CAPITULO TRÊS: A PARTIDA DOS D

CAPITULO TRÊS: A PARTIDA DOS D



— A partida dos Dursley. — Falou Neville.


 


— Pra onde vão os Dursley? — Perguntou Harry.


 


— Só iremos saber se lermos Harry. — Falou Hermione.


 


O ruído da porta da frente batendo ecoou escada acima, e uma voz gritou:


— Ei! Você!


 


— Cadê a educação dessas pessoas? — Perguntou Luna.


 


— Eles não tem educação Luna. — Respondeu Harry.


 


Dezesseis anos ouvindo este chamado não permitiu a Harry duvidar que era a ele que o tio estava se dirigindo; ainda assim, não respondeu imediatamente. Continuou a contemplar o caco de espelho em que, por uma fração de segundo, pensara ter visto um olho de Dumbledore. Somente quando o tio berrou "MOLEQUE!", Harry se levantou vagarosamente e se encaminhou para a porta do quarto, parando, antes, para guardar o pedaço de espelho na mochila cheia com as coisas que ia levar.


 


— Quem eles pensam que é para te chamar de moleque? — Perguntou Sirius.


 


— E vem se arrastando! — urrou Valter Dursley quando o garoto apareceu no alto da escada. — Desça aqui, quero falar com você!


Harry desceu a escada, as mãos enfiadas no fundo dos bolsos do jeans. Quando chegou à sala de estar, encontrou os três Dursley. Trajavam roupas de viagem: tio Valter vestia um blusão de zíper castor, tia Petúnia um elegante casaco salmão, e Duda, o primo forte, musculoso e louro, uma jaqueta de couro.


 


— É impressão minha ou o Harry é o único magro dai? — Perguntou Cho.


 


— Com certeza eu sou o único magro daquela casa. — Respondeu Harry.


 


— Pois não? — disse Harry.


— Sente-se! — ordenou o tio. Harry ergueu as sobrancelhas. — Por favor! — acrescentou, fazendo uma ligeira careta como se a palavra lhe arranhasse a garganta.


Harry sentou-se. Pensou que sabia o que esperar. Válter Dursley começou a andar para cima e para baixo. Tia Petúnia e Duda acompanhavam seus passos com os rostos ansiosos. Por fim, o tio, com a cara larga e púrpura contraída de concentração, parou diante de Harry e falou:


 


— Seu tio é lindo. — Falou Gina irônica.


 


— Você acha? Não sou chegado a homem. — Falou Harry rindo.


 


Gina riu.


 


— Com certeza ele não faz o meu tipo. — Falou Gina entrando na brincadeira.


 


— E qual faz o seu tipo? — Harry deixou escapar.


 


— Sou mais chegado a magros de olhos verdes. — Respondeu Gina como num sussurro, para que apenas Harry pudesse ouvir.


 


Harry arregalou os olhos, nunca pensou escutar isso de Gina, depois de um tempo percebeu que todos olhavam para eles.


 


— Continue a leitura Neville. — Falou Harry.


 


— Mudei de idéia.


— Que surpresa — respondeu o garoto.


 


— Você não parece surpreso. — Falou Cho.


 


— Ele estava sendo irônico. — Explicou Gina.


 


— Não venha com ironias... — começou tia Petúnia com a voz esganiçada, mas o marido fez sinal para que ela se calasse.


 


— A Cho só pode ser burra mesmo, até a tia do Harry percebeu que ele estava sendo irônico. — Murmurou Gina, que apenas Harry entendeu.


 


— O que disse Gina? — Perguntou Harry.


 


— A sua namorada é burra, só burra mesmo para não perceber que você estava sendo irônico. — Respondeu Gina em apenas um sussurro.


 


— Ela não é a minha namorada. — Afirmou Harry também em um sussurro.


 


— Como sabe que não terá um futuro com ela? — Perguntou Gina sussurrando.


 


— Ela não é a mãe de meus filhos. — Respondeu Harry ainda apenas num sussurro para que ninguém ouvisse, se virou e viu que todos o olhavam, revirou os olhos, se virou para Neville e disse — Continue a leitura Neville.


