Uma face do tempo



Capitulo 34: Uma face do tempo


O tempo é uma força estranha!

É leve e invisível…virgem ao toque…impossível de controlar! Possui uma força assustadora, controlando nas suas mãos imaginárias vidas, opções, destinos…

Quantos não desejariam controlá-lo?! Quantos não afirmaram possuir o poder de fazer dele seu escravo?! Talvez muitos, talvez poucos! Mas será verdadeiramente possível controlar a força do passado, presente e futuro? Será realmente possível obrigá-lo a se subjugar aos caprichos e desejos dos Homens?!

E se aqueles que aparentam controlá-lo, apenas conseguem viajar por ele porque o próprio Tempo lhes concede este direito? E se aqueles que conseguem viajar para o passado, e deste para o futuro, apenas o conseguem porque são eles os peões e escravos do tempo?!

Como sabemos que o tempo nos controla e não o contrário? O que nos faz acordar para esta realidade tão crua?

A resposta é simples…

É quando desejamos voltar atrás, desfazer o que foi feito e não conseguimos. É quando desejamos congelar um segundo e este limita-se a deslizar diante dos nossos olhos, rindo e provocando. É quando queremos acelerá-lo mas este não se move.

Não! O tempo não pode ser controlado… nem por mortais, magos ou magids.

O tempo limita-se a caminhar na sua longa viagem, ao sabor do seu próprio capricho, transportando tudo o que existe nas direcções que deseja.


Uma ampulheta que se vira e deixa suas areias tombarem!


* * *

Alexandre fechou os olhos, deixando sua cabeça tombar, pesadamente, sobre a mesa. Estava só no meio do salão Hogwarts, perdido no silêncio de um recinto vazio que recebia calmamente os primeiros raios de um novo dia.

Silêncio…

Ironicamente a sua mente não se encontrava silenciosa, muito pelo contrário. A mente enchia-se de sons e gritos desesperados. Vozes que exigiam respostas que não conseguia encontrar, que gritavam acusações e que lhe faziam pesar a alma de culpa e medo.

Alexandre Keller nunca fora alguém que se deixasse cair no desespero mas, que toda Asera fosse testemunha, era isso exactamente que sentia. Desespero!

Harry…

Respirou fundo tentando desfazer o nó que já há muito se formara na sua garganta.
Mas como tinha tudo saltado do controlo deles?! Como?

Num segundo estava com Harry, a rir, distantes da possibilidade de uma guerra, e no outro… no outro via-se só, assustado como nunca antes se sentira e frente-a-frente a uma realidade em que o seu melhor amigo, alguém que adorava como um irmão mais novo, estava ausente… desaparecido! E Alexandre nem sabia se ele estava…Não! Estes pensamentos não o ajudavam em nada. Tinha de pensar positivo!

Mas como poderia ele pensar positivo quando cerca de 2 horas atrás, durante um ritual que jamais havia realizado, sentira a presença brilhante do amigo desfazer-se no nada, como se nunca tivesse existido?! Como poderia ele se, no momento em que chegara a Hogwarts, se deparara com Hengisto aos gritos desesperados, exigindo respostas?! Como poderia quando vira a sombra de profunda preocupação deslizar pelo rosto de Oliver, algo que raramente acontecia?!

Como poderia quando reparara, que, embora todos os Magids tivessem regressado, um estava ausente?! Harry estava ausente!

Flashback

_ Hengisto, acalma-te!

_ Acalmo-me?! ACALMO-ME?! NÃO SEI SE TENS CONSCIÊNCIA MERLIN, MAS O HARRY DESAPARECEU! DESAPARECEU!! DIANTE DOS MEUS OLHOS!

Merlin respirou fundo e aproximou-se do outro Magid, colocando-lhe uma mão sobre o ombro.

_ Sei que estás preocupado mas entrar em pânico não é a opção. Harry sabia que isto não seria fácil. Havia riscos a ponderar. Harry fê-lo e optou por tentar. Ele fez a parte dele agora cabe-nos a nós acabar o que viemos aqui fazer.

Hengisto olhou para Merlin como se fosse a primeira vez que o estivesse a ver. Chocado, deu um passo atrás enquanto afastava a mão pousada no seu ombro.

_Tu sabias?! Tu sabias que isto ia acontecer? Tu sabias e não fizeste NADA para o parar?! E o Harry também sabia?

_ Hengisto tens de compreender…

_ NÃO TENHO DE COMPREENDER NADA! QUANDO FALAMOS SOBRE A NECESSIDADE DE SELAR OS GAMYTH NÃO REFERISTE QUE ISSO IA CUSTAR A VIDA DO HARRY!

_ Eu não sei se custou! Eu estou tão confuso como tu estás. Eu não sei onde o Harry está, nem se está vivo, ou ferido…

_ Mas tu disseste… tu acabaste de dizer que haviam riscos.

_ SIM! É CLARO QUE HAVIAM RISCOS! ESTAMOS A FALAR DE UMA MAGIA MUITO AVANÇADA E DA FORMAÇÃO DE SELOS EM PORTAIS QUE MANTÊM O EQUILÍBRIO ENTRE ESTE MUNDO… ESTA REALIDADE E UM MUNDO QUE AINDA NÃO COMPRENDEMOS. O QUE ACHAVAS HENGISTO? QUE IA SER SÓ DIZER UMAS PALAVRAS, LANÇAR UNS FEITIÇOS NO AR E JÁ ESTÁ?!

Todos olhavam espantados para Merlin, chocados demais para conseguirem tecer uma única palavra. Era a primeira vez que muitos deles, viam-no perder a paciência e começar a gritar. Afinal, estavam a falar de Merlin, por muitos intitulado príncipe dos magos, alguém que sempre fora calmo, paciência… a face e o equilíbrio de serenidade muitas vezes necessário em Asera.

Mas o homem que viam agora em pé, frente a frente com um Hengisto furioso, em nada transparecia o homem que sempre conheceram.

_ QUE QUERIAS HENGISTO? EU DESCONFIAVA E O HARRY TAMBÉM QUE HAVERIAM RISCOS. PORQUE ACHAS QUE TENTAMOS EVITAR ISTO ATÉ AO ÚLTIMO MOMENTO?! DESDE QUE VIMOS QUE O PORTAL DOS INDESEJADOS ESTAVA ABERTO SABIAMOS QUE ERA UMA QUESTÃO DE TEMPO ATÉ SER NECESSÁRIO FAZER ALGO. FALAMOS SOBRE ISSO VÁRIAS VEZES. DUMBLEDORE E MORGANA SÃO TESTEMUNHAS DE QUANTAS VEZES FALAMOS SOBRE ISSO!

Todos os olhos se dirigiram para os Magids em questão. Morgana segurou o olhar, impassível enquanto Dumbledore mal conseguia esconder a tristeza no seu olhar.

_ Falaram disto nas nossas costas?! - Hengisto levou as mãos ao rosto esfregando-o várias vezes, na tentativa de dissipar um pouco o cansaço e a preocupação que sentia -Suspeitavam que algo podia correr mal e da mesma forma decidiram arriscar sem nos consultar? Sempre pensei que no que tocava a decisões deste calibre todos tinham opinião e não apenas o topo da hierarquia.

_Hengisto…

_ Hengisto tem razão Merlin.

Merlin virou-se, olhando espantado para Gabriella.

_Como puderam tomar a decisão de ir em frente sem nos consultar?

_ Não compreendes Gabriella?! Nós não queríamos preocupar-vos! O próprio Harry fez a opção de não vos informar de nada.

Alexandre levantou-se e começou a andar pela sala, tentando controlar as suas emoções.

_ É mesmo típico do Harry! Tentar colocar sobre os seus ombros toda a responsabilidade.
_ Merlin…- Hengisto aproximou-se dele – Não sabes onde o Harry está? Por favor, sê honesto, nem que seja só por esta vez.

Os olhos de Merlin encheram-se de tristeza e Alexandre jurou que nunca o vira tão abatido.

_Não Hengisto! Não sei onde ele possa estar.


Fim de Flashback


_ Alexandre?!

Levantou os olhos, deparando-se com Morgana.

_ Tu estás bem?

_O que é que achas?!

Morgana ficou em silêncio por alguns momentos, até que se sentou em frente dele e agarrou na caixa que momentos atrás estivera a segurar.

_ Posso?

Acenando-lhe com a cabeça, viu-a abrir a caixa e olhar para o seu conteúdo.

_O que estavas a pensar fazer com isto?

