempo nos jogos de xadrez. Estou com minhas tarefas todas atrasadas, precisando estudar e treinar. Quando eu tiver uma folga, te procuro. RAB”


Ela franziu a testa. Quando se virou para conversar com Regulus ele já estava longe e não olhava para trás. Não havia gostado do tom do bilhete, entendia que quando uma pessoa diz: “eu te procuro” queria dizer que não era para ela entrar em contato com ele e sim esperar. Isso a deixava chateada, não conseguia entender. Será que ele não havia gostado do bilhete dela? Ela tentou se lembrar o que havia escrito e não achou que tivesse nada de errado... Seria a brincadeira sobre a ala hospitalar ou o anjo negro? Não, nada daquilo poderia ter chateado ele, certamente era outro motivo. Não havia tempo para descobrir o que era naquele momento. Chacoalhou a cabeça para os lados tristemente e seguiu em frente com passos largos para alcançar as outras meninas. Estava em cima da hora para a aula de poções, e ela ainda nem havia chegado às masmorras, Professor Slughorn era muito simpático, mas não gostava de atrasos.


*


Com o passar do tempo, as palavras de Regulus se tornaram cada vez mais ásperas. Dois meses se passaram sem que os dois trocassem mais do que cumprimentos vazios nos corredores, que aos poucos se tornaram breves acenos de cabeça. Com muita tristeza, ela concluiu que ele apenas queria se afastar dela e deixar de ser seu amigo, pois não foi uma ou duas vezes que ela o pegou de bobeira nos gramados da escola, jogando conversa fora com os amigos ou fazendo graça para Emma Vanity – a lembrança de que antes ele fazia as mesmas coisas para ela era inevitável e isso a corroía por dentro, enchendo-a de tristeza e uma pitada de ciúme.


Do outro lado, Regulus a observava de longe, tentando desviar o olhar para que seus olhares não se cruzassem. Aquilo o corroía por dentro tanto quanto nela, de um modo que ele não conseguia imaginar, mesmo assim ele sabia o quanto seu afastamento era necessário. Um dia ela compreenderia, ele pensava, esperançoso.


Após um final de semana bastante agitado, com treinos de quadribol no sábado e domingo à tarde, a segunda-feira do dia 06 de maio amanheceu preguiçosa. Regulus ouviu os amigos se arrumando para ir tomar o café da manhã, mas não levantou, sequer abriu os olhos. Amifidel se aproximou e disse:


- Reg! Reg! Acorda! Ou vamos nos atrasar!


Sem abrir os olhos, ele respondeu mal-humorado:


- Vou ficar aqui mais cinco minutinhos, já alcanço vocês. Podem ir.


Amifidel chacoalhou os ombros:


- Você que sabe. Até mais, então. – deixou um embrulho aos pés da cama e saiu.


Regulus aguardou que o dormitório ficasse completamente em silêncio e espreguiçou-se, esbarrando com os pés no embrulho em cima da cama. Sentou-se e pegou a caixa embrulhada de qualquer jeito com um papel marrom. No topo, havia uma etiqueta onde se lia:


“De seus verdadeiros amigos, para Regulus Black.”


Ele rasgou o papel rapidamente e abriu a pequena caixa de madeira. Dentro dela estava um pomo de ouro, uma cópia de Quadribol através dos tempos e mais um bilhete:


“O livro para inspirá-lo, o pomo de ouro que era seu por direito – cortesia de Severus Snape, Theodor Amifidel e Jack Laughton... Guarde em lugar seguro.”


Ele sorriu, podia apostar que aquele era o pomo que James andava exibindo pelos corredores, pois tinha a mesma asa levemente amassada que não se moldava com perfeição à bolinha. Como eles teriam pego? Colocou o pomo de lado e folheou o livro. Ele sorriu, adorava cheiro de livro novo. A contracapa estava completamente coberta por assinaturas e recados:


“Espero que o livro te ajude a sair da frente dos meus balaços. – Louis Avery”


“Regulus: Um pomo no céu, uma vassoura na mão;


Uma vassoura no céu, um pomo na mão; uma questão te tempo. – Emma Vanity”


“Sou sua fã! – Lucinda Talkalot”


“Você é o cara! – Caspar Mulciber” (One day, the world will know you as the big shot you are.)


