QUADRIBOL NAS ALTURAS



Harry realmente não havia acordado bem na véspera do jogo. Estava ofegante e os espirros se sucediam. Seguramente tivera uma recaída da gripe bruxa e Gina estava disposta a azará-lo, se fosse preciso, para evitar que jogasse.

- Não – repetiu teimosamente o artilheiro sensação dos Cannons – Eu vou jogar.

- Mas, Harry...

- Gina – disse o jovem - Vitor deslocou o ombro no treino de ontem. Cole, aquele idiota, quebrou o nariz. Se eu não jogar vai ser uma meleca!

Realmente as últimas quarenta e oito horas não haviam sido muito promissoras para o time dos Cannons. Quando os jogadores começavam a se acostumar com os efeitos da altitude, as tragédias se sucederam: Vitor Krum deslocara fortemente o ombro após uma apanhada de pomo no treino. Apollo Cole, metido como sempre, ignorara os avisos de Vera sobre o fato de o ar rarefeito tornar as vassouras mais velozes. Exibindo-se após marcar um gol no goleiro reserva, Robby York, descuidou-se e rumou diretamente para um dos aros, chocando-se dolorosamente e quebrando o nariz.

Hermione recuperaria os dois para os jogos no Brasil, mas ambos estariam fora da partida contra o Peru.
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- Isso é quadribol, meninas – dizia pacientemente Toni M’Bea para Gina e Hermione – Para Gina eu nem preciso explicar.

Estavam à beira do campo de quadribol, enquanto Harry treinava Rony, que tentava se acostumar com a velocidade das goles, muito mais rápidas no ar rarefeito. Como Harry era dono dos tiros mais potente, ele arremessava para as tentativas de defesa do irmão de Gina.

- Pois tente – disse a ruiva, contrariada, acompanhando com os olhos as goles lançadas por Harry, ora defendidos por Rony, ora entrando nos aros.

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- Duvido que você não tenha jogado alguma vez com contusões mal-curadas ou machucados mal remendados.

- Não me diga que isso é comum! – exclamou Hermione indignada.

- Nem sempre os times possuem bons reservas, Mione – admitiu Gina – Às vezes a gente entra em campo de qualquer maneira.

- Às vezes o time necessita de você – completou o africano.

- Mas isso... isso é... – começou a dizer Hermione.

- Isso é quadribol! – interrompeu-a M’Bea – Não pense que é diferente entre os esportes dos trouxas, minha amiga. Aliás, não pense que é diferente da vida em geral. Quantas vezes nós não somos obrigados a desempenhar o nosso papel, mesmo não estando bem? Professores, médicos, advogados, lixeiros, todos fazem isso diariamente. Você só se arrisca um pouquinho mais no quadribol...

- Vocês estão querendo me dizer que é normal jogadores atuarem sem as melhores condições físicas? – perguntou a jovem curandeira. Aquilo ia contra os seus princípios – Você acha que eu permitira que alguém jogasse com uma perna quebrada?

- Nós sabemos que não! – falou Gina de maneira veemente.

- Por isso você está aqui com o time – completou Toni – Não estou falando de algo tão radical como jogar com uma perna quebrada. Falo de alguém jogar sem estar dentro de suas melhores condições.

- Como o Harry – disse Hermione, percebendo onde o amigo queria chegar.

- Como o Harry – concordou o africano – Eu sei que vocês amam o garoto. Eu também amo o Harry, sabe? Ele é praticamente um irmão mais novo para mim. Meus filhos e Helga também o adoram. Mas, vocês deveriam lembrar que ele é Harry Potter, o cara que deu cabo de Voldemort. Um dos bruxos mais poderosos que eu vi na minha vida. E um cara que pode tomar as suas próprias decisões.

- Mesmo decisões idiotas que coloquem em risco sua vida? – perguntou Gina, uma obstinação protetora brilhando nos seus olhos castanhos.

- Gina – disse Toni de maneira ligeiramente cansada, como se tivesse que explicar algo óbvio para uma criança absurdamente teimosa – A vida dele não está mais em risco. Depois de vários anos, talvez seja a primeira vez que a vida dele não corre perigo. E quanto a coisas idiotas, convenhamos, muitos consideram que voar a quinze metros de altura, desviando-se de balaços não é das coisas mais inteligentes do mundo, apesar da grana envolvida nisso. Molly Weasley, se fosse consultada a respeito, diria que fazemos coisas inteligentes? – perguntou o africano de maneira sagaz.

