MENTIRAS E PRECONCEITOS

MENTIRAS E PRECONCEITOS



“A TRAGÉDIA POTTER”, por Dan Carter.

Todos conhecem o drama de Harry Potter, “o garoto que sobreviveu”: Com um ano de idade teve os pais mortos por “Você-sabe-quem”, depois teve uma infância infeliz, criado por trouxas que ele odiava e que o odiavam. Potter perdeu Sirius Black, seu padrinho, falsamente acusado de ter tramado a morte dos seus pais, aos quinze anos de idade. Aos dezoito anos engajou-se de corpo e alma na luta contra as forças do mal. Embora o garoto tenha derrotado o Lorde das Trevas, ninguém sabe direito o que se passou com ele durante a guerra. Ninguém sabe o que sofreu e o que causou os transtornos (inclusive sexuais) que hoje ele apresenta. Mas provavelmente os Weasleys possuem um bocado de responsabilidade sobre os males que afligem o grande apanhador dos Trasgos Diagonais, agora Cannons.

Sabe-se que desde que freqüentava Hogwarts, Potter afeiçoou-se dos Weasleys, famosa e antiga família bruxa de sangues puros, mas com uma adoração quase maníaca por coisas trouxas e por trouxas em geral. O rapaz sempre se referiu a mencionada família como a “sua” família, estando aí provavelmente a origem do amor platônico e obsessivo que nutre por Rony Weasley, goleiro de talento discutível, mas que tem se dado muito bem no quadribol em função da sua amizade com o “garoto que sobreviveu”. Sem contar a irmã do rapaz, Ginevra, ou simplesmente a “garota Weasley”, que passou anos dando-lhe falsas ilusões, ora flertando com ele, ora incentivando-o a flertar com o seu irmão. As boas relações (por assim dizer) com o Potter fizeram com que, apesar de ser apenas uma jogadora razoável, ela tenha assinado um ótimo contrato com os Tigres da Calábria, uma das principais equipes da Liga Italiana e agora esteja para ganhar milhões, assim como o seu irmão, no novo time de Draco Malfoy, filho de um notório Comensal da Morte, estranhamente o novo patrão de Potter e dos Weasleys.

Só a influência nefasta desses ruivos maquiavélicos poderia fazer com que o “garoto que sobreviveu” trabalhasse para um ex-adepto de “Você-sabe-quem”. É interessante perceber como a proximidade com tão ilustre figura tem sido lucrativa para os Weasleys. Além do sucesso suspeito de Ginevra e Rony no quadribol, Arthur Weasley, o patriarca da família, um antigo funcionário obscuro do Ministério da Magia do Reino Unido, tem sido promovido constantemente nos últimos tempos e hoje chefia um departamento inteiro, que ninguém sabe o que realiza, e com um salário astronômico. Guilherme Weasley, irmão dos jogadores de quadribol, funcionário do Banco Gringotes, administra os bens de Harry e todos comentam o quanto ele “melhorou” de vida depois disso. Ou seja, o pobre e confuso rapaz, que sofreu danos sérios durante a guerra vem sendo explorado por aquela horda de ruivos oportunistas, sem que ninguém tome alguma providência.

Ninguém vai fazer nada para salvar o salvador do mundo mágico e conduzi-lo ao caminho de uma vida saudável e normal? Ou vamos continuar permitindo que ele seja explorado pelos Weasleys e por ex-Comensais da Morte?

- Que horror! – exclamou Toledo.

- Esse Carter é um monte de merda, mesmo! – disse Toni, fechando os seus punhos gigantescos, como se estivesse pronto para socar o jornalista cretino.

Krum balançava a cabeça irritado e Harry estava lívido de ódio. Andy, depois que entendeu o que Rony lia no jornal, também parecia muito irritado. O time dos Cannons, menos Cole e o treinador Lynch (que foram discretamente despistados pelos demais) reuniram-se para um jantar entre amigos num bom restaurante bruxo dançante, onde o dono era a amigo pessoal de Toni, que lhe fazia propaganda gratuita e em troca obtinha generosos descontos. Apenas o casal de irmãos Weasleys não ligara muito para a reportagem do “Profeta Esportivo”. Rony inclusive a havia lido num tom de voz afetadamente dramático, tentando mostrar a todos que aquilo não era para ser levado a sério. Já estava acostumado com as acusações de que sua amizade com Harry era apenas interesseira. Carter apenas havia levado esse enfoque por assim dizer até o fundo do poço, acrescentando detalhes fantasiosos e escabrosos. O problema é que ele sabia o quanto aquilo irritava Harry, que visivelmente não estava muito bem. O que o maldito Malfoy tanto queria falar com ele?

