NUM DOMINGO QUALQUER



A sensação era ruim, mas não de todo desconhecida. Tudo doía. A opção de manter os olhos fechados não minorava a dor.

- Ele acordou? – perguntou uma voz sussurrante.

- Shhi! O curandeiro falou que ele precisa descansar. Ter os ossos remendados não é brincadeira. Sei por experiência própria – disse uma voz de barítono – Vocês deveriam dormir um pouco.

- Nem pensar! – teimou uma voz feminina, agora bem mais alta.

- Gina... – gemeu Harry, imediatamente obtendo a atenção da garota.

- Não ouse abraçá-lo! – quase gritou Hermione, paralisando Gina no meio do caminho entre uma poltrona e a cama que Harry ocupava.

- Um abraço não seria... ai! ... nada mal – disse o garoto entre gemidos de dor.

- Seria muito mal, sim senhor! Principalmente quando os seus ossos estão sendo remendados – ralhou com ele a jovem curandeira – Ah, Harry! Todos nós ficamos tão preocupados!

- Tive quase que enfeitiçar o Rony pra que ele fosse dormir um pouco – disse M’Bea – E essa moça aqui – disse apontando para Gina – nem com uma maldição imperdoável sairia de perto de você.

- Quanto tempo? – perguntou Harry – Quanto tempo fiquei apagado? E onde estou?

- Um dia inteiro. Hoje é domingo. E você está no melhor hospital bruxo da Costa Leste dos Estados Unidos – explicou Hermione. A amiga e a ruiva tinham os olhos inchados, seguramente de quem estivera chorando.

Agora, parcialmente desperto, Harry deu uma boa olhada em si mesmo. Tinha faixas curativas na perna esquerda, no ombro direito e em torno da cintura. Um soro cor de âmbar era injetado na sua veia. Sentia a cabeça também enfaixada. Resumindo: era quase uma múmia, daquelas de filme trouxa. E tudo doía muito e latejava bastante também.

- Descanse, Harry – disse Hermione tentando confortá-lo – A troca do soro deve tê-lo despertado. Quando você acordar amanhã estará se sentindo bem melhor.

- Acho que eu mereço um beijo pelo menos – brincou o rapaz, cheio de sono novamente.

Hermione debruçou-se sobre ele e lhe deu um beijo na testa, enquanto Gina lhe dava um beijo suave nos lábios. M’Bea, que parecia pairar a muitos metros do chão agora que Harry era engolido pelo torpor do sono, brincou:

- Eu acho que você faz isso só para ser mimado pelas garotas – foi a última coisa que Harry ouviu antes de adormecer.
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No dia seguinte realmente a dor havia diminuído. Não havia ido embora, mas era quase suportável. Havia ainda a sensação estranha de algo latejando dentro de Harry. Hermione explicou que a sensação continuaria até os ossos atingirem o tamanho e a textura exata. A jovem medibruxa explicou-lhe também que se fosse no mundo trouxa, ele agora estaria morto ou irremediavelmente aleijado.

- Pare de assustá-lo, Mione! – irritou-se Rony – Já é bem ruim ter que injetar esses troços na veia e ele não poder se mexer.

- Seria bom que ele se assustasse mesmo! – irritou-se a jovem – Aliás, todos vocês! – quase gritou a garota e saiu do quarto muito contrariada.

- O que aconteceu? – perguntou Harry para o amigo – Quero dizer, a última coisa que me lembro é de estar caindo sobre a arquibancada e a vassoura não obedecia mais aos meus comandos. Também, acho que quebrei o ombro e um pé pelo menos.

- Cara, você quebrou a clavícula, fraturou o pé esquerdo em dois lugares diferentes, quebrou a bacia e bateu a cabeça numa das coberturas de proteção da arquibancada – disse Rony pesaroso – Eu realmente pensei que você... sabe... Bem, você não ficou muito bonito quando caiu no gramado. E Hermione tem estado meio abalada desde então.

Harry encarou o amigo. A reação de Hermione era no mínimo surpreendente. A garota já o havia visto se ferir várias vezes durante a guerra e cansou de vê-lo machucado após as partidas de quadribol em Hogwarts. Afinal, o apanhador, a antiga posição de Harry no time da Grifinória, sua casa na escola, sempre é atingido de alguma forma. A preocupação dela mostrava que dessa vez a coisa havia sido séria.