_ Vou entregar a Lily Evans.

_Porquê? - indagou confusa.

Alexandre respirou fundo.

_ Porque prometi a Harry que se alguma coisa corresse mal, eu não iria deixar os alunos de Hogwarts desprotegidos.

Morgana olhou para ele fixamente.

_ E tu achas que ela está preparada?

_ Quem? A Lily? – Mas Alexandre rapidamente percebeu de quem falavam e suspirou - Não sei! Pelo menos espero que esteja. Tenho plena confiança nela!

Morgana olhou mais uma vez para o interior da caixa, tentando decidir-se qual seria o melhor caminho a tomar.

_ Nunca fez isto antes…- tentou alertar Morgana.

_ Mas foi treinada!

_ É ainda muito jovem.

_ O Harry é a prova viva que a idade não é um empecilho. - lembrou-lhe.

_ Vai precisar de ter muita força.

_ Ela tem-na! Como já disse: tenho plena confiança nela.

Morgana fechou a caixa, e entregou-lha.

_Sendo assim, já sabes o que tens a fazer.


* * *


_ Tudo o que têm de fazer é certificarem-se que trocam os Arapucosos de vaso mensalmente, e, é claro, não esquecerem de adubar a terra com estrume de dragão. Agora se olharem para aqui com atenção vou vos mostrar como se consegue…

_Pst… Richard!

Richard olhou para o seu melhor amigo, tentando não chamar a atenção à professora Sprout.

_ O que foi?

_ Sempre vais tentar entrar para a equipa de Quidditch?

_ Olha lá, temos de falar nisso agora? Estamos no meio de uma aula!

Tom revirou os olhos.

_ Eu sei disso! Digamos apenas que estou tão interessado naquele monte de raízes que não consigo evitar. - respondeu ironicamente.

_ Aquele monte de raízes chama-se Arapucoso.

Tom olhou fixamente para o amigo, balançando a cabeça em sinal de desaprovação.

_ És mesmo marrão. Mas agora responde-me: vais aos testes de admissão hoje de tarde, ou não?

Richard, vendo que o amigo não iria desistir tão cedo, lançou um último olhar à professora antes de responder num sussurro.

_ Acho que sim. No ano passado não era possível, mas como as regras dizem que podemos fazer parte a partir do segundo ano, acho que vou aos testes. Ainda não decidi.

_ Bom, eu já decidi que vou. De certeza! Sabe-se lá quando teremos novas oportunidades. As vagas não abrem todos os anos e não vou perder esta oportunidade. O pior é que dizem que o Potter é exigente.

_ Pois… também ouvi isso.- disse enquanto tentava esticar o pescoço para tentar ver por cima das cabeças dos seus colegas de 2ºano, o que a professora de Herbologia estava a demonstrar.

Tom continuou de costas para a professora, esfregando as mãos em expectativa.

_ Independentemente, vou tentar! E aconselho-te a fazer o mesmo.

_ DAWIGHTS! ESTÁS A OUVIR O QUE EU ESTOU A DIZER?

Tom olhou para a professora, sorrindo inocentemente.

_ Claro que estou professora. Só estava a esclarecer uma dúvida ao Richard sobre os arapoisos!

_ É ARAPUCOSOS, DAWIGHTS!

Tom engoliu em seco, sorrindo sem graça.

_ Pois professora… Arapucosos… era isso que eu queria dizer.

A professora Sprout lançou mais um olhar mal-humorado ao aluno, antes de se virar novamente, continuando com a explicação. Tom manteve os olhos fixos nela durante mais alguns segundos e, depois de se ter assegurado que ela já não o ouvia, virou-se novamente para o amigo, sussurrando:

_ Então encontramo-nos no campo de Quidditch depois do almoço?

Mas Richard já não mais o ouvia, olhava assustado para algo atrás de Tom, ficando subitamente pálido.

_ Richard?! Estás a ouvir-me?

_ São aquelas criaturas… aquelas… Hogsmead…

Tom virou-se rapidamente, e quando, num surto gelado, finalmente se apercebeu do que o amigo falava, ouviu gritos por toda a estufa.

Do outro lado das paredes de vidro da estufa, bem nos limites dos terrenos de Hogwarts, dois vultos se erguiam… um deles desconhecido… e outro demasiadamente familiar.

Um vulto que Tom desejara nunca mais ver.

Era uma das criaturas que atacara Hogsmead semanas atrás!


* * *


_ O que queres dizer com o Harry não dormiu cá esta noite?

Hermione olhava muito espantada para Ron, enquanto ambos deitavam alguns ingredientes para dentro do caldeirão fumegante que se encontrava à frente deles.

_ Exactamente o que disse: O Harry não dormiu cá esta noite! Pelo menos não no dormitório. E posso assegurar-te que durante todo este tempo não esteve em Hogwarts porque ele não aparece no Mapa Maroto.

_ Mas então? Onde raio ele se enfiou?

Ron conteve a reposta até o Professor Slughorn passar à frente deles enquanto continuava a vistoria pelo resto da sala.

_ Onde? Eu não sei. Mas vou-te confessar uma coisa Hermione. Ontem, quando fui convidá-lo para uma partida de Quidditch senti o Harry preocupado como… - aproximou-se mais dela, falando num sussurro quase inaudível - como naquela altura!

_ O que vocês os dois estão para aí a sussurrar?

Hermione e Ron deram um salto, preparando-se para soltar mil e uma desculpas para o professor quando repararam que quem fizera a pergunta tinha sido James, que se encontrava atrás dele.

_ James! Não faças isso! Quase nos matas de susto.

_ A culpa não foi minha! Vocês os dois é que estão para aí com segredinhos no meio da aula.

Lançando um olhar para Slughorn, Hermione virou-se para James, sussurrando apenas numa voz que fosse audível a ele e a Sirius, que se encontrava imediatamente ao lado deste.

_ Estávamos a comentar a ausência de Harry no pequeno-almoço. E do facto de ele não ter dormido em Hogwarts.

_ Mas tu disseste que ele tinha saído com o resto dos Magids ontem à noite, não foi Ron? Quando eles chegarem, o Harry vai estar com eles.

_ Ou talvez não.

Olhando espantado para trás, James deparou-se com o rosto sério de Remus.

_ Que estás tu para aí a dizer, Moony.

Remus olhou furtivamente para o professor de poções e vendo-o atarefado com um dos alunos que havia conseguido converter o caldeirão numa poça de chumbo, inclinou-se para a frente.

_ O que quero dizer é que já fazem 6 horas desde que os outros Magids voltaram e nem sinal do Harry.

_ Queres dizer…

_ Onde quer que os 20 tenham ido durante a noite, só 19 regressaram a Hogwarts!

* * *


Pomona Sprout, reagiu em puro reflexo, correndo para a frente da turma, preparando-se para a proteger a todo custo.

E durante um fugaz segundo, tentou recordar-se de todos os feitiços que conhecia enquanto tentava tecer um plano de como avisar o resto dos professores sem colocar nenhum dos seus alunos em perigo.

Mas, de repente, por entre o turbilhão de pensamentos, um surgiu com toda a força… Uma memória de uma reunião que todos os professores de Hogwarts haviam tido com os Magids. Eles tinham dito que haviam criado uma barreira protectora em toda Hogwarts. Uma barreira que apenas os Magids, alunos e professores podiam trespassar.

Isso…

“Acalma-te Pomona. Eles não podem entrar. Eles não podem magoar nenhum dos alunos, não enquanto os Magids existirem.”

Mas foi então que o impossível aconteceu e ela nem sabia como…

Apenas iria jurar mais tarde que vira uma barreira dourada a separar Hogwarts dos dois intrusos… Jurar que viu esses mesmos dois intrusos do lado de fora… Jurar que um
dos vultos, aquele que jamais vira, se inclinara e sussurrara algo para a criatura medonha que se encontrava ao seu lado, e dera um passo em frente.

Mas o que iria ficar para sempre retido na mente da Professora era que por uns milésimos de segundo, pensara que a barreira não o iria deixar entrar… que algo iria acontecer.

Mas não! A barreira limitou-se a desfazer-se ao toque, e o estranho entrou.

E foi aí que o pânico se instalou nela!

Agarrou em todos os alunos que pode, lançando-os não com muita suavidade, para o fundo da estufa e enfiou a mão dentro dos robes apenas para chegar a uma horripilante realidade.

Não tinha a varinha consigo!

