Um Natal há muito sonhado!



Capitulo 28: Um Natal há muito sonhado!

Os dias voaram ao sabor do vento e a cada dia que passava os odores do Natal intensificavam-se. A neve continuava a dançar pelos céus numa dança muito antiga e bela… o lago continuava negro e gélido…
Mas haviam certas coisas que mudaram nos poucos dias que se passaram.
As árvores dos terrenos tinham agora alegres luzes a dar-lhes vida… os odores provenientes da cozinha haviam-se tornado ainda mais doces e convidativos… e, o que preocupava profundamente o Magid Dourado, todos os outros Magids andavam a comportar-se estranhamente nos últimos dias.
Harry não sabia ao certo o quê, nem como, nem quando… mas tinha a vivida certeza de que algo estava prestes a acontecer. E esse algo tinha o dedinho mágico de cada um dos outros 19 Magids.
Na manhã de Véspera de Natal, Harry acordou com uma melodia suave. Abrindo os olhos, deparou-se com a visão mágica da neve a cair no exterior, preenchendo qualquer espaço que ainda não estivesse branco.
Olhando para a sua esquerda reparou que Alexandre já se havia levantando. Franziu a testa. Alexandre?! Madrugador?! O pressentimento que se apoderara dele nos últimos dias intensificou-se.
Levantando-se ainda muito desconfiado, vestiu o robe e saiu do quarto. Quando atingiu o último degrau da escadaria algo o fez estagnar no local. Ali, no centro da sala, estava uma bela mesa recheada de saborosas frutas e deliciosos bolos sendo acompanhados de uma variedade de sucos de frutas e o sempre bem-vindo café. Todos os Magids já se encontravam em torno da mesa, cada um deles a olhar muito sorridente para Harry.
_ Bom dia Harry! – Merlin sorriu abertamente para o jovem.
_ Bom dia… - aproximando-se ainda com o cenho franzido - Porque é hoje estamos a tomar pequeno-almoço na sala?
_ Então Harry…- Mara fez uma cara de falso ultraje – é para passarmos este dia juntos. Afinal é o nosso primeiro Natal com todos os Magids reunidos! Pelo menos um Natal verdadeiro e não aquelas Natais inventados do Vincent.
_ EI! Então?! Se o tempo em Asera passa muito mais rapidamente do que no mundo real, temos de ter Natais em Asera. Mesmo que estes não correspondam ao Natal real.
Mara limitou-se a revirar os olhos.
_ Além disso sempre foi tradição tomar-mos juntos o pequeno-almoço, Natal fictício ou não!
_ Sim. Mas hoje não é dia de Natal. É véspera de Natal!
_ Bem, desta vez vamos antecipar um pouco mais as coisas. Senta-te! Afinal nunca se sabe se estarás disponível para tomar o pequeno-almoço connosco amanhã…
_ O que queres dizer com isso, Madalena?
Harry sentou-se e começou a observar minuciosamente cada um dos presentes. Madalena apenas sorriu enigmaticamente… Alexandre abafou uma risada… Merlin e Dumbledore tinham aquele famoso brilho no olhar… e até Salazar olhava divertido para ele.
O que eles andariam a tramar?
_ Ok! Mas afinal o que é que se passa?
_ Como assim, chefezinho? – o olhar de Alberico era marcado pela mais profunda inocência.
_ Vocês sabem muito bem o quê. Durante toda esta semana andaram a comportar-se de maneira muito estranha. Cancelaram reuniões, inventaram desculpas esfarrapadas…
_ Ei! Nenhum de nós inventou nenhuma desculpa esfarrapada!
_ Desculpa lá Hengisto, mas “ não posso ir à reunião logo à noite porque tenho de tirar a gata do zelador do lago” não é o que eu considero uma desculpa convincente.
Todos os outros lançaram olhares desaprovadores para Hengisto, ao que ele sorriu encabulado.
_ Adiante. As reuniões canceladas, as DESCULPAS ESFARRAPADAS, os desaparecimentos no meio da noite… sim, eu tenho conhecimento disso… as perguntas esquisitas, como por exemplo, se eu prefiro azul ou preto, para não falar dos segredinhos que andam por aí. Pois eu agora quero saber o que se passa! Eu EXIJO saber o que se passa!
Nenhum dos presentes ousou tecer nenhuma reacção. E aquele silêncio não ajudava em nada nas suspeitas de Harry. AH… mas hoje ele iria arrancar o que se estava a passar deles, IA SIM!
Quando se preparava para pressionar um pouco mais os amigos, Febus voou em direcção à mesa e olhou em volta.
_ Mas…mas… vocês estão a fazer uma festa e NÃO ME CONVIDARAM?! A mim?! Ainda por cima queriam esconder estes doces maravilhosos de mim?! Mas não faz mal… eu não sou uma pessoa rancorosa… e para demonstrar isso vou começar a provar cada uma destas iguarias.
E, diante dos olhares estupefactos de todos os Magids, sentou-se no meio da mesa e começou a puxar na sua direcção todos os doces que podia alcançar.
Salazar olhou chocado para o guardião.
_ Alguém me explica porque é que esta bola de pêlo ainda não foi para Asera?


* * *

James fechou com força a mochila, tentando conter o seu próprio entusiasmo. Hoje era o dia! O dia para que se preparara toda a semana! Hoje ia fazer Harry James Potter ver que estava arrependido por tudo que dissera. Magid ou não, ele iria ouvi-lo!
Durante o resto do dia tentara evitar Harry, uma vez que o seu plano apenas deveria se aplicado no fim da tarde. Pedira o maior sigilo a todos os Magids, sabendo que estes o manteriam, mesmo sob as suspeitas e as exigências de Harry.
Sim… sabia que Harry começava a desconfiar que algo se passava, mas também sabia que nunca passaria pela cabeça do Magid que o que os seus amigos lhe escondiam tinha tudo a ver com o seu plano.
_ Não sei a que horas volto, portanto é melhor não contares que seja muito cedo. Se alguém perguntar não digas para onde vou. Inventa qualquer coisa!
Sirius olhou espantado para o melhor amigo.
_ Pois… sabes que para dizer para onde vais eu teria de SABER para onde vais, não sabes? Tu ainda não me contaste qual é o teu plano!
_ O meu plano, meu caro Padfoot, é recuperar a amizade do meu filho. Esse é o meu plano. Tudo o resto são apenas detalhes provenientes da minha mente genial.
_ Mente psicopata, queres tu dizer. Ai… até tenho pena do Harry!
_ Sabes Paddy, normalmente irias levar uma almofadada por esse comentário mas hoje estou de óptimo humor. Por isso a única coisa que te digo é: AU REVOIR!
E desapareceu pela porta levando apenas consigo um pesado casaco de Inverno, duas mochilas e toda a esperança de um pai em busca do filho perdido.