 


— É tudo conversa fiada — afirmou ele, encarando Harry com seus olhinhos de porco. — Concluí que não acredito em uma única palavra. Vamos ficar aqui, não vamos a lugar algum.


Harry ergueu os olhos para o tio e sentiu uma mescla de exasperação e surpresa. Valter Dursley vinha mudando de idéia a cada vinte e quatro horas nas últimas quatro semanas, carregando o carro, descarregando-o e recarregando-o a cada mudança. O momento favorito de Harry tinha sido quando o tio, sem saber que Duda guardara os pesos de musculação na mala desde a última vez que fora descarregada, tentara colocá-la novamente no porta-malas e desequilibrou-se, soltando urros de dor e xingando horrores.


 


Todos riram.


 


— Pelo que me conta — disse Válter Dursley, recomeçando a andar pela sala —, nós, Petúnia, Duda e eu, corremos perigo. Por conta de... de...


— Gente da "minha laia", certo.


 


— Como assim gente “da sua laia”? — Perguntou Gui.


 


— Eles não confiam em bruxos. — Respondeu Harry.


 


— Pois eu não acredito — repetiu o tio, parando outra vez diante de Harry. — Passei metade da noite refletindo e acho que é uma armação para você ficar com a casa.


 


— Casa? Que casa? — Perguntou Harry.


 


— A casa? — perguntou Harry. — Que casa?


 


— Você não mudou muito Harry. — Falou Gina rindo.


 


— Esta casa! — gritou o tio, a veia da testa começando a pulsar. — Nossa casa! Os preços das casas estão disparando por aqui! Você quer nos tirar do caminho, fazer meia dúzia de charlatanices e, quando a gente der pela coisa, as escrituras estarão em seu nome e...


 


— Patético. — Falou Harry.


 


— O senhor enlouqueceu? Uma armação para ficar com esta casa? Será que o senhor é realmente tão retardado como está parecendo ser?


— Não se atreva!... — guinchou tia Petúnia, mas, novamente, Válter fez sinal para a mulher se calar: ofensas sobre sua personalidade não se comparavam ao perigo que identificara.


 


— As mulheres na minha época não são mandadas pelos homens, são independentes. — Falou Rose.


 


— Todas as mulheres deviam ser assim. — Falou Hermione.


 


— Caso o senhor tenha esquecido — disse Harry —, eu já tenho uma casa, meu padrinho a deixou para mim. Então, por que eu iria querer esta? Pelas boas lembranças que guardo daqui?


 


— Muito obrigada. — Falou Harry para Sirius.


 


— De nada. — Respondeu Sirius.


 


— Harry está ficando com raiva... — Começou Fred.


 


— Isso não é bom. — Terminou Jorge.


 


Fez-se silêncio. Harry achou que impressionara o tio com esse argumento.


— Você quer me dizer que esse tal lorde...


 


— Voldemort. — Completou Harry a frase do livro.


 


Todos tremeram ao ouvir um nome, Harry revirou os olhos.


 


— Voldemort — completou Harry impaciente —, e já repassamos isso cem vezes. E não é o que quero dizer, é um fato, Dumbledore lhe disse isso no ano passado, e Kingsley e o Sr. Weasley...


 


Harry olhou para Kingsley e para o Sr. Weasley como um pedido de obrigado, que entenderam o recado e assentiram.


 


Valter Dursley encolheu os ombros encolerizado, e Harry imaginou que o tio estivesse tentando exorcizar as lembranças da inesperada visita de dois bruxos adultos, logo no início de suas férias de verão. A chegada de Kingsley Shacklebolt e Arthur Weasley à porta da casa fora um choque extremamente desagradável para os Dursley. Contudo, Harry tinha de admitir que não era de se esperar que o reaparecimento do Sr. Weasley, que no passado demolira metade da sala, deixasse seu tio feliz.


 


— Desculpa. — Falou Arthur.


 


— Não tem nenhum problema. — Falou Harry.