 “Queria saber dizer algo bem legal para escrever aqui, mas não sou bom com as palavras… Me passa a Goles! Er… quer dizer, eu teria medo de ser pomo de ouro se conhecesse você… pô, esquece isso. Leia o livro que é muito bom. - Rupert Greengrass”


“Pra você, que sabe a diferença entre um apanhador e um artilheiro, tudo de bom. - Tom Blishwick”


- Legal! – falou o garoto em voz alta. Ele então trocou de roupa rapidamente e correu para tomar café-da-manhã com seus amigos.


Quando chegou à mesa da Sonserina, rapidamente Emma fez surgir um lugar vago ao lado dela, onde ele se sentou, lhe dando um largo sorriso.


- Pessoal, adorei os presentes! Vocês são demais!


Emma abriu a boca para falar qualquer coisa, mas foi subitamente interrompida por Lily Evans, que acabava de se aproximar da mesa com outro embrulho.


- Oi, Reg!


Ele levantou-se para receber a amiga, ficando de costas para sua mesa.


- Isto é para você. Sirius iria entregar pessoalmente o presente, conforme seu pai havia pedido, mas ele está... ocupado no momento e pediu que eu lhe trouxesse.


Regulus olhou para a mesa da Grifinória onde Sirius estava sentado de modo propositadamente relaxado, fingindo não olhar para ele, gargalhando alto. Regulus pegou o embrulho e acenou para o irmão. Ele sabia que Sirius estava vendo.


Ele abriu o pacote. Dentro dele estava um caderno de notas encapado em couro negro, com reforço prata nos cantos para que não fizesse orelhas e as iniciais do seu nome gravadas na capa. Na bela caligrafia de seu pai, o recado na contracapa:


“Esperamos que este livro o ajude a guardar suas valorosas descobertas no campo dos feitiços e poções. Feliz aniversário, filho! Aproveite bastante, não se faz 13 anos todos os anos...Com carinho, da mamãe e do papai.”


Ele passou a palma da mão sentindo as ranhuras do couro, então sorriu e olhou para Lily, que cumprimentava Severus.


- Obrigada, Lily. Foi muito gentil de sua parte trazer o presente...


Ela abraçou Regulus com carinho, dizendo:


- Não tem de que, Reg. Feliz aniversário! Me desculpe, não comprei nada para você.


- Não se preocupe com isso. Um abraço seu já é muito bom... – ele respondeu, sorrindo sinceramente.


Então a garota olhou para o chão e disse:


- Não quero parecer uma coruja, mas tenho outra coisa para você.


Dizendo isso, ela pegou alguma coisa em seu bolso e lhe entregou: um pequeno rei preto, uma peça de xadrez.


Regulus engoliu em seco. Agradeceu Lily, que virou-se e voltou para a mesa da Grifinória.


Indo contra sua vontade de procurar Alice na mesa da Lufa-lufa, Regulus sentou-se e colocou a pequena peça de xadrez em sua frente. Ele sentia-se profundamente triste, sabia que tinha magoado Alice com sua distância e o seu gesto era a pura tradução de seus sentimentos. O som da conversa animada de seus amigos parecia ter se distanciado e ele ficou perdido em suas lembranças. Foi quando a voz inconfundível e irritante de Rachel Broadmore chegou aos seus ouvidos.


- Olha só, o Black ganhou uma peça de xadrez! Há! Que coisa mais ridícula! Uma peça só não dá jogo! Quem foi o burro que lhe deu isso, Black? – ela disse, inclinando-se para frente sobre as costas dele para pegar o rei preto.


Regulus ficou muito aborrecido, levantou-se e disse:


- Nem em sonho eu achava que um dia diria isso, Rachel, mas você está coberta de razão: uma peça só não faz um jogo. Me devolva isso.