* * *

Harry deixou-se cair numa das poltronas ainda livres, fechando preguiçosamente os olhos. Merlin sorriu divertido quando o viu massajar fortemente o pescoço no sentido de desfazer uns nós que se haviam formado pelo cansaço.
_ Então?! Cansado?!
_ Muito! Tive todo o dia a reforçar as protecções sob Hogwarts para que nada de mal aconteça amanhã.
Ao ouvir estas palavras, Berta espreitou por cima do livro que estava a ler.
_ Achas que nos atacariam no Dia de Natal?
_ Principalmente no dia de Natal! Se existe algo que aprendi com Behemoth foi que devemos esperar o impossível e o impensável dele. Mas agora, estou louco para deitar na cama e acordar para o dia de amanhã.
_ Não me pareces muito ansioso pelo dia de Natal.
Harry abriu os olhos para encarar as duas orbes azuis de Albus Dumbledore, surpreendido pelo fundo de verdade nas palavras do director. Quando chegara a Hogwarts de 1977, o Natal fora o que mais desejara. Mas agora, esse sonho já havia há muito sido desvanecido. Harry não ansiara pelos presentes nem pelas saborosas comidas. Não… Harry ansiara por finalmente passar aquele dia tão belo com a sua família. No entanto, o destino armazenara uma surpresa cruel e tornara a ânsia natalícia de Harry num desejo que o Natal passasse o mais rápido e o mais indolor possível.
_ Talvez o destino ainda tenha mais surpresas para ti. E talvez algumas delas sejam o contrário de cruéis.
Novamente, Harry olhou surpreendido para Albus. Não pelo facto de este ter lido seus pensamentos, pois no estado em que estava tinha uma facilidade imensa em projectar seus pensamentos, mas pelas palavras do Magid Azul-claro.
O que ele queria dizer com aquilo?!
No entanto, a questão que ecoava pela mente do jovem de 17 anos não chegou a ser proferida, pois logo após as palavras do director de Hogwarts, um James Potter ofegante entrou pela porta e começou a olhar à volta.
Quando seu olhar se prendeu no de Harry, James soltou um sorriso radiante e deu duas grandes passadas em direcção à poltrona onde o Magid mais novo se encontrava instalado.
_ Preciso que venhas comigo…
Harry piscou os olhos várias vezes, como que tentando perceber se aquilo seria fruto da sua mente cansada. Mas após alguns segundos, a figura de James Potter ainda continuava ali, a olhar para ele suplicante.
_ Como?! MAS TU ESTÁS DOIDO?! Até cerca de 1 semana atrás não me podias ver à frente, agora queres que vá contigo sabe-se lá para onde?! Eu não vou contigo, James! Estou farto de ser maltratado. E se queres continuar com as tuas acusações, podes muito bem dar meia volta e regressar por onde vieste.
_ Eu não quero mais discussões!
_ Não?! – aquilo atingiu Harry com uma força brutal.
_ Na verdade eu quero te pedir desculpas pelo meu comportamento.
Harry olhou para o seu futuro pai em choque.
_ Desculpas não bastam. Magoaste-me! Confiei em ti e magoaste-me!
_ Eu sei!
_ E agora queres que te siga?!
James olhou tristemente para ele.
_ Quero que me dês uma oportunidade! Sei que provavelmente não mereço mas, ainda assim, eu peço-a. Quero que arrisques um pouco e me sigas. Quero te provar o quão arrependido estou. Por favor, Harry! Se vires que sou um idiota e que continuo o mesmo insensível e egoísta podes a qualquer momento dar a volta e deixares-me onde quer que estejamos. Mas só te peço esta oportunidade!
Para espanto de Harry, uma mão pousou suavemente no seu ombro. Olhando para cima, deparou-se com Alexandre que lhe estendia um dos seus casacos mais quentes.
_ É melhor agasalhares-te, pequenote.
_ Alex… tu, quer dizer, todos vocês sabiam disto?
_ O jovem James veio ter connosco alguns dias atrás - Albus tratou de explicar - pediu-nos ajuda para fazer as pazes contigo. Pedimos desculpas por esta omissão mas foi por uma boa causa.
Harry segurou o casaco entre as mãos confuso.
_ Mas… eu…
James esticou-lhe um braço, oferecendo-lhe uma das mochilas que segurava.
_ Por favor Harry! Só te peço esta noite. O hoje e parte do amanhã. Depois tu decides se me dás um grande pontapé no rabo ou se me perdoas. Eu só peço o agora!
Durante vários segundos, Harry olhou a mão à sua frente que lhe estendia a mochila… uma mão que toda a vida desejara ardentemente que estivesse ali… apenas ali…só para ele! Uma mão que sempre sonhara agarrar e jamais largar.
Mas existia em si um medo… um medo que não o deixava dar um passo em frente e agarrar-se àquela mão que significava tanta coisa: amizade… amor… família! No entanto, o medo continuava a não o deixar criar esses laços…um medo que nascera da solidão…que lhe sussurrava levemente no ouvido que se deixasse mais uma vez os sentimentos abaterem a muralha que formara em torno de si, iria sofrer… iria quebrar mais uma vez a sua promessa de não chorar… iria ver o quão só estava no mundo. Que aquela mão não existia se não nas fantasias de uma criança! Que a partir do momento em que cedesse, tudo iria se desvanecer e a dor seria por demais intensa.
Quando Harry deixou que seu olhar vagueasse até aos olhos de James viu algo que o assustou e chocou… ali…na cor avelã dos olhos de James Potter estava algo que Harry jamais pensou voltar a ver. Algo tão perfeito mas tão ausente na vida dele…algo que ele procurara toda a sua vida nos olhos do tio mas não encontrara…algo que Harry jamais pensara ver, mas que agora estava ali nos olhos do seu futuro pai: Amor de um pai para um filho!
Ignorando a voz que lhe sussurrava ao ouvido, Harry deu um passo em frente soltando-se das malhas do medo…quebrando a barreira que formara em torno de si.
E quando deixou que sua mão se fechasse em torno de uma das alças da mochila, soube, naquele momento, que não importava o que teria de passar…que se existisse dor no final do caminho, ele estava pronto para enfrentá-la pois sabia que valeria a pena.
James sorriu para ele e agarrou-o pelo braço com força, como se não o desejasse largar, e começou-o a puxar pelo braço.
_ Anda! Não temos muito tempo.
_Ainda não me disseste aonde vamos…
James ignorou-o, continuando a puxá-lo em direcção à porta. Olhando para trás, Harry olhou suplicante para os outros Magids. Todos sorriam para ele. Merlin apontou com força para a porta de modo autoritário enquanto ordenava:
_ Vai! Não quero saber se és o Magid Dourado! Ainda te posso dar umas ricas palmadas se fores cobarde e não fores.
Harry sorriu para ele e começou a correr atrás de James Potter.

* * *

Nich Quase-sem-cabeça vagueava pelos corredores de Hogwarts, aproveitando o silêncio da noite. Sabia que dentro de algumas horas vários alunos acordariam nas suas camas para um dia especial… O Natal sempre tocara graciosamente toda Hogwarts. As salas enchiam-se de luz… os corredores deixavam que belas melodias pairassem até todos os quartos, onde montanhas de prendas aguardavam ser abertas. Embora poucos alunos ainda estivessem em Hogwarts, o Natal não era menos intenso…menos belo.
Não… pela primeira vez, Nick desejou estar vivo…sentir mais uma vez os doces aromas da comida… sentir o fogo das lareiras… deixar-se envolver pela luz do Natal.
De repente, algo o fez abandonar seus pensamentos. Quando se encontrava no topo das escadarias de acesso ao Hall de Entrada, risos foram ouvidos. Dois rapazes corriam, nesse momento, em direcção à porta principal de Hogwarts. Mas, ao contrário do que acontecia todas as noites, quando um dos alunos tentou abrir a porta… esta deixou-se abrir, dando passagem para um vento gelado carregado de flocos de neve.
Quando Nick se preparava para avisar os alunos de que eles não poderiam sair, Albus Dumbledore, acompanhado por alguns Magids, fez-lhe sinal de silêncio, enquanto abanava a cabeça.
Olhando mais uma vez para os jovens que desapareciam naquele momento no manto negro da noite, Nick não conseguiu deixar de pensar o que teriam dois jovens, de mochilas às costas, a fazer naquela noite de Inverno a poucas horas do Natal!

* * *


James corria rapidamente pelos terrenos de Hogwarts com um único objectivo na sua mente…com uma única meta.
Quando a silhueta da casa de Hagrid se começou a formar diante de seus olhos, olhou para trás para averiguar se Harry ainda estava atrás de si. Encontrou a forma cansada do Magid a olhar confuso para ele e para a cabana de Hagrid. Sabia que Harry desejava saber o que se passava, mas não lhe podia explicar agora. Apenas desejava que ele o perdoasse… que ele pudesse mostrar ao seu futuro filho que não o odiava…que não desejava afastá-lo de si.
Organizando os seus pensamentos, dirigiu-se para a frente da casa e deu três batidas na porta. Demorou apenas alguns segundos até que o rosto de Hagrid surgisse por detrás da porta e olhasse para si. Não foi preciso qualquer tipo de palavras. Hagrid sorriu-lhe antes de desaparecer no interior da casa apenas para reaparecer, alguns segundos depois, segurando duas vassouras.
Harry olhava estupefacto, enquanto James fazia um sinal de agradecimento a Hagrid, e começou a andar calmamente na sua direcção. Olhando para o meio gigante à procura de algumas respostas, foi apenas devolvido por um sorriso antes da porta se fechar para a noite.
Focalizando a sua atenção em James, reparou, pela primeira vez, nas vassouras que este segurava.
_ Essa vassoura é a minha… Como conseguiste obtê-la? Ela deveria estar no meu tempo.
_ Alexandre entregou-ma. Parece que ele foi buscá-la ao teu tempo…Não sei ao certo como mas tenho a certeza que compreendes isso melhor do que eu. Pelo que Alexandre me disse tens um grande carinho pela vassoura então pensei que gostarias viajar nela em vez de usar outra. - Sorrindo, estendeu a vassoura em direcção a Harry.
Este recebeu-a um pouco hesitante.
_Mas…quer dizer…- Olhando para James conseguiu recuperar um pouco de lucidez – O Alexandre tem razão. Esta vassoura é algo de muito precioso. Foi um presente de alguém muito importante para mim. Só não percebo para que vou precisar dela.
_ Como assim “para que vou precisar dela”? Para voar é claro! Para que mais seria?! O Alexandre disse-me que tens um talento incrível na vassoura… Vamos lá testar isso!
Ignorando a expressão confusa de Harry, afastou-se começando a andar em passos decididos para o topo da colina.
_ Voar?! Voar?! Eu nem sei para onde vamos…
James limitou-se a dizer a olhar por cima do ombro dirigindo-lhe um sorriso traquina.
_ Então sugiro que não me percas de vista!