- Provavelmente mamãe imagina que um emprego com horário das oito às cinco seja a única coisa inteligente para os filhos e para Harry – admitiu a ruiva.

- Então, devemos deixar Harry cair da vassoura? – perguntou Hermione de maneira obstinada, percebendo o rumo que tomava a discussão.

- Claro que não! – contestou Toni – Mas, não foi exatamente o excesso de proteção que fez com que Gina e Harry ficassem afastados por três anos?

O silêncio pairou sobre os três durante alguns segundos. As ordens de Vera eram gritadas do chão, enquanto Rony fazia uma defesa espetacular, que Nat Mars, artilheira reserva aplaudiu entusiasticamente. Toni prosseguiu:

- Nós sempre nos sentimos na obrigação de proteger as pessoas que amamos e poupá-las de todos os desconfortos do mundo – afirmou, suavizando a sua voz possante de barítono – Mas não é a melhor solução. As pessoas devem tomar as próprias decisões.

Hermione e Gina voltaram a ficar em silêncio. Ligeiramente irritadas com a sabedoria daquele sujeito grande como um poste, mas que tinha um coração proporcional ao seu talhe gigantesco. E certamente ponderando sobre as observações do amigo. No campo, Rony desmontava da vassoura e caminhava na direção dos três, brincando com Harry e reclamando que tinha fome.

De maneira surpreendente Toni agarrou as duas garotas em cada um dos seus braços imensos e grunhiu como um homem das cavernas, caçoando para desanuviar o ambiente.

- Mim, gigante faminto, levar fêmeas dos amigos para o almoço – disse, levantando Hermione e Gina do chão como se elas não pesassem nada.

- Espero que você não queira devorar a gente – falou Gina, socando o braço gigantesco do africano, que parecia indiferente aos punhos da ruiva, que dava também muitas risadas da imitação bisonha dele de homem pré-histórico.

- Isso gigante deixa para o ruivo e para o moreno – respondeu o batedor na sua voz debochada de neanderthal, recebendo socos, agora de Hermione, que percebeu a malícia da afirmação - Quanto a cair da vassoura – disse quase cochichando, pois Harry e Rony se aproximavam, colocando as duas amigas no chão – Eu cairia primeiro, se isso protegesse o Harry – afirmou o homem negro, retomando a sua voz normal num tom muito sério, mas dando em seguida uma piscadela divertida para as garotas.
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Desde que trocara os óculos pelas lentes de contato mágicas na época da guerra, o rosto de Harry parecia, na opinião de Gina, mais frágil e mais jovem. Vendo-o dormir ao seu lado, as faces ainda um tanto coradas por causa de uma febre chata que o acometera durante o fim da tarde, a jovem imaginava porque as pessoas que não haviam presenciado seus feitos não o achavam “impressionante”.

Apesar de mais alto e ligeiramente mais encorpado do que na época da escola, Harry Potter nunca iria intimidar bruxos das trevas ou batedores adversários pela sua aparência. Não era assustadoramente musculoso como Toni M’Bea, alto como Rony ou “posudo” como Draco Malfoy. Mesmo Andy Lopes, praticamente da altura de Harry e um pouco mais jovem, parecia mais alto e mais velho do que ele em função dos braços fortes, da aparência imponente, com seus cabelos longos arrumados num elegante rabo de cavalo e sua pele escura reluzente.

Mas Gina já o vira em ação. Muitas vezes. Harry era um guerreiro que se você tivesse juízo jamais desafiaria. A ruiva viu o seu amado derrubar e matar bruxas e bruxos mais velhos, mais experientes e definitivamente mais assustadores do que ele. Belatriz Lestrange hoje apodrecia completamente insana e desfigurada numa cela em Azkaban. Aquela megera havia sido uma das pessoas tolas que desdenharam do “garoto que sobreviveu”. No quadribol, batedores imensos e intimidadores foram reduzidos ao ridículo com as manobras sensacionais de Harry. Decididamente ele sabia se cuidar.

Tudo bem. Ele jogaria. Mas isso não queria dizer que ela não zelaria pelo “seu homem”. Que além de tudo tinha “qualidades” que o mundo mágico mal suspeitava. E que se dependesse dela não suspeitaria jamais. Afinal eram qualidades que ela tivera o privilégio de apreciar pela primeira vez semanas atrás na intimidade da residência da família Malfoy na América.

