Sir Nicholas de Mimsy-Porpingt



Nota de autora:

Um pedido de desculpas dificilmente chegará mas ainda assim eu irei tentar: Meus adorados leitores, amigos, ameaçadores e afins, peço desculpa pelo atraso. Um Atraso muito maior do que esperava. A questão foi que, embora tivesse este capitulo já há muito escrito, guardado numa pasta esquecida do meu computador, eu não queria postá-lo assim… apenas 1. Irão entender rapidamente, se ainda conseguirem aguentar mais um capitulo desta fic, que existem várias lacunas que apenas seriam compreendidas no próximo capitulo.

Mas como já compreendi que se não postar nunca mais me obrigo a escrever, decidi fazê-lo. Tentarei escrever o próximo ainda esta semana para que possam compreender o que a minha louca mente tentou fazer.

Quero agradecer a todos aqueles que não desistiram de mim e à minha mana Guida por ser incrivelmente chata no que toca a obrigar-me a escrever.

Espero que gostem e espero realmente postar brevemente.

Comentem, por favor!!! Os vossos comentários incentivam-me a escrever…

Beijos directamente de Asera, Lightmagid


* * *


Capitulo 36: Sir Nicholas de Mimsy-Porpington


Aguardo que algo aconteça... algo especial e muito mais profundo do que um mero “qualquer coisa”. Mas vejo o meu desejo negado e sinto as areias do tempo deslizarem em tal preguiçosa harmonia que me faz tremer sobre o impacto da minha impaciência.

Quanto tempo mais terei que aguardar para os portais sucumbirem à minha presença? Exijo aqueles que me devem lealdade…exijo que esses meros portais, criados antes da minha existência, se rompem e deixem de lacrar aqueles que acalentam o sussurro do meu comando. E sinto minha essência rugir em raiva contra essas muralhas formadas com o intuito de separar os mortais e o mundo a que chamei “meu” nas últimas eras.

“Proteger a alma mortal” dizem eles. Apenas a expressão me faz rir. O homem não merece ser protegido pois, mesmo negando, ele suspira pela escuridão que o rodeia.

Eu sei porque, milénios atrás, nasci por entre os mortais, sem nunca lhes pertencer. Não... sempre fui diferente, único… e isso criou terror sobre aqueles que me conheceram. Sou fruto da essência maligna, não sinto compaixão, nem ódio... apenas uma leve curiosidade. Foi essa mesma curiosidade que me fez explorar o mundo. Viajei para terras tocadas pela mão humana, conheci culturas distintas, aprendi as palavras que rebolavam pela língua dos mortais, procurando... procurando... nem eu sabia o quê. Talvez a razão porque a força que rege a existência achava que os mortais eram especiais devendo ser poupados... protegidos.

Inocentes são eles por acharem que são inocentes! Descobri a semente negra que existe dentro de cada um deles e vi como o homem é tentado por ela. É fraco e cede. Mas cede sem grandeza, sem força de espírito, sendo pobre até na escuridão, nunca assumindo quem pode ser... sempre justificando, achando que controla o seu destino e o destino de outros mas sem nunca o fazer.

A curiosidade foi-se extinguindo e senti tédio porque nada me cativava nos mortais. O desprezo por estas formas de existência foi crescendo mas nunca o ódio... Não... nunca senti ódio porque nunca fui levado pela tentação de me aproximar mais para o sentir. Desprezo sim... oh sim! Desprezo por seres inferiores e decididos a viver na sua mediocridade.

Queria algo mais... algo que me captasse a atenção enquanto varria o olhar sobre o mundo. Algo que quebrasse o tédio e me fizesse querer brincar. Afinal do que valeria apagar a chama da vida se não existisse algo que tentasse afastar o meu sopro de tão frágil labarela?

Caí no sono profundo! Se pudesse ser morto pela ausência de emoção teria morrido. Onde estava?! Onde estava a grandeza dos mortais? Onde?!

Quando achava que nada mais me iria acordar, eis que aconteceu! Algo despertou a minha atenção...algo não: alguém! Eu sabia que existam magos que eram seleccionados para um poder maior... inimigos criados para mim!

Mas só quando ele surgiu no mundo dos mortais é que desejei voltar a esse mundo enfadonho e desprezível. Abner...forte e misterioso Abner! Foste criado para mim, para me entreteres... para seres meu caçador e eu o teu! Foste trazido à existência muito semelhante a mim. Porque por entre a tua alma humana e desejosa de proteger, tinhas garra, presença... instinto!

E eis aquilo que procurara durante tantas Eras: um jogador, alguém que tornasse a partida interessante. Que pensavas Abner? Que foste criado para vencer aquele mero mortal Lord Voldemort? Ele não te merece. Ainda agora, enquanto observo Igneos (lembras-te de Igneos, Abner? Mas é claro que te lembras!) gozar com o teu mago... torturá-lo com meras palavras, reparo na sua inferioridade relativamente a ti. Sabes que o mantenho ao meu lado apenas para atingir os meus objectivos, não sabes? Mas é claro que sabes. Como poderias não saber? Apenas tu mereces a minha atenção. Mesmo os outros Magids são fracos quando ao teu lado. Até eles cederam à semente negra dentro de si nalgum momento.

Mas tu não! Tu mantiveste-a trancada, lacrada, reconhecendo a sua existência mas vencendo-a com impiedade. Por isso é que te tornaste senhor da minha atenção. Porque sabes quem és e à tua essência mas ainda assim és o meu oposto. Iguais na diferença!

Deverias sentir-te elogiado Abner. Foste o único que criou em mim outro sentimento. Um que jamais pensei um mortal fazer crescer em mim. Respeito!

