JUSTIÇA SENDO FEITA



- Você nunca viu uma pessoa agonizando sob o peso de um cruciatus, não é mesmo? – perguntou Harry Potter encarando desafiadoramente Dolores Umbridge – Eu tenho certeza que não sabe o que é ver uma pessoa sucumbir vítima de um Avada Kedavra. A pessoa cai morta como se nada tivesse acontecido com ela. Ela simplesmente morre – disse o jovem bruxo com crueldade, sua voz ecoando dura e grave no salão da audiência ministerial, onde há segundos atrás havia sido absolvido das acusações de consumo de “substâncias ilegais” – Seus amigos querem acordá-la, mas a pessoa está morta, sem um ferimento, como se morrer fosse a única coisa que ela tivesse que fazer naquele dia. Como se aquele fosse o dia em que ela levantasse simplesmente para morrer.

Um silêncio pesava no recinto nesse momento. A algazarra de um jogo de quadribol havia sido interrompida. As pessoas escutavam espantadas. O Escolhido, o “garoto que sobreviveu” falava de morte e todos o ouviam com uma atenção e um espanto quase religioso. Muitas pessoas tinham lágrimas nos olhos, lembrando-se de parentes e amigos mortos de maneira cruel pelos partidários de Voldemort.

Como Umbridge se recusava a responder as perguntas e apenas olhava com desdém aquele rapaz que ela julgava um criador de casos, Harry prosseguiu:

- Voldemort me brindava com imagens das pessoas sendo mortas e torturadas. Eu tinha que praticar oclumência todas as noites, mas às vezes isso não era suficiente. Ele fazia isso para demonstrar que todo o esforço que empregávamos era em vão. Que ele iria vencer, que ele poderia dobrar o mundo bruxo e idiotas como você. Sim, idiotas! – agora quase berrou Harry nesse momento, interrompendo a velha bruxa, que parecia que finalmente iria se manifestar – As pessoas morriam enquanto vocês propunham uma trégua com os Comensais da Morte. TRÉGUA! – berrou de novo o jovem e um vento frio fez as pessoas estremecerem – AS PESSOAS MORRIAM E VOCÊS PROPUNHAM UMA TRÉGUA! E ENTREGARIAM A MIM, AOS WEASLEYS E OUTRAS PESSOAS DE MÃO BEIJADA PARA AQUELES BANDIDOS! E VOCÊ NEGOCIAVA ESSA TRÉGUA, SUA SAPA VELHA!

Murmúrios raivosos foram ouvidos em todo o recinto. Sempre houve boatos sobre o ministério negociar com “Você-sabe-quem” durante a guerra. Havia aqueles que defenderam claramente a negociação e depois foram descobertos como adeptos secretos do Lorde das Trevas. A maioria dos bruxos preferiu deixar tudo para trás ao fim do conflito. E agora estava ali o herói do mundo mágico acusando Dolores Umbridge com todas as letras. E esta parecia chocada demais até para se defender.

- Acho que já basta, Sr. Potter! – disse com energia o ministro Georgius Blackwell.

- Não, não basta, Senhor Ministro! – respondeu Harry com energia. Via-se claramente que a raiva acumulada pelo jovem vinha a tona nesse momento. Seu rosto estava banhado de lágrimas e seus braços estavam estendidos junto ao corpo com os punhos cerrados como se fosse socar alguém – Eu vou dizer aqui hoje o que deveria ter dito anos atrás.

- Ele tem o direito, Senhor Ministro – disse calmamente o Professor Dumbledore. Nem mesmo o senhor tem o direito de interrompê-lo.

- Obrigado, Professor – disse Harry sinceramente agradecido, sua voz ameaçando fraquejar. Sua garganta estava seca, sentia uma leve vertigem, mas mesmo assim ele sabia que tinha que ir até o fim com aquilo que havia começado – Não eram só as mortes, sabe? Havia também o remorso de achar que a gente poderia ter feito mais alguma coisa para salvar as pessoas. Eu às vezes me sentia mal de estar vivo enquanto tanta gente morria. Eu me senti muito mal quando Carlinhos Weasley morreu para me salvar.