- Você é o meu menino indefeso, não é? – Gina perguntou para o namorado, que ressonava. Ele apenas sorriu como um garotinho e respondeu alguma coisa sem sentido, provavelmente lembrando-se de algo engraçado dito por Rony – Eu sei que você é – disse a ruiva ternamente. Depois, deitando-se abraçada a Harry, dormiu. Prometendo a si mesma que nunca deixaria de cuidar dele.
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Rony sabia que era estúpido esse pensamento, mas tinha saudades às vezes da menina Hermione, que era apenas vista como a amiga cdf de Harry. Essa Hermione de hoje, bonita, independente e segura de si às vezes o assustava. Pelo menos aquela Hermione, que ele demorara anos para perceber que era uma garota, não receberia os olhares cobiçosos do imbecil do Cole ou da doninha albina do Malfoy.

Aquela Hermione choraria em seus braços, talvez o azarasse por olhar para outras garotas, mas ele não estaria se perguntando se ela não seria boa demais para um desmiolado como ele.

Nesse momento a garota dormia. Os cabelos crespos ligeiramente desgrenhados e espalhados pelo travesseiro. Céus! Como ele amava aquela garota e como havia sido estúpido por deixá-la partir!

Rony era hoje um homem seguro de si na maior parte do tempo. Dava respostas rápidas e perspicazes para a imprensa. A altura imponente e o cabelo ruivo impressionavam as mulheres, mas no fundo ele ainda possuía alguma coisa do menino inseguro, irmão mais novo de cinco caras populares e bem-sucedidos, amigo e escudeiro do Eleito, que ninguém notaria a não ser por Harry. E às vezes ele se perguntava se Hermione Granger não seria demais para ele. Se ela não estaria melhor namorando algum intelectual classudo, capaz de sustentar um “papo cabeça” ao invés de se deslocar pelo mundo afora com um grupo de malucos voando a quinze metros do chão.

- Mas, você escolheu ser a minha garota, não é mesmo? – perguntou docemente para a namorada que dormia.

Hermione remexeu-se em algum tipo de sonho e se aconchegou entre os braços grandes de Rony. Por um momento, ela apenas procurou uma posição confortável, como um gatinho numa almofada. Depois, ainda dormindo, a jovem disse quase num sussurro:

- Eu sempre amei você.

Simplesmente isso. Uma simples frase, mas que faria de Rony Weasley um homem feliz pelo resto da vida. Ainda que ele e Hermione brigassem muito ao longo dela.
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O time que entraria em campo no belo e aconchegante Estádio Ataualpa, em Cuzco, estava longe de ser “o” time dos Cannons. Sem Vitor Krum, Cris Toledo (que jogaria para o selecionado do seu país) e o reserva “polivalente” Apollo Cole, o time laranja enfrentaria o fortíssimo selecionado do Peru totalmente improvisado. Harry, o goleiro reserva York e Nat Mars jogariam como artilheiros. Gina seria escalada como apanhadora, posição que a ruiva já havia atuado algumas vezes, embora ela fosse realmente brilhante como artilheira. E Toni e Andy fariam o papel de sempre: o de grandes batedores que eram.

- Por que o Potter não joga como apanhador? – indagou Draco Malfoy na véspera da partida – O cara jogou quase que a vida toda nessa posição – ponderou o ex-sonserino.

- Bem, os peruanos estão esperando por isso – refletiu Rony – Nós podemos surpreendê-los.

- E apesar da Gina ser muito boa, não adianta nada ela jogar de artilheira sem alguém para fazer aqueles lançamentos que o Harry faz – explicou Toni M’Bea.

- E com a velocidade que a goles viaja nesse ar rarefeito, os arremessos longos do Harry são uma arma e tanto – encerrou a discussão Vera Ivanova.

Draco concordou, ainda que tivesse dúvidas se essa era a melhor escalação. O loiro, entretanto, sabia que a búlgara não admitiria palpites, mesmo do presidente do time.

- O que você acha, Toni? – perguntou Draco à noite, após o jantar, enquanto todos assistiam a um programa sobre quadribol na TV Bruxa local (“o esporte mágico unindo os continentes”).

- Há decisões que só um técnico pode tomar – disse o africano muito sério – Mas, de uma forma geral eu confio no julgamento da Vera – acrescentou – Toledo vai jogar para os peruanos e sem o idiota do Cole – apontou mal-humorado para o jogador polivalente, que tinha o nariz enfaixado – e sem o Vitor, ela tinha que improvisar alguma coisa. Os garotos não são maus, mas inegavelmente Harry vai ter que marcar a maioria dos gols.