Respeito-te meu inimigo. E bato palmas à tua destreza pela facto de estares fora deste jogo e ainda assim marcares a tua presença. Nenhum dos Gamyth se rompeu. Nenhum! Tanto tempo passado e ainda aguardo que a tua magia se desvaneça. Sei que vai acontecer tal como sei que pouco falta para isso, mas ainda assim louvo a tua grandeza. Até sinto saudades tuas, Abner! Apenas tu consegues tornar as coisas interessantes.

Consegues ver-me Abner? Consegues cheirar o sangue que derramarei quando submeter os teus irmãos mortais aos meus comandos? Consegues sentir o sabor da minha vitória eminente?

Consegues, Abner?


* * *

Época medieval, algures no centro de Inglaterra


O som de cascos fê-lo levantar os olhos do balcão de madeira que limpava, para os fixar na janela do pub. O nevoeiro da madrugada não o deixava ver para além do carvalho plantado imediatamente à frente da janela, mas mesmo assim continuou a olhar para ela.

O som de cascos de cavalos normalmente não o faziam pensar duas vezes, uma vez que era o som mais ouvido nas redondezas. Cavaleiros perdidos, soldados sedentos de vinho e carruagens de nobres, faziam-se ouvir, com regularidade, pela vila, parando, como que por obrigação, na única taberna da cidade. Mas tal como o som dos cascos eram comum como o vento, Mortys aprendera desde criança a interpretá-los. Quem comandava o cavalo? Ia com pressa? Alcançara o seu destino ou apenas se encontrava perdido? Era importante ou apenas um mero camponês?

Agora com 53 anos, Mortys sentia já o peso da idade nos dedos calejados e nos ossos rangentes. Mas a audição...essa continuava intacta e pronta para informar a Mortys que género que cliente receberia. Importante, pelo número que cascos que ouvia e pelo facto de apenas um grupo deles liderar. Vinha com pressa e pretendia sair com ainda mais pressa, a sugerir pelo bater impaciente das patas do cavalo contra o chão. Noutras palavras: um bom cliente! Rico e sem intenções de armar confusões.

_Miúdo traz o nosso melhor vinho.

O som de canecas a cair ao chão fê-lo revirar os olhos antes de os fixar para o fundo da taberna para o jovem rapaz que encontrara cerca de uma semana antes. Desastrado e esquisito e sem local onde cair morto. Só apenas por isso, não o deveria ter contratado, mas a determinação que viu no olhar do garoto e o facto de este precisar do trabalho fê-lo dar-lhe qualquer coisa para fazer. Além disso sempre precisava de uma ajuda extra por ali pois as suas forças já não eram como antes.

_ Sim senhor.

Desviou a atenção do rapaz para a porta que acabara de se abrir para dar passagem a 5 indivíduos, reconhecendo de imediato o do centro.

_Lord Woodroft! Quanta honra! Por favor, entre. Nós servimo-lo num instante. Miúdo, então esse vinho?!

_Olá Mortys. Estou a ver que continuas o mesmo. E é claro a tua taverna pouco muda, não é verdade? Até as canecas são as mesmas de quando eu vinha aqui quando garoto com o meu pai.

Mortys soltou o seu sorriso desdentado, enquanto empurrava o seu empregado para a frente, para este servir os cavalheiros.

_ Por isso mesmo continua a ter o seu charme. Trocar canecas e mudar a decoração...BAH! Isto é um local de homens e não de mulheres.

Ouviu o seu cliente rir com gosto enquanto se servia de uma taça de vinho. Reparou que o garoto mantinha-se especado à frente da mesa, olhando nervosamente para o rosto de todos os seus ocupantes.

_ Empregado novo, Mortys? - perguntou Rafael, um dos filhos de um dos maiores nobres da região.

_ É sim. Apanhei-o, há cerca de uma semana, largado no meio da floresta. Quase me juntei à minha velha Mary lá em cima quando este projecto de homem surgiu-me por detrás, completamente banhado em lama e sem um tostão no bolso. Como não tinha onde cair morto decidi dar-lhe emprego.
.
_ Tens um bom coração Mortys. Podes ser um valente de um vigarista, mas tens bom coração.

_Oh não, Lord Rafael. Não sei o que andou a ouvir por ai mas não sou vigarista! - indignou-se - E se foi o raio do Smith que disse isso, ele diz tantas verdades como quantos dentes tem na boca.

Gargalhadas ecoaram pela mesa, pois todos eles conheciam muito bem a legendária disputa entre Mortys, o dono da taberna, e o Smyth, o ferreiro, desde o momento que tinham vindo ao mundo.

_ Como tu Mortys?

Mortys apenas voltou a desenhar o mesmo sorriso desdentado, encolhendo os ombros, divertido.

_ E tu rapaz? Alguma vez trabalhaste numa taverna?

O miúdo pareceu sair do torpor em que se encontrava, olhando fixamente para Lord Woodroft.

_Não senhor. Nunca.

O cavaleiro recostou-se descontraidamente na cadeira, acariciando levemente a barba negra.

_E de onde és?

O rapaz começou a ficar atrapalhado, olhando em sua volta, antes de respirar fundo e responder baixinho.

_De muito longe, senhor
.
_ Longe, ahn? Então o que fazes tão longe de casa, rapaz. Procuras sarilhos?

_ Oh não, senhor. Procuro alguém.

_ Alguém?! Isto soa-me a dama. Não me digas que és um daqueles românticos suicidas que se apaixona por uma filha de nobre. Ouve bem o que te digo rapaz, isso nunca acaba certo!

_Eu não procuro uma dama, senhor.

_ Não? Então quem procuras? Talvez posso ajudar.

Mortys viu o miúdo sussurrar algo de tal forma baixo que tornou impossível a algum dos homens presentes perceber uma palavra. Decidiu intervir.

_O Lord Woodroft fez-te uma pergunta rapaz. Responde!