- Nossa, e eu que pensei que os jornalistas brasileiros de quadribol fossem tendenciosos... – disse Andy de maneira sombria.

- Tendencioso não é bem o termo – falou Gina. Ela realmente não se sentia afetada por aquilo. Mas havia percebido o ressentimento de Harry – O cara é um grande canalha. Um dos maiores que eu já vi na minha vida.

Pelo resto do jantar, Rony tentou animar Harry, bem como Gina e Toledo. A peruana, na opinião de Gina, tentava até demais, com muitos abraços e carícias para o gosto da jovem. Lá pelas tantas, quando a moça passou mão no rosto de Harry tentando chamar a sua atenção para alguma coisa que dizia, a ruiva levantou-se da mesa e aproveitando uma música agitada que havia começado a tocar (o restaurante tocava músicas africanas e caribenhas, daí a simpatia de Toni para com o proprietário), puxou um surpreso Andy Lopes para dançar, pois se ficasse sentada iria azarar aquela sul-americana sirigaita.

Harry não sabia que Gina dançava tão bem. Ela se mexia com muita graça no ritmo da música e o seu parceiro era também muito bom. Logo os demais que estavam na pista afastaram-se, deixando a ruiva e o garoto brasileiro dando o seu show. Quando acabou, todos aplaudiram. Toledo e Toni davam grandes vivas e assobiavam enquanto Harry, mais carrancudo do que Vitor Krum, aplaudia discretamente. Esse brasileiro também iria dar trabalho, pensou. Por que Rony não tomava uma atitude contra essa horda de estrangeiros que ficavam paquerando Gina, pensou o seu monstrinho anterior, para se arrepender em seguida. Por que não havia acontecido nada, seu idiota, rosnou outro monstrinho dentro da sua mente. Eles apenas estavam dançando, coisa que ele, o “grande salvador do mundo mágico” nunca havia aprendido. Aliás, não era só isso que ele nunca havia aprendido a fazer com uma garota. E como se não bastassem as suas inquietações (para não dizer ciúmes) em relação a Gina, ainda martelava a sua mente a conversa com Malfoy. Ele não tinha como saber, não é mesmo? Ou tinha?

Do seu lado, Krum explicava para Rony que pretendia permanecer na Inglaterra, não apenas pelo dinheiro que ganharia e que investiria nos Cannons, mas também, por que sua noiva era inglesa.

- Tenho certeza que ela estudou com vocês em Hogwarts – falou o búlgaro, muito mais animado do que de costume.

- Estudou é? – disse Rony, subitamente interessado – Como é o nome dela?

- Ela está trabalhando no St. Mungus agora – continuou Krum, bastante entusiasmado.

- O QUÊ? – assustou-se Rony, entornando sobre a toalha branca impecável uma garrafa de cerveja amanteigada. Gina e Harry olharam divertidos para Rony, abafando o riso. Ambos sabiam a razão do espanto do ruivo.

- Lilá Brown, não é mesmo Vitor? – perguntou aparentemente de forma casual Gina, mas encarando o irmão de maneira intimidante.

- Sim – concordou o búlgaro com ar sonhador – Nós nos conhecemos durante a guerra, quando ela e Hermione cuidavam dos feridos.

- Ah, claro – suspirou Rony, parecendo estranhamente aliviado.

- Você pensou que era outra pessoa, irmãozinho? – perguntou Gina, soando cinicamente inocente.

- Não, claro que não – respondeu Rony depressa demais.
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Hermione Granger pegou uma chave de portal e segundos depois estava em Londres. Estava irritada como poucas vezes na vida. Ficara apenas dois dias naquele maldito congresso em Glasgow.


- Não Srta. Granger, não temos intenção de apresentar o seu trabalho. O Hospital St. Mungus, que emprega a senhorita não realizou a inscrição e não é norma permitirmos inscrições individuais.