Vera Ivanova fingia prestar atenção no programa que falava sobre a evolução do quadribol na América do Sul, mas sua mente divagava. Sabia que os garotos confiavam no seu juízo, porém, naquele dia, ela não estava muito certa sobre as decisões que havia tomado. Jogar com um time improvisado contra uma das seleções mais fortes do mundo era um convite para uma surra histórica. Não que isso fosse uma tragédia. Afinal era apenas um amistoso. Mas ganhar, ou pelo menos realizar uma boa partida contra o Peru daria uma moral extraordinária ao time. Silenciosamente ela rezava para ter escalado o melhor time possível. E para que Mergulho Potter melhorasse da maldita gripe que o incomodava.
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Harry parecia melhor e mais disposto, mas Hermione temia que o efeito das poções que lhe dera contra a gripe e para melhorar sua respiração não durassem o período necessário. Dera a cada jogador uma pastilha que continha um conjunto de substâncias naturais que diminuiriam (um pouco) o desconforto da altitude. Embora fosse amistoso e não houvesse exames após a partida, substâncias mais fortes do que aquela eram consideradas doping. E ela tinha certeza que seus amigos tanto se recusariam a ingeri-las como ela se recusaria a ministrá-las.

Vera Ivanova procurava passar confiança para o time no vestiário do estádio abarrotado:

- Eles são bons, mas diziam também que os americanos eram. Nada de entrar na correria deles. Vamos administrar o jogo e cadenciar as jogadas. Temos batedores que vão colocar os artilheiros deles na linha. Gina vai surpreendê-los como apanhadora, não é, ruiva? – perguntou confiante para a namorada de Harry.

- Acho que sim – respondeu a jovem Weasley sem muita convicção. De longe se sentia mais segura como artilheira, embora a posição de apanhadora não fosse estranha para ela.

- Eu tenho certeza que sim – disse, dando um tapinha amistoso no ombro da garota. E, Harry, aquilo que combinamos, gatinho!
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Uma ovação gigantesca, acompanhada pelo som de instrumentos indígenas de percussão, seguiu-se à narração pelos autofalantes do estádio, da escalação do selecionado peruano. “Paredón” Santamaría no gol, Cris Toledo, Abel Hernandez e Mara Prado, artilheiros, Vilfredo Guevara e Juan Quiroga, os batedores e a aquela que era considerada a maior jogadora da história do Peru, Marina (“Marinita”) Reynoso, a apanhadora do time.

Com suas vestes brancas com uma faixa transversal vermelha, o time da casa fez o tradicional vôo de saudação à torcida. Também usavam roupas numeradas, moda lançada no quadribol pelos norte-americanos. A roupa do goleiro, de cor diferente dos demais jogadores, como nos jogos de futebol dos trouxas. O gigantesco Santamaría, que tinha acentuados traços indígenas, usava uma chamativa camisa vermelha com uma faixa branca, exatamente o oposto dos outros seis jogadores. Guevara e Quiroga, dois negros baixos e fortes, numa camisa bem justa de mangas curtas, deixavam à mostra de maneira intimidadora os braços musculosos, apesar do frio da tarde de domingo em Cuzco.

A entrada dos Cannons foi aplaudida com frieza, o que não deixou de ser surpreendente, pois nessa parte da América, os times adversários são normalmente recebidos com palavrões, vaias e às vezes até feitiços e objetos pesados. Vera e Toni, veteranos de excursões por várias partes do mundo, explicaram que os peruanos, entretanto, xingam e incentivam com gritos, mas sem agressões e sem atirar feitiços e objetos no campo. Muitos estavam ligeiramente decepcionados com a escalação improvisada do time laranja, mas mesmo assim, Harry foi saudado com os aplausos mais calorosos.
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Aquele até então vinha sendo um típico “jogo de batedores”, ou seja, na linguagem do quadribol, um jogo em que as defesas se sobrepunham aos ataques. Algumas vaias já podiam ser ouvidas nas arquibancadas. Harry não fazia as suas jogadas espetaculares, marcado de perto sempre por Abel Hernandez, que parecia ter desistido de conduzir a goles apenas para acompanhar Mergulho Potter. Isso resultava no fato do artilheiro peruano não jogar e também não deixar que Harry jogasse. Os batedores dos Cannons e também os do Peru faziam o seu trabalho, impedindo a progressão dos artilheiros.