* * *

Uma bela melodia era carregada pelo vento… viajando pelo céus…entrando em cada casa…enchendo belos sonhos de um encanto sobrenatural! Ao longe, pequenos pontos de luz marcavam a presença de casas…de famílias que aguardavam ansiosamente, no calor das suas camas, a chegada de um dia em que a tristeza se desvanecia sob o frio da neve… em que os problemas se perdiam no infinito sem localização conhecida. Apenas algo restava: Liberdade!
Uma liberdade para sonhar… Uma liberdade para viver o dia até à última gota adocicada… Uma liberdade para amar e ser amado!
Harry olhava encantado para toda a beleza que englobava. Oh… como sentira falta daquela liberdade! Da pura liberdade de simplesmente voar…deixar sem pensamentos viajarem com um vento sem destino aparente… Naquele momento apenas existiam ele, o céu e James.
Ambos voavam ao sabor do vento, gozando simplesmente a companhia um do outro. James já não tinha pressa de chegar ao seu destino…Harry já não mais desejava saber para onde iam…
Nenhum deles proferiu qualquer palavra, mesmo sabendo que ainda havia muito a resolver… que ainda existia muita mágoa que precisava de ser dissipada.
Mas, naquele momento, voando em suas vassouras, sentindo o vento sob suas faces, nada mais importava! A conversa que teriam de ter seria feita brevemente mas não seria naquele momento.
James descreveu uma curva acentuada no ar, voando em direcção à cidade de Hogsmead… e Harry seguiu-o. Seguiu-o quando passaram por debaixo de um ponte… quando deslizaram em espiral em torno da Torre mais alta da vila… quando deslizaram pela praça que, ainda na semana anterior, estivera banhada de sangue e morte.
Harry fechou momentaneamente os olhos. Ainda se recordava daquele dia…podia ter visto a presença da morte e destruição em várias situações, mas jamais se esqueceria de cada uma delas.
Mas quando abriu os olhos apenas conseguiu ver o branco da neve… as luzes de Natal…as cores dos enfeites.
Quando voltou a fechar os olhos, não permitiu que nenhuma dessas lembranças se apoderasse da sua mente… apenas a focalizou nos sonhos das crianças que dormiam quentes nas suas camas a aguardar ansiosamente o nascimento de um novo dia…um dia cheio de cor e beleza!
Finalmente, James aterrou suavemente à frente da estação de Hogmead, sendo seguido de Harry.
Ignorando os olhares confusos do Magid, James entrou resolutamente na estação dirigindo-se a um dos funcionários.
Harry ficou a observar, muito espantado, enquanto James conversava animadamente com o homem (que aparentava cerca de 50 anos) e este confirmava com a cabeça tudo o que o jovem dizia. Por último, James agradeceu e dirigiu-se a Harry.
_ Agora só temos de esperar que chegue. Segundo o Sr. Bicket, não deve demorar mais do que 5 minutos.
_ Espera um pouco. O que exactamente estamos nós à espera? E quem raio é o Sr. Bicket?
_ O Sr. Bicket é o funcionário aqui da estação. Ele tem 53 anos, é viúvo mas mora com o filho mais velho que trabalha no Ministério. Sofre de reumatismo e detesta todos aqueles que envergam batas brancas… traduzindo: Medibruxos e enfermeiros. – sorrindo para a cara chocada de Harry – pelo menos foi o que ele me contou. É fabuloso como as pessoas gostam de contar toda a sua vida! Oh! Esqueci de um história que ele contou envolvendo o cão do vizinho, uma chaleira e o anel de casamento. Para não falar da ida ao Hospital. Aquilo sim foi…
_ Aguenta aí! Tu ficaste a saber isso tudo apenas nesta conversa de… digamos… nem 2 minutos.
_ Claro que não! O Sr. Bicket e eu conhecemo-nos esta semana quando vim aqui com o Dumbledore. Eu sei que as pessoas falam muito e por vezes rápido, mas ninguém FALA assim tão rápido! Foi uma tarde muito estranha! O Dumbledore veio …
Mas Harry já não tinha ouvido mais nada a partir do momento que o nome “Dumbledore” surgira no discurso de James. Então queria dizer que o Magid Azul-Claro participara naquele plano maluco de James?! Verdade fosse dita, Harry começava a pensar que todos os outros Magids estavam envolvidos naquele plano mirabolante. A questão chave era: que plano seria esse?
_ … E depois o Sr.Bicket afirmou que teria todo o prazer de nos ajudar! E pronto… aqui estamos nós a aguardar.
_ Ainda não me disseste do que estamos à espera…
_ Do comboio! Não é óbvio?
_ Se existe algo que estou a começar a perceber sobre esta noite é que ela vai para além do óbvio!
James sorriu para ele traquina.
_ E não é isso que dá o picante extra às coisas?! Afinal qual seria a piada das coisas se já soubéssemos como elas iriam acabar?!
Antes de ter a oportunidade de responder, o som do comboio a aproximar-se foi ouvido. Em meros segundos, Harry viu-se frente a frente com o mesmo comboio que o levava, ano após ano, para Hogwarts ou dela para casa. Uma casa em que jamais fora bem-vindo!
Todos os anos, quando Harry entrava naquele comboio, naquela mesma estação, fazia-o com o coração pesado de dor, com uma saudade que se formava a partir do momento em que cruzava os portões de Hogwarts com destino a Londres.
Mas hoje…. Hoje não embarcava naquele comboio para encontrar no seu destino uma família que não o desejava.
Não! Hoje não sabia qual era o seu destino, nem quanto tempo levaria para lá chegar. Só sabia que desta vez faria a viagem com alguém que queria fazer parte da sua família. Alguém que, embora o tivesse magoado, tinha tido o cuidado de elaborar aquela viagem para demonstrar a Harry que estava arrependido.
E isso, para Harry, era tudo o que bastava!