Irritada, Hermione procurou o representante do hospital que trabalhava para que esse lhe explicasse porque não poderia apresentar seu trabalho sobre reversão de feitiços que passara os últimos dois meses desenvolvendo. Já que eles não permitiam que clinicasse, devido a sua pouca idade, o mínimo que esperava é que seus trabalhos teóricos fossem discutidos.

- Por que, Garfield? – perguntou para o displicente organizador das exposições da delegação inglesa.

- Bem, minha querida – disse o sujeito grandalhão, rosto corado pelos drinques que havia tomado no bar do hotel bruxo em que estavam hospedados – Havia trabalhos mais relevantes do que o seu.

- Ah, claro – disse a jovem bruxa com ironia – Exposições sobre poções do amor e feitiços para recuperar o empenho sexual de bruxos de meia idade. Temas de grande relevância científica...

Tristan Garfield, chefe de relações públicas do St. Mungus e responsável pela seleção dos trabalhos que seriam apresentados pela delegação inglesa no congresso medibruxo em Glasgow perdeu a compostura e falou de maneira mais franca do que Hermione já havia visto:

- Sejamos claros, querida. Ninguém gosta de uma jovem bruxa que fica pesquisando sobre arte das trevas. Ninguém quer falar sobre isso. Você é brilhante, mas para muita gente é também uma lembrança inconveniente daquilo que ninguém quer recordar.

- E por que diabos vocês me trouxeram aqui? Para me exibir como uma relíquia dos velhos tempos? – perguntou, indignada.

- Porque não seria de bom tom não trazer para o congresso a brilhante amiga (ou seria namorada?) de Harry Potter, nosso principal doador privado – disse, parecendo muito contente com a revelação. Não era segredo que Garfield, um orgulhoso bruxo de sangue puro, não tolerava aquela “sangue-ruim” que parecia ser mais inteligente que a maioria de medibruxos e curandeiros com o dobro ou o triplo de sua idade. Não era a primeira vez que ele tentava prejudicá-la, escondendo ou menosprezando o seu trabalho.

Aquilo era um pesadelo! Estavam de volta aos tempos de Hogwarts, onde ela tinha que suportar o preconceito e a inveja dos sonserinos, por ser uma bruxa nascida de uma família trouxa? Estava farta de ser tolerada em alguns lugares apenas por ser amiga de Harry e não pelo seu talento e inteligência. Sem dizer uma palavra, virou-se, dirigindo-se ao seu quarto, onde enfiou desajeitadamente as roupas na grande mala que trouxera e partiu daquele lugar. Eram quase onze da noite. Estava cansada, estressada e a beira das lágrimas.

Harry estranhou a campainha aquela hora da noite. Rony roncava ruidosamente no quarto ao lado, entorpecido pelas dezenas de cervejas amanteigadas que havia entornado. Com a sua notória dificuldade para dormir, havia ficado acordado lendo um livro sobre esportes trouxas. A campainha não era preocupante, pois o prédio estava magicamente protegido contra fãs indesejáveis, repórteres abelhudos e bruxos das trevas, embora esses últimos fossem uma raridade hoje em dia. Talvez Toledo ou Andy não tivessem encontrado o caminho para o hotel trouxa em que estavam hospedados. Quando abriu a porta surpreendeu-se ao ver a sua amiga Hermione carregando uma grande mala e parecendo muito cansada e abatida como poucas vezes a tinha visto. Largando a mala, ela atirou-se nos braços de Harry, trêmula e soluçante.

Preocupado, o jovem quis saber o que a afligia. Como essa se recusasse a dizer qualquer coisa, arrastou amiga e mala para dentro do apartamento, fazendo com que a garota se sentasse no sofá confortável que havia na sala. Quando tentou novamente saber o que se passava, ela lhe disse entre soluços entrecortados:

- Uma vez você apareceu na minha porta e eu o abracei até que você se acalmasse, lembra? Por favor... Apenas me abrace, Harry. Eu preciso de um amigo hoje.

Penalizado, ele a atendeu e ficou acordado confortando-a enquanto Hermione, ainda soluçando, adormeceu em seus braços.






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