VENCEREMOS!



Acordar era sempre a pior parte para Harry. Na verdade, desde que parara de tomar os remédios após a guerra, ele raramente tinha o que se poderia chamar de sono reparador. Estava trêmulo e suado. Levantou-se com dificuldade e caminhou até o banheiro. Felizmente ele e Rony tinham uma suíte cada um. A última coisa que queria era os amigos temendo pela sua saúde novamente. A cruel ironia: Harry “Mergulho” Potter, astro do quadribol, arrastando-se como um velho até o banheiro.

Tentando não preocupar o amigo, Harry engoliu um suco de laranja e comeu uma torrada. A mesma caiu-lhe no estômago com a leveza de um tijolo.

- Você não parece nada bem, cara – advertiu Rony, ainda com a boca cheia – Eu acho que...

- Não ache nada a essa hora da manhã, Rony, por favor – interrompeu-o Harry, contrariado – Eu estou apenas um pouco gripado. Já está quase na hora, não é mesmo?

Rony não sabia se socava o amigo ou o internava a força no St. Mungus. As duas opções pareciam muito sedutoras. O que não entendia era como Harry poderia aparentar estar tão mal. Todos os jogadores de quadribol da Liga Inglesa tinham que se submeter a exames médicos duas vezes por ano. O cara precisava estar em perfeitas condições físicas para não cair de uma vassoura a quinze metros de altura. Ele mesmo havia visto os exames de Harry, que aparentemente não haviam demonstrado nenhum problema. O que estava acontecendo com aquele cabeçudo?

Florean Fortescue recebeu os rapazes com um sorriso dançando embaixo do vasto bigode branco. A guerra havia envelhecido as pessoas vários anos, principalmente aqueles que perderam parentes e amigos. Não obstante, ele tinha uma aparência jovial e parecia mesmo muito feliz nessa manhã.

- Ah, meus rapazes! – Deu um abraço apertado em Harry e Rony e os conduziu até o escritório onde normalmente tratava os assuntos de quadribol. Havia ali três outros senhores que os rapazes reconheceram como sócios do time. Todos comerciantes do Beco Diagonal. E como o velho Florean, pareciam também muito felizes. Sentado junto a uma grande mesa de reuniões estava Vitor Krum. O búlgaro tomava despreocupado um dos deliciosos milk-shakes da sorveteria e acenou aos dois jogadores dos Trasgos, aparentemente muito bem humorado. Ou tão bem humorado quanto era possível para ele.

- Bem, senhores – iniciou o velho Florean – estamos reunidos para informar que os Trasgos Diagonais vão chegar ao fim nesse verão.

- O QUE? – disseram Harry e Rony ao mesmo tempo

- Calma, amigos – disse Krum, limpando cuidadosamente com um guardanapo os vestígios de milk-shake dos seus lábios – Acho que eu devo explicar.

- Acho que alguém deve... – falou Harry, mais carrancudo do que o ás da seleção búlgara.

- O nosso amigo aqui – o búlgaro apontou para Florean – acha que já cumpriu o seu papel, ajudando a reavivar o quadribol na Inglaterra, o que foi feito em memória dos filhos perdidos na guerra. Todos nós somos gratos a ele por isso. Mas agora ele quer descansar e curtir os próximos anos de sua vida (que todos nós esperamos que sejam muitos) junto com os seus parentes no País de Gales. Os meus empregadores souberam disso e propuseram comprar toda a estrutura que vocês montaram aqui no Beco Diagonal, a sede, o campo de treinamento, que será ampliado e transformado num estádio. Já estamos comprando terrenos em volta, dos trouxas, e colocando proteção mágica e feitiços contra mapeamento.

- Sabe, rapazes – disse Floreans –a minha saúde não anda muito boa.

- Nós não sabíamos, amigo – disse Harry. Florean era realmente um bom amigo ele recriminou-se por não ter se preocupado mais com a saúde do homem idoso.

- Ah, não se preocupe, Harry – tranqüilizou-o o velho – Eu vou para um lugar muito bom no País de Gales, perto dos meus filhos do primeiro casamento e dos meus netos. E todos nós – apontou para os outros homens idosos – vamos receber uma boa soma em dinheiro, que vai nos garantir uma velhice bem tranqüila. E receberemos uma pequena porcentagem dos lucros do novo clube anualmente. Realmente um grande negócio.