Pacientemente Rony relatou os fatos: Todos viram desesperados Harry dirigindo-se à arquibancada, pronto para se arrebentar em cima das pessoas, que corriam apavoradas. Toni e Hermione lançaram um feitiço de desaceleração, que não funcionou muito bem, pois a velocidade da vassoura desgovernada de Harry era impressionante. Hermione tentou um feitiço convocatório, que também não funcionou cem por cento, mas afastou-o da arquibancada, fazendo com que se estatelasse no gramado. Havia sido uma queda e tanto a uma velocidade impressionante. Antes de ser puxado pelo feitiço de Hermione, que provavelmente lhe salvara a vida, batera com a cabeça na marquise que cobria uma das arquibancadas.

Quando caiu no gramado seu rosto estava coberto de sangue e Hermione correu imediatamente na sua direção.





- Afastem-se todos! – gritava a jovem curandeira – Rony, por Deus, segure a Gina!

A ruiva, com várias escoriações sofrida pela queda no gramado, tentava de todas as formas se aproximar de Harry. Embora bem mais alto do que a irmã caçula, o ruivo tinha muita dificuldade para contê-la. Shapiro, a autora de toda a confusão aterrisou naquele momento, parecendo muito calma e despreocupada. Ou pelo menos pareceu assim até que se deparou com Toni M’Bea parado à sua frente. E pelo semblante do africano, a batedora percebeu que ele não estava nada feliz.

- Eu avisei você! – disse de maneira feroz o homem negro.

Jogadores dos dois times e seguranças bruxos privados, contratados especialmente para o evento, tiveram muita dificuldade para conter Toni M’Bea. Por pouco ele não cumpriu a promessa de fazer a mulher em pedaços. O rosto dela, entretanto, deixaria de ser bonito por algum tempo.





- O Toni enfeitiçou aquela desgraçada? – perguntou Harry, fazendo logo depois uma careta de dor. Algumas vezes ainda sentia pontadas na região da bacia.

- Não, cara! – respondeu Rony – O cara bateu nela de mãos limpas. Deu medo, sabe? Acho que ele a teria matado se não o segurassem. E precisou de metade dos seguranças para conter o africano. Eu quase fiquei com dó dela... Quase – acrescentou o ruivo com um sorriso maldoso.

- Eu acho que a teria matado se estivesse inteiro – disse Harry sombriamente.

- Não, você não teria, Potter – disse a voz arrastada de Draco Malfoy, que entrava no quarto naquele momento – Você, o Weasley e o Toni são do time dos mocinhos. Ou você a teria matado e depois passaria a vida toda com remorsos. Eu conheço vocês grifinórios. O Toni ficou bem mal depois da surra que deu na vadia. Muito merecida, por sinal.

- O Toni não está encrencado, não é mesmo? – quis saber Rony, preocupado com o amigo.

- Felizmente não – explicou Draco – A Shapiro negou-se a registrar queixa por agressão. Vai ver ela achou que isso estragaria a sua fama de bruxa má. A desgraçada usa isso como marketing, sabe? A propósito: Ela está nesse mesmo hospital. Foram necessários três medibruxos para consertar os ossos do rosto dela e recolocar o seu nariz no lugar. Me lembrem de nunca deixar aquele africano nervoso... E o cara fez aquilo com as mãos limpas!
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Owen, o caçula da família M’Bea odiava ser tratado como um bebê. Afinal ele já tinha cinco anos! Evitava chorar, principalmente perto da irmã mais velha, que decididamente achava que ele era um bebê. Mas não naquele dia. Os garotos se reuniram num dos quartos da mansão que servia de abrigo para o time dos Cannons e seus acompanhantes e todos estampavam ares de preocupação. Miriam lembrava-se da época da guerra quando temia receber notícias envolvendo o seu pai. Naquele momento ela tentava ser mais forte do que os irmãos e o sobrinho de Apolo Cole. Harry era o herói da menina. O cara que tinha liquidado aquele bruxo maléfico e permitira que seu pai voltasse para casa, para ela, seus irmãos e sua mãe. Ele não podia morrer.