 


— Kingsley e o Sr. Weasley explicaram tudo muito bem — salientou Harry sem piedade. — Quando eu completar dezessete anos, o feitiço de proteção que me resguarda se desfará, e isto me põe em risco e a vocês também. A Ordem tem certeza que Voldemort visará o senhor, seja para torturá-lo e descobrir aonde fui, seja por pensar que, se o fizer refém, eu tentarei vir salvá-lo.


 


— Mesmo não gostando deles, iria fazer o impossível para salva-lo. — Falou Harry.


 


O olhar do tio encontrou o de Harry. O garoto teve certeza de que naquele instante os dois estavam se perguntando a mesma coisa. Então, Valter recomeçou a andar e Harry continuou:


— O senhor precisa se esconder e a Ordem quer ajudar, ofereceu uma sólida proteção, a melhor que existe.


 


— É claro que seria a melhor que existe. — Falou Hermione.


 


Os participantes da Ordem a direcionaram um sorriso de agradecimento.


 


Tio Valter não respondeu, continuou a andar para cá e para lá. Lá fora, o sol batia diagonalmente sobre a cerca de Alfeneiros. Na casa ao lado, o cortador de grama do vizinho parou mais uma vez.


 


— Harry você não acha que é informação demais? — Perguntou Rony.


 


Harry apenas balançou os ombros.


 


— Pensei que houvesse um Ministério da Magia! — exclamou o tio bruscamente.


— Há — respondeu Harry, surpreso.


 


— Esperar ter a ajuda do ministério? Essa é a pior coisa que você faria. — Falou Harry.


 


— Acha que o ministério não faria nada para ajudar, que o ministério é uma coisa inútil? — Perguntou Fudge.


 


— Sim, acho. Como é o ministério na época de vocês? — Perguntou Harry a James, Al e Lily.


 


— É bem diferente desse ministério, o ministro é um homem justo, que não liga se a pessoa é nascido-trouxa, mestiço ou puro sangue, ou se é a pessoa mais rica do mundo. — Falou Lily.


 


— Como podem ter certeza? — Perguntou Arthur.


 


— Ele é um grande e velho amigo da família Potter e Weasley. — Respondeu Al.


 


— Continue a ler Tio Neville. — Falou James.


 


— TIO? — Perguntou Neville.


 


— É mania, conheço você desde quando era pequeno. — Falou James.


 


— Mais você não chama ele de Tio nas aulas de Herbologia. — Falou Fred II.


 


— Eu quase não falo com ele nas aulas, fico ocupado mexendo naquelas plantas nojentas ou dormindo em pé. — Explicou James.


 


— Como você dorme em pé? E como ele não te pega, ele me deu mó bronca só por causa que eu estava quase torturando a planta. — Falou Al.


 


— Da pra vocês pararem de falar das aulas e dos professores, por favor continue a ler Tio Neville. — Falou Rose.


 


— Me chamem só de Neville por favor, é estranho ser chamado de Tio. — Falou Neville antes de voltar a ler.


 


— Então, por que não podem nos proteger? Parece-me que, como vítimas inocentes, cujo único crime foi dar guarida a um homem marcado, deveríamos ter direito à proteção do governo!


 


— Ele está confundindo o governo trouxa com o ministério da magia. — Falou Hermione.


 


Harry riu; não conseguiu se conter. Era tão típico do seu tio depositar as esperanças nas instituições, mesmo as de um mundo que ele desprezava e não confiava.


— O senhor ouviu o que o Sr. Weasley e Kingsley disseram. Achamos que o inimigo está infiltrado no Ministério.


 


— Acharam certo. — Falou Scorp.


 


Tio Valter foi até a lareira e voltou, respirando com tanta força que ondulava o enorme bigode negro, seu rosto ainda púrpura de concentração.


 


— Eu achava que ele não ficaria mais feio, estou vendo que tudo é possível. — Falou Gina.


 


Harry riu.


 


— Com certeza tudo é possível. — Concordou Harry.


 


— Muito bem — disse ele, parando mais uma vez diante do sobrinho. — Muito bem, vamos considerar a hipótese de que aceitemos essa proteção. Continuo sem entender por que não podemos recebê-la do tal Kingsley.