Os olhos castanhos do mais novo encheram-se de determinação e, quando falou, falou com segurança.

_ Se o senhor é o Lord Hengisto Woodroft até é o senhor que procuro.

O que quer que cada um dos homens esperava ouvir não era aquilo. Todos eles fixaram a sua completa atenção no rapaz à sua frente, tentando estudá-lo ou talvez intimidá-lo. Mas Mortys via agora uma atitude no seu empregado que nunca vira na única semana que o conhecia: alguém que tinha um objectivo e que pretendia concretizá-lo.

Hengisto olhou o rapaz de alto a baixo, sentindo o divertimento desvanecer-se ao reparar no olhar sério do mais novo. O rapaz intrigara-o desde o momento que o vira a servir nervosamente as taças com o vinho rasca da taverna e agora queria descobrir a razão.

_ Posso até ser. Depende de quem pergunta.

Viu o rapaz respirar fundo e dar um passo em frente em plena manifestação de determinação.

_ Longbottom, Senhor. Neville Longbottom.


* * *

Conseguia ouvir os passos furiosos ressoarem pelos corredores, acompanhados pelo escalar das vozes igualmente descontroladas. Após tantas décadas vividas e muitas mais presas naquela forma de existência, já se habituara aos sons que Hogwarts embalava nos seus corredores. Risos de alunos traquinas… passos apressados de alguém que vivera uma aventura proibida… sussurros de conhecimentos provenientes da biblioteca… conversas animadas… gritos… maldições e feitiços.

Mas raras eram as vezes em que as vozes sobressaltadas pertenciam a um professor. Ainda mais raras eram as vezes em que essas vozes trespassavam, não um aluno, mas um adulto.

E depois de tantos séculos privado dos prazeres da vida, apenas aquele lhe restava: a sensação de fazer, de alguma forma, parte da vida académica dos alunos.

_ Não tens o direito, Rufus Scrimgeour! Estes são os meus alunos e não reles bruxos das trevas à espera de serem interrogados. - a voz de Minerva McGonagall fez-se ouvir com clareza, enquanto esta seguia rapidamente as passadas largas do auror pelo corredor do terceiro andar.

_ Neste momento são as únicas testemunhas que temos. Sim… porque parece que, de repente, ninguém sabe o que acontece nesta escola. Ou temos alunos a mais ou alunos a menos. Professores a mais ou professores a menos. Diz-me Minerva, como pode isto ser possível? Se me forneceres uma explicação racional, eu não te importuno mais. Mas até lá, os teus alunos são minhas testemunhas! – Viu o auror dobrar furiosamente a esquina, desaparecendo da sua vista.

Cada vez mais curioso, atravessou duas salas de aula, ignorando as vozes dos quadros que lhe pediam explicações para o alvoroço que passava por eles. Passou uma, duas e três paredes até voltar a visualizar a figura possante de Rufus Scrimgeour a subir as escadas.

_ Diz-me Minerva... – ouviu-o dizer - o que devo eu dizer aos pais preocupados que me vêm exigir saber onde estão os seus filhos? E mais… o que devo dizer a todos os outros pais cujos filhos AINDA se mantêm dentro das mediações do castelo mas que receiam que, tal como aconteceu com outros, os seus filhos desapareçam na calada da noite, SEM VESTÍGIOS, SEM DEIXAR RASTOS E SEM EXPLICAÇÃO?!

A professora estagnou, olhando furiosa para o homem à sua frente, parecendo esquecer-se momentaneamente que deveria segui-lo.

_ Os pais são preocupação minha, Rufus. Não tua!

Aquilo pareceu atingir o homem, que também parou, virando-se para ela com um olhar gélido. Perguntou-se a si mesmo se aquele seria o olhar que lançava quando caçava um bruxo das trevas. Seria aquele o olhar impiedoso que tantos referiam como sendo uma das armas de Rufus Scrimgeour?

_ É problema meu – a voz soava perigosamente calma na sua frieza - a partir do momento em que o dia dos desaparecimentos dos alunos ocorre no mesmo dia em que Hogsmead é atacada por devoradores da morte. É problema meu, quando uma das suspeitas seja uma possível captura por parte de Voldemort. É problema meu porque, embora esse receio esteja bem presente, nenhum dos docentes de Hogwarts se interessa o suficiente para prestar declarações, ou tentar encontrá-los ou…

_ COMO TE ATREVES AFIRMAR QUE NÃO NOS PREOCUPÁMOS?! ESTES ALUNOS SÃO A NOSSA MAIOR PRIORIDADE!

_ Pois olha que não parece, Minerva. - viu-o dar um passo na direcção da professora com um olhar feroz - Diz-me Minerva: há quanto tempo estão os alunos desaparecidos?

Algo mais surgiu nos olhos de MacGonagall, algo que não conseguiu identificar pois tal como aparecera num instante, rapidamente se desvanecera.

_ Há uma semana.

_ Uma semana Minerva. UMA SEMANA! Alunos desapareceram há uma semana! E eu não sei o que tu pensas mas eu não vou ficar parado enquanto alunos desvanecem dentro deste castelo. Visto que não tens resposta para mim, EU vou obtê-las. Só estou curioso relativamente a uma coisa. Quando se deu alarme do desaparecimento dos alunos, tinhas muita certeza de que eles não tinham sido raptados pelos Devoradores da Morte. Como podes ter tanta certeza, Minerva?