Todos estavam no estádio, com suas roupas laranjas, torcendo para o Cannons. Divertiam-se comemorando os gols dos artilheiros, aplaudindo as defesas de Rony e as bastonadas certeiras de Andy e de Toni. E claro, xingaram para valer Vamp Shapiro o tempo todo. Dylan, que vivia no mundo dos trouxas, estava maravilhado com o quadribol. Eles ainda pulavam e se abraçavam comemorando a captura do pomo realizada por Vitor Krum quando Miriam percebeu que a vassoura de Gina estava desgovernada. Os garotos, assim como toda a audiência do jogo, aplaudiram freneticamente Harry quando este salvara a ruiva e ficaram desesperados vendo a tentativa do Eleito de guiar a sua vassoura defeituosa.

Agora, na tarde de domingo, a aflição dos garotos ocorria porque Miriam tivera a inabilidade de dizer que os adultos sempre escondiam coisas das crianças. “Crianças como vocês, é lógico!”, acrescentou com ar de superioridade, pois se julgava adulta aos onze anos de idade. A reação dos dois irmãos e de Dylan foi dramática.

- Você quer dizer que o Harry morreu? – perguntou Daniel, num fiapo choroso de voz.

- Igual o meu pai? – perguntou Dylan com um súbito aperto no peito.

Owen começou a soluçar imediatamente. Os meninos, assim como a garota, adoravam Harry. Penalizada, ela abraçou o irmão, que não parava de chorar. Miriam também se esforçava para não derramar lágrimas. “E se os adultos estivessem escondendo alguma coisa dela também? Eles ainda achavam que ela era criança, não é mesmo?”

Andy, Amanda e Toledo foram incumbidos de ver como estavam as crianças. Como os três eram ainda muito jovens e tinham muito senso de humor, davam-se muito bem com os pequenos, inclusive era comum vê-los todos juntos fazendo uma grande algazarra pela casa. Exatamente por isso, os três ficaram abismados com a cena dramática que se desenrolava no quarto.

Owen chorava copiosamente abraçado à irmã, que parecia prestes também a cair no choro. Dylan e Daniel, sentados no chão, abraçados às próprias pernas, pareciam que tinham recebido a notícia que o natal havia sido cancelado para sempre e que os presentes não seriam mais entregues até o fim dos tempos.

- Ele morreu, não é mesmo? – perguntou Dylan, caindo no choro logo em seguida, deixando-se abraçar por Toledo. Momentaneamente esquecido do fato de garotas bonitas parecerem assustadoras.
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- Eu já menti para vocês alguma vez? – perguntou Helga aos filhos.

- Não, mãe – admitiu Miriam emburrada – Mas nem sempre vocês contam tudo o que acontece.

- É que tem coisas que não adianta nada vocês ficarem sabendo antes da hora – retrucou a mulher mais velha – Quanto ao Harry, ele não morreu. Ele está machucado, mas Hermione garante que logo ele estará legal e voando de vassoura.

Como os garotos ainda olhavam incrédulos, Toni resolveu ajudar a esposa:

- Se vocês se alimentarem bem, dormirem cedo e pararem de chorar, eu prometo que amanhã a gente vai ver o Harry.

- Eu não estava chorando! – protestou Miriam

- Sério? – perguntou Dylan animado.

- Sério. A gente apenas não vai poder ficar muito tempo no quarto. Ele precisa descansar.

- Miriam disse que ele quebrou vários ossos. É verdade? – quis saber Daniel.

- É verdade – respondeu Toni, lançando um olhar contrariado para a filha mais velha, que se encolheu na poltrona – Mas, no mundo bruxo, ossos são facilmente concertados. Lembra quando eu quebrei o braço? Os curandeiros possuem poções que fazem os ossos crescerem no lugar.

- Maneiro! – exclamou Dylan impressionado – E dói?

- Não é muito agradável – admitiu M’Bea – Mas o nosso amigo é durão. Ele vai agüentar.

O clima subitamente desanuviou-se. Mais relaxados todos começaram a fazer planos de visitar Harry no dia seguinte. Toledo, Andy e Amanda, que não conseguiram convencer sozinhos as crianças de que Harry estava fora de perigo, ficaram bastante aliviados. Tiveram que chamar os M’Bea e todo o seu repertório de “psicologia infantil” para tranqüilizar os guris.