 


— Ele confiaem você Kingsley.— Falou Dumbledore.


 


Kingsley apenas assentiu.


 


Harry conseguiu não erguer os olhos para o teto, mas a muito custo. A pergunta já tinha sido respondida meia dúzia de vezes.


— Como lhe expliquei — disse entre os dentes —, Kingsley está protegendo o trouxa, quero dizer, o seu primeiro-ministro.


 


— Exatamente: ele é o melhor! — exclamou o tio, apontando para a tela escura da televisão. Os Dursley tinham localizado Kingsley no telejornal, andando discretamente às costas do primeiro-ministro em visita a um hospital. Isto, e o fato de Kingsley ter aprendido a se vestir como um trouxa, sem esquecer da segurança que transmitia com sua voz lenta e grave, tinha levado os Dursley a aceitarem Kingsley de um jeito que certamente não se aplicara a nenhum outro bruxo, embora fosse verdade que eles nunca o tivessem visto de brinco.


 


Todos riram.


 


— Ele está ocupado — disse Harry. — Mas Héstia Jones e Dédalo Diggle estão mais do que qualificados para esse serviço...


 


— Dédalo vai falar o que não deve, quer apostar Aluado. — Perguntou Sirius.


 


— Não sou um idiota para apostar com você Almofadinhas. — Respondeu Remo.


 


— Se ao menos tivéssemos visto os currículos deles... — começou tio Valter, mas Harry perdeu a paciência. Levantando-se, dirigiu-se ao tio, agora ele próprio apontando para a televisão.


 


— Harry perdeu a paciência. — Falou Gina.


 


— Esses acidentes não são acidentes, as colisões, explosões, descarrilamentos e o que mais tenha acontecido desde a última vez que o senhor viu o telejornal. As pessoas estão desaparecendo e morrendo, e é ele que está por trás de tudo: Voldemort. Já lhe disse isso muitas vezes, ele mata trouxas para se divertir. Até os nevoeiros: são causados por dementadores, e se o senhor não lembra quem são, pergunte ao seu filho!


 


— Então o ataque foi real, mas quem mandou eles para lá? — Perguntou Fudge.


 


— Eu não sei. — Respondeu Harry.


 


— Iremos dizer outro dia. — Respondeu James.


 


As mãos de Duda ergueram-se bruscamente para cobrir a própria boca. Sentindo os olhos dos pais e de Harry postos nele, tornou a baixá-las lentamente e perguntou:


— Tem... mais daqueles?


 


— Mais? Existe milhares daqueles espalhados pelo mundo. — Falou Harry.


 


— Mais? — Riu-se Harry. — Você quer dizer mais do que os dois que nos atacaram? Claro que tem, tem centenas, talvez milhares a essa altura, uma vez que se alimentam do medo e do desespero...


— Está bem, está bem — trovejou Valter Dursley. — Você me convenceu...


 


— Demorou. — Falou Hermione.


 


— Espero que sim, porque quando eu completar dezessete anos, todos eles, os Comensais da Morte, os dementadores e até os Inferi, que é como chamamos os mortos-vivos enfeitiçados por um bruxo das trevas, poderão encontrar vocês e certamente atacá-los. E se lembrarem da última vez que tentaram ser mais rápidos do que os bruxos, acho que irão concordar que precisam de ajuda.


Houve um breve silêncio em que o eco distante de Hagrid derrubando uma porta de madeira deu a impressão de reverberar pelos anos transcorridos desde então. Tia Petúnia olhava para tio Valter; Duda encarava Harry. Por fim, o tio perguntou abruptamente:


— E o meu trabalho? E a escola de Duda? Suponho que essas coisas não tenham importância para um bando de bruxos vagabundos...


 


— Vagabundos? Olha quem fala. — Falou Sirius.


 


— Será que o senhor não compreende? — gritou Harry. — Eles torturarão e matarão vocês como fizeram com os meus pais!


— Pai — disse Duda em voz alta —, pai... eu vou com esse pessoal da Ordem.


