AMIGOS DORMINDO ABRAÇADOS

AMIGOS DORMINDO ABRAÇADOS



Rony não era o que se poderia chamar de um sujeito “matinal". Odiava levantar cedo, o que significava qualquer horário antes das onze da manhã, tendo inclusive estabelecido os treinos dos Trasgos Diagonais à tarde e no início da noite quando se tornou capitão do time. Naquela manhã de sábado ele não acordou realmente muito bem. Havia tomado mais cervejas amanteigadas do que era humanamente aceitável. Embopra a cerveja bruxa só fizesse algum efeito etílico depois da sexta ou sétima garrafa, o ruivo estava meio grogue, pois havia entornado bem mais do que isso.

Depois de ir até o banheiro da suíte, fazer a sua higiene pessoal e tomar uma dose generosa de uma poção contra ressaca, ele saiu, ainda com seu pijama curto de verão, a procura do amigo. Ia convidá-lo (ou arrastá-lo) para tomar o café da manhã numa lanchonete que costumavam freqüentar ali perto, local frequentado por belas garotas bruxas que estariam tomando o desjejum num sábado ensolarado como aprazível como aquele. Essa maldita poção era uma beleza, mas dava alguns segundos de imagens extravagantes quando era tomada de estômago vazio. Você poderia ter vislumbres estranhos, onde elefantinhos cor de rosa iriam aparecer saltitando diante dos seus olhos, trasgos alaranjados lhe chamariam para dançar e Hermione Granger e Harry Potter estariam dormindo abraçadinhos no confortável sofá da sala de estar. As imagens, felizmente, duravam apenas alguns segundos. Depois o mundo entrava em foco de novo e uma boa refeição tornaria um jovem ruivo pronto para mais um sábado cheio de discussões sobre quadribol, garotas, obrigar Harry a se alimentar, garotas, uma nova refeição mais tarde, garotas e talvez um jantar romântico à luz de velas com aquela simpática jornalista, ou seja, refeições e garotas de novo e... ESPERE UM POUCO!

Harry Potter e Hermione Granger REALMENTE estavam dormindo abraçados no sofá! “Calma Ronald”, pensou o ruivo, “isso deve ser efeito da poção contra ressaca”. Depois de olhar a cena por mais de trinta segundos, ele “desconfiou” que não estava vendo coisas. Naquele mesmo sofá em que já havia aprontado muitas estripulias na ausência do amigo, estavam duas das pessoas que ele mais considerava no mundo. Harry, que como ele vestia um pijama curto de verão, estava deitado de lado, parecendo muito relaxado, tendo Hermione, completamente vestida (ainda bem!) com roupas de trouxa, entre os braços. Estava de costas para ele e ambos tinham as mãos entrelaçadas.

Se a cena não envolvesse Hermione e Harry, ele talvez a achasse meiga. Romântica até. Bem, ele não havia sugerido a ex-namorada que se relacionasse com Harry? Mas precisava ser tão rápido? Muito contrariado e tentando sem sucesso afastar as lembranças, recordou-se das vezes em que ele e Hermione acordaram daquele jeito, abraçados. Ligeiramente embaraçado, lembrou-se também da primeira vez em que fizeram amor quando os dois ainda eram adolescentes e inexperientes. Havia sido algo tão puro e tão intenso que ele sabia que as imagens, os sons e as sensações daquele dia ficariam impregnados na sua alma pelo resto da vida. Não importava quantas mulheres passassem por essa vida (e muitas haviam passado nos últimos tempos!). Nada havia se aproximado daquela vez. Nada havia se aproximado das vezes seguintes com Hermione. Quem ele queria enganar? Sempre havia procurado por Hermione nas várias garotas com as quais havia dormido desde a sua partida.

