VESTES LARANJAS E HISTERIA

VESTES LARANJAS E HISTERIA



- Você aumenta o salário do Rony e da Gina e eu fico com dois milhões, que tal? – disse um ansioso Harry Potter para um sisudo Draco Malfoy. Era a segunda conversa a sós que tinham em dois dias – Vamos lá, Malfoy! Você diz aos seus queridos e ilustres investidores que conseguiu me dobrar. Se você tirar um milhão de galeões do meu salário, eles vão concordar com você. O que você tem a perder?

- Eu já falei que jogadores não aceitam esmolas, Potter – disse Malfoy com sua voz arrastada. Maldito grifinório! Ele, Malfoy, devia ser o único dirigente do mundo a contratar um jogador que queria receber menos do que os donos do time estavam disposto a pagar!

- Ei, espere aí! – disse Harry de supetão, os olhos brilhando como se acabasse de ter uma grande idéia. Certamente uma idéia estúpida, pensou o presidente dos Cannons.

- Se você tirar um milhão do meu salário, você pode aumentar o salário do Toni, da Toledo e do garoto brasileiro, enfim, de todo mundo! – disse Harry muito feliz. E você diz que foi idéia sua!

- Potter, eu não sei o que você tomou no café da manhã...

- É isso ou nada de Harry Potter no time! – enfureceu-se o apanhador – Vamos fazer as contas...

- OK, Potter, ainda acho que você parece um maldito comunista que não gosta de dinheiro. Mas os donos desse time querem você feliz, então vamos lá – disse o loiro, apanhando uma pena e um pergaminho.
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Rony e Harry conversavam sobre as possibilidades dos Cannons na Liga Britânica. Rony estava bastante feliz de ver o amigo animado de novo. Desde que começara a jogar como profissional, era a primeira vez que parecia levar o esporte realmente a sério. Estavam analisado os jogadores do próprio time e dos demais, que estavam se reforçando.

- Cara, a lista de jogadores que eles vão contratar é irada! – afirmava Rony, enquanto devorava uns pedaços de bolo de caldeirão que a Sra. M’Bea gentilmente havia mandado para eles. A esposa do amigo vivia dizendo que eles não se alimentavam direito. Era quase uma irmã mais velha dos rapazes, que a haviam conhecido durante a guerra.

- Bem, Toledo é muito boa - dizia Harry.

- Ela é quase tão boa quanto a Gina e a Angelina – concordou o ruivo, com a boca cheia.

Cristófora Allende Garcia y Toledo era, junto com a brasileira Bel Andrade, a grande revelação latino-americana na posição de artilheira. De uma tradicional família de bruxos peruanos, mestiça de espanhóis e índios quíchuas, havia estudado em Hogwarts durante a guerra, pois sua família (inclusive os pais) havia morrido vítima dos partidários de Voldemort, que estavam se fortalecendo também na América Latina. Era grande amiga de Rony e Harry, inclusive tendo morado um período com os rapazes. Depois de terminar a escola, havia jogado uma temporada nos Trasgos e depois foi para a Espanha. Odiava o primeiro nome e exigia ser chamada apenas de Toledo. Era rápida, esperta e sabia como se desviar dos balaços.

- Toni como batedor... – continuou Rony, a boca mais cheia ainda.

- Dá pra engolir primeiro? – ralhou Harry, fazendo uma cara de nojo – Toni é o único batedor que eu vi jogar que é melhor do que seus irmãos.

- O cara é um deus com o bastão na mão – afirmou Rony, finalmente engolindo o pedaço de bolo – Eu tenho um tio, fanático por quadribol. O cara é uma verdadeira enciclopédia. Também, ele deve ter uns cento e cinqüenta anos. Ele diz que não viu nenhum batedor como o nosso amigo.

- E esse garoto brasileiro? – quis saber Harry

- Bom, o cara é uma aposta – disse o ruivo – Tem só dezenove anos...

- Só um ano mais novo que a Toledo... Ei, tem alguém na lareira – disse Harry, chamando a atenção do amigo. Um rosto negro e sorridente apareceu de repente nas lareira mágica dos rapazes. Era o velho amigo deles de Hogwarts e da “Força Aérea”, Dino Thomas.

- Tudo legal, Dino? – cumprimentou-o Rony.

- Oi, Rony, Harry. Tudo bem?

- Que bons ventos o trazem? – perguntou Harry, acenando animadamente para o ex-companheiro de quarto nos tempos da escola.

- Em primeiro lugar, parabéns pelo novo time – falou da lareira o rapaz com um imenso sorriso – Muitos galeões?