- Muito bem – disse Helga – Já está quase na hora do jantar e Draco informou que aquele sorvete...

- O de chocolate? – perguntou Owen com um olhar guloso.

- O de chocolate – concordou a mãe – será servido de sobremesa para todos que comerem toda a comida. Isso inclui você, Miriam.

- Eu não sou mais criança, mãe! – reclamou a garota.

- Mais um motivo para você comer coisas saudáveis, querida – retrucou Helga – Vocês está em fase de crescimento. E seu pai precisa falar uma coisa para vocês. Todos vocês – acrescentou, olhando na direção de Dylan.
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Fred Weasley não achou avião uma coisa tão ruim assim. Verdade que aquelas coisas que os trouxas serviam durante a viagem e chamavam de comida era pavorosa. Mas as aeromoças eram bem bonitas e não havia dúvida que aquele treco voador era bem mais confortável que o “Noitebus Andante”. Sua mãe quase enfartara ao assistir na TV Bruxa (“a magia da imagem ligando os continentes”) o acidente envolvendo Harry e Gina. Ela queria viajar imediatamente até os Estados Unidos para cuidar pessoalmente da “Gininha” e do “pobrezinho” do Harry. A matriarca dos Weasleys tinha planos também de esfolar viva a batedora das Harpias, “aquela mulher horrível”.

No fim ficou decidido que um dos gêmeos iria até a América e mandaria notícias imediatamente, pois Molly Weasley não confiava em informações provenientes da imprensa bruxa. Fred assumiu a tarefa. Aproveitaria também para se reunir com empresários do mundo bruxo americano que tinham planos de abrir franquias das famosas “Gemialidades Weasleys”. Tomara o primeiro avião para Boston, poucas horas após a família ter presenciado o acidente de Harry. Zabini, empregado de Draco Malfoy providenciara as passagens. Fred já tinha um passaporte, obtido dois anos atrás quando viajou de trem para o leste europeu com uma trouxa russa muito jeitosa.

Ao chegar no hospital, o ruivo deparou-se com o irmão mais novo, goleiro dos Cannons, dando uma entrevista aos jornais bruxos dos Estados Unidos na sala de espera. Fred e Jorge sempre ficavam admirados com a segurança de Rony diante da mídia. Falava bem, era simpático com todo mundo e ainda dava sorrisos que derretiam os corações (sem falar de outras partes) das jornalistas. Seu “irmãozinho” tinha realmente crescido. Ainda tinha aquele narigão, mas não era mais o cara grande e desengonçado de alguns anos atrás. Ainda era magro (de ruindade, na opinião de Fred, levando-se em consideração o quanto ele comia), mas estava longe de ser esquelético. Tinha agora braços bem fortes e o fato de sempre se vestir com aprumo, somado à fama de “bad boy” adquirida no quadribol, era suficiente para fazê-lo muito popular junto às mulheres, mais até do que Harry.

- Harry Potter está bem, precisa apenas descansar. Minha irmã também está bem. Ela só sofreu algumas escoriações por causa da queda – dizia, tranqüilizando a imprensa.

- É verdade que Malfoy, o dono do time, vai processar as Vassouras Nimbus e a empresa que construiu o estádio? – perguntou um jornalista.

- Bem, isso vocês vão ter que checar com ele – explicou o ruivo pacientemente, apontando para Draco Malfoy, que acabava de se aproximar.

- Sim, senhores – explicou Malfoy na sua voz arrastada – eu vou processar as Vassouras Nimbus e tirar cada nuque que aqueles bastardos tiverem. Tem um certo executivo da empresa que eu pretendo deixar só de cuecas. Não, pensando bem, eu vou deixá-lo sem cuecas também.

- O senhor pretende processar mais alguém? – perguntou muito pressurosa uma jornalista de óculos.

- Pode apostar, querida – respondeu Draco de maneira afetada - Vou processar o idiota do construtor do estádio por colocar aquele paredão absurdo atrás dos aros, vou processar o time das Harpias por contratar uma homicida como batedora, vou processar Vamp Shapiro por ela existir. E vou processar duplamente a miserável se o meu batedor tiver machucado a mão enquanto socava a cara dela.

- Tem alguém que o senhor não pretenda processar? – quis saber a jornalista, visivelmente impressionada.