A sua varinha estava inocentemente em cima da mesa, ao pé do vaso onde minutos atrás estivera a trabalhar.

Será que daria tempo de agarrá-la? Conseguia ver pelo canto do olho o intruso aproximar-se e ali estava ela… com uma estufa cheia de alunos inocentes, que ainda mal sabiam lutar com as suas próprias varinhas… vendo a sua, largada num monte de terra.

O que fazer? Não tinha outra hipótese… tinha de conseguir agarrar na varinha e tinha de fazê-lo AGORA!

Mas quando começara a correr, ouviu uma risada que a fez congelar a meio caminho. Virando-se para trás, viu o estranho apoiado no umbral da porta e sentiu o seu sangue gelar.

As feições do homem (sim porque ela via agora que se tratava de um homem ou pelo menos uma criatura que em tudo se assemelhava a um homem) eram perturbadoras.

Ou pelo menos o pouco que via delas.

O estranho usava uma máscara grotesca e enrugada, de um cinza escuro que lhe tapava grande parte da cara, deixando apenas ver a boca fina a esboçar um sorriso trocista, e a pele da maçã do rosto direita. Reparou na pele pálida e achou estranho as manchas negras organizadas num padrão que não conseguiu reconhecer, impressas na tez esbranquiçada e trepando, como ramos de uma árvore, para a parte superior do rosto que se encontrava escondida pela máscara.

Vestia uma simples túnica cinza escura, com um manto negro lançado sobre os ombros. As botas de caçador, a espada segura nas suas costas e o porte confiante, asseguraram a Sprout que estava a lidar com um inimigo perigoso.

Viu-o desencostar-se da porta, dando um passo em frente.

_ Presumo que seja um dos professores desta escola?

Ao sentir os alunos tremerem atrás de si, e os choros contidos, Sprout endireitou-se enfrentando o estranho com a cabeça erguida.

_ Sou sim. Sou a Professora Sprout. Não sei quem é, nem como conseguiu entrar nos terrenos de Hogwarts mas garanto-lhe que se fizer algum mal a estes alunos…

_ Não tenho nenhum interesse em perder tempo com os pirralhos. Pelo menos por enquanto…

O medo atingiu-a como uma bofetada ao ouvir o tom de escárnio e sentiu os alunos aproximarem-se mais dela.

_ Não sei o que pretende com isto mas é melhor ir-se embora. Os outros professores devem estar a chegar – a mentira nunca lhe soou tão ácida mas tentou torná-la credível – E existem outros bruxos aqui em Hogwarts que tenho a certeza que não desejaria conhecer.

O estranho começou a rir-se.

_ Mrs… Sprout?! A senhora sabe tão bem como eu que os outros professores não fazem a mais pequena ideia de que estou aqui. Quanto a esses bruxos de que fala… devem ser os Magids, não é? Mas não se preocupe, neste momento a senhora e eu temos exactamente o mesmo objectivo que é informar esses mesmos bruxos da minha presença.

_ Como?

_ Não vim aqui para perder tempo consigo e os seus…- olhando divertido para o grupo de alunos aterrorizado - pupilos. Vim apenas como um mensageiro. Tenho algo a dizer aos Magids em nome do meu mestre.

Sprout quase se sentia envergonhada por admitir, mas sim… sentia-se aliviada! Os alunos estavam a salvo e, desde que os Magids fossem informados, pouco lhe importava como.

_ Quer… quer que alguém os vá chamar? – perguntou receosa.

O Estranho aproximou-se de um dos alunos, rindo baixinho ao vê-lo tremer.

_ Não é preciso. Eles já sabem que estou aqui!

* * *

Gabriella não sabia o que deveria sentir neste momento. Apenas sabia que se encontrava perto de um ataque de nervos. Tudo tinha corrido mal desde o desaparecimento de Harry e agora mais isto!

Caminhava apressadamente atrás de uma Morgana absolutamente furiosa, junto a um Martin e Dumbledore lívidos.

Dumbledore…

Isto tudo estava a ser especialmente difícil para ele, afinal ele sempre nutrira uma relação muito próxima com Harry. Sendo os dois Magids do mesmo tempo, tendo partilhado anos de convivência antes da entrada de Harry em Asera e depois a partilha de uma única casa, fez a relação professor/aluno, avô/neto intensificar-se ainda mais.
Mas ele ainda ali estava… pronto para agir. Esperando apenas um sinal, qualquer sinal, de que Harry estava vivo, em algum local.

E enquanto Morgana encarava a presença daquele ser em Hogwarts como uma verdadeira afronta, Gabriella sabia que Dumbledore encarava-a como uma pista… um sinal que o levasse ao encontro de Harry. Gabriella apenas esperava que essas esperanças não fossem em vão.

* * *

_ Tudo o que temos de fazer é tentar achar o Alexandre e exigir respostas.

Hermione ofegava a cada passo apressado que dava em direcção à torre onde os Magids estavam hospedados, sendo rapidamente seguida por James, Sirius, Ron, Ginny e Remus. E a cada passo que dava, mais perdida se sentia no meio da confusão que se instalara em apenas dois dias.

“Onde estás tu Harry? Em que confusão te meteste desta vez?”

_ Arriscando parecer idiota, tenho que perguntar: E se não encontrarmos o Alexandre? Quer dizer, ainda há pouco vi alguns deles dirigirem-se rapidamente em direcção à porta principal do castelo e é bem capaz de Alexandre também ter saído.

Hermione estagnou rapidamente o passo, quase fazendo Sirius estatelar-se no chão, virando-se furiosamente para Ron.

_ Se ele não estiver lá, apenas temos de o encontrar noutro sítio. Nem que seja no Inferno!

_ Hermione…- Ron olhava assustado para a namorada, dando um passo atrás numa clara tentativa de manter a maior distância possível do perigo eminente.

_ E se não o encontrarmos, agarrámos noutro Magid!

_ Agarrar?! Define agarrar.

_ Não saio daquela torre sem respostas Ron. O meu amigo desapareceu e ninguém diz nada! Ele passou a noite sabe-se lá onde, o mapa não mostra nenhum ponto a dizer “Harry Potter” e, francamente, a agitação que vi hoje no olhar de um dos Magids quando este cruzou o meu caminho não me deixou descansada. Algo aconteceu ao Harry, consigo senti-lo. E NADA E NINGUÉM ME VAI IMPEDIR DE DESCOBRIR! Estamos claros?

_ Claríssimos – disse o ruivo num fio de voz.

Hermione respirou fundo e virou-se novamente para a frente, reparando levemente nas caras chocadas do resto do grupo. Viu Sirius dar um passo em frente e levantar a mão, apontando na direcção que segundos atrás estavam a tomar.

_ Vamos agora ou deixámos a ruiva ir sozinha?

_ O quê?

Olhou para o fundo do corredor apenas para ter um vislumbre de longos cabelos ruivos, que sabia pertencerem a Ginny, desaparecerem numa esquina.

Sem mais delongas, recomeçou a caminhar numa velocidade ainda mais furiosa, só parando ao pé da amiga em frente à grande porta selada que os separava do local desejado.

_ Bom… e agora? Como entrámos?

Antes que qualquer um tivesse oportunidade de tecer uma palavra ouviram o click da fechadura e a porta abriu-se lentamente.

Trocando olhares ansiosos entre si, um a um trespassaram a ombreira da porta, entrando na sala já conhecida por uns mas nunca antes vista por outros.

Lançaram um olhar leve pelo recinto, vislumbrando os fofos cadeirões beijes distribuídos sobre o chão de madeira, as telas antigas dispostas nas paredes nuas de pedra, as mesas de mogno recheadas dos mais variados objectos, os candelabros, as tapeçarias, as estantes de livros…

Noutras palavras, uma sala comum como tantas outras. Nada que denunciasse que os bruxos que passavam horas no seu interior não eram bruxos comuns.

Nada excepto a figura solitária de um homem, sentado numa das poltronas, olhando fixamente com uma sombra de tristeza.

Alexandre Keller!

_ Estávamos à vossa espera…

Naquele momento, toda a fúria que momentos atrás, preenchera Hermione, desapareceu numa nuvem de fumaça. E algo mais forte cresceu dentro dela: medo! Medo do que seria dito naquela sala, sobre um amigo que ela amava como um irmão. Medo porque via que o rosto sempre sorridente do Magid encontrava-se abatido, exausto, escondendo nas suas sombras algo de todos eles.

_ Alexandre… onde está o Harry?