Ali estavam o seu melhor amigo e a garota que amava dormindo abraçados. Não sabia se os acordava ou se pegava sua varinha e azarava a ambos. As duas alternativas pareciam bastante tentadoras. Por que não acordá-los com uma azaração que criava furúnculos doloridos e urticárias? Porque, ele sabia a resposta, era um cara legal e não um bruxo das trevas. Porque Harry era um irmão para ele. Porque amava Hermione e, mesmo que ela não fosse mais a sua garota, queria que ela fosse realmente feliz. Porque ele mesmo havia tido a idéia cretina de sugerir que ela namorasse Harry. Porque, tinha que aceitar de uma vez por todas, ELA NÃO ERA MAIS A SUA GAROTA, por mais que isso doesse. E esta constatação realmente doía. Muito.
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No seu sonho, Carlinhos Weasley, com seus cabelos ruivos e seu rosto sardento, mas ainda assim bonito, o acusava de ter sobrevivido enquanto ele, Carlinhos, estava morto. Os demais Weasleys o censuravam silenciosamente. Voldemort gargalhava de maneira grotesca. Todos diziam que ele havia sobrevivido porque outros haviam morrido. Ele queria dizer alguma coisa, queria pedir perdão para a Senhora Weasley, queria se desculpar com Rony e Gina. Mas não conseguia falar. Nem mesmo conseguia respirar. A gargalhada obscena de Voldemort abafava todo e qualquer som, menos as acusações do irmão do seu melhor amigo. Sua vida não era digna, não importava quantas causas nobres apoiasse, não importava o dinheiro que dava para os pobres, os órfãos e os desamparados. Havia roubado vidas ou pelo menos uma vida. Queria explicar que sabia disso, mas não conseguia falar, não conseguia nem mesmo respirar.

Acordou gritando e sobressaltado. Duas figuras indistintas tentavam acalmá-lo. Droga! Por que não estava no seu quarto, que sempre selava com feitiços de silêncio? Onde estava? Por que essas pessoas o estavam segurando?
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Harry começou a se agitar, a princípio de maneira silenciosa, acordando Hermione. Esta estava tendo um sonho muito interessante, onde um certo rapaz ruivo a enlaçava com seus braços compridos e lhe dizia que tudo voltaria a ser como antes. Contrariada com a interrupção do sonho, ela tentou se ajeitar no sofá, subitamente lembrando que não estava na sua casa e sim no apartamento de Harry e Rony. Lembrou-se também da droga que havia sido o congresso na Escócia e como se sentira um lixo na noite anterior e como estava agradecida a Harry por apenas abraçá-la sem fazer mais perguntas, sendo o grande amigo que sempre havia sido. Ainda presa nos braços de Harry, Hermione virou-se de frente para o amigo e percebeu que esse não estava nada bem. Dizia coisas sem nexo e parecia pedir perdão a alguém. Hermione pensou ter ouvido o nome de Carlinhos, irmão de Rony que havia morrido durante a guerra. Ela colocou as mãos no rosto do rapaz, sentindo a sua face gelada e úmida, onde brilhavam gotas de um suor frio.

Rony havia ido até a cozinha para preparar um chá. A visão matinal na sala de estar o havia abalado em demasia. Retornando ao ambiente, decidido enfim a acordar os amigos sem usar azarações e encarar os fatos desagradáveis, foi surpreendido pela agitação descontrolada de Harry e por Hermione tentando despertá-lo. O amigo se mexia de maneira assustadora e parecia sufocado. Era como nos tempos de Voldemort, onde as visões que tinha com o bruxo das trevas perturbavam o seu sono e suas horas de descanso.

Harry enfim despertou gritando. Suado, trêmulo, balbuciava um incompreensível pedido de desculpas para Rony.

- Ele continua me acusando... – murmurou de maneira quase inaudível.

- Quem está acusando você, Harry? – perguntou Hermione, segurando as mãos do amigo, que tremiam descontroladamente.

- Carlinhos – disse Harry, antes de cair num choro convulsivo. Rony e Hermione olharam-se chocados durante alguns tensos segundos. Então, o senso profissional da garota falou mais alto. Ordenando a Rony que ficasse com Harry, ela correu até a mala que havia ficado próxima à porta de entrada do apartamento e pegou alguns frascos de poção, misturando-as rapidamente num pequeno recipiente conjurado com um agitar de varinha. De maneira muito eficiente, aqueceu magicamente a mistura e despejou numa xícara que também havia sido conjurada.

- Tome, Harry. Beba – disse Hermione bondosamente.