Minerva pareceu querer afastar-se do auror, mas manteve-se firme. Durante alguns segundos, hesitou e Nick ponderou se ela iria ou não responder. Recordava-se bem de que momento o auror se referia. Há cerca de 1 semana atrás, o Professor Vector havia dado o alarme de que 5 alunos não se encontravam nas suas camas. Nesse dia, todo o castelo havia sido selado devido ao perigo iminente de uma ataque pelos Devoradores da Morte que se encontravam no vilarejo de Hogsmead. Por isso, quando os Aurores haviam informado os professores que os feiticeiros negros haviam batido em retirada, deixando um rasto de destruição para trás, todos os professores tinham sido incumbidos de visitar todos os dormitórios de modo a confirmar que nenhum aluno se havia aventurada numa cruzada heroicamente estúpida com o intuito de salvar o vilarejo. 5 Alunos estavam ausentes, todos eles da casa de Gryffindor. 3 Alunos oficiais e 2 dos visitantes que haviam chegado àquele tempo, semanas atrás. Todos os professores entraram em polvorosa, querendo iniciar buscas de salvamento, exigindo pedir o auxílio dos Aurores. Os mais terríveis desfechos apoderavam-se das suas mentes: raptados, mutilados ou mortos?

Por essas mesmas razões é que foi um choque quando ouviram a vice-directora, mandar todos para os seus quartos afirmando que nenhum dos alunos perdidos se encontrava em perigo iminente e que nenhum deles tinha sido levado ou ferido por Devoradores da Morte. Sir Nicholas não conseguiu deixar de concordar com Scrimgeour: como poderia Minerva ter a certeza?

_ Eu vi os alunos. - a frase tinha sido dita num volume tão baixo, que Nick questionou-se se tinha ouvido ou imaginado.

_ Viu os alunos? – espantou-se o auror.

_ Vi. Eles tinham saído do castelo horas antes do seu desaparecimento. Calculo que tenham ido ao vilarejo.

_ Calcula?

_ Bem…sim… Vinham com ferimentos e os mantos rasgados.

_ Portanto… chegou a ver os alunos.

_ Vi-os. Eles apenas desapareceram após terem regressado de Hogsmead e não voltaram lá.

O espanto do auror semelhava-se ao que Nick sentia. Minerva McGonagall, aquela que exigia ordem e que as coisas fossem feitas o mais rápido e eficazmente possível, tinha aguardado 1 semana para dizer aquilo?! Porquê?

_ Porquê?

_ Como?

_ Porquê é que só me disse isto agora Minerva? Faz uma semana que os meus homens procuram penosamente 3 corpos de adolescentes por entre os escombros do vilarejo e decidiu não me dizer nada. Porque devo acreditar?

_ Que razão teria eu de mentir, Rufus? Tal como já disse, a segurança dos meus alunos é a coisa mais preciosa para mim, neste momento. Além disso não fui a única que viu os cinco alunos. Outros colegas também os viram. Então como pode ver, Rufus, eu não estou a mentir.

E nesse instante Nick apercebeu-se de algo tão rapidamente quanto o auror, cuja face perdeu a seriedade para dar lugar a uma expressão de completo espanto. Durante alguns momentos nada foi dito, enquanto o Rufus assimilava tudo o que lhe havia sido dito.

_Cinco?!

Minerva olhou estarrecida para o auror, apercebendo-se, também ela, do que havia dito.

_Cinco o quê?

_ Alunos! Disse “os cinco alunos”! Pensei que eram só três.

_ Três! Eu disse TRÊS alunos.

Mas já era tarde e Nick sentia que Minerva já se apercebera disso, quando viu Rufus olhou para ela com um novo ataque de fúria.

_ Não. A Minerva disse cinco. Disso tenho eu a certeza!

_ Deve estar enganado.

_ Não me faça de tolo Minerva. Eu sei o que ouvi e o que ouvi foi “os cinco alunos!” Quem mais desapareceu, Minerva? Quem é que fez companhia no “projecto desvanecer da face da terra” a James Potter, Sirius Black e Remus Lupin? E que história é essa de que houve colegas que os viram após o ataque ao vilarejo? Quem são esses colegas?

_ Não sei do que se refere.

_ Refiro-me à trama que você e os seus alunos começaram aqui e que não me querem confessar.

_ Confessar? CONFESSAR?! Mas quem pensa que nós somos, Scrimgeour? Assassinos?

Nick observou-os, enquanto o auror se afastou da bruxa, com um olhar de vitória.

_ Pois muito bem. Já vi que de si não vou obter as repostas que pretendo. Exijo falar com esses alunos. Os tais colegas que afirma terem visto os alunos desaparecidos. Quero falar com eles.

_ Está a insinuar que lhe menti? - o olhar furioso de Minerva não surtiu qualquer efeito em Rufus.

_ Apenas estou a dizer que, se está a dizer a verdade, não há nada com que se preocupar. Então… vai dizer-me quais são os alunos ou vou ter de descobrir? – o silêncio que se apoderou do corredor foi a única resposta que recebeu. – Era o que eu pensava…

E sem aguardar mais nada, deu meia volta e continuou o seu caminho. Apenas foram precisos alguns segundos antes de Minerva sair em seu encalço.

_ Onde pensa que vai, Scrimgeour? – gritou furiosa.

_ Bom, pensei que já que os alunos desaparecidos são todos de Gryffindor, pelo menos os três de que tenho conhecimento, os colegas a que se referiu também o devem ser. Por isso, vou à torre dos Gryffindor.

Posto isso, afastou-se com ainda maior rapidez, saindo mais uma vez do campo de visão de Nick. Cada vez mais intrigado, o fantasma não esperou muito tempo antes de atravessar as paredes necessárias até ter completa a visão sobre o quadro da Dama Gorda, a guardiã da porta da Torre dos Gryffindor. A poderosa dama olhava deliciada para os dois adultos que se aproximavam a grandes passadas de si, como que aguardando o doce sabor de um novo mexerico.

“Não que esteja muito longe da verdade” - pensou Nick.