 


— Que ótimo, se o Duda vai, eles vão juntos. — Falou Harry.


 


— Duda — comentou Harry —, pela primeira vez na vida você está demonstrando bom senso.


Ele sabia que a batalha estava ganha. Se Duda estivesse suficientemente apavorado para aceitar a ajuda da Ordem, os pais o acompanhariam; separarem-se de Duda estava fora de questão. Harry olhou para o relógio de alça sobre o console da lareira.


— Eles estarão aqui dentro de uns cinco minutos — anunciou e, diante do total silêncio dos Dursley, saiu da sala. A perspectiva de se separar, provavelmente para sempre, dos tios e do primo era algo que ele conseguia imaginar com alegria, mas, ainda assim, havia um certo constrangimento no ar. Que se dizia a parentes ao fim de dezesseis anos de intensa e mútua aversão?


De volta ao próprio quarto, Harry mexeu a esmo na mochila, depois empurrou umas nozes pelas grades da gaiola de Edwiges. Elas produziram um som oco ao bater no fundo, onde a coruja as ignorou.


— Logo, logo estaremos indo embora daqui — disse-lhe Harry. — Então você vai poder voar novamente.


 


— Ela deve estar angustiada. — Falou Tonks.


 


Harry assentiu.


 


A campainha da porta tocou. Harry hesitou, em seguida tornou a sair do quarto e descer: era demais esperar que Héstia e Dédalo enfrentassem os Dursley sozinhos.


— Harry Potter! — esganiçou-se uma voz animada, no instante em que ele abriu a porta; um homenzinho de cartola lilás fez-lhe uma profunda reverência. — Uma honra como sempre!


 


— Exagerado. — Falou Harry revirando os olhos.


 


— Obrigado, Dédalo — respondeu Harry, concedendo um sorriso breve e inibido a Héstia, a bruxa de cabelos escuros. — É realmente uma gentileza fazerem isso... eles estão aqui dentro, meus tios e meu primo...


— Bom dia aos parentes de Harry Potter! — exclamou Dédalo, feliz, entrando na sala de estar. Os Dursley não pareceram nada felizes com a saudação; Harry chegou a pensar que mudariam mais uma vez de idéia. Duda se encolheu junto à mãe ao ver os bruxos.


 


— Como se nós fossemos fazer alguma coisa. — Falou Fred.


 


— Vejo que já fizeram as malas e estão prontos. Excelente! O plano, como Harry deve ter-lhes dito, é simples — prosseguiu Dédalo, puxando do colete um enorme relógio de bolso e consultando-o.


— Vamos sair antes de Harry. Devido ao perigo de se usar magia em sua casa, porque Harry ainda é menor de idade, e isto poderia dar ao Ministério uma desculpa para prendê-lo, seguiremos de carro, digamos, por uns dois quilômetros. Então, desaparataremos até o local seguro que escolhemos para os senhores. Imagino que saiba dirigir, não? — perguntou o bruxo a tio Valter educadamente.


 


— Sabia que ele ia falar o que não deve. — Falou Sirius.


 


— Saiba...? Claro que sei dirigir muito bem! — respondeu ele bruscamente.


— É preciso muita inteligência, senhor, muita inteligência. Eu ficaria absolutamente abobalhado com todos aqueles botões e alavancas de puxar e empurrar — disse Dédalo. Sem dúvida, o bruxo pensava estar elogiando Valter Dursley, que visivelmente ia perdendo confiança no plano a cada palavra que Dédalo dizia.


 


— Alguém faça ele parar de falar. — Suplicou Sirius.


 


— Nem ao menos sabe dirigir — resmungou, entre os dentes, ondulando o bigode de indignação, mas, por sorte, nem Dédalo nem Héstia pareceram ouvi-lo.


— Você, Harry — continuou Dédalo —, irá esperar aqui por sua guarda. Houve uma pequena mudança nos preparativos...


— Que quer dizer? — perguntou Harry, surpreso. — Pensei que Olho-Tonto viria para fazer comigo uma aparatação acompanhada, não?