- E a escola de quadribol, o curso do verão para crianças, como ficam? – perguntou Rony. Ele e Harry haviam organizado um curso de verão para os estudantes de Hogwarts e uma escola de treinamento de quadribol que recebia garotos e garotas da Inglaterra e do exterior. Alguns desses garotos já estavam treinando em times profissionais. O campo tinha sido idéia de Rony e Harry para dar um lugar para os jovens jogar depois da guerra.

- Vamos manter, é claro! – entusiasmou-se Krum – Essa escola vai revelar os futuros craques do quadribol.

- Bom, então tudo continua igual, só com outra camisa e outro nome – quis saber Harry.

Houve um momento de silêncio constrangido. Krum, que tinha se levantado, sentou numa das cadeiras à mesa de reuniões e disse:

- Vamos ser honestos, rapazes – retomou com seu famoso ar carrancudo – Tirando vocês dois aqui, o seu time é uma piada.

- Ei, alto lá!– interrompeu Rony – Tiramos três terceiros lugares em três campeonatos seguidos! Se eu não me engano, o seu time milionário lá da Espanha também ficou em terceiro lugar.

- Vocês foram terceiros por que atualmente tem poucos times decentes na Inglaterra. Com a formação da Liga da Irlanda e da Liga Escocesa e com o quadribol parado por aqui durante a guerra, só sobraram no país jogadores veteranos e garotos como vocês.

- Não somos garotos! – disse Harry indignado. Mas o pior é que sabia, no fundo, que Krum estava com a razão. Os melhores jogadores ingleses ou haviam morrido durante a guerra ou ficado incapacitados de jogar. Apenas veteranos ou sobreviventes como ele, Rony e Angelina ainda jogavam em clubes ingleses. Muitos bom jogadores tinham ido para o exterior onde eram bem pagos e podiam esquecer dos horrores da guerra no seu país.

- Harry, eu não quis ofender – desculpou-se Krum – Você e Rony são realmente ótimos. A menos que o novo técnico da Inglaterra seja uma besta quadrada, tenho certeza que vocês, a Johnson e a menina Weasley estarão na próxima seleção. Mas olhe em volta, amigo. Por que vocês acham que os caras puxam tanto o saco daquela exibida da Chang e do Rogério Davies. Eles são, no máximo, jogadores razoáveis. Mas foi o que sobrou na Inglaterra. Você já viu a Liga Espanhola, Rony? Só os Tornados teriam alguma chance naquele campeonato.

- Harry, eu entendo a sua lealdade aos rapazes que jogavam com vocês – disse de maneira compreensiva, Florean – admiro isso. Mas nenhum deles tinha ilusão de continuar com a carreira. Eu falei com eles. Eles querem que vocês sigam em frente. E todos vão receber seus salários até o final do ano e serão indenizados até a temporada que vem. Os Nebseys ficarão tomando conta da escola.

Thomas e Ivan Nebsey eram os dois (péssimos) batedores dos Trasgos Diagonais. Batiam de maneira atabalhoada para todos os lados, freqüentemente atingindo os seus próprios companheiros de time. Por outro lado, tinham uma enorme paciência com crianças e jovens. Talvez por que cada um deles tivesse uma penca de filhos com duas ou três mulheres diferentes. Eram o exemplo mais bem acabado da decadência do quadribol na Inglaterra. Embora os dois fossem grandes amigos de Harry e Rony, tinham que reconhecer que na liga da Espanha ou da Itália, só chegariam perto de um bastão de batedor para poli-lo ou encerá-lo

- Mas, afinal de contas – quis saber Rony – qual o nome do clube que nós vamos jogar e que comprou os Trasgos?

- Ora – sorriu Florean – pensei que vocês fossem mais observadores. Não repararam nas vestes alaranjadas do Sr. Krum?

- Alaranjadas? – repetiu Rony, a boca aberta e o ar completamente apatetado. – Vocês não querem dizer que...