* * *

Já eram quase 22 horas, quando finalmente os dois Potters chegaram ao seu destino.
Durante toda a viajem, nenhum deles proferira uma palavra que seja sobre a discussão ou sobre arrependimentos. Apenas conversaram sobre coisas banais, como Quiddicth ou trabalhos de casa. Ambos sabiam que teriam ainda muito que conversar mas também sabiam que aquele não era o melhor local.
Quando finalmente o comboio começou a abrandar, Harry deparou-se com uma cidade que não conhecia, cheia de pessoas também desconhecidas. No entanto, embora Harry não se recordasse de ter jamais colocado os pés naquela cidade, uma forte sensação de dejá vu formou-se nele. Havia qualquer coisa no ar que lhe era familiar.
_ Harry… Bem-Vindo a Godric’s Hollow!
Godric’s Hollow… então era esta cidade onde morara com os pais. Onde vivera aquele ano, aquele único ano, junto com a sua verdadeira família.
À medida que Harry seguia James, ao longo das ruas, tentava reter cada pormenor na sua mente. As casa antigas e belas… ruas de pedra, que neste momento se encontravam tocadas pela neve… as luzes de Natal, que se estendiam como um manto sob cada viela.
Embora Harry tivesse visitado os túmulos dos pais pouco antes de partir em busca pelos Horcruxes, ele não chegara a visitar a cidade. Limitara-se a visitar o túmulo pois isso já tinha sido penoso o suficiente. Ele não suportara a ideia de visitar a cidade pois saberia que começaria a pensar nas possibilidades, caso Voldemort não tivesse entrado na sua vida. Sabia que ver cada detalhe na cidade onde morara com os seus iria trazer sonhos impossíveis. Iria tentar imaginar o que teria sido, caso seus pais não tivessem sido mortos e ele pudesse crescer naquela cidade, brincar naquelas ruas.
Mas hoje tudo era diferente. Hoje ele suportava olhar para as pessoas de Godric’s Hollow e encantar-se com as belas montras das lojas, sem que essa dor sequer aparecesse. Porque hoje ele visitava aquela cidade com James Potter. Tudo o resto era secundário!
_ Agora poucas pessoas estão nas ruas pois já todos foram para a cama. – a voz de James fez-se soar sob as canções natalícias – Pelo menos as crianças. Mas daqui a duas horas, as coisas vão mudar.
_ Como assim?
_Depois vais ver! – Sorriu enigmático.
Harry não disse nada pois algo mais cativara a sua atenção. No fundo da rua, uma bela mansão se erguia em todo o seu esplendor. Em torno dela, era possível ver, para além do muro, um belo jardim recheado de neve.
Para espanto de Harry, James parou na mansão, mesmo à frente do grande portão de ferro que guardava aquela casa. Harry olhou surpreendido para o portão. Este possuía um brasão antigo no seu topo, um brasão a partir do qual fortes colunas de ferro dançavam ao longo de toda a largura do portão. No topo do muro que protegia a casa, enormes estátuas de gárgulas encontravam-se empoleiradas.
James deu um passo em frente e tocou no portão. Ao leve toque, duas gárgulas ganharam vida e saltaram do muro, aterrando cada uma do lado de James.
Fazendo sinal a Harry, que nesse momento se preparava para proteger James, para parar, James estendeu um dos braços, deixando uma das gárgulas cheirá-lo. Parecendo satisfeitas, ambas a gárgulas fizeram uma vénia e regressaram ao seu posto, adoptando novamente o perfil de estátua. O portão abriu-se!
_ Yin e Yang são guardadores da mansão Potter. Eles apenas deixam entrar aqueles cujo sangue que corre nas veias é da família e, é claro, aqueles que forem convidados por um Potter.
_ Yin e Yang?- perguntou Harry divertido.
_ Bem…- James soltou uma pequena risada - é assim que eu os chamo. Sabes, por causa do facto de eles serem ambos da mesma espécie mas muito diferentes. O que me cheirou é o mais desconfiado o outro é mais amável.
À medida que percorriam o passeio, Harry ia observando o jardim. Era realmente muito belo e Harry podia ver que quem cuidava dele o fazia com muito carinho. Mas o que captou a atenção de Harry foi outra coisa. Tentou abafar a risada.
No centro do jardim, encontravam-se figuras, com alguns metros de altura, relativas ao natal. Elfos por todo lado a carregarem presentes… e um trenó enorme no qual um gordo pai Natal se encontrava sentado. Mas o que causara o súbito ataque de risos de Harry, fora o facto de que uma das renas que puxava o trenó, tinha a cara de James e os dizeres “ Finalmente percebi para que tu serves, Prongs! Vê lá se não te esqueces do meu presente de Natal se não mando uma carta a queixar-me ao velhote de barbas brancas e casaco vermelho e ele despede-te! Bom galopar!”, escritos no dorso da rena.
Tentando perceber o que captara a atenção do Magid, James olhou em direcção ao trenó soltando, pouco depois, um gemido.
_ Foi o Sirius que fez isso dois anos atrás. Nunca consegui tirar e ainda por cima a minha mãe achou piada e todos os anos coloca aquela Rena no meio do Jardim.
Vendo a expressão sofredora do seu futuro pai, Harry ainda riu-se ainda mais.
_ Ri-te… ri-te! É bom saber que tenho apoio moral.
_ Oh… mas James! Tu tens todo o meu apoio moral! Tanto que enfatizo os dizeres do Sirius e digo “ Bom galopar!”
Fosse pelas gargalhadas ou pelo facto de que nesse momento se agarrava à barriga de tanto rir, Harry nunca mais viu a grande bola de neve que foi lançada em sua direcção até que o atingiu em cheio na cara.
_ YES! E Potter marca. Realmente James Potter é um génio do Quidditch! E ele faz de Seeker… e ele faz de chaser…
Naquele momento uma grande bola atingiu-o na cara lançando-o para trás.
Harry olhou vitorioso e continuou o relato de James.
_ E ele até faz de Keeper. Sim… porque acabou de apanhar em CHEIO a bola de neve sem deixar que ela passasse por si.
James ergueu-se do chão enquanto olhava maliciosamente para Harry.
_ Tu vais pagar por essa júnior! Tu não sabes no que te estás a meter.
Harry olhou divertido para ele enquanto lhe mostrava a língua.
_ E o que vais fazer, ó poderoso James?
Enchendo a mão com neve…
_ Isto!
E uma guerra de bolas de neve se iniciou. Não importava o tardio da hora nem o silêncio da noite. Eles eram apenas dois amigos a brincar um pouco na neve!