Harry parou por um momento o que dizia. Precisava respirar fundo. A poucos metros dele, já sem nenhum disfarce, Gina Weasley soluçava baixinho. No lugar destinado à imprensa, invadido pelos gêmeos Weasleys e seu irmão Rony, muitos jornalistas e alguns torcedores dos Cannons também choravam. Jorge tinha os olhos vermelhos, que ele diria depois ser um efeito retardado e colateral do “Pó Animado”. Quando o Escolhido recomeçou a falar, a sua voz tinha retornado o tom grave e firme de antes:

- Não quero ser tratado como vítima pelas pessoas. Vítimas são aquelas pessoas que morreram sem poder se defender. Mas eu suponho que merecia ser tratado como manda a lei e não como se fosse um delinqüente ou um bruxo das trevas. Você, Umbridge, negociava com Comensais da Morte, mas não tem nenhuma consideração por aqueles que lutaram contra eles. Você, eu lembro bem, mandou dementadores atrás de mim quando eu tinha quinze anos de idade. Também tenho pesadelos com isso até hoje, sabe? Eu sei que fui idiota em me viciar nessa porcaria de poção. Sabe por que? Porque eu não suportava as pessoas me acusando nos meus pesadelos. Eu não suportava ver todas as mortes de novo. Eu deveria ter procurado os meus amigos, mas eu tinha vergonha deles. Não queria... – a voz de Harry falhou novamente nesse momento – Não queria continuar sendo um peso para as pessoas, você consegue entender? Não, acho que não. VOCÊ É SÓ UMA MULHERZINHA SÓRDIDA ATRÁS DE SUA VINGANÇA RIDÍCULA!

Mais uma vez Umbridge não respondeu e o silêncio continuava se impondo como um manto frio naquela tarde de verão. Soluços ainda podiam ser ouvidos. O discurso de Harry realmente tocara os presentes. Como o rapaz era muito reticente em dar declarações públicas, era a primeira vez que as pessoas o viam se manifestar sobre a guerra.

- Mas você não está só – prosseguiu Harry mais calmo, apontando Umbridge com desprezo – Você vai gostar de saber que Hermione Granger é perseguida no St. Mungus onde trabalha por ser minha amiga e ser nascida trouxa. Não é um mundo maravilhoso esse? Nós arriscamos a vida para combater essas idéias discriminatórias e aqueles que as defendem ainda estão instalados em salas confortáveis, praticando discretamente uma política que daria orgulho ao Lorde das Trevas. Só tenho mais uma coisa a dizer: eu continuarei ajudando os meus amigos, mas não darei mais um centavo do meu dinheiro para o governo bruxo. Não acredito num governo que tenha nos seus quadros pessoas mesquinhas e autoritárias como você ou aquele almofadinha ridículo do Tristan Garfield. Acho que é só o que tenho para dizer – e virando-se para o ministro da magia, fez uma mesura exagerada, que demonstrava o seu desprezo pela mais alta autoridade do mundo mágico. Quando virou em direção à saída explodiram aplausos, inclusive de muitos membros da Alta Corte, entre eles Alvo Dumbledore. E veio aquela vertigem insuportável que o vinha incomodando nos últimos dias.

Harry teria caído se seu amigo Rony não estivesse a poucos passos dele e não o tivesse envolvido com seus braços fortes e compridos de goleiro. Jorge e Gina o ampararam pelo outro lado.

- Ah, não – dissera Jorge, os olhos ainda vermelhos – Você não vai dar pra essa gente do ministério o gosto de sair daqui desacordado. E deu ao amigo um gole de uma pequena garrafa que o animou na hora. Harry só desmaiaria meia hora mais tarde, quando aparatou na Toca.
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- Ele inegavelmente tem estilo – dizia Draco – Você viu as pessoas chorando? – Se ele puder jogar domingo então...

- Você só pensa nessa droga do quadribol? – perguntou Rony irritado.

- Weasley, eu já disse uma vez pra vocês que não sou o cara legal e bonzinho – respondeu Draco Malfoy com a sua voz arrastada – O Potter cumpre muito bem essa função.

- Hum, mas eu vi alguém derramando lágrimas quando Harry terminou o discurso – disse Hermione de maneira falsamente casual.

- Deve ter sido o pó que Jorge Weasley jogou – respondeu o loiro ligeiramente embaraçado.

- Jorge deu a mesma desculpa – falou Gina, achando graça do fingimento de Draco e do seu irmão – Nunca soube que aquele pó produzisse lágrimas e olhos vermelhos.

- Mas não é isso que está me preocupando agora – disse o loiro, visivelmente mudando de assunto.

- Harry não vai jogar – repetiu Rony de maneira obstinada.

- E se ele desmaiar montado numa vassoura a quinze metros do chão? – perguntou Gina. Houve manifestações de apoio a ruiva. Aparentemente Toni, Toledo e talvez Helga concordavam com a jovem.