Surpreendentemente não fora ela que falara mas Ginny, que se manterá calada durante toda a manhã. Hermione olhou com pena para a amiga, notando as profundas olheiras por debaixo dos olhos chocolate e a palidez crescente.

Viu-a olhar bem no fundo dos olhos do Magid, não vacilando nem por um instante, disposta a ser forte e a agir ao menor soar de alarme. E naquela competição de olhares, foi Alexandre que desviou o seu, fixando-o na lareira… fugindo da verdade.

_ O Harry… o Harry não está aqui.- A voz soou-lhe estranha, como se contivesse algo na garganta.

“Estás a conter lágrimas, Alexandre?” – a mente de Hermione fervilhava – “O que pode ter acontecido para que estevas tão na defensiva? O que escondes?”

_ Não está aqui? Não está aqui? É isso que me tens a dizer? Que o meu namorado não está aqui? EU JÁ REPAREI NISSO! – Alexandre estremeceu ao notar o elevar da voz - Por isso não preciso que me digas que o Harry “não está aqui” mas sim onde ele está? ONDE ESTÁ ELE, ALEXANDRE KELLER?

_ Ginny tens de compreender que ser Magid envolve rituais antigos… tão antigos que nunca um de nós o realizou. E nós tentámos sempre evitar realizá-los…

_ Eu perguntei onde estava o meu namorado!

Mas Alexandre continuou como se não a tivesse ouvido, a sua voz tremendo cada vez mais.

_ Mas por vezes não temos outra opção. E mesmo sabendo que estamos a correr riscos desconhecidos, a nossa função é proteger.

_ AINDA NÃO ME RESPONDESTE!

_ Ele sabia que isto seria arriscado mas ele quis cometer esse risco. Nós tentámos…

Ginny aproximou-se dele em três longas passadas e esquecendo-se que à sua frente estava um adulto, um bruxo muito mais poderoso que ela, ergueu a mão e deu-lhe um bofetada. Alexandre manteve-se hirto sem levar a mão ao rosto ou dizer uma única palavra. Olhava para a ruiva à sua frente não com medo ou revolta ou mesmo raiva. Olhava-a com derrota!

_ Eu perguntei – a voz dela tremia-lhe, bem como ambas as mãos agora, caídas – onde o Harry estava. Não quero ouvir desculpas, justificações, descrições da vossa responsabilidade Magid, nem lamentações. Tudo o que quero é uma resposta curta e sincera. Agora eu vou voltar a perguntar e tu vais dar-me essa resposta: Onde está o Harry?

_ Não sabemos.

Hermione levou ambas as mãos ao rosto, sentindo o mundo ruir à sua volta. Sentiu as pernas fraquejarem e receou ceder à força da gravidade mas, Ron rapidamente a segurou. Olhando para o lado, viu o rosto do namorado contraído, tenso nos seus próprios pensamentos. James, Sirius e Remus olhavam tudo boquiabertos, demasiadamente chocados para elaborar uma reposta ou acção.

Mas Ginny manteve-se impassível e se não fosse pelas lágrimas que Hermione lhe adivinhava nos olhos, juraria que esta não ouvira a resposta do Magid.

_ Explica-me como é possível não saberes onde ele está? Não saíste com ele ontem à noite.

_ Saí. – Alexandre parecia ter desistido de lutar, deixando os seus ombros descair, olhando apático para Ginny.

_ Não estiveste com ele o tempo todo?

_ Não. Nós… dividimo-nos em grupos. Harry ficou com Oliver e Hengisto.

_ Então…- Ginny esforçava-se para pensar racionalmente, por muito que lhe custasse não ceder às emoções – Eles devem saber onde ele está.

_ Ninguém sabe. Ele simplesmente… desapareceu.

_ Desapareceu? DESAPARECEU?!- e com isso, o muro que tinha aguentado Ginny durante toda manhã ruiu, destruindo-se em milhares de pedras soltas. - DIZ ALEXANDRE, PORQUE ESTOU UM POUCO CONFUSA, COMO É POSSÍVEL UMA PESSOA SIMPLESMENTE DESAPARECER?

Levantando ambas as mãos, agarrou no Magid com força pelos ombros, abanando-o impiedosamente na procura de repostas.

_ COMO É POSSÍVEL PERDER ALGUÉM DESTE MODO? COMO FOSTE PERDÊ-LO?! COMO?!

Num segundo Ginny tentava arrancar respostas do loiro com suas próprias mãos e no outro, mãos alheias fechavam-se nos pulsos de Ginny, afastando-a do Magid. Por uns momentos Hermione pensou serem de Alexandre mas a pequenez e delicadeza das mesmas levou-a a levantar os olhos para ver uma figura levantar-se da poltrona junto a Alexandre. Uma figura que se mantivera escondida de todos até aquele momento.

Lily Evans, agarrou delicadamente nos pulsos de Ginny, guiando-a para si. Ginny levantou o rosto espantada, sem se importar com as lágrimas que agora escorriam por sua face apenas para reparar que não só Lily sorria tristemente como também seu próprio rosto estava marcado de lágrimas derramadas.

_ Ginny… ouve-me! Isto não vai ajudar o Harry. Nós agora precisamos de ser fortes. Fortes por nós e por ele.

James deu um passo em frente, olhando-a como se estivesse a ver um fantasma.

_ Lily? Mas… o que estás aqui a fazer?

_ Vim porque queria respostas tal como vocês querem neste momento. Vim porque Alexandre tinha coisas a dizer-me.

Alexandre levantou-se e respirou fundo, falando com maior convicção.

_ Nós não sabemos onde ele está mas posso prometer-te que vamos descobrir. Nós estávamos a fazer um ritual e… apenas digamos que as coisas não correram como era previsto.

Ginny afastou-se um pouco de Lily olhando-o desesperadamente.

_ Achas que ele… que ele…

_ Não creio que ele esteja morto. Pelo menos espero que não. Eu e os outros Magids vamos encontrá-lo e prometo-te que só vamos descansar quando o fizermos.

_ Vocês têm de nos deixar ajudar!

_ Não, James! Não é suposto nenhum de vocês ser envolvido nos nossos assuntos.

_ Mas…

_ Não quero discutir agora sobre isto. Vocês vão afastar-se de tudo isto e deixar-nos resolver as coisas à nossa maneira! – o tom de voz mostrava claramente que Alexandre não estava para ser ignorado, mas James não se iria deixar vencer tão facilmente.

_ Sentarmo-nos e esperar? É esse o teu conselho?! O Harry está desaparecido e é suposto ficarmos aqui em vez de ajudar?

_ Vocês ajudam mais se não se colocarem em perigo. As coisas já estão complicadas como estão sem termos um bando de adolescentes com complexo de herói a somar à equação.

_ BANDO DE ADOLESCENTES?! É assim que nos vês? Não sei se reparaste mas o Harry é UM ADOLESCENTE!

Uma chama de fúria acendeu-se no olhar de Alexandre e este deu um passo em frente, olhando para James em desafio.

_ Ele é um adolescente mas ele foi treinado para isto. Não deixes que as brincadeiras e os sorrisos traquinas te iludam, James Potter! Harry é um guerreiro e um bruxo treinado. Ele trabalhou muito para atingir o nível que tem agora e tornou-se em alguém capaz de se defender e atacar quando preciso.

_ Pois… bem se vê que lhe serviu de muito! – o tom sarcástico era notado – Tanto treino e tanto poder para agora estar desaparecido.

_ Não fales do que não sabes! Não penses que não estou preocupado. Harry é como um irmão para mim.

_ MAS É MEU FILHO! – o grito fez Alexandre calar-se – Independentemente de termos a mesma idade ele um dia será meu filho. E é assim que eu o vejo. NÃO PENSES QUE ME ESQUECI! Mas tu agora estás a dizer-me que devo esperar e não fazer nada?! Pois podes desejar e mandar o quanto quiseres. EU NÃO VOU FICAR DE BRAÇOS CRUZADOS E DUVIDO MUITO QUE ALGUÉM NESTA SALA O FAÇA.

Alexandre semicerrou os olhos e por uns momentos Hermione receou que ele atacasse James mas este limitou-se a falar numa voz fria e controlada.

_ Tu não vais fazer nenhuma idiotice. Vais ficar aqui em Hogwarts com os teus amigos…

_ Então o Harry não está em Hogwarts. Diz-me Alexandre, por acaso sabes onde ele está mas apenas não mo queres dizer? É isso?