- Bem... – hesitou Harry. Falar no contrato milionário que assinaria certamente o deixava embaraçado.

- Tudo bem, cara, você merece ganhar uma grana depois de tudo que passou – tranqüilizou-o o outro.

- E a faculdade trouxa? – perguntou Rony. Com uma ajuda concedida aos combatentes na guerra pelo Ministério da Magia (na verdade com fundos dos quais Harry, secretamente era um dos principais doadores), Dino estava cursando uma escola superior de artes e desenho. Não que ele precisasse, na opinião de Harry e Rony. O amigo era um ótimo desenhista desde os tempos de escola. Ele já ganhava dinheiro ilustrando livros trouxas e bruxos, função que realizava muito bem. E desenhava roupas bruxas nas horas vagas para a confecção que a família do amigo Simas Finnigan (também um ex-colega de Hogwarts) tinha na Irlanda.

- Ah, não é como Hogwarts, mas tudo bem, eu estou estudando coisas legais. Graças ao Harry é claro. Eu sei que a maior parte daquele fundo que paga os estudos do pessoal que lutou na guerra veio do seu bolso, meu chapa. Nem tente negar. Estou saindo com uma garota que tem o pai que trabalha no Ministério e ela me contou. Então, obrigado por tudo, companheiro.

Harry ficou mudo por um bom tempo. Ele não gostaria que Dino e os outros soubessem disso. Ele não se sentia bem bancando o herói mesmo depois da guerra. Mas tinha que ajudar os ex-combatentes da guerra contra Voldemort. Infelizmente nem todos os bruxos herdaram heranças de famílias ricas como ele e Malfoy. Poucos ganhavam tanto dinheiro (ainda mais agora!) jogando quadribol. Então não havia nada demais dar uma força a bruxos pobres ou de famílias trouxas como Dino.

- Ei, não fica encabulado. Você é realmente “o cara” – brincou Dino, seu sorriso brilhando através da lareira.

- Tá legal, Dino, só não espalha essa história por aí – pediu Harry.

- Eu acho um absurdo você bancar os estudos das pessoas e o ministério levar a fama. Mas tudo bem, você é quem sabe. Só que eu precisava de um favor de vocês – disse por fim, um pouco encabulado.

- Manda – falou Rony.

- Vocês sabem que o Simas está trabalhando na confecção de roupas bruxas que a família tem na Irlanda. Só que as coisas não andam muito bem com essa moda dos bruxos usarem roupas de trouxas. Eles vêm tentando se adaptar, mas a situação anda bem difícil.

- E como a gente poderia ajudar? – quis saber Rony, preocupado com o ex-colega de escola.

- Bom, eu estava pensando em desenhar algumas roupas que vocês usariam no dia da apresentação do time à imprensa bruxa. Uma pequena propaganda. Eu sei que você, Harry não faz propaganda, mas, nesse caso, para ajudar o Simas e Sra. Finningam, eu pensei...

Rony tinha o patrocínio das Vassouras Nimbus, que pagava para o rapaz usá-las durante as partidas. Nas lojas e bares bruxos, era possível ver os cartazes de um alegre Rony fazendo malabarismos com a vassoura. “Maluco Weasley voa com Nimbus” dizia a legenda que atravessava o cartaz com letras douradas. Harry, contudo, não fazia propaganda de qualquer produto. Embora voasse com uma vassoura Firebolt, recusou milhares de galeões que lhe seriam pagos se aparecesse numa propaganda na recém inaugurada TV Bruxa (“a magia da imagem chegando até você”). As empresas atualmente já haviam desistido de lhe oferecer dinheiro para estrelar campanhas publicitárias. O jovem apanhador só aparecia em campanhas beneficentes, e mesmo assim deixando bem claro que odiava a fama e badalações. Mas ali se tratava de ajudar um amigo... Harry sorriu com uma idéia que certamente irritaria Malfoy, o “digníssimo” presidente dos Cannons.