_ Dumbledore nunca o teria autorizado. ESTÁ A OUVIR, SCRIMGEOUR?! DUMBLEDORE NUNCA TERIA AUTORIZADO QUE INVADISSE DESTA FORMA ESTA ESCOLA PARA PERTURBAR OS ALUNOS.

Sem se incomodar em virar o rosto na direcção dela, Scrimgeour apenas replicou em tom de escárnio:

_ Talvez sim ou talvez não. Nunca viremos a saber. Sabe porquê Minerva? Eu digo-lhe: porque parece que o director desta escola seguiu o exemplo dos seus alunos, desvanecendo, também ele, em fumaça. Talvez queira explicar-me essa, já que se incomoda tanto em falar dos alunos. - vendo que não obteria qualquer resposta - Novamente silêncio! Eu não gosto de questões por responder, Minerva! Já deveria saber disso.

Finalmente pararam em frente do retrato, que ora focava o seu olhar curioso num, ora no outro.

_ Abra a passagem imediatamente. Tenho que falar com os alunos.

_ Palavra-passe?

_ Que me interessa a palavra-passe. Abra a passagem IMEDIATAMENTE.

A Dama Gorda soltou uma exclamação horrorizada olhando rapidamente para a professora que lhe negou com a cabeça.

_ Desculpe mas sem palavra-passe não posso permitir a entrada. Regras da escola!

Rosnando como um lobo pronto a atacar, tal como Nick observou quase que em divertimento, Scrimgeour virou-se para a bruxa atrás de si.

_ Então?!

_ Então o quê?

_ Vai dar-me a palavra-passe ou não?

_ Porque deveria? Quer claramente importunar todos os meus alunos. Talvez chegue mesmo ao ponto de os tirar da cama, um a um, até obter respostas que eles não possuem. Pergunto novamente: porque deveria?

_ Porque alguns desses alunos TÊM respostas e eu quero-as… AGORA!

_ Não estou a gostar do seu tom!

_ E eu não estou a gostar que estejam constantemente a impedir-me de fazer o meu trabalho. Se for preciso chamo o Ministro da Magia.

_ Talvez devesse.

_ Como?

_ Acho que é isso mesmo que deve fazer. Enquanto não tiver ordens explícitas do Ministro da Magia de que pode invadir desta forma bárbara a escola e importunar os meus alunos, não lhe dou palavra-passe nenhuma nem o deixo sequer respirar para cima dos alunos.

Scrimgeour olhou perigosamente para McGonagall.

_ Está a desafiar-me?

_ Interprete como quiser. – a determinação era de tal forma inabalável que Nick sentiu uma onda de orgulho pela docente – Mas acho que já fui anfitriã o suficiente. Portanto, até receber uma palavra do Ministro, vou desejar-lhe as boas noites e pedir-lhe para se ir embora.

Durante breves momentos, Nick chegou mesmo a pensar que Scrimgeour iria continuar a discussão, mas o auror apenas fechou os olhos para os reabrir em determinação, sorrindo ironicamente.

_ Muito bem. Faremos da sua forma Minerva. Obterei a sua autorização e IREI receber as minhas respostas. Até lá… não lhe deixo os meus cumprimentos pois não considero que foi uma anfitriã exemplar.

_ Tentarei não ficar muito decepcionada.

Algo brilhou nos olhos de Scrimgeour antes deste se afastar do quadro, descendo as escadas furioso.

_ Mas que homem mais desagradável!

A voz da Dama Gorda pareceu despertar McGonagall que apenas sorriu tristemente.

_ É simplesmente competente. Por vezes em demasia. – virando-se completamente para o quadro – Não deixe ninguém entrar sem palavra-passe. Ninguém!

_ Mas é claro que não. Levo o meu trabalho muito a sério. Mas… acha que ele vai voltar?

_ Penso que não. – respirando fundo, McGonagall lançou mais um olhar penetrante para o quadro, antes de também se afastar.

Esperando alguns momentos para ter a certeza de que poderia sair do seu esconderijo sem problemas, Nick aproximou-se devagar.

_ Boa noite Nick!

Nick continuou a olhar pensativo para onde, momentos antes, uma discussão decorria, tentando organizar todas as informações que retivera da discussão. Indiferente a tal, a Dama Gorda, continuou a falar.

_ Por acaso sabes o que se está a passar? Aquele não era o chefe dos Aurores? O que ele fazia aqui?

_ Agora não tenho tempo para responder.

_ Como assim não tens tempo? És um fantasma! Se existe algo que tens é TEMPO! – para desespero de Nick, a voz encheu-se de choro - Só queria saber porque me preocupo com estes jovens.

_Não. Tu só queres saber, apenas para saltares de quadro em quadro, contares os detalhes sórdidos e talvez receber uma caneca de vinho dos frades Gordos.

A Dama Gorda olhou-o escandalizada, mas ele simplesmente ignorou, começando a afastar-se.

_ Nunca fui tão insultada! Mas quem és tu, para tecer juízos. Ao contrário de ti, não tenho o privilégio de vaguear por todo o castelo. Não… Tenho de ficar a aqui, parada e com apenas uma função: ouvir palavras-passe e deixar entrar. Não penses que não me lembro de ti, oh Sir Nicholas, e de todas as confusões que causaste quando ainda tinhas um coração a bater dentro de ti. Estás a ouvir-me Nick? Nickkkkkkk…

Parou perto de uma janela, longe dos lamentos da Dama Gorda e com os pensamentos em polvorosa. 5 Alunos desaparecidos e uma escola mergulhada num caos. Mas de tudo isso, o que mais o assustava era mesmo o desaparecimento do director. Como poderia Albus Dumbledore desaparecer assim, deixando o castelo desprotegido. E agora, o que iriam eles fazer?

_ Preciso da tua ajuda.