_ TU VAIS FICAR EM HOGWARTS E ISTO NÃO É UM PEDIDO. NÃO MEÇAS FORÇAS COMIGO, JAMES POTTER, PORQUE SE O FIZERES PODES TER A CERTEZA QUE IRÁS PERDER!

Segurando por mais alguns segundos o olhar de James, desviou a sua atenção para o resto do grupo.

_ Eu agora não tenho muito tempo. Eu só vos queria alertar para uma coisa: se eu e os outros Magids não voltarmos…

_ O que queres dizer com isso, Alexandre? – Remus olhou para ele espantado.

_ Apenas estou a falar hipoteticamente. Nós não os vamos deixar sozinhos, pelo menos não se o conseguirmos evitar. Mas para o caso de isso acontecer queremos ter a certeza de que não estarão sós e que as vossas perguntas possam ser respondidas.

_ E como pretendes fazer isso?

Alexandre olhou para Lily significativamente.

_ A razão porque quis falar com a Lily antes de vocês, foi para lhe entregar algo que vos poderá ser útil num futuro próximo.

Naquele momento, a porta da torre abriu-se, dando passagem a Madalena que olhou para Alexandre, recebendo um sinal de confirmação.

_ Não tenho muito tempo. Lily guarda isso com todo o cuidado. Não o percas! Caso nós não voltemos, lembra-te que Hogwarts está protegida por uma barreira muito poderosa. Enquanto estiverem aqui dentro, Behemoth não os pode atingir. E caso se sintam sozinhos ou sentirem que precisam de respostas, isso vai ajudar-te.

Hermione olhou desconfiada para Lily, observando, surpreendida, esta levar a mão ao peito, agarrando algo invisível para ela.

_ Bom…- resmungou Sirius – Isso ajuda muito, não é verdade. Já que ainda aqui estás e eu já estou cheio de dúvidas.

Alexandre sorriu e começou a dirigir-se para a porta onde Madelena ainda o esperava.

_ Não te preocupes Ginny. Eu vou encontrar o Harry. Boa sorte para todos.

E com isso, limitou-se a virar as costas, saindo pela porta.

Durante alguns segundos, nenhum deles falou uma palavra sequer, olhando fixamente para Lily. Por fim, Sirius decidiu verbalizar a questão presente na mente de todos eles.

_ Mas afinal Lily, o que foi que ele te deu?

Lily sorriu levemente, levando a mão ao pescoço e puxando algo comprido que se encontrava pendurado no seu pescoço. Era de ouro… era antigo… e dele pendia uma bolota.

_ Um colar!


* * *


Richard sentia todo o seu corpo tremer e não conseguia controlar. Sentia alguns colegas ao seu lado e sabia que o medo não pertencia apenas a ele. Os soluços das raparigas e as expressões de terror nos rapazes eram uma prova viva disso.

Não sabia quanto tempo ao certo tinha passado. Talvez 20 minutos ou se calhar 20 segundos. A única coisa que sabia era que estava fechado numa estufa, com vários colegas aterrorizados e uma criatura com forma de homem sentada numa das mesas ao pé da porta.

E por mais que tentasse desviar os seus olhos da figura do homem, mais a sua atenção se fixava na espada que repousava agora nos joelhos dele. Sem saber ao certo porquê, aquela espada cativava-o. Talvez fosse a ideia de que poderia morrer através dela ou talvez fosse pelo facto de que, embora grosseira, tinha uma beleza cativante.

Fechou os olhos tentando afastar as imagens que lhe surgiram na mente, envolvendo o seu corpo a ser trespassado por ela. Quando os reabriu, sentiu o coração saltar. O estranho olhava agora para ele, sorrindo divertido como se tivesse adivinhado os seus pensamentos.

“Não olhes para ele! Só vais piorar as coisas. Não olhes para ele!”

Mas novamente olhou para ele e reparou que ele continuava a fitá-lo.

_ Qual é o teu nome rapaz?

Sentiu o sangue gelar e desejou ardentemente que o estranho não estivesse a falar com ele. Mas o facto de que os olhos dele não se desviavam dos seus e o sorriso não se alterara, destruiu quaisquer esperanças. Talvez se não respondesse ele não o pressionasse. Talvez o deixasse em paz!

Mas tal não aconteceu. O estranho levantou a mão, fazendo-lhe sinal.

_ Não ouviste rapaz? Eu fiz-te uma pergunta. Como te chamas?

_ R…R…Richard.

_ Richard? É um bom nome. Porque é que não te aproximas?

Os olhos esbugalharam-se e rapidamente olhou em torno dele à procura de uma saída. Ele não queria aproximar-se do estranho!

_ Deixe o meu aluno em paz! Se quiser magoar alguém, magoa-me a mim, mas deixe os meus alunos em paz.

Professora Sprout! Nunca… nunca tinha Richard sentido tamanho onda de gratidão por alguém como naquele momento. Nunca!

_ Tenha calma Professora! Eu não vou magoá-lo. Quero apenas conversar. - virando-se novamente para ele – Aproxima-te Richard. Não tenho razões para te magoar.

Vendo que não teria outra saída, foi aproximando-se cautelosamente, tropeçando nos próprios pés. Quando, por fim, se viu frente a frente a ele, olhou novamente para os olhos do estranho que se adivinhavam por entre as fendas da pesada máscara que usava. Eram de um verde-escuro.

_ Muito bem. Mesmo novo mostras fibra, para conseguires encarar o teu inimigo nos olhos. Mas tens de ter cuidado jovem Richard, porque embora alguns dos teus inimigos possam louvar a tua coragem, outros podem ficar afrontados por ela e aí as coisas pioram para o teu lado. - desviou imediatamente os olhos sentindo uma nova onda de receio. - Mas eu não sou desses. Gosto de ter adversários à altura! Mas agora não somos inimigos, pois não Richard? Pelo menos agora não.

Viu o estranho levantar a mão e fechou os ollhos pensando que este lhe iria bater. Quando vários segundos passaram sem dor e ouviu a risada dele, reabriu os olhos para ver a mão do estranho estendida à sua frente. Será que ele queria ele lhe apertasse a mão? Olhando novamente para o rosto do estranho, viu-o fazer sinal com a cabeça. Só então, estendeu a sua trémula mão e fechou-a na outra coberta por uma luva negra.

_ Muito Prazer Richard. O meu nome é Igneos. – sentiu o aperto forte que Igneos lhe deu. – Assim é que se cumprimenta. Até os inimigos. Mostra que respeitas o inimigo. Não tens de gostar dele, mas respeitas o seu poder e o que ele pode fazer. Eu respeito a tua coragem Richard, agora tens de respeitar o meu poder porque se hoje não te mato, o mesmo pode não ser dito amanhã. Sem ressentimentos!

Richard afastou rapidamente a mão, dando um passo atrás. Do fundo da estufa ouviu os colegas susterem a respiração.

_ Mas não tens de te preocupar agora com isso. Pela minha parte, não tens nada a temer… por agora.

_ Então… então o que faz aqui?

Igneos riu divertido.

_ Ora aí está uma boa pergunta. Como estamos a dar-nos tão bem vou-te responder: aguardo por velhos conhecidos. Tu sabes… os Magids!

_ Vai matá-los?

_ Sou poderoso Richard mas não idiota. Não tenho poder para lutar com todos eles. – estendendo-lhe um dedo à frente da face como se o estivesse a chamar a atenção - Mas isso não quer dizer que não faça os meus estragos! Como já tinha dito, venho entregar uma mensagem.

Sem saber o que dizer ao certo, olhou novamente para o colo de Igneos, vendo agora a espada com maior pormenor. Via agora como era grande e reluzente ao perto e o cabo, que de longe lhe parecia ser feito de ferro, era na verdade feito de um ouro muito escuro com longas gravações de um material escuro que envolvia todo o cabo. Olhando mais de perto parecia a representação de troncos de árvores e heras.

_ Gostas da minha espada?

_ Acho que sim.

_ “Achas que sim?” Ou gostas ou não!

Limitou-se a acenar com a cabeça que sim.

_ Significa que tens bom gosto. Esta espada não é uma espada usual.

_ Como assim? – tentou controlar mas a curiosidade venceu.

_ Digamos que é uma espada com magia própria. Deverias ver-me lutar com ela. Pensando melhor, talvez não queiras.

A forma como falou fê-lo ter a certeza de que ele queria dizer que a única oportunidade que ele iria ter de vê-lo a manejar a espada seria durante uma batalha onde ele seria definitivamente o inimigo.

_ Deixa o miúdo em paz!