Trêmulo a ponto de mal conseguir segurar a xícara fumegante, o rapaz foi ajudado pela amiga a beber todo o seu conteúdo, relaxando quase que instantaneamente e deitando-se no sofá, onde Rony o ajeitou da melhor maneira possível.
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As vozes chegavam até ele de maneira sussurrada, como se fossem sopradas numa brisa suave:

- Eu já te disse, Mione – falava Rony, parecendo contrariado – Não sabia que ele ainda tinha pesadelos. Ele me disse que estava curado.

- E você logicamente acreditou – retrucava Hermione de maneira sarcástica – Era mais fácil acreditar nisso, não é mesmo? Do contrário, como você poderia se dar bem no campeonato de quadribol?

- Você também vai me acusar de ser interesseiro e de explorar o Harry? Pois bem, Dan Carter adoraria uma entrevista exclusiva com você...

- RONALD WEASLEY, NÃO ME COMPARE COM AQUELE ESCROQUE MALDITO! EU JÁ FUI MUITO OFENDIDA NOS ÚLTIMOS DOIS DIAS, ESTÁ OUVINDO? – gritou Hermione. Muito bem, os amigos tinham parado de sussurrar e voltaram ao normal, ou seja, discussão aos berros.

- E VOCÊ, SENHORITA PERFEIÇÃO, NÃO OUSE ME ACUSAR DE ME APROVEITAR DO HARRY! E COMO EU PODERIA SABER QUE ELE TINHA PESADELOS? EU NÃO ANDO DORMINDO COM ELE, SE É QUE VOCÊ ME ENTENDE!

- NÃO, PELO JEITO VOCÊ ANDA OCUPADO DEMAIS DORMINDO COM METADE DAS MULHERES DO PAÍS! E NÃO OUSE INSINUAR QUE EU E HARRY TEMOS ALGUMA COISA! QUEM ANDOU DANDO SUGESTÕES SOBRE A NOSSA VIDA AMOROSA, HEIN?

De repente ambos ficaram em silêncio. Harry sabia o que viria a seguir.

- Desculpe – disseram os dois ao mesmo tempo.

- Eu não quis me intrometer em qualquer coisa que você e o Harry tenham – disse Rony depois de um constrangedor período de silêncio.

- Não há nada para se intrometer, Rony – falou Hermione, percebendo que, estranhamente, o ruivo parecia mais aliviado com a revelação – Eu apenas tive um dia muito ruim e precisava de um amigo. Harry me confortou e nós acabamos pegando no sono. Nada mais do que isso.

- Claro, Mione. Desculpe por comparar você aquele pústula do Carter. Eu peguei pesado...

- E eu não devia acusar você de se aproveitar do Harry. Você é realmente um grande amigo, Rony. O melhor que alguém poderia ter.

- Obrigado – disse o ruivo.

Ainda deitado no sofá, relaxado demais para o seu gosto, Harry lembrou-se dos velhos tempos. Se voltasse a alguns poucos anos atrás, agora seria o momento dos amigos começarem a trocar beijos, carícias, e seria o momento que ele sairia de cena e daria privacidade aos pombinhos. Mas aqueles eram tempos em que ele tinha Gina, que Carlinhos estava vivo e não aprecia em sonhos para acusá-lo de roubar a vida que merecia ter vivido. Com esse pensamento torturante, Harry adormeceu mais uma vez, agora mergulhando num abismo negro sem sonhos nem culpa. Embora a culpa ainda estivesse presente, apenas esperando que ele despertasse.





ATENÇÃO!!! NESSE CAPÍTULO E NO PRÓXIMO VOCÊS ENCONTRARÃO ALGUMAS DICAS (NÃO MUITAS) SOBRE OS ACONTECIMENTOS LIGADOS À GUERRA CONTRA VOLDEMORT E O PERÍODO IMEDIATAMENTE POSTERIOR. O AUTOR PROPOSITALMENTE OMITIU ALGUMAS INFORMÃÇÕES, QUE PARA OBTÊ-LAS VOCÊS TERÃO QUE LER O RESTANTE DA FIC.
UHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!! (AUTOR RINDO HISTERICA E DIABOLICAMENTE)


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