- Eu tenho uma idéia, Dino – disse.
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A Vila Bruxa era o lugar dos grandes eventos do mundo mágico na Inglaterra. Nos arredores de Londres e escondida por um número enorme de feitiços antitrouxas, ela possuía um grande teatro, uma sala de concertos, onde “As Esquisitonas”, a banda de rock bruxo mais famosa do mundo costumava enlouquecer os fãs, um grande centro de convenções, onde reuniões importantes governamentais e empresariais aconteciam e uma grande praça ao ar livre, onde o clima era sempre mantido ameno por meios mágicos, e discussões bruxas acaloradas ocorriam de tempos em tempos. No salão de convenções seria a apresentação do time dos Cannons. Na praça, centenas de pessoas estavam reunidas, portando bandeiras laranjas com a bala de canhão, símbolo do time. Veteranos dos tempos gloriosos da equipe, juntamente com jovens (a maioria), ansiosos pela chegada de “Mergulho” Potter, “Maluco” Weasley, M’Bea, Krum (a ‘águia dos Bálcãs’) e a “Garota Weasley”. Havia faixas com declarações de amor para cada um dos jogadores. Garotas adolescentes com roupas bastante reveladoras gritavam histericamente que amavam Harry Potter e Rony Weasley e berravam todos os detalhes sórdidos do que planejavam fazer com os dois. Jovens bruxos (e outros nem tão jovens assim) declaravam para os jornalistas presentes que estavam prontos a pedir a “Garota Weasley” em casamento.

Draco Malfoy havia marcado uma reunião uma hora antes da apresentação para a imprensa. Iria apresentar o treinador do time aos atletas e disse que precisava conversar com os jogadores. Até a pouco tempo atrás os times de quadribol tinham apenas o capitão, que era jogador e treinador ao mesmo tempo. Desde que os irlandeses colocaram um técnico na seleção nacional, todos os times profissionais adotaram essa postura.

Um imenso automóvel, certamente ampliado por magia, deslizou suavemente pela praça, enquanto seguranças uniformizados afastavam a multidão de torcedores. Gritos histéricos quase furaram os tímpanos dos seres humanos normais, quando, totalmente vestidos de laranja, o casal de irmãos Weasleys e “Mergulho” Potter saíram do veículo, escoltados por seguranças do tamanho de trasgos montanheses (e segundo Gina, cheirando como tais). Os irmãos usavam roupas bruxas elegantes, apesar da cor espalhafatosa. Mas todos ficaram pasmos com os trajes de Harry Potter. Vestia um conjunto bastante estranho, formado por um paletó laranja, camisa preta e gravata da cor do paletó. Como se essa bizarrice não fosse suficiente (mesmo para os padrões do mundo bruxo), uma bermuda laranja (ou seria uma calça capri?) que se estendia até abaixo dos joelhos, com meias e sapatos da mesma cor. Um chapéu preto e laranja completava a agressão aos sentidos.

- Patético! – exclamava uma torcedora idosa, no que fazia coro com o seu igualmente idoso marido.

- Lindo! – gritavam as adolescentes histéricas, semidespidas, mandando beijos e lançando faíscas cor de rosa com suas respectivas varinhas.

- Olha o cara, brother! - disse um rapaz negro, virando-se para os amigos e já planejando compor um rap sobre o “Potter Laranja”.

- Bem, parece que você realmente conseguiu fazer as pessoas notar as roupas da confecção do Simas, Sr. Potter – disse Gina Weasley, lançando olhares homicidas para as adolescentes assanhadas – Se aquela ali usasse um short um milímetro menor a gente poderia ver a sua...

- Por aqui, Potter, Weasleys – interrompeu um dos seguranças com altura e largura de trasgo, conduzindo-os para dentro de uma das imponentes construções que compunham a Vila. A voz do gorila pareceu aos jovens estranhamente familiar.

- Goyle?? – boaquiabriram-se os jovens.

- Bom dia para vocês também – respondeu com frieza o antigo capanga de Draco Malfoy em Hogwarts.

Durante o trajeto a partir da Toca, onde o imenso veículo havia apanhado os irmãos e Harry, Rony perturbava o amigo por causa da roupa espalhafatosa.

- Até mamãe estava se contendo para não rir de você, Harry – disse Rony, depois de mais um acesso de risos.

- Ora - disse Harry, um tanto contrariado – Uma roupa bruxa ou trouxa normal não chamaria a atenção. E depois – acrescentou com um sorriso maldoso – Malfoy disse que era pra ir com roupas “decentes”. “Nada de roupas trouxa de ‘bad-boy’, Potter” – disse, imitando com perfeição o jeito arrastado de Draco falar. Ele vai surtar...

Gina e Rony acharam muita graça naquela imitação. Era ótimo ver Harry tão animado. A garota o encarou, ainda sorrindo. Harry, subitamente sentiu um calor já familiar quando estava na presença da ruiva. Ela daria tudo para que ele sorrisse assim com maior freqüência, mesmo usando aquelas roupas rídículas. E o pior é que ela o achava bonito mesmo assim. E nem desconfiava que era a pessoa mais indicada para fazer com que o “garoto que sobreviveu” fosse realmente feliz.











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