A voz sobressaltou-o de tal forma, que levou a mão ao peito apenas para se lembrar que já não mais possuía uma coração a bater por debaixo da pele. Olhando para trás nada viu e chegou mesmo a pensar se tantos anos de morte lhe haviam afectado a sanidade mental.

_ Vais continuar a ignorar a tua função?

Novamente a voz. Olhando rapidamente em volta, voltou a deparar-se com o vazio. “Estou a ficar louco! Ouvir vozes que não existem é o primeiro sinal”. Mas naquele momento uma onda de terra trespassou-o em grande velocidade, apenas para se concentrar à sua frente.

Fascinado, observou uma face surgir por entre as partículas de terra castanha, para ser rapidamente seguida de braços, tronco, pernas… e toda uma figura se fundiu, para dar lugar a uma mulher peculiar. Tinha a pele clara, quase branca, apenas marcada por negros desenhos soltos pelos braços, unindo-se como uma trepadeira no pescoço para finalmente brotar numa flor na maça do rosto direita. Tinha cabelos chocolate ondulados, presos por ramos de árvores e uns profundos olhos da mesma cor, que o trespassavam. Estava coberta por uma túnica branca comprida, solta e simples na sua pureza, apenas com símbolos roxos e castanhos bordados na manga esquerda.

_ Quem és tu?

_ O meu nome é Margarida. E um dia foste o que sou hoje, na tua própria forma. Recordas-te?


***


Encontrava-se sentado na poltrona ao pé da janela, a mesma poltrona onde já o vira sentado várias vezes a olhar a chuva. Ironicamente, agora também chovia… Talvez fosse um sinal de despedida…

Finalmente olhou para o livro pesado que tinha nas mãos e abriu-o. Sorriu tristemente ao ver as múltiplas fotos de faces sorridentes e brincalhonas e desejou voltar àquela altura. E o mais engraçado é que o tempo que o álbum retratava não era tão antigo quanto isso. Meras semanas… apenas meras semanas que o separavam do hoje e do tempo em que todos eles estavam juntos em família.

Parou de folhear o álbum numa foto específica: era a foto de Harry, rodeado por outros como ele. Lembrava-se bem quando a foto fora tirada. Fora durante uma manhã especialmente bonita em que Harry optara por lhes mostrar os mistérios da floresta. No final, acabaram por fazer um enorme piquenique no jardim até que alguém puxara da câmara e tirara a foto. Todos eles tinham uma réplica dela, para sempre se recordarem do que era verdadeiro.

Ouviu a porta do quarto abrir, mas não se mexeu. Não sentia medo pois sabia quem era. Simplesmente não queria mover-se um milímetro que fosse, pois receava que isso o tirasse daquele cantinho só seu, onde tudo está bem, e o enviasse de volta à realidade, onde estava numa torre completamente vazia… vazia pela ausência deles!

_ Christopher?!

Viu Febus entrar no seu campo de visão, com uma expressão preocupada na face felina.

_ Eles não vão voltar, pois não?

Febus saltou-lhe para o colo e Christopher quase sorriu ao imaginar os resultados do mesmo movimento se a criatura estivesse na sua forma original.

_ Não digas isso. Eles são rijos!

_ Não me mintas Febus. Já faz 1 semana que eles desapareceram e eu… eu já não os sinto! Acho que algo de horrível aconteceu…

Febus limitou-se a olhá-lo tristemente, deixando que ele o abraçasse enquanto sentia quentes lágrimas tocarem no seu pêlo.

_ Algo mesmo muito horrível…


* * *

Nick olhou chocado para a mulher à sua frente, tentando assimilar o que ela dizia.

_ Desculpa. Deves estar confundida.

Margarida olhou para ele profundamente, sorrindo divertida.

_ Estou? Diz-me Nick… não és tu Sir Nicholas de Mimsy-Porpington? Aquele que frequenta os corredores desta escola desde o século treze, inicialmente como um jovem rapaz cheio de promessas para o futuro e coragem, para, muitos anos mais tarde, percorrê-la…

_...como um cobarde! – interrompeu cabisbaixo, olhando apenas de relance para a figura tristemente parada no meio do corredor antes de atravessar uma parede mais uma vez.

Observou apático a sala em seu redor. O quadro negro que se erguia no ar, planando suavemente ao sabor da brisa de um encantamento, as cadeiras tantas vezes usadas e as secretárias de mogno que um dia serviram de apoio aos seus livros, traziam memórias de um tempo muito longínquo. Nick quase conseguia imaginar um rapaz de porte altivo, confiante nos passos que dava, rindo com os colegas, pronto para enfrentar tudo o que o futuro lhe pudesse reservar. Um rapaz que um dia tinha sido mas que se havia perdido por entre a escuridão do mundo.

_ Não és um cobarde Nick.

Uma face de pedra surgiu da mesma parede que momentos atrás atravessara, separando-se da última como se esta fosse feita de um líquido viscoso, cinza e escuro. Novamente limitou-se a observar a figura de Margarida em pura pedra, abrir os olhos para si. O cinza da sua íris converteu-se no castanho aveludado que começava a cativá-lo e, num piscar de olhos, toda a sua figura se convertera na sua forma original.

_ Poder interessante!

Margarida sorriu divertida, aproximando-se de uma das secretárias, tocando-a com a sua mão.

_ Fui criada para a natureza. – disse enquanto observava a sua mão tornar-se completamente castanha e fundir-se deliciosamente com o mogno. – As matérias naturais são a minha casa… parte de mim tal como sou parte delas.

_ Uma Backut da natureza! Guardiã das florestas e da terra. – Continuou Nick.

Margarida afastou-se da mesa e aproximou-se do fantasma, fazendo o último afastar-se assustado.

_ Ainda te recordas do que é ser um Backut, Nick?

_ Não sei ao que te referes.