* * *

_ Chiu! Não podemos fazer barulho! A minha mãe está a dormir.
Harry olhou mal-humorado para ele.
_ A culpa não foi minha! Quem mandou ter um caixa no meio do corredor. E a ideia de atravessar a casa às escuras foi tua, não minha!
_ Tenta ao menos não tropeçar, ok?
Crush!
_ Harry!
_ Porcaria de candelabro!
Quando finalmente chegaram ao quarto de James, já Harry massajava a sua testa onde um pequeno galo começava a formar-se.
Pousando as mochilas em cima da cama, James deixou-se cair numa das poltronas.
_ Pronto… já está. Nem acredito que a minha mãe não acordou quando foste com a cara ao chão. Acho que fizeste barulho suficiente para acordar toda a cidade.
Harry limitou-se a lançar-lhe um olhar negro enquanto via a sua face ao espelho de modo a analisar a nódoa negra que se formava mesmo ao lado do galo.
_ Lindo! Parece que fui atropelado por um hipogrifo furioso! Raio do tapete!
Virando-se para James, reparou que este já não estava a ouvir o que ele dizia, mas sim a olhar para uma foto no cimo da cómoda. Aproximando-se, Harry pode ver que na foto estavam duas pessoas conhecidas. Uma era James, a outra era um Homem, que Harry já tinha visto algumas vezes embora jamais tivesse o conhecido pessoalmente: Robert Potter!
_ Eu sinto muito pelo teu pai.
James olhou espantado para Harry.
_ Tu sabias?
Harry soltou um suspiro, enquanto se sentava na cama de James, observando todo o quarto sem, no entanto, vê-lo realmente.
_ Quando, durante a discussão, falaste no facto de eu puder alterar as coisas e não o fazer, calculei que estivesses a falar disso. Um dos benefícios de ser Magid é facto de podermos ver tudo… mesmo o passado.
James olhou para o chão pensativo. Sabia agora que chegara o momento de ter aquela conversa… Não podia fugir mais! Isso era impensável porque enquanto os dois Potters não falassem abertamente, haveria sempre um muro entre os dois.
Aproximando-se da cómoda, retirou de uma das gavetas do topo uma caixa de madeira.
_ Anda comigo!
Harry levantou-se da cama e seguiu James até ao telhado da casa. Este era amplo e possuía algumas plantas espalhadas bem como alguns artigos mais duvidosos, como bombinhas de mau cheiro. Mas o que tornava aquele local mais belo era vista para toda a cidade. James sentou-se num banco que se encontrava solitário na extremidade, sendo seguido de Harry.
_ Sabes… eu e o meu pai costumávamos vir para aqui. Passávamos horas sentados neste mesmo banco a conversar de tudo um pouco. A minha mãe tinha de nos vir buscar para comermos porque nem nos percebíamos do passar das horas. Numa dessas vezes, ele entregou-me isto.
Abrindo a caixa que segurava, James retirou do seu interior uma Snitch de ouro. Mas ao contrário de todas as snitchs que Harry já vira, aquela possuía detalhes prateados sobre o dourado da bola. No centro um “P” era visível.
_ Ele deu-me no Natal do meu segundo ano. Eu tinha entrado nesse ano na equipa de Quidditch e estava delirante. Ele disse-me que esta bola era um legado. Um presente de um pai para um filho. Para que eu jamais me esquecesse a minha paixão de voar.
_ James… eu… se eu pudesse eu mudaria as coisas. O problema é que, embora tenha o poder de mudar as coisas, eu não tenho esse direito. Por mais que desejasse proteger cada um, eu não posso.
_ Nem mesmo destruir Voldemort?! És o seu inimigo, não és?
_ Sou mas isso não muda nada. Tu estavas na reunião, portanto deves ter ouvido quando disse que não posso antecipar as coisas… por mais que me seja doloroso.
_ Harry… - avelã encontrou esmeralda – Desculpa-me! Por tudo! Pela maneira como te tratei e, principalmente, pelas coisas que te disse. Tu não és como Voldemort. És o oposto! E… podes ter a certeza de que não tenho vergonha de seres meu filho. Eu apenas falei no calor da discussão. Será que algum dia irás perdoar-me?
_ Magoaste-me imenso…
_ Eu sei… sou um idiota, casmurro, egoísta, insensível…
_ Não te esqueças do arrogante!
James soltou uma pequena gargalhada.
_ Pronto… eu sei que sou isso tudo, às vezes.
_ Só às vezes? – um sorriso trocista apareceu nos seus lábios
_ EI! – Olhou para Harry como se este o tivesse ofendido mortalmente, dando-lhe, de seguida, uma cotovelada.
_ Então?! Pedes-me desculpa mas atacas-me? Não sei se sabes mas este não é o melhor método de entrar na minha lista branca!
_ Eu sei… desculpa!
_ Bem… acho que o céu vai cair porque hoje só me pedes desculpa!
_ Tens razão. Não precisas de me desculpar!
_ Não?!- Harry olhou confuso para James.
_ Porque desculpas não são suficientes. Magoei-te da pior maneira possível e não existe palavras que te possam recompensar… por isso… vou ter de te mostrar!
_ Mostrar? E como vais fazer isso?
_ Oh…tenho uma ideia ou duas! Por isso só aceito o teu perdão depois de cada um delas.
Novamente o silêncio se abateu sobre eles. Harry podia sentir que o ambiente de brincadeira começava a dissipar-se, enquanto observava James a fixar o seu olhar na cidade e a sua expressão endurecer.
_ É só que… quando soube que eras o Magid Dourado e o que podias fazer, a minha mente não conseguiu evitar divagar. Pensar no que teria sido se aquele dia não tivesse acontecido.
_ James, tu não o podias evitar. Eu sei que te sentes culpado… acredita, eu mais do que ninguém percebo como te sentes. Então quero que oiças com muita atenção o que te vou dizer.
James virou-se para ele enquanto Harry continuava:
_ Existem coisas na vida sobre as quais não temos controlo por mais fortes que sejamos. Existe sempre uma fraqueza em nós que os nossos inimigos exploram.
_ Foi isso que aconteceu com Voldemort?
_ Foi! – suspirando tristemente - Voldemort queria destruir-me e ele sabia o que teria de fazer para o conseguir. Ele atacou de tal maneira as pessoas que eu amava que eu cheguei a pensar que tudo aquilo era culpa minha… que me deveria afastar e permitir que eles vivessem uma vida feliz e segura.
_ Mas Harry, eles amam-te! Eles jamais seriam felizes sem ti, sabendo que estarias algures a lutar.
_ E caso eles morressem?
_ Não seria culpa tua. Eles jamais se perdoariam se não pudessem evitar que algo de ruim te acontecesse, mesmo que para isso a sua vida tivesse de ser disseminada. Amigos e família são isso mesmo: o nosso apoio, aqueles que nos protegem…
Harry sorriu para ele, confundindo-o.
_ Falaste a verdade. Eu apercebi-me disso e agora quero que tu te apercebas. O teu pai, o meu avó, protegeu-te porque te amava. Defendeu as pessoas que dele precisavam, porque acreditava nelas. A morte é irrefutável e invencível! Ela chega sem avisar e leva de nós alguém que nos é querido. Mas, tudo isso é secundário quando defendemos quem amamos. Como neto de Robert Potter, sinto crescer em mim uma ânsia de mudar as coisas, trazê-lo à vida! Mas como Magid, sei que isso não resolveria as coisas e que tal não me é permitido. Mesmo nós, Magids, temos de obedecer às leis da Natureza! Se existe alguém culpado, esse alguém é Voldemort.
_ Lily disse-me exactamente a mesma coisa. Às vezes pergunto-me onde está o mundo pelo qual o meu pai tanto lutou.
_ Como assim?
Olhando para a cidade, James respirou fundo.
_ O meu pai acreditava nas pessoas cegamente. Acreditava no bom das pessoas, de que elas eram capazes de criar algo belo e pacífico. Toda a vida lutou por essas pessoas e pelos seus sonhos. Mas, a cada dia que passa, sinto como se o mundo pelo qual o meu pai lutava, se tratasse mais de uma fantasia do que uma realidade. Olho para cada pessoa e apercebo-me de que existe sempre algo de egoísta nas acções dela. Parece que cada um deseja evidenciar-se mesmo que tenha de passar por cima de outros. Assassinos… psicopatas… Tudo se baseia em poder e dinheiro! Prestigio e influência! Eu já não vejo o mundo que o meu pai via. – pequenas lágrimas começaram a formar-se nos seus olhos - sinto que perdi a esperança. A esperança que o meu pai plantou em mim. Agora… já não o tenho junto a mim. Foi-me tirado pelas mesmas pessoas que vivem pela ganância.
Harry deixou que seus olhos também se focalizassem na cidade que se estendia ao longo da base da colina. Fechou os olhos deixando que sua mente vagueasse pelas ruas de Godric’s Hollow… memorizasse cada detalhe das fachadas das casas… entrasse em cada casa, acariciando os sonhos dos seus ocupantes.
_ Como Magid já vi muitas coisas no mundo. Vi a face mais negra e sombria da alma Humana. A sua sede de vingança, de poder, de prestigio… Vi famílias destruídas… sentimentos que se apagam pelo ódio… vi assassinos… vi a parte mais vil de cada um em toda a sua glória. Comecei a compreender que para muitos não existem limites, nem barreiras que não possam ser ultrapassados. Não interessa quantos pisassem pelo caminho, quantos sonhos destruíssem e quantas vezes manchassem suas próprias mãos com sangue de outros.
“Mas… quando sinto que a minha crença na natureza humana começa a falhar… fecho olhos para mundo em que todos lutam apenas por si e por mais ninguém e abro a minha mente e alma para as vozes solitárias que sussurram pedidos belos e graciosos para alguém que os possa ouvir. E eu oiço James… eu oiço! Jamais deixei de ouvir! “Consigo, neste momento, ver o sonho de Hank, um rapaz de 7 anos que mora na casa número 4, em que ele passeia de braço dado com a mãe e o pai pelo parque logo após o almoço de Natal. Ele corre pela neve, dirigindo, de vez em quando, um sorriso de pura felicidade para os pais.
“Consigo ver o pequeno Richard a espreitar do cimo das escadas para a sala, na esperança de ter um pequeno vislumbre do Pai Natal. No entanto, sei que ele irá provavelmente adormecer mesmo antes das 11 badaladas da noite.
“Consigo ouvir a mesma história que Catherine ouve neste momento sentada no colo do pai. É uma história sobre fadas e unicórnios e um jardim encantado onde os sonhos podem se tornar realidade por belas flores.
“Consigo ouvir a voz suave do pequeno William, enquanto este faz uma singela oração enquanto ajoelhado aos pés da cama. Ele não deseja belos presentes, nem doces para o Natal…ele apenas deseja que o seu pai, um auror que está nesta noite em serviço, chegue a tempo do Natal. O que ele não sabe é que o pai faz secretamente o mesmo pedido em Londres.
James fixou o seu olhar no rapaz sentado à sua direita. Ainda haviam pequenas gotículas cristalinas das lágrimas que ele não deixava cair…mas… a expressão de ódio que se formara pelas lembranças do dia em que perdera o seu maior herói começavam a dissipar-se. Olhava para Harry com esperança. Esperança de que ainda existisse algo de belo e inocente no mundo. Tentava ver nas palavras de Harry o mesmo que vira toda a sua vida antes da morte do pai… o mesmo pelo qual Robert Potter lutara toda a sua vida: por todas as coisas ainda cheias de luz que existiam no mundo!
_ E nesse momentos - continuou o Magid Dourado - sei que existe algo por que lutar. Algo que ainda se manteve puro no oceano de mentiras que inunda o mundo. Essas vozes solitárias não são tão solitárias como imaginava. Não são apenas as crianças que acreditam na essência pura de cada pessoa! Muitos outros… jovens que desejam tornar o mundo melhor… adultos que lutam por um futuro mais promissor para aqueles que amam… idosos que tentam ensinar outros… ensinar os erros que cometeram para que outro não os cometa… ensinar filosofias e, principalmente, recordar a um alguém os sonhos que tiveram mas que o mundo os fez esquecer.
“ Sei finalmente que tenho uma razão para lutar e para aguentar a mentira e a omissão que mantenho para todos que amo: ELES! Todos eles…todos aqueles que ainda acreditam no mundo…que ainda lutam por um amanhã mais feliz e mais pacifico… Luto por todos eles, todos os dias, sem cessar ou esperar… sem deixar que o cansaço e as feridas da guerra apaguem em mim a força de lutar. Posso ser muito novo, mas já vi tanto que sinto que a minha alma possui a idade do mundo! No entanto, não paro e jamais irei parar porque eu oiço cada uma dessas vozes e nelas retiro a esperança de um futuro mais belo!
Voltando a olhar para James, não deixou que este desviasse os olhos para que as lágrimas, que ameaçavam acariciar suas faces, fossem vislumbradas.
_ Conto-te isto porque sei o que estás a sentir neste momento e o que sentiste na morte do teu pai. Sei que a dor é demasiadamente grande…que várias vezes deves perguntar-te o porquê de continuar a lutar se no final apenas a morte injusta e fria nos aguarda?! A resposta é simples: porque o mundo deve ser salvo! O teu pai viu um mundo que ainda tinha muito para dar… muitas vozes que não se silenciavam! Protegeu quem necessitava dele e ao fazer isso as asas da morte roçaram sobre si. Mas acho que ele não se arrependeu de estar naquele momento na rua, nem de ter ido em socorro de quem estava indefeso. Acho que se ele deve ter partido com algum arrependimento, este se deveu a ti.
_ A mim?
_A ti! Porque te deixou só…porque agora deixaste de acreditar no mundo que ambos adoravam. Porque sentes em ti uma culpa que não é tua e um desejo de vingança que não deveria estar aí. Se lutares contra Voldemort e todos aqueles que estão sobre seu comando deverá ser porque acreditas naqueles por quem lutas…porque acreditas naquilo que teu pai acreditava quando bramiu a sua varinha uma última vez. Por que desejas honrar todos aqueles que morreram a lutar na ânsia da justiça.
“ Não vês James?! Esta noite mostraste-me o Robert Potter que conheceste. Contaste-me pequenas coisas que faziam juntos. É assim de deves recordá-lo! Pelo que ele fez ao longo da sua vida e não pelos assassinos que têm o sangue dele a banhar suas mãos. Eles não merecem ser recordados mas o teu pai sim!
Levantando-se de repente, estendeu a mão para James:
_Por isso vais hoje fazer algo que deverias ter feito à mais tempo. Hoje vais visitar o túmulo do teu pai!
James ergueu-se de sobressalto, olhando assustado para Harry.
_ O QUÊ?! NÃO… não…eu não estou preparado. Eu não sinto que devo…
_ Pelo contrário James. Não só acho que estás preparado como também precisas! Precisas disto faz muito tempo.
_ Harry…
_ Nem Harry, nem meio Harry! Vais e pronto. Como queres resolver as coisas entre nós se ainda não resolveste com o teu pai?! Uma geração de cada vez. – sorrindo matreiro para ele - Se não… não aceito desculpas algumas!
James ficou a olhar para ele durante os segundos como se decidindo o que fazer. Sentia em si uma vontade de ir ao cemitério, um local que já evitava havia muito tempo. Mas, por outro lado, havia um medo…um receio. Não sabia se a ferida que havia em si, que durara tanto tempo a melhorar, iria abrir-se e sangrar sem parar.” Não… ela jamais fechou…jamais cicatrizou!”
Uma onda de confiança inundou-o. Sabia que era capaz disto tal como sabia que Harry estaria do seu lado, a apoiá-lo!
_ Deixa-me só ir ao meu quarto buscar as vassouras.
Quando se preparava para caminhar em direcção à porta do terraço, ficou estupefacto quando Harry o impediu. Olhando para ele, reparou que um sorriso traquina começava a aflorar dos lábios do Magid.
_Isso não será necessário. Acho que tenho uma solução muito melhor.