- Ainda estou pensando – disse o loiro, enquanto fingia refletir a respeito – Ah, vou processar você também!

- Eu? – espantou-se a moça – Por que?

- Não gostei do seu tom de voz nem dos seus óculos. Eles são horríveis.

O último comentário foi recebido com muitos risos. Os americanos deveriam odiar esse garoto inglês metido, mas na verdade o adoravam. Cada entrevista dele era mais divertida que um daqueles shows de humor trouxa. Fred Weasley, atento às declarações hilárias do ex-sonserino, tinha que admitir que o tal Malfoy tinha estilo. Depois que a imprensa bruxa se afastou, o recém-chegado foi cumprimentar o irmão. Virando-se na direção de Draco fez um ligeiro aceno de cabeça:

- Malfoy – cumprimentou o Weasley mais velho.

- Jorge Weasley – respondeu o loiro educadamente – Ou seria Fred?

- Fred – concordou o outro.

- Suponho que não tenha ainda arrumado um lugar para ficar – disse Malfoy, ainda mantendo os modos polidos.

- Realmente ainda nem me preocupei com isso – explicou Fred um tanto desconfiado – Minha mala está ali na recepção do hospital. Eu vim direto do aeroporto.

Com um pequeno aceno de Draco, Goyle apareceu imediatamente a seu lado como se tivesse acabado de aparatar, o que era impossível dentro de um hospital bruxo.

- Pegue a bagagem do Sr. Weasleys, por favor, Greg – pediu Draco ao seu “ajudante faz-tudo”, que havia chegado no dia anterior. Como o brutamontes olhava abobado para Rony, que não possuía bagagem alguma, o loiro teve que explicar: - Deste Sr. Weasley aqui! – disse, apontando para o irmão de Rony.

- Eu não quero dar trabalho, Malfoy... – ia se desculpando Fred.

- Você não dará mais trabalho do que o seu irmão, tenho certeza – disse Draco ironicamente – Vamos lá! Nós estamos numa propriedade que eu nem consegui contar direito o número de quartos. Tenho certeza que sua mãe não vai querer que você seja maltratado em algum hotel trouxa vagabundo.

- Bem, nesse caso... – aceitou o ruivo o convite – Vamos ver o nosso herói – disse para Rony.
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- Mas aquela mulher maligna quebrou a vassoura da Gina! – dizia uma indignada Miriam M’Bea ao seu pai, tendo seus irmãos e Dylan concordado com os seus argumentos – Ela e Harry poderiam ter morrido!

Toni dizia às crianças que socar Vamp Shapiro havia sido errado, pois a violência é sempre uma coisa muito ruim. Os meninos e principalmente Miriam discordavam dele. Na opinião dos garotos, Shapiro havia recebido exatamente o que merecia. Amanda, Toledo e Andy ouviam atentamente. Embora não tivessem se manifestado, pois não queriam discutir com Tony na frente dos seus filhos, tendiam a concordar com os pequenos. Entendiam os argumentos do africano contra a violência injustificada, mas entendiam também que aquela americana merecia uma lição.

- O que ela é não importa – insistiu Toni – Quebrar a cara dela não foi correto. Na verdade eu me enfureci, mas eu deveria ter chamado as autoridades.

- Mas pai...

- Seu pai tem razão, Miriam – disse Helga, tentando encerrar a discussão. Não queria dar aos filhos a idéia errada de que a violência deveria ser combatida sempre com violência. Não que ela também não tivesse ganas de espancar aquela megera. Aquela era a terceira vez que viam o pai apelar para a violência. Compreendia o descontrole momentâneo do marido durante a partida, mas como mãe, sabia que deveria desencorajar os filhos a usar a força de maneira desmedida. Ainda mais que as crianças poderiam se tornar bruxos poderosos, além de altos e fortes como o pai.

- Posso perguntar uma coisa, Sr. M’Bea? – A voz insegura de Dylan foi ouvida nesse momento. Ele tinha a mão levantada como um aluno aplicado numa sala de aula.

- Claro, garoto – respondeu-lhe o africano de maneira jovial. O menino lembrava muito seu amigo Terry. E, felizmente, muito pouco seu tio Apolo Cole.

- O senhor falou que é contra a violência. Mas... o senhor não lutou na guerra? Bem... - hesitou o garoto – Numa guerra as pessoas... o senhor sabe...