— Inviável — respondeu Héstia, concisamente. — Olho-Tonto lhe explicará.


 


— Tomara. — Falou Harry.


 


Os Dursley, que tinham escutado tudo com expressões de total incompreensão nos rostos, sobressaltaram-se ao ouvir um guincho alto: "Apressem-se!" Harry correu os olhos pela sala e se deu conta de que a voz saíra do relógio de bolso de Dédalo.


 


— Eu ainda me espanto com essas coisas. — Falou Harry.


 


— Você não é o único Harry. — Falou Hermione.


 


— Tem razão, estamos operando com um horário apertado — comentou o bruxo, assentindo para o relógio e tornando a enfiá-lo no bolso do colete. — Estamos tentando cronometrar sua saída da casa com a desaparatação de sua família, Harry; assim, o feitiço se desfaz no momento em que todos estiverem rumando para um destino seguro. — E, voltando-se para os Dursley: — Então, estamos com as malas feitas e prontos para partir?


Nenhum deles lhe respondeu: tio Valter ainda olhava espantado para o volume no bolso do colete de Dédalo.


 


— Na minha época nos usamos celulares. — Falou Lily.


 


— O que é um celular? — Perguntou Arthur.


 


— É uma invenção trouxa, te demos um de presente no mês passado, sabe, fizemos uma vaquinha. — Falou Rose.


 


— O que é uma vaquinha? — Perguntou Arthur.


 


— Bom a ideia era que apenas os netos ajudasse comprar, então cada neto deu uma certa quantia de dinheiro, e como somos muito, compramos uma coisa que iria gostar, daqui a pouco eu te mostro. — Falou Rose.


 


— Volte a ler Neville. — Falou Teddy.


 


— Talvez a gente devesse esperar lá fora no hall, Dédalo — murmurou Héstia: era evidente que considerava indelicado permanecerem na sala enquanto Harry e os Dursley, talvez às lágrimas, trocavam despedidas amorosas.


 


Harry começou a gargalhar.


 


— Eu e os Dursley? Despedidas amorosas? Nunca. — Falou entre a risada.


 


— Tudo é possível Harry. — Falou Gina.


 


— Não precisa — murmurou Harry, mas tio Valter tornou qualquer explicação desnecessária ao dizer em voz alta:


— Então, adeus, moleque. — Ergueu o braço direito para apertar a mão do garoto, mas, no último instante, pareceu incapaz de fazê-lo, e simplesmente fechou a mão e começou a sacudi-la para frente e para trás como se fosse um metrônomo.


— Pronto, Duzinho? — perguntou tia Petúnia, verificando, atrapalhada, o fecho da bolsa de mão para evitar sequer olhar para Harry.


 


— Duzinho? E eu que pensava que a mamãe exagerava nos apelidos. — Falou Gina recebendo um olhar furiosa da mãe e a concordância dos irmãos.


 


Duda não respondeu, mas ficou parado ali com a boca entreaberta, lembrando ligeiramente a Harry o gigante Grope.


— Vamos, então — disse o tio. Ele já alcançara a porta da sala quando Duda murmurou:


— Eu não estou entendendo.


 


— Não está entendendo o que? — Perguntou Al.


 


— Pensei que soubesse de tudo. — Falou Harry.


 


— Papai não contava com os mínimos detalhes, sabe. — Falou Al.


 


— O que não está entendendo, fofinho? — perguntou tia Petúnia, erguendo a cabeça para o filho.


 


— Fofinho, um menino de 17 anos fofo? — Perguntou Hermione.


 


— Isso já exagero demais. — Falou Rony.


 


Duda estendeu a mão, que mais parecia um presunto, e apontou para Harry.


— Por que ele não está vindo com a gente?


Tio Valter e tia Petúnia congelaram onde estavam, como se o filho tivesse acabado de expressar o desejo de ser uma bailarina.


 


O salão gargalhou.


 


— Quê?! — exclamou tio Valter em voz alta.


— Por que ele não está vindo também? — repetiu Duda.


— Ora, ele... ele não quer — respondeu tio Valter, virando-se com um olhar feroz para o sobrinho e acrescentando: — Você não quer, não é mesmo?