* * *

Suaves ondas de nevoeiro dançavam pelo cemitério, envolvendo cada campa… dando um aspecto ainda mais fantasmagórico a um local que por si já possuía essa caracterização.
Quando dois pés pousaram lentamente sobre o chão, o manto branco intacto, elevou-se ligeiramente.
James olhou em volta, tentando ganhar coragem. Ao seu lado, a bela Fénix que vira, dias atrás, junto com Merlin numa noite de lua cheia, pousou suavemente sob uma rocha.
Mas onde antes estivera uma bela Fénix dourada, encontrava-se agora a figura conhecida de Harry.
_ Não sei o que me surpreende mais: se o facto de seres um animagus ou o facto do teu animal ser uma Fénix.
_ Não sei o que existe de surpreendente nisso, afinal, tu próprio és um animagus.
_ Sim… mas não sou uma Fénix. Na realidade, não sabia que era possível transformar em animais mágicos.
_ Não é – Harry piscou o olho trocista – pelo menos para a maior parte das pessoas. Apenas os Magids o conseguem.
_ Então quer dizer que todos os Magids têm a sua forma animaga.
_ Sim… as suas formas animagas correspondem às figuras desenhadas no dorso da capa.
James ficou alguns segundos a recordar-se das vestimentas até que uma expressão de incredulidade se formou.
_ O Dumbledore é um dragão?
_ Hum… Hum!
_ Bem… por falar em surpreendente! – para enfatizar a sua surpresa, assobiou baixinho, soltando umas gargalhadas a Harry.
_ E… vocês também têm nomes como Prongs ou Padfoot?
_ Nada tão forte como os vossos nomes, diga-se de passagem, mas temos sim. O meu é Abner, que significa “ pai da luz”.
Novamente silêncio se abateu entre os dois. De vez em quando, James olhava de relance para uma parte do cemitério, desviando o olhar logo de seguida.
_ James?
_ Sim…
_ Não podes evitar isto para sempre. Tens de fazer isto.
_ Vens comigo?
_ Acho que é melhor fazeres isto sozinho. Mas se precisares, podes chamar-me a qualquer momento.
Acenado levemente com a cabeça, começou a caminhar com Harry em direcção à parte do cemitério reservada à família Potter. Mas, tal como havia dito, Harry não passou do portão, deixando-se ficar à entrada, de modo que James pudesse ter alguma privacidade.
Este caminhou alguns metros até parar num túmulo muito belo, mas não menos triste: o túmulo do se pai.
Olhando por cima de outro, constatou que Harry ainda estava no mesmo local, o que lhe deu uma certa sensação de segurança e conforto.
Ajoelhando-se aos pés do túmulo, começou a observar cada pormenor deste. Era a primeira vez que o via. No dia do enterro não conseguira sair do quarto. Ele sentira que se fosse ao funeral e visse o pai dentro de um caixão, a realidade da partida dele seria irrefutável. Assim, podia viver na ilusão de que tudo que se passar apenas se tratara de um pesadelo e que iria acordar na sua cama e ouvir a voz do pai no andar do baixo.
Mas, agora sabia que essa fantasia não podia existir. Já se haviam passado 5 meses… 5 meses de negação. Chegara a altura de aceitar para poder viver o seu futuro sem dúvidas e arrependimentos no passado.
O túmulo do pai era branco com um delicado anjo deitado na margem superior. Belas flores adornavam o túmulo: orquídeas! As favoritas do pai. No entanto, as lágrimas que James segurara durante toda a noite, ameaçaram cair quando leu a inscrição: “ Aqui jaz Robert Potter. Amigo incondicional, Marido exemplar e Pai Dedicado! Porque ele acreditou no mundo e lutou por ele, nós também iremos!”
_ Olá pai! Desculpa a demora. Mas como tu sempre dizes “ nós nunca estamos atrasados se realmente quisermos estar num lugar”. É que… isto é tão estranho… Eu… eu… não consegui vir. É demasiado! É forte demais! Mais forte do que eu! Porque é que tinhas de me deixar só? Foi culpa minha? Deveria ter agido mais cedo?
Calou-se por uns segundos, como que a aguardar uma resposta que sabia que não viria.
_ Toda a gente diz que não tive culpa mas, mesmo assim… é tão difícil pensar naquele dia. Eu queria tanto que estivesses aqui… tanto! Mas não estás!
“ Sabes o que é mais irónico?! Sofri tanto quando te afastaste de mim que cometi o erro de afastar o Harry de mim. Sabes?! O Harry?! É um pouco estranho conhecer o nosso futuro filho quando este tem a nossa idade. Mas, ei, é como tu sempre dizes “ Nesta família o estranho vive connosco”. Ele é fabuloso. Terias muito orgulho nele. Muito mesmo. Sei disso porque eu estou orgulhoso dele. O problema foi que fiz borrada, não foi?! - soltando uma gargalhada triste - deves ter visto tudo de onde quer que estejas. Acho que deve ter-te dado vontade de me dar uns belos cascudos! Nem sei porque disse aquelas coisas…
“Agora, estou aqui, no meio da noite, a menos de uma hora para o Natal, a conversar sozinho, no centro de um cemitério, para o teu túmulo. O túmulo que nunca tive coragem de ver. E por mais que me doa, que mais que me pese, não sinto aquele pavor que julgava que sentiria. Só te quero pedir perdão. Perdão pelas coisas que fiz e não fiz! Pelas coisas que disse e não disse! E, principalmente, perdão por nunca te ter visitado, nunca te ter falado e por me deixar abater pela dor, algo que sei que reprovarias!
“Por isso, para além do perdão, peço-te ajuda. Ajuda com o Harry! Eu magoei-o tanto que quase nem sei como fechar as feridas que abri. Por isso eu peço que puxes alguns cordelinhos, onde quer que estejas, e me ajudes a fazer as pazes com o Harry. Eu não sei se aguento perder o meu futuro filho também!
Secando as lágrimas do seu rosto, olhou resolutamente para a frente.
_ Vou deixar de ser um chorão e vou agir. Desejo-te um Feliz Natal, Pai! Mesmo que não estejas comigo neste momento, quero que saibas que não te vou decepcionar. Eu juro-te…. Juro-te mesmo, que eu, James Potter, vou lutar e defender o mundo em que acreditas! Porque se tu acreditavas, eu também acredito!