Virando-se rapidamente para a porta de estufa, reparou nas quatro figuras que haviam acabado de chegar: o director e outros 3 Magids dos quais só se lembrou de Morgana.

_ Albus Dumbledore! – O toque de ironia era perceptível - Quanta honra! E é claro que não me posso esquecer dos outros. Bom dia Morgana! Gabriella, Martin!

_ Igneos! – Morgana deu um passo em frente e Richard assustou-se com a expressão no olhar dela – O que fazes aqui?

_ Bem… quanta agressividade! Eu vim em paz.

_ Tens uma turma de alunos e uma professora como reféns. Isso dificilmente diz bem das tuas intenções.

_ A Magid Gabriella não mudou muito, pois não? Sempre calma mas directa. Não tenho aqui nenhuns reféns. Muito pelo contrário! Pode considerá-los meus convidados.

_ O que vieste aqui fazer?

_ Vim apenas entregar uma mensagem de Behemoth.

_ Que é…

_ Ele pergunta se perderam alguma coisa. – as expressões dos Magids fizeram-no rir - E aconselha-vos a procurarem no vilarejo de Hogsmead. Ele até diz que vos ajuda!



* * *


O tempo é caprichoso…

Por vezes deixa o homem sentir que o controla, deixando-se acariciar pelas mãos dos mortais. Mas quando existem aquelas alturas, em que o Homem fecha as mãos, tentando agarrá-lo com um pouco mais de fervor, tentando desviá-lo do seu curso… atrasando-o ou adiantando-o… Ele simplesmente ri com sabor, e desvanece-se por entre os dedos.

O que fazer quando existe aquele momento… talvez um único momento… que é imperioso congelá-lo e torná-lo mais presente e ele parece ganhar asas e voar? E quando queremos adiantá-lo e ele parece adormecer no presente?

Deveremos agarrá-lo? Lutar com ele? Mostrar que somos mais fortes? Mais poderosos?

Como poderemos se ele é muito mais do que nós…

O que nos resta é fechar os olhos e aproveitar a viagem…



* * *


2 horas depois…


_ Tem de haver algum truque! Ele não nos iria entregar um fio com uma bolota apenas porque lhe apeteceu!

A frustração reinava no dormitório do 7º Ano na Torre de Gryffindor e não parecia que iria desaparecer tão cedo. Duas horas haviam passado numa rajada de vento desde a atribulada despedida de Alexandre. Duas horas de pura agonia porque por muito que tentassem perceber as palavras do Magid e a razão da existência daquele colar, nada lhes vinha à mente.

_ O que foi que ele te disse exactamente Lily?

A ruiva respirou fundo e disse, o que lhe parecia ser pela milésima vez, o que Alexandre lhe havia dito:

_ Ele pouco disse. Apenas referiu que este colar nos iria ajudar quando precisássemos. Que nos daria as respostas necessárias.

_ “Quando precisássemos”, não é? Ron tu não achas que isto te faz lembrar da snitch?

Ron olhou para a namorada confuso.

_ Qual snitch?

_ Aquela do nosso sétimo ano. Aquele que Dumbledore deu ao Harry!

_ Porque é que o Dumbledore iria oferecer uma snitch ao Harry? – perguntou estupefacto James mas Hermione optou por ignorá-lo vendo a compreensão surgir no rosto de Ron.

_ É uma possibilidade. Só tem um pequeno problema Hermione… a bolota pura e simplesmente não abre!

Hermione agarrou no colar olhando-o minuciosamente.

_ Tem de haver uma maneira. Temos apenas de pensar: como se pode guardar um segredo dentro de uma bolota?

_ O que te faz pensar que é um segredo?

_ É a única explicação plausível, não é verdade? Se isto nos vai responder às nossas questões é porque deve ter um livro, um pergaminho, qualquer coisa! Existe alguma coisa guardada nesta bolota e eu vou descobrir o que é!

Sirius deixou-se cair na cama, fechando momentaneamente os olhos.

_ Talvez sirva apenas como amuleto. Afinal ele falou que nos vai proteger!

_ Sim… Mas um amuleto não responde a questões! - lembrou Lily exasperada.

_ Eu apenas sei que deveríamos estar lá fora a procurar o Harry em vez de estarmos a perder tempo com um fio idiota. – James aproximou-se da janela olhando os terrenos de Hogwarts.

_ James… - Lily olhava triste para o moreno – Sei que queres ajudar o Harry mas nós nem sabemos onde procurar. Talvez este fio nos dê a resposta.

Ron desencostou-se da parede e aproximou-se de Hermione, tirando-lhe o fio da mão.

_ Se calhar nem funciona. Já tentaste feitiços?

_ Já, Ron! Já tentei todos os feitiços que me lembrava.

Ron torceu o nariz, olhando para a bolota firmemente. Lançou-a ao ar, tentou abri-la, deixou-a cair ao chão (para grande desespero de Lily e Hermione) mas tudo foi em vão.

_ Talvez seja suposto comê-la! – disse por fim.

_ Ron! Não! Se fosse para comê-la porque nos daria Alexandre a bolota num fio?

_ Sei lá! - encolheu os ombros - Se calhar para a guardarmos para quando realmente precisássemos, como ele próprio disse. E se queres que te diga, com o Harry desaparecido, não consigo pensar em melhor altura do que esta.

E antes que Lily ou Hermione fizessem alguma coisa, Ron levou a bolota à boca. Hermione não sabia o que deveria esperar mas não era certamente que o namorado desse um grito e cuspisse a bolota.

_ O que aconteceu?

_ A bolota deu-me um choque!

Sem conseguir evitar, um pequeno sorriso assolou nos lábios de Hermione.

_ Ron, não digas disparates. É claro que a bolota não te deu um choque!

_ Ai isso é que deu. Não sei como mas deu. E não foi pequeno! – resmungou enquanto esfregava o bochecha.

Mas Hermione não chegou a ter oportunidade de responder, pois no mesmo instante, um Remus e uma Ginny ofegantes entraram de rompante pelo dormitório.

_ Está a ocorrer outro ataque em Hogsmead!

Em três passadas James rapidamente se pôs à frente deles não escondendo a ansiedade.

_ Behemoth?

_ Não! Voldemort! – respondeu Remus – E não é só isso…

Trocando um olhar ansioso com Ginny, completou:

_ Os Magids já não estão no castelo!


* * *


A notícia do ataque a Hogsmead viajou rapidamente por todo o castelo e, no espaço de meia hora, alunos e professores encontravam-se no interior do salão principal.
E embora existisse uma confusão de conversas laterais, murmúrios furiosos e choros silenciosos era possível detectar uma única coisa: receio! Receio pelos habitantes de Hogsmead… pelos familiares que sabiam poder morrer naquele dia… receio que o ataque se alastrasse para Hogwarts.

Apesar de todo barulho, Lily mantinha-se silenciosa. Trocando olhares com Hermione e Ginny, reparou que também elas pensavam o mesmo que ela: E se aquele ataque estivesse de algum modo relacionado com Harry?

Inconscientemente levou a mão ao colar pendente no seu pescoço, sentindo a bolota quente ao toque. “Porque me deste isto Alexandre? Como é que isto nos vai ajudar?”

Saindo dos seus devaneios, virou-se para Hermione:

_ O James e os rapazes ainda não voltaram?

_ Não… ainda não.

_ Afinal onde eles foram?

_ Eles apenas disseram que iam tentar descobrir mais alguma coisa - Hermione fez sinal de descrença – Pessoalmente, espero que não tentem fazer algo estúpido. Não gostei nada da troca de olhares entre eles.

Lily suspirou, olhando agora para a outra ruiva. Desde o momento em que Alexandre os tinha deixado sozinhos na torre, Ginny não tinha tecido uma palavra sequer, mantendo-se silenciosa na sua preocupação. Lily estendeu a mão e colocou-a sobre a dela.
Quando Ginny levantou os olhos tristes e cansados para ela deparou-se com duas orbes verde-esmeralda, iguais às de Harry, preenchidas com simpatia e determinação.

_ O Harry está bem!

_ Como podes ter tanta certeza?

_ Chama-lhe intuição! O que quiseres… Mas sinto que Harry está vivo. Ele vai voltar, Ginny. Apenas temos de acreditar nisso.

Trocando sorrisos encorajadores, Lily apertou-lhe a mão com mais vigor.
Só desviaram os olhos uma da outra quando todo o salão ficou em silêncio e a Professora McGonagall deu um passo em frente.