 


— Não mesmo. — Falou Harry.


 


— Nem pensar — confirmou Harry.


— Viu? — disse tio Valter ao filho. — Agora ande, estamos indo.


E saiu da sala; todos ouviram a porta da frente abrir, mas Duda não se mexeu e, após alguns poucos passos hesitantes, tia Petúnia parou também.


— Que foi agora? — vociferou tio Valter, reaparecendo à porta. Aparentemente, Duda lutava com conceitos demasiado difíceis para expressar em palavras. Passados vários segundos de um conflito interior visivelmente doloroso, ele perguntou:


— Mas aonde ele está indo?


Tia Petúnia e tio Valter se entreolharam. Era óbvio que Duda estava apavorando os pais. Héstia Jones rompeu o silêncio.


— Mas... certamente o senhor sabe aonde está indo o seu sobrinho, não? — perguntou, demonstrando perplexidade.


 


— É claro que ele não sabe. — Falou Dumbledore.


 


— Certamente que sabemos — retrucou Valter Dursley. — Está indo embora com uns tipos da sua laia, não é? Certo, Duda, vamos para o carro, você ouviu o que o homem disse, estamos com pressa.


 


— Sua laia é uma ova. — Vociferou Hermione.


 


Mais uma vez, Valter Dursley se dirigiu resolutamente à porta da frente, mas Duda não o acompanhou.


— Indo embora com uns tipos da nossa laia?


Héstia pareceu ultrajada. Harry já vira essa reação antes: bruxos se mostrarem perplexos ao constatar que os parentes vivos mais próximos tivessem tão pouco interesse no famoso Harry Potter.


 


— Não faz diferença. — Falou Harry.


 


— Tudo bem — Harry tranquilizou-a. — Não faz diferença, sinceramente.


— Não faz diferença? — repetiu Héstia, sua voz se alteando ameaçadoramente. — Essas pessoas não entendem o que você tem sofrido? O perigo em que se encontra? A posição única que você ocupa no coração dos que militam no movimento anti-Voldemort?


 


— Não, com certeza eles não entendem. — Falou Gina.


 


— Ah... não, não entendem — respondeu Harry. — Na verdade, acham que sou um desperdício de espaço, mas estou acostumado...


 


— Você e o Harry pensam iguais. — Falou Hermione, fazendo Harry e Gina corarem.


 


— Eu não acho que você seja um desperdício de espaço.


Se Harry não tivesse visto a boca do garoto mexer, talvez não tivesse acreditado. Tendo visto, entretanto, ficou olhando para Duda durante vários segundos antes de aceitar, por um detalhe, que devia ter sido o primo quem falara: seu rosto avermelhara. E Harry estava, ele próprio, sem graça e pasmo.


— Ãh... obrigado, Duda.


Novamente, Duda pareceu lutar com pensamentos demasiado difíceis, antes de murmurar:


— Você salvou a minha vida.


— Não foi bem assim. Era a sua alma que o dementador queria... — Harry olhou com curiosidade para o primo. Eles virtualmente não tinham tido contato durante este verão ou o anterior, porque ele voltara à rua dos Alfeneiros por poucos dias e ficara em seu quarto a maior parte do tempo. Ocorria-lhe agora, porém, que a xícara de chá em que pisara aquela manhã talvez não tivesse sido uma armadilha. Embora bastante comovido, sentiu-se aliviado ao constatar que Duda aparentemente esgotara sua capacidade de expressar sentimentos. Depois de abrir a boca mais uma ou duas vezes, o primo mergulhou em ruborizado silêncio.


Tia Petúnia rompeu em lágrimas. Héstia Jones lhe lançou um olhar de aprovação que se transformou em revolta quando a mulher se adiantou rapidamente e abraçou Duda em vez de Harry.


— Que amor, Dudoca... — soluçou ela encostada no largo peito do filho —, q-que beleza de g-garoto... ag-gradecendo...


 


— Mas ele não agradeceu. — Falou Remo.