* * *

_ Obrigada!
_ Pelo quê?
_ Por teres ido comigo ao cemitério. Acho que estava a precisar.
Harry limitou-se a sorrir. Poucos minutos faltavam para o Natal, e tanto ele como James andavam a caminhar lentamente pelas ruas antigas de Godric’s Hollow, com apenas um gelado de companhia.
Pouco a pouco, várias pessoas saíam das suas casas, agasalhados com quentes casacos e mantos e com crianças ao colo.
_ Onde é que eles vão?
James sorriu divertido.
_ Para o mesmo sitio que nós vamos! É uma tradição aqui da cidade. As crianças e moradores vão para a cama cedo apenas para se levantarem a poucos minutos da meia- noite.
_ Porque é que eles fazem isso?
_ Para que possam sonhar com os presentes de Natal antes deste chegarem. É uma tradição muito antiga e um pouco maluca, mas, ainda assim, tem o seu encanto.
_ E, afinal, para onde vamos?
_ Vamos ver o Natal nascer!
Agarrando num braço de Harry, começou a correr na mesma direcção que todos os habitantes iam. Quando chegaram ao local, Harry não conseguiu conter um sorriso.
Todos se encontravam, numa praça completamente às escuras. Uma praça onde estava coloca uma grande árvore de Natal, sem que, no entanto, as suas luzes estivessem acesas.
Olhando para James, este apenas fez-lhe sinal de silêncio.
De repente, o relógio da cidade começou a tocar as badaladas da meia-noite.
Uma…
Todas as crianças começavam a acordar e olhavam em torno de si completamente extasiadas.
Duas…
Famílias reuniam-se, unindo, por vezes, as mãos.
Três…
Um bela melodia começou a tocar enchendo cada um dos pressentes de esperança.
Quatro…
Luzes em torno de um lago próximo da árvore começaram a acender-se.
Cinto…
Luzes essas que ficavam cada vez mais intensa.
Seis…
A água do lago começou a ganhar vida.
Sete…
Descrevendo no ar desenhos natalícios.
Oito…
As árvores em torno da praça começaram a iluminar-se.
Nove…
Começou a cair neve muito lentamente…
Dez…
Suavemente, tocando as faces de todos.
Onze…
As luzes da árvore de Natal começaram a acender-se…
Doze…
Uma explosão de cor tomou conta de Godric’s Hollow! Fogo de artificio… feitiços lançados ao ar… a água do lago que se projectou muito alto que parecia tocar o céu… bonecos de neve conjurados por toda a praça… crianças a correrem divertidas… famílias a abraçarem-se
Este sim era o espírito de Natal.
Olhando para o lado, reparou que James o observava com um sorriso nos lábios.
_ Feliz Natal, Harry!
_ Feliz Natal, James!

* * *

A multidão gritava extasiada para os jogadores. Estes limitavam-se a focar a sua completa atenção no jogo e na sua tarefa. Vassouras a cortar o céu da manhã velozmente… bludgers arremessadas com brutalidade… uma quaffle que deixava-se ser lançada de jogador em jogador, na esperança de passar por um dos aros… uma snitch dourada a esconder-se dos seekers.
Este era o típico jogo de Quiddtich! Mas desta vez não era em Hogwarts, nem os jogadores eram alunos. Desta vez, os jogadores eram profissionais e o jogo era em Londres!
Harry e James Potter olhavam extasiados para o jogo que se desenrolava à sua frente, fascinados com o talento dos jogadores.
_ SEU IDIOTA! A SNITCH JÁ PASSOU POR TI 5 VEZES E TU NEM PESTANEJASTE!
Bom… pelo menos quase todos os jogadores.
_ Este tipo é uma nódoa como seeker. Mas o que estariam a pensar quando o convidaram para ser jogador profissional?!
Olhando para o cachorro quente que tinha na mão, James deu-lhe uma forte dentada, imaginando que estava a arrancar a cabeça ao seeker em jogo.
_ Não me perguntes a mim. Não te esqueças que não sou deste tempo. Agora… não é preciso ser deste tempo para perceber que ele anda ali no ar às aranhas. CEGO!! A SNITCH ESTÁ À BEIRA DOS POSTES!
_ Qual é o nome desta bebida, outra vez? – perguntou olhando para o copo que tinha na mão.
_ É coca-cola. É uma bebida muito popular no mundo dos Muggles. EU NÃO ACREDITO QUE ELE ACABOU DE SE ESPETAR CONTRA OUTRO JOGADOR!
_ SE NÃO SABES JOGAR, PELO MENOS NÃO ATRAPALHES, Ó PALHAÇO! – tomando um gole da bebida – É muito bom. Não admira que os muggles gostem tanto. Para não falar dos cachorros quentes. Acho que me viciaste nisto.
Naquele momento, o seeker da outra equipa começou a voar velozmente atrás da snitch, perdendo-a de vista apenas quando foi quase atingido por uma bludger perigosa.
_ O que lhes vale, é que os beaters são bons. Porque se depender daquele seeker… SABES QUE A VASSOURA É PARA VOAR, NÃO SABES? ENTÃO USA-A! ATÉ A MINHA MÃE VOA MELHOR DO QUE ISSO! - voltando a sua atenção para Harry - Agora diz lá se o teu futuro pai não teve umas ideias fenomenais de como passar o Natal em cheio.
_ É... até teve. Passamos a noite em claro a saltitar de cidade em cidade, a ir ao cinema…
_ Ainda não percebi como aquilo funciona - resmungou James, levando um sorriso aos lábios de Harry.
_ A bares… a parques… a pistas de gelo...
_ O que me valeu uma bela queda de rabo…
_ E…para terminar em grande… um jogo de Quidditch, feito no dia de Natal, com intenções solidárias, a comer comida Muggle – tornando-se pensativo durante uns minutos – É! Este Natal está a ser fenomenal!
_ Só não te esqueças a quem deves agradecer por isso! SEU RETARDADO, A SNITCH JÁ PASSOU POR MIM 2 VEZES!