Então arrancou-lhe o rei de sua mão e ignorou as respostas indelicadas de Rachel para o seu gesto e abriu seu caderno de notas, pegou a pena que vinha dentro e escreveu:


“Agora tenho um tabuleiro completo, mas ainda falta a principal peça do jogo: você. Te espero após o jogo de sábado, na torre de astronomia, independentemente do placar.”


Então arrancou a página, juntou suas coisas e saiu apressado em direção à mesa da Lufa-lufa. Alice estava de costas e não viu sua aproximação, mas ele tinha certeza de que suas amigas já a haviam alertado sobre isso. Sem dizer uma única palavra, ele colocou em sua frente o bilhete e saiu apressado, bufando e batendo os pés no chão com força. Não queria ver a reação de ninguém.

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Comentários (3)

  • Ivana R

    Sofia! Então está explicado! Bem, eu realmente nunca assisti The Big Bang Theory, mas a questão do 'girlfriend' é mais uma coisa típica de garotos, ou, como diria minha amiga Cassandra, "Regulus is such a boy"... O carinha tá todo interessado, mas quando apertam ele, escorrega que nem sabonete... Pensando em escorregar, você também pode dizer que é típico de Sonserino, já que slither, que é a origem da palavra Slytherin, significa escorregar, deslizar... tem a ver tanto com a cobra quanto com a característica principal dos sonserinos que é "tirar o seu da reta".... :) Sim, Física... mas não terminei, me formei mesmo na USP, psicologia. De qualquer forma, se precisar, é só cutucar. Física, química e matemática são que nem andar de bicicleta, uma vez que se aprende não se esquece jamais! Em relação à sua enxaqueca, tem dores que viram um ciclo vicioso e estou falando sério. Dor é uma coisa que tem um forte componente emocional e chega um ponto que analgésicos não funcionam mais. Digo por experiência própria e também como profissional da area de saúde. Se a sua já chegou a este grau de preocupação, vale a pena começar a tratar de outra forma, eu sugeriria, se você me permitir, o acompanhamento de um psicólogo. Pode parecer bobagagem, mas uma boa terapia pode ajudar a acabar com a enxaqueca ou fazer com que a dor já não atrapalhe tanto a sua vida. Me desculpe a intromissão, prometo não falar mais no assunto (a não ser que você queira). Abraços. .

    2013-09-18
  • Sofia Gaunt

    Física na UNICAMP ? Isso é maravilhoso, agora eu já sei quem procurar quando estiver estudando (ou só tentando). :)Na verdade não foi por isso que eu falei sobre o 'The Big Bang Theory', é que tem um episodio que o Sheldon diz 'she is not my girlfriend, she is a girl and she is my friend,  but she is not my girlfriend', e quando eu li o capitulo me lembrei imediatamente desua cena (ri muito).Sobre esse capitulo eu fico feliz de ver que o Regulus pretende tentar dês reconciliar com a Alice, espero que dê tudo certo - eu até pediria um preview, mas acho que vou ter que esperar até sexta mesmo - até semana que vem.Sofia Aliás, abrigada pela preocupação. Ontem fui para o hospital de novo fazer uma tomografia porque apareceu mais um sintoma que podia estar associação ao um cancer ou a um tumor, mas parece que era apenas uma tensão muscular que fez toda a minha coluna doer durante a crise de enxaqueca. 

    2013-09-15
  • Ivana R

    Sofia, espero que você esteja melhor da enxaqueca.... sinceramente, ninguém merece! Sei bem como é, tive enxaqueca por anos, fiz diversos tratamentos e posso dizer que algum deles ou todos em conjunto, sei lá, me curou! :)Não sei porque você acha que sou fã do The big bang theory. Eu sempre quis assistir, mas nunca tive tempo... Agora, se de alguma forma deixei transparecer a grande nerd que já fui (estudei Física na Unicamp, Psicologia na USP), então está explicado... hahahahahFico contente que você continue lendo. :) 

    2013-09-13
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