 


— Mas ele não agradeceu! — exclamou Héstia, indignada. — Ele só disse que não achava que Harry fosse um desperdício de espaço!


 


— Vindo do Duda isso é a mesma coisa que “eu te amo”. — Falou Harry.


 


— É, mas, vindo de Duda, isto equivale a dizer "eu te amo" —explicou Harry, dividido entre a contrariedade e a vontade de rir, quando tia Petúnia continuou agarrada a Duda como se ele tivesse acabado de salvar Harry de um prédio em chamas.


— Então, vamos ou não vamos? — urrou tio Valter, reaparecendo à porta da sala de estar. — Pensei que estávamos em cima da hora!


— Claro... claro, estamos — respondeu Dédalo Diggle, que parara diante dessa troca de palavras com ar de estupefação, e agora parecia ter voltado ao normal. — Realmente precisamos ir, Harry...


O bruxo se adiantou aos tropeços e apertou a mão de Harry entre as suas.


— ...boa sorte. Espero que voltemos a nos encontrar. Você carrega nos ombros as esperanças do mundo bruxo.


 


— Eu imagino. — Falou Molly.


 


— O que quis dizer com isso Molly. — Perguntou Sirius.


 


— Eles acham que o Harry tem que fazer tudo, ele só tem 17 anos, o que ele poderia fazer? Com certeza a Ordem irá fazer no lugar dele, não é? — Perguntou Molly a Hugo.


 


Os viajantes do futuro se entreolharam.


 


— Vamos ler, irá tirar as suas duvidas. — Falou Hugo.


 


— Ah, certo. Obrigado.


— Adeus, Harry — disse Héstia, também apertando sua mão. — Os nossos pensamentos o acompanharão.


— Espero que tudo corra bem — disse Harry, lançando um olhar a Petúnia e Duda.


— Ah, tenho certeza que vamos acabar nos tornando os melhores amigos — disse Diggle animado, acenando com a cartola ao sair da sala. . Héstia acompanhou-o.


Duda se soltou gentilmente das garras da mãe e se adiantou para Harry, que precisou conter o impulso de ameaçá-lo com um feitiço. Então, o primo estendeu a manzorra rosada.


— Caramba, Duda — disse Harry, sobrepondo-se aos renovados soluços de tia Petúnia —, será que os dementadores sopraram para dentro de você uma nova personalidade?


— Sei lá — murmurou Duda. — A gente se vê, Harry.


— É — respondeu Harry, apertando a mão do primo e sacudindo-a. — Quem sabe. Se cuida, Dudão.


 


— Como eu disse, tudo é possível. — Relembrou Gina.


 


— Não quero estar errado quando você estiver certa. — Falou Harry.


 


Rony e Hermione se entreolharam e riram.


 


Duda quase sorriu e em seguida saiu, desajeitado, da sala. Harry ouviu seus passos pesados na entrada de saibro, então a porta de um carro bateu.


Tia Petúnia, cujo rosto estivera enfiado no lenço, olhou para os lados ao ouvir a batida. Pelo jeito, não esperava se ver sozinha com Harry. Guardando apressada o lenço molhado no bolso, disse:


— Bom... adeus. — E dirigiu-se resoluta à porta, sem olhar para o sobrinho.


— Adeus — respondeu Harry.


Ela parou e olhou para trás. Por um momento, Harry teve a estranhíssima sensação de que ela queria lhe dizer alguma coisa: a tia lhe lançou um olhar estranho e trêmulo que pareceu oscilar à beira da fala, então, com um movimento brusco da cabeça, saiu apressada da sala para se reunir ao marido e ao filho.


 


— Ela queria lhe dizer alguma coisa, e tenho a impressão de que fosse sobre a sua mãe. — Falou Dumbledore a Harry.


 


— Talvez sim. — Falou Harry.


 


— Acabou o capitulo, quem quer lê? — Perguntou Neville.


 


— Eu quero. — Falou Luna.


 


— Qual é o nome do capitulo Luna? — Perguntou Rony.


 


— Os sete Potter. — Respondeu Luna.


 


— Não entendi. — Falou Harry.

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