- Posso falar? – perguntou Malfoy, ligeiramente irritado – Os donos dos Cannons são, para usar a expressão “amena” da Srta. Weasley, um bando de velhos caquéticos. Eles estão preocupados com a publicidade em torno do Potter. Apesar dele ter se saído muito bem no julgamento, melhor até do que eu esperava, o fato dele assumir que era dependente preocupou os caras. A presença do amigo de vocês no jogo de domingo vai acalmá-los. Isso vai fazer com que os contratos sejam mantidos e vai dar tempo para o Potter se recuperar.

- E se ele não jogar? – perguntou Toni M’Bea, mas já imaginando pela sua experiência o que viria.

- Eu não posso dizer ao certo, mas posso supor – respondeu Draco – Eles podem desistir do time e negociar os contratos dos jogadores com quem bem entenderem. Vocês podem brigar e espernear na justiça, mas só conseguirão dor de cabeça e carreiras arruinadas.

- Por que deveríamos acreditar em você? – perguntou Gina, cheia de desconfianças e expondo aquela velha hostilidade entre grifinórios e sonserinos.

- Vai por mim, Gina – contemporizou Toni – O Sr. Malfoy expôs de maneira bem real a mentalidade dos donos de times.

- Você não está do lado dele, não é? – perguntou Gina magoada.

- Eu estou e sempre vou estar do lado de Harry – respondeu o africano, elevando o tom da sua voz potente a ponto de parecer que um pequeno abalo sísmico estremecia momentaneamente as paredes irregulares da Toca, o que deixava bem claro o tamanho da sua lealdade – Apenas estou constatando a realidade da situação. Para min está claro: Harry não pode jogar e está tudo acabado.

- Não, não está! – disse de maneira decidida Harry, que acabava de entrar na cozinha da Toca. Ele havia acordado há alguns minutos e usava um truque que o Professor Dumbledore havia lhe ensinado durante a guerra. Projetava a sua mente num lugar determinado e podia ouvir as conversas como se estivesse no ambiente. Era um truque que pouquíssimos bruxos sabiam executar e só funcionava a pequenas distâncias. Era também terrivelmente indiscreto, mas estava cansado das pessoas decidirem as coisas por ele.

Os amigos de sempre estavam na cozinha. Hermione, o time dos Cannons, Malfoy, os gêmeos e Helga. O senhor e a senhora Weasley haviam se retirado, ao que parece para deixar os atletas e os jovens a vontade para conversar.

- Deixa de ser besta, Harry! – disse Rony de maneira áspera – É visível que você não está legal. Quem liga pra um bando de velhos idiotas que só pensam em dinheiro?

- Eu não ligaria se fosse só a minha carreira e o meu dinheiro que estivessem em jogo – respondeu Harry tranqüilamente – Você já esqueceu daquela conversa sobre família? Eu não vou deixar ninguém prejudicar vocês.

- Mesmo que tenha que cair da vassoura? – bufou Gina

- Harry, eu acho que você deveria ouvir os Weasleys – ponderou Toni.

Hermione, sentada num canto e muito quieta observava o dilema de Harry e dos amigos. Todos ali estavam sendo absurdamente nobres. A carreira de todos estava em jogo, mas eles se preocupavam com Harry. Harry, por sua vez, não queria prejudicar os amigos. Aquele era um impasse terrível. Malfoy assistia tudo em pé e de braços cruzados. Embora odiasse admitir, ele também se preocupava com aquele maldito grifinório com complexo de salvador do mundo.

- Também acho que dessa vez você deveria ouvir o Rony – disse estranhamente sério Fred Weasley.

- Mas eu não acho – falou surpreendentemente Hermione, levantando-se e caminhando na direção de Harry – Você quer mesmo jogar? – perguntou a medibruxa.

- Claro! – respondeu o amigo bastante decidido.

- Bem, então vamos providenciar isso – disse a jovem com igual entusiasmo – E não me olhe assim, Gina, eu não vou deixar o Harry se espatifar no chão na hora do jogo.
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Eram quase dez horas da noite quando Tess, secretária, amiga e confidente de Jane O’Neal anunciou que Draco Malfoy estava na portaria do prédio luxuoso no qual a jovem jogadora dos Duendes morava. Um elevador panorâmico o conduziu diretamente aos seus aposentos. Draco, que não era de se impressionar a toa, ficou realmente impressionado com o requinte da decoração da sala de estar da moça. Nada daquelas coisa pavorosas de mal gosto que faziam parte do novorriquismo do mundo bruxo nos dias de hoje. A imensa sala de estar, forrada com carpetes de cor clara, mas muito macios para os pés faziam um conjunto harmonioso com as cores sóbrias igualmente claras do ambiente. Esse era discretamente iluminado por belíssimos castiçais, onde velas mágicas davam a medida certa para se apreciar as belas obras de arte trouxa que ornavam as paredes.