- O glorioso Chudley Cannons retornou, rapazes! Agora é Cannons Diagonal! – Florean estava quase gritando. Os outros velhinhos começaram entoar o hino do Cannons, todos com lágrimas nos olhos.

- Mas o time não tinha acabado? – perguntou Harry. Ele se lembrava de Rony, ainda garoto lhe explicando o que era o quadribol e falando das glórias dos Cannons. Do quarto do amigo, cheio de posters bruxos, onde os jogadores ficavam voando pelo teto. A colcha laranja de Rony com o distintivo do seu time de coração.

O ruivo parecia que ia chorar também de felicidade.

- O Cannons? – perguntou de novo – Você está brincando, Krum!

- Pelo que eu sei foi um negócio da China – explicou o búlgaro – O time estava desativado, mas a marca estava disponível. Um grupo comprou a marca e vai reativar o time. Estão dispostos a gastar muito porque têm certeza que o retorno é garantido.

- Mas, por que os Cannons? – quis saber Harry

- Porque todo mundo antigamente torcia para esse time. Gerações de garotos da Inglaterra cresceram ouvindo pais e avós falar das glórias do time. Os Cannons tinham torcida organizada até na América do Sul e nos Estados Unidos. E atualmente muitos garotos na Inglaterra não torcem para nenhum time. Nós vamos chegar... como vocês ingleses dizem? Ah, arrebentando.

- Quais jogadores serão contratados – perguntou Rony, ainda se recuperando do susto – Já que vocês só têm o Harry e eu? Estamos dentro, não é mesmo?

- Mas é lógico que estão! Todos os times estão se reforçando. O próximo campeonato inglês vai ser o máximo. Mas antes tem a Liga Britânica e a Copa Européia. Aqui está a minha lista de reforços – Krum tirou um pergaminho do bolso com alguns nomes – Sabe, eu também tenho uma porcentagem investida nesse time. Por isso eu quero os melhores.

- Caracas! – disse Rony de olhos arregalados ao ver os nomes da lista – Dá uma olhada nisso, Harry!

- Caracas! – disse Harry também. Gina Weasley estava na lista, junto com outros nomes de muito peso.

- Fiquei impressionado também quando o Sr. Krum me mostrou essa lista – sorriu Florean – E muito feliz, sabe? Eu também torcia pros Cannons. Nós todos torcíamos. Ver vocês jogando com as vestes laranjas vai me remoçar alguns anos.

De repente aconteceu uma coisa estranha. Florean, os seus antigos sócios e Rony levantaram-se e começaram executar uma espécie de dança de guerra, depois paravam, levantavam o punho direito e gritavam “VENCEREMOS, OH! , VENCEREMOS, AH!” E retomavam a dança, repetindo depois de alguns segundos o grito.

- Era o nosso grito de guerra – explicou Rony, enquanto os homens idosos recuperavam o fôlego.

- E vocês matavam os adversários de rir? – caçoou Harry, ele mesmo segurando o riso.

- Viu o que eu quis dizer? - esclareceu Krum – Imaginem quando a notícia sair aqui dessa sala.

- Só não entendi uma coisa – disse Harry – Pela lista que você tem, vamos jogar num supertime. Mas por que dois apanhadores? Eu acho você, muito bom, mas...sabe, eu...

- Você gostaria de jogar, é claro – interrompeu o búlgaro – mas isso também vai ser esclarecido no devido tempo. Todos vamos jogar. A propósito, está para chegar o jovem que vai presidir o time. É um antigo colega de vocês de Hogwarts. Acho que é da turma de vocês. Ah, ele chegou.

Harry e Rony olharam pasmos para a figura que entrava na sala de reuniões. Era jovem e vestia-se impecavelmente como um executivo trouxa. Os cabelos loiros muito curtos e impecavelmente penteados davam-lhe um ar de garoto prodígio bem sucedido.

- Ah, não! Ele não! – disse Rony, como se acabasse de ver um espírito agourento!

- Puta que pariu! – disse Harry, que raramente falava palavrões – Era só o que me faltava!



E AÍ? ADIVINHARAM QUEM VAI PRESIDIR O TIME?? VAMOS, DIGAM QUEM É!







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