- Numa guerra as pessoas matam umas às outras – admitiu Toni – Aquela guerra foi uma coisa horrível, Dylan. Havia um bruxo maléfico que não queria conversar com ninguém e acreditava que trouxas, mestiços e bruxos nascidos de família trouxa não deveriam possuir os mesmos direitos dos bruxos de sangue-puro. Se o tivéssemos deixado fazer o que queria, pessoas como sua mãe, Helga e Hermione estariam hoje mortas ou seriam escravas. Nós não tivemos alternativa. Gente como eu, Rony, Harry, Vitor, Gina e muitos outros tivemos que combater esse bruxo e seus aliados, tão maléficos quanto ele. Fizemos o que pessoas descentes tinham que fazer naquele momento.

- Mas, isso foi ruim? – perguntou o menino.

- Foi muito ruim, mas ali nós não tivemos escolha – disse o homem mais velho - O problema numa guerra é que não é como numa história em quadrinhos, onde os bons vencem e os maus são derrotados. Bem, no final os maus foram derrotados, mas pessoas boas como seu pai e muitos outros também morreram. Ou seja, é sempre melhor procurar outro caminho.

- Quando isso é possível – disse Andy, refletindo sobre as palavras do africano.

- Sempre que for possível – corrigiu Toni – E a gente deve sempre se esforçar pra que seja possível resolver as coisas sem violência.

Quando as crianças desciam finalmente para o jantar, ainda pensando sobre a conversa com Toni, principalmente Miriam, que admitiu que mais uma vez que seu pai abalara as suas certezas, Andy, com o semblante muito sério, perguntou ao africano, baixo para que só esse ouvisse:

- Você realmente acredita nas coisas que falou para as crianças?

- Eu me esforço muito para acreditar, meu amigo – respondeu o homem negro de maneira muito séria – Todos os dias eu me esforço para acreditar – repetiu, como se esse fosse o lema da sua vida.
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- Não, não precisa se levantar. Não se incomode – disse um sorridente Fred Weasleys para Harry. Como se o rapaz pudesse se levantar. Estava ainda todo enfaixado e Gina lhe dava comida na boca como se essa atividade fosse a mais importante do mundo para a ruiva.

- Isso é muito humilhante... – dizia Harry muito constrangido.

- Olha a vassourinha! – brincava a ruiva com um grande sorriso nos lábios, simulando um vôo da colher até a boca do namorado.

- Ora, ora – disse de maneira jovial o irmão mais velho – E todo mundo na Inglaterra preocupado com vocês dois...

- Fred! – exclamou Gina, correndo para abraçar o irmão.

- OK, Gina. Agora me deixe respirar um pouco – disse o rapaz. Mas, em seguida abraçou também a irmã, examinando-a de alto a baixo, como se verificasse uma mercadoria muito valiosa das “Gemialidades Weasleys”.

- Ei, eu estou legal! – exclamou a ruiva, vendo a preocupação do irmão – Só um tombinho a toa não é suficiente para acabar com uma Weasley.

- Foi só um “tombinho à toa” por causa do nosso amigo enfaixado – afirmou Fred sombriamente, apontando para a cama de Harry – A propósito, cara: obrigado por salvar a nossa irmãzinha. Mamãe mandou dar mil beijos em você, mas ela vai ter que esperar você voltar para dá-los pessoalmente. Não que eu não goste de você, sabe? É que nós Weasleys, heterossexuais convictos, temos um nome a zelar. Assim que você ficar bem eu lhe darei um caloroso aperto de mão. Bem, talvez você mereça um abraço discreto.

- Os beijos e os abraços mais “indiscretos” você pode deixar por minha conta – afirmou Gina de maneira decidida, voltando a dar comida para Harry.

- Quer dizer que vocês dois estão juntos novamente? – quis saber Fred, bastante curioso.

- Pode apostar! – disseram Harry e Gina ao mesmo tempo, e com tanto entusiasmo que o irmão mais velho não pôde deixar de sorrir. Gostava bastante de Harry e sabia que o “garoto que sobreviveu” era o único sujeito vivo do sexo masculino que seus irmãos consideravam bom o bastante para a sua irmãzinha sem juízo.
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- Vocês sabem onde eu encontro a Doutora Granger? – perguntou um homem negro corpulento de meia idade, cujo crachá indicava um medibruxo, responsável pelos tratamentos de traumas e acidentes – Disseram que ela estava aqui na lanchonete.