O’Neal sentou-se numa poltrona muito confortável e com um gesto quase displicente apontou a poltrona gêmea para Draco. Esse percebeu imediatamente porque os homens eram loucos por ela. O rosto parecia ter sido moldado em algum material muito raro, de onde o artista retirou aquela cor escura de alguém que parecia ter tomado sol em algum praia paradisíaca a vida toda. Os cabelos estranhamente claros contrastavam com a pele escura e tinha os olhos tão verdes quanto os de Harry Potter. Resumindo: ela era linda, de uma beleza surpreendente e decididamente exótica, como as revistas de futilidade não se cansavam de repetir. E, Draco sabia, era obcecada por Harry Potter.

- Obrigado pela dica – disse Malfoy, tentando não demonstrar o quanto a garota o impressionava. A saia jeans que usava não escondia muito suas pernas e ela não parecia preocupada ou constrangida em se mostrar, digamos, “reveladora” ao ex-sonserino.

- Tenho um monte de primos que trabalham no Ministério aqui na Inglaterra e um deles já conhecia aquele homenzinho de outras prisões – explicou a garota no seu sotaque um tanto americanizado – Eles sabiam que aquela vaca da Umbridge estava aprontando pra cima do seu jogador.

Com um outro gesto displicente, agora com a varinha na mão direita, fez uma garrafa de vinho flutuar no ar desde a mesa da sala até as sua mãos, conjurando duas taças. Depois de tomar um gole da excelente bebida que lhe foi oferecida, Draco ponderou:

- Então era uma armação. O cara seria pressionado para dar um depoimento ferrando Harry Potter... Como você o fez mudar de idéia?

- Ora, meu primo Arnold lhe deu meu autógrafo – disse tranqüilamente. Mas ele demorou um pouco para ceder. Suponho que por isso seu amigo Severo teve que providenciar alguma distração.

- Sim, ele é um grande amigo. Mas... você fez um malandro mudar o depoimento por um autógrafo? – perguntou Draco abismado.

- Todos sabem que eu não dou autógrafos – explicou pacientemente a jogadora da seleção da Irlanda – Portanto deve valer um bom dinheiro. O sujeito disse que conseguiria cinqüenta galeões por cada um. Por isso ele exigiu dois, o ganancioso. Mais do que uma partida de cerveja amanteigada falsa e sem violar a lei.

- Fantástico! – exclamou o loiro

- E você providenciou a diversão para o meu amigo Jerry? – perguntou cheia de astúcia.

- A essa altura nosso bravo artilheiro está numa praia paradisíaca do Caribe muito bem acompanhado e fazendo coisas indecentes – respondeu Draco de maneira maliciosa.

Jerry White era um dos últimos representantes da fase pré-guerra do quadribol da Inglaterra. Já tinha por volta de trinta e sete anos e há pelo menos quinze jogava pela seleção do país. Acompanhara os bons e maus momentos do quadribol inglês e era quase tão popular quanto Harry e Jane. Seria presença obrigatória no jogo Potter/Weasleys se não tivesse recebido de presente uma passagem para uma ilha paradisíaca do Caribe na ótima companhia de uma jovem e “apaixonada” fã, devidamente instruída e paga por Draco Malfoy. White era um grande sujeito e um ótimo jogador, mas desde o seu recente divórcio vinha se sentindo um tanto carente, coisa que o cioso presidente dos Cannons resolveu num instante com a ajuda de uma propriedade de sua família e alguma diversão que galeões podiam comprar com facilidade.

- Que chato – disse Jane com uma falsa tristeza – Quer dizer que vai faltar um artilheiro no time dos gêmeos...

- E é claro que eu disse a eles que convenceria você a participar do jogo.

Havia ficado acertado que os Cannons jogariam no time de Harry e Rony e os gêmeos montariam um time com os melhores jogadores da Liga. Agora com a presença de Baby Jane O’Neal, é claro.

- Só acho que seu plano não vai dar certo, Jane – disse, não pela primeira vez o loiro.

A garota não respondeu. Apenas sorveu de maneira sonhadora o vinho que restava na sua taça. Ela adorava desafios e Harry Potter valeria o esforço.
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NO PRÓXIMO CAPÍTULO, O JOGO POTTER/WEASLEYS!!!! COM HARRY, RONY, KRUM, GINA, BABY JANE E GRANDE ELENCO!!!












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