_ Claro que sabes, por isso mesmo é que te sentes assustado com a minha presença. Porque ela te faz recordar o que tentas negar. Recordar que sempre foste um de nós!

Uma fúria apoderou-se dele, fazendo-o virar as costas à Backut, olhando com rancor a sala que lhe trouxera memórias da sua juventude. Durante séculos tentara esquecer-se do seu passado, tentando perdê-lo por entre a multidão de alunos e abafando a voz que o perseguira durante toda a sua existência, por entre os risos de outros. Uma voz que havia sido sua amiga, sua companheira e mestre mas que agora apenas lhe recordava o quão fraco havia sido.

_ Não fales do que não sabes! Tu não percebes nada, rapariga estúpida! Mas afinal, nem rapariga és, pois não?! Nem sequer és humana!

_ Não! Não o sou. – a voz soara-lhe magoada, mas naquele momento pouco se importava em magoar os sentimentos dela. Os seus encontravam-se demasiadamente feridos para notar e corrigir.

_ Não és. E isso faz toda a diferença! – olhou para ela, sorrindo tristemente - Foste criada por magia pura e intocável. Não sentes a fraqueza humana e não ouves a tentação sussurrar-te ao ouvido. És uma Backut de Asera. Eu fui outrora um Backut do mundo dos mortais, destinado a protegê-los da sua fraqueza, quando eu próprio partilhava essa fraqueza. Essa cobardia…

_ Não és cobarde Nick! – repetiu Margarida, olhando angustiada para o fantasma - Quando fui criada pelos meus mestres conheci outros como eu e enquanto fui treinada, conheci outros como tu. Backuts humanos destinados a uma missão neste mundo. O elo de ligação entre Asera e os Mortais. E ouvi histórias de todos os outros que já existiram… entre eles tu! E nunca foste descrito como cobarde, apenas…apenas…

_ Apenas fugi do meu destino. Deixei de acreditar na minha missão e por isso fugi e escondi-me. Olha para mim Margarida. - abriu os braços em derrota – Porque achas que sou assim? Porque achas que me tornei no que sou hoje: uma mera presença na terra, sem vida ou futuro?

Margarida calou-se, tentando desviar o olhar dele, mas não a deixou fazê-lo. Aproximou-se dela de tal modo que desejou estar vivo para lhe segurar fraternalmente nas mãos pequenas e singelas.

_ Porque tive medo do que me esperava do outro lado. Receei o desfecho destinado para aqueles que não cumprem a sua missão. Sabes qual era, Margarida? Eu sou um Backut destinado a proteger a humanidade. Enquanto outros como eu protegem os 6 Gamyth incorporados em meros objectos, eu, tal como outros antes de mim, protejo o mais terrível de todos os Gamyth: a alma humana.

Riu ironicamente, apontando em seu redor.

_ Todos os alunos que conheci, todos os bruxos ou muggles com quem já entrei em contacto, partilham uma coisa em comum. São fracos! Fracos para com os seus desejos egoístas! E quando algum demonstra uma natureza dócil e imaterial, alguma tentação lhe acaricia a alma e o vence. Todos eles são manipuláveis! EU SEI PORQUE EU SOU A PROVA DISSO! Comecei a sentir inveja dos meus irmãos mortais. Odiei, cobicei e tive medo… Comecei a questionar-me: como poderia proteger a humanidade de si própria quando ela claramente não o deseja? Como poderia impedir que a humanidade se tornasse na sua maior ameaça quando sentia o selo dentro deles quebrar cada vez mais. Desesperei diante destas verdades e abandonei a missão que me havia sido incumbida quando novo. Desapontei os mestres que me haviam ensinado e mergulhei na escuridão da minha derrota.

Respirou fundo, tentando parar de falar mas viu-se impossibilitado. Agora que iniciara não consegui parar… não enquanto haviam séculos de erros e dúvidas a desabafar. Olhando para a Backut à sua frente, sentiu uma onda de ternura por ela. Era a primeira vez que a conhecia, sendo um completo estranho para ela. Mas ainda assim, ela mantinha-se presente, deixando-o falar tudo o que desejava, por muito bárbaras que fossem as suas palavras.

_ Durante anos vivi perseguido pelo erro que cometi. Mas mesmo sentindo remorsos, a dúvida continuava a soar como um alarme na minha cabeça: E se estava certo? E se tudo o que me havia sido ensinado… e se toda a confiança que Asera e seus mestres depositavam na humanidade era infundada?

_ Como podes dizer isso, Nick? São tantos os bruxos que contribuíram de uma forma positiva. Tantos são aqueles que se tornaram famosos pelas suas acções livres de preconceito ou ódio. E essa tentação a que te referes… quantos foram aqueles que conheceste que lutaram contra ela, mesmo nas alturas em que ela se tornava mais poderosa? Quantos foram aqueles que esqueceram o “eu” e lutaram pelo “eles”?

_ Alguns… mas, de certo modo, a fraqueza acabava por os vencer. Quando morri, fiquei preso a este mundo pela minha própria fraqueza. E foi isso que me fez aperceber-me de algo. Eu era um deles e compreendia agora porque é que eles eram tão frágeis. O quão fácil era ceder. Agora… apenas fico porque espero guardar a humanidade como nunca o fiz enquanto vivo. Observo cada aluno desta escola e penso: eles têm a opção, a opção que tive e que desperdicei. E quando os vejo percorrer os corredores desta escola, indiferentes à sua própria importância no equilíbrio do mundo… indiferentes que a personalidade que constroem a cada dia, marca as suas opções e que um dia irá afectar alguém, de alguma forma e em qualquer momento, apenas desejo que a minha fraqueza e de todos os outros antes de mim, não seja a deles.

Estendendo a mão a Margarida e abriu-a diante dos seus olhos.