Rony e Hermione tomavam um chá (“Esses chás americanos são péssimos!”, dissera a jovem) sentados numa mesinha no fundo da lanchonete. Só havia os dois jovens ali naquele momento. Rony insistia com a namorada que ela descansasse um pouco, mas a garota estava irredutível. Acompanhara pessoalmente todos os passos do tratamento de Harry e não deixaria seu melhor amigo nas mãos de um bando de ianques malucos que queriam usar feitiços para colar os seus ossos quebrados.

- Feitiços, você consegue imaginar? – perguntara exasperada para o namorado, que fingia concordar, pois não entendia nada de medicina bruxa – Todo mundo sabe que ossos são concertados de maneira segura apenas com poções! Não é a toa que Toni tinha tantas contusões mal curadas. Bando de idiotas!

Foi no meio dessa discussão que o medibruxo perguntou pela “Doutora Granger”. Hermione, de mau humor causado por chás americanos praticamente intragáveis, irritada com a inépcia de alguns curandeiros e contrariada pelo fato de quadribol, na sua opinião, ser um esporte tão estúpido quanto uma luta de gladiadores na Roma antiga, encarou o bruxo mais velho com desdém:

- Eu sou a Doutora Granger, senhor.

- Ela é a Doutora Granger – insistiu Rony para o homem que olhava incrédulo para o jovem casal. O ruivo segurava o riso com muito custo. Estava acostumado com a descrença dos outros sobre as qualidades e habilidades da sua namorada. Divertia-se muito com isso. Se as pessoas imaginavam Harry Potter maior e mais assustador do que realmente era e ficavam decepcionados ao ver o rapaz magro e com cara de bonzinho, a descrença em saber que a “brilhante Doutora Granger” era uma bruxinha bonita de cabelos crespos era maior ainda.

É claro que todos estavam errados. Harry podia ser bem poderoso e assustador quando queria e quando as circunstâncias assim o determinassem. E Hermione era sempre brilhante, independentemente das circunstâncias.

- Mas, a senhorita não parece ter mais de vinte anos! – disse o homem, ainda cheio de dúvidas.

- Faço vinte e dois anos em setembro. O que é tão engraçado, Ronald? – perguntou para o namorado, que segurava uma gargalhada com muita dificuldade.

- Nada, querida – respondeu Rony, afogando o riso num gole do intragável chá americano, que esfriava esquecido à sua frente.

- Mas, a senhorita é um fenômeno! – afirmou o curandeiro, visivelmente impressionado.

- Ah, ela é, o senhor pode apostar nisso – confirmou Rony, fazendo em seguida uma careta e esvaziando a sua xícara com um gesto de varinha.
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BOM, ESSE É UM CAPÍTULO SEM MUITA AÇÃO, ONDE EU QUIS ENFOCAR MAIS OS ASPECTOS HUMANOS DOS PERSONAGENS. NO PRÓXIMO: AÇÃO! SUSPENSE! INTRIGAS! TALVEZ SEXO (BRINCADEIRINHA!). E QUADRIBOL, É LÓGICO!
SÓ UMA COISA: POR QUE VOCÊS ACHAM QUE EU VOU MATAR O HARRY? JÁ DISSE: ELE NÃO VAI MORRER... POR ENQUANTO.
OBRIGADO PELOS COMENTÁRIOS. ELES REALMENTE INCENTIVAM A GENTE A CONTINUAR ESCREVENDO.


P.S. VOCÊS ACHAM QUE A FIC ESTÁ MUITO GRANDE?










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Comentários (2)

  • bebelbenedito

    se é grande? é! se é muito boa? é! se é muito bom ler uma fic grande? é!!!! concordo com a Vitória ai em baixo, vc devia escrever m livro!!!

    2013-12-20
  • Vitória Leopoldina Gomes Mendes

    eu diria que ...uhhm... 99% das suas fics são grandes hsuahsaushaush mas eu gosto mto delas pergunto novamente vc ja escreveu um livro??? msn: [email protected]

    2011-09-06
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