_ Como já devem ter reparado, o vilarejo de Hogsmead está sobre ataque.

_ São outra vez as mesmas criaturas? – uma voz se fez soar.

_ Porque é que o director não está aqui? Ele foi ajudar? – outra rapidamente se seguiu.

E velozmente várias perguntas ansiosas se fizeram ouvir, o que obrigou a professora levantar a mão, exigindo silêncio.

_ Sei que têm muitas perguntas mas têm de manter a calma. Este ataque está a ser feito por Devoradores da Morte. E o director não está aqui neste momento porque teve de tratar de assuntos urgentes.

_ Então não vamos fazer NADA?

_ VOCÊS não iram fazer nada! Tudo o que terão de fazer é manter-se dentro dos limites de Hogwarts. O castelo está protegido e enquanto assim for nada vos pode atingir. Neste momento o departamento de Aurores já foi alertado sobre o ataque e tenho a certeza de que já estão a agir neste momento. Sei que estão preocupados pelas vossas famílias e conhecidos mas asseguro-vos que tudo já está a ser feito no sentido de travar este ataque.

Olhando profundamente para os alunos, Minerva respirou fundo e falou num tom de voz que não deixava espaço para rebeldias.

_ Neste momento, todos os professores estão a selar as passagens de Hogwarts para impedir que algum de vós, num impulso, tente ir ao vilarejo. Todos os alunos estão proibidos de saírem do castelo. As aulas estão interrompidas pelo resto do dia e vocês podem vaguear pelos corredores de Hogwarts como bem entenderem. Mas se eu, ou outro professor ou funcionário, apanharmos alguém a tentar sair do castelo, não só as vossas tentativas serão infrutíferas como também irão ser castigados por isso. Agimos desta maneira para vos proteger! Irão manter-se dentro do castelo e não irão tentar armar-se em heróis. A partir deste momento e até ao momento que nós dissermos, os terrenos de Hogwarts e saídas deles estão absolutamente proibidas!

Minerva observou a onda de reclamações crescer diante dos seus olhos, mas respirou fundo em alívio. Desde que os alunos estivessem protegidos dentro do castelo nada lhes poderia fazer mal.

No entanto, se Minerva McGonagall pudesse ver para além das paredes do castelo, na direcção do salgueiro plantado num dos terrenos, iria reparar nas 4 figuras que se aproximaram do mesmo. Iria reparar em como conseguiram congelar os ramos furiosos da árvore apenas para penetrar numa pequena passagem.

Se Minerva McGonagall tivesse visto isto, nunca aquela onda de alívio se teria instalado nela!

* * *

_ Não sei se isto é boa ideia James!

Já fazia alguns minutos que haviam entrado no túnel que ligava Hogwarts a Hogsmead e embora tivessem discutido várias vezes se deveriam ou não ir ao vilarejo, a vontade de ajudar falara mais alto.

_ Remus, eu sei que estás preocupado com o que os professores vão dizer mas eu não vou deixar que Voldemort mate mais gente.

_ Eu não estou preocupado com os professores! – resmungou o lobisomem – O que eu estou preocupado é com o que vamos encontrar lá. Aquilo pode estar cheio de devoradores e dementors e sabe-se mais lá o quê! Achas que estamos preparados para lutar contra tudo isso?

Sirius e Ron trocaram olhares entre si, ao mesmo tempo que James se virou para trás encarando o amigo furiosamente.

_ O que eu sei é que não vou ficar em Hogwarts sentado, SEM FAZER NADA, enquanto dezenas de pessoas morrem. Além disso, tenho a sensação que os Magids estão lá. E onde eles forem, EU VOU!

_ James…- Remus olhou compreensivamente para ele - Tu não podes salvar toda a gente. Se calhar Alexandre tem razão. Se o Harry não conseguiu proteger-se como esperas protegê-lo?

_ Eu não sei! Mas não vou deixar o Harry! Não vou! Não vou deixá-lo lutar sozinho e abandoná-lo para ser torturado, mutilado...

Uma sombra passou pelos olhos avelã e finalmente Remus compreendeu. Aquilo não era apenas sobre o Harry. Aquilo era sobre o pai de James e como tudo parecia estar a repetir-se. Remus sabia que James se culpava pela morte do pai, pelo facto de não ter ficado a lutar ao lado dele. E por muito que Remus e Sirius lhe dissessem em contrário, James sentia-se responsável por tudo. E agora, ao ver o olhar feroz do amigo, percebeu que James queria proteger Harry como quisera proteger o pai. E nada nem ninguém o iria impedir!

_ Tens razão! Lidera o caminho. No que me respeita, eu luto ao teu lado.

James sorriu agradecido a Remus, antes de olhar para Ron e Sirius. Ron limitou-se a encolher os ombros num “Não estou a fazer nada mesmo!” enquanto Sirius sorriu traquina.

_ Tu conheces-me. Estou sempre pronto para derrotar e humilhar alguns Slytherins.

Soltando uma pequena gargalhada, James virou-se para a frente, caminhando em direcção a uma batalha que pretendia ganhar.

Mas quando, por fim, abriram o alçapão na cave da loja dos doces, e saíram para a rua, nada os preparou para o Inferno que viram à sua frente. Casas a serem consumidas por chamas escaldantes… crianças a chorar e gritar pelos pais…. feitiços e maldições a voarem em todas as direcções.

Olhando uns para os outros, encontraram a coragem necessária para respirarem fundo, e entrarem nesse mesmo inferno!

Remus e Ron correram em direcção a uma família que chorava desesperada porque um dos filhos se encontrava encurralado na casa parcialmente destruída.

Sirius e James dirigiram-se para o fundo da rua, varinhas em riste, disparando feitiços contra dois devoradores da morte que tinham agarrado numa mãe, torturando-a sem parar enquanto a criança chorava copiosamente.
_ Aresto Momentum! - gritou Sirius fazendo o devorador da morte, que torturava a mãe, estagnar por completo - Stupefy!
Ainda o corpo não tinha tombado, já James apontava rapidamente a varinha para o telhado por cima do segundo devorador.
_ Confringo!

O telhado explodiu, fragmentando-se em vários pedaços que caíram em direcção ao devorador, que apontou sua varinha para eles fazendo-os desfazer-se em fumaça.

Sorrindo convencido, olhou novamente para James.

_ Esperto rapaz! Mas não o suficiente! Cruc…

Mas nenhuma maldição chegou a sair da sua varinha pois o bruxo arregalou os olhos momentaneamente antes de tombar no chão inconsciente. Por detrás dele, surgiu um Sirius divertido, ainda com a varinha apontada.

_ Eu cá não sei mas eu sempre gostei de ataques surpresa!

James riu divertido, olhando para a pequena nos seus braços.

_ Está tudo bem, pequenina. A tua mãe está ali.

A pequena virou os seus olhos azuis, brilhantes pelas lágrimas, para a mãe, apenas para a ver sorrir para ela, enquanto abriu os braços. Não foi preciso esperar muito mais antes da criança correr em direcção dela, afundando-se no abraço quente da mãe. A senhora afastou os olhos do seu precioso embrulho, sussurrando a James um “Obrigada” muito sentido.

Mas James já não mais olhava para ela mas sim para um ponto mais distante. Por entre os escombros de um vilarejo parcialmente destruído e da fumaça que se instalar em torno deles, dois olhos esmeraldas observavam-no intensamente. Dois olhos num rosto repletos de cortes, num corpo claramente mal tratado.

_ Harry!

Correu em direcção ao Magid sentindo um alívio imenso crescer dentro de si. Harry estava vivo! Claramente magoado mas vivo! E isso era tudo quanto importava…

Tal era a sua felicidade que nem reparou quando o Magid levantou a mão lançou-lhe uma bola de luz que o fez tombar dolorosamente no chão.

Sirius rapidamente o ajudou a levantar-se, olhando chocado para o Magid. Novamente de pé, James olhou para Harry como se o visse pela primeira vez. Reparou no queixo contraído e na forma tensa como se apoiava numa das pilastras em frente de uma das casas do vilarejo. Mas o que mais o chocou foi a frieza da voz com que finalmente falou.

_ O que fazes aqui James?

_ Vim ajudar!

_ Não deverias estar aqui! Vai para Hogwarts James e fica lá.

_ Olha lá! A quem pensas que estás a dar ordens? – Sirius encarava o Magid furioso, vendo-o sorrir ironicamente. Um sorriso que nunca vira no rosto dele.