_ Estas mãos já praticaram acções das quais me arrependo. Uma das quais que culminou num encontro desastroso com um machado cuja lâmina já tinha visto melhores dias. – riu-se fazendo Margarida também soltar um pequeno sorriso – Falhei. Falhei para com aqueles que protegia… falhei comigo próprio… e acima de tudo, falhei para com os nossos mestres.

_ Não falhaste! Simplesmente erraste. Achas que nenhum deles errou alguma vez? – sorriu confiante – Além disso, eles nunca te condenaram. O mestre Abner sempre disse que estiveste, à tua maneira, presente nos anos escolares dele. E que, ao contrário do que pensas, tens mais coragem do que imaginas.

Nick ficou em silêncio durante alguns momentos, perdido nos seus próprios pensamentos e dúvidas. Fora tão fraco e ainda assim, os Magids continuavam a proferir o seu nome e a apoiá-lo.

_ Nick?! Ajuda-me!

_ Como?

_ Conheces este castelo melhor que ninguém. Sabes as suas fraquezas e descobriste todos os portais que existem no seu interior. Behemoth lacrou os nossos mestres e está cada vez mais forte. Preciso que contactes todos os outros Backuts humanos por causa dos Gamyth que protegem.

_ Achas que ele vai quebrá-los? - um terror apoderou-se de Nick. Se os Gamyth fossem quebrados, o mundo iria conhecer um desespero muito maior que qualquer um deles. E, agora que os Magids encontravam-se desaparecidos…- Margarida… sabes onde estão os mestres?

_ Não, mas sei como chegar até eles.

_ Então o que temos de fazer é procurá-los e…

Margarida negou com a cabeça.

_ Não podemos atravessar o feitiço que Behemoth lançou sobre eles. Temos um pouco da essência de Asera em nós e isso não nos permite penetrar no encantamento.

_ Então como…

_ Mas eles podem. – interrompeu-o novamente a outra Backut. Nick olhou para ela sem entender até que reparou que esta dirigia o seu olhar para uma das janelas da sala. Seguindo o seu exemplo, reparou num grupo de professores que patrulhava os jardins do castelo à procura, muito provavelmente, de alunos que se haviam aventurado pela noite, quebrando as regras de segurança da escola.

_ Os professores?

_ Não. Os mortais! Behemoth nem sequer os considera uma ameaça e nem os acha capazes de penetrar nas defesas da magia antiga.

Nick sorriu quando começou a compreender o raciocínio dela.

_ Mas tu achas que eles são.

_ Acho. Pelo menos alguns deles têm grande potencial.

_ Os 5 alunos desaparecidos… Foste tu, não foste?

A Backut sorriu orgulhosa e Nick identificou algo no olhar dela. Talvez determinação à mistura de esperança. E… seria aquilo uma centelha de rebeldia?! Começou a questionar-se se não teria subestimado a criatura à sua frente.

_ O que foi que fizeste? - perguntou desconfiado.

_ Enviei-os na maior aventura das suas vidas. Não perguntes mais nada – adiantou-se quando o viu abrir a boca - pois não posso dizer mais nada. O que quero que faças é que me ajudes a contactar os outros Backuts.

_ Como esperas que o faça? E porque deveria?

_ Bom… quanto à primeira pergunta, imagino que vocês devem ter uma forma de se identificarem por entre os outros mortais. Quanto à segunda questão… - ergueu a mão em direcção à dele – por causa disto!

Nick surpreendeu-se quando viu a mão dela tocar a sua, realmente tocar, sem a atravessar, fazendo simplesmente uma luz branca envolver as duas mãos unidas.

_ Pensei que apenas podias controlar os elementos da natureza. Nunca falaste nada sobre isto. – Referiu fascinado.

_ Isto nada tem a ver com os meus poderes. Mas tem tudo a ver com a razão porque me vais ajudar e porque ainda és capaz de o fazer.

Olhando profundamente para os olhos dele, segurou com mais força a sua mão em sinal de conforto. Sentiu que ela lhe transmitia uma mensagem e que esta dizia “confio em ti Nick!”. Sorrindo para ela agradecido, sentiu uma nova onda de ternura para com a pequena, uma onda que apenas aumentou com as palavras que saíram, de seguida, da boca dela.

_ Porque somos irmãos Nick! Filhos de Asera e irmãos no nosso destino. Porque sou parte de ti e tu és parte de mim, tal como somos parte de todos os outros Backut. E isso basta!


* * *

A hora chegou! Já nem o tempo me desafia na sua lentidão, tendo-se submetido aos meus desejos. O mundo mortal solta um último grito de desespero antes de se romper e o mundo dos esquecidos rejubila na sua vitória.

Meu grande Abner, aquilo que tentaste evitar a tanto custo, finalmente aconteceu. A minha paciência colhe os seus frutos e a tua magia vai-se desvanecendo.

Sorrio, enquanto levo um copo de vinho à boca, mas paro na minha acção. Não! Alguém como tu merece mais. Muito mais! Ergo o copo em tua honra, meu caçador, e quase desejo que estivesses aqui para observar o meu triunfo.

És para mim tal como eu sou para ti. Mas agora eu venço!

Ouve meu bravo guerreiro enquanto um dos Gamyth se rompe num som desesperado para se juntar à melodia da minha existência.

Uma melodia que ainda agora comecei!



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Comentários (2)

  • Monique McFusty

    Quatro anos parada depois eu quase ñ tenho esperanças de que uma continuação apareça... Mas sempre vou chorar a tristeza de uma boa história incompleta... T.T T.T T.T

    2015-04-05
  • Luiza Granger Malfoy

    Gostaria muito de ver caps novos nessa fic tão maravilhosa! Ainda tenho esperanças de que isso aconteça =)

    2014-04-27
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