* * *

_ Ainda bem que vamos fazer a viagem de Hogsmead para Hogwarts nas carruagens. Por mais que adore voar, acho que não tinha forças para tal.
Harry entrou na carruagem e deixou-se cair preguiçosamente num dos assentos, enquanto James fazia o mesmo à sua frente.
_ È verdade!
Ambos os Potters fecharam os olhos por uns segundos.
_ Mas sabes uma coisa?! Por mais cansado que esteja, esta noite valeu cada minuto dela!
_ Ainda bem que gostaste! - Abrindo os olhos, James encarou Harry seriamente – Acho que chegou a altura do teu veredicto.
Harry abriu os olhos confuso.
_ Veredicto?
_ Sim… tínhamos combinado de que irias decidir se me irias perdoar ou não depois da nossa pequena aventura.
_ Achas mesmo que se ainda estivesse zangado, eu iria continuar a falar contigo… melhor… teria ido contigo para todo o lado?
James olhou receoso para ele.
_ Então… isso quer dizer que me perdoas?
_ Não digo que não me magoaste… nem que não disseste as piores coisas que poderia ouvir… nem que não cheguei a pensar que nunca iríamos ficar amigos novamente. Mas… eu sei o que é perder a cabeça e dizer coisas que não se sente realmente. Além disso, hoje fizeste-me viver o melhor Natal de sempre! E isso é o maior presente que eu poderia receber.
_ Harry?
_ Hum…
_ Eu adorei passar este Natal contigo. Não sei se terei muitas oportunidades para o fazer no futuro, mas pelo menos já o fiz agora.
Harry olhou assustado para ele.
_ O que queres dizer com “Não sei se terei muitas oportunidades para o fazer no futuro”? O que foi que os outros Magids te contaram?
_ Eles não me disseram nada. Eu apenas deduzi! Acho que não vou ficar muito tempo contigo, não é?
_ James… - Harry não sabia o que dizer. Era um assunto por demais delicado e que não desejava tocar.
_ Não precisas de dizer nada porque eu não quero saber. Não me importa se vivo até aos 100 anos ou até aos 20. A única coisa que me importa saber é se…caso tenha morrido no teu tempo, algo que estou convicto que aconteceu, foi a proteger-te?
Harry olhou emocionado para ele. Será que aquele era o verdadeiro James Potter? O mesmo que dava significado total ao conceito maroto? Que gritara para ele coisas horríveis a pouco menos de uma semana?
_ Sim… mas…
_ Então é tudo que eu preciso saber!
_ Mas não queres saber mais sobre o teu futuro… sobre o que sofreste… como morreste?
_ Sabendo que vivi tempo suficiente para pelo menos pegar-te ao colo e que morri para te proteger, basta para mim. Tudo o resto é secundário.
Inclinando-se para a frente…
_ Harry?
_ Sim…
_ Pede um desejo!
_ Como assim?
_ Pede um desejo! Seja ele qual for!
_ Porquê? Achas que o podes realizar?
_ Posso não ser um Magid como tu…mas tenho os meus truques!
_ Disso não tenho qualquer dúvida!
_ Então pede… Eu torno-o possível! Hoje e Sempre!
_ Mas eu não posso pedir…
_ Porque não?
_ Porque tu já o realizaste! Toda a vida desejei ter alguém que fizesse parte da minha família. Desejei passar o Natal com alguém que se importasse comigo… Tu tornaste isso possível! Agora sou eu que digo que não preciso de mais nada!
A carruagem parou, tirando os dois adolescentes do transe.
Descendo da carruagem, começaram a caminhar em direcção a Hogwarts, onde amigos os aguardavam, para um almoço natalício.
_ Sabes de um coisa? – perguntou repentinamente Harry.
_ O quê?
_ Já que me deste um presente de Natal tão especial, também te vou dar um.
_ Como assim?
_ Sabes o que acho extremamente engraçado? – Harry parou à frente da grande porta de madeira do castelo.
_ O quê?
_ Como as pessoas ignoram as coisas mais óbvias! – disse soltando uma leve gargalhada.
_ Não estou a perceber.
_ Durante todo o tempo que estive aqui, tu perseguiste-me com a mesma questão à qual ainda não respondi. Mas o mais engraçado é que a resposta para essa mesma questão sempre esteve na cor dos meus olhos!
Sorrindo abertamente, Harry entrou no castelo deixando um James Potter petrificado no exterior.
Passados alguns segundos, um grande sorriso desabrochou dos lábios de James, seguido de uma salto no ar e um grito de vitória.
Naquele momento, o dia de James Potter tornara-se ainda mais belo!

* * *
Era incrível o impacto que o Natal tinha em todas as pessoas. Por mais negra que fosse a sua história de vida… por mais frio que fosse o seu coração, existia sempre uma luz que penetrava em cada um, levando a algo mais precioso e singelo.
Se Harry pudesse descrever aquele Natal, palavras não seriam suficientes para o exprimir.
Tudo o que poderia dizer era que começara com dois jovens, de mochilas às costas, a aventurarem-se na noite e terminar num jantar alegre e mágico, com todos os seus amigos, Magids ou não… do passado ou não.
E depois do jantar, todos se sentaram à frente da lareira a descobrir os seus presentes. Harry iria sempre recordar a sensação de ter a namorada aninhada nos seus braços enquanto esta abria uma das suas prendas… ou o abraço fraterno de Ron… os sorrisos cúmplices que trocara com James… o beijo carinhoso na bochecha que recebera de Lily.
Harry sentira finalmente de que estava em casa. Porque estava com os outros Magids… e com os seus amigos… e com os seus futuros pais…
E quando viu James a desembrulhar o seu presente, uma ansiedade se apoderou dele. Sabia que se existisse algo que desejava dar a James, era aquilo.
Quando James se deparou com o desenho de criança, o mesmo desenho que Harry oferecera ao tio muitos anos atrás só que com o boneco do tio apagado, um sorriso não foi evitado.
Aproximando-se de Harry, sussurrou:
_ Aqui está o teu presente. Cuida bem dele!
Abrindo a caixa, Harry olhou para James chocado.
_ James… eu…eu… não posso aceitar. Isto é muito importante para ti.
_ Não tenho qualquer dúvida de que és a pessoa ideal! Isto é para ti!
Segurando a snitch nas mãos, Harry limitou-se a sorrir. Sabia que palavras não eram necessárias.
Sim… o Natal tinha um poder nunca antes conhecido! Era capaz de curar um coração despedaçado de um filho… de trazer esperança para um pai… de unir amigos e conhecidos… irmãos e filhos…
O natal lançava seu laço colorido e conseguia unir aquilo que antes estivera separado.
Mas o natal não era luzes e enfeites… nem bolos e melodias.
O Natal era algo mais perfeito… mais intenso… presente num acto de Amor.
E como o Natal é demonstrado?
O Natal pode ser demonstrado de várias maneiras.
Mesmo sob uma forma tão singela como um desenho de criança e uma snitch!




Nota da autora:

Finalmente as pazes! Demorou mas acabou por chegar.

Agora a pergunta principal é: Será que valeu a pena a espera?

Por favor, comentem… digam o que acharam… qual foi a pior parte e como a mudariam… e qual foi a favorita.

Desejo a todos um Natal Mágico…

Beijos da Grãmagid, Lightmagid

ps.: obrigada guida! Obrigada por teres tido o trabalho de betar este capítulo no dia de Natal! És a maior!

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