_ Estou a dar ordens a dois alunos desobedientes que não sabem quando devem, deixar os outros resolver as coisas.

_ Nós viemos ajudar! E viemos proteger-te!

James observou chocado quando Harry riu divertido.

_ Proteger-me? Por favor… eu não preciso da vossa protecção! O que eu preciso é que vocês voltem para Hogwarts.

James não queria acreditar no que via. Aquele não podia ser o Harry! Simplesmente não podia! Harry nunca falaria tão friamente para ele ou Sirius e, certamente, iria agradecer toda a ajuda possível.

_ Tu não és o Harry?

_ “Não sou o Harry?!” Diz-me James, se não sou o Harry, quem sou então?- perguntou ironicamente.

_ O Harry nunca falaria assim connosco.

_ Pouco me interessa o que tu pensas. Eu sou o Harry, teu futuro filho e afilhado de Sirius, que ainda há pouco tempo trocou de lugar contigo numa aula com o teu professor de defesa contra as artes das trevas. – reparando no olhar surpreendido de James – Vês? Eu sou o Harry! Um Harry que te está mandar ir embora porque tem mais o que fazer do que estar a preocupar-se com dois alunos.

_ Porque estás a falar assim?

James olhou magoado para Harry e por uns segundos pensou ver um vislumbre de tristeza e culpa nos olhos verdes dele. Mas isso foi apenas num segundo porque no outro, Harry desviou o olhar, fixando-o num espelho que havia caído na rua e quando olhou para ele novamente, apenas determinação podia ser percebida nos olhos dele.

_ Ouve bem o que te digo… Tu vais agarrar todos os outros alunos idiotas que trouxeste contigo nesta missão e vais voltar para Hogwarts…

_Mas…

_ VAIS VOLTAR PARA HOGWARTS E FICAR LÁ!

_ Não enquanto não me disseres o que se está a passar. Onde estão os outros Magids? Porque foi que desapareceste? Onde…

Mas não chegou a concluir pois sentiu nova onda de dor em todo o corpo quando uma nova bola de luz o atingiu.

Olhando para Harry, sentiu uma mágoa enorme. Como poderia ele estar a fazer isso? O que se passava com ele? Erguendo-se novamente do chão, olhou duramente para o Magid.

_ Vamos embora Sirius!

_ Mas…

_ Ele tem razão. Não somos bem-vindos aqui.

_ Ainda bem que percebeste…- sussurrou Harry.

E quando se preparava para virar as costas ao Magid, James teve um vislumbre de algo estranho. Junto ao pé do Magid, uma pequena planta negra, despontava do solo e dela vertiam gotas de um líquido escuro. Sangue!

Trocando um olhar surpreendido com Harry, virou-lhe completamente as costas e correu na direcção oposta!


* * *


Nota de Beta: O tempo… eis algo que a Lightmagid adora brincar. Um vira-tempo nas suas mãos poderia ser uma arma muito perigosa. Mas não se preocupem… ela sabe o que faz… e sabe-o fazer melhor do que ninguém. Só uma óptima escritora consegue fazer o que ela fez: falar de uma personagem principal, lançar o mistério e, ao mesmo tempo, várias pistas, sem esse personagem aparecer. O mesmo falo de outras personagens (e uma em especial que apenas nós duas sabemos quem é!) Conseguiu, acima de tudo, mostrar o lado humano, com todas as fraquezas que este lado envolve, de vinte figuras que, à partida, pareciam intocáveis e inabaláveis.
Tiro o meu chapéu e curvo-me perante Lightmagid, porque ela sabe, de facto, como escrever uma excelente história.




Nota de autora


Escrevi este capítulo com o seguinte em mente, decidindo, no final, experimentar algo que nunca tinha feito.

Se os capítulos de uma história vivem uns para os outros, talvez devesse criar dois capítulos completamente dependentes um do outro para que os mistérios se encaixassem como se tratassem de duas peças de puzzle.

Assim, escrevi este capitulo e iniciei outro, sendo o próximo a outra face deste. Por essa razão, se vocês, leitores, não entenderam algumas coisas do que escrevi acima… se acharam que existem perguntas a responder… a minha missão foi completa. Só no próximo é que as coisas começam a fazer sentido.

Mas confesso, que quando comecei a escrever este capítulo não esperava que quando olhasse para o tamanho dele, o visse tão grande. Como devem ter reparado, e tal como a Guida referiu acima, tentar tornar uma personagem presente mas ausente ao mesmo tempo, não é tão fácil quanto isso.
Decidi brincar com o tempo e devo dizer que gostei. A pergunta é: vocês gostaram?

Mas por mais que tenha escrito neste capítulo, nada chega ao gosto enorme com que comecei a escrever o próximo.

O próximo é sem duvida alguma o meu referido porque…bem… digamos que explorei uma faceta minha que ainda não tinha explorado.

Portanto, antes de responder aos comentários do capítulo anterior quero perguntar algo: Gostaram deste capitulo e querem ler o próximo? Acham que vale a ena ler o próximo?

Por isso, peço que me digam a vossa opinião… criticas são sempre bem vindas. Por favor COMENTEM e eu serei rápida a postar o próximo!!

Agora respostas a comentários:

A Cristiane Erlacher: muito obrigada! Eu sei que aquele capitulo pode ser um pouco confuso pois abordava uma descrição de um ritual. Como prometido, postei hoje. Agora… o que tu achaste deste? Ainda mais confuso? Ainda com mais questões a responder?

A tati: Tens toda a razão: Um brinde de leite com chocolate à Guida! Ela merece não só no dia de aniversário mas como também todos os dias pela pessoa maravilhosa que é! Como deves ter reparado, não dei exactamente leite com chocolate ao Harry… na verdade tu nem sabes o que fiz ao Harry. Mas isso não é ainda melhor? O mistério? Quanto à jogada de behemoth… bem… apenas posso dizer que vais ficar chocada com a próxima jogada e todas as que vêem por aí. Vai-me dizendo se gostas delas….

A Deby: Oi filhota! Muito obrigada pelos elogios! Ainda bem que gostaste da descrição. Confesso que me custou um pouco escrevê-la. E este? Achas que valeu a ena? Foi enorme, não foi?

A Biank Potter: OI biank!!! Minha ameaçadora profissional! No final, nem tiveste de esperar muito. Espero que a tua prova de física não sofra por causa dos magids! Eles aguardam! É BOMBA?! BEM… se achares que este capitulo é bomba espera pelo próximo. Esse sim, será bomba! Mas então? O que achou a minha torturadora, lançadora de maldições, deste capitulo? Deu para o gasto?

A deco: Olá deco! Bem-vindo! Obrigada por teres a coragem ENORME de entrares neste mundo maluco dos magids. Realmente as coisas começam a ficar mais confusas principalmente se faz tanto tempo que já não lês magids. Quanto à tua sugestão, não fico nem um ouço chateada pelas propostas. Afinal são com elas que melhoro. Tens razão: esta fic não é particularmente virada para o romance, sendo que os meus personagens principais são os magids e não os marotos ou Ron, Hermione ou mesmo Ginny. No entanto, não quero criar outra personagem para ser par romântico do Harry porque devo confessar que gosto da personagem da Ginny e gosto de vê-la com o Harry. Adorei que me aches criativa mas neste caso prefiro manter-me de acordo com as regras da JK Rowling, prefiro dar asas à imaginação noutros aspectos. Espero que não fiques chateado ou triste. Mas por favor, sempre que tiveres um pedido ou um conselho, diz sem restrições. Eu tentarei, dentro do possivel aceder. Mas neste caso, eu estou a tentar criar uma ponte entre os magids e o sétimo livro e para isso, a ginny terá que ficar. Aguardo novas ideias e comentários!

A Mandy Black: Ainda bem que adoraste! Eu adorei ler o teu comentário! Se fiz algo de mal ao Harry? Hum… ainda não posso responder. Mas asseguro-te que não vai demorar para descobrires! Mas o que achaste deste capítulo? Merecedor?

Enfim… tal como tinha dito este capítulo foi o MAIOR de todos os que escrevi! Encaixei novas personagens, e comecei uma transição para uma nova fase da fic. Sei que tem muitas cenas e muitas perspectivas e algo estranho para o harry! Mas era suposto ser assim.

Por fim, acabo com pedidos DESESPERADOS por COMENTÁRIOS para que possa postar o próximo capitulo!


Até uma nova jogada behemoth vs Magids, a vossa sempre

Lightmagid

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