Em quarenta minutos de jogo, o placar apresentava míseros vinte pontos para cada lado. De espetacular apenas as grandes defesas dos goleiros Maluco Weasley e “Paredón” Santamaría, mas sempre em tiros de longe, não havendo nenhuma bela jogada de infiltração. Harry dera dois bons passes, que resultaram em gols de Nat Mars, mas ele mesmo não havia participado muito da partida, preferindo passar a goles para os lados, esperando talvez, que Gina apanhasse o pomo.

O duelo das apanhadoras resultava também muito morno. Apenas uma vez o pomo fora avistado por Gina, mas Reynoso cortou o seu caminho com uma manobra eficiente, depois da qual a bolinha dourada desapareceu de novo. E continuava estranhamente sumida.

- Esse jogo tá dando sono – resmungou Draco Malfoy para Vera Ivanova na área técnica.

- Os peruanos estavam esperando que o nosso time pregasse – respondeu a búlgara, os olhos fixos nas alturas.

- E eles não vão? – perguntou o loiro.

- Vão – intrometeu-se Hermione – Mas não tão rápido.

Nesse momento houve uma agitação no estádio. Cris Toledo recebeu um passe de Prado, fintou York, escapou de um balaço atirado por M’Bea e quando Rony saiu para fechar o ângulo, atirou a goles a meia altura no aro central, marcando um grande gol. O estádio veio abaixo. A bonita artilheira peruana deu a volta por trás dos aros com o braço direito erguido, sendo bombardeada por flashs dos fotógrafos.

- Ainda bem que ela vai estar a maior parte do tempo do nosso lado – vociferou Malfoy, tendo dificuldade de se fazer entender em meio aos aplausos frenéticos do público.

Como já era esperado, os batedores e os artilheiros do time inglês começaram a dar sinais de cansaço, sentindo finalmente os efeitos da altitude E os artilheiros peruanos aproveitavam. Prado anotou dois gols quase que em seguida, marcando cinqüenta a vinte para o escrete local. Vera Ivanova pediu tempo.

- O maldito pomo não aparece! – disse Gina, muito aborrecida.

- Eles o enfeitiçaram – respondeu Toni tranqüilamente. Ou pelo menos tão tranqüilamente quanto sua condição ofegante permitia.

- O QUE? – disseram várias vozes ao mesmo tempo.

- Eu temia isso – falou Vera, resignada – É um velho truque. Num jogo amistoso não tem fiscalização sobre o pomo. Eles vão negar, é claro.

- Mas, isso é desonesto! – esbravejou Hermione – É um truque para cansar o nosso time!

- Bem vinda ao mudo cruel do quadribol, Granger – caçoou Draco. Mas o loiro estava feliz ouvindo Hermione dizer “nosso” time.

- Certo. De qualquer maneira eles não podem esconder o pomo por muito mais tempo. Ele deve reaparecer agora – incentivou Vera – Fique de olho, Gina!

- Bom, agora eu vou mostrar um pouco de jogo para eles – disse Harry maliciosamente. Diferentemente dos demais, o artilheiro estava se poupando, pois a treinadora o orientara nesse sentido.

- Você está bem, querido? – perguntou Gina.

- Claro, só resfriado, com frio e com dor no corpo – respondeu, assustando Gina e Hermione – Mas eu não vou precisar demorar muito. Sei que você vai apanhar o pomo, não é mesmo? – falou, piscando para a ruiva e lhe dando um beijo. Que rendeu flashs e mais flashs. O beijo sendo mais aplaudido pelas arquibancadas do que a maioria das jogadas da partida.

- E, ruiva – aconselhou Ivanova antes do time voltar a voar – Fique perto da Reynoso. Eu não me espantaria se o pomo reaparecesse perto dela. “Coincidência”, sabe? – piscou a treinadora.

Essa parte do jogo foi toda de Rony. O ruivo fez pelo menos três defesas sensacionais, arrancando aplausos (contrariados) do público local. Na quarta grande defesa, segurando a vassoura na posição horizntal, acima da cabeça e tirando a goles com os pés, no lance considerado mais difícil e arriscado para um goleiro (chamado "pêndulo estrela do mar invertido"), Rony obteve aplausos bastante entusiasmados, além de gritos de ofensa, pois o ruivo gritou e bateu no próprio peito, desafiando os artilheiros adversários e fazendo jus à sua fama de “bad boy”. Diriam depois, que há décadas nenhum goleiro realizava uma exibição como essa em campos peruanos.

As arquibancadas ainda estavam comentando a defesa sensacional de Rony, bem como as suas maluquices, quando Harry apanhou a goles e voou pela lateral esquerda, bem nos limites do campo. York e Mars voavam pelo centro esperando um passe. Hernandez, implacável, seguia em seu encalço. O público olhava sem entender o artilheiro inglês quase saindo pela linha de fundo. Então, num giro sensacional, livrou-se do seu marcador e com quase nenhum ângulo atirou a goles cheia de efeito no alto, no aro do canto oposto. Pego de surpresa o extraordinário Santamaría ainda deu um grande vôo, esticando todo o seu corpanzil, mas sem conseguir evitar o gol espetacular. Havia sido um tiro dado de um ângulo quase impossível. E do lado esquerdo do campo por um jogador destro.

Um OHHHHHHHH impressionado se fez ouvir, ecoando por todo o estádio. E depois os aplausos. Os peruanos estavam vendo ali duas jogadas que mostravam que mesmo desfalcados, os Cannons eram adversários formidáveis. Mal haviam cessados os aplausos, Harry, roubando a goles de Prado, fintou habilmente Hernandez, atirando a goles de um lado e passando pelo outro, fingiu que ia passar para York, voou uns dois metros para cima e arremessou com uma violência impressionante, deixando novamente Santamaría a ver navios. Mais um golaço. Cinqüenta a quarenta para o Peru, mesmo assim um placar baixo para uma partida daquele nível.

Seguindo as orientações de Vera, Gina marcava Reynoso de perto, no que fez muito bem. A menos de três metros da apanhadora peruana, o pomo apareceu, quase como se tivesse aparatado. A ruiva não teve tempo para amaldiçoar a tramóia dos peruanos. Num movimento rápido, surpreendendo a rival, que era baixa e ágil como ela, mas estava virada para o lado oposto à bolinha dourada, Gina praticamente trombou com a peruana, mas apanhou o pomo, que reluzia em sua mão. O juiz apitou encerrando a partida. Vitória dos Cannons por Cento e noventa a cinqüenta. Curiosamente um jogo muito mais difícil do que aquele nos Estados Unidos, mas uma vitória com um placar mais elástico. Coisas do quadribol.
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- Não, eu não pretendo processar vocês – dizia tranqüilamente Draco Malfoy em inglês, sendo traduzido para o espanhol por um intérprete contratado – Mas, da próxima vez que meu time vier jogar aqui, traremos o nosso próprio pomo – acrescentou maliciosamente para os jornalistas peruanos e ingleses na entrevista coletiva do time dos Cannons após a partida.

Após o jogo os jogadores todos estavam extenuados, mas felizes. Há décadas o selecionado peruano não era derrotado em casa. E ganhar por cento e quarenta pontos de diferença, com um time todo improvisado era um feito fantástico. Draco estava tão feliz com os galeões pagos pela TV Bruxa, pelas Vassouras Firebolt e pelo Banco Gringotes, que nem pensou em processar a federação local pela sacanagem com o pomo. Sem contar o bônus que a Federação Internacional de Quadribol lhes dariam pelo fato de jogarem com a lotação do estádio esgotada e com recordes de audiência de tevê do público bruxo da América Latina.

O time laranja já era um fenômeno. Providenciara para os dois jogos no Brasil uniformes personalizados e camisas com números e nomes dos craques estariam a venda, a princípio na América do Sul e depois em todas as filiais das Geminialidades Weasleys, inclusive naquelas que seriam abertas no Brasil e nos Estados Unidos.

À noite, assistira na TV Bruxa latino americana (“os ritmos e magia latina chegando até você”), a euforia no Brasil à espera da chegada dos Cannons. Bruxos dormiam na fila, esperando comprar ingressos para as partidas. Milhares já se aglomeravam na estação internacional de portais, um dia antes da chegada do time inglês.

Uma escola de samba bruxa (“Que diabos seria isso?”, pensou Malfoy) se apresentaria na chegada dos jogadores. O presidente da comunidade bruxa do Brasil em pessoa iria recepcioná-los. Seria muito, mas muito divertido, refletiu o jovem presidente